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UFRJ

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

WELLINGTON SANTOS CINELLI

DIRETRIZES PARA UM PLANO PAISAGÍSTICO


PARA O CÓRREGO DO ARRIEIRO, TERESÓPOLIS / RJ

RIO DE JANEIRO
2015
DIRETRIZES PARA UM PLANO PAISAGÍSTICO
PARA O CÓRREGO DO ARRIEIRO, TERESÓPOLIS / RJ

Wellington Santos Cinelli

Dissertação de Mestrado Profissional em


Arquitetura Paisagística apresentada ao
Programa de Pós-graduação em Urbanismo,
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, como
parte dos requisitos necessários à obtenção do
título de Mestre em Arquitetura Paisagística.

Orientadora: Vera Regina Tângari


Coorientadora: Maria Naíse de O. Peixoto

Rio de Janeiro
2015
C574
Cinelli, Wellington Santos,

Diretrizes para um plano paisagístico para o


Córrego do Arrieiro, Teresópolis/RJ/Wellington Santos
Cinelli. – Rio de Janeiro: UFRJ/FAU, 2015.
105f. il.; 30 cm.

Orientador: Vera Regina Tângari.


Coorientadora: Maria Naíse de Oliveira Peixoto
Dissertação (Mestrado Profissional em Arquitetura
Paisagística) – UFRJ/PROURB/Programa de Pós-
Graduação em Urbanismo, 2015.
Referências bibliográficas: p.94-97.

1. Arquitetura paisagística. 2. Proteção ambiental. 3.


Recursos naturais. I. Tângari, Vera Regina. II. Peixoto,
Maria Naíse de Oliveira. III. Universidade Federal do Rio
de Janeiro, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo,
Programa de Pós-Graduação em Urbanismo. IV. Título.

CDD 712
DIRETRIZES PARA UM PLANO PAISAGÍSTICO
PARA O CÓRREGO DO ARRIEIRO, TERESÓPOLIS / RJ

Wellington Santos Cinelli

Orientadora: Vera Regina Tângari


Co-orientadora: Maria Naíse de O. Peixoto

Dissertação de Mestrado Profissional em Arquitetura Paisagística submetida


ao Programa de Pós-graduação em Urbanismo, Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos
requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Arquitetura Paisagística.

Aprovada por:

_________________________________________
Prof. Drª Vera Regina Tângari – FAU/UFRJ

_________________________________________
Prof. Drª Maria Naíse de O. Peixoto – IGEO/UFRJ

_________________________________________
Prof. Drª Rita de Cássia Martins Montezuma – UFF

Rio de Janeiro
2015
DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a todos aqueles que sofreram diretamente ou


indiretamente os impactos causados pelas chuvas de janeiro de 2011,
especialmente às famílias da localidade conhecida como Fazenda Alpina,
Teresópolis / RJ.
AGRADECIMENTOS

Primeiro, quero agradecer aos funcionários e docentes do Programa de Pós-


Graduação em Urbanismo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Sou grato pela
oportunidade de participar do Mestrado Profissional em Arquitetura Paisagística e
obter o título de Mestre.

Agradeço as professoras do Programa: Profª. Dra. Vera Tângari, minha


orientadora, pelos questionamentos e observações importantíssimas, que ajudaram
o meu trabalho evoluir. A Profª. Dra. Rita de Cássia Montezuma, da UFF, que fez
apontamentos decisivos para abordar corretamente o tema florestal.

Também agradeço à Profª. Dra. Maria Naíse de O. Peixoto pela sua


coorientação e pela cessão do seu laboratório e da equipe do Núcleo de Estudos do
Quaternário e Tecnógeno (NEQUAT): os estagiários e pesquisadores Pedro
Henrique Casimiro, João Guilherme Casimiro, Marcela Almada, Suzana Wiltgen,
Fernando Cesário, Aluan Pessoa e outros alunos que participaram diretamente ou
indiretamente neste trabalho.

Ao PROGRAMA MAPEAMENTO DE RISCO E ORDENAMENTO DA


PAISAGEM NA REGIÃO SERRANA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
(MEC/PROEXT 2012-2014, sob a coordenação da Profa. Dra. Maria Naíse de
Oliveira Peixoto, IGEO/UFRJ, e ExtPesq/FAPERJ 2015, sob a coordenação do Prof.
Dr. Nelson Ferreira Fernandes), e vinculado aos projetos: ANÁLISE E
PLANEJAMENTO DE ORDENAÇÃO DA PAISAGEM URBANA E NATURAL DA
REGIÃO SERRANA DO RIO DE JANEIRO, com coordenação da Profª. Dra. Flavia
Teixeira Braga (PROURB-FAU/UFRJ e EAU/UFF); e ÁGUAS NO PLANEJAMENTO
MUNICIPAL: DISCUTINDO A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA GESTÃO DE BACIAS
HIDROGRÁFICAS DA REGIÃO SERRANA DO RIO DE JANEIRO, com a
coordenação da Profa. Dra. Maria Naíse de Oliveira Peixoto (NEQUAT-IGEO/UFRJ)
e Profa. MSc. Vânia Nunes Morgado (CAp/UFRJ), também apoiado pelo Programa
Institucional de Bolsas de Extensão da UFRJ (PIBEX/UFRJ).

Ao Instituto Estadual do Ambiente (INEA), pela cessão das bases


cartográficas digitais e pela autorização para realizar o curso.

À minha família, pessoas mais importantes da minha vida, pela compreensão


nas horas em que estive ausente: Gael, Tomás e Juliana.

Finalmente, à Deus, acima de todas as coisas!


RESUMO

DIRETRIZES PARA UM PLANO PAISAGÍSTICO


PARA O CÓRREGO DO ARRIEIRO, TERESÓPOLIS / RJ

Wellington Santos Cinelli

Orientadora: Vera Regina Tângari


Coorientadora: Maria Naíse de O. Peixoto

Resumo da Dissertação de Mestrado Profissional em Arquitetura Paisagística


submetida ao Programa de Pós-graduação em Urbanismo, Faculdade de Arquitetura
e Urbanismo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos
requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Arquitetura Paisagística.

O evento climático extremo de 2011 potencializou processos naturais de formação do relevo


e de transformação da paisagem na Região Serrana Fluminense. Processos de remoção, transporte
e deposição de materiais ocasionaram corrida de lama e detritos, impactando drasticamente a vida da
população da localidade conhecida como Fazenda Alpina. Ainda assim, a bacia hidrográfica do
Córrego do Arrieiro possui características importantes para a preservação, recuperação, reabilitação
ou redefinição dos recursos ambientais. Suas cabeceiras estão inseridas no Parque Municipal
Montanhas de Teresópolis (PNMMT), onde há remanescentes de vegetação nativa com espécies em
extinção. Observa-se que as áreas mais bem preservadas estão em desníveis altimétricos acima de
300 metros. O próprio Córrego do Arrieiro pode funcionar como um corredor ecológico para unir áreas
florestais fragmentadas da bacia, apesar de sua zona ribeirinha possuir intensa degradação.

Com vistas a proporcionar a preservação e recuperação dos recursos ambientais da zona


ribeirinha do Córrego do Arrieiro, este trabalho apresenta diretrizes para um plano paisagístico. As
diretrizes fornecem subsídios para a implantação planejada de infraestruturas ou de atividades
agrícolas através dos diferentes tipos de uso e ocupação do solo. Na escala da bacia, foram
identificadas 5 (cinco) unidades de paisagem a partir das características do canal fluvial, da
compartimentação geomorfológica e configuração do ambiente de vale, e do uso e ocupação do solo.
Na escala local, foram identificadas 3 (três) tipos de setores de intervenções de acordo com sua
função, a saber: Restauração, Reabilitação e Redefinição. Como estratégia de projeto, foi utilizado a
Faixa Marginal de Proteção (FMP) como tipologia ambiental do Sistema de Espaços Livres (SEL).

Palavras-chave: 1.Diretrizes, 2.Plano Paisagístico, 3.Córrego do Arrieiro, 4.Rivers Styles 5.Zona


Ripária, 6. Sistema de Espaços Livres.

Rio de Janeiro
2015
ABSTRACT

GUIDELINES FOR LANDSCAPE PLAN


FOR CÓRREGO DO ARRIEIRO, TERESÓPOLIS / RJ

Wellington Santos Cinelli

Orientadora: Vera Regina Tângari


Co-orientadora: Maria Naíse de O. Peixoto

Professional Master's dissertation abstract in Landscape Architecture


submitted to the Postgraduate Diploma in Urban Planning Program, Faculty of
Architecture and Urbanism of the Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, as
part of the requirements for obtaining the title of Master of Landscape Architecture.

Extreme weather event 2011 potentiated natural processes of relief formation and
transformation of the landscape in the region Serrana Fluminense. removal processes, transport and
deposition of materials caused rush of mud and debris, dramatically impacting the lives of the
population of the locality known as Fazenda Alpina. Still, the catchment area of the muleteer Stream
has important features for the preservation, restoration, rehabilitation or redefinition of environmental
resources. Its headwaters are inserted in the Municipal Park Teresópolis Mountains where there are
remnants of native vegetation with endangered species. It is observed that the best preserved areas
are in altimetry unevenness up to 300 meters. The muleteer stream itself can function as an ecological
corridor to link fragmented forest areas of the basin, despite its waterfront has intense degradation.

In order to provide preservation and protection of environmental resources in the riverside


area of muleteer stream, this paper presents guidelines for a landscape plan. The guidelines provide
subsidies for the planned deployment of infrastructure or agricultural activities through the different
types of land use and occupation. On the scale of the basin have identified five (5) landscape units
from the characteristics of the river channel, geomorphological compartmentation and valley
environment configuration, and the use and occupation of land. At local level, we identified three (3)
types of interventions sectors according to their function, namely: Restoration, Rehabilitation and
reset. As design strategy was used to Protection Marginal Range as environmental typology of Free
Spaces System.

Keywords: 1.Guidelines, 2. Landscape Plan, 3.Córrego do Arrieiro, 4.Rivers Styles 5. Riparian Zone,
6. Free Space System.

Rio de Janeiro
2015
LISTA DE ILUSTRAÇÕES (ÍNDICE)

Localização da Bacia do Córrego do Arrieiro (A) e


FIG. 1 visualização da bacia e sua inserção nos limites do Imagem p. 16
PNMMT (B).
Visualização da bacia do Córrego do Arrieiro em
FIG. 2 Imagem p. 17
03/2010 (A) e em 11/2011 (B).
Vista da bacia do Córrego do Arrieiro de jusante
FIG. 3 Imagem p. 18
para montante.
Estilos de Rio identificados na bacia do Rio Bega,
FIG. 4 Figura p. 23
New South Wales, AUS.
Variação nos tipos de vale e canais fluviais em
FIG. 5 Figura p. 25
bacias hidrográficas.
FIG. 6 Representação de Zona Ripária. Figura p. 28

FIG. 7 Ciclo hidrológico. Figura p. 29

FIG. 8 Mapa de uso e cobertura da terra da bacia. Mapa p. 43


Compartimentos geoambientais e seções
FIG. 9 geomorfológicas transversais na bacia do Córrego Mapa p. 45
do Arrieiro.
Litologias e estruturas geológicas da bacia do
FIG. 10 Mapa p. 49
Paquequer.
Compartimentos geomorfológicos identificados
FIG. 11 pela técnica de amplitude altimétrica na margem Mapa p. 51
oeste da bacia do Paquequer.
FIG. 12 Perfil longitudinal do Córrego do Arrieiro. Figura p. 52

FIG. 13 Compartimento geoambiental da Zona A. Mapa p. 53

FIG. 14 Seção transversal ao vale S1. Figura p. 54


Visão vertical (A), oblíqua (B) e morfologia do
FIG. 15 Figura p. 55
canal (C) na Zona A.
FIG. 16 Compartimento geoambiental da Zona B. Mapa p. 56

FIG. 17 Seção transversal ao vale S2. Figura p. 57


Visão vertical (A), oblíqua (B) e da morfologia do
FIG. 18 Imagem p. 58
canal (C) na Zona B.
Visualização em planta (A) e em seção (B) do
FIG. 19 Figura p. 59
trecho do canal na Zona B.
FIG. 20 Edificações às margens do córrego. Imagem p. 59

FIG. 21 Compartimento geoambiental da Zona C1. Mapa p. 60


Visão vertical (A), visão da morfologia do vale (B)
FIG. 22 Imagem p. 61
e visualização do canal (C) na Zona C1.
Seção transversal ao vale S3 (A), visualização em
planta de trecho do canal (B) e da seção
FIG. 23 Figura p. 62
transversal ao canal (C) do Córrego do Arrieiro, na
Zona C2.
Visualização do canal na seção transversal ao vale
FIG. 24 Imagem p. 63
S3.
FIG. 25 Visualização do fundo de vale plano e encosta. Imagem p. 63

FIG. 26 Compartimento geoambiental da Zona C2. Mapa p. 64

FIG. 27 Localização da E. M. Fazenda Alpina. Imagem p. 65


Área circunvizinha à escola. Escola (A), campo de
FIG. 28 futebol (B) e confluência do Córrego do Arrieiro Imagem p. 65
com seu tributário (C).
FIG. 29 Compartimento geoambiental da Zona C3. Mapa p. 66
Seção transversal ao vale S4 (A), visualização em
planta de trecho do canal (B) e da seção
FIG. 30 Figura p. 68
transversal ao canal (C) do Córrego do Arrieiro, na
Zona C3.
Visualização do Córrego do Arrieiro a montante da
FIG. 31 Imagem p. 68
S4 (A) e a jusante (B), na Zona C3.
Visão oblíqua do segmento do baixo curso da
FIG. 32 Imagem p. 69
bacia do Córrego do Arrieiro.
Visão das residências da margem direita do
FIG. 33 Imagem p. 69
Córrego do Arrieiro, na Zona C3.
Visão da cabeceira do tributário do Córrego do
Arrieiro (A), vale encaixado do tributário (B) e
FIG. 34 Imagem p. 70
ocupação às margens da cabeceira do tributário
(C).
Mapa de localização de localização do
FIG. 35 Mapa p. 72
Condomínio Retiro da Serra.
FIG. 36 Vista para o Condomínio Retiro da Serra. Imagem p. 72
Mapa de localização das entrevistas realizadas na
FIG. 37 Mapa p. 73
bacia hidrográfica.
Vista para as residências dos moradores
FIG. 38 Imagem p. 73
entrevistados.
FIG. 39 Mapa dos Setores de Intervenções. Mapa p. 77
Vista de uma área com vegetação de vários portes
FIG. 40 pertencente ao Setor de Restauração, médio curso Imagem p. 78
do córrego.
Vista de uma área com pastagem pertencente ao
FIG. 41 Imagem p. 79
Setor de Reabilitação, baixo curso do córrego.
Vista de uma área com edificações pertencente ao
FIG. 42 Imagem p. 80
Setor de Restauração, baixo curso do córrego.
FIG. 43 Mapa dos Setores de Intervenções, Zona A. Mapa p. 81

FIG. 44 Mapa dos Setores de Intervenções, Zona B. Mapa p. 82

FIG. 45 Mapa dos Setores de Intervenções, Zona C1. Mapa p. 84

FIG. 46 Mapa dos Setores de Intervenções, Zona C2. Mapa p. 85

FIG. 47 Mapa dos Setores de Intervenções, Zona C3. Mapa p. 86


Projeto de intervenção paisagística em frente a
FIG. 48 Mapa p. 89
escola municipal, Zona C2.
Projeto de intervenção paisagística em área
FIG. 49 Mapa p. 90
ribeirinha, Zona C3.

LISTA DE TABELAS (ÍNDICE)

TABELA 1 Funções das áreas ripárias. p. 30

TABELA 2 Classes de cobertura da terra Níveis I e II. p. 43

TABELA 3 Setores de intervenção e suas respectivas funções. p. 76

TABELA 4 Seções típicas de projeto. p. 88


Lista de espécies propostas e avaliadas após 12 e 18
meses de observações e análises dos dados quanto ao
TABELA 5 p. 91
comportamento das espécies em Santa Cruz das Palmas
/ SP.
GLOSSÁRIO

Alúvio – Termo que designação genérica pra englobar depósitos detríticos recentes,
de natureza fluvial, lacustre, marinho, glacial ou gravitacional constituídos por
cascalhos, areias, siltes e argilas, transportados e depositados por corrente, sobre
planícies de inundação e no sopé de montes e escarpas.

Cinturão Orogênico do Atlântico – Faixa do relevo brasileiro próximo ao Oceano


Atlântico, que se estende da Região Sul a Região Nordeste formado por fenômenos
da orogênese, e com altitudes acima de 1.000 metros.

Colina – Termo usado na descrição da paisagem física pelos geomorfólogos para


indicar pequenas elevações do terreno com declives suaves, com altitude não
excedente a 50 metros.

Colúvio – Conjunto de detritos rochosos, produtos do intemperismo e deslocados


encosta abaixo devido à ação da gravidade, depositando-se como camadas
delgadas com detritos angulosos de tamanhos variados e sem classificação.

Depósito de talude – Depósito acumulado na base de uma escarpa. Esse material


pode ter sido trazido pela erosão do lençol de escoamento superficial, ou pelo efeito
da gravidade. Esta última, constitui, geralmente, o maior responsável pela formação
de grandes depósitos de talude (material de desmoronamento, de colúvio, etc.).

Edáfica – Relativo à formação do solo.

Elúvio – Termo que designa o material detrítico resultante da desintegração da


rocha matriz, e que permanece in situ. Pode o material ser deslocado ou mesmo
arrastado por águas colina abaixo, por uma certa distância, porém não pode ter sido
transportado por uma corrente.

Escarpa – Rampa ou aclive de terrenos que aparecem nas bordas dos planaltos,
serras, testemunhos, etc.

Evapotranspiração – Soma de todas as perdas de água, devidas à sua


transformação em vapor, quaisquer que sejam os fatores postos em jogo.

Falha – Ruptura e desnivelamento na continuidade das camadas que apresentaram


certo grau de rigidez por ocasião dos movimentos tectônicos. Estes esforços dão o
aparecimento de certas formas de relevo chamadas estruturas falhadas.

Feição orográfica – Relevo formado a partir da orogênese.

Fitogeográfico – Relativo ao Ramo da Ecologia que se ocupa do estudo da


distribuição e das relações existentes entre os vegetais e o ambiente.

Fraturas – Diáclase, junta ou fenda. São aberturas microscópicas ou macroscópicas


que aparecem no corpo de uma rocha, principalmente por causa de esforços
tectônicos, tendo direções variadas. As diáclases são importantes no modelado do
relevo devido aos pontos de maior suscetibilidade a erosão.
Interflúvio – Pequenas ondulações que separam os vales, cujas vertentes são, na
maioria dos casos, de forma convexa, constituindo pequenas colinas.

Intrusões ígneas – Entrada de magma em rochas de outros com origens diferentes.


Litológica – Relativo às rochas.

Orogênese – Conjunto de fenômenos que no ciclo geológico levam à formação de


montanhas ou cadeias montanhosas pelo diastrofismo (dobramentos, falhas ou
combinações destes).

Percolação – Ato de um fluido passar através de um meio poroso.

Regolito – Material decomposto que repousa diretamente sobre a rocha-matriz sem


ter sofrido transporte. No perfil ideal dos solos, observa-se que o regolito é horizonte
C ou, ainda, a rocha decomposta ou alterada.

Serrapilheira – Denominação aplicada a camada superficial de material orgânico


que se cobre os solos consistindo de folhas, caules, ramos, cascas, frutas e galhos
mortos, em diferentes estágios de decomposição, em uma mata. Liteira.

Solo hidromórfico – Denominação geral utilizada para solos formados sob


condições de drenagem deficiente, em pântanos, brejos, áreas de surgência ou
planícies, podendo ser orgânicos ou minerais.

Talus (talude) – Superfície inclinada do terreno na base de um morro ou de uma


encosta do vale onde se encontra um depósito de detritos. O talude é um termo
topográfico muito usado em geomorfologia adquirindo, por vezes, sentido genético
quando seguido de um qualificativo – talude estrutural, de erosão, de acumulação,
etc.

Unidade morfoestrutural – Relativo a formação do relevo a partir da estrutura


geológica.

Zona hiporreica – Zona onde a água fluvial entra por baixo do leito do canal e a
condição hidráulica da água fica entre aquelas das águas fluvial e subterrânea, com
profundidade entre 20 a 60 cm, sendo difícil determinar este valor na prática.
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 15
1.1. APRESENTAÇÃO E JUSTIFICATIVA..................................................................... 15
1.2. OBJETIVO ............................................................................................................. 19
1.3. METODOLOGIA .................................................................................................... 20
1.4. ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO ......................................................................... 20
2. CAPÍTULO I –BASE TEÓRICA ............................................................................... 21
OS ESTILOS DE RIO E A APREENSÃO DA DINÂMICA FLUVIAL EM BACIAS
HIDROGRÁFICAS ............................................................................................................... 21
ZONAS RIPÁRIAS E ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE ................................... 26
RECUPERAÇÃO DE MATAS RIBEIRINHAS E CANAIS FLUVIAIS .................................... 31
OS ESPAÇOS LIVRES........................................................................................................ 34
3. CAPÍTULO II–MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................ 39
4. CAPÍTULO III–CARACTERIZAÇÃO DO TRABALHO ........................................... 48
4.1. CONTEXTO GEOLÓGICO E GEOMORFOLÓGICO REGIONAL E LOCAL ........... 48
4.2. CARACTERIZAÇÃO GEOAMBIENTAL DA BACIA DE DRENAGEM DO CÓRREGO
DO ARRIEIRO ........................................................................................................ 52
4.2.1. TRECHO A – ALTO CURSO ........................................................................ 53
4.2.2. TRECHO B – MÉDIO CURSO ...................................................................... 56
4.2.3. TRECHO C – BAIXO CURSO ...................................................................... 60
5. CAPÍTULO IV- DIRETRIZES PARA PLANEJAMENTO PAISAGÍSTICO NAS
FAIXAS MARGINAIS DA BACIA DO CÓRREGO DO ARRIEIRO ....................... 70
5.1. ALGUMAS PONDERAÇÕES PARA A PROPOSTA – A VIVÊNCIA DOS
MORADORES ....................................................................................................... 70
5.2. DELIMITAÇÃO DOS SETORES DE INTERVENÇÃO E SUAS DIRETRIZES ......... 75
5.2.1. ZONA A ........................................................................................................ 81
5.2.2. ZONA B ........................................................................................................ 82
5.2.3. ZONA C ........................................................................................................ 83
5.3. USO DAS DIRETRIZES NO PROJETO PAISAGÍSTICO EM ESCALA LOCAL ..... 87
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 92
7. REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 94
8. APÊNDICES ............................................................................................................... 98
9. ANEXOS ................................................................................................................... 102
1.INTRODUÇÃO

1.1. APRESENTAÇÃO E JUSTIFICATIVA DO ESTUDO

Em janeiro de 2011, um evento climático extremo deflagrou uma série de


deslizamentos de encostas, corridas de detritos e enchentes que dizimaram
centenas de vidas humanas e deixaram milhares de pessoas desabrigadas na
Região Serrana Fluminense.

No município de Teresópolis, a bacia do Córrego do Arrieiro foi uma das


áreas seriamente afetadas pelos deslizamentos e corridas de detritos desse evento,
que destruíram várias casas da localidade conhecida como Fazenda Alpina, situada
na zona fronteiriça à mancha urbana consolidada da cidade, no 2º Distrito de
Teresópolis, RJ (Figuras 1, 2 e 3). Esta bacia constitui uma das drenagens
formadoras do Córrego Santa Rita, que é um dos principais afluentes da margem
oeste do Rio Paquequer, e localiza-se no entorno do Parque Natural Municipal
Montanhas de Teresópolis (PNMMT), abrigando diversos núcleos de ocupação, com
destaque para Cruzeiro, sede do 2º Distrito.

O desastre ocorrido, além de afetar drasticamente a vida dos moradores


locais, teve uma série de impactos na configuração dos rios que compõem a bacia,
alterando suas características morfológicas e o seu funcionamento que, por sua vez,
interfere no uso e na ocupação das áreas ribeirinhas.

Considerando que eventos climáticos extremos com efeitos danosos à


população são cada vez mais documentados nesta região, assim como em outras
áreas montanhosas das regiões Sudeste e Sul do Brasil, torna-se evidente a
necessidade de incorporar nos planos municipais de ocupação e ordenamento do
território as dinâmicas ambientais e sociais envolvidas na configuração do espaço.
Cabe destacar a importância do planejamento nas áreas de cabeceiras das bacias
hidrográficas afluentes dos canais principais, visto que constituem as principais
áreas fonte de materiais transportados nos coletores e as mais atingidas pelos
processos de corridas de detritos, que se destacam pelo seu alto poder destrutivo.

15
A

Parque Natural Municipal


Montanhas de
Teresópolis

Bacia do Córrego do
Arrieiro

E.M. Fazenda
PNMMT
(sede) Alpina

Córrego do Arrieiro

Figura 1: (A) Localização da bacia do Córrego do Arrieiro (em rosa) no Município de Teresópolis (RJ)
e (B) visualização da bacia e sua inserção nos limites do Parque Natural Municipal Montanhas de
Teresópolis - PNMMT (áreas em verde).
Fonte: IBGE (limites municipais), Prefeitura de Teresópolis (limites do PNMMT), NEQUAT/UFRJ
(limites de bacia hidrográfica) e Google Earth (imagens de satélite), 2014.

16
A

Figura 2: Visualização da bacia do Córrego do Arrieiro em março de 2010 (A), observando-se a


ocupação ao longo dos eixos de drenagem, e em novembro de 2011 (B) - porção da imagem mais
escura - evidenciando diversas cicatrizes de deslizamentos nas encostas e seu direcionamento para
os fundos de vale.
Fonte: Google Earth, 23/03/2010 (A) e 04/11/2011 (B), 2014.

17
PNMMT

E.M. Fazenda Alpina

cabeceiras da drenagem

antigo bar
campo de futebol

Córrego do Arrieiro

Figura 3: Vista da bacia do Córrego do Arrieiro de jusante para montante (nordeste para sudoeste) a
partir da estrada de acesso à Escola Municipal Fazenda Alpina. Na parte central do vale as casas
foram inundadas até o teto pelas corridas de detritos e enxurrada causadas pelo desastre de janeiro
de 2011.
Fonte: Google Maps / Street View, 2014.

O presente estudo busca contribuir para a discussão de diretrizes de


planejamento de bacias hidrográficas afetadas pelo desastre de 2011 ocorrido na
Região Serrana do Rio de Janeiro. É importante destacar que se considera
necessária a conjugação do reconhecimento dos processos de transformação da
paisagem a partir da esculturação natural ou não natural do relevo e as formas de
ocupação, para a implantação ou o ordenamento das ocupações às margens dos
canais fluviais.

Nesse contexto, a proposição de diretrizes para a ocupação na faixa marginal


da drenagem principal da bacia hidrográfica do Córrego do Arrieiro pauta-se na
investigação das características dos canais fluviais, conjugando-as com a
identificação do uso do solo e das relações estabelecidas pelos moradores com os
cursos d´água, buscando utilizá-las como base para o seu planejamento
paisagístico. Espera-se que as diretrizes forneçam subsídios para a implantação
planejada de infraestruturas. Também deseja-se o uso das diretrizes para o controle
e acompanhamento dos diferentes tipos de uso do solo às margens das calhas

18
fluviais, orientando o planejamento da paisagem local para evitar a acentuação dos
efeitos negativos de outros eventos catastróficos possíveis de ocorrer.

O desenvolvimento da presente dissertação justifica-se primeiramente pela


necessidade de estabelecer medidas preventivas capazes de minimizar os danos
relacionados a processos catastróficos ligados à dinâmica geomorfológica em áreas
montanhosas, como os ocorridos nas áreas ocupadas ao longo das linhas de
drenagem na Região Serrana Fluminense em 2011. Por outro lado, destaca-se a
importância da bacia hidrográfica como unidade de planejamento, conforme
preconizado pela legislação federal e estadual, e deste modo há a necessidade de
apreender a sua dinâmica de funcionamento e utilizar estes conhecimentos na
ordenação territorial.

De igual importância, há o fato da bacia do Córrego do Arrieiro estar inserida


no Parque Natural Municipal Montanhas de Teresópolis (PNMMT), o qual, além de
constituir ambiente protegido pela legislação municipal e federal, é fonte de serviços
ambientais importantes e cada vez mais fragilizados na região, em grande parte
devido à expansão urbana. Desta maneira torna-se ainda mais necessária e urgente
a definição de diretrizes para o ordenamento territorial em zonas ribeirinhas,
adequadas às características e às dinâmicas locais.

1.2. OBJETIVO

O objetivo central da presente dissertação é propor diretrizes para orientar o


uso do solo nas áreas próximas aos corpos hídricos - especificamente o coletor
principal da bacia hidrográfica do Córrego do Arrieiro, que constitui uma das
cabeceiras de drenagem do Ribeirão Santa Rita, situada na localidade conhecida
como Fazenda Alpina - buscando a melhoria da paisagem fluvial. As diretrizes terão
como base a proteção das funções geobiofísicas do sistema fluvial, bem como a sua
incorporação no cotidiano e nas vivências de seus moradores.

As investigações buscam a compreensão desta dinâmica geobiofísica e da


percepção dos moradores da bacia do Córrego do Arrieiro como elementos
fundamentais para a análise das faixas marginais e seu papel em minimizar os
impactos socioambientais, relacionados a eventos de grande magnitude.
19
1.3. METODOLOGIA

Em linhas gerais, a metodologia abrangeu pesquisas de campo e gabinete,


além de pesquisa bibliográfica para a fundamentação conceitual e de análise para
subsidiar a proposta de diretrizes. Para tanto, estabeleceu-se como caminho
metodológico a avaliação dos sistemas fluviais utilizando a abordagem dos Estilos
de Rio®, proposto por Brierley e Fryirs (2000) e sua utilização na aplicação de uma
proposta com o Sistema de Espaços Livres em área de expansão urbana, conforme
abordagem de Magnoli (2006) e Tardin (2008).

Para a operacionalização dos levantamentos e análises foram utilizadas a


cartografia digital, programas de edições de vetores, sistemas de informações
geográficas (SIG) e registros de campo através de fotografias e desenhos. Os
procedimentos e técnicas são descritos no Capítulo 3, Materiais e Métodos.

1.4. ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO

Inicialmente, após a Introdução, apresenta-se no Capítulo 2 uma base teórica


dos conceitos e referenciais que foram utilizados para fundamentar as análises e,
consecutivamente, as proposições. No Capítulo 3 são apresentados os materiais e
métodos utilizados na operacionalização deste trabalho, incluindo as estratégias
para alcançar os resultados logrados. No Capítulo 4 são abordados a
caracterização da área de estudo, e os resultados dos levantamentos e análises de
campo e gabinete. Estas análises serviram de base para formular as diretrizes e as
propostas de planejamento paisagístico.

Finalmente, são apresentadas no Capítulo 5 as diretrizes para o


planejamento paisagístico ao longo do Córrego do Arrieiro, de modo integrado a
diretrizes de uso e ocupação nos diferentes segmentos da bacia hidrográfica,
visando a ordenação do território em um contexto de inserção no limiar de uma
unidade de conservação de proteção integral. O fechamento do trabalho consiste na
apresentação das conclusões e das referências bibliográficas utilizadas na
dissertação.

20
2.BASE TEÓRICA

2.1. OS ESTILOS DE RIO E A APREENSÃO DA DINÂMICA FLUVIAL EM BACIAS


HIDROGRÁFICAS

No presente trabalho adotou-se a bacia hidrográfica como unidade de


planejamento e gestão ambiental, tal como preconizado pela Política Nacional de
Recursos Hídricos – Lei Federal nº 9433/1997– norteando toda a base teórica, os
estudos e as análises efetuadas para a definição das diretrizes propostas.

Em estudos realizados por diferentes ciências voltadas às temáticas


ambientais, a bacia hidrográfica destaca-se como um recorte espacial considerado
ao mesmo tempo como uma unidade (geomorfológica e planejamento), e como um
sistema complexo, composto por diversos elementos e fatores que os controlam ou
atuam sobre estes elementos que estão em constante interação.

Eventos climáticos, tectônicos e antrópicos definem diferentes magnitudes e


frequências de entrada de energia neste sistema, onde as rochas, o relevo, os solos,
as coberturas sedimentares, a flora e a fauna, os objetos e as ações humanas, bem
como suas interações, resultam em processos diversificados, condicionando as
características e comportamentos da rede de drenagem. Processos e eventos
relacionados a controles internos do sistema bacia hidrográfica tendem a se ajustar
às entradas de energia ligadas a eventos e processos externos, sendo estes ajustes
e respostas um dos principais questionamentos para a compreensão da dinâmica
fluvial em suas relações espaciais e temporais na bacia (BIERMAN &
MONTGOMERY, 2014; CASIMIRO, 2015).

Buscando contribuir para a apreensão da dinâmica fluvial e orientar as


intervenções nos canais de drenagem, os pesquisadores Gary Brierley e Kirstie
Fryirs, do Departamento de Geografia Física da Universidade de Macquarie
(Austrália), em parceria com o Conselho Australiano de Conservação da Água
(ACWC), criaram um arcabouço de análise e manejo de sistemas fluviais
denominado Estilos de Rio (River Styles®). Este arcabouço parte da concepção de
que o estudo das características geomorfológicas de uma bacia produz um quadro
inicial fundamental para se avaliar as relações existentes entre os processos

21
biológicos e físicos, além de possibilitar o detalhamento da dinâmica fluvial em
diversos trechos ao longo da bacia, a partir de sua estrutura e funcionamento
(BRIERLEY & FRYIRS, 2000).

As condições atuais da bacia hidrográfica, em sua estrutura geobiofísica,


permitem também a determinação de um quadro de referência quando se deseja
definir e executar práticas de manejo dos rios, especialmente em bacias que têm
experimentado grandes alterações na dinâmica da sua rede de drenagem
(CASIMIRO, 2015).

O arcabouço metodológico criado por esses pesquisadores reforça a necessidade


de investigar o funcionamento integrado de uma bacia hidrográfica, já que mudanças
locais podem se refletir em ajustes nos canais contribuintes, que só podem ser
percebidos através de uma visão espacial do sistema fluvial. Além disso, ajuda a
entender as relações existentes entre a área de contribuição hidrológica e a rede de
drenagem, possibilitando apreender as diversas interações existentes entre os
processos e as unidades geomorfológicas. Também auxilia na compreensão da
interligação existente entre os diferentes trechos de canal fluvial reconhecidos ao
longo do perfil longitudinal dos rios, a partir das formas e dos processos locais, bem
como dos ajustes necessários para as calhas fluviais se adaptarem às mudanças
ocorridas ou em andamento.

Os Estilos de Rio são definidos com base nas características da sua seção
transversal, da forma em planta e das unidades geomorfológicas identificadas. A
metodologia desta abordagem repousa, assim, na identificação de conjuntos
contíguos e harmônicos de unidades geomorfológicas, configurando o caráter –
definido por vários atributos estruturais do rio, como a forma do canal em planta, a
geometria e a assembleia de unidades geomorfológicas – e o comportamento
fluvial – definido pela função fluvial associada às características hidráulicas, às
ligações canal-planície, ao regime de sedimentos e à propensão a transformações
geomorfológicas (MELLO, 2006). A distribuição dos Estilos de Rio em uma bacia
hidrográfica varia de acordo com as unidades de paisagem, estando associados
também ao grau de confinamento do vale (BRIERLEY & FRYIRS, 2000) – Figura 4.

22
CABECEIRA DE ERODIDO E ERODIDO E PLANÍCIE DE ZONA DE ZONA DE ZONA DE PLANÍCIE DE
GARGANTA LEQUES
DRENAGEM ASSOREADO ASSOREADO ACRESÇÃO TRANSFERÊNCIA INUNDAÇÃO TRANSFERÊNCIA ACUMULAÇÃO
(INCISO) (INTACTO) VERTICAL

Figura 4: Estilos de Rio identificados na bacia do rio Bega, New South Wales, Austrália. Observa-se
diferentes compartimentos geomorfológicos onde ocorrem variações da declividade do canal e no
grau de confinamento do vale, podendo apresentar um ou mais estilos de rios, representados pelas
características de sua forma em planta e seção transversal (unidades geomorfológicas, depósitos,
vegetação).
Fonte: Adaptado de BRIERLEY & FRYIRS (2000).

Brierley et al. (2013) denominam a abordagem de estudo das bacias


hidrográficas como uma “leitura da paisagem” a ser utilizada com base na análise
geomorfológica para entender e avaliar os fenômenos, suas interações e seus
resultados na produção das paisagens fluviais em diferentes escalas temporais e
espaciais. Defendem assim seu papel no embasamento, de modo objetivo, do
desenvolvimento das explicações sobre as interações biofísicas nos sistemas
analisados e na indicação de padrões de funcionamento necessários à previsão de
cenários futuros e para ações de planejamento e de políticas públicas, considerando
a priorização de áreas de intervenção e atividades.

Nessas análises dos sistemas fluviais, são investigadas as características da


paisagem desde a escala das unidades hidráulicas e partículas existentes no canal,
passando pelos processos erosivos e deposicionais atuantes sobre os elementos
geomórficos (as unidades geomorfológicas fundamentais, tais como planície,
planalto e serra, entre outras), e o seu arranjo formando diferentes conjuntos de
formas de relevo dentro da bacia hidrográfica, até os fenômenos e controles de
23
escala regional, tais como as zonas (e atividades) tectônicas que mobilizam e
influenciam os sistemas de falhas, e os biomas (BRIERLEY et al., 2013). Em cada
escala a configuração do sistema pode ser analisada em sua composição – os tipos
de elementos que possui – e sua estrutura – como estão dispostos no espaço – e
em seu comportamento – como são formadas as formas topográficas, modificadas e
ajustadas ao longo do tempo. Na escala da bacia hidrográfica, por exemplo, a
origem dos processos deve ser contextualizada à sua formação regional, em grande
parte associada às estruturas geológicas.

Fryirs & Brierley (2005) afirmam que o grau de confinamento do vale é uma
análise das mais relevantes para a definição das características que podem definir
um estilo fluvial. Para tanto, sugerem três classes distintas de confinamento:

 Confinado - 90% a 100% da extensão do canal fluvial é limitado pelas


encostas do vale, ou seja, o limite (margem) do canal coincide com o limite do
fundo de vale;

 Parcialmente Confinado – 10% a 90% da extensão do canal é limitada pelas


encostas do vale, as margens do canal coincidem com coincidem com o limite
do fundo de vale;

 Não Confinado - 0% a 10% da extensão do canal é limitada pelas margens do


vale.

Dentro de uma mesma bacia há diferentes relações entre a disponibilidade de


energia (E) e a energia mínima (Emin) necessária para o transporte de sedimentos.
Em ambientes montanhosos muito íngremes, onde E>Emin, os canais possuem
excesso de energia disponível para remover sedimentos, sendo a erosão (remoção
e transporte de massa) dominante, associando-se a vales com alto declive
entalhados (vales típicos em “V”), normalmente situados nas cabeceiras de
drenagem da bacia hidrográfica. Neste tipo de ambiente, as encostas que formam o
vale encontram-se muito próximas ao leito fluvial, configurando uma morfologia de
vale denominada vale confinado.

Em áreas onde E~Emin predomina, a transferência de sedimentos ocasiona


feições geomorfológicas deposicionais dentro do canal e no fundo de vale, onde
geralmente já apresenta uma estreita abertura do vale ao menos localmente,
permitindo a acumulação de materiais deposicionais. Quando esta abertura do vale
24
faz com que as suas encostas permaneçam distantes do leito do canal fluvial, em
alguns trechos, estando dele separadas por feições de deposição nos fundos de
vale, tem-se o que é denominado de vale parcialmente confinado.

Já nos ambientes onde a E<Emin, formam-se expressivas zonas de


acumulação de sedimentos, onde o canal se ajusta livremente, acomodando a carga
de sedimentos e alterando a sua morfologia tanto no que diz respeito às suas
seções (Figura 5).

Figura 5: Variação nos tipos de vale e canais fluviais em bacias hidrográficas, de montante para
jusante, com indicação de processos geomórficos ativos e características da paisagem associadas.
Fonte: BIERMAN & MONTGOMERY, 2014.

Nas bacias hidrográficas, entretanto, muitas vezes há descontinuidade


espacial entre as zonas de remoção, transporte e deposição dentro de um mesmo
canal fluvial (BRIERLEY et al., 2013). Deste modo, para o entendimento desta
dinâmica no sistema fluvial, deve-se investigar a localização em que os diferentes
segmentos ocorrem na bacia, e interpretá-los no âmbito das escalas espaciais
mencionadas, que condicionam os levantamentos de campo.

A abordagem dos Estilos de Rio (também chamado de Estilos Fluviais)


utilizada na presente dissertação busca, assim, identificar as unidades
geomorfológicas no Córrego do Arrieiro, subsidiando a interpretação da dinâmica
característica dos diferentes trechos de rio. A apreensão da diversidade de formas
25
reconhecidas no canal fluvial principal da bacia hidrográfica em estudo, e suas
relações com os processos atuantes, constituem base de conhecimento para
proposição de diretrizes de uso do solo em suas faixas marginais.

Neste contexto, ressalta-se que a rede de drenagem (e sua área contribuinte)


constitui um sistema aberto, receptor das entradas de energia e caracterizado por
elementos interdependentes cujas interações resultam em processos provocadores
de mudanças, ajustamentos e impactos ao longo de toda sua extensão e em seu
entorno (LIMA & ZAKIA, 2000). Configuram, assim, um sistema complexo e não
linear, com alto grau de instabilidade e autorregulação (MARÇAL & GUERRA, 2006),
que possui papel fundamental nos processos de modelagem do terreno e,
consequentemente, de transformação da paisagem.

2.2. ZONAS RIPÁRIAS E ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE

A Zona Ripária é definida por Kobiyama (2003) como um espaço


tridimensional que contêm vegetação, solo e rio, com extensão horizontal no limite
da inundação e extensão vertical desde o regolito – subterrâneo – até o topo da
copa das árvores (superficial), e que inclui a zona hiporreica – interface entre o
fundo do canal e o regolito importante para a ecologia dos organismos aquáticos no
fundo do canal, segundo Stanford & Ward (KOBIYAMA, 2003).

A nomenclatura utilizada na designação das matas em áreas ripárias é


discutida por diversos autores. Rodrigues (2000) aponta que há uma distinção bem
clara entre as denominações de uso popular, mas também utilizadas erroneamente
por diversos autores, definindo-as como:

a) floresta ou mata de galeria, que ocorre geralmente onde a vegetação de


interflúvios não é de floresta contínua (como o cerrado, campinas, caatinga, campos
etc.), comum em rios de pequeno porte;
b) floresta ou mata ciliar, que constitui uma formação em faixa estreita que
ocorre na beira dos diques marginais dos rios, sem formar corredores e com alguma
deciduidade;
c) floresta ripária, encontrada onde a vegetação de interflúvio também é
florestal (floresta atlântica, floresta amazônica, floresta estacional etc.);
26
d) floresta paludosa, também conhecida como floresta de brejo, que se forma
sobre solos permanentemente encharcados, com fluxo constante de água em
superfície.
Para este autor, a melhor designação para estas formações vegetais é aquela
que indica a influência original da formação ou a designação fitogeográfica, seguindo
a estratégia de Veloso et al. (2000, apud RODRIGUES, 2000) na nomeação, porém
trocando o termo “aluvial” por “ribeirinho”. Este último termo, para o autor, representa
mais adequadamente a diversidade de condições ecológicas encontradas às
margens dos cursos de água, onde as características edáficas e vegetacionais
podem ser resultantes das interações complexas entre os elementos biofísicos
presentes nesse ambiente.

As zonas ripárias, que contêm as chamadas matas beiradeiras, conforme


denominação utilizada por Ab’Saber (2000), possuem uma variedade intrínseca ao
ambiente fluvial, refletindo-se em um mosaico ambiental conforme as condições
ecológicas definidas pelo gradiente topográfico, pela temporalidade das formações
geológicas, pelas alterações no nível de água da drenagem e do lençol freático, com
consequente deposição de sedimentos, cobertura ou remoção da serrapilheira e do
banco de sementes no solo, e pela própria resposta diferenciada de cada espécie ao
acúmulo de água (RODRIGUES, 2000).

Rodrigues (2000), no entanto, afirma que a água não é o fator decisivo na


ocorrência e nas características e dinâmicas destas formações, mesmo que o
comportamento hidrológico do solo seja o principal condicionante na distribuição e
composição de espécies, em detrimento dos fatores químicos e sedimentares
determinados pela hidrodinâmica. Outros fatores formadores do mosaico ambiental
podem condicionar o estabelecimento da vegetação ribeirinha, as características
geológicas e geomorfológicas na definição das condições edáfica e topográfica, a
hidrodinâmica e seus extravasamentos periódicos na remoção ou soterramento da
serrapilheira, a própria presença da serrapilheira e de compostos orgânicos
provenientes das atividades biológicas da mata beiradeira, entre outros.

Os processos geomorfológicos atuantes no sistema fluvial também são


responsáveis pela formação e especiação da mata ribeirinha. Ab’Saber (2000)
descreve a formação dos diques marginais localizados “após as beiras altas dos

27
rios”, constituídos por material aluvial de granulometria variada, destacadamente
siltes e areias, produzidos pelo transbordamento de águas fluviais que os depositam
sobre sedimentos preexistentes.
Esse processo estabelece condições ambientais para implantação das
florestas beiradeiras, biodiversas pelo acréscimo biológico essencial formado por
sementes e propágulos, pelas atividades biológicas das plantas e pelo metabolismo
de animais típicos dos espaços ribeirinhos (AB’SABER, 2000). Segundo o autor, no
dorso traseiro dos diques localiza-se a várzea, constituída geralmente de materiais
argilosos e com desenvolvimento de solos hidromórficos, propício ao
estabelecimento de vegetação subaquática.
Entretanto, os limites espaciais da zona ripária são de difícil determinação.
Alguns autores sugerem que sejam estabelecidos em função das diferenças
climáticas, geológicas e pedológicas, ou pelo ponto de vista geomorfológico, ou
ainda pelas funções ecológicas, tais como a formação de corredores de fluxos
gênicos. Outros sugerem critérios hidrológicos, especificamente a retenção de
sedimentos e nutrientes, influenciando na boa qualidade da água. Segundo Lima e
Zakia (2000), alguns autores desenvolveram equações visando a definição de uma
largura mínima da zona ripária a partir de critérios hidrológicos, sendo apontada a
largura mínima de 30 metros para a proteção de um curso de água.

Figura 6: Representação da Zona Ripária.


Fonte: RODRIGUES & FILHO, 2000.
28
A zona ripária tem papel ecológico fundamental para o escoamento superficial
direto – que causa o aumento rápido da vazão durante e imediatamente após a
chuva – pois a disponibilidade de água ocorre de forma diferenciada em relação às
áreas de entorno, devido à presença da mata ribeirinha.

Quando a precipitação atinge uma área com cobertura florestal, pode ser
interceptada pela copa das árvores e evaporar para a atmosfera, ou ser armazenada
nelas e atravessar a vegetação, escorrer pelos troncos ou atingir diretamente a
superfície do terreno. Quando há serrapilheira – camada superficial de material
orgânico que se cobre os solos consistindo de folhas, caules, ramos, frutas e galhos
mortos, em diferentes estágios de decomposição, em uma mata (IBGE, 2004) –
sobre esta superfície, a água pode ser acumulada neste material, podendo
atravessá-la e atingir também a camada superior do solo. Dependendo das
características do terreno, a água pode escoar pela superfície, direcionando-se
pelas rugosidades do terreno, ou infiltrar e percolar no solo até alcançar maiores
profundidades, abastecendo o lençol freático e os aquíferos. Fluxos de subsuperfície
também podem ser formados e controlados pelas condições de declividade do
terreno, pela morfologia e pelas propriedades dos materiais, como, por exemplo, a
permeabilidade e a condutividade hidráulica. As águas que atingem e percolam os
solos também podem ser absorvidas pelas raízes, passando pelo tronco e pelos
processos de funcionamento das plantas até chegar às folhas e retornar para a
atmosfera através da evapotranspiração (BOTELHO, 2011).

29
Figura 7: Ciclo hidrológico.
Fonte: KARMANN, 2008.

As características das zonas ripárias permitem, assim, a configuração de suas


diversas funções, conforme pode ser visualizado na Tabela 1, as quais atuam no
estabelecimento de diversos habitats aquáticos e de terra firme.

Tabela 1: Funções das áreas ripárias.


Fonte: BARRELA et al apud CARVALHO, 1993.

TIPO FUNÇÃO
Contenção de ribanceiras.
Diminuição e filtração do escoamento superficial.
HIDROLÓGICA Impedir ou dificultar o carreamento de sedimentos para o sistema fluvial.
Interceptar e absorver a radiação solar ou manter a estabilidade térmica.
Controlar o fluxo e a vazão do rio.
LIMNOLÓGICA Influência nas concentrações de elementos químicos e do material em suspensão.
Formação de microclima.
Formação de habitats, áreas de abrigo e de reprodução.
ECOLÓGICA
Corredores de migrações da fauna terrestre.
Entrada de suprimento orgânico.

Segundo Rodrigues (2000), e a partir do que foi exposto, observamos que as


características geológicas, climáticas, geomorfológicas, hidrológicas e
biogeográficas configuram fatores e elementos que definem a paisagem geobiofísica
e as condições ecológicas locais nas áreas ribeirinhas. Estas características
integram a paisagem, em sentido mais amplo, ligada à construção social do espaço
e a dinâmica dos sistemas ambientais, sendo produto resultante das complexas
interações dinâmicas e instáveis entre elementos e processos físicos, biológicos e
antrópicos.

Devido à sua importância, estas áreas compõem as APP’s – Áreas de


Preservação Permanente – de cursos de água, que são faixas de terras às margens
dos canais fluviais, com ou sem vegetação, protegidas pela legislação federal
brasileira – Lei nº 12651/2012 e alterações, a Lei de Proteção da Vegetação Nativa,
substituta do antigo Código Florestal –, cujo objetivo é a proteção do recurso hídrico,
florestal, biológico e do solo, entre outros (BRASIL, 2012a).

No Estado do Rio de Janeiro, as FMP’s – Faixas Marginais de Proteção –


instituídas pela Lei Estadual nº 1130/1987, são um tipo de APP definidas como

30
“faixas de terra às margens de rios, lagos, lagoas e reservatórios d’água,
necessárias à proteção, defesa, conservação e operação de sistemas fluviais e
lacustres” (RIO DE JANEIRO, 1987). Essas faixas de terra são de domínio público e
têm suas larguras determinadas em projeção horizontal, considerados os níveis
máximos de água (NMA), de acordo com as determinações dos órgãos federais e
estaduais. Suas medidas são determinadas pelo artigo 4º da nova Lei de Proteção
da Vegetação Nativa:

Art. 4° - Considera-se Área de Preservação Permanente, em zonas rurais ou urbanas,


para os efeitos desta Lei:
I - as faixas marginais de qualquer curso d’água natural perene e intermitente,
excluídos os efêmeros, desde a borda da calha do leito regular, em largura mínima
de:
a) 30 (trinta) metros, para os cursos d’água de menos de 10 (dez) metros de largura;
b) 50 (cinquenta) metros, para os cursos d’água que tenham de 10 (dez) a 50
(cinquenta) metros de largura;
c) 100 (cem) metros, para os cursos d’água que tenham de 50 (cinquenta) a 200
(duzentos) metros de largura;
d) 200 (duzentos) metros, para os cursos d’água que tenham de 200 (duzentos) a 600
(seiscentos) metros de largura;
e) 500 (quinhentos) metros, para os cursos d’água que tenham largura superior a 600
(seiscentos) metros. (BRASIL, 2012b)

As nascentes e olhos de água também são protegidas por esta mesma lei,
determinando um raio horizontal de 50 metros em torno das mesmas.

Salienta-se que, para a delimitação da APP, é necessário identificar o leito


regular e sua borda, pois isso influenciará diretamente no tamanho da faixa
marginal. No Estado do Rio de Janeiro, o Instituto Estadual do Ambiente – INEA – é
quem demarca as APP’s de corpos hídricos. Para este órgão, as FMP’s são
demarcadas sempre horizontalmente, a partir da seção transversal de projeto do
corpo hídrico, que é determinada após um estudo hidrológico da bacia de captação
contribuinte para o ponto de interesse, onde é analisado se a vazão calculada passa
pela seção teórica – a seção de projeto – calculada para este ponto.

2.3. RECUPERAÇÃO DE MATAS RIBEIRINHAS E CANAIS FLUVIAIS

31
Segundo o Ministério do Meio Ambiente – MMA –, o conceito de recuperação
e restauração estão intimamente ligados. A Restauração Ecológica significa
processo de auxílio a um ecossistema degradado, ou destruído, para seu
restabelecimento. Quando seus recursos bióticos e abióticos são suficientes para
continuar o próprio desenvolvimento sem auxílio, é considerado um ecossistema
recuperado.

A Lei Federal nº 9985/2000, que dispões sobre o Sistema Nacional de


Unidades de Conservação – SNUC –, define Recuperação como a restituição de
um ecossistema ou de uma população silvestre degradada a uma condição não
degradada, que pode ser diferente de sua condição original. Já a Restauração,
significa restituir um ecossistema ou de uma população silvestre degradada o mais
próximo possível da sua condição original (BRASIL, 2012c).

As interações entre a flora e a fauna são determinantes para a estruturação


dos ecossistemas, por tratar de relações importantíssimas para a polinização,
dispersão de sementes e herbivoria/predação. As ações voltadas à recuperação das
matas ripárias geralmente se apoiam no conhecimento destas relações, e ainda no
conhecimento das condições geomorfológicas dos rios, conforme apontado nos itens
anteriores. No entanto, há uma grande diversidade de termos e abordagens usadas
nas ações e projetos de recuperação, que necessitam ser diferenciadas.

Rodrigues e Gandolfi (2000) apontam a existência de 4 (quatro) termos que


definem um conjunto de ações e objetivos que se pretendem na recuperação
florestal: Restauração “Sensu Stricto”, Restauração “Sensu Lato”, Reabilitação
e Redefinição.

A Restauração “Sensu Stricto” significa um retorno completo às condições


ambientais originais ou preexistentes de um ecossistema degradado, envolvendo
aspectos bióticos e abióticos, como a composição florística e faunística, os
parâmetros de comunidade e as interações, entre outros, sendo raramente
exequível. Já a Restauração “Sensu Lato” se aplica a ecossistemas que não
experimentaram intensa perturbação, proporcionando a preservação da sua
capacidade de recuperação frente aos efeitos negativos da degradação.

A Reabilitação abarca intervenções antrópicas que colocam o ecossistema


em um novo caminho ou padrão de funcionamento, pelo qual a degradação,
32
irreversível sem este auxílio, possa ser revertida para um estado estável, porém
alternativo. Cortes (2004, apud FERNANDEZ & LUZ, 2014) considera a abordagem
de Requalificação, na literatura portuguesa, como sinônimo de Reabilitação.

A Redefinição, por usa vez, também conhecida como Redestinação, é a


conversão de áreas degradadas ou não degradadas para outros usos, diferentes do
ecossistema original, como, por exemplo, a formação de um reservatório hídrico
após a exploração mineral de uma área, ou a transformação de áreas degradadas
em áreas agrícolas.

No contexto dos ambientes fluviais, diversos outros autores e abordagens têm


contribuindo para a criação e difusão de termos associados às ações de
recuperação das áreas ribeirinhas. Na Europa, por exemplo, diferentes pesquisas e
instituições buscam a definição de intervenções, com maior ênfase, em várias
escalas sobre o sistema fluvial, tratando a restauração fluvial como um instrumento
para o desenvolvimento de um projeto integrado de recuperação de bacias
hidrográficas degradadas.

Restauração Fluvial, segundo Muhar et al. (1995), abrange a totalidade de


medidas que buscam mudar os efeitos das alterações produzidas pelo homem nos
rios (primariamente as medidas de controle de cheias, mas também os desvios, os
picos hidrológicos etc.), de maneira que o funcionamento ecológico do novo estado
criado se pareça com o de um rio mais próximo ao estado natural (MUHAR et
al.,1995, apud MEURER, 2010).

Segundo o European Centre for River Restoration (ECRR):

A restauração fluvial se refere a uma ampla variedade de medidas que visam a


restauração do estado natural, do funcionamento do rio e dos ambientes ripários.
Restaurando as condições naturais, a restauração fluvial tem por objetivo estabelecer
uma estrutura que permita o uso multifuncional sustentável dos rios (ECRR, 2008
apud MEURER, 2010).

Meurer (2010) define ainda outros termos que se relacionam com a temática
de restauração: Naturalização (Naturalization), Criação (Creation), Melhoria
(Enhancement), Preservação (Preservation) e Mitigação (Mitigation) (SHIELDS et
al., 2003; BROOKES & SHIELDS, 1996; apud MEURER, 2010).

33
O termo Naturalização (Naturalization) indica um processo de gerenciamento
de sistemas fluviais hidraulicamente e morfologicamente variados, com o objetivo da
manutenção de ecossistemas biodiversos, com dinâmicas estáveis. Já o termo
Criação (Creation) é aplicado quando se trata da formação de um sistema novo, que
anteriormente não existia. A Melhoria (Enhancement) se caracteriza por uma
melhoria qualquer na qualidade ambiental, como por exemplo, a melhoria na
qualidade dos parâmetros físico-químicos da água, ou ainda a presença de
determinada espécie de peixe de interesse ecológico. Já a Preservação
(Preservation) tem o objetivo de manter as funções correntes e as características de
um ecossistema, para protegê-lo de um futuro dano ou perda. A Mitigação
(Mitigation) busca compensar ou amenizar um dano ambiental ocorrido, tanto no
próprio local atingido pelo dano como em qualquer outro lugar afetado. Pode
envolver a restauração do local para condições socialmente aceitáveis, mas não
necessariamente para as condições consideradas naturais.

Para este trabalho, serão adotadas os termos Restauração (incluindo as


definições “Sensu Stricto” e “Sensu Lato”), Reabilitação (ou Requalificação) e
Redefinição (ou Redestinação).

2.4. OS ESPAÇOS LIVRES

O Espaço Livre corresponde a todo espaço não ocupado por um volume


edificado (espaço solo, espaço água etc.) a que as pessoas tem acesso (MAGNOLI,
2006a). A ordenação do território por um Sistema de Espaços Livres (SEL) é
defendida por diversos autores como uma estratégia de extrema importância para
planejar a ocupação urbana em ambientes frágeis, e imprescindível para manter os
processos biofísicos e ecológicos (TARDIN, 2008; BRAGA, 2015).

Esta estratégia tem o intuito de construir o território como um mosaico de


Espaços Livres conectados em sistemas, estabelecendo diretrizes para os
potenciais usos e ocupações do território, em espaços livres ou construídos,
indicando alternativas para a implantação de estruturas ambientais urbanas mais
equilibradas no âmbito dos processos e dinâmicas naturais.

34
Mais além, os recursos ambientais existentes verificados nos Sistemas de
Espaços Livres, em suas diversas escalas, podem ser o viés pelo qual a sociedade
busque alternativas para a sua qualidade de vida, tanto biofísica quanto
sociocultural, destacando-se o lazer e o convívio, dentre outras práticas tão
necessárias à sua existência, assim como as condições de ventilação, aeração e
alimentação, etc.

É neste contexto que os espaços livres de edificação, quando inseridos na


malha urbana, e os espaços livres de urbanização, quando inseridos na área rural
(MAGNOLI, 1972; 2006), organizados em sistema segundo Tardin (2008),
representam a integração de diversos elementos em diferentes escalas que
interagem com outros elementos de diferentes origens, internas e externas. Nesse
contexto, há influências recíprocas, mas com relativa autonomia, e sem hegemonia
de um elemento sobre os demais (TARDIN, 2008).

No caso da bacia hidrográfica, o Sistema de Espaços Livres de urbanização


também pode reunir espaços contínuos e descontínuos, conforme a escala de
trabalho adotada, na escala regional e segundo os preceitos da Ecologia da
Paisagem, os espaços livres podem ser:

● Fragmentos (Patches) – espaços pertencentes ao mosaico com


características homogêneas e com formas variadas (alongada, larga, retilínea,
curva etc.);
● Corredores (Corridors) – espaços lineares formadores de eixos de ligação
entre dois fragmentos, onde seus elementos se distinguem do seu entorno. A
zona ribeirinha, no presente estudo, pode ser considerada como pertencente
a esta categoria;
● Matrizes (Matrix) – ecossistemas que controlam as dinâmicas ecológicas
regionais da paisagem. Contém fragmentos e corredores, e são altamente
conectados estes. São áreas que existem recursos fundamentais para a
paisagem, possuindo a maior proporcionalidade de vegetação natural.

O Sistema de Espaços Livres (SEL) pode conter ou não vegetação, e deve


estar comprometido com a manutenção da qualidade do ambiente onde está
inserido (TARDIN, 2008), onde os processos naturais devem ser respeitados por
determinarem o comportamento e as dinâmicas ecológicas do espaço. Em contexto

35
rural, como é o caso do recorte de análise do presente estudo, as atividades de
agricultura, silvicultura, recomposição vegetal, uso recreativo, entre outras, quando
bem manejadas ou planejadas, podem proporcionar a manutenção dos recursos
ambientais e produzir novos caminhos para a requalificação de um espaço alterado.

McHarg (1969) salienta a importância de preservar e compartilhar com a


comunidade os elementos mais representativos de uma paisagem, tais como os
elementos cênicos, as áreas de emergência visual, os fundos cênicos, os elementos
de patrimônio histórico-cultural, que podem determinar a distinção de um lugar em
relação a outro. A partir dessa abordagem, os espaços livres podem ser o meio de
desenvolvimento dessas aptidões culturais e assim dar suporte à sua conexão com
espaços protegidos.

A urbanização constitui um processo materializado pela distribuição espacial


dos elementos edificados e construídos, que possuem uma lógica própria de
evolução, de conectividade e inter-relacionamento. Neste contexto, as áreas de
transição entre os edifícios e os espaços livres não urbanizados configuram espaços
importantes para as funções de recreação, manutenção e proteção ecológica, além
de servirem de áreas reservadas a futuros usos (CLAWSON, 1969 apud MAGNOLI,
2006a). Os espaços livres de edificação, inseridos nas áreas urbanas e na periferia
urbana, têm seu enfoque relevante quando analisados em relação às atividades e
necessidades humanas (MAGNOLI, 2006a).

Ao longo da história, a humanidade transformou o ambiente natural coletando


alimentos e caçando, inicialmente, e depois passando para o cultivo de gêneros
alimentares e a domesticação de animais. Concentrou-se em espaços específicos,
formando as cidades ao longo do tempo, na evolução das cidades, percebeu-se a
necessidade da existência dos espaços de integração, onde houvesse completude e
relacionamento com o espaço edificado, criando-se cheios e vazios na estrutura
urbanizada, com diversas funções ligadas ao funcionamento da cidade (MAGNOLI,
2006a). Esses espaços contíguos ou complementares entre os edifícios ou nos
limites da malha urbana são considerados por Magnoli (2006a) como espaços
propensos à sociabilização das comunidades.

A escala se torna um fator importante para a análise do conjunto entre cheios


e vazios, já que para uma forma urbana dispersa – semelhante a uma nebulosa – de

36
uma área metropolitana, os cheios podem ser áreas densamente ocupadas, sendo o
contrário para áreas vazias. Assim, considerar um Sistema de Espaços Livres é
estabelecer uma integração entre diversas funções e elementos dos espaços não
edificados, em diversas escalas e nas diferentes configurações espaciais
(MAGNOLI, 2006b).

Em uma bacia hidrográfica, como a do presente estudo, em áreas rurais, os


espaços livres funcionam como áreas de interação entre comunidades humanas e
comunidades ecológicas da fauna. Também funcionam como áreas de produção
agrícola e de atividades ligadas à produção animal, além de parques naturais e
unidades de proteção da vida selvagem, de preservação permanente em margens
de corpos hídricos, etc.

Percebe-se que tratar de Sistema de Espaços Livres fora da mancha urbana


requer um outro olhar para um sistema aberto, com diversas contribuições e
interações. O funcionamento do ciclo hidrológico dentro de uma bacia hidrográfica,
por exemplo, reflete diferentes processos e interações entre elementos da
paisagem. A ausência ou a pouca presença de estruturas humanas pode não
provocar mudanças significativas no escoamento ou na infiltração das águas.
Entretanto, as alterações decorrentes da substituição da floresta por pastagens e
cultivos geralmente são as mais impactantes no subsistema hidrológico (LAWALL
apud CASIMIRO, 2015).

A bacia do Córrego do Arrieiro, por apresentar-se, em quase a totalidade de


sua área, como pouco ocupada por edificações, tem grande parte de suas condições
hidrológicas preservadas ou com potencial de restauração. No entanto, verifica-se
que a disposição espacial dessas edificações pode representar um risco para as
pessoas que construíram às margens das linhas de drenagem.

Os espaços livres são comumente ligados à recreação como espaços


públicos, e seus arranjos espaciais sugerem diversas oportunidades de
configurações sem que haja uma ligação direta a uma única especificidade de uso, o
que dá abertura a várias possibilidades de funções e intervenções (MAGNOLI,
2006a). Logo, têm fundamental importância para o desenvolvimento de uma
proposta de intervenção para áreas marginais da rede de drenagem, localizadas no

37
entorno de uma Unidade de Conservação de Proteção Integral (UCPI), como o
Parque Natural Municipal Montanhas de Teresópolis (PNMMT).

A espacialidade das estruturas edificadas contribui adicionalmente para este


fim, mas também enseja a criação de locais de convivência para esses espaços com
uso público, dando-lhes significado, e com benefícios ambientais e sociais para a
comunidade local.

Assim, os Espaços Livres assumem, neste contexto, a função fundamental de


manutenção e equilíbrio das estruturas ambientais que afetam a dinâmica da
paisagem nessa bacia hidrográfica. Sua importância está ligada também à
manutenção do equilíbrio hidrológico, do cumprimento de leis municipais, estaduais
ou federais que protegem o patrimônio natural, e da preservação das áreas de
mananciais hídricos fundamentais para que os processos naturais possam ocorrer
sem causar destruição de vidas humanas, em uma região com grande potencial de
ocorrência de processos associados a movimentos gravitacionais de massa
(deslizamentos, queda de blocos, corridas de detritos, entre outros) e enchentes nas
linhas de drenagem, desencadeados por eventos climáticos de alta magnitude. É
com este viés que são propostas as diretrizes fruto da presente dissertação.

Para este fim, serão adotadas as FMPs como categoria ambiental de espaços
livres de edificações que preservam os recursos naturais ou geobiofísicos da linha
de drenagem como proposta para o Córrego do Arrieiro.
Algumas ocupações edificáveis na citada FMP serão preservadas, desde que
sejam de interesse social já previstas em lei, como posto de saúde, centro
comunitário, entre outros. Alguns tipos de edificações, tais como residências e
comércio, serão propostas a remoção para locais fora da APP ou dentro da mesma,
desde que esteja em nível topográfico menos vulnerável a inundação e movimentos
de massa de encostas.
Já a infraestrutura viária e de energia serão tratados como de interesse social,
sendo incorporadas às FMPs.
Em outra escala, serão propostos setores de planejamento do uso e cobertura
do solo na bacia hidrográfica, com os mesmos objetivos tratados até este momento.
O conjunto dessas duas atuações em diferentes escalas serão as diretrizes
propostas no trabalho.

38
3.MATERIAIS E MÉTODOS

Para alcançar o objetivo de propor diretrizes para orientar o uso do solo nas
áreas ribeirinhas do Córrego do Arrieiro, estabeleceu-se como caminho de análise
da dinâmica geobiofísica, a avaliação dos sistemas fluviais utilizando a abordagem
dos Estilos de Rio® (BRIERLEY & FRYIRS), visando sua utilização na aplicação de
uma proposta com o Sistema de Espaços Livres em área de expansão urbana.

Busca-se estabelecer diretrizes para um plano paisagístico que proporcionem


a formação de corredores ecológicos, matrizes e fragmentos favoráveis à
manutenção ou ao estabelecimento de uma ampla variedade de habitats, a partir do
reconhecimento das características ambientais prevalecentes às margens dos
cursos d’água. Esses recursos ambientais são significativos para qualificar a
“interação social com o suporte” (MAGNOLI, 2006b).

As diretrizes para um plano paisagístico às margens de curso de água


apresentarão classificação temática para potenciais usos que visa estabelecer o
contínuo processo ecológico dentro da bacia e a proteção da população ribeirinha
contra possíveis eventos climáticos extremos, com a melhoria paisagística
pretendida. Essa classificação será representada por áreas com possíveis usos para
recomposição florestal, uso agroflorestal e uso recreativo com proteção das
margens, todas fundamentadas nas dinâmicas geohidromorfológicas e nas relações
da população ribeirinha com o Córrego do Arrieiro.

Pretende-se, deste modo, diretrizes para intervenção na paisagem que


orientem as estruturas a serem preservadas e recuperadas, bem como aquelas que
poderão ser alvo de ação mais incisiva, determinando uma nova espacialidade das
estruturas, cujos reflexos serão vistos nos usos futuros da bacia hidrográfica.

A pesquisa foi conduzida em diferentes etapas, que envolveram investigações


de laboratório e levantamentos de campo, explicitados a seguir. O estudo foi
desenvolvido em conjugação com outras pesquisas em andamento na bacia
hidrográfica do Ribeirão Santa Rita, conduzidos inicialmente no âmbito do Programa
PROEXT Mapeamento de Risco e Ordenamento da Paisagem na Região Serrana
do Estado do Rio de Janeiro, vigente durante o período de 2012 a 2014, e do Projeto

39
PIBEX Águas no Planejamento Municipal, ambos conduzidos no Instituto de
Geociências da UFRJ.

Para execução deste trabalho, foi necessário a adequação das atividades. Na


qualificação, buscou-se o referencial teórico de Magalhães (2007) – a Estrutura
Ecológica da Paisagem – como proposta metodológica para as intervenções, mas os
referenciais do arcabouço conceitual do SEL e dos Estilos de Rio®, entre outros,
foram usados por tratarem de temas relacionados à manutenção e preservação dos
sistemas geobiofísicos, considerando as interações antrópicas como parte integrante
de todos os processos em uma bacia hidrográfica. No entanto, as dinâmicas que
envolveriam a contribuição da comunidade para o projeto foram retiradas, pois
haveria demasiados custos e falta de tempo hábil para execução dessas atividades.

Etapa 1: Pesquisa de bases disponíveis

Envolveu o levantamento das bases cartográficas e de imagens disponíveis e


adequadas ao tipo de análise proposta, e a seleção do recorte de estudo.

O recorte espacial adotado foi a bacia hidrográfica do Córrego do Arrieiro, na


sua zona de cabeceira, limitada na confluência com o seu maior tributário, conhecido
localmente como Córrego Santana. A partir desta confluência, o Córrego do Arrieiro
segue um pequeno trecho até desaguar no Córrego Santa Rita, do qual é tributário.

Para o estudo, foram definidos os seguintes materiais para uso nas análises
propostas:

 ortofotos e vetores do Zoneamento Ecológico Econômico (ZEE/RJ)


confeccionados pela Secretaria Estadual do Ambiente (SEA) pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na escala de mapeamento
1:25.000, com destaque para a rede de drenagem e hipsometria;
 outras imagens obtidas por sensores remotos, disponíveis no Google Earth;
 mapas de compartimentos geomorfológicos oriundos dos estudos
desenvolvidos por Casimiro (2014; 2015).
 mapa geológico compilado por Casimiro (2015).

Etapa 2: Análises preparatórias em laboratório


40
Consistiram na análise das cartas, imagens e dos mapeamentos disponíveis,
bem como na execução de mapeamentos preliminares sobre os rios e a cobertura e
uso do solo utilizando o software ArcGis 10.1® e Autocad Civil 3D® 2015 e 2016.

Etapa 3: Levantamentos de campo

Abrangeram a realização de levantamentos das características do Córrego do


Arrieiro em seus diferentes trechos ao longo da bacia, assim como o
reconhecimento dos diferentes tipos de cobertura e uso do solo identificados nos
mapeamentos preliminares, e ainda a realização de entrevistas com os moradores,
percorrendo-se a bacia com veículos motorizados e a pé.

A avaliação geomorfológica do sistema de drenagem da bacia do Córrego do


Arrieiro obedeceu às escalas de análise apontadas na metodologia proposta por
Brierley & Fryirs (2005).

Segundo Brierley & Fryirs (2005), o grau de confinamento do vale constitui


uma das características mais relevantes para a definição dos estilos fluviais.
Segundo os autores, a proximidade do leito do rio em relação às encostas que
configuram o vale fluvial indica o controle exercido pelas estruturas geológicas,
influenciando diretamente a forma em planta dos canais fluviais.

Os dados referentes aos levantamentos sobre as características


geomorfológicas do canal em laboratório e nos reconhecimentos preliminares de
campo indicaram a existência de ao menos três trechos marcadamente distintos na
sub-bacia do Córrego do Arrieiro, utilizados para caracterização dos ambientes de
vale em locais escolhidos pela sua representatividade no que diz respeito às
variações documentadas ao longo deste curso fluvial.

O levantamento de seções transversais ao canal fluvial foi realizado em


pontos distintos do Córrego do Arrieiro, tendo sido executado no período de
novembro de 2014 a abril de 2015. A seleção dos locais para levantamento destas
seções transversais foi feita com base nas análises efetuadas anteriormente. Este
levantamento foi executado em conjunto com as investigações desenvolvidas por
Casimiro (2015), e abrangeu:

41
a) mensurações em campo da largura e profundidade dos canais, com
levantamento de perfil transversal detalhado e descrição dos materiais
observados. Foi usada uma trena para medir de uma margem a outra, e a
altura do canal a partir da margem até a lâmina de água.
b) o registro das características observadas nas seções de canal analisadas,
utilizando uma ficha de campo elaborada previamente, fotos e croquis (ver
anexos).
Durante estes levantamentos e outras atividades de campo realizadas no
âmbito do Programa PROEXT, foram realizadas entrevistas com os moradores,
buscando documentar sua relação com o córrego (apropriações, usos, percepção de
mudanças) e com a localidade Fazenda Alpina, assim como suas impressões sobre
o desastre ocorrido em janeiro de 2011. Foram realizadas cerca de dez entrevistas
com moradores do condomínio situado próximo à Escola Municipal Fazenda Alpina
(Condomínio Retiro da Serra) e com outros moradores de diferentes locais na bacia
do Córrego do Arrieiro.

As entrevistas seguiram um roteiro semiestruturado, com flexibilidade para


inclusão de outras perguntas durante os diálogos, tendo sido conduzidas como
conversas descontraídas travadas durante os percursos realizados e os
levantamentos de seções de canal, ao pedirmos permissão para entrar nas
propriedades e acessar o Córrego do Arrieiro. Esta conduta foi adotada buscando
respeitar a vivência e memória dos entrevistados sobre a catástrofe de 2011, uma
vez que os moradores perderam familiares, amigos e bens neste desastre, tendo já
participado de diversas pesquisas realizadas por outros órgãos/instituições cujos
resultados nem sempre retornam à população.

Para o mapeamento de cobertura e uso do solo, buscou-se identificar,


durante os levantamentos de campo, os diferentes tipos de cobertura e uso
reconhecidos nos mapeamentos preliminares, especialmente nas áreas próximas ao
Córrego do Arrieiro, e destacando-se também a ocupação predial. A legenda
adotada foi inspirada no Manual de Uso e Cobertura da Terra, do IBGE (Tabela 2),
tendo sido efetuadas adaptações no presente estudo (Figura 8). Estes
levantamentos foram executados nos meses de maio e junho de 2015.
As categorias de uso do solo às margens das linhas de drenagem podem
estabelecer alguma relação entre o tipo da ocupação e seu uso, a cobertura vegetal
42
e a permeabilidade do solo para manutenção dos processos, com vistas a identificar
possíveis impactos que alterem essa dinâmica dentro dos canais fluviais e seu
entorno.
Tabela 2: Classes de cobertura da terra Níveis I e II.
Fonte: IBGE, 2013.

43
Figura 8: Mapa de uso e cobertura da terra executado para a bacia do Córrego do Arrieiro. Elaborado
por CINELLI (2015), com colaboração de João Guilherme Casimiro.

Etapa 4: Compartimentação geoambiental

Foi confeccionado o perfil longitudinal geomorfológico do canal principal da


bacia em estudo, buscando identificar as principais rupturas de declive e situar os
locais onde foram executados os levantamentos de campo. Com base nos
levantamentos realizados, foram conduzidas as análises visando subsidiar a
proposição de diretrizes, utilizando-se o Autocad Civil 3D 2016® para construir os
perfis longitudinal e transversais ao canal e aos vales, além da restituição da
hidrografia e da confecção do mapa final de cobertura e uso do solo.

Foram identificados diferentes compartimentos geoambientais que


representam as unidades de paisagem, reconhecidas através da conjugação da
compartimentação geomorfológica com a caracterização do grau de confinamento e
das seções transversais aos canais, gerando-se mapas específicos para sua
representação e análise espacial. Assim, em cada compartimento reconhecido foi
descrito o ambiente de vale e apresentadas as características do canal fluvial,
posicionando-os em relação à bacia hidrográfica. Também foram analisados a
cobertura e os usos da terra em cada compartimento.
Os compartimentos geoambientais (Figura 9) estão associados aos diferentes
trechos identificados no perfil longitudinal do Córrego do Arrieiro, de montante para
jusante. A cada compartimento existe uma seção geomorfológica representativa do
ambiente de vale, também indicada na Figura 9, que busca sintetizar a morfologia
típica de cada compartimento. A Seção 1 representa a Zona A, a Seção 2
representa a Zona B, a Seção 3 representa o limite entre a Zona C1 e a Zona C2, e
a Seção 4 representa a Zona C3. Cada trecho representa um padrão específico de
morfologia e comportamento específico da dinâmica fluvial dentro da bacia em
estudo.

44
Mapa da Compartimentação Geoambiental
Seções Geomorfológicas e Zonas Geoambientais do Córrego do Arreeiro
704000 706000 708000 710000
,000000 ,000000 ,000000 ,000000

Legenda

± Seções
Vias
Hidrografia
Bacia Arreeiro
,000000

,000000
7530000

7530000
Zona C3

S4

S3
,000000

,000000
Zona C2
7528000

7528000
S2

Zona B
Zona C1
S1
1:25.000
,000000

,000000
Zona A 1 0,5 0 1 Km
7526000

7526000
Sistema de Referência: SIRGAS 2000
Sistema de Projeção: UTM 23S
Data: 09/2015
Fonte: IBGE 2010
INEA 2005
INEA 2011
704000 706000 708000 710000
,000000 ,000000 ,000000 ,000000
Figura 9: Compartimentos geoambientais e seções geomorfológicas transversais definidos na bacia
do Córrego do Arrieiro. Elaborado por CINELLI, 2015.

Etapa 5: Elaboração das diretrizes

As diretrizes foram elaboradas utilizando como base espacial os


compartimentos geoambientais, pois a análise realizada possibilitou apreender as
diferenciações na dinâmica do Córrego do Arrieiro e suas relações com as
características da bacia em seus diferentes trechos.

Inicialmente, foi demarcada a FMP do Córrego do Arrieiro, considerando a


seção transversal que definirá a largura das faixas “(...) desde a borda da calha do
leito regular” (BRASIL, 2012b). Para identificar esta seção, foram utilizadas as várias
seções de canal levantadas para cada unidade de paisagem, ou compartimento
geoambiental. Deste modo, cada compartimento possui uma seção transversal
projetada, simbolizando a capacidade do canal de escoar o fluxo de água
convergente para cada ponto considerado.

Após esta definição, foram demarcadas, paralelamente, 30 metros de FMP


para cada margem do Córrego do Arrieiro. Esta extensão foi definida a partir da
seção transversal projetada, que não ultrapassou os 10 metros indicados pela lei
12651/2012.

A delimitação dos setores de intervenção foi efetuada sobre estas bases,


sendo definidos os usos para cada Zona a partir da função de cada setor, sendo
inspirados nas bases conceituais sugeridas por Rodrigues e Gandolfi (2000), citados
anteriormente no Capítulo 2, item 2.3: Recuperação, Reabilitação e Redefinição.
Mais adiante, no Capítulo 5, serão definidas as funções para cada setor.

Os setores abrangem a totalidade da FMP, observando-se as necessidades


da população local e considerando os aspectos ambientais e jurídicos, que
contribuem para a preservação dos processos no Córrego do Arrieiro, e a
minimização de impactos causados por eventos extremos.

A tipologia de usos indicada para cada setor integra usos e ocupações que
permitam a preservação ou melhoria das condições ambientais da bacia, conforme a
análise efetuada.

46
A partir dos setores delimitados foi possível avaliar quais aspectos são
importantes a considerar em um plano paisagístico para as zonas ribeirinhas, de
modo que possam ser aplicados em outras bacias hidrográficas inseridas no mesmo
contexto.
Finalizando, apresentam duas propostas de implantação das diretrizes na
escala local, um na Zona C2 e outro na Zona C3, com a descrição dos elementos
propostos para as áreas.

47
4.CARACTERÍSTICAS DA BACIA HIDRO-GRÁFICA DO
CÓRREGO DO ARRIEIRO

4.1. CONTEXTO GEOLÓGICO E GEOMORFOLÓGICO REGIONAL E LOCAL

Os processos geomorfológicos que modelam a paisagem da Região Serrana


do Estado do Rio de Janeiro são influenciados pela formação e evolução da Serra
do Mar. Os processos atuantes em diferentes episódios do tempo geológico deram
origem a uma configuração litológica e estrutural imbricada, associando-se à
formação de um sistema de montanhas no litoral sul e sudeste brasileiro conhecido
como Serra do Mar, feição orográfica que se estende do norte do Estado de Santa
Catarina ao nordeste do Estado do Rio de Janeiro. A Região Serrana do Estado do
Rio de Janeiro está inserida nesse domínio montanhoso, onde se localizam os
principais municípios desta região: Nova Friburgo, Petrópolis e Teresópolis.

No Rio de Janeiro, essa cadeia montanhosa possui uma unidade morfológica


conhecida como Serra dos Órgãos, que está contida no domínio geológico da Faixa
Ribeira, de idade Pré-Cambriana, a qual, por sua vez, faz parte do sistema
orogênico da Mantiqueira (HASUI, 2010). Esta cadeia montanhosa configura-se por
blocos de falhas inclinadas na direção N-NE, com declividade suave em direção ao
rio Paraíba do Sul e com vertentes abruptas em direção à baixada fluminense
(ALMEIDA & CARNEIRO, 1998).

Segundo Silva (2002) esta região integra o Cinturão Orogênico do Atlântico,


unidade morfoestrutural onde há variações altimétricas, alinhamentos e vales e
cristas serranas paralelas entre si, controlados por sistemas de falhas e fraturas,
além de intrusões ígneas e reminiscências de grandes cadeias orogênicas do
passado, que foram intensamente erodidas ao longo do tempo.

A formação geológica da bacia do Córrego do Arrieiro está associada à


formação da bacia do Rio Paquequer. Com base na afirmação de Silveira e Ramos
(2007), sobre os estudos realizados por UERJ & IBGE em 1999, as unidades
presentes na área de estudo, indicadas na Figura 10, incluem:

48
 Unidade Batólito Serra dos Órgãos – domina 60% da bacia, composta por
granito metamorfizado com foliação NE-SW, com faixas leucograníticas – que
não ocorre na bacia do Córrego do Arrieiro – alternando-se com faixas de
granito-gnaisses com enclaves máficos, de idade Meso a Neoproterozóica;
 Unidade Rio Negro – ocorrência em 34% da bacia, composta por migmatito
estromático de estrutura heterogênea, em alternância com gnaisse de
composição leucogranítica localmente bandado, de idade Paleoproterozóica;

Já Tupinambá, Teixeira & Heilbron (2012) apresentam outra unidade


ocorrente na área de estudo:

 Unidade Granito Nova Friburgo – representada por plutons e diques


subverticais a sub-horizontais de granitos homófonos, sem feições macro ou
microscópicas de deformação interna, composta por corpos graníticos pós-
orogênicos de granulação fina a média, textura eqüigranular a porfirítica
locamente com foliação de fluxo magmático preservado, ocorrendo como
corpos tabulares, diques e pequenos batólitos cortando as rochas regionais.

49
Figura 10: Litologias e estruturas geológicas da bacia do rio Paquequer, onde está localizada a bacia
do Córrego do Arrieiro, inserida na bacia do Ribeirão Santa Rita, seu principal tributário na margem
oeste.
Fonte: Compilado por CASIMIRO, 2015.

Estes autores apontam um sistema de falhas NE-SW e NW-SE que


condiciona a drenagem, com inflexões angulares dos canais, além das diferentes
resistências das rochas aos processos de entalhamento do canal fluvial (SILVEIRA
& RAMOS, 2007).

As estruturas geológicas e as litologias possuem grande importância na


formação do relevo e formação dos solos, além de indicar o funcionamento das
dinâmicas da modelação do relevo e seus processos associados. Isto permite
entender o comportamento dos processos e, consequentemente, ajuda a prever
situações de vulnerabilidade a movimentos de massa na bacia hidrográfica.

No contexto geomorfológico, o mapa de compartimentos geomorfológicos e


desnivelamento altimétrico elaborado por CASIMIRO (2015) para a bacia do rio
Paquequer, ilustrado na Figura 11, evidencia existência de várias classes de
desnivelamento altimétrico, indicando na porção oeste desta bacia os
compartimentos de Degraus Escarpados e Degraus Reafeiçoados como os de
maiores desnivelamentos altimétricos e maior expressão em área. O compartimento
de Planícies Fluviais tem menor extensão em área tanto na bacia do Córrego do
Arrieiro como nas bacias vizinhas.

Dourado, Arraes & Silva (2012) afirmam que, no evento climático de 2011,
intensos movimentos gravitacionais de massa produziram grande aporte de material
direcionado às linhas de drenagem, ocasionando corridas de lama e detritos, terra
ou lama, que tiveram origem nos pontos mais altos das cabeceiras da rede de
drenagem, sendo depositados ao longo dos canais fluviais coletores.

Os estudos do Projeto Teresópolis, segundo Silveira & Ramos (2007),


identificaram quatro formações superficiais na bacia hidrográfica do Rio Paquequer:

 Colúvio de baixo gradiente com textura silto-argilosa e coloração vermelha à


textura argilo-arenosa e coloração amarelada;
 Colúvio de alto gradiente rico em blocos de rocha imersos em matriz arenosa-
argilosa, geralmente associados a zonas de blocos com diâmetros que variam
50
de metros a dezenas de metros, ocorrendo principalmente nas proximidades
dos divisores de bacia;
 Elúvio ou solo residual, aflorando principalmente nos cumes e áreas convexas
dos morros de até 1200 metros de altitude; e,
 Colúvio-Alúvio de textura areno-argilosa a arenosa, concentrando-se ao longo
dos vales dos principais tributários do rio Paquequer.

Figura 11: Compartimentos geomorfológicos identificados pela técnica de amplitude altimétrica na


margem oeste da bacia do Rio Paquequer onde se insere a bacia do Córrego do Arrieiro.
Fonte: CASIMIRO, 2015.

Identificar o contexto geomorfológico constitui uma importante análise para


entender os processos de modelagem do relevo na escala da bacia. Os processos
associados a movimentos de massa e detritos estão diretamente relacionados ao
comportamento da amplitude altimétrica, do tipo de solo e uso e ocupação da terra.
As dinâmicas relacionadas a esse comportamento interferem direto no canal fluvial,
provocando, entre outras coisas, o entulhamento do fundo do canal, a ampliação ou
redução da seção do canal que irão propiciar futuros alagamentos ou depósitos de
material de diversas granulometrias às margens dos corpos hídricos.

A seguir, demonstrar-se-ão as características da bacia hidrográfica


associadas à compartimentação geomorfológica da bacia e ao uso e ocupação do

51
terra, analisadas de modo a compreender como há uma relação direta entre os tipos
de usos e ocupações e os processos hidrogeomorfológicos na área de estudo.

4.2. CARACTERIZAÇÃO GEOAMBIENTAL DA BACIA DE DRENAGEM DO


CÓRREGO DO ARRIEIRO

As unidades geoambientais são compartimentações do sistema geobiofísico


que permitem uma análise integrada da estrutura e da fisiologia da paisagem
(DANTAS et al., 2001).

Inicialmente, a análise do perfil longitudinal apresentado na Figura 12,


apresenta três trechos com declividades diferenciadas. Estas declividades se
relacionam diretamente com os compartimentos geomorfológicos citados na Figura
11. A cada variação siginificativa da declividade, é possível observar a mudança de
dinâmica que atuam nos processos de modelação do terreno.

Figura 12: Perfil longitudinal do Córrego do Arrieiro e relação com os compartimentos topográficos
reconhecidos nas áreas próximas às suas margens, de acordo com CASIMIRO (2015).

Cada compartimento possui características geomorfológicas distintas entre si.


O compartimento geomorfológico, analisado a partir do perfil longitudinal do canal
fluvial, infere a dinâmica existente na modelação do terreno, os processos
associados e a potencialidade de provocar grandes movimentos de massa, corrida
de lama e detritos, que modelam a paisagem.

52
A partir da compartimentação do relevo, do perfil longitudinal e das
características do ambiente de vale, além das seções transversais ao canal, foram
reconhecidos três ambientes distintos na bacia do Córrego do Arrieiro (Figura 12).
Pelas características observadas a partir da compartimentação
geomorfológica, e associando-as à cobertura e uso da terra, foram definidos 5
compartimentos geoambientais, que representam as unidades de paisagem
consideradas para análise e proposições: Zona A, Zona B, Zona C1, Zona C2 e
Zona C3. As Zonas C1, C2 e C3, apresentadas na Figura 9, foram individualizadas
com base nas diferenças observadas em relação ao confinamento do vale.

4.2.1. TRECHO A - ALTO CURSO:

Figura 13: Compartimento geoambiental - Zona A, situado no alto curso da bacia do Córrego do
Arrieiro, com cobertura e uso do solo. Elaborado por CINELLI, 2015.

O Trecho A do perfil longitudinal representa o alto curso da bacia. Este trecho


é denominado Zona A. A nascente do Córrego do Arrieiro fica nesta zona,
localizando-se em um ambiente íngreme, coberto por floresta e com muitos
afloramentos rochosos compondo paredões verticais, de difícil acesso. Quase a

53
totalidade desta zona pertence ao PNMMT. Aproximadamente, 15% da área desta
zona tem cobertura antrópica composta por gramíneas.
Observa-se no alto curso o compartimento em Degraus Escarpados ou
Elevados, sendo o perfil longitudinal ao canal marcado pela alta declividade (Figura
12).
O ambiente de vale caracteriza-se por uma seção transversal demonstrando
alto entalhe e grau de confinamento do vale em formato “V” (Figura 14), com
geometria retilínea das encostas. A rocha matriz aflora em grande porção das
encostas adjacentes, com a presença também de vegetação de gramíneas,
arbustos, árvores de médio e grande porte (Figura 13). A zona ribeirinha está
completamente ocupada por cobertura florestal sobre solos pouco espessos.
O canal fluvial é tipicamente de cabeceira de drenagem, com predominância
de processos de remoção e transporte de massa. A ocorrência de blocos dispostos
ao longo do eixo do canal e em sua margem indicam o aporte de materiais
provenientes das encostas (deslizamentos, queda de blocos) ou o transporte destes
materiais durante eventos de alta magnitude. É possível registrar pelas imagens do
Google Earth (Figuras 15) algumas cicatrizes de deslizamentos (movimentos
gravitacionais de massa) geradas pelo evento de 2011, formando um conjunto de
feições indicativas de acentuada contribuição para o aporte de sedimentos em
direção ao vale, importantes para a geração de corridas de lama e detritos.
Estes processos também atingiram os canais tributários do Córrego do
Arrieiro.

Figura 14: Seção transversal ao vale S1, situada no alto curso do Córrego do Arrieiro (trecho A do
perfil longitudinal). O limite do compartimento representa a inflexão da encosta no canal. Altitudes e
distância horizontal em metros. Elaborado por CINELLI, 2015.

54
A velocidade do fluxo de água é reduzida onde há ocorrência de rupturas de
declive (níveis de base), frequentemente ligadas à presença de blocos na zona de
cabeceira.
Este compartimento está inserido quase totalmente no PNMMT, além de ser
uma área bastante íngreme, razão pela qual apresenta florestas em grande parcela
de sua extensão, localizadas predominantemente a jusante dos paredões rochosos,
que geram grande escoamento superficial. A sul da Zona A observa-se gramíneas
que caracterizam-se por ter menor eficiência na retenção de sedimentos. Mesmo
com solos pouco profundos, a cobertura dominante possibilita uma boa capacidade
de infiltração de água superficial.
Nesta unidade de paisagem, as características geoambientais indicam a
importância da preservação da cobertura florestal, pelos motivos explicitados
anteriormente.

A
S1

55
C

Figura 15: Visão vertical (A) e oblíqua (B) do segmento montante da bacia do Córrego do Arrieiro,
correspondente ao trecho A do perfil longitudinal do canal, visualizadas através do MDT Google
Earth. As setas amarelas indicam algumas cicatrizes geradas pelo evento de janeiro de 2011, e a
linha vermelha, o limite da bacia. Em (C) observa-se a morfologia do canal, com rupturas de declive
seta amarela) e fragmentos de rocha de diversos tamanhos, e a vegetação encontrada nas margens.
Fonte: CASIMIRO, 2015.

4.2.2. TRECHO B - MÉDIO CURSO:

Trecho B do perfil longitudinal representa o médio curso da bacia. Este trecho


é denominado Zona B (Figura 16).

Figura 16: Compartimento geoambiental - Zona B, situado no médio curso da bacia do Córrego do
Arrieiro (ver Figura 12), com cobertura e uso do solo. Elaborado por CINELLI, 2015.

56
O córrego percorre a extensão aproximada de 2000 metros, com redução da
declividade do perfil longitudinal do canal em relação ao compartimento anterior
(Figuras 12). A cobertura antrópica é de aproximadamente 31% da área total da
zona, caracterizado por gramíneas e edificações residenciais.
De montante para jusante, há uma mudança na morfologia da margem
esquerda do canal, sendo as feições de Degraus Escarpados ou Elevados da Zona
A substituídas por Degraus e Serras Reafeiçoadas e Colinas Suaves.
O vale apresenta ainda um acentuado grau de confinamento, porém com
maior abertura de vale (Figura 17), o que permite a retenção de sedimentos e blocos
originados da Zona A e de suas próprias encostas e margens. É possível perceber
na Seção S2 (Figura 17) menor amplitude altimétrica nas encostas da margem
esquerda do córrego, com geometria convexa, e a maior amplitude altimétrica na
margem direita, com geometria retilínea das encostas.

Figura 17: Seção transversal ao vale S2, situada no médio curso do Córrego do Arrieiro, no Trecho B.
Esta seção corresponde ao limite das Zonas B e C. Altitudes e distância horizontal em metros.
Elaborado por CINELLI, 2015.

No canal, os materiais mais comuns encontrados são blocos, calhaus e


seixos, devido à formação de rupturas de declive que influenciam na retenção de
sedimentos de granulometria menor, como cascalhos, areias e lama, assim como na
velocidade do fluxo (Figuras 18).

57
A

S2

Figura 18: Visão vertical (A) e oblíqua (B) do segmento médio da bacia do Córrego do
Arrieiro, correspondente ao trecho B do perfil longitudinal do canal, visualizadas através do MDT
Google Earth. A seta amarela indica a direção do fluxo da drenagem no Córrego Arrieiro. (C) A
morfologia do canal na área de transição entre as Zonas B e C, onde foram levantadas a seção
transversal e a planta do canal, e a seção geomorfológica S2. É possível identificar materiais de
diversos granulometrias. Fonte: CASIMIRO, 2015.

58
Figura 19: (A) Visualização em planta do trecho do canal do Córrego do Arrieiro na S2. (B) Seção
transversal ao canal do Córrego do Arrieiro, na seção S2. Distância horizontal em metros. Elaborado
por CINELLI, 2015.

Figura 20: Edificações às margens do córrego. No fundo, entre as árvores, localiza-se o Córrego do
Arrieiro. A seta amarela indica o sentido do fluxo de água. Elaborado por CINELLI, 2015.

Verifica-se pela Figura 16, que as edificações (em vermelho) do médio curso
ocupam as margens dos eixos de drenagem, e que áreas florestadas vêm sendo
modificadas para cultivos e pastagens. Há grande potencial de vulnerabilidade a
59
processos geohidrodinâmicos nestes eixos de drenagem devidos à morfologia do
ambiente de vale e à deposição de materiais coluviais e de talus na base das
encostas.

4.2.3. TRECHO C - BAIXO CURSO:

O Trecho C do perfil longitudinal representa o baixo curso. Este trecho foi


subdivido nos compartimentos geoambientais denominados Zona C1, Zona C2 e
Zona C3.

a) Trecho C1:
Refere-se ao compartimento denominado Zona C1, com aproximadamente
2.985.986 m², onde é possível observar que aproximadamente 30% da área são de
coberturas antrópicas - áreas de agricultura, silvicultura e pasto para criação de
equinos e edificações (Figura 21). Os limites do PNMMT envolvem as extremidades
da Zona C1, onde encontram-se áreas completamente cobertas por florestas em
diversos estágios.

Figura 21: Compartimento geoambiental - Zona C1, situado no baixo curso da bacia do Córrego do
Arrieiro (ver Figura 12), com cobertura e uso do solo. A seção S3 limita as Zonas C1 e C2. Elaborado
por CINELLI, 2015

60
A

S3

Haras

Figura 22: (A) Visão vertical do segmento jusante da bacia do Córrego do Arrieiro, correspondente ao
trecho C do perfil longitudinal do canal. A seção geomorfológica S3 é indicada, e o sentido do fluxo
em amarelo (fonte: Google Earth). (B) Visão da morfologia do vale do Córrego do Arrieiro na Zona
C1, a jusante da seção transversal S2. Observam-se os depósitos de sedimentos retirados do canal,
formando um banco mais elevado que a planície, em destaque à direita. (C) Visualização do canal
neste local, observando-se a vegetação de gramíneas instaladas no seu leito assoreado. Elaborado
por CASIMIRO, 2015.

A declividade do canal neste trecho é bastante suave, com as encostas


possuindo amplitudes altimétricas abaixo de 100 metros (Colinas Suaves e Planícies
Fluviais). O trecho do canal fluvial inserido na Zona C1 possui aproximadamente 890
61
metros de extensão, tendo a contribuição de três afluentes, e apresenta grande
abertura do vale.
Neste trecho, o Córrego do Arrieiro passa por um haras apresentando
extensos espaços livres nos fundos de vale, caracterizado por terrenos planos
produzidos pela deposição fluvial (Figuras 25). Também há alguns edifícios
próximos do leito do Córrego. Verifica-se a existência de depósitos de sedimentos
retirados do leito do córrego (dragados), após o evento de 2011, próximos à margem
do canal, formando bancos mais elevados que o nível da planície (depósitos de
materiais dragados do canal) – Figuras 22.
A seção S3 (Figuras 23) mostra a grande abertura do vale neste trecho, e a
morfologia de fundo de vale plano, com passagem abrupta para as encostas,
bastante íngremes. Observa-se na Figura 23 as alterações no canal em função do
uso do solo e das dragagens realizadas para remoção de material do canal.

62
Figura 23: (A) Seção transversal ao vale S3, situada no baixo curso do Córrego do Arrieiro, entre a
Zona C1 e a Zona C2. (B) Visualização em planta do trecho do canal do Córrego do Arrieiro, à
montante da seção transversal ao vale S3. (C) Visualização da seção transversal ao canal, à
montante da seção transversal ao vale S3 do Córrego do Arrieiro. Altitudes e distância horizontal em
metros. Elaborado por CINELLI, 2015.

Figura 24: Visualização do canal na seção transversal ao vale S3, onde ocorre o encontro com dois
afluentes do Córrego do Arrieiro. A seta indica o sentido do fluxo. Elaborado por CINELLI, 2015.

Figura 25: Visualização do fundo de vale plano e a encosta. Observa-se edificações do haras.
Elaborado por CINELLI, 2015.

b) Trecho C2
Este trecho refere-se à Zona C2, com aproximadamente 1.370 metros de
extensão do canal. A área de contribuição hidrológica da Zona C2 possui
aproximadamente 5.313.862 m², sendo a maior área entre todos os compartimentos
definidos, apesar de não possuir a maior quantidade de canais fluviais. Cerca de 33
% da área total da Zona C2 é de cobertura antrópica, com predominância de
gramíneas (30%), notadamente nos haras e no condomínio Retiro da Serra, e o

63
restante é composto por edificações, silvicultura, solo exposto, reservatórios e vias
de acesso.

Figura 26: Compartimento geoambiental – Zona C2, situado no baixo curso da bacia do Córrego do
Arrieiro (ver Figura 12), com cobertura e uso do solo. Elaborado por CINELLI, 2015.

A localização das edificações nesta zona, de modo geral, também


acompanha o eixo de drenagem, como se vê no Córrego do Arrieiro. O fundo de
vale relativamente amplo favorece a instalação das edificações, mesmo que de
modo disperso. Em outros pontos a morfologia das encostas dificultam a fixação de
edifícios.
Na área do condomínio, percebe-se alguns pontos com ocupação adensada,
mas com alguma permeabilidade do solo. Uma parte deste condomínio tem
edificações situadas na encosta íngreme florestada. A área marginal à drenagem
que passa pelo condomínio foi uma represa, rompida durante o evento de janeiro de
2011, o que contribuiu para o alagamento do vale à jusante.
O perfil longitudinal do Córrego do Arrieiro é suave e várias intervenções
realizadas ao longo do tempo deixaram o mesmo mais retilíneo.
Nesta Zona C2 localiza-se a escola municipal Fazenda Alpina e o campo de
futebol da comunidade (Figuras 27 e 28). A área foi bastante afetada em 2011, com
alagamentos, acúmulo de aproximadamente 3 metros de lama e destruição de
64
casas. Em relatos, os moradores informaram sobre a destruição ocorrida as pessoas
afogadas neste local, e o desespero de pessoas que perderam bens materiais e
familiares.

Córrego do Arrieiro tributário

Campo
de
Futebol

Escola

Figura 27: Localização da Escola Municipal Fazenda Alpina e circunvizinhança. Fonte: Google Earth,
2014.

65
C

Figura 28: Área circunvizinha à Escola Fazenda Alpina. (A) Escola Municipal Fazenda Alpina (portão
verde). (B) Campo de futebol. Ao fundo, as cabeceiras do Córrego do Arrieiro envolto por grande
névoa. Ao centro, casas remanescentes destruídas em 2011. À direita, vegetação documentada nas
margens do Córrego do Arrieiro. (C) Confluência do Córrego do Arrieiro com seu tributário. Ao fundo,
silvicultura e vegetação de porte arbustivo às margens do Córrego do Arrieiro. No primeiro plano, a
coloração avermelhada do tributário mostra o transporte de sedimentos para o canal principal.
Elaborado por CINELLI, 2015.

c) Trecho C3

Figura 29: Compartimento geoambiental - Zona C3, situado no baixo curso da bacia do Córrego do
Arrieiro (ver Figura 12), com cobertura e uso do solo. Elaborado por CINELLI, 2015.
66
O Trecho C3 corresponde à Zona C3. Esta Zona possui aproximadamente
2.814.639 m², com 31% de coberturas antrópicas, predominantemente gramíneas,
mas contendo também silvicultura, edificações, solo exposto e reservatório. As
edificações estão localizadas muito próximas às linhas de drenagem (Figura 29).
Neste trecho, não há edificações dentro dos limites do PNMMT. Algumas
residências, nesta zona, também foram atingidas por deslizamentos e alagamentos
em 2011, sendo relatado que os alagamentos são constantes com o aumento das
chuvas. Observa-se também casas situadas a jusante de afloramentos rochosos e
depósitos de talus, havendo vulnerabilidade a quedas de blocos e deslizamentos.
A sede do PNMMT situa-se nesta zona, mas os moradores afirmam
desconhecer ou pouco saber da existência do mesmo, e quais seriam suas
atrações.
A morfologia de vale é do tipo confinado, com amplitude altimétrica acentuada
devido ao encaixamento do mesmo entre duas elevações significativas (Figuras 30),
inseridas em compartimentos de Degraus Reafeiçoados e Escarpados (Figuras 11.
O canal fluvial apresenta diversos pontos de inflexão, verifica-se a ocorrência de
areias e lamas. Isto indica redução na velocidade do fluxo do córrego, possivelmente
associada às inflexões no canal, e à instalação de gramíneas no interior do mesmo.
Na porção final deste trecho, o vale amplia-se, próximo à confluência com o
Córrego Santana, estreitando-se novamente próximo à desembocadura no Ribeirão
Santa Rita.

67
B

Figura 30: (A) Seção transversal ao vale S4, situada no baixo curso do Córrego do Arrieiro, situada na
Zona C3, na entrada do PNMMT. (B) Visualização em planta do trecho do canal do Córrego do
Arrieiro, na S4. Distância horizontal em metros. (C) Visualização da seção transversal do canal, na
S4. Altitudes e distância horizontal em metros. Elaborado por CINELLI, 2015.

A B

Figura 31: (A) Visualização do Córrego do Arrieiro a montante da seção transversal ao vale S4. (B)
Visualização do Córrego do Arrieiro a jusante da seção transversal ao vale S4, onde ocorrem
alagamentos frequentes, observando-se a gramíneasação às margens do leito do canal. A seta indica
o sentido do fluxo. Elaborado por CASIMIRO, 2015.

68
Figura 32: Visão oblíqua do segmento de baixo curso da bacia do Córrego do Arrieiro,
correspondente à porção jusante do trecho C do perfil longitudinal do canal. A seta amarela indica a
direção do fluxo da drenagem. Fonte: Google Earth, 2015.

Há um povoamento às margens do Arrieiro e do seu tributário nas


proximidades, à jusante da sede do PNMMT (Figura 29). Algumas moradias foram
completamente destruídas pela corrida de lama e detritos, outras parcialmente.
Poucas casas restaram e ainda contém moradores, representando um perigo
iminente.
Na cabeceira desse tributário existe um grande depósito de talus dispersos e
blocos. Já nas margens do Córrego do Arrieiro outras residências que estavam às
suas margens foram levadas pela enchente. Os poucos edifícios que sobraram
estão fixados na suave encosta conectada ao estreito fundo de vale, na margem
esquerda do canal fluvial, enquanto outras edificações estão instaladas no sopé da
encosta conectada ao fundo de vale da margem direita (Figura 34).

Figura 33: Visão das residências da margem direita do Córrego do Arrieiro, onde há residências no
sopé da encosta, evidenciando a localização em uma cota mais alta em relação ao fundo de vale do
canal fluvial. Elaborado por CINELLI, 2015.

69
A

Figura 34: (A) Visão da cabeceira do tributário do Córrego do Arrieiro, na Zona C3. Abaixo do
afloramento é possível identificar uma área de depósito de blocos de diversos tamanhos (em
amarelo). (B) Vale encaixado do tributário ao centro, bastante alterado pelo uso e ocupação do solo.
À direita, a rua de acesso às casas. A seta amarela indica a direção do fluxo da drenagem. (C)
Verificam-se as casas próximo à cabeceira do tributário, onde se localizam os blocos. Elaborado por
CINELLI, 2015.
70
5.DIRETRIZES PARA PLANEJAMENTO PAISAGÍSTICO NAS
FAIXAS MARGINAIS DA BACIA DO CÓRREGO DO
ARRIEIRO

5.1. ALGUMAS PONDERAÇÕES PARA A PROPOSTA – A VIVÊNCIA DOS


MORADORES

Cada morador da bacia do Córrego do Arrieiro passou por experiências


únicas no seu período de permanência na localidade Fazenda Alpina. Uns
vivenciaram ali o desastre de 2011, outros só se estabeleceram no local após este
evento. De todo modo, os relatos de quem vive próximo às linhas de drenagem da
localidade foram considerados importantes para conhecer as impressões e vivências
e ajudar a formular diretrizes que valorizem o espaço de convivências e o dia-a-dia
dos moradores.

Das dez entrevistas realizadas na localidade Fazenda Alpina, cinco foram


feitas com moradores do condomínio Retiro da Serra, situado às margens de uma
drenagem tributária do Córrego do Arrieiro, próximo à escola (Figuras 35 e 36).
Dentro do condomínio prevaleceu a situação de permanência temporária, com
apenas um morador que vive há mais de 30 anos na região. Os demais frequentam
ou vivem no local há pouco tempo, entre 2 a 5 anos.

Os entrevistados destacaram que mais os atrai no local é a natureza, o


ambiente tranquilo e as pessoas do lugar. Por isso, preferem ficar o maior tempo
possível dentro do condomínio, onde havia uma grande represa que foi rompida e
assoreada pelos materiais provenientes dos deslizamentos provocados pelas
chuvas de 2011. A represa era frequentada por aves e possuía pedalinhos,
utilizados pelos condôminos.

Os entrevistados reclamaram do descaso da administração pública com


relação aos serviços e infraestrutura básica, da distância de algum comércio e da
falta da preservação da natureza, mesmo com a proximidade do PNMMT, que é
apontado como não tendo “nada de atrativo”. Alguns incentivam a mobilização da
comunidade para melhoria dos serviços públicos e também incentivam a
organização de feiras orgânicas. Há relatos de colherem frutas do pomar de casa.

71
Figura 35: Mapa de localização do Condomínio Retiro da Serra. Elaborado por CINELLI, 2015.

Figura 36: Vista para o condomínio. No centro o reservatório destruído pelo evento climático de
janeiro de 2011. No primeiro plano e no fundo observam-se as casas do condomínio. Em amarelo, o
limite aproximado das antigas margens. Fonte: Google Earth, 2016.

72
Figura 37: Mapa de localização das entrevistas realizadas na bacia do Córrego do Arrieiro. Elaborado
por CINELLI, 2015.

Figura 38: Vista para as residências de moradores entrevistados, ao fundo. No primeiro plano, o
prédio de uma associação de produtores rurais às margens do Córrego do Arrieiro. Elaborado por
CINELLI, 2015.

73
A maioria dos moradores não presenciou o desastre de 2011, mas teve suas
vidas impactadas pela sensibilização com aqueles que perderam entes queridos e
pelos danos causados à localidade. Todos afirmam não possuir medo das chuvas.

Já a maior parte dos entrevistados fora do condomínio, que ocupam áreas


próximas ao Córrego do Arrieiro, vive há mais de 30 anos na região (Figuras 37 e
38). Apontam ter vivenciado a ocorrência de alagamentos ao longo do córrego, mais
precisamente no seu baixo curso, próximo à escola, à sede do PNMMT e à
confluência com o córrego vizinho (Santana). Estas ocorrências não foram
associadas a eventos extremos, como o ocorrido em janeiro de 2011.

Estes moradores afirmam gostar do local pelo sossego e pelas amizades, e


também gostar das suas próprias casas, motivos pelos quais não trocariam este
lugar pela cidade. Alguns cultivam gêneros agrícolas para subsistência e para
comercialização, fazendo parte da Associação dos Pequenos Produtores Rurais de
Santa Rita. Grande parte dos cultivos, no entanto, está localizada na bacia
hidrográfica vizinha (do Córrego Santana), havendo poucas áreas cultivadas na
bacia do Córrego do Arrieiro.

Os entrevistados utilizam a água de nascentes ou minas para uso doméstico,


e buscam o córrego para outros usos. Muitos reclamaram da seca nos últimos anos
(2014-2015) e da cor ferruginosa da água, mas a beberiam se necessário. Não
jogam seus dejetos e esgotos no córrego, usando sistema de fossa-sumidouro.

Os moradores afirmam que, antes da tragédia, o rio era usado como local de
lazer. Relatam a perda de amigos e familiares afogados e atingidos por raios durante
desastre, e terem presenciado nas fortes, horríveis, pois nunca tinham visto um
evento daquele tipo. As casas dos entrevistados sofreram algumas avarias, mas
eles não precisaram sair das mesmas. Já o córrego, segundo eles, sofreu
importantes modificações na largura e profundidade do canal com o evento, tendo
ainda passado por intervenções nas calhas (dragagem do leito, principalmente) para
remoção dos materiais depositados pelas corridas e enchentes de 2011.

Os moradores apontaram ainda o desejo de retomar os cultivos, mas


destacaram vários problemas para esta retomada, tais como: a situação de restrição
atual, em virtude das consequências do próprio desastre (soterramento de pessoas
e materiais diversos); a falta de logística para o escoamento da produção, incluindo
74
a precariedade de muitas pontes; e ainda a situação vivenciada no local de evasão
dos jovens, que têm saído para trabalhar no centro de Teresópolis ou em outras
cidades da região.

O quadro apresentado evidencia a relação dos moradores da bacia com o


Córrego do Arrieiro. Os residentes fixos demonstram ter preocupação com os
recursos hídricos, com a qualidade da água do córrego e a escassez de água para
abastecimento humano. Mesmo tendo vivenciado a situação extremamente
dramática de 2011, os moradores entrevistados indicaram que o córrego tem um
significado positivo importante nas suas vidas.

Deste modo, torna-se imprescindível considerar estes aspectos relatados


pelos moradores ao se determinar as diretrizes para planejamento. Usos recreativos,
somados à preservação das qualidades físico-químicas e visuais dos corpos
hídricos, são funções que orientam as diretrizes paisagísticas voltadas para a
preservação ou recuperação do sistema fluvial.

A vivência e o conhecimento das características do funcionamento da rede de


drenagem por parte dos moradores do condomínio e do entorno do Córrego do
Arrieiro apresentam diferenciações importantes, mas todos os entrevistados
afirmaram desconhecer a dinâmica de eventos com a magnitude daquele ocorrido
em janeiro de 2011.

Reforçar o sentido de preservar as faixas marginais da rede de drenagem,


permitindo adequados usos sociais que não prejudiquem a dinâmica geobiofísica e
os assentamentos humanos, constitui, assim, a função primordial dos Espaços
Livres neste trabalho. Certamente a população ribeirinha ao Córrego do Arrieiro será
beneficiada pelo planejamento das áreas marginais, dentro de uma perspectiva de
valorização das suas vivências.

5.2. DELIMITAÇÃO DOS SETORES DE INTERVENÇÃO E SUAS DIRETRIZES

A partir das análises realizadas anteriormente, fez-se necessária a definição


de classes de planejamento, incorporando características específicas das diferentes
zonas – ou compartimentos geoambientais – identificados na bacia, associando sua
dinâmica, o contexto geomorfológico da bacia e as vivências dos moradores. Para

75
estas classes, adotou-se a nomenclatura de Restauração, Reabilitação e
Redefinição, conforme exposto em Rodrigues e Gandolfi (2000) e apresentada na
base teórica, propondo-se a classificação a seguir (Tabela 3, Figura 39):

Tabela 3: Setores de intervenção propostos para a bacia do Córrego do Arrieiro, e suas funções.

CLASSE FUNÇÃO
Área específica para restauração “Sensu Lato” total das funções
ecológicas florestais.
Recomposição completa da mata ribeirinha com espécies nativas
do domínio, com características típicas desse geossistema.
Proteção do solo contra erosão e movimentos gravitacionais de
massa (em encostas).

Setor de Proteção contra inundação das edificações dos moradores.


Restauração
Melhoria na qualidade da água.

Corredores de deslocamento da fauna terrestre.

APP totalmente permeável.

Formação de microclima.

Área para reabilitação de áreas degradadas.

Área específica para desenvolvimento de agricultura familiar


agroecológica, inclusive consorciada à mata nativa.

Setor de Produção agrícola de subsistência ou comercial.


Reabilitação
Preservar ou recuperar funções ecológicas do solo com espécies
nativas e boas práticas agrícolas.

APP totalmente permeável.

Entrada de suprimento orgânico.

Setor para a redestinação de área degradada.

Área propensa ao uso recreativo, uso completamente agrícola


Setor de agroecológica ou uso predial.
Redefinição
APP parcialmente permeável, conforme o tipo de solo, topografia
e o fluxo hídrico subsuperficial.

Revegetação da área com espécies nativas ou exóticas.

76
Mapa dos Setores de Intervenções
704000 ,000000
704500 ,000000
705000 ,000000
705500 ,000000
706000,000000 706500,000000 707000,000000 707500,000000 708000,000000 708500,000000 709000,000000 709500,000000 710000,000000

±
7530500,000000

7530500,000000
Legenda

FMP
7530000,000000

7530000,000000
Zona C3 Limite das Zonas

Reabilitação
Redefinição
7529500,000000

7529500,000000
Restauração
7529000,000000

7529000,000000
7528500,000000

7528500,000000
Zona C1
7528000,000000

7528000,000000
Zona C2
7527500,000000

7527500,000000
7527000,000000

7527000,000000
Zona B
7526500,000000

7526500,000000
1:20.000
0,5 0,25 0 0,5 Km
7526000,000000

7526000,000000
Sistema de Referência: SIRGAS 2000
Sistema de Projeção: UTM 23S
Zona A Data: 09/2015

704000,000000 704500,000000 705000,000000 705500,000000 706000,000000 706500,000000 707000,000000 707500,000000 708000,000000 708500,000000 709000,000000 709500,000000 710000,000000
Figura 39: Mapa dos Setores de Intervenções, localizados em suas respectivas zonas geoambientais.
Elaborado por CINELLI, 2015.

A delimitação dos setores indica para quais funções eles devem servir. Eles
terão tipologias que preservem as funções geobiofísicas, consorciadas com
potenciais usos pela comunidade da Fazenda Alpina.

O Setor de Restauração é a área que tem a função de manter e recuperar


integralmente a mata ribeirinha ao longo das linhas de drenagem e de áreas
degradadas, conforme a topografia, o uso e ocupação do solo e a existência de
mosaicos de mata nativa dentro e fora do PNMMT. Considera-se aqui o conceito de
Restauração “sensu lato”, onde há a ideia de que não retorna à condição original do
ecossistema, mas a algum “estado estável alternativo” (RODRIGUES & GANDOLFI,
2000), devido tanto às mudanças na cobertura e uso do solo ocorridas durante o
processo regional e local de ocupação, como às significativas alterações
morfológicas documentadas nos canais.

Figura 40: Vista de uma área com vegetação pertecente ao Setor de Restauração, às margens do
médio curso do Córrego do Arrieiro. Elaborado por CINELLI, 2015.

O Setor de Reabilitação também é responsável por manter e recuperar a


mata ribeirinha e outras áreas degradadas (e a dinâmica geomorfológica do canal
fluvial), dando-lhe um uso social e econômico, desde que respeitados os parâmetros
78
de proteção do solo, conservação da biota e o uso de espécies nativas. Isto permite,
por exemplo, alguns tipos de uso agroflorestal ou agroecológico.

Figura 41: Vista de uma área com pastagem pertecente ao Setor de Reabilitação, no baixo curso do
Córrego do Arrieiro. Elaborado por CINELLI, 2015.

O Setor de Redefinição (ou Redestinação) tem a função de manter ou criar


novos usos sociais, incluindo os recreativos, estabelecendo novas relações
ambientais no setor. Podem ser áreas específicas para a agricultura, silvicultura
exótica, lazer e recreação, criação de animais, entre outras, que modifiquem por
completo a tipologia de uso e ocupação antes da degradação.

Em zonas ripárias, conforme apresentam Rodrigues & Gandolfi (2000), a


Redestinação de matas ribeirinhas ocorre comumente em duas situações:

 Quando faltam áreas disponíveis para a continuidade da exploração


econômica em pequenas propriedades;
 Quando se utiliza do sistema agroflorestal como estratégia para implantação
ou manutenção da restauração florestal, alternando-se espécies exóticas e
nativas que funcionam como uma faixa tampão para possíveis impactos na
APP.

79
Figura 42: Vista de uma área com edificações pertecente ao Setor de Redefinição, no baixo curso do
Córrego do Arrieiro. Elaborado por CINELLI, 2015.

Os setores de intervenção apresentados na Tabela 3 foram criados segundo


o critério de distinção entre áreas para proteção ou recuperação total da vegetação
nativa, e áreas para redefinição e recuperação parcial da vegetação nativa. A
setorização foi definida com o intuito de elaborar uma proposta para a melhoria da
qualidade dos recursos hídricos e a proteção das margens dos canais e da zona
ripária contra o uso inadequado da terra, bem como para a aplicação dos aspectos
jurídicos ambientais envolvidos. Também se levou em conta possíveis realocações
de edificações dentro da FMP para além dos seus limites, redirecionando estas
áreas para sistemas agrícolas florestais tomados como modelo de uso econômico e
social das APP’s.

Ao associar os compartimentos geoambientais da bacia hidrográfica, tendo a


linha de drenagem como o principal vetor de escoamento dos fluxos superficiais e da
dinâmica ecológica potencializada pela mata ribeirinha, aos aspectos sociais
observados no uso e ocupação do solo na bacia, obtém-se uma estrutura
paisagística ativa pela qual é possível projetar cenários futuros de transformações
na paisagem. Estes cenários podem indicar potenciais situações onde a qualidade
ambiental da zona ripária seja prejudicada pelo uso da terra, além de cenários
ligados a eventos climáticos extremos, como os de 2011.

80
Nesta configuração, propor diretrizes que ensejem a manutenção, a
recuperação ou o uso adequado das faixas marginais das linhas de drenagem, faz-
se necessário e importante. Entretanto, os canais fluviais não são estanques,
relacionando-se com as áreas adjacentes – fundos de vale e encostas – visto que
constituem um sistema aberto, sendo por isso ampliada a discussão das diretrizes
propostas buscando considerar a bacia hidrográfica.

A seguir, apresenta-se as recomendações gerais para o planejamento de


cada zona, indicadas seguindo as classes e funções expostas na Tabela 3, que
podem ser visualizadas na Figura 39. Este planejamento utiliza o arcabouço
conceitual dos Sistemas de Espaços Livres, discutido anteriormente.

5.2.1. ZONA A

Na Zona A, indicado na Figura 35, o confinamento do vale e as características


das calhas fluviais, marcadas pelos eventos de alta magnitude com grande
capacidade de remoção e transporte de detritos, indicam necessidade de sua
proteção integral.

Figura 43: Mapa dos Setores de Intervenções, localizados na Zona A.

81
A maior parcela da área desta zona está inserida no PNMMT e, portanto, já é
protegida pela lei. As outras áreas fora dos limites do PNMMT devem ser
incorporadas em uma proposta de manutenção dos sistemas ecológicos e da
dinâmica dos processos geobiofísicos.
A FMP não é demarcada por estar integralmente preservada na UCPI, porém,
as áreas que não possuem mata ripária devem ser recompostas totalmente com
vegetação nativa. Devem ser considerados os diferentes estágios sucessionais das
áreas florestadas, para a definição de estratégias específicas de recomposição
florestal. Do mesmo modo, deve-se avaliar os diferentes tipos de vegetação
associadas aos solos rasos desenvolvidos sobre o substrato rochoso, para a
recuperação e melhoria das áreas degradadas.

5.2.2. ZONA B

Figura 44: Mapa dos Setores de Intervenções, localizados na Zona B.

Nesta zona, indicada na Figura 39, os processos geomórficos ativos são


similares aos da Zona A. Deste modo, recomenda-se a Restauração florestal para
as áreas situadas dentro dos limites do PNMMT e na FMP, e que todas as áreas
antropizadas sejam recuperadas integralmente com recomposição florestal. Nos

82
canais fluviais, e especificamente no Córrego do Arrieiro, a possibilidade de
movimentação de blocos rochosos e outros materiais durante eventos de magnitude
elevada tornam vulneráveis as edificações instaladas nas suas margens.

Nas áreas de degraus escarpados, elevados e serras reafeiçoadas, e morros


com vales encaixados indicam-se a Restauração e a Reabilitação. Nestas áreas, é
importante recomendar a recomposição da mata nativa e a preservação florestal.
Áreas antropizadas podem ser reabilitadas com uso agrícola, agroflorestal e
recomposição da mata nativa.

Em áreas edificadas indica-se a Redefinição. As áreas em que há edificações


próximas às linhas de drenagem - que estão concentradas na porção central da
Zona B - devem ter infraestrutura básica e área de convívio e lazer, desde que não
se incluam nas situações citadas anteriormente.

5.2.3. ZONA C

Toda a Zona C representa o baixo curso do córrego. A seguir, define-se a


subdivisão das Zonas C1, C2 e C3 e a delimitação dos setores de intervenção,
conforme observado na Figura 39.

Na Zona C1, a recomposição da mata ribeirinha é importante pois se trata de


uma área de transição, passando-se de ambientes de retenção de detritos de
grande calibre (blocos, matacões, etc) para ambientes de deposição de sedimentos
arenosos, com possibilidade de espraiamento das águas nos vales abertos, em
eventos extremos que fazem os fluxos ultrapassarem as calhas fluviais, e
consequentemente de deposição de materiais finos também, nas planícies de
inundação.

Nos fundos de vale indica-se a Reabilitação, tendo em vista constituírem


áreas planas, de acúmulo das águas, podendo ser recomendado o uso agrícola,
agroflorestal e a criação de animais. Nas áreas de degraus escarpados, elevados e
serras reafeiçoadas, morros com vales encaixados, e colinas suaves, indica-se a
Restauração e a Reabilitação, recomendando-se a recomposição da mata nativa.
Áreas antropizadas podem ser reabilitadas com uso agrícola, agroflorestal e
recomposição da mata nativa.
83
A Redefinição é indicada para as áreas edificadas, mesmo com poucas
edificações (dispersas nesta zona) situadas próximas às linhas de drenagem, desde
que não se incluam nas áreas citadas anteriormente, pois estas devem ter
infraestrutura básica.

Figura 45: Mapa dos Setores de Intervenções, localizados na Zona C1.

Na Zona C2 é indicada a Restauração e Redefinição nas FMP. Esta zona


possui maior quantidade de aglomerados de edificações em relação às outras,
havendo setores das FMP’s com restauração e outros com redefinição de usos. No
Córrego do Arrieiro há diversos usos das faixas marginais, onde devem ser
considerados aspectos sociais importantes, como os de recreação, a circulação
(vias) e as atividades econômicas locais, como o comércio. Em outros corpos
hídricos, como aquele situado dentro do condomínio Retiro da Serra, também devem
ser considerados estes aspectos.

Nos fundos de vale desta zona, indica-se a Reabilitação e Redefinição,


considerando-se as características morfológicas locais. O estreitamento do fundo de
vale favorece a concentração das águas, assim, recomenda-se a definição de
setores para uso agrícola, agroflorestal e de criação de animais, e outros setores
para redefinição, priorizando-se as áreas de recreação.
84
Em degraus escarpados, elevados e serras reafeiçoadas, morros com vales
encaixados, indica-se a Restauração e a Reabilitação. Nestas áreas recomenda-se
a recomposição da mata nativa. Áreas antropizadas podem ser reabilitadas com uso
agrícola, agroflorestal e recomposição da mata nativa.
A Redefinição nas áreas edificadas aplica-se, por exemplo, às áreas do
condomínio próximas às linhas de drenagem, desde que não inclusas nas áreas
citadas anteriormente, com manutenção de espaços livres de edificação,
infraestrutura básica e áreas de convívio e lazer. Recomenda-se o mesmo para as
outras áreas edificadas, com ênfase na melhoria na infraestrutura.

Figura 46: Mapa dos Setores de Intervenções, localizados na Zona C2.

Na Zona C3, o vale estreito, a dinâmica geomorfológica e os usos antrópicos


indicam a existência de setores propensos à Reabilitação, com produção agrícola e
agroflorestal, e de outros à Redefinição, onde as edificações possam permanecer
em patamares mais altos e encostas suaves. A FMP ocupa praticamente todo o
fundo de vale e parte da base das encostas, geralmente com declividades mais
suaves, logo, as estruturas inseridas devem permitir a passagem dos fluxos intensos
de água e a permeabilidade do solo, e o uso como áreas de recreação.

Em degraus escarpados, elevados e serras reafeiçoadas, morros com vales


encaixados, e colinas suaves, indica-se a Restauração e Reabilitação, conforme
85
recomendações efetuadas para a s Zonas C1 e C2. Na Zona C3 há algumas áreas
edificadas suscetíveis à queda de blocos, nestes compartimentos, que necessitam
de avaliação de risco específica.

Há uma concentração de edificações nesta zona. Recomenda-se que


algumas áreas sejam definidas como setores para ocupação residencial e/ou
comercial, e outras como setores protegidos devido à vulnerabilidade aos processos
da dinâmica hidrogeomorfológica.

A Faixa Marginal de Proteção foi delimitada a partir das informações obtidas


nos levantamentos de campo sobre a seção transversal do canal, considerando-se
as variações de larguras verificadas nas seções transversais dos diferentes trechos
analisados.

Deste modo, foram consideradas as seções S2, S3 e S4 para definir a largura


de referência do canal, utilizada para definir a largura das faixas pela lei federal, que
indica 30 m de largura para cada margem do rio a partir da linha limite da seção de
referência, uma vez que as seções não ultrapassam 10 m de largura. Em trechos
onde o canal fluvial se abre – como em alguns trechos da Zonas A, B e C1 –,
amplia-se a seção de referência momentaneamente.

Figura 47: Mapa dos Setores de Intervenções, localizados na Zona C3.

86
5.3. USO DAS DIRETRIZES NO PROJETO PAISAGÍSTICO EM ESCALA LOCAL

Em cada Zona, a FMP pode possuir uma configuração de uso diferenciado,


de acordo com as possibilidades de intervenção. A Tabela 4 apresenta as sugestões
de projeto em corte nas FMPs de cada Zona, as quais podem ser chamadas de
seções típicas de projeto.

As Figuras 48 e 49 apresentam os projetos em planta baixa de exemplos de


intervenções em Setores de Redefinição, que respondem a algumas demandas
encontradas na análise das entrevistas. A Figura 48 constitui uma área na Zona C2
no campo de futebol em frente à escola, com suas demandas específicas, enquanto
a Figura 49 mostra uma área na Zona C3 que propicia o reflorestamento com
produção agroecológica ou agroflorestal.

A vegetação que será incorporada nos exemplos citados acima e relacionada


na Tabela 5, poderá se basear nos estudos e aplicações de métodos de
reflorestamento citados por Barbosa (2000), para repovoar adequadamente a zona
ribeirinha. Dentre várias análises, sugere considerar: as condições locais, tais como
áreas sujeitas a alagamento; a função que a espécie irá exercer no reflorestamento;
e as características das espécies, que irão auxiliar na determinação do grupo
ecológico a qual pertencem e nas suas indicações na composição de modelos de
sucessão florestal, para uso em diferentes situações.

Em suas pesquisas, Barbosa utilizou uma relação de espécies para estudar


suas características e seus comportamentos dentro de uma estrutura baseada na
classificação sucessional, com avaliações após 12 e 18 meses de observações e
análises de dados, para Santa Cruz das Palmeiras / SP. A sua conclusão é que
algumas espécies apresentaram rápido crescimento em altura e copa,
proporcionando sombra vasta para outras espécies se fixarem, confirmando seu
potencial para esta função (ex.: Croton floribundus). Outra, considerada como
sombreadora, em 18 meses ainda possuíam ramos esparsos, não tendo nesta fase
uma copa propriamente (ex.: Enterolobium contortisiliquum). Outra cresce rápido,
mas não possui grande área de copa (ex.: Jacaranda mimosaefolia). Há também
outra que tem crescimento moderado e grande área de copa, mas por ter porte ar-

87
Tabela 4: Seções Típicas de Projeto. Diretrizes para as FMPs nas cinco zonas.
SITUAÇÃO COM PROJETO
SITUAÇÃO ATUAL
DIRETRIZES PARA AS FMPs

88
bustivo nesta fase é indicada como espécie colonizadora (ex. Schinus
terebinthifolius).

Tabela 5: Lista de espécies propostas e avaliadas após 12 e 18 meses de observações e análises


dos dados quanto ao comportamento das espécies em Santa Cruz das Palmeiras / SP.
Fonte: BARBOSA, 2000.

No entanto, para este trabalho, a metodologia de composição vegetal adotada


para o projeto paisagístico é a de porte: arbóreo (acima de 3 m), arvoreta (entre 1,2
m – 3,0 m), arbustivo (0,3 m – 1,2 m) e forrageira (até 0,3 m). A inserção das
espécies deve ser acompanhada por um profissional especialista da área florestal,
para que se faça o plantio e a composição das espécies mais adequadas ao
ambiente local.
91
6.CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo objetivou a proposição de diretrizes para orientar o uso do


solo nas áreas próximas aos corpos hídricos da bacia hidrográfica do Córrego do
Arrieiro, que constitui uma das cabeceiras de drenagem do Ribeirão Santa Rita, no
2º Distrito de Teresópolis. Esta bacia foi atingida pelos eventos catastróficos
ocorridos em janeiro de 2011 na Região Serrana do Rio de Janeiro, sendo
representativa, portanto, de situações de drásticas modificações nos canais fluviais e
seu entorno devido à atuação de processos de remoção, transporte e deposição em
bacias hidrográficas montanhosas.

Buscou-se analisar especificamente o coletor principal da bacia do Córrego


do Arrieiro, na localidade conhecida como Fazenda Alpina, sendo as diretrizes
propostas tendo como base a proteção das funções geobiofísicas do sistema fluvial,
bem como a sua incorporação no cotidiano e nas vivências de seus moradores.

O arcabouço conceitual utilizado permitiu identificar, principalmente através


da análise das características morfológicas na escala de canal, vale e bacia
hidrográfica, a dinâmica dos processos atuantes nas zonas ripárias. Com base no
método de planejamento para os espaços livres de edificações essa análise foi
utilizada como proposta para definir diretrizes para um planejamento paisagístico
das linhas de drenagem da bacia do Córrego do Arrieiro. Foram estabelecidos, para
cada um dos compartimentos geoambientais reconhecidos, diretrizes e
recomendações para os Setores de Restauração, Reabilitação e Redefinição nas
Faixas Marginais de Proteção, bem como para as suas áreas de contribuição.

Para realizar os planos e projetos em Arquitetura Paisagística, conforme a


especificidade de cada caso, as diretrizes aqui apresentadas podem ser utilizadas
para a implantação de parques lineares, parques fluviais, corredores ecológicos,
entre outros instrumentos de planejamento e ordenamento territorial, com a
finalidade de preservar ou recuperar recursos ambientais importantes em linhas de
drenagem ou em APP de corpos hídricos e suas áreas adjacentes.

No contexto da pesquisa, evidenciam uma abordagem que pode ser aplicada


para orientar a recuperação/reabilitação de áreas que sofreram com desastres
naturais e sociais como os vivenciados na Região Serrana, e também para
92
recuperar APPs de corpos hídricos inseridos ou próximos ao Parque Natural
Municipal Montanhas de Teresópolis, que ainda não possui plano de manejo.

Esta abordagem também pode orientar a realização de estudos específicos


dos fatores e processos de degradação e de estratégias de restauração de florestas
nas zonas ripárias, neste e em outros contextos de cabeceiras de bacias
hidrográficas rurais e periurbanas situadas na Serra dos Órgãos e nos
compartimentos geomorfológicos adjacentes.

93
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97
APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO

98
QUESTIONÁRIO DE CAMPO - ABRIL DE 2015
A entrevista deverá ser feita com câmera ou aparelho de áudio.

Roteiro
 Há quanto tempo vive aqui?
 Sua casa fica distante de algum rio?
 Como era o rio próximo à sua casa? Era limpa, tinha peixes, entrava na água para se
banhar ou fazer suas necessidades, entre outras coisas? A quanto tempo foi isto?
 Na sua opinião, como o rio está hoje (sujo, limpo, feio, sem vegetação, é problema,
etc.)?
 Você já viu alguma inundação neste local? Quando (enfatizar antes ou depois de
2011)?
o Como aconteceu isso antes de 2011?
o Como aconteceu isso em 2011?
o Como aconteceu isso após 2011?
 Estes fatos só acontecem quando chove muito, quando chove normalmente ou
acontece sem chover? (Os fatos são aqueles ligados a desbarrancamento das margens
dos rios, acumulação de material dentro e fora do canal, etc.)
 Você considera isto perigoso para sua casa e sua família?

99
APÊNDICE B – MAPA DE USO E COBERTURA DA TERRA

100
Mapa de Uso e Cobertura da Terra
Bacia das cabeceiras de drenagem do Córrego do Arreeiro - Teresópolis (RJ)
704000 706000 708000 710000
,000000 ,000000 ,000000 ,000000

± Legenda
Vias
Hidrografia
Edificacões e construcões dispersas

Reservatorios
,000000

,000000
7530000

7530000
Areas de plantio de eucalipto
Agricultura
Afloramento Rochoso
Brejo
Floresta
Graminieas
Solo Exposto

Bacia Arreeiro
,000000

,000000
Parque Natural Municipal
7528000

7528000
Montanhas de Teresópolis - PNMMT

1:25.000
,000000

,000000
1 0,5 0 1 Km
7526000

7526000
Sistema de Referência: SIRGAS 2000
Sistema de Projeção: UTM 23S

Fonte: IBGE 2010


INEA 2005
INEA 2011
704000 706000 708000 710000
,000000 ,000000 ,000000 ,000000
ANEXO A – MAPA GEOLÓGICO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO
PAQUEQUER

102
103
ANEXO B – MAPA GEOMORFOLÓGICO DA BACIA

104
105

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