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Equipe Técnica Meio Físico

Ana Mônica Correia, MSc.


Geógrafa
Adauto Gomes Barbosa
Coordenação Geral Geógrafo
Ivan Dornelas, MSc. Antônio Vicente Ferreira Júnior
Engº. Cartógrafo Geógrafo
Bruno Ferreira
Coordenação Técnica Geógrafo

Maria do Carmo Martins Sobral, Drª Doris Regina Alves Veleda


Engª Civil Meteorologista
Fabíola de Souza Gomes
Apoio a Coordenação Técnica Engª Civil

Rita de Cássia Barreto Figueiredo Glauber Matias de Souza


Engª Química Geólogo

Gustavo Lira de Melo Márcia Cristina de Souza Matos Carneiro


Biólogo Engª Cartógrafa

Alessandra Maciel de Lima Barros Maria das Neves Gregório


Engª Civil Geógrafa
Maria das Vitórias do Nascimento, Msc
Engª Civil
Análise do Projeto
Romilson Ferreira da Silva
Ana Paula Batista Lemos Ferreira
Meteorologista
Engª. Civil
Simone Karine Silva da Paixão, Especª.
Engª Civil
Supervisão Geral E. Ambientais
Wanderson Dos Santos Sousa
Wbaneide Martins de Andrade, MSc.
Meteorologista
Bióloga/Botânica
Weronica Meira de Souza
Meteorologista
Supervisão Meio Físico
Simone Karine Silva da Paixão
Meio Biótico
Engª Civil
Alfredo Matos Moura Júnior, Dr.
Biólogo/Botânico
Supervisão Meio Biótico
Cristiane Maria V. A. de Castro, Drª.
Maristela Casé Costa Cunha, Drª
Bióloga/Oceanógrafa
Bióloga
Geraldo Jorge Barbosa de Moura, Dr.
Biólogo/Zoólogo
Supervisão do Meio Socioeconômico Hélida Karla Philippini da Silva
Lúcia de Fátima Soares Escorel Química
Arquiteta e Urbanista
Karine Matos Magalhães, Drª.
Bióloga/ Botânica
Análise Jurídica Marcondes Albuquerque de Oliveira, Drº
Talden Queiroz Farias, MSc. Biólogo
Advogado Maristela Casé Costa Cunha, Drª
Bióloga/Oceanógrafa
Mauro Melo Júnior Aramis Leite de Lima, MsC.
Biólogo Engº. Cartógrafo
Paula Braga Gomes Daniel Quintino Silva
Bióloga Tecnólogo em Geoprocessamento
Paulo Guilherme Vasconcelos de Oliveira Diego Quintino Silva
Engº de Pesca Tecnólogo em Geoprocessamento
Petrônio Alves Coelho Filho Felipe José Alves de Albuquerque
Biólogo Geógrafo
Flávio Porfírio Alves, MsC.
Meio Sócioeconômico Engº. Cartógrafo

Beatriz Mesquita Jardim Pedrosa


Engª de Pesca Apoio Técnico
Carlos Celestino Rios e Souza Anthony Epifânio Alves
Arqueólogo Biólogo/Macroinvertebrados bentônicos
George F. C. de Souza Cacilda Michele Cardoso Rocha
Historiador Biólogo/Avifauna
José Geraldo Pimentel Neto Elizardo Batista F. Lisboa
Geógrafo Biólogo/Herpetologia
Lúcia de Fátima Soares Escorel Ericarlos Neiva Lima
Arquiteta e Urbanista Engº. de Pesca/Ictiologia
Lúcia Maria Goés Moutinho Jana Ribeiro de Santana
Economista Engª. de Pesca/Ictiologia
Luís Henrique Romani Campos Josinaldo Alves da Silva
Economista Biólogo/Botânica
Marcos Antônio G. Matos de Albuquerque Milena Duarte de Oliveira Souza
Arqueólogo Arqueóloga
Maria Eleônora da Gama Guerra Curado Tatiana de Oliveira Calado
Arqueóloga Bióloga
Osmil Torres Galindo Filho
Economista Apoio Administrativo
Paulo Alves Silva Filho, Msc. Eva Luzia Nesso
Geógrafo Analista de Sistemas
Veleda Christina Lucena de Albuquerque Marlúcia Alves Rodrigues
Arqueóloga Pedagoga
Solange C. da Costa e Silva
Geoinformação Advogada
Daniel Quintino Silva Viviane Cabral Gomes
Tecnólogo em Geoprocessamento Administradora
Diego Quintino Silva Simone Rosa de Oliveira, MSc.
Tecnólogo em Geoprocessamento Bibliotecária

Cartografia Mobilização e Articulação Social


Ana Carolina Schuler, MSc. Cândida Maria Jucá Gonçalves
Engª. Cartógrafa Assistente Social

Ana Mônica Correia, MSc


Geógrafa
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ESTADO DE
PERNAMBUCO
Governador Instituto de Tecnologia de Pernambuco
Eduardo Henrique Accioly Campos (ITEP-OS)

Vice-Governador Diretor Presidente


João Soares Lyra Neto Frederico Cavalcanti Montenegro

Secretaria de Meio Ambiente e Diretor Técnico


Ivan Dornelas Falcone de Melo
Sustentabilidade – SEMAS
Sérgio Xavier
Diretora Administrativa Financeira
Fabiana Albuquerque de Freitas
Secretário Executivo de Meio Ambiente
e Sustentabilidade – SEMAS
Hélvio Polito Lopes Filho
Superintendente de Inovação
Tecnológica
Márcia Maria Pereira Lira
Superintendência Técnica de Meio
Ambiente e Sustentabilidade – SEMAS
Leslie Tavares
Coordenador da UGP Barragens
Ivan Dornelas Falcone de Melo

Gerente Geral de Planejamento e Gestão


de Meio Ambiente e Sustentabilidade –
SEMAS
Benedito Parente
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Apresentação
“Uma das experiências mais recifenses que o adventício pode ter no
Recife: um mar de água morna, um sol que em pouco tempo amorena
o corpo do europeu ou do brasileiro do Sul”

Gilberto Freyre,
Guia prático, histórico e sentimental da Cidade do Recife

O Recife e a sua Região Metropolitana nasceram a partir do mar.


A cidade costeira e mercantil é também portuária e turística. A sua
urbanização é forte na região costeira, a ocupação é disputada, densa,
vertical. O metro quadrado próximo à praia tem valorização constan-
te. A infraestrutura pública da orla é boa. As praias do Grande Recife
representam a mais democrática opção de lazer do pernambucano e
também o mais atraente cartão postal do Estado.

Essa história, semelhante à de outras capitais no litoral brasileiro, pos-


sui problemas específicos. A erosão costeira está entre os problemas
mais persistentes. Contra seus efeitos, algumas alternativas foram co-
locadas em prática, como os muros de proteção, diques, quebra-mares,
espigões, molhes e outras construções com a finalidade de manter o
recorte do litoral. A erosão continua e ignora a ação do homem.

Os estudos ambientais presentes neste relatório representam uma


resposta do Governo de Pernambuco, manifestada pela Secretaria de
Meio Ambiente e Sustentabilidade (SEMAS), ao contratar a Associação
Instituto de Tecnologia de Pernambuco – ITEP/OS. A missão dada foi a
de acompanhar e coordenar os estudos ambientais do Projeto de Recu-
peração da Orla Marítima dos Municípios de Jaboatão dos Guararapes,
do Recife, de Olinda e do Paulista.
É um projeto estruturador, uma iniciativa do Governo do Estado. Faz
parte da política pública de controle dos efeitos causados pelas mu-
danças climáticas. Recuperar a praia e sua areia tem repercussão
direta no desenvolvimento socioeconômico e ambiental de importantes
municípios litorâneos. Representa a criação de novas oportunidades
em um espaço democrático e público.

O presente Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) apresenta uma


síntese dos estudos desenvolvidos para obtenção de licenciamento
junto à Agência Ambiental de Pernambuco (CPRH). O RIMA relaciona
os principais resultados dos estudos realizados para os meios físico,
para os seres vivos e o ambiente socioeconômico, no que se refere
ao diagnóstico ambiental atual, os prováveis impactos e as formas de
mitigação e controle que poderão ser implantadas. O relatório contém
dados sobre o empreendimento e sobre os responsáveis envolvidos no
projeto de recuperação da orla e nos estudos ambientais.
159 INSTITUTO DE TECNOLOGIA DE PERNAMBUCO

Relatório de impacto ambiental-RIMA:

Recuperação da Orla Marítima – Municípios


de Jaboatão dos Guararapes, Recife, Olinda e
Paulista (Pernambuco)/ Instituto de Tecnologia
de Pernambuco. –Recife, 2012.

98p.: il.
ISBN:
Sumário

POR QUE ESSA OBRA? 14

A ÁREA DO EMPREENDIMENTO 18

QUAL A ÁREA DE INFLUÊNCIA DO EMPREENDIMENTO? 42

COMO É O MEIO FÍSICO NA ÁREA DO EMPREENDIMENTO? 46

COMO SE APRESENTA O MEIO BIÓTICO NA ÁREA

DOEMPREENDIMENTO? 76

QUAIS OS ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS DA ÁREA DO

EMPREENDIMENTO? 100

QUAIS SÃO OS IMPACTOS DO EMPREENDIMENTO? 110


EMPREENDEDOR O RESPONSÁVEL PELOS ESTUDOS AMBIENTAIS

Secretaria de Meio Ambiente Associação Instituto de Tecnologia

e Sustentabilidade – SEMAS de Pernambuco – ITEP OS

Responsável: Sérgio Luís de Carvalho Xavier Responsável: Frederico Cavalcanti Montenegro

CNPJ: 13.471.612/000-04 CNPJ : 05.774.391/0001-15

Avenida Marquês de Olinda, 222 Av. Professor Luiz Freire, 700

Bairro do Recife, Recife - PE, CEP - 50030– 000 Cidade Universitária – Recife/PE

Telefone: (081) 31835506 / 31835513 Telefone: (81) 3183-4399

http://www2.semas.pe.gov.br/web/sectma http://www.itep.br
1
14

Por que essa obra?


Pernambuco vive um momento de grande crescimento econômico. O
desenvolvimento é maior na região costeira, com a valorização urbana e
atração de novos empreendimentos residenciais turísticos, concentração
de empresariais, projetos comerciais e industriais. O litoral possui a maior
densidade demográfica do Estado, uma das maiores do Nordeste. A pre-
sença humana gera problemas ambientais e desequilíbrio.

A erosão costeira é uma reação da natureza à urbanização. Os processos


erosivos são evidentes ao longo da costa e variam apenas na intensidade.
Pedras com função de quebra-mar, diques, espigões, muros de proteção
e outras tentativas para conter a erosão foram construídas em busca da
solução de um problema local. Essas ações passaram a induzir a erosão
em áreas próximas e o problema atingiu regiões vizinhas.

O litoral de Jaboatão dos Guararapes, do Recife, de Olinda e do Paulista


foi atingida pela erosão marinha ou mesmo em consequência das estrutu-
ras de contenção instaladas. A erosão destruiu parte do potencial da orla
para o turismo e o lazer. Os dois setores representam a base de empre-
gos, geração de renda e riqueza de parte da população do Estado: afeta o
vendedor de picolé e a indústria alimentícia, o movimento do quiosque na
beira-mar e a ocupação do hotel de luxo, atinge o orçamento do motorista
de táxi e da agência de turismo.

A irregular faixa de areia das praias desses quatro municípios evidencia


a necessidade da implantação de projetos de engenharia, integrados de
forma regional. A partir de uma solução técnica que permita corrigir os
impactos ambientais, que atenda à legislação e às exigências dos órgãos
ambientais e que leve em consideração as fragilidades ambientais de cada
um dos setores, além das características de cada um dos municípios.

Com esse panorama, as prefeituras decretaram situação de emergência


15
em algumas áreas da orla. Essa decisão levou o governo de Pernambuco a realizar medidas para
reduzir esses impactos, com uma visão mais ampla do litoral e dos municípios envolvidos.

Esse projeto está limitado ao sul pela foz do rio Jaboatão e ao norte pela foz do rio Timbó, compre-
endendo os municípios de Jaboatão dos Guararapes, do Recife, de Olinda e do Paulista. São os
trechos definidos como Pontos Críticos de Erosão (MAI, 2009). A recuperação da orla marítima e
recomposição da areia das praias vão criar melhores condições para o desenvolvimento socioeco-
nômico e ambiental. Representam novas oportunidades, melhores condições e praias com quali-
dade.

Localização da área de estudo. Municípios de Jaboatão dos Guararapes, Recife, Olinda e


Paulista. Região Metropolitana de Recife (RMR).

Fonte: Coastal Planning & Engineering do Brasil


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Características dos municípios – situação atual das praias

EXTENSÃO DE ORLA PRAIAS FORMAÇÃO DE PRAIAS TIPOS DE OBRAS

JABOATÃO DOS GUARARAPES


7.961 m Piedade, Candeias, 58,9% Sedimentos Enrocamentos, Espigões,
Barra de Jangada 41,1% Obras Rígidas Muros

RECIFE

13.444 m Boa Viagem, Pina 44,6% Sedimentos Arrecifes


Brasília Teimosa 55,4% Obras Rígidas Enrocamentos

OLINDA
12.261 m Praia dos Milagres 34,4% Sedimentos Enrocamentos
Praia do Carmo 65,6% Obras Rígidas Espigões
São Francisco, Farol Muros
Bairro Novo , Casa Caiada
Rio Doce

PAULISTA
14.468 m Praia de Enseadinha 66,5% Sedimentos Enrocamentos
Janga, Pau Amarelo 33,5% Obras Rígidas Espigões
Nossa Senhora do Ó Muros
Conceição, Maria Farinha
17
2
18

A área do
empreendimento
A urbanização da zona costeira pernambucana com diferentes objetivos
e componentes culturais começa com a criação das primeiras vilas e
cidades. As primeiras ocupações eram de grupos com interesse na pesca
– praias e bordas das lagunas (AB’SABER, 1990).

É esse o contexto do espaço urbano no litoral em Jaboatão dos Guarara-


pes, no Recife, em Olinda e no Paulista resultante de relações sociais que
se manifestam desde o período colonial, reflexo na urbanização presente
nas cidades brasileiras.

A pesquisa de Carneiro (2003) constatou que, em um período de trinta


anos, considerando a série dos censos demográficos de 1970 até 2000, o
aumento da população é multiplicado por seis. Esse dado, até mesmo de
forma isolada, comprova o impacto ambiental.

A pesquisa de Carneiro (2003) comprova os momentos de transformação


estrutural na orla olindense. Foram mudanças sociais, políticas e econômi-
cas, que refletiram no adensamento urbano desse espaço do litoral.

Em outro estudo realizado em maio de 2003, Araújo et al. (2004) registra


uma caminhada nas praias do litoral pernambucano, nas duas horas antes
e nas duas horas depois da maré baixa. O estudo fez a identificação do
ponto, com demarcação georreferenciada (GPS GARMIM) relacionada à
ocupação urbana. A pesquisa também observa a presença, ou não, de
edificações próximas à praia.

A metodologia foi objetiva. Adotou trechos de praia e classificou em três


graus de ocupação: ausência de ocupação da pós-praia; ocupação da
pós-praia; e ocupação concomitante da pós-praia e da praia (estirâncio).
19
Compartimentação geomorfológica do ambiente praial

Fonte: Adaptada de Araújo et al. (2004)

O resultado do estudo de Araújo et al. (2004) demonstrou que o setor metropolitano é o mais for-
temente ocupado, seguido pelos setores Norte e Sul pernambucanos respectivamente, conforme a
tabela abaixo.

Setores do litoral pernambucano X extensão (km) e percentual do litoral


X percentual de ocupação por edificações e/ou obras de contenção
Setores Extensão (km) % do litoral Ausência de ocupação Ocupação na pós-praia (%) Ocupação associada da
na pós-praia (%) pós-praia e da praia (%)

Norte 58 31 79.1 5.6 5.3


Metropolitano 42 22.5 49.0 4.0 47
Sul 87 46.5 78.7 9.7 11.6
Total 187 100 72.1 7.13 20.63

Fonte: Adaptada de Araújo et al. (2004)

O setor metropolitano, de acordo com a pesquisa de Araújo et al. (2004), representa 22,5% do li-
toral pernambucano. Associado a esse indicador, metade do ambiente praial encontra-se ocupado.
Essa ocupação ganhou nova dinâmica na década de 1970. As casas de veraneio se transformaram
em residências. Em seguida, começa a substituição das casas por edifícios residenciais e hotéis.

Cinquenta por cento das praias da região metropolitana apresentam áreas construídas que se es-
tendem até o estirâncio. O elevado percentual de ocupação da praia, principalmente por
residências ou obras de contenção, ocorre maior impacto é facilmente verificado nessas
porque o setor possui as maiores aglomerações praias. São as obras de engenharia que alteram
urbanas do estado, em especial o Recife, Jabo- ou retêm a deriva de sedimentos arenosos,
atão dos Guararapes e Olinda. Os trechos mais fundamentais para a alimentação da areia das
críticos corresponderam às praias em Jaboatão praias.
e em Olinda. Elas possuem diversas obras de
contenção, como exemplo, os 38 diques com A urbanização no litoral dos quatro municípios
intervalos de 50m de Olinda e, em Jaboatão ocorreu sobre as dunas frontais, de forma de-
dos Guararapes, enrocamentos e outras cate- sordenada. A inadequação provoca e intensifi-
gorias de intervenção. ca a erosão costeira. Em seguida, a construção
de estruturas para mitigar os efeitos da erosão
Olinda apresentou a pior situação em termos agrava o problema. As obras de contenção
de ocupação do ambiente na praia. O litoral têm sido construídas com o intuito de proteger
é praticamente todo ocupado por grandes propriedades ameaçadas. Essas estruturas (em
obras públicas de contenção. As poucas praias especial os enrocamentos e muros de conten-
existentes ocorreram com a engorda de praia ção) são levantadas em frente da escarpa das
artificial (PEREIRA et al., 2003). dunas e se têm mostrado economicamente
inviáveis. Proprietários ou mesmo o poder
A ocupação observada próxima ao litoral em público gastaram recursos a tentar solucionar
Jaboatão dos Guararapes, no Recife, em Olinda os problemas da erosão costeira que afetam as
e no Paulista é semelhante a de outras cidades obras construídas em locais indevidos. A cons-
no mundo. A urbanização não deixou espaço trução dessas obras na pós-praia e na praia
para a praia, gerando prejuízos de toda ordem. altera a dinâmica sedimentar, compromete a
O principal são as construções que impedem o estética do local, interfere na visão cênica e no
suprimento de areia. seu valor econômico.

A infraestrutura urbana representada por ruas, Essa zona costeira precisa de ações corretivas
calçadas, residências em área sob a ação do e preventivas (como o estabelecimento de
mar são as intervenções mais comuns. Confor- limites para construção) para promover uma
me estudos como o de Carneiro (2003), Araújo ocupação mais adequada da orla. A ordenação
et al. (2004), Manso (2004) e MAI (2009), o desse espaço é uma prioridade e um desafio.
21
Histórico da ocupação da costa de Olinda:
primeiras décadas do século XX e depois de 1960 e 2010

Fonte: SEMAS, 2011.

Histórico da ocupação da costa em Jaboatão dos Guararapes

Fonte: SEMAS, 2011.


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Histórico da ocupação da costa do Paulista e variação da linha de costa


da praia do Janga.

Fonte: Patrícia de Oliveira, Hewerton da Silva, Neiva de Santana, Elisabeth Silva, Valdir Manso.

Histórico das obras e intervenção


de contenção do avanço do mar
Os primeiros registros de erosão costeira no o avanço do mar na praia dos Milagres. A praia
estado de Pernambuco são de 1914 (COUTI- perdeu 80 metros no período 1914 a 1950.
NHO, 1997). Eles tratam dos danos causados Desde esta época, os problemas de erosão vêm
pelo molhe localizado no istmo de Olinda. O sendo registrados em vários trechos do litoral,
molhe em construção, na primeira década do em especial em áreas urbanas onde foram
século XX, fazia parte das obras de ampliação implantadas obras costeiras de proteção (COU-
do Porto de Recife. As figuras abaixo mostram TINHO, 1997).
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Fotografia da praia dos Milagres, em 1950, onde ocorreu um avanço de
80 metros da linha de costa

Fonte: Cedida pelo Sr. José Maria, 1950

Fonte: Cedida pelo Sr. José Maria, 1950


24

Fotografias de ruína de antigas residências em Olinda: praia do Carmo e


praia dos Milagres (1960)

Fonte: Coutinho (1997)

Fonte: Coutinho (1997)


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Nos últimos vinte anos, diversas foram as obras lógicas provocadas por essas intervenções na
de contenção construídas nas praias dos qua- foz do rio Jaboatão, inclusive com significativa
tro municípios. Em Jaboatão dos Guararapes, redução de área na extremidade do pontal
instalaram-se estruturas do tipo guia corrente, do Paiva (Ilha do Amor, ao longo da margem
espigões, enrocamentos aderentes e muros, direita do rio). Os efeitos da erosão também
desde a margem esquerda do rio Jaboatão até são visíveis com as perdas de área de praia em
as praias de Piedade e Candeias. Nas figuras Candeias e Piedade (MAI, 2009).
a seguir, é mostrada as modificações morfo-

Foz do rio Jaboatão em 1989 (a) e (b) detalhe da área com obras
costeiras do tipo molhes e espigões ao longo da margem esquerda do
rio em 2004

Fonte: a - Laborel (1963); b - Google Earth e fotografias CPRH (2006)


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Trecho das praias de Candeias e Piedade em 1963 (a) e em 2004 (b)

No Recife, foram colocados pedras-rachão naturais, presentes até hoje. Na figura a seguir,
e sacos de areia em resposta a erosão que vê-se a fotografia aérea de 1974, que retrata o
destruiu parte do calçadão a praia de Boa Via- litoral da Praia de Boa Viagem, com a presen-
gem, em 1994. No ano seguinte, novo estudo ça de dunas frontais preservadas e vegetação
concluiu que a obra mais adequada à proteção (MAI, 2009).
do calçadão seria o revestimento de blocos

Fotografia aérea de 1974 da praia de Boa viagem, com o ambiente


praial preservado e a presença de dunas frontais e vegetação

Fonte: MAI (2009)


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A seguir, percebe-se a alteração que essa região sofreu com o processo de urbanização nos últi-
mos 36 anos. As fotografias em detalhe (a e b) mostram a descaracterização da praia em um

Fotografias de ruína de antigas residências em Olinda: praia do Carmo e


praia dos Milagres (1960)

Fonte: a - Fidem; b - Google Earth; fotografias de Tereza Araújo, 2004

As primeiras obras de contenção do mar em Ela provocou diversos danos às construções si-
Olinda ocorreram em 1950. As modificações tuadas entre as praias dos Milagres e do Farol.
para a ampliação do Porto do Recife (1909- Uma mudança notável foi a realocação do farol
1917) e da Base Naval do Recife são aponta- de Olinda, que funcionava à beira-mar.
das como uma das causas da erosão.

Fotografia de sobrevoo mostra a praia do Farol, Olinda

Nota: No detalhe, antiga posição do farol de Olinda, 1940. A seta em amarelo mostra a posição atual do
farol, construído no alto do morro do Serapião.
Fonte: CPRH; fotografia de Alexandre Berzin, acervo da Fundação Joaquim Nabuco
28

A ampliação do Porto do Recife e, em seguida, de ser ampliados. Na figura abaixo, de 1974,


a construção das obras de contenção em Olin- podem-se perceber recifes naturais submer-
da interferiram no balanço sedimentar costeiro sos, que serviram de suporte para o sistema
nessa orla, provocando a erosão costeira em de quebra-mares. As modificações podem ser
Paulista. Como forma de contenção da erosão, visualizadas na figura a seguir. Há formação de
criou-se um sistema de quebra-mares asso- saliências e reentrâncias na zona de sombra
ciados a espigões, que posteriormente tiveram dos quebra-mares (MAI, 2009).

Fotografia da zona costeira do município de Paulista em 1974 (a) e


em 2004 (b) depois da implantação do sistema de quebra-mares
29
Em resposta à erosão, as prefeituras dos mu- Essas intervenções representaram altos custos
nicípios decidiram por fixar a linha de costa. sem resultados satisfatórios. A erosão era trans-
Obras de contenção foram executadas ao longo ferida para praias ao lado.
do litoral, em geral de forma pontual e sem
maior conhecimento da dinâmica costeira. A
praia foi profundamente modificada e a beleza
cênica desvalorizada.

Recuperação da orla marítima e


seus resultados na contenção dos
processos erosivos
Em todo mundo, as zonas costeiras convivem • Alteração do transporte litorâneo – inter-
com problemas. Os mais comuns estão ligados rupção ou modificação da movimentação
ao recuo (erosão) ou avanço da linha de costa. de sedimentos ao longo da costa, sob
Normalmente, relacionados com a retirada ou a ação das ondas e correntes. Como a
deposição de sedimentos. Os problemas estão construção de um espigão perpendicular à
mais associados à erosão, pelo risco de danos praia e molhes de proteção portuária, entre
materiais. A erosão é de difícil controle. outras.
• Alterações nos padrões das correntes
De acordo com o estudo do MAI (2009), litorâneas. Por exemplo, a construção de
podem ser citadas entre as causas de erosão obras na pós-praia, na zona de arrebenta-
costeira: (a) ação dos agentes naturais que ção, causando alteração das correntes.
atuam ao longo da costa e (b) ações do homem • Remoção de sedimentos por dragagem.
ligadas à implantação de estruturas artificiais, • Lançamento do produto de dragagem de
seja para criar áreas (equipamentos de lazer e canais e de portos.
turismo, portos entre outras), seja para a tenta- • Modificação das características das on-
tiva de correção de problemas. das por efeito de refração e/ou difração
em estruturas. Interrupção do aporte de
Como exemplos dos problemas causados pela sedimentos por obras nos rios (barragens,
interferência de estruturas artificiais, podem ser fixação de margens e leito). (MAI, 2009, v.
citados: 2, p. 127).
30

Podemos citar como exemplos de alterações da A implantação de obras de proteção costeiras


linha de costa por meio de causas naturais: depende do tipo, do tamanho e da localização
das necessidades; da eficiência do método
• Alterações climáticas (efeito estufa, natu- utilizado; dos efeitos sobre as praias adjacentes
rais), gerando modificações no regime de e do impacto econômico resultante da obra
ventos, como agente diretamente transpor- costeira.
tador de sedimentos (transporte eólico) ou Busca-se eleger o tipo de proteção a ser
indiretamente, como gerador de ondas e definido, como muro de proteção, espigão e
responsável, juntamente com as correntes alimentação artificial, procurando suprir as
e ondas, pela dinâmica dos sedimentos. necessidades de acordo com a disponibilidade
econômica local. Aliado a essa premissa, é
• Ondas e correntes, como principais agen- necessária a realização de estudos ambientais,
tes de transporte na zona imersa. como o monitoramento dos diferentes parâme-
• Variação do nível de água, marés astronô- tros envolvidos no fenômeno, como a dinâmica
micas, ressacas (marés de tempestades), das ondas, dos ventos, dos níveis de água, as
alterações do nível médio do mar. alterações na movimentação e no abasteci-
• Alterações naturais no aporte sedimentar mento dos sedimentos, e as variações do perfil
dos rios. topobatimétrico de praia, como condicionan-
• Chuvas intensas. (MAI, 2009, v. 2, p. tes para um adequado manejo costeiro (MAI,
127). 2009).

As ondas geradas por ventos são as principais


agentes de alteração da linha de costa, aliadas
às variações do nível de água (maré, ressacas),
combinados com a falta ou o excesso de aporte
de sedimentos.
31
Principais métodos usados na
proteção costeira
Os principais métodos utilizados na prote- • Grupos de espigões – reduzem o transpor-
ção costeira buscam, no primeiro momento, te longitudinal e, consequentemente, o
prevenir ou eliminar os efeitos. É denominado recuo da linha de costa. Algumas vezes,
método direto. O outro método procura a cor- podem forçar a deposição de sedimentos e
reção do problema por meio de eliminação das a reconstituição da área erodida. Podem,
causas (MAI, 2009). entretanto, estar na origem (devido à redu-
ção do transporte sedimentar) da erosão de
De acordo com MAI (2009), são exemplos de praias a sotamar. Exigem monitoramento e
medidas indiretas: manutenção periódicos.

• Retomada dos aportes sólidos retidos em • Quebra-mar destacado – construído em pa-


barragens, ao sistema costeiro. ralelo à certa distância da linha de costa.
Protege a praia, alterando a capacidade
• Correção do transporte litorâneo por meio de transporte litorâneo, pela interceptação
de modificações definidas, adequadamen- das ondas, total ou parcialmente (quebra-
te, através de um estudo de monitora- mares com interrupções ou submersos).
mento – no projeto de espigões, molhes, Podem originar a formação de tômbolos
quebra-mares, muros novos ou existentes, (acréscimos na faixa de areia). Algumas
entre outros (MAI, 2009, v. 2, p 128) dessas estruturas têm efeitos a sotamar,
comparáveis aos dos espigões. Podem ser
Vale acrescentar os exemplos de medidas isolados ou em grupos. Exigem monitora-
diretas: mento e manutenção periódicos.

Alimentação artificial – utilizada na reposição • Quebra-mar em T – quebra-mar ligado


de material de áreas erodidas. Este método pa- à praia através de espigão. Tem efeito
rece, à primeira vista, economicamente dispen- comparável ao anterior, com maior impacto
dioso, além da necessidade de monitoramento sobre o transporte longitudinal de sedi-
e manutenção. Seu uso, no entanto, pode ser mentos, devido à existência do espigão.
vantajoso, por manter o aspecto de praia natu- Podem ser isolados ou em grupos. Exigem
ral, agradável ao lazer e à contemplação. monitoramento e manutenção periódicos.
32

• Muros longitudinais – podem ser verticais • Enrocamento aderente – tem finalidade e


ou com perfil adaptado (construídos em efeito semelhante ao muro, com a vanta-
concreto, gabiões, entre outros), cons- gem de apresentar menor coeficiente de
truídos próximos à linha de costa, com reflexão, reduzindo o efeito da erosão do
a finalidade de fixá-la. Neste método, a fundo. Exigem monitoramento e manuten-
erosão no perfil de praia se restringe à ção periódicos. (MAI, 2009, v. 2, p. 129).
erosão do fundo imediatamente à frente do
muro, podendo ainda causar problemas de No entanto, toda intervenção de proteção cos-
instabilidade da estrutura, redução da pós- teira, seja estrutural ou não, demanda cons-
praia e, finalmente, acarretar seu completo tante monitoramento e manutenção, de acordo
desaparecimento. São mais agressivos ao com o tipo. O monitoramento permite detectar
perfil praial, devido a um maior poder de as alterações ocorridas durante a vida útil
reflexão. Exigem monitoramento e manu- das intervenções e orienta com relação à boa
tenção periódicos. manutenção. A descrição e avaliação das obras
costeiras no Jaboatão dos Guararapes, no Reci-
fe, em Olinda e em Paulista estão relatadas no
diagnóstico do meio físico, Seção 8.8.
33
Resultados das obras costeiras
na contenção dos processos
erosivos
Dois fatores são condicionantes na análise da Com o plano de reduzir os problemas, foram
eficiência das intervenções em um dado trecho implantadas diferentes tipos de obras nas
de praia. São eles: (i) o tipo de obra adotado e praias dos quatro municípios para proteção de
(ii) a qualidade dos dados hidrossedimentológi- propriedades privadas e infraestrutura públi-
cos existentes. ca. Muitas dessas estruturas se apresentam
ineficientes quanto à proteção pretendida.
As praias em Jaboatão dos Guararapes, do (MAI,2009,v2).
Recife, de Olinda e do Paulista possuem uma
dinâmica diferenciada, que depende dos As obras do tipo enrocamento aderente, pre-
fatores físicos costeiros locais. Até então, esses sente no litoral dos quatro municípios, foram
agentes ambientais e a localização das obras construídas como soluções emergenciais.
favoreceram a erosão costeira, que se agrava Elas têm por objetivo a proteção do terreno (e
com a ocupação inadequada da orla, como não da praia) aos danos produzidos pela ação
ilustra a Figura 3.2-9 (MAI, 2009, v. 2). das ondas, particularmente sob condições das
ondas de tempestade.

Estrutura 004 na praia de Candeias, Jaboatão dos Guararapes,


ocupando totalmente a faixa de praia

Fonte: MAI (2009, v. 2, p. 134)


34

Essa intervenção é efetiva na proteção do ção da linha de costa. Se essas estruturas fo-
terreno contra a erosão, na proteção da parte rem construídas próximas da praia ou se forem
mais elevada da praia. No entanto, as estru- muito extensas em relação ao comprimento das
turas que não protegem a orla dos efeitos das ondas incidentes, ou ainda muito impermeá-
inundações, nem da erosão dos sedimentos da veis, podem desenvolver uma saliência, que
porção mais baixa do perfil praial, nem contra a passa a funcionar como um espigão, a barrar a
redução da intensidade das tempestades. Essa deriva litorânea e causando efeitos erosivos nas
intervenção pode contribuir para o rebaixamen- praias à jusante. Nessas condições, a deriva
to dos depósitos de areia do perfil praial, com litorânea é forçada a se desenvolver no lado
alteração significativa da paisagem. externo do quebra-mar, desviando a deriva
litorânea do sistema praial (MAI, 2009, v. 2).
Outra técnica presente no litoral em análise
são os espigões. Esse tipo de obra é construída Segundo estudos desenvolvidos pelo MAI
para ampliar na zona a barlamar a largura da (2009), as obras costeiras, ao longo da orla dos
pós-praia ou para reduzir as taxas de deriva municípios de Jaboatão dos Guararapes, do
litorânea. “A implantação dessas estruturas, Recife, de Olinda e do Paulista, somam uma
dependendo do seu número e tamanho, pode extensão de 20.090m de estruturas cons-
causar significativa retenção de sedimentos truídas, das quais 4.390m encontram-se em
e, consequentemente, um déficit no balanço Jaboatão dos Guararapes; 3.440m no Recife;
de areia, com redução no suprimento para as 7.610m em Olinda e 4.650m no Paulista.
praias a jusante.” (MAI, 2009, v. 2, p. 144). Em Jaboatão dos Guararapes, de acordo com
MAI (2009), as estruturas são as seguintes:
Os quebra-mares são usados principalmen-
te para reduzir a intensidade de energia das • 3.260m de enrocamentos e muros (74%);
ondas durante os ventos de tempestade. Esse • 30m de espigões e molhes (12%);
tipo de estrutura possibilita o desenvolvimento • 600m de quebra-mar (14%).
de uma ampla e estável praia na sua área de
sombra. Os efeitos adversos estão relaciona- Com esta distribuição de estruturas, pode-se
dos com a redução da deriva litorânea para as concluir que nas praias de Jaboatão predomi-
praias que se encontram à jusante do quebra- nam obras de proteção do terreno, do tipo en-
mar. rocamentos aderentes e muros. O objetivo é a
proteção do terreno, com a fixação da “linha de
Outro efeito hidrodinâmico do quebra-mar é o costa”, em detrimento da faixa de praia, com o
desenvolvimento de tômbolos de areia, peque- consequente impacto à paisagem e à vocação
nas barras de areia que resultam na deforma- turística local.
35
No Recife, a principal estrutura costeira é um Nas praias do Paulista, os enrocamentos,
enrocamento com 2.100m de comprimento espigões e quebra-mares protegem os terrenos.
na praia de Boa Viagem e outro de 1.340m na Contudo, os quebra-mares, embora construídos
praia de Brasília Teimosa conforme estudo do com altura elevada, causam proteção parcial da
MAI (2009). A obra protege o terreno e não a linha de costa. Esse tipo de intervenção, aliado
praia. ao engordamento da praia, com sedimentos de
composição e tamanhos inadequados, pode es-
Na praias de Olinda, predominam obras de tar relacionado com os focos de erosão instala-
proteção do terreno na forma de enrocamen- dos em alguns trechos. As estruturas presentes
tos, espigões e quebra-mares que causam boa na orla de Paulista têm a seguinte distribuição:
proteção da linha de costa. Entretanto, essas
estruturas causam significativa modificação nas • 1.850m de enrocamentos e muros (40%);
taxas de deriva litorânea, com efeitos negativos • 80m de espigões e molhes (6%);
à jusante, aliados ao impacto na vocação turís- • 2.520m de quebra-mares (54%).
tica. As estruturas têm a seguinte distribuição:

• 1.700m de enrocamentos e muros (22%);


• 250m de espigões e molhes (3%);
• 5.660m de quebra-mares (75%).
36

Histórico da evolução da linha


de praia: processo natural x
interferência antrópica
Os registros comprovam que a alteração da po- O estudo histórico evolutivo da linha de praia
sição da linha de praia no litoral pernambucano dos municípios de Jaboatão dos Guararapes,
é antigo, em especial na costa de Olinda, que, do Recife, de Olinda e do Paulista foi feito pelo
entre 1915 e 1950, experimentou um signifi- MAI (2009). Esse estudo mediu por meio de
cativo recuo de aproximadamente 80 metros, o coordenadas, de precisão geodésica, de pontos
que resultou em um intenso processo erosivo, a linha de praia dos municípios. A linha de cos-
que se instalou, principalmente nas praias dos ta é uma feição extremamente dinâmica (BIRD,
Milagres, do Carmo e de São Francisco. 1996) e, para sua medição, é necessário iden-
tificar no ambiente praial as feições que melhor
A zona costeira pernambucana apresenta altu- a representem. A linha de costa, neste estudo,
ras médias de maré de sizígia de 2,07 metros, foi definida como a feição no plano horizontal,
de acordo com a Diretoria de Hidrografia e Na- limite entre a área seca do continente, ou de
vegação (DHN). A zona de espraiamento (zona uma ilha, e a parte onde há efetiva ação das
situada entre o limite superior da preamar e o águas. Considera-se que o local está fora do
limite inferior da baixa-mar) pode atingir até 60 alcance das águas, incluindo as maiores marés
metros de largura na praia. de sizígia (MENDONÇA, 2005).

Mapa ilustrando a posição da Linha de Costa em 1915 e 1950 (praia


dos Milagres – Olinda/PE)

Fonte: BRASIL (1985)


37
No estudo do MAI (2009), foram utilizados dois se, principalmente, de trechos com obras
receptores GPS, sempre utilizados no modo do tipo enrocamentos, espigões e muros.
relativo, com um permanecendo fixo em um • (2) Paulista tem 14.468,36m de litoral,
ponto enquanto o outro era conduzido no modo sendo que em 9.626,93m (66,5%) é
cinemático sobre a feição que identificava a formado por praias com sedimento, e em
linha de costa. Os dados coletados pelos recep- 4.841,43m (33,5%) sem praias com sedi-
tores durante os deslocamentos e os obtidos na mentos, constituindo-se, principalmente,
estação base foram pós-processados no softwa- em trechos com obras do tipo enrocamen-
re GPSurvey 2.35 Dual Frequency Kinematic tos, espigões e muros.
Processor, desenvolvido pela Trimble. As coor- • (3) Olinda possui 12.261,14m de litoral,
denadas são referenciadas ao Sistema Geodé- sendo que em 4.222,33m (34,4%) é
sico Brasileiro (SGB), por meio de uma estação formado por praias com sedimento e em
da rede nacional (estação da RBMC – Rede de 8.038,81m (65,6%) sem praias com sedi-
Monitoramento Contínuo do IBGE) no campus mentos, constituindo-se, principalmente,
da Universidade Federal de Pernambuco. O de trechos com obras do tipo enrocamen-
estudo concluiu que o litoral dos municípios do tos, espigões e muros.
Paulista, de Olinda, do Recife e de Jaboatão • (4) Recife tem 13.444,38m de litoral,
dos Guararapes totaliza 48.135,07m de linha sendo que em 5.999.25m (44,6%) é
de costa; desses, são formados por praias com formado de praias com sedimento, e em
sedimentos 24.539,45m (51%) e 23.595,63m 7.445,13m (55,4%) sem praias com se-
(49%) não têm praias com sedimentos. Nesse dimentos, constituindo-se de dois trechos:
segundo segmento, o litoral é marcado pela um com recifes e outro com enrocamentos.
presença de recifes e obras costeiras, tais como
enrocamentos, espigões e muros (MAI, 2009). O estudo CPEB (2011, v. 2) permitiu o cálculo
evolutivo da linha de praia dos municípios de
Os resultados do estudo do MAI (2009, v. 1, p. Jaboatão dos Guararapes, do Recife, de Olinda
58-59) apresentam uma distribuição da linha e do Paulista; para tal, utilizando fotografias
de costa ao longo dos litorais dos municípios aéreas e dois conjuntos de imagens extraídos
de: do Google Earth®. O voo aerofotogramétrico
realizou-se em 1974 e as imagens do Google
• (1) Jaboatão dos Guararapes possui Earth® são de 2007 e 2010. A escolha do local
7.961,20m de litoral, sendo que em de linha de costa baseou-se num indicador que
4.690,94m (58,9%) é formado por praias não sofresse muita influência da variação de
com sedimento, e em 3.270,26m (41,1%) um ciclo de maré. De acordo com o estudo do
sem praias com sedimentos, constituindo- CPEB (2011, v. 2), decidiu-se extrair a linha de
38

costa por meio da posição da berma da praia, e entre 2007 e 2010, calculadas pelo método
que se mostrou aparente em todas as fotogra- EPR (End Point Rate), e a incerteza associada
fias aéreas e imagens. O objetivo dessa análise a cada variação; (iv) a taxa de deslocamento da
foi identificar áreas historicamente vulneráveis linha de costa em metros por ano entre 1974
à erosão e, de posse dessa informação, ter e 2007, e entre 1974 e 2010, calculadas pelo
embasamento para a escolha de alternativas de método EPR e a incerteza associada. Esses
intervenção que serão sugeridas pela CPE. resultados encontram-se detalhados no diag-
nóstico do meio físico (CPEB, 2011, v. 2).
Conforme o diagnóstico do CPEB (2011, v. 2),
a costa dos quatro municípios tem aproxima- A análise do diagnóstico (CPEB, 2011) foi feito
damente 50km de extensão; analisada com o a partir de uma série temporal de trinta e seis
enfoque de determinar taxas de variação de anos e composta de três linhas de costa em
linha de costa (LC) para cada município, feita diferentes momentos. Nesse contexto, percebe-
por meio de transectos perpendiculares à linha se que a evolução recente da linha de costa
de costa, com espaçamento de 50 metros. Um dos municípios de Jaboatão dos Guararapes,
total de 923 transectos na análise, 185 para o do Recife, de Olinda e do Paulista está firme-
município de Jaboatão dos Guararapes, 241 mente atrelada à instalação das estruturas cos-
para o município do Recife, 206 no município teiras. Nota-se que as variações mais acentua-
de Olinda e 291 para o município do Paulista. das coincidem, na maior parte, com a presença
Cada taxa de variação gerada por um transecto de estruturas rígidas naturais, como os arre-
é a média entre o próprio transecto analisado e cifes, ou introduzidas pelo homem, como os
os dois adjacentes. Isso suaviza as discrepân- quebra-mares e espigões e guias correntes.
cias entre os resultados.
A partir do resultado obtido pelo estudo CPEB
Para apresentação dos resultados da análise, (2011) pode-se afirmar que a linha de praia no
foram feitas imagens em que os segmentos de litoral dos municípios de Jaboatão dos Guarara-
costa se dividiram para cada município. Além pes, do Recife, de Olinda e do Paulista, apre-
da localização da área de estudo, em cada senta uma acentuada interferência antrópica,
figura, apresentam-se gráficos contendo: (i) resultando numa linha de praia atual experi-
o deslocamento linear total da linha de costa mentando erosão em diversos trechos e perdas
para 2007 e 2010, tendo por base a linha de patrimoniais elevadas (CPEB, 2011, v. 2).
1974; (ii) o deslocamento linear total da linha
de costa de 2010, tendo por base a linha de
2007; (iii) a taxa de deslocamento da linha de
costa em metros por ano entre 1974 e 2007,
39
Ocupação do solo e erosão
costeira
O litoral pernambucano tem 187 quilômetros Atualmente não existem estudos que possam
de extensão, 21 municípios e é o mais impor- comprovar a contribuição relativa de cada
tante aglomerado populacional do Estado, com um desses fatores, no entanto, sabe-se que a
44% de sua população (ARAÚJO et al., 2004). ocupação do ambiente da praia por edificações
Essa zona costeira apresenta uma densidade ou outras estruturas modifica a manutenção
populacional maior do que 900 hab/km2, sig- do equilíbrio sedimentar natural (MAI,2009).
nificando uma das maiores concentrações do Nessas franjas costeiras, observa-se, com fre-
Brasil, que tende a aumentar considerando os quência, a presença de muitas obras (prédios,
novos empreendimentos que estão instalando- muros de contenção, estradas e estruturas de
se na região nos últimos anos (MAPLAC, 2010). engenharia costeira) que foram construídas
sobre o pós-praia, setor da praia essencial para
Diferentes pesquisas (CARNEIRO,2003; GRE- o suprimento de sedimentos, comprometendo
GÓRIO, 2009; MAI, 2009) feitas ao longo da assim vários trechos de praia que estão sob um
zona costeira pernambucana e, em especial, forte processo de erosão (SOUZA, 2006).
na região metropolitana do Recife, comprovam
que estão ocorrendo intensos processos erosi- Nos trechos críticos da zona costeira da região
vos, com muitos trechos da costa em desequilí- metropolitana do Recife, que experimentam o
brio, apresentando erosão marinha progressiva processo de erosão, o manejo desse problema
(CPRH, 1998 apud SOUZA, 2006). A combina- tem sido realizado por meio da colocação de
ção de diversos fatores tem resultado nos pro- muros aderentes, enrocamentos, espigões e
cessos erosivos constados atualmente: o aporte quebra-mares sem o devido suporte de in-
sedimentar para as praias é deficiente pela formações (MAI, 2010). Ao longo do tempo,
ausência de grandes rios; a plataforma conti- observa-se que essas intervenções frequente-
nental é estreita e dificulta o armazenamento mente resultam em insucessos ou mesmo na
de sedimentos para remobilização; as linhas de intensificação do processo erosivo, localmente
arrecifes submersos na plataforma dificultam ou em áreas adjacentes, implicando investi-
a remobilização de sedimentos; a ocupação mento de somas elevadas para a manutenção
desordenada do ambiente praial imobiliza as e, também, em prejuízo estético (SOUZA,
dunas e dificulta a reconstrução das praias no 2006; MAPLAC, 2010).
período de verão.
40

Os primeiros relatos à erosão costeira nos problemas de erosão em vários trechos do


municípios litorâneos pernambucanos são de litoral e mais notadamente nas áreas urba-
1914 e mencionam os danos causados pela nas (MAI, 2009). A próxima figura apresenta
intervenção no molhe localizado no istmo de fotografias de diversas épocas das praias dos
Olinda, parte das obras de ampliação do Porto municípios de Jaboatão dos Guararapes, do
do Recife. A partir de então, constataram-se Recife, de Olinda e do Paulista.

Ocupação do solo e erosão costeira

Nota: As fotografias A, B e C mostram a ocupação atual do solo e processos erosivos da orla de Jaboatão
dos Guararapes, assim como as obras de contenção do avanço do mar, tipo enrocamento; as fotografias D,
E e F mostram a ocupação atual do solo e processos erosivos do litoral do Recife, assim como as obras de
contenção do avanço do mar, tipo enrocamento na praia de Boa Viagem; a fotografia da ocupação do litoral
de Olinda (no alto, à direita) retrata uma praia ocupada por obras de contenção costeira do tipo espigão,
enrocamento e quebra-mares. A fotografia aérea da ocupação do litoral do Paulista retrata uma praia
ocupada por obras de contenção costeira do tipo quebra-mares.

Projeto MAI (2009) estudou a variação da ocu- de 2008 (Agência Condepe/Fidem). A área cos-
pação do solo por trinta e quatro anos no litoral teira selecionada, considerada para monitorar
dos quatro municípios da Região Metropolitana a ocupação do solo, foi uma faixa demarcada
do Recife com o objetivo de comprovar que por quadras e vias, afastada da linha de costa
o aumento da ocupação do solo tem relação entre 200 e 300 metros. Conforme o estudo
direta com a erosão. Essa pesquisa foi realizada do Projeto MAI (2009), foram consideradas na
com a análise de fotografias aéreas de 1974 análise as seguintes faixas de densidade para a
(Agência Condepe/Fidem) e imagens Quickbird área ocupada:
41
• Baixa densidade – menor que 30% de Para ilustrar a metodologia utilizada, selecio-
ocupação; nou-se um recorte costeiro no município de
• Média densidade – entre 30% e 70% de Jaboatão dos Guararapes, com praia arenosa
ocupação; em 1974, e atualmente, com problemas de
• Alta densidade – maior que 70% de ocu- erosão. Para tanto, a classificação realizada
pação. para ocupação do solo foi disposta sob uma
mesma base cartográfica, para 1974 e 2008 e
os resultados encontrados são apresentados na
tabela abaixo.

Distâncias e percentuais da ocupação do litoral dos municípios de


Jaboatão dos Guararapes, do Recife, de Olinda e do Paulista

MUNICÍPIO 1974 2008 CLASSIFICAÇÃO

Jaboatão dos Guararapes 414.411,92 m² 25,2% 1.086.408,01 m² 66,1% Alta densidade


464.950,26 m² 28,3% 439.471,14 m² 26,7% Média densidade
764.863,87 m² 46,5% 118.346,9 m² 7,2% Baixa densidade
Recife 1.525.669,83 m2 72,6% 1.896.909,94 m2 90,3% Alta densidade
358.328,85 m2 17,1% 95.549,73 m2 4,5% Média densidade
216.650,35 m2 10,3% 108.189,68 m2 5,2% Baixa densidade
Olinda 887.321,60 m2 50,9% 1.135.018,63 m2 65,1% Alta densidade
451.465,43 m2 25,9% 467.874,07 m2 26,8% Média densidade
405.829,62 m2 23,2% 141.723,95 m2 8,1% Baixa densidade
Paulista 273.203,12 m2 6,7% 1.637.269,64 m2 40,4% Alta densidade
555.163,67 m2 13,7% 1.202.753,91 m2 29,7% Média densidade
3.220.752,67 m2 79,6% 1.209.095,92 m2 29,9% Baixa densidade

Fonte: MAI (2009)


3
42

Qual a área de influência


do empreendimento?
A área de influência do empreendimento corresponde aos espaços geográ-
ficos passíveis de alterações em termos de dinâmica ambiental a partir da
projeção de cenários relacionados à implantação e operação do mesmo,
tratando-se aqui da Recuperação da Orla Marítima – Jaboatão, Recife, Olinda
e Paulista – Pernambuco. Conforme legislação ambiental vigente e exigências
do Termo de Referência 14/2011 emitido pela CPRH (Agência Estadual de
Meio Ambiente de Pernambuco) em 14 de setembro de 2011, serão aborda-
dos e justificados de forma distinta, os meios físico, biótico e socioeconômico.
As áreas de influência do empreendimento serão estabelecidas segundo os
seguintes níveis hierárquicos (CPRH, 2011, p. 9):

• Área de Influência Indireta (AII): aquela onde os impactos provenien-


tes da implantação e operação do empreendimento se fazem sentir
de maneira indireta e com menor intensidade em relação à área de
influência direta.
• Área de Influência Direta (AID): aquela sujeita aos impactos diretos
provenientes da implantação e operação do empreendimento, incluí-
do faixa marítima a ser utilizada para transporte de matéria prima.
• Área Diretamente Afetada (ADA): aquela onde ocorrem as interven-
ções relacionadas ao empreendimento, incluindo áreas de apoio
como canteiros de obra, acessos, áreas de jazida, etc.

O diagrama na próxima página mostra uma representação hierárquica das


áreas de influência do empreendimento:
43
Níveis Hierárquicos das Áreas de Influência do Empreendimento

Fonte: ITEP – UGP Barragens 2011

É importante lembrar que os meios físico, biótico entre outros aspectos. Vale frisar o estreitamen-
e socieconômico compõem o universo de estudos to da faixa de areia, o fim do ambiente praial e
integrados do meio ambiente, previstos na elabo- pós-praial em muitos pontos ao longo da costa
ração do EIA/RIMA. Para efeitos de elaboração metropolitana ocorre por fatores relacionados à
do diagnóstico e prognóstico ambiental, impactos evolução histórica das formas de uso dessa faixa
e planos de controle ambiental, os três meios de orla, associada a outros fatores, como a dimi-
citados devem ser entendidos de forma interrela- nuição da quantidade de sedimentos carreados
cionada e interdisciplinar. pelos rios, como a dinâmica de correntes maríti-
É necessário ressaltar o caráter de localização do mas e padrões de ventos e ondas. Nesse sentido
empreendimento. O projeto de Recuperação da estabeleceu-se a seguinte delimitação para efeitos
Orla Marítima dos municípios de Jaboatão dos de estudo:
Guararapes, do Recife, de Olinda e do Paulista
concentra-se na faixa de orla destes municí- MEIO FÍSICO
pios, a qual se insere no contexto de uma região
metropolitana brasileira com elevados níveis de A Área de Influência Indireta (AII) corresponde
impermeabilização do solo, grande concentração aos municípios do Cabo de Santo Agostinho, de
populacional, valorização do metro quadrado, Jaboatão dos Guararapes, do Recife, de Olinda,
forte especulação imobiliária, limitações de áreas do Paulista, de Abreu e Lima, Igarassu e Itama-
verdes, áreas estuarinas ocupadas e poluídas, racá. Ao se considerar esse nível hierárquico é
44

importante ter como foco a área de jazida de MEIO BIÓTICO


areia (no litoral do Cabo de Santo Agostinho), as
áreas que irão sofrer intervenção por meio da A delimitação da Área de Influência Indireta
obra (municípios de Jaboatão dos Guararapes, (AII) segue os mesmos procedimentos utilizados
do Recife, de Olinda e do Paulista) e uma impor- para o meio físico. Supõe-se que a delimitação
tante zona estuarina nos municípios de Igarassu dos municípios do Cabo de Santo Agostinho, de
e Itamaracá. A AII engloba os seguintes relevos: i) Jaboatão dos Guararapes, do Recife, de Olinda,
semi-plano: predominam as áreas baixas e englo- do Paulista, de Abreu e Lima, de Igarassu e de
ba a área de planície flúvio-costeira, os tabuleiros Itamaracá abrange uma área significativa em ter-
e os terraços; ii) ondulado: formado por morros e mos de diversidade de espécies da flora e fauna,
colinas, com declividades acentuadas. A inserção além de contemplar possíveis rotas de migração
de Itamaracá nessa regionalização reflete uma de espécies com a implementação do empreen-
preocupação relacionada à Ilhota da Coroa do dimento. Assim, tem-se a importância do Cabo
Avião, uma vez que representa uma formação de Santo Agostinho quanto à posição da jazida e
emersa de origem recente (menos de 50 anos). prováveis impactos nas espécies subaquáticas,
Jaboatão dos Guararapes, Recife, Olinda, Paulista
A Área de Influência Direta (AID) se estende da com relação à zona de intervenção física e impac-
linha de costa até a isóbata (linhas de profundi- tos em espécies terrestres e subaquáticas e, em
dade) de 20m. Essa área foi projetada para todo Itamaracá, no que diz respeito à Coroa do Avião
o litoral dos quatro municípios, já que apresenta e sua necessidade por recomendações, a fim de
os processos erosivos que serão focos de análise viabilizar a manutenção de espécies vivas desse
dos estudos e concentra as principais dinâmicas ambiente recentemente formado.
marinhas relacionadas ao transporte de sedimen-
tos e incidência de ondas na costa. A Área de Influência Direta (AID) corresponde à
área inserida entre a linha de costa e limite médio
A Área Diretamente Afetada (ADA) segue os mes- de 3km no sentido leste em relação à costa
mos critérios de delimitação adotados na AID (se (plataforma marinha). Considera em sua delimi-
estende da linha de costa até a isóbata de 20m), tação à diversidade verificada nos beach rocks e
porém restringe-se apenas aos quatro municípios áreas de prováveis concentração e deslocamento
que irão receber o empreendimento: Jaboatão de tubarões (aproximadamente a 2km da linha
dos Guararapes, Recife, Olinda e Paulista. de costa). A Área Diretamente Afetada (ADA)
respeita como limite a área inserida entre a linha
de costa e os beach rocks e enroncamentos.
45
MEIO SOCIOECONÔMICO A Área Diretamente Afetada (ADA) obedece à fai-
xa de orla marítima enquanto unidade geográfica

A Área de Inlfuência Indireta (AII) é representada inclusa na zona costeira. Sua delimitação segue

pela totalidade dos espaços territoriais represen- as recomendações do Ministério do Meio Am-

tados pelos municípios de Jaboatão dos Guarara- biente (2006, p.28), o qual estabelece um limite

pes, do Recife, de Olinda e do Paulista, uma vez para a área terrestre de 50m em áreas urbaniza-

que o empreendimento proposto contempla uma das e de 200m em áreas não urbanizadas. Dado

área pública urbanizada. os elevados níveis de densidade de ocupação do


solo deste empreendimento, resolveu-se fazer

A Área de Influência Direta (AID) corresponde uma ampliação na faixa de área terrestre em

aos setores censitários que contém os trechos de áreas urbanizadas, passando de 50m para 100m

orla destes municípios. Essa escolha se deve ao e mantendo os mesmos 200m para áreas não ur-

fato dessa ser a menor unidade de medida onde banizadas. A área é correspondente às praias que

é possível obter informações com dados secun- sofrerão a intervenção e aos prédios em frente a

dários. essas. Para os estudos de patrimônio cultural, a


ADA também considerou regiões subaquáticas, a
exemplo dos pontos de naufrágio na costa destes
municípios.
4
46

Como é o meio
físico na área do
empreendimento?
Geologia e Geomorfologia
Geologicamente, a área de estudo do projeto de Proteção Costeira, que
engloba os Municípios de Jaboatão dos Guararapes, do Recife, de Olinda
e do Paulista, está inserida nos domínios das bacias de Pernambuco e
Paraíba.

Mapa de localização das bacias de Pernambuco e


Paraíba com ênfase nos seus limites estruturais

Fonte: Barbosa & Lima Filho (2006).


47
Essas bacias possuem características estrutu- do Gelo, ocorreram diversas glaciações, que
rais, geocronológicas e estratigráficas diferen- representaram eventos de variações climáticas
tes, as quais refletem o processo de formação extremas e que repercutiram sobre todos os
diferenciado. As bacias de Pernambuco e Pa- ambientes terrestres.
raíba se relacionam geneticamente ao processo
de rifteamento que afetou o paleocontinente A sedimentação de ambientes costeiros está di-
de Gondwana durante o Cretáceo Inferior. A retamente relacionada às variações do nível do
bacia de Pernambuco seria controlada por mar, ao espaço de acomodação e ao suprimen-
um sistema de falhas normais, com direção to sedimentar. O nível do mar sofre variações ao
principalmente NE, e falhas de transferência, longo do tempo geológico, de ordem global, de-
predominantemente, de direção NW, sendo vido à eustasia que é consequência da variação
que ambas definem um eixo principal de dis- de volume de água dos oceanos, decorrente de
tensão (s3) de orientação NW. A bacia Paraíba glaciações e deglaciações, e variações na capa-
sofreu eventos tectônicos diferenciados dos cidade reservatória dos oceanos, causadas pela
fenômenos ocorridos nas bacias adjacentes ao dinâmica das placas tectônicas. Localmente ou
norte e ao sul (Barbosa, 2004 apud Asmus & regionalmente, o nível do mar se modifica devi-
Carvalho, 1978). A preservação de uma ligação do à isostasia. A costa brasileira foi submetida,
(landbridge) entre a África e a América do Sul, durante o Quaternário, a diversas oscilações do
durante o Cretáceo Superior (Barbosa, 2004 nível do mar que ficaram registradas em teste-
apud Rand, 1985; Rand & Mabesoone, 1982) munhos fósseis. Grande parte desses registros
possivelmente é responsável pela diferenciação fósseis foi submetida a estudos, utilizando
entre a bacia Paraíba e as bacias de Alagoas, métodos de datação isotópicos, paleontológi-
Pernambuco e Potiguar. Conforme Barbosa & cos, arqueológicos para definição da idade de
Lima Filho (2006), a bacia Paraíba comparti- formação do registro.
menta-se em sub-bacias que se baseiam nas
principais feições tectônicas da área. Geomorfologicamente, a área de estudo
apresenta-se inserida em um único domínio
A sub-bacia Olinda é limitada pelo Lineamento morfoestrutural denominado de Domínio Rifte.
Pernambuco e pela falha de Goiana; a sub- Ela se apresenta, de modo geral, em dois
bacia Alhandra/Miriri é limitada pela falha de conjuntos distintos de relevo: o relevo semi-
Goiana e o Lineamento Paraíba. O período plano e o relevo ondulado. O relevo semi-plano
geológico conhecido como Quaternário com- encontra-se na porção Leste, com maior
preende as Séries do Pleistoceno e Holoceno, presença no município do Recife, englobando a
esses inseridos na Era Cenozóica. Nesse espa- área de planície flúvio-costeira, os tabuleiros e
ço temporal, também conhecido como a Era os terraços. É onde predomina as áreas baixas
48

e ocupa a maior parte da área de estudo. O de extrema importância em análises meteo-


relevo ondulado ocupa uma pequena porção rológicas e climatológicas em zonas costeiras.
da área e é formado por morros e colinas, com Verifica-se que o semestre mais chuvoso
declividades acentuadas. corresponde aos meses de março a agosto, e o
mais seco ao período de setembro a janeiro. Os

Condições meses mais chuvosos correspondem a maio,


junho e julho com precipitação de 295mm,
meteorológicas 362mm e 301mm, respectivamente. Outubro e

hidrodinâmicas novembro são os meses mais secos com preci-


pitação inferior a 40mm.

As condições meteorológicas e o clima são


influenciados por características geográficas
como oceano, latitude, relevo, solo e por siste-
mas de circulação atmosféricos dinâmicos. A
orla marítima dos quatro municípios analisados
está situada em posição geográfica favorável à
atuação simultânea dessas influências, prin-
cipalmente das variáveis atmosféricas como
vento e pressão atmosférica, que provocam
alterações no nível do mar costeiro, afetando de
forma considerável as cidades localizadas na
linha de costa.
A precipitação se apresenta como uma variável
49
Climatologia da precipitação média mensal em Olinda, Recife e
Jaboatão dos Guararapes.

Com relação a vento, na faixa litorânea de Per-


nambuco verificou-se que os maiores valores
Praias
em intensidade foram observados no setor
As praias são depósitos de sedimentos, co-
leste, fator esse que está associado à atuação
mumente arenosos, acumulados pela ação
dos ventos alísios de sudeste, devido o deslo-
das ondas, ventos e marés (MUEHE, 2009).
camento da Alta Subtropical do Atlântico Sul.
Representam um elemento natural de prote-
Os meses de novembro, dezembro e janeiro
ção ao litoral. O perfil transversal de uma praia
apresentam direção predominante de leste
varia com o ganho ou perda de sedimentos, de
com intensidade de 3 a 5m/s em novembro e
acordo com o nível de energia das ondas e com
dezembro, e 2 a 3m/s em janeiro. Em fevereiro
a alternância de tempo bom (acumulação) no
e março, há um aumento na magnitude do
prisma subaéreo ou de tempestade (erosão),
vento com valores em torno de 3 a 4m/s e uma
com a retirada de sedimentos do perfil subaé-
pequena mudança na direção do vento que
reo para o perfil submerso, ocorrendo à erosão.
passa de Leste para Sudeste. Nos meses de
abril, maio, junho, julho, agosto, setembro e ou-
O ambiente praial, segundo Reading e Collin-
tubro, a direção é de sudeste com intensidade
son (1996), consiste em dunas frontais,
de 5 a 6m/s, com exceção dos meses de abril e
pós-praia, praia e antepraia. As dunas frontais
outubro com velocidade entre 4 a 6m/s.
50

limitam-se com a pós-praia na parte inferior da ta. Foi utilizada a nomenclatura morfológica e
escarpa. A pós-praia situa-se acima da linha da hidrodinâmica sugerida por Hoefel (1998) para
preamar, sendo atingida pela ação das ondas a definição da divisão do perfil praial.
em ocasião de tempestades. Praia ou estirâncio
está situada entre o limite superior da preamar O monitoramento realizou 460 nivelamentos
e o limite inferior da baixamar. A antepraia topográficos, distribuídos em 28 perfis localiza-
compreende a parte submersa do perfil e se dos em Jaboatão dos Guararapes, nas praias
delimita com a praia no nível da maré baixa, de Barra de Jangadas (01), Candeias (02) e
estendendo-se em direção offshore, até onde Piedade (02); no Recife, nas praias da Boa Via-
não há remobilização dos sedimentos. Os gem (04) e do Pina (01); em Olinda, nas praias
fatores que influenciam na construção e na dos Milagres (01), do Carmo (03), do Bairro
variação de um perfil praial são condições de Novo (03), de Casa Caiada (02) e do Rio Doce
energia das ondas, o tipo de arrebentação, o (02); no Paulista, nas praias do Janga (03),
sedimento e o seu transporte, que interagem de Pau Amarelo (01), de Nossa Senhora do
com as condições hidrodinâmica locais. Ó (01), de Conceição (01) e de Maria Farinha
(01).
Mudanças no ambiente praial podem ser
medidas por vários métodos, um deles é o De acordo com o projeto MAI, os resultados ob-
método topográfico convencional, tal como o tidos durante o monitoramento correspondem:
teodolito (BIRD, 1996). Esses métodos podem
avaliar e monitorar o avanço ou a recessão da • Jaboatão dos Guararapes apresentou um
linha de costa ao longo do tempo (LARSON e balanço sedimentar positivo para os perfil
KRAUS, 1994; CLARK e ELIOT, 1988; LACEY e 1 (42,4m3/m), perfil 4 (28,5m3/m) e um
PECK, 1998; SWALES, 2002; ANFUSO e DEL balanço negativo para o perfil 2 no valor
RIO, 2003). O nivelamento topográfico tem por de 16,5m3/m, para o perfil 4 na ordem
finalidade verificar a variabilidade vertical do de 22m3/m. O município do Jaboatão dos
perfil praial, se há uma tendência erosiva ou Guararapes apresentou em sua região cen-
deposicional no ambiente. tral um déficit de sedimentos, porém os
perfis 2 e 3 apresentaram o menor volume
O projeto Monitoramento Ambiental Integra- de sedimentos;
do (MAI) foi realizado no ambiente praial da • No Recife, os perfis apresentaram um
Região Metropolitana do Recife (RMR), nos balanço sedimentar positivo, considerando
anos de 2006 e 2007. O nivelamento dos perfis a diferença no volume sedimentar entre
foi determinado a partir de uma Referência de o primeiro mês monitorado e o ultimo
Nível (RN) perpendicularmente à linha de cos- mês. São observados os seguintes valo-
51
res PR1 (7,4m3/m); PR2 (13,7m3/m); A análise sedimentar fornece subsídios para
PR3 (9,6m3/m); PR4 (12,1m3/m); PR5 a correlação entre as características texturais
(+17,8m3/m). Entretanto, Gregório e Arau- dos sedimentos e dos vários ambientes, que
jo (2008) realizaram um monitoramento compõe a dinâmica deposicional, e estabele-
por um período mais longo nas praias de cer parâmetros utilizáveis na identificação e
Boa Viagem e do Pina, entre os anos de característica do ambiente (SUGUIO, 1973).
2001 a 2005, e constataram uma maior Segundo a classificação de WENTWORTH
variação no volume de sedimentos nos (1922 apud MUEHE, 1996) são classificados
extremos das praias, inclusive na praia do em: cascalho (-1 Φ), areia muito grossa (-1 a 0
Pina, e no perfil ao norte da obra de con- Φ), areia grossa (0 a 1 Φ), areia média (1 a 2 Φ),
tenção (enrocamento); areia fina (2 a 3 Φ), areia muito fina (3 a 4 Φ).
• Em Olinda, apresentaram um balanço sedi- O tamanho do grão depende da natureza do
mentar positivo os perfis PO1 (7,46m3/m), material envolvido, do tempo e da distância do
PO2b (13,10m3/m), PO2c (6,85m3/m transporte.
), PO5 (17,59m3/m), PO6 (3,10m3/m ),
PO7 (3,00m3/m), PO8 (4,10m3/m ); e A metodologia utilizada pelo MAI foi a classi-
um balanço sedimentar negativo (Figura ficação proposta por FOLK e WARD (1957).
8.6-2) para os perfis PO2a (0,69m3/m), Os dados foram processados no software
PO3 (19,98m3/m), PO4 (9,49m3/m ) e SYSGRAM, sendo utilizado o tamanho médio
PO9 (2,00m3/m). Os perfis localizados do grão. Para os perfis de Jaboatão dos Gua-
na praia do Carmo se encontram em uma rarapes predominou areia fina nos perfis PJ1
saliência, que corresponde aos vestígios e PJ2 e PJ5, na parte extremas do segmento
da ponte utilizada para a construção do Jaboatão; e em sua parte central PJ3 e PJ4
quebra-mar, aumentando o volume sedi- foi observado areia média. No Recife, há uma
mentar da parte superior do perfil; predominância de areia fina em todo o arco
• No Paulista, os resultados apresentaram praial. Em Olinda, verificou-se a presença de
um balanço sedimentar positivo nos perfis areia grossa em todos os perfis; porém o perfil
PA1 (28,46m3/m), PA2 (0,28m3/m), PA3 PJ3 apresentou uma maior variação de areia
(13,26m3/m), PA4 (27,06m3/m), PA5 média a grossa. Em relação ao município do
(12,57m3/m), PA7 (11,07m3/m); e um Paulista, há predominância de areia média,
balanço sedimentar negativo para o perfil sendo observado também uma variação de
PA6 (48,33m3/m). areia fina a média, principalmente nos perfis
nos perfis PA4 e PA5, correspondendo à parte
central segmento.
52

Variação volumétrica dos perfis topográficos do município de Olinda

Fonte: MAI (2009).


53
Plataforma arenosos, marcas de ondas e os tipos de se-
dimentos (areia, cascalho ou lama). Os dados

Interna batimétricos descritos possibilitaram uma análi-


se de reconhecimento preliminar da morfologia

A plataforma continental de Pernambuco é da plataforma interna da região estudada. Os

caracterizada por uma largura média de 34km, dados compilados de outros projetos foram

variando aproximadamente de 30km no trecho interpolados e com isso foi gerado um modelo

sul a 40km no extremo norte. Possui um relevo digital de terreno para a referida área (ver figura

suave, com a quebra da plataforma na faixa de a seguir).

60metros de profundidade (Araújo et al. 2004).


A morfologia de fundo na área estudada

O levantamento batimétrico detalhado permitiu influencia de forma significativa os processos

a visualização das variações da profundidade, hidrodinâmicos que ocorrem na região, tais

bem como a morfologia da plataforma con- como a dinâmica das correntes, a incidência

tinental interna na área pesquisada. Sendo das ondas e o transporte sedimentar. Portanto,

assim, foi possível identificar as principais fei- são informações imprescindíveis para a com-

ções, tais como os arenitos de praia, os bancos preensão dos problemas de erosão costeira que

arenosos, os paleocanais e os leitos planos e atinge a Região Metropolitana do Recife.

com declives pouco acentuados.


Ao analisar o comportamento dos sedimentos

De forma geral, foi possível observar que a do ambiente praial e da plataforma continental

plataforma interna dos municípios de Olinda interna do Recife, Gregório (2009) observou

e, particularmente, do Paulista apresentam uma forte influência da presença da linha de

gradientes suaves em direção offshore, com arenito de praia, na distribuição e transporte

profundidade máxima em torno de 19m. Na dos sedimentos. Os sedimentos encontrados no

plataforma interna dos municípios do Recife ambiente praial são constituídos, em sua maio-

e de Jaboatão dos Guararapes, os valores de ria, por areia fina a muito fina. Entre o ambiente

profundidade variam abruptamente e a mor- praial e a primeira linha de arenitos de praia

fologia é mais acidentada, com presença de submersos, que corresponde à área do canal, a

paleocanais e diversas linhas de arenitos de predominância é de areia muito fina. Depois da

praia. A área da plataforma interna mostra linha de arenito de praia, há uma variação de

várias estruturas e feições na superfície do areia grossa a cascalho, com presença predo-

fundo marinho, representada por três linhas de minante de areia grossa, e com maior teor de

arenitos de praia, além de paleocanais, bancos carbonato de cálcio.


54

A característica marcante desse fundo marinho No município de Jaboatão dos Guararapes,


é a primeira linha de arenito de praia submerso implantaram-se estruturas do tipo guia corren-
que serve como um divisor entre os sedimen- te, espigões, enrocamentos aderentes e muros,
tos. desde a margem esquerda do rio Jaboatão até
as praias de Piedade e Candeias (MAI, 2009).

Presença de O resultado é um litoral que contempla em


cerca de 20% de sua faixa com algum tipo de
obras costeiras obra costeira de proteção, em que se destacam
estruturas rígidas perpendiculares à praia – de-
Nas últimas décadas, diversas obras de con- nominada de espigões; assim como na praia de
tenção da linha de costa vêm sendo implan- Candeias encontra-se o enrocamento aderente
tadas, no sentido de reduzir o problema de formado por blocos de pedras (ARAÚJO, 2001
erosão costeira. No entanto, os resultados apud MOURA et al., 2010).
dessas intervenções nem sempre tiveram
êxito, acarretando um ambiente praial bastante Em 1994, na Praia de Boa Viagem, no Reci-
modificado, e, em alguns trechos, transferência fe, foram construídas obras de contenção em
do processo erosivo para praias vizinhas (MAI, razão do processo erosivo que destruiu parte
2009). do calçadão. Essa obra consistiu na colocação
55
de pedras-rachão e sacos de areia. No entanto, A ampliação do Porto do Recife e a constru-
o problema da erosão continuava e realizou-se ção das obras de defesa do litoral de Olinda
outro estudo que indicou que a obra mais ade- modificaram o balanço sedimentar costeiro
quada à proteção da praia seria o revestimento original nessa zona, aparentemente provocando
com blocos naturais, atualmente encontrada, uma aceleração da erosão no litoral de Pau-
em contraposição à restauração com reposi- lista. Para contenção da erosão no município,
ção de areia e utilização mista de espigões e implantou-se um sistema de quebra-mares
quebra-mares (MAI, 2009). associados a espigões, que posteriormente am-
pliados. Recifes naturais submersos serviram
A ocupação do espaço litorâneo olindense com de suporte para o sistema de quebra-mares.
obras de proteção costeira contra o avanço do As modificações ocorridas na praia do Paulista
mar data de 1950. A posição da linha de costa ocasionaram a formação de saliências e um
de Olinda, entre 1915 e 1950, experimentou tômbolo na zona de sombra dos quebra-mares
um recuo de aproximadamente 80 metros, o (MAI, 2009). As obras costeiras ao longo dos
que resultou em um intenso processo erosivo, municípios da RMR, identificadas no relatório
principalmente nas praias dos Milagres, do do projeto (MAI, 2009).
Carmo e de São Francisco (CARNEIRO, 2003).
As mudanças decorrentes da ampliação do Na zona costeira dos quatro municípios, cons-
Porto do Recife, entre os anos de 1909 e 1917, tatam-se 19 áreas com intervenções, algumas
assim como da Base Naval do Recife, concluí- ilustradas e descritas, com as estruturas cos-
das em 1948. teiras e respectiva descrição ao longo da orla
dos municípios de Jaboatão dos Guararapes,
Atualmente, a zona costeira do município de Recife, Olinda e Paulista-PE, o tipo de obra
Olinda apresenta dez quebra-mares paralelos à costeira, sua localização, o tamanho, a função,
linha de costa, 34 espigões perpendiculares e o resultado e a similaridade (CPEB, 2011, v1).
diversos trechos com enrocamentos aderentes.
Diversas obras vêm sendo eficientes na prote- Na orla do município de Jaboatão dos Guarara-
ção do patrimônio urbanístico, assim como na pes, prevalecem obras de proteção do terreno,
fixação da linha de costa. Contudo, na época ou seja, as intervenções adotadas são, princi-
de sua instalação, não havia a valorização palmente, as do tipo enrocamentos aderentes
econômica sustentável do uso da praia direcio- e muros. São obras que têm por objetivo a
nado tanto para o turismo quanto para o lazer proteção do terreno, por meio da fixação da
(CPEB, 2011, v1). “linha de costa”, em detrimento da faixa de
praia (MAI, 2009). As estruturas se distribuem
da seguinte maneira: 3.260m de enrocamentos
56

e muros (74%); 530m de espigões e molhes costeira municipal. As estruturas têm a se-
(12%) e 600m de quebra-mar (14%) (CPEB, guinte configuração: 1.700m de enrocamentos
2011, v1). e muros (22%); 250m de espigões e molhes
(3%); e 5.660m de quebra-mares, 75% (MAI,
No Recife, a principal estrutura costeira é um 2009).
enrocamento com 2.100m de comprimento
na praia de Boa Viagem e outro de 1.340m na O litoral do município de Paulista tem o mes-
praia de Brasília Teimosa (MAI, 2009). Entre mo modo de proteção do terreno, na forma
1900 e 1912, realizaram-se obras de ampliação de enrocamentos, espigões e quebra-mares.
do Porto do Recife a fim de protegê-lo de ações Contudo, os quebra-mares vêm protegendo
causadas pelas ondas. Entre elas, destacam- parcialmente a linha de costa apesar de sua
se o prolongado do quebra-mar natural e a altura bastante elevada. Encontra-se nesse
construção dos recifes paralelos à costa, que trecho obra de engordamento da praia, aliada à
atingiram 4 km de comprimento; além de construção dos quebra-mares; contudo utiliza-
construído o molhe de Olinda com 800m e o ram sedimentos de composição e granulome-
quebra-mar do Branco Inglês com 1.150m de tria inadequados, causando, assim, os focos
extensão (CPEB, 2011, v1). de erosão, instalados em alguns trechos desse
litoral (MAI, 2009). As estruturas têm a seguin-
A zona costeira de Olinda apresenta-se com te distribuição: 1.850 metros de enrocamentos
obras de proteção do terreno, constituída de e muros (40%); 280m de espigões e molhes
enrocamento, espigões e quebra-mares que (6%); e 2.520m de quebra-mares, 54 % (MAI,
estabilizaram e protegeram eficientemente essa 2009).

Posicionamento das estruturas de contenção de erosão costeira 001,


002 e 003 no estuário do rio Jaboatão, Jaboatão dos Guararapes - PE

Fonte: MAI (2009, v. 1)


57
Posicionamento das estruturas de contenção de erosão costeira 004,
005, 006, 007 e 008 na praia de Candeias, Jaboatão dos Guararapes –
PE

Fonte: MAI (2009, v. 3)

Posicionamento das estruturas de contenção de erosão costeira 008


e 009 na praia de Candeias, e estrutura 010 na praia de Piedade,
Jaboatão dos Guararapes - PE

Fonte: MAI (2009, v. 1)

Posicionamento das estruturas de contenção de erosão costeira e


detalhe do enrocamento presente na praia de Boa Viagem, Recife - PE

Fonte: MAI (2009, v. 1)


58

Posicionamento das estruturas de contenção de erosão costeira e


detalhe das estruturas presentes na praia de Brasília Teimosa, Recife -
PE

Fonte: MAI (2009, v. 1)

Posicionamento das estruturas de contenção de erosão costeira


presentes na praia dos Milagres e do Carmo (013), e na praia do Bairro
Novo (014), Olinda - PE

Fonte: MAI (2009, v. 1)


59
Vulnerabilidade linha de costa de 2008 foi realizada através de
caminhamento, com o uso de equipamentos

a erosão (Global Positioning Systm) geodésicos, no modo

costeira relativo cinemático (MENDONÇA, 2005). O ano


de 1974 foi considerado o ano mais antigo e o
ano de 2008 o mais recente. A linha de costa
A orla costeira é a estreita faixa de contato da
(última maré) e os limites da zona de interesse
terra com o mar na qual a ação dos processos
(a primeira linha de edificação) foram vetoriza-
costeiros se faz sentir de forma mais acentu-
dos em formato shapefile e organizados numa
ada e potencialmente mais crítica à medida
base de dados geográficos (Geodatabase).
que efeitos erosivos ou construcionais podem
alterar sensivelmente a configuração da linha
A área de estudo foi dividida em segmentos
de costa. Representa também uma faixa na
assim distribuídos: Jaboatão dos Guararapes
qual a degradação ambiental por destruição da
(05), Recife (04), Olinda (12), Paulista (08),
vegetação e construção de edificações se torna
totalizando 29 segmentos (ver figura na página
extremamente evidentes (MUEHE, 2001).
seguinte). Para a divisão dos segmentos foram
considerados suas características naturais e
O termo vulnerabilidade é frequentemente
antrópicas, bem como a presença ou não de
empregado na área de geociências associados
obras de contenção. Sendo que, essas não
ao desastre e incidência de fenômenos natu-
foram calculadas por estarem imobilizadas.
rais (MAZZER, 2007). Nas últimas décadas,
especial importância tem sido dada a estudos
Segundo o projeto MAI, para a análise da vul-
relacionados com a evolução do litoral e da
nerabilidade, foi utilizado um número reduzido
linha de costa. Segundo Gornitz et al. (2002),
de variáveis, a fim de reproduzir o principal
a vulnerabilidade é o estudo em uma grande
processo de dinâmica de linha de costa local,
extensão territorial e de um volume de dados,
como por exemplo, à susceptibilidade da praia
que considerem como fatores aqueles ligados
em ser impactada pelas taxas de avanço da
diretamente aos processos costeiros.
ocupação, bem como, atual largura da pós-
praia.
Nos estudos realizados pelo projeto MAI sobre
a vulnerabilidade dos municípios do Jaboatão
Os segmentos foram identificados ou classifica-
dos Guararapes, do Recife, de Olinda e do Pau-
dos segundo o seu grau de vulnerabilidade de
lista foi utilizada a linha de costa digitalizada,
baixo a muito alto, bem como, o termo con-
de 1974, bem como a linha de costa do ano de
dicional e não avaliado para o diagnostico do
2008, totalizando um período de 34 anos. A
60

grau de vulnerabilidade. O desenvolvimento do Os segmentos Candeias e Piedade Sul (Ja-


sistema praial pode ser alterado com a influ- boatão dos Guararapes); Casa Caiada III, Rio
ência de edificações em uma de suas regiões, Doce II (Olinda); Enseadinha, Pau Amarelo,
como por exemplo, muitas dessas construções Conceição e Maria Farinha (Paulista) apresen-
se localizam na região da pós-praia, alterando a taram grau de vulnerabilidade alto, indepen-
sua largura e dinâmica. Isto permite que esses dentemente da utilização da zona de interesse
ambientes alterem a sua vulnerabilidade. ou não. Os segmentos que apresentaram baixa
vulnerabilidade nas duas condições foram
Duas projeções foram realizadas pelo projeto Piedade Norte II, Casa Caiada I, Rio Doce IV,
MAI, com a finalidade de identificar o grau localizados no município de Olinda. E outros
de vulnerabilidade das praias em estudo. Na segmentos que apresentaram um alto grau de
primeira projeção, foi desconsiderado o des- vulnerabilidade considerando a zona de interes-
locamento da zona de interesse e a segunda se, como por exemplo, no segmento Barra de
considerando o deslocamento da zona de inte- Jangadas (Jaboatão), Boa Viagem Sul (Recife),
resse. Consta no relatório do projeto MAI, uma Enseadinha Quebra-mar, Nossa Senhora do Ó,
estimativa para a largura da pós-praia de 30m Pontal de Maria Farinha (Paulista).
para os próximos 20 anos.
61
Extensão aproximada dos segmentos (m) considerados para o estudo

Fonte: MAI (2009)

Análise da linha A sua posição resulta da interação entre agen-

de costa tes costeiros tais como ondas, marés e outros.


As modificações na configuração da linha de
costa podem ocorrer em escalas de tempo
A linha de costa corresponde ao limite entre o
variadas: diárias, mensais, sazonais e seculares
continente e o oceano, é uma região dinâmica
(ESTEVES, 2002).
e sofre constantes mudanças em relação ao
continente ou em relação ao oceano. Quando
Em praias arenosas, a linha de costa é utilizada
ela avança em direção ao oceano, fala-se que
pelo homem para diversos fins, destacando
a linha de costa progradou. Se a linha de costa
aqueles de natureza recreacional e turística.
se desloca em direção ao continente, houve
A crescente demanda por tais usos nos mu-
uma retração.
62

nicípios litorâneos induz muitas vezes a um se encontra em uma situação que pode ser
desenvolvimento sem planejamento, desconsi- considerada grave, no que se refere ao pro-
derando a natureza móvel e dinâmica da linha cesso erosivo, tendo em vista que a erosão se
de costa (MAZZER e DILLENBURG, 2009). faz presente na maior parte do litoral, tem se
intensificado e tende a se agravar no futuro
A metodologia utilizada pelo projeto MAI, para (MAI, 2009).
o estudo da linha de costa dos municípios do
Jaboatão dos Guararapes, do Recife, de Olinda Utilizando uma serie temporal de 36 anos, a
e do Paulista foi realizada através do geopro- Coastal Planning & Engineering do Brasil (CPE,
cessamento no programa ArcGiz 9.1. O ano 2011) investigou o deslocamento da linha de
de 1974 digitalizado foi considerado o ano costa, através da posição da linha da berna e
mais antigo e o ano de 2008 o mais recente, onde a linha de costa se encontra fixada por
totalizando um período de 34 anos. O estudo estruturas rígidas, estas foram consideradas
da linha de costa, MAI (2009) foi vetorizada como o indicador. O estudo foi realizado com
em formato shapefile e organizada numa base fotografias áreas do ano de 1974 e as imagens
de dados geográficos (Geodatabase). Segundo do Google Earth® de 2007 e 2010. A área foi
este projeto o deslocamento da linha de costa dividida em quatro setores: (i) Paulista, (ii) Olin-
dos municípios do Jaboatão dos Guararapes, da, (iii) Recife e (iv) Jaboatão dos Guararapes.
Recife, Olinda e Paulista foram os mesmos A taxa de deslocamento da linha foi realizada
seguimentos da zona de interesse, bem como a entre o ano de 1974 e 2007, e entre 1974 e
linha de costa também foi utilizada para saber 2010, e a incerteza associada.
a distancia entre esta linha e a zona de interes-
se para o calculo da vulnerabilidade. Segundo a CPE (2011), em Jaboatão dos
Guararapes, no período entre 1974 e 2007,
Os resultados obtidos nos valores médios para houve progradação da linha de costa ao norte
o deslocamento da linha de costa estão repre- da área, e apresentou um deslocamento posi-
sentados na figura a seguir. Os segmentos que tivo no valor médio de 0,45m/ano. No período
apresentaram os maiores deslocamentos se entre 1974 a 2010, uma variação média de
encontram ao norte e ao sul da área de estudo, 0,47m/ano. Na parte central do município, a
isto pode ser explicado pela presença de um linha de costa se encontra fixada por obras de
maior numero de segmento na parte central da contenção, do tipo enrocamento, bem como o
área que corresponde ao município de Olinda. trecho entre os transectos 124 e 146 mais ao
Exceto no segmento de Casa Caiada I, que sul. Porém, é observada entre as duas obras
apresentou um deslocamento maior para este de contenção uma progradação da linha de
município. A Região Metropolitana do Recife costa, com valores médios de 1,33 m/ano. Para
63
o período entre 2007 a 2010, observa-se uma Foram observados trechos em progradação na
retração da linha de costa entre as obras de zona de sombra dos quebra-mares. Em direção
contenção e ao norte destas. ao sul da área, exceto a praia de Del Chifre, a
linha de costa se encontra fixada por obras de
Segundo a CPE (2011), no Recife, o trecho contenção. Segundo a CPE (2011), a linha de
compreendido entre a praia do Pina e o norte costa da praia de Del Chifre sofreu um proces-
da praia da Boa Viagem, entre o período de so rotacional e apresentou uma retração em
1974 a 2007, a linha de costa progradou em sua direção norte e progradação ao sul.
uma taxa de 0,43m/ano, apresentando-se
estável no segmento seguinte, para o mesmo Segundo a CPE (2011), para o município do
período. Mas ao sul da área a linha de costa Paulista, entre 1974 a 2010, o pontal arenoso
apresentou retração com uma variação média ao norte sofreu progradação (2,22m/ano). A
em torno de 0,55m/ano, bem como, entre partir deste trecho, observa-se uma retração da
2007 e 2010, no valor médio de 4,00m/ano. linha de costa, a partir de 1974 (0,26m/ano).
No extremo sul, a linha de costa se apresentou Esse mesmo seguimento se apresenta estável,
estável. entre 2007 e 2010. Na direção sul do muni-
cípio, a linha de costa apresentou variações
Entre o ano de 1974 e 2007, em Olinda, ao de progradação e retrogradação, causando
norte da área, a linha de costa sofreu retração avanços e recuos. Do centro em direção ao sul,
até ser fixada por obras de contenção, apre- a linha de costa, encontra-se fixada por obra de
sentado uma variação média de 13,32m (CPE, contenção. Para o período entre 2007 a 2010,
2011), exceto próximo a desembocadura do rio a maior progradação também ocorreu ao norte
Paratibe. Onde a linha de costa não foi fixada, da área e uma retração é evidenciada nos últi-
apresentou uma progradação em torno de mos transectos devido à fixação do rio Paratibe.
0,35m/ano.
64

Resultados dos valores médios do deslocamento da linha de costa para


os municípios do Jaboatão dos Guararapes, Recife, Olinda e Paulista

Fonte: MAI (2009)

Perfis topo- tria usada para a modelagem numérica das


condições atuais e alternativas (CPE, 2011). O

batimétricos quadro a seguir faz um resumo por trecho de


praia x comprimento x espaçamento x números

Segundo CPEB (2011), os resultados obtidos de perfis. O gráfico ilustra um exemplo de uso

na medição dos perfis topo-batimétricos ao de dados topo-batimétricos complementados,

longo da Região Metropolitana do Recife foram neste caso para um perfil de Jaboatão dos Gua-

complementados com os dados fornecidos pela rarapes. Em vermelho, a linha representando o

SECTMA e UFPE coletados durante a execução que foi medido pela CPE (2010). No caso algu-

dos projetos MAI (2009) e MAPLAC (2010). Os ma porção do perfil não medida, usou-se dados

procedimentos adotados garantiram a cober- complementares dos perfis medidos durante os

tura de dados com alta exatidão para toda a projetos MAI (2009) e MAPLAC (2010).

área estudada, onde os perfis serviram para o


desenvolvimento das alternativas de projetos de
engenharia, e para a interpolação da batime-
65
Perfis Topo-Batimétricos

Trecho de Praia Comprimento(m) Espaçamento(m) Número de Perfis Observações


Boa Viagem 6000 300 20 Praia aberta sem
estruturas com muros de contenção
e enrocamentos
Del-Chifre ao início 1700 300 6 Praias com
dos espigões espigões e quebra-mares
de Olinda
Espigões de Olinda 1900 300 6 Praia com diversos
espigões curtos
Longos 4100 300 14 Praia com muitos
quebra-mares quebra-mares
(Olinda)
Janga a Pau Amarelo 2500 300 8 Praia aberta convexa
(Paulista) com recife. Erosão
acentuada
Marinha Farinha 1800 300 6 Área próxima a
(Paulista) (Paulista)
desembocadura do rio Timbó

Definição e pro- dos quais podemos obter a altura significativa,


período de pico e direção como uma relação

pagação do re- do espectro, que descreve o cenário geral

gime de ondas das condições de onda em um determinado


momento. Porém, o espectro é composto mais
detalhadamente, com energia de ondas for-
No presente estudo é apresentado o procedi-
madas por ventos locais em uma determinada
mento adotado para obtenção da onda, o qual
região e grupos de ondas originários de locais
envolve a geração e análise de dados de ondas
afastados, que se unem aos ventos locais desta
em águas profundas, propagação de ondas
região para compor a totalidade de energia
em águas rasas através do emprego de mode-
contida em um espectro. Desta forma, quan-
lo numérico. Para isso, utilizaram-se modelos
do se caracteriza um clima de ondas de uma
de onda, como o WAVEWATCH III ou WWIII
região, é necessário ter conhecimento de suas
(TOLMAN, 2002) desenvolvido pela NOAA/
características de formação.
NCEP (National Ocean and Atmosphere Ad-
ministration/National Centers of Environmental
Os dados utilizados para análise e caracteriza-
Prediction). É um modelo espectral, que simula
ção do regime de ondas em águas profundas,
processos de geração e propagação de ondas
obtido a partir do modelo WWIII, foram extra-
em águas profundas, com base em dados
ídos do elemento da grade de cálculo situado
66

nas coordenadas 8°S e 034°W (Datum SIR- Dados analisados pelo MAI (2009) apresentam
GAS-2000), a uma profundidade de aproxima- séries temporais obtidas para a área de estudo
damente 2000m, para o período compreendido com ondas de gravidade com alturas significati-
entre 30 de janeiro de 1997 e 1º de março de vas médias de 0,60 a 0,97m nas áreas cos-
2010, com dados a cada três horas. Dados teiras de Jaboatão dos Guararapes, do Recife
analisados permitem concluir que as ondas e de Olinda e de 0,27 a 0,29m no Paulista.
de águas profundas são predominantemente Os períodos significativos das ondulações nos
provenientes de direções entre NNO e SSO municípios analisadas variaram entre 5,1 e 6,8
(98,3% dos registros), com alturas de onda va- segundos. As maiores ondulações ocorreram
riando entre 0,5 e 4,3m e períodos de 3 a 22s. na região do Recife, com Hs de 1,57 no perío-
do de ventos mais intensos.

Exemplo de uso de dados topo-batimétricos complementados, (um


perfil de Jaboatão dos Guararapes, PE). Em vermelho está representado
o que foi medido pela CPE (2010).

Fonte: CEPB,2011
67
Perfis topo-batimétricos medidos em Recife, PE. Coordenadas em
metros UTM. Imagem: Google Earth

Fonte: CEPB,2011

Fotografia da embarcação Loba do Mar II, utilizada no levantamento


batimétrico

Fonte: CEPB,2011
68

Calibração para É necessária a calibração do modelo para

modelagem se obter sucesso na modelagem costeira. O


processo de calibração de um modelo numé-

numérica rico consiste na escolha dos parâmetros mais


adequados de modo a aproximar os resultados

A maior parte dos problemas de erosão costeira simulados dos medidos. A modelagem através

tem sua causa relacionada à perda sedimen- de simulação numérica tem-se mostrado de

tar em longa escala de tempo, que por sua elevada importância no campo da investigação,

vez está relacionada à mudança na fonte de previsões e soluções para problemas dentro do

sedimento, ou a mudanças na orientação da ambiente marinho.

costa devido a construções (LIMA, 2008). Esse


problema é comum em cidades modernas ou O uso de modelos numéricos possibilita que,

de veraneio que tiveram sua linha de costa depois da calibração em um único (ou alguns

modelada pelo uso de muros de contenção de- pontos), possamos extrapolar as informações

vido à ocupação costeira (BLACK AND MEAD, para todo o domínio de cálculo. O processo de

2001). O problema fundamental, nestes casos, calibração foca na comparação entre os resul-

é o desequilíbrio entre a orientação da linha de tados do modelo e observações de campo, de

costa em relação à orientação média da direção forma que quanto melhor o ajuste entre estes

de ondas, a qual governa a direção das corren- valores, melhor o resultado fornecido pelo mo-

tes ao longo da costa. São estas correntes as delo (COASTAL PLANNING & ENGINEERING,

responsáveis pelo transporte de sedimento que 2010).

ocasiona a erosão.
O processo de calibração do modelo numérico

Uma ferramenta utilizada para o entendimento Delft3D envolveu comparações entre dados de

de sistemas costeiros é a modelagem numéri- marés, ondas e correntes medidos em campo e

ca. A ideia da modelagem numérica pode ser simulados. As séries temporais foram medidas

entendida como a tentativa de explicar nume- entre o período de 29 de julho de 2009 e 13 de

ricamente o comportamento ou característica agosto de 2009 e obtidas no âmbito do proje-

de um determinado sistema, permitindo-nos to PROCOSTA (2010). Foram utilizados dois

dizer se a forma de se tratar um determinado ondógrafos/marégrafos/correntógrafos InterO-

sistema é a mais adequada. A ferramenta é cean S4ADWi, com frequência de amostragem

extremamente útil.
69
de 2Hz, operando em modo intermitente com da simulação foram feitas para dois pontos
aquisição de 30 minutos de dados em inter- diferentes em frente à praia de Boa Viagem, no
valos de uma hora. Os equipamentos foram Recife. Verifica-se a posição em planta, pro-
fundeados a 1m de distância do fundo do fundidade e esquema de fundeio dos sensores
mar (COASTAL PLANNING & ENGINEERING, fundeados nos pontos cujos dados levantados
2011). foram utilizados para calibração (BVE e BVI) e
As comparações das simulações com os dados também para os pontos cujos dados não foram
de nível do mar, ondas e correntes ao longo utilizados (CANE, CANI e foz do rio Jaboatão).

Em sentido horário, da esquerda para a direita: localização do fundeio dos sensores S4 na área
do estudo BVI – BVE: praia de Boa Viagem; CANI – CANE: praia de Candeias; FOZ: foz do rio
Jaboatão e os respectivos valores de profundidades (m) de cada estação. Esquema demonstrando a
profundidade e configuração de fundeio dos equipamentos.

Fonte: PROCOSTA (2010).


70

Modelagem mento (conservação do momento), na equação


de continuidade, equações de transporte para

com Delft3D constituintes conservativos e um modelo de


fechamento turbulento. A equação vertical de

A calibração do modelo numérico Delft3D en- conservação do momento é reduzida à rela-

volveu comparações com os dados de marés, ção de pressão hidrostática e as acelerações

ondas e correntes medidos em campo, para verticais são assumidas como sendo pequenas

dois pontos diferentes em frente à praia de Boa em relação à aceleração da gravidade. Isso faz

Viagem, no Recife (Coastal Planning & Engine- com que o Delft3D-FLOW seja adequado para

ering, 2011). São descritas as calibrações de a predição de fluxos em mares rasos, áreas

marés, ondas e correntes no modelo numéri- costeiras, estuários, lagos, rios e lagoas.

co utilizado. Uma breve descrição é dada ao


modelo numérico Delft3D, desenvolvido pela O modelo SWAN é baseado na equação de

Deltares®, em Delft, Holanda, e seus módulos, conservação da ação de onda e é espectral

assim como o módulo hidrodinâmico Delft3D- (em todas as direções e frequências). Isso

FLOW, o modelo de propagação de ondas significa que um campo de ondas de cristas

SWAN, o módulo morfológico Delft3D-Mor, curtas, randômico, propagando-se simultanea-

assim como as grades numéricas e batimetria mente a partir de diferentes direções, pode ser

utilizados ao longo da costa. bem representado. O SWAN calcula a evolu-


ção de um campo de ondas de cristas curtas

Para este trabalho foi utilizado o Delft3D. Este randômico, em águas profundas, intermediá-

modelo constitui-se em um avançado sistema rias e rasas, assim como em ambientes com

de modelos numéricos 2D/3D (duas ou três di- presença de correntes (e.g. desembocaduras).

mensões) composto de diversos módulos para O modelo calcula os processos de refração

a simulação de processos costeiros complexos, provocados por correntes ou por mudanças

tais como geração e propagação de ondas, cir- na profundidade e representa os processos de

culação hidrodinâmica, transporte de sedimen- geração de ondas pelo vento, dissipação por

tos e mudanças da morfologia. whitecapping (“carneirinhos”), fricção com o


fundo e quebra induzida pela profundidade,

O módulo hidrodinâmico Delft3D-FLOW resolve assim como interações não-lineares onda-onda

um sistema de equações de águas rasas em (quadruplets e triads), explicitamente, com as

modo bidimensional (ou integrado em vertical) formulações que representam o “estado da

ou tri-dimensional. O sistema de equações arte” em modelagem de ondas. Ondas bloque-

consiste nas equações horizontais de movi- adas por correntes são também representadas
explicitamente no modelo.
71
As grades numéricas determinam a resolução e ecobatímetro e utilizaram a mesma metodo-
delimitam as células de cálculo do modelo. As logia. Além dos levantamentos batimétricos
propriedades e características variam, portan- realizados durante os projetos MAI (2009) e
to, de acordo com o objetivo proposto, tipo de MAPLAC (2010), em 2010, a CPE realizou
modelagem aplicada e com a área de estudo. um levantamento batimétrico da praia média,
Foram criadas três grades numéricas para antepraia e plataforma interna de Jaboatão dos
realizar a calibração do modelo. Guararapes. Esses dados foram coletados com
o objetivo de subsidiar a elaboração do projeto
Os levantamentos batimétricos (hidrográficos) conceitual de recuperação da orla do muni-
na área de estudo foram apresentados como cípio. Maiores detalhes sobre o levantamento
resultados nos relatórios dos projetos MAI batimétrico podem ser encontrados em Coastal
(2009) e MAPLAC (2010). Ambos os levan- Planning & Engineering (2011).
tamentos foram realizados com emprego de

Grades numéricas aninhadas: R - Grade regional (branco). I – Grade intermediária (Azul). L – Grade
local (vermelho). As grades foram utilizadas na modelagem e calibração dos modelos. Datum WGS
84, projeção UTM, zona 25 S, coordenadas em metros. Imagem: Google Earth ®.

Fonte: Coastal Planning & Engineering (2011).


72

Modelagem do O CPEB (2011) elaborou um modelo acoplado


aos módulos Delft3D-FLOW e Delft3D-WAVE

cenário atual para avaliar a propagação de ondas e o sistema


de correntes gerado nos quatro municípios.
Foram realizadas medições nos doze tipos de
Na faixa costeira, entender os processos hidro-
onda previamente escolhidos, em três níveis de
dinâmicos constitui atividade indispensável à
maré, preamar média de sizígia (maré de lua
ocupação, uso e intervenção. Todas as ações
cheia ou nova), nível médio e baixa-mar média
nesses ambientes essencialmente complexos e
de sizígia. As forçantes foram originadas nos
dinâmicos devem ser minuciosamente estu-
tensores de radiação computados pelo modelo
dadas e testadas. Essas raras paisagens e de
SWAN (CPEB, 2011).
variados ecossistemas merecem o máximo de
atenção para que sua manutenção e diversida-
O CPEB (2011) acoplou módulos Delft3D-WA-
de sejam conservadas.
VE, Delft-3D-FLOW e Delft3D-MOR na análise
do transporte de sedimentos e de mudanças
O levantamento dos processos hidrodinâmicos
morfológicas. Foram utilizados, nessa simula-
das orlas dos municípios de Jaboatão dos Gua-
ção, forçantes a maré morfológica e dos doze
rarapes, do Recife, de Olinda e do Paulista foi
casos representativos do clima de ondas. Cada
realizado a partir de dados indiretos obtidos de-
tipo de onda foi simulado em três ciclos de
pois de revisão bibliográfica, cartográfica e do-
maré. Foram registrados, como resultado, os
cumental. Os estudos encontrados se baseiam
campos de correntes geradas tanto pela varia-
principalmente em dois modelos: o de ondas,
ção de marés quanto pelas ondas, para aferir
avaliando a hidrodinâmica e o de transporte de
o transporte de sedimentos. Nesse modelo,
sedimentos, contendo simulação de orientação
utilizou-se sedimentos na fração 0,3mm, em
dos fluxos e direções do transporte de sedi-
amostras previamente coletadas. Com base em
mentos pelas mesmas. Esses estudos foram
imagens aéreas, foram delimitadas as áreas
realizados em três níveis de maré (MHHW, MSL
com presença de arrecifes expostos, definidas
e MLLW), utilizando doze modelos de ondas e;
no modelo como área sem sedimentos dispo-
modelo da Morfologia e transporte de Sedimen-
nível para os processos erosivos. Desse mesmo
tos, mudanças morfológicas, correntes, trans-
modo, foram identificadas e classificadas as
porte de sedimentos e processos de ondas.
áreas com estruturas antropogênicas (e.g. es-
Na aplicação desses modelos CPEB (2011),
pigões, quebra-mares e enrocamentos). Para o
adotou períodos de estabilização (spin-up time)
calculo das alterações morfológicas, utilizou-se
cerca de 745 minutos (um ciclo de maré semi-
os fluxos de erosão e deposição em cada célula
diurna) (CPEB, 2011).
da grade multiplicas pelo fator de aceleração
73
morfológica (morfac) para cada caso de onda. ondas. As ondas vindas de leste geram corren-
Os resultados foram apresentados de forma tes longitudinais próximas à praia no sentido
esquemática de 1 e 5 anos respectivamente. de norte para sul. Já nas ondas proveniente do
quadrante sul-sudeste, a corrente longitudinal
Os resultados obtidos por CPEB (2011), em paralela à praia apresenta sentido de sul para
Jaboatão dos Guararapes, mostram que a norte. Na baixa-mar, as ondas quebram mais
variação do nível de maré influencia significati- afastadas da costa, devido a menor profundida-
vamente a propagação de ondas e campos de de dos arrecifes offshore.
correntes geradas por ondas. Durante a baixa-
mar, as ondas quebram nos arrecifes, locali- Os mapas batimétricos mostram a existência de
zados a offshore, emersos, onde grande parte uma região com característica deposicional no
da energia é dissipada. Nos períodos de maré extremo sul da praia de Boa Viagem. Ao norte,
intermediária, parte das ondas não quebra a praia apresenta erosão da porção subaérea
sobre os arrecifes, atingindo a praia, principal- e deposição na antepraia, onde o transporte
mente onde os mesmos são mais rebaixados residual possui sentido sul norte bem próximo
ou nem existem. à costa. Os padrões de erosão e deposição são
semelhantes nos resultados de 1 e 5 anos, com
Ao analisar os mapas de batimetria inicial e maior magnitude na simulação de 5 (CPEB,
final, juntamente com os de erosão/sedimen- 2011).
tação, é possível observar que a praia de Barra
de Jangada, a norte da foz do rio Jaboatão, Em Olinda, os resultados apresentados por
apresenta erosão na porção subaérea do perfil CPEB (2011) mostram que o nível da maré
e deposição em sua porção subaquosa, praia influencia significativamente a propagação de
estável, com tendência deposicional em alguns ondas e os campos de correntes geradas por
pontos. Quando analisado o modelo de 5 anos, onda. Na maré baixa, os arrecifes localizados
essa tendência a deposição passa de alguns mais distantes da costa influenciam a quebra
pontos para uma área bem maior (CPEB, de ondas e dissipam grande parte da energia.
2011). Na maré alta (nível médio de maré e nível
médio de preamar), a quebra de ondas ocorre
Para o Recife, os resultados obtidos por CPEB mais próxima à costa.
(2011) mostram que as mudanças de maré
tem tido efeito significativo na quebra de ondas Na costa do Paulista, os resultados por CPEB
e no campo de correntes gerado por elas. A (2011) indicam que a variação de maré tam-
configuração de mar prolongado também vem bém influencia fortemente na quebra de ondas.
influenciando os padrões de circulação de Na maré baixa, os arrecifes que estão na região
74

offshore ficam mais rasos, fazendo com que bactérias do grupo coliforme na água para de-
ocorra uma dissipação da energia de onda na terminar essa qualidade. Apesar de não serem
área mais afastada da costa. Na maré alta, a patogênicos, a presença dos coliformes indica
quebra ocorre na praia ou quebra-mares da a ocorrência de poluição de origem humana ou
praia do Janga. A configuração morfológica e animal, o que pode significar a existência de
feições batimétricas dos recifes criam correntes outros microorganismos danosos.
perpendiculares à linha de costa. Essas fei-
ções, por sua vez, sofrem influência do nível de A Resolução do CONAMA nº 247/00 dá orien-
maré, sendo um pouco mais intensas quando tações sobre como essas análises devem ser
da maré alta (CPEB, 2011). feitas e classifica as águas como Próprias ou
Impróprias, de acordo com a densidade de co-
Em toda a extensão da linha de costa, entre liformes fecal, E. coli e Enterococos. As águas
a praia de Nossa Senhora da Conceição e o Próprias podem ser subdivididas nas categorias
pontal de Maria Farinha, predomina um caráter Excelente, Muito boa ou Satisfatória. A classi-
erosivo, tanto na simulação de um ano quanto ficação Imprópria indica um comprometimento
de cinco anos. O transporte de sedimentos é na qualidade sanitária das águas, porém, uma
no sentido norte, intensificado na porção sul, praia pode entrar nessa classificação mesmo
na praia de Nossa Senhora da Conceição, e ao com baixos níveis de coliformes, em situações
sul do rio Timbó, no pontal de Maria Farinha como presença de óleo, maré vermelha ou
(CPEB, 2011). Em toda a costa dos quatro mu- doenças de veiculação hídrica.
nicípios, a propagação de onda e transporte de Em Pernambuco, a CPRH é a responsável pelo
sedimentos são fortemente influenciados pela monitoramento da balneabilidade das praias
variação de maré e pela presença de estruturas e realiza coletas todas as segundas-feiras, em
de dissipação e quebra da energia de onda, locais pré-determinados, escolhidos em função
que também oferecem barreira ao transporte da frequência do público e proximidade com
de sedimentos. adensamentos urbanos. As amostras são leva-
das ao laboratório e analisadas utilizando o mé-

Balneabilidade todo Determinação do Número Mais Provável


(NMP), que estima a densidade de bactérias. O
das praias monitoramento permite informar os locais com
melhores condições de uso pelos banhistas,
A balneabilidade trata da qualidade das águas assim como a sua frequência permite traçar os
destinadas ao contato primário, onde são rea- perfis de balneabilidade das praias.
lizadas atividades como natação, mergulho e O monitoramento semanal realizado pela CPRH
esportes aquáticos. São analisados os níveis de permite atualizar os usuários das praias quan-
75
to às melhores áreas para fins de recreação, estando disponíveis para toda a população. A
sendo que a médio/longo prazo, é possível tabela a seguir exemplifica os dados de classifi-
traçar um perfil mais confiável da qualidade cação dos pontos de monitoramento segundo a
das águas nos locais específicos. Os resultados CPRH, durante a semana de 16 a 22/12/2011.
das análises são publicados no site da CPRH,

Condições das praias dos municípios de Jaboatão dos Guararapes,


Recife, Olinda e Paulista, durante a semana de 16 a 22/12/2011.

ESTAÇÃO PRAIA CLASSIFICAÇÃO

JABOATÃO DOS GUARARAPES


JAB-10 Barra de Jangada PRÓPRIA
JAB-20 Candeias PRÓPRIA
JAB-30 Candeias PRÓPRIA
JAB-40 Candeias IMPRÓPRIA
JAB-50 Piedade PRÓPRIA
JAB-60 Piedade PRÓPRIA
JAB-70 Piedade PRÓPRIA
JAB-80 Piedade PRÓPRIA

RECIFE
REC-10 Boa Viagem PRÓPRIA
REC-20 Boa Viagem PRÓPRIA
REC-30 Boa Viagem PRÓPRIA
REC-40 Boa Viagem PRÓPRIA
REC-50 Boa Viagem PRÓPRIA
REC-60 Boa Viagem PRÓPRIA
REC-70 Pina PRÓPRIA
REC-80 Pina IMPRÓPRIA

OLINDA
OLD-10 Milagres PRÓPRIA
OLD-20 Carmo PRÓPRIA
OLD-30 Farol PRÓPRIA
OLD-40 Bairro Novo PRÓPRIA
OLD-50 Bairro Novo IMPRÓPRIA
OLD-60 Casa Caiada IMPRÓPRIA
OLD-70 Casa Caiada IMPRÓPRIA
OLD-80 Casa Caiada PRÓPRIA
OLD-90 Rio Doce PRÓPRIA
OLD-97 Rio Doce PRÓPRIA

PAULISTA
PAL-10 Janga IMPRÓPRIA
PAL-20 Janga PRÓPRIA
PAL-30 Pau Amarelo IMPRÓPRIA
PAL-33 Conceição IMPRÓPRIA
PAL-40 Maria Farinha IMPRÓPRIA

Fonte: www.cprh.pe.gov.br
5
76

Como se apresenta o
meio biótico na área do
empreendimento?
Flora aquática
Os estudos relativos à composição da comunidade de microalgas planc-
tônicas (fitoplâncton), na Área Diretamente Afetada, são poucos princi-
palmente na zona de arrebentação. O fitoplâncton é o principal produtor
primário dos ambientes costeiros, responsável pelo início do fluxo de
matéria e energia da rede trófica destes ambientes, contribuindo para a
sua fertilização, sustentando diretamente os herbívoros e indiretamente
os animais dos níveis tróficos superiores, incluindo espécies economica-
mente importantes. A composição dessa comunidade é influenciada pelas
variações do nível das marés, bem como da contribuição dos estuários.
No diagnóstico realizado, a baixa riqueza de táxons (24) não condiz com
estudos dessa natureza para os locais amostrados.

Os grupos registrados (clorofíceas, diatomáceas, dinoflagelados e ciano-


bactérias) foram citados em levantamentos anteriores, mas não foram
registrados nas análises qualitativas. Um estudo considerando uma malha
amostral que contemple um maior número de estações, com as regiões
estuarinas incluídas, necessita ser realizado para o entendimento de como
o empreendimento afetara a comunidade fitoplanctônica nas praias e estu-
ários localizados na ADA e AID. Outro aspecto importante é considerar as
variações de maré e sazonalidade, observando a influência do continente
para a composição de espécies.

O perifiton é uma complexa comunidade de microrganismos (algas,


bactérias, fungos e animais), detritos orgânicos e inorgânicos aderidos a
substratos inorgânicos (rochas, conchas) ou orgânicos vivos ou mortos.
Rico em proteínas, vitaminas e minerais, constitui importante alimento
77
para muitos organismos aquáticos. Sua quali- realizada somente uma única vez. Porém, fica
dade alimentar é determinada pela composição evidenciada, em nível de Divisão, a presen-
dos grupos de algas dominantes, influenciando ça das três principais Divisões no ambiente
a produção secundária e o fluxo de energia dos aquático marinho (Cyanobacteria, Rhodophyta
micro-organismos consumidores. e Chlorophyta), representadas por espécies
cosmopolitas que pouco diferiam entre os
Com a efetiva participação na reciclagem de substratos. Neste caso, as diferenças florísticas
nutrientes inorgânicos, quase toda produção existentes entre os dois substratos analisados
fotossintética é mineralizada continuamente no poderiam estar relacionadas mais às desigual-
biofilme perifítico. As macrolagas Dictiopterys dades arquitetônicas dos dois hospedeiros, do
sp. (Paheophyceae) e Caulerpa sertularioides que às mudanças ambientais, que apresentam
(Chlorophyceae) foram eleitas como substrato, pequenas variações em todo litoral do Estado.
por apresentarem ampla distribuição e abun- Portanto, o monitoramento, em longo prazo,
dância no litoral de Pernambuco, nas praias deve trazer informações mais precisas sobre
do Cabo de Santo Agostinho, de Jaboatão dos a dinâmica desta comunidade, pois as micro-
Guararapes, do Recife e de Olinda. Foram algas têm uma alta taxa de reprodução em
identificadas 10 taxa de microalgas epífitas nos curtíssimo intervalo de tempo, favorecendo-as
dois substratos, sendo um baixo número de como indicadores rápidos da qualidade am-
espécies, devido a amostragem ter sido biental da região onde habita.

Bellerochea sp.

Fonte: ITEP-OS/UFQB
78

Licmophora abbreviata

Fonte: ITEP-OS/UFQB

Chaetoceros sp.

Fonte: ITEP-OS/UFQB
79
Aspecto geral de Ceratium sp.

Fonte: ITEP-OS/UFQB

Entre os organismos bentônicos, aqueles que dos ambientes. É fundamental o monitoramento


vivem no sedimento, podem ser encontrados dessas plantas tanto durante as obras como
representantes da flora, além de animais. Na depois do engordamento das praias uma vez
área do empreendimento, foram registradas que a manutenção dos bancos destas plantas
três espécies de angiospermas marinhas, podem ser benéficas para o empreendimento,
alimento preferencial do peixe-boi, nas praias por ajudarem na manutenção do sedimento na
do Paulista e de Piedade, além de áreas mais área.
afastadas da costa no Recife e no Cabo de
Santo Agostinho. Destaca-se a presença da Importante produtor primário, as macroalgas
espécie Halophila baillonis que ocorre, no bentônicas tiveram registradas em literatura
Brasil, exclusivamente nas Áreas de Influência mais de 100 espécies na área do empreen-
Direta e Indiretas do empreendimento. Embora dimento, contudo, nas amostragens inicias
as angiospermas marinhas não apresentem um apenas 30 espécies foram identificadas. São
número representativo de espécies, sua impor- necessários maiores esforços de inventário de
tância econômica, ecológica e biológica é alta, espécies e seu monitoramento, uma vez que
sendo consideradas “engenheiras de ecossis- esses organismos podem ser utilizados como
temas”, por terem a capacidade de modificar bioindicadores. Atualmente, por exemplo,
as condições hidrológicas, físicas e geológicas foram encontradas várias espécies que indicam
80

áreas eutrofizadas (com muitos nutrientes), o Apesar de não estarem na área diretamen-
que pode ser alterado durante e depois das te afetada pela obra, encontramos na área
obras propostas. Nas áreas de dragagem, manguezais. Nessa área se encontram um
foram identificados bancos de rodolitos, algas dos maiores manguezais em área urbana do
calcárias compostas basicamente por carbo- mundo, localizado no complexo estuarino dos
nato de cálcio e de magnésio, que apresentam rios Pina, Jordão e Tejipió, além dos mangue-
importância econômica, por sua utilização na zais dos estuários do rio Jaboatão e do canal de
agricultura, potabilização de água para consu- Santa Cruz. Os manguezais desempenham fun-
mo humano, indústria de cosméticos, implan- ção prioritária na estabilidade da geomorfologia
tes em cirurgia óssea, aquariofilia e nutrição costeira, na conservação da biodiversidade e
animal. Esses bancos devem ser mapeados na manutenção de amplos recursos pesqueiros
imediatamente, até porque eles não servem aos devendo, assim, ser monitorados para garantia
fins de engordamento de praia devido a sua de sua conservação e de toda fauna e flora
alta taxa de carbonato. dependente.

Aspecto de um prado de Halophila decipiens com destaque a fauna


acompanhante

Fonte: //http: home.coqui.net/


81
Aspecto da angiosperma Halophila baillonis

Fonte://http: aquaportail.com/

Gracilaria sp., Rhodophyta

Foto: Cacilda Rocha (25/11/2011)


82

Sargassum sp., Heterokontophyta

Fonte://http: aquaportail.com/

Fauna aquática partir da análise dos resultados obtidos no pre-


sente estudo, bem como uma breve síntese do
estado atual de conhecimento científico, foram
O zooplâncton consiste em uma parcela da bio-
identificadas expressivas lacunas, na região em
ta marinha composta por vários representantes
questão, quanto aos estudos sobre a comuni-
heterótrofos (aqueles que não possuem a capa-
dade zooplanctônica de ambientes costeiros
cidade de produzir seu próprio alimento). Eles
não estuarinos. O presente estudo consiste em
desempenham importante papel na transfe-
um dos primeiros levantamentos da composi-
rência da energia das microalgas planctônicas
ção e estrutura desta comunidade em vários
para elos superiores das teias alimentares mari-
trechos da área do empreendimento.
nhas. Por essa razão, esses pequenos animais
são grupos-chaves na caracterização ambiental
Foram registrados 50 táxons zooplanctônicos,
de quase todos os ecossistemas aquáticos,
todos típicos de regiões costeiras marinhas e
servindo como bioindicadores da qualidade
estuarinas brasileiras. Algumas áreas estuda-
ambiental em curta e longa escalas de tempo.
das apresentaram vários grupos meroplanctô-
O monitoramento da comunidade zooplanctô-
nicos, tais como larvas de medusas, planárias,
nica é essencial para um manejo adequado de
moluscos, poliquetos, decápodes, cirripédios,
ambientes aquáticos, em todas suas escalas. A
ascídias e peixes, além de alguns organismos
83
ticoplanctônicos (foraminíferos, copépodes caduras dos diversos estuários que deságuam
harpacticóides da meiofauna, além de isópodes nesta área do empreendimento, de modo a
e anfípodes, que vivem associados à vegetação manter o equilíbrio nos ecossistemas. Espécies
aquática) de importantes ecossistemas bentô- e grupos típicos de tais ambientes podem servir
nicos. como bioindicadores, a curto e longo prazos,
da manutenção dessa dinâmica oceanográfica
Especial atenção deve ser dada à manutenção costeira. Nesse caso, é extremamente necessá-
da dinâmica das massas d’água costeiras que rio um acompanhamento desses táxons indica-
banham os recifes costeiros, os bancos de dores da qualidade ambiental durante todas as
macrófitas e as áreas adjacentes às desembo- etapas de consolidação do empreendimento.

Nauplius de Copepoda, típico de regiões costeiras tropicais de


Pernambuco.

Foto: Cacilda Rocha (25/11/2011)

Os organismos que compõem o ambiente ben- constituem a meiofauna são de grande impor-
tônico têm sido amplamente utilizados como tância, pois desempenham papel fundamental
bioindicadores, uma vez que estão intimamente na teia alimentar. Participam como elo entre os
associados a ele, respondendo a vários tipos de recursos basais (detritos e algas) e os peixes,
alterações naturais e antropogênicas. Dentre os além de que, sua diversidade, junto com os
organismos que ocorrem no sedimento, os que fatores abióticos, é um fator relevante para o
84

estudo desses ambientes. Com base nos resul- apresentam as melhores condições ambientais,
tados obtidos no estudo, a meiofauna das áreas com dominância de Copepoda Harpacticoi-
estudadas não foge aos padrões encontrados da, que é indicador de ambiente com pouca
para outras áreas, tais como do estuário do rio influência de matéria orgânica, detrito. Porém,
Jaboatão (Silva 1997), canal de Santa Cruz somente um monitoramento de longo prazo,
(Da Rocha, 1991), Pina e Boa Viagem (Silva, contemplando coletas nos diferentes períodos,
1997), onde os grupos mais representativos seco e chuvoso, e nos diferentes habitats (praia
são Foraminifera, Nematoda e Copepoda Har- e estuário) trará informações mais precisas
pacticoida. É possível observar que há alguns sobre as flutuações e o funcionamento dessa
pontos com baixa diversidade, como é o caso comunidade que é de fundamental importância
de Jaboatão dos Guararapes e de Boa Viagem, para o conhecimento da qualidade do sedi-
porém tal aspecto pode estar relacionado com mento e na transferência de energia no ecos-
a flutuação sazonal normal, com a disponibi- sistema.
lidade de matéria orgânica, granulometria ou
pode estar refletindo um ambiente com certo
grau de impacto. Das áreas estudadas,
os pontos localizados na praia do Paulista

Macho do Copepoda Parvocalanus crassirostris, espécie muito comum


no litoral de Pernambuco

Fonte: Xiomara F. García-Díaz


85
Fêmea do Copepoda Oithona hebes – espécie muito comum no litoral
de Pernambuco

Fonte: Fernando F. Porto Neto

Fêmea ovada do Copepoda Euterpina acutifrons – espécie muito comum


no litoral de Pernambuco.

Fonte: Xiomara F. García-Díaz


86

Imagem de
representantes do Filo Imagem de representante do Imagem de representante da
Foraminifera Filo Nematoda Ordem Harpacticoida

Fonte: http://migre.me/7F0vW

Vários motivos justificam o interesse pelo co- 3.023,94 ind.m2 na praia protegida do Pau-
nhecimento da fauna de praias. Muitas espé- lista. Não foram encontrados organismos na
cies têm importância econômica direta, como praia exposta estudada no Recife, município
os crustáceos e moluscos utilizados na alimen- no qual foram encontradas as menores densi-
tação humana ou como isca para pesca. A dades durante o estudo. Observou-se também
esses são somados os poliquetas, que também que as maiores densidades foram encontradas
constituem rica fonte de alimento para alguns nas praias protegidas em todos os municípios
organismos, principalmente peixes, crustáce- analisados.
os e aves (AMARAL et al., 1994). Além disso, No total das amostras da área de jazida foram
diversos estudos têm demonstrado a relevância encontrados 841 organismos de 31 táxons
da utilização de comunidades bentônicas na diferentes. Em termos de grandes grupos
avaliação da qualidade ambiental. taxonômicos, Polychaeta foi o mais abundante
(37,81%), seguido por Crustacea (21,40%),
As análises das amostras das praias de Jabo- Mollusca (21,05%), Sipuncula (10,46%) e
atão dos Guararapes, do Recife, de Olinda e Echinodermata (9,27%).
do Paulista revelaram a ocorrência dos tá-
xons Crustacea Isopoda, Nematoda, Mollusca Dos 31 táxons encontrados, Bivalvia foi o único
(Bivalvia, Gastropoda, Scaphopoda), Polycha- constante com quase 87% de frequência de
eta e Sipuncula, tendo Sipuncula (47,54%) ocorrência, enquanto que Gammaridea, Ophiu-
apresentado a maior abundância, seguido por roidea, Polychaeta, Sipuncula e Scaphopoda
Polychaeta (20,77%) e Nematoda (15,85%). foram muito frequentes, e Paguroidea, Gastro-
Os demais grupos foram responsáveis por poda, Isopoda e Portunus sp foram comuns. Os
15,85% do total. outros 21 táxons foram considerados raros na
área estudada.
A densidade total variou de 31,83 ind.m2 na
praia exposta de Jaboatão dos Guararapes a
87
Os resultados obtidos podem estar relacionados Também merecem destaque a crescente espe-
com a variação espaço-temporal, com a dinâ- culação imobiliária, a mineração com retirada
mica do ambiente ou podem estar refletindo de areia das praias e dunas, e o crescimento
um ambiente impactado. As praias dos muni- explosivo e desordenado do turismo sem qual-
cípios estudados vêm sofrendo uma crescente quer planejamento ambiental e investimentos
descaracterização em razão da ocupação em infraestrutura.
desordenada.

Paractaea r. nodosa (Stimpson, 1860). Inachoides forceps A. Milne-Edwards, 1879.


Macho em vista dorsal. Marca=0,5mm Macho em vista dorsal. Marca=1mm.

Foto: Petrônio A. Coelho Filho

Pelia rotunda A. Milne-Edwards, 1875. Sicyonia typica (Boeck, 1864).


Macho em vista dorsal. Marca=0,5mm. \Marca=1mm.

Foto: Petrônio A. Coelho Filho


88

Na área afetada pelo empreendimento, o substrato consolidado está representado por ambientes
recifais. São entendidos como ambientes recifais aqueles ecossistemas de substrato consolidado
que possuem elevada cobertura viva, podendo incluir corais, e que apresentam fauna e flora típica
dos recifes costeiros. A diversidade de vida e a produtividade destes ambientes são bem elevadas,
reforçando sua importância ecológica. Na área do estudo são encontrados recifes de arenito cos-
teiros, em franja e também recifes artificiais compostos pelos quebra-mares dispostos previamente
em diversos pontos da orla para mitigar efeitos erosivos das ondas.

Recife de arenito costeiro na praia de Boa Viagem, Recife - PE.

Foto: Petrônio A. Coelho Filho

Fonte: Paula B. Gomes


89
Recife artificial (quebra-mar) em Jaboatão dos Guararapes-PE.

Foto: Petrônio A. Coelho Filho

As amostragens realizadas na área diretamente Os quebra-mares funcionam como recifes


afetada pelo empreendimento revelam dois artificiais, porém apresentam uma comunidade
tipos de comunidades bentônicas, aquelas as- menos rica que os naturais devido à excessiva
sociadas aos recifes naturais e as que habitam altura. Abrigam uma fauna típica de ambientes
os recifes artificiais (quebra-mares). Nos recifes costeiros com longo tempo de exposição ao ar.
costeiros, a comunidade esteve composta por No entanto, a comunidade destes ambientes é
representantes típicos destes ambientes, po- bem característica e será afetada pela abertura
rém, com baixa riqueza quando comparada a dessas estruturas, com retirada direta de orga-
outros recifes de áreas não urbanizadas. nismos e alterações nas condições químicas,
90

Exemplares de Uca rapax (Smith, 1870) coletado no quebra-mar de


Olinda - PE.

Fonte: Paula B. Gomes

Banco de areia com presença de caranguejos chama marés (Uca rapax


e Uca thayeri) em Olinda - PE.

Fonte: Paula B. Gomes


91
Exemplares de crustáceos cirripédios no quebra-mar de Jaboatão dos
Guararapes - PE.

Fonte: Paula B. Gomes

Exemplares de ostras (Mollusca) no quebra-mar do Paulista - PE.

Fonte: Paula B. Gomes


92

físicas e biológicas do ecossistema. tem importantes inferências sobre impactos


O conhecimento da composição da assem- ambientais nos ecossistemas em questão.
bleia de peixes vem a ser uma das ferramentas Foram analisados 225 indivíduos distribuídos
utilizadas para compreender o nível da inter- em 42 espécies e 24 famílias. Os indivíduos
ferência antrópica sofrida nessas regiões. A pertencentes às famílias Ariidae (Bagres) não
comunidade de peixes é a mais diversificada foram identificados em gênero e espécie, em
fauna de vertebrados conhecida e representam virtude do tamanho muito reduzido dos indiví-
o maior componente biológico em ecossistemas duos, além do fato de alguns exemplares serem
costeiros (SALE, 1985). danificados durante o arrasto. As famílias com
maior número de espécies foram: Gerreidae e
Os peixes são o mais antigo e numeroso grupo Sciaenidae, ambas com cinco espécies cada e
entre os vertebrados. São cerca de 24.000 a Tetraodontidae com três diferentes espécies.
espécies de peixes, número semelhante ao de Todas as outras famílias apresentaram duas ou
anfíbios, répteis, aves e mamíferos somados uma única espécie. As espécies mais captura-
(NELSON, 1994). As comunidades de pei- das durante as amostragens foram a carapeba-
xes apresentam numerosas vantagens como branca, Diapterus rhombeus; n=58 (25,5%),
indicadora nos programas de monitoramento a solha ou linguado, Citharichthys spilopterus
biótico e levantamentos, realizados em um n=37 (12,6%) e o coró, Stellifer stellifer, n=26
espaço de tempo definido e replicável. Permi- (11,5%) respectivamente.

Principais espécies de organismos marinhos, com enfoque para os peixes, coletados na zona de
arrebentação do litoral de Pernambuco, destacando o juvenil de mero (círculo azul)

Fonte: Paula B. Gomes


93
Indivíduos de Cephalopholis fulva que são capturados pela frota artesanal, com armadilhas de fundo
(covos), e são encontrados ao longo na plataforma continental do Estado

Fonte: Paula B. Gomes


94

grande diversidade de ecossistemas, como

Flora terrestre praias, restingas, tabuleiros, cerrados, pontais


rochosos, recifes de corais, ilhotas e mangue-
zais (Andrade-Lima, 1960).
Historicamente, os ecossistemas costeiros no
Brasil foram os que maior impacto sofreram
Nas zonas de praia, antedunas e dunas mais
principalmente pela ocupação desordenada e
próximas ao mar predominam espécies herbá-
especulação imobiliária, devido a sua posição
ceas reptantes e rizomatosas, principalmente
geográfica ao longo do litoral – local preferen-
ciperáceas e gramíneas, com destaque tam-
cial para a ocupação, desde a colonização do
bém as jitiranas ou salsa da praia, bredo e
Brasil (Coimbra-Filho & Câmara, 1996).
feijão da praia. Em alguns casos, arbustos e
árvores, que ocorrem de forma isolada e pouco
Diversas áreas de vegetação nativa de floresta
expressiva ou formando agrupamentos ou moi-
atlântica, restingas, manguezais e zona de praia
tas mais densos.
foram suprimidos para ceder espaço à criação
de importantes centros comerciais e residen-
Árvore símbolo da praia, o coco-da-baía ou
ciais, plantações de monocultura, especulação
coco-da-praia é a planta de maior represen-
imobiliária, extração de jazidas, exploração de
tatividade ao longo de toda a orla das praias
recursos vegetais e animais (Coimbra-Filho &
nordestinas e, não poderia ser diferente na orla
Câmara, 1996). A vegetação desses ecossis-
pernambucana. Essas espécies acompanham
temas tem sido reduzida em cerca de mais de
toda a costa. Com suas propriedades alimentí-
90% de sua área (SOS Mata Atlântica, 1998).
cias e medicinais, o fruto é bastante apreciado
A Zona Costeira de Pernambuco apresenta
pelos nordestinos, além de servir como orna-
um litoral com 187km de extensão, abrigando
mento urbano.

Visão panorâmica da praia de Boa Viagem, Recife - PE

Fonte: Marcondes Oliveira


95
Ramos frutíferos de Anacardium Ramo frutificado de
occidentale L. (Cajueiro) Crotalaria retusa

Fonte: Marcondes Oliveira

Guapira pernambucensis, Guilandina bonduc,


A área de estudo, apesar de impactada,
Ipomoea pes-caprae (Salsa-da-prais), Ipomoea
apresenta importantes fitofiosonomias diferen-
stolonifera (Salsa-branca), Paspalum mariti-
ciadas, desde faixa de praia, pequenas dunas,
mum, Paspalum vaginatum, Remirea marítima,
reduzido trecho de restinga e manguezal con-
Sesuvium portulacastrum, Sophora tomentosa,
tornando alguns estuários como os de Pirapa-
Sporobolus virginicus.
ma e de Jaboatão, de Beberibe, de Paratibe e
de Timbó.
Foram detectadas importantes áreas para a
preservação da flora e da fauna costeira, como
A flora da orla da Região Metropolitana do Re-
estuários, manguezais e restinga, ambientes
cife apresenta-se mista, com diversas espécies
associados à zona de praia. O impacto dos
exóticas, ou seja, estrangeiras e, ruderais, com
ecossistemas é fato consumado e notório,
ampla distribuição na natureza. Entre as espé-
porém são urgentes e prudentes medidas
cies nativas na faixa de praia, temos: Alternan-
conservacionistas que visem minimizar esses
thera littoralis var. maritima (Mart.) Pedersen,
impactos, tais como poluição de resíduos sóli-
Blutaparon portulacoides (Bredo-da-praia),
dos, redução de áreas naturais, exploração de
Canavalia rosea (Feijão-da-praia), Dalbergia
caça, pesca e retirada da vegetação, proteção à
ecastaphyllum (Bugi), Fimbristylis spathacea,
desova de tartarugas marinhas.
96

Ramos floridos de Canavalia rosea Dalbergia ecastaphyllum (bugi)

Fonte: Marcondes Oliveira

Ipomoea stolonifera (salsa-branca) Gramínea Sporobolus virginicus

Fonte: Marcondes Oliveira


97
ção, ocorrendo em grande parte do estado e

Fauna terrestre na maioria dos estados nordestinos, em es-


pecial em ambientes de Mata Atlântica, áreas
de transição entre Mata Atlântica e Caatinga e
Nas áreas Diretamente Afetada (ADA), de Influ-
em áreas abertas de Caatinga. Em relação aos
ência Direta (AID) e de Influência Indireta (AII)
estágios de conservação, doze espécies encon-
do empreendimento de “Recuperação da Orla
tram-se classificadas como “pouco preocupan-
dos Municípios de Jaboatão dos Guararapes,
te” na lista de espécies ameaçadas da IUCN
Recife, Olinda, Paulista e adjacentes” encon-
(2010); estando todas ausentes dos Apêndices
tram-se basicamente três ambientes propícios
I, II e III da CITES (2011), que também trata
à ocorrência da fauna terrestre, representantes
das espécies sob ameaça de conservação.
dos grupos dos anfíbios, répteis, aves e ma-
míferos: i. Ambientes aquático marinho com
Em relação aos répteis, foram registradas qua-
registro de tartarugas marinhas; ii. Ambientes
tro espécies nas Áreas Diretamente Afetada,
aquático lótico, com registro principalmente de
de Influência Direta e de Influência Indireta e
cágados, jabutis e jacarés; iii. Ambientes flores-
55 apenas na Área de Influência Indireta do
tados em diferentes estágios de conservação,
empreendimento. São 42 espécies registradas
com ocorrência marcante de anuros, lagartos,
em Jaboatão dos Guararapes, 12 no Recife, 18
serpentes, testudines e jacarés.
em Paulista, 19 em Igarassu e 4 espécies nas
áreas costeiras dos municípios analisados – es-
A fauna de vertebrados terrestres está repre-
sas últimas se destacam por ocorrerem simul-
sentada por 430 espécies, sendo 41 anfíbios
taneamente nas Áreas Diretamente Afetada,
anuros, 59 répteis, 261 aves e 69 mamíferos.
de Influência Direta e de Influência Indireta do
Empreendimento. Os répteis registrados estão
Quanto aos anfíbios, todos foram registrados na
distribuídos em cinco grandes grupos, testudi-
Área de Influência Indireta-AII do empreendi-
nes (5 spp.), lagartos (19 spp.), amphisbaena
mento, sendo 26 em Jaboatão dos Guararapes,
(1 sp.), serpentes (32 spp.) e jacaré (2 spp.).
28 no Recife, 19 em Paulista e 34 em Igarassu.
No que se refere aos testudines, foram regis-
As espécies registradas podem ser enquadra-
tradas duas famílias: Cheloniidae (4 spp.) e
das em nove famílias: Amphignathodontidae
Chelidae (1 sp.). Os amphisbaenídeos tiveram
(1 sp.), Brachycephalidae (2 spp.), Bufonidae
registro de uma família: Amphisbaenidae (1
(4 spp.), Cycloramphidae (1 sp.), Hylidae (20
sp.). Os lagartos tiveram registro de dez famí-
spp.), Leiuperidae (3 spp.), Leptodactylidae (7
lias: Gekkonidae (1 sp.), Gymnophtalmidae (2
spp.), Microhylidae (2 spp.) e Ranidae (1 sp.),
spp.), Iguanidae (1 sp.), Leiosauridae (1 sp.),
estando todas as espécies com ampla distribui-
Phyllodactylidae (1 sp.), Polychrotidae (4 spp.),
98

Scincidae (2 spp.), Sphaerodactylidae (1 sp.), Caatinga. Uma parte menor de espécies ocorre
Teidae (4 spp.) e Tropiduridae (2 spp.). As ser- preferencialmente em áreas costeiras. Em re-
pentes tiveram registro de seis famílias: Boidae lação ao status de conservação, duas espécies
(3 spp.), Colubridae (6 spp.), Dipsadidae (16 se enquadram na categoria de espécies em
spp.), Elapidae (1 sp.), Typhlopidae (1 sp.) e perigo (Myrmeciza ruficauda e Curaeus forbe-
Viperidae (5 spp.). Os jacarés tiveram registro si), três na categoria de espécies quase amea-
de uma família: Alligatoridae (2 sp.). Dentre as çadas (Pyrrhura lépida, Thalurania watertonii e
espécies de répteis registradas, todas possuem Picumnus fulvescens), quatro na categoria de
ampla distribuição, ocorrendo em grande parte espécies vulneráveis e 234 espécies na catego-
do Nordeste, em especial na Mata Atlântica e ria de pouco preocupantes segundo o IBAMA
algumas em áreas abertas de Caatinga. (2008) e IUCN (2010); estando duas no Apên-
dice II (Pteroglossus aracari e Tangara fastuosa)
Em relação ao status de conservação, qua- e duas no Apêndice III (Dendrocygna bicolor e
tro espécies de tartarugas marinhas (Caretta Cairina moschata) da CITES (2011).
caretta, Chelonia mydas, Eretmochelys imbri-
cata e Lepidochelys olivacea) se encontram Em relação aos Mamíferos, todas as espécies
classificadas pelo Ibama (2008) e IUCN (2010) foram registradas apenas na Área de Influência
como criticamente em perigo; além das espécie Indireta-AII do empreendimento, especifica-
Caiman latirostris e Paleosuchus palpebrosus mente 31 espécies em Jaboatão dos Guara-
comporem o Apêndice I e os squamatas Tupi- rapes, 47 no Recife e 33 em Paulista. Entre
nambis marianae, Iguana iguana, Boa constric- as espécies, 48 representando a mastofauna
tor e Epicrates cenchria comporem o Apêndice não alada e 21 a mastofauna alada (morce-
II da CITES (2011). gos). Ressaltando o registro de oito espécies
que ocorrem em áreas urbanas. Em relação
Quanto as aves, quatorze espécies foram regis- aos status de conservação, uma espécie se
tradas simultaneamente nas Áreas Diretamente enquadra na categoria de dados deficientes
Afetada, de Influência Direta e de Influência (Lontra longicaudis); uma espécie na categoria
Indireta e 247 registradas exclusivamente na de quase ameaçada (Leopardus wiedii); uma
Área de Influência Indireta. Essas espécies se espécie na categoria de vulnerável (Leopardus
enquadram em 46 famílias, sendo todas com tigrinus) e 52 espécies na categoria de pouco
ampla distribuição, ocorrendo em grande parte preocupante segundo o IBAMA (2008) e IUCN
do estado e na maioria das fitofisionomias e (2010); estando quatro no Apêndice I (Leopar-
dos estados da região nordeste, em especial na dus pardalis, Leopardus tigrinus, Leopardus
Mata Atlântica, áreas de transição entre Mata wiedii e Lontra longicaudis), duas no Apêndice
Atlântica e Caatinga e em áreas abertas de II (Bradypus variegatus e Cerdocyon thous) e
99
cinco no Apêndice III (Cuniculus paca, Eira Destaca-se que embora tenhamos registrado
barbara, Galictis vittata, Nasua nasua e Platyr- uma riqueza expressiva e quatro espécies criti-
rhinus lineatus) da CITES (2011). camente em perigo de extinção, as populações
existentes são de ampla distribuição geográfica
Quanto ao uso pelas comunidades, destacam- e abundantes em todo território nacional, não
se duas espécie de anfíbios anuros (Leptodac- representando obstáculo a implementação da
tulus vastos e Leptodactylus latrans), cinco de obra almejada, desde que seja operacional-
testudines (Caretta caretta, Chelonia mydas, mente efetuada dentro de critérios que possibi-
Eretmochelys imbricata, Lepidochelys olivá- litem a conservação das populações relaciona-
cea e Phrynops geoffroanus), uma de lagarto das.
(Tupinambis meriana), duas de jacaré (Caiman
latirostris e Paleosuchus palpebrosus), nove de No que se refere aos impactos negativos para
aves (Columbina passerina, Columbina minuta, a fauna de vertebrados terrestres é possível re-
Columba livia, Columbina talpacoti, Leptotila ru- conhecer dois núcleos, uma vez que a grande
faxilla, Geotrygon montana, Porphyrio martini- maioria das espécies de anfíbios, répteis, aves
ca, Gallinula chloropus e Ortalis guttata) e doze e mamíferos ocorrem na AII em áreas relati-
de mamíferos (Cuniculus paca, Cabassous vamente distantes da costa: i. Destruição de
unicinctus, Cavia aperea, Dasyprocta prymnolo- ninhos de tartarugas marinhas e o ii. Atropela-
pha, Dasypus novemcinctus, Didelphis albi- mento e destruição das áreas de alimentação
ventris, Euphractus sexcinctus, Hydrochaeris e reprodução das tartarugas marinhas por
hydrochaeris, Leopardus pardalis, Leopardus ocasião do tráfego das embarcações e da cons-
tigrinus, Nasua nasua e Tamandua tetradactyla) trução dos espigões decorrentes do empreendi-
por serem expressivamente utilizadas como mento. Tais impactos podem ser mitigados ou
fonte de alimentação e consequentemente são controlados através de medidas e programas
alvos de caça (espécies cinegéticas). que deverão ser realizados durante e depois da
implantação do empreendimento.
6
100

Quais são os aspectos


socioeconômicos da área
do empreendimento?

Socioeconomia
Os estudos efetuados pela equipe de socioeconomia para avaliar os im-
pactos com a implantação do projeto de recuperação da orla de Jaboatão
dos Guararapes, do Recife, de Olinda e do Paulista destacaram alguns
pontos da caracterização dos municípios e de sua área de influência
direta:

• O crescimento populacional dos municípios intensificou-se no século


XX como resultado da atração populacional decorrente da concentra-
ção de investimentos na Região Metropolitana do Recife;
• A ocupação urbana ocorreu de forma desordenada e sem planeja-
mento;
• Existem grandes disparidades sociais, que se refletem no perfil da
ocupação da orla;
• A atual pressão populacional na parte sul da região metropolitana
é um importante impulsionador na ocupação mais intensa da orla,
principalmente de Jaboatão dos Guararapes e do Recife;
• As taxas de crescimento populacional indicam que o Recife e Olinda
estão apresentando menor atração populacional, tendo em vista as
menores taxas de crescimento populacional nos últimos anos;
• Os municípios apresentam perfil extremamente urbanizado;
• A expectativa de vida está aumentando, a população tem envelhecido
pela diminuição da taxa de natalidade, o que reduz a necessidade de
crescimento da infraestrutura para atendimento da primeira infância,
mas aumenta a necessidade de crescer a oferta de infraestrutura
para atendimento de idosos, desenvolvimento de novas tecnologias
101
medicinais, melhorias no atendimento • A ocupação da orla do Recife e de Jaboa-
básico a saúde; tão dos Guararapes se faz de forma mais
• Quase a metade do PIB estadual ocorre densa e com unidades imobiliárias mais
nos municípios que receberão o projeto; valorizadas;
• O crescimento econômico do conjunto dos • A distribuição de moradores por domicílio
municípios está pouco inferior à média do Recife é mais concentrada nas uni-
do estado, mas existe disparidade entre dades menores. Isto indica que o perfil
os quatro, com a parte sul apresentando socioeconômico, incluindo ainda o capital
crescimento bem mais intenso que a parte social dos moradores, é diferenciado neste
norte; município. Tendo em vista o alto valor dos
• O PIB per capita é muito maior nos muni- imóveis nesta região, pode-se supor que
cípios do que no restante do estado; o número de pessoas viúvas, divorciadas
• Os municípios de Jaboatão dos Guararapes e solteiras com alto poder aquisitivo seja
e do Paulista apresentam importante papel elevado na orla do Recife;
no setor industrial do estado; • Existe um grande diferencial na utiliza-
• No Recife, o setor de serviços é bastante ção econômica da orla dos municípios.
dinâmico, inclusive com a presença de O Recife possui um volume muito maior
alguns APLs focados em conhecimento, de estabelecimentos do que os demais,
como o Porto Digital e o Polo Médico; mesmo não possuindo a maior extensão
• Os níveis de escolaridade são mais ele- de orla. Jaboatão, que apresenta um perfil
vados nos municípios da AII do que no de domicílios mais próximo ao de Recife
restante do estado; possui volume de estabelecimentos mui-
• O contingente populacional que reside to menor. Olinda também tem número
na área diretamente afetada é de 31.839 expressivo de estabelecimentos, mas sua
domicílios e 76.542 pessoas; área é superior à do Recife. Paulista é o
• O perfil socioeconômico médio dos domicí- município que tem a menor densidade de
lios da orla apresenta evidências de maior empresas situadas na orla.
nível de renda, educação e composição
etária diferenciada do restante dos muni-
cípios, corroborando o fato de que as áreas
de orla são, proporcionalmente dentro dos
municípios, mais valorizadas;
102

Enrocamento, próximo ao Golden Beach Limite da Praia de Piedade próximo ao Sesc


(Jaboatão dos Guararapes - PE) Piedade (Jaboatão dos Guararapes - PE)

Fonte: Éder Lira de Souza Leão

Vista do enrocamento da praia, próximo a praça de Boa Viagem (Recife – PE)

Fonte: Éder Lira de Souza Leão

Os estudos socioeconômicos relativos à área Os empreendimentos de agentes econômicos,


diretamente afetada se dividiram em duas tais como: ambulantes, quiosqueiros, donos de
frentes, que usaram metodologias distintas. De bares e de restaurantes bem como de empre-
um lado, analisaram-se as atividades econômi- sários da hotelaria situados na orla marítima
cas voltadas à exploração da praia, tais como de Pernambuco no percurso que se estende
ambulantes, barraqueiros, bares, restaurantes de Jaboatão dos Guararapes ao Paulista vêm
e hotéis e a análise baseou-se em entrevistas sendo afetados diretamente e fortemente pelo
semiestruturadas. De outro, tratou-se a pesca avanço do mar. Nem todos os empreende-
artesanal, que se baseou, além de entrevistas dores interpretam esse fenômeno como uma
semiestruturadas, em reuniões e oficinas. ameaça aos seus negócios, uma vez que não
existem hotéis nas praias ao norte de Olinda.
103
Os ambulantes e donos de bares e quiosques, inúmeros estuários e rios que cortam essas
por serem os principais afetados e por terem cidades.
sido transformados em “nômades da orla”,
têm uma melhor percepção do problema. São A pesca artesanal é multiespecifica, ou seja,
empurrados sistematicamente e juntamente um pescador realiza diversas pescarias de
com seus clientes, da areia em direção às cal- acordo com as condições oceanográficas,
çadas, quando estas existem. Porém, essa não biológicas e de mercado, podendo capturar a
é a opinião de todo o grupo, pois muitos deles lagosta em certa época, peixes que realizam
atribuem a evasão de clientes à falta de banhei- migração em outra ou mesmo a sardinha ou
ros públicos, aos dejetos que são despejados peixes de menor valor comercial em outra épo-
nas praias (no Paulista), a falta de segurança ca. Na região estudada, é praticada uma série
diante da presença da marginalidade, tal como de pescarias que podem ser resumidas em
a existência dos usuários de drogas, ao lixo não pescarias de mar de fora, pescarias de mar de
recolhido pelas prefeituras, entre outros fatores. dentro e a pesca estuarina. A pesca motorizada
Quanto ao Projeto Orla, os que o conhecem é muito frequente e captura espécies de alto
têm dúvidas quanto à sua realização, embora valor comercial. A pesca estuarina é realizada
achem que ele viria estimular a clientela em por um grande contingente de pessoas, em
seus empreendimentos atraindo novos cientes, sua maioria mulheres, e representa uma das
especialmente o turista em busca de lazer. formas mais democráticas de geração de renda
Nenhum desses agentes econômicos demons- na região estudada.
trou preocupação com os efeitos sobre os
negócios, que envolveria a fase de operação e Em relação à cadeia produtiva, a pesca tem
implantação do projeto, talvez pelo descrédito características de dispersão espacial e perecibi-
da realização da intervenção. lidade dos produtos, que dificultam os proces-
sos de conservação e comercialização, exigindo
A pesca artesanal na região urbana do Grande assim complexos mecanismos logísticos entre
Recife, apesar de ser tratada como uma ativi- a produção e o consumidor final. Essas difi-
dade marginal, representa historicamente uma culdades favorecem a presença de inúmeros
atividade socioeconômica forte, que engloba elos na cadeia produtiva. Algumas espécies de
milhares de pessoas e sustenta uma cadeia pescado passam por até quatro vendedores até
produtiva grande, muitas vezes formada por atingir o consumidor final, elevando o preço do
relações familiares e de parentesco. No Recife produto na ponta e diminuindo, consequen-
e municípios vizinhos, a pesca assume propor- temente, o preço pago ao pescador na praia.
ção não encontrada em outras áreas altamente Essa complexa cadeia agrega uma série de
urbanizadas do país devido à presença de pessoas que são dependentes da pesca.
104

O foco da pesca artesanal nos municípios es- pais causas da diminuição dos recursos nessa
tudados pode ser dividido em três direções ou região. Apesar de toda a poluição, estima-se a
três classificações: a primeira reside em uma partir da bibliografia consultada e de informa-
pesca artesanal mais capitalizada, utilizando ções das instituições de representação dos pes-
embarcações de madeira ou fibra, a motor, as cadores que aproximadamente 7.600 pessoas
quais pescam em áreas mais distantes da costa realizem a pesca como atividade profissional na
até a região do talude continental (paredes) região dos municípios do Cabo de Santo Agos-
e chamada de pesca de “mar de fora”. É nas tinho, de Jaboatão dos Guararapes, do Recife,
paredes que se realiza a pesca de linha, a qual de Olinda e do Paulista – regiões que serão
captura peixes nobres como a cioba. A segun- diretamente afetadas pelo “Projeto Recupera-
da classe pode ser chamada de pesca de “mar ção da Orla Marítima”.
de dentro”, segundo denominação dos próprios
pescadores, é a pesca costeira, realizada na Foram realizadas entrevistas com lideranças
região protegida pelos arrecifes, em geral com de pescadores, questionários semiestrutura-
pequenas embarcações (jangadas principal- dos (50) e dez reuniões e oficinas das quais
mente) ou mesmo desembarcada. Esse tipo participaram 203 pescadores e pescadoras,
de pesca também é visualizada nos municípios com o objetivo de levantar informações sobre
estudados, em menor proporção. Exceção para as comunidades e os impactos visualizados por
a pesca de arrasto de camarão, que é realizada estes em relação ao “Projeto Recuperação da
nessa região com o auxílio de barcos de maior Orla Marítima”. O projeto é prejudicial trazendo
porte. O terceiro grande contingente de pes- inúmeros impactos negativos, por vezes não
cadores encontra-se envolvido em uma pesca mitigáveis para a pesca artesanal.
que exige menos capital – a pesca estuarina –,
realizada com o apoio de pequenas embarca- Diante das incertezas existentes em relação ao
ções a remo ou a vela (baiteras). As mulheres projeto, principalmente no que tange a inexis-
são os grandes atores da região estuarina, onde tência de jazida de areia para a maioria das
catam seus mariscos, sururus e outros molus- engordas de praia propostas, o projeto deve ser
cos. Em todos os municípios pesquisados a revisto. A participação dos pescadores e seu
pesca estuarina é realizada e depende dire- conhecimento deveriam ter sido contemplados
tamente dos estuários e boa saúde da região quando da concepção da ideia e mesmo do
costeira e adjacências da praia. projeto. É altamente recomendável que um pro-
jeto desse porte reconheça o saber tradicional
A pesca e o meio ambiente são interdependen- de longas gerações e os impactos causados a
tes, sendo os impactos ambientais as princi- uma classe de profissionais que por direito é a
105
usuária legítima das regiões costeiras e estua- O dimensionamento dos impactos positivos e
rinas. negativos apontados foi feita de forma quali-
ficada, ou seja, considerando que o cenário
Vários impactos negativos podem ser citados descrito no projeto de engenharia fosse cumpri-
em relação ao “Projeto Recuperação da Orla do. Contudo destacaram-se algumas incertezas
Marítima”. Os principais são ambientais e críticas que afetam sensivelmente a tomada de
causam a diminuição e mesmo o impedimento decisão acerca do licenciamento ambiental do
da atividade da pesca artesanal. A diminui- projeto.
ção da produção poderá ser causada pela
dragagem dos sedimentos, pelos sedimentos As incertezas críticas levantadas pela equipe
em suspensão na água, aterros de bancos de de socioeconomia são: i) impossibilidade de
moluscos, barulho e movimentação da dra- estimar a viabilidade econômica do empreen-
ga, assoreamento de habitats (leito de rios e dimento; ii) indefinições no projeto apresenta-
lagoas, recifes, manguezais), entre outros. A do sobre a tomada de areia; iii) divergências
atividade da pesca também será prejudicada sobre a melhor alternativa de engenharia no
com a movimentação das máquinas na obra, tocante às estruturas rígidas; iv) inexistência de
as modificações na orla com possível impedi- detalhamento sobre impactos nos sedimentos
mento da atracação dos barcos, funcionamento que se acumulam na comunidade da “Ilha do
da draga e exclusão da pesca na região de inte- Maruim”; v) cronograma de realização da obra
resse de dragagem. As caiçaras e moradias de extremamente otimista e vi) necessidade de
pescadores também serão atingidas. Em menor manutenção constante do engordamento de
grau, cita-se uma série de impactos negativos à praia, o que gerará custos de manutenção altos
pesca: dificuldades de trânsito de embarcações para as prefeituras, além de impactos ambien-
e aumento de acidentes, aumento no número tais de longo prazo causados pelas dragagens.
de afogamentos na região de Suape e outras
onde ocorrerem às dragagens, dificuldades Os impactos positivos recaem sobre um contin-
para a comercialização de produtos pesqueiros gente populacional bastante superior ao con-
nas praias, dificuldades de acesso às praias, tingente populacional que recebe os impactos
problemas de saúde decorrentes do acúmulo negativos e podem ser resumidos em valoriza-
de lixo e propagação de pragas nas estruturas ção dos imóveis da orla; aumento do bem estar
de contenção e problemas de pele devidos a dos usuários das praias e aumento do potencial
matéria orgânica no sedimento. turístico (não necessariamente do turismo)
das praias dos quatro municípios. Os impactos
negativos são de natureza transitória para os
106

moradores das parcelas mais valorizadas da ao Projeto Recuperação da Orla Marítima, a


orla, mas algumas vezes permanentes para os contextualização etno-histórica envolveu parte
pescadores e moradores de áreas de orla me- da faixa litorânea de Pernambuco; mais especi-
nos valorizados. A clássica solução de valorizar ficamente os municípios de Olinda, do Paulista,
as perdas da menor parcela da população que do Recife e de Jaboatão dos Guararapes, que
será negativamente afetada é possível, mas integram atualmente a Mesorregião Metropo-
pode inviabilizar economicamente o projeto, litana do Recife. Inclui-se aqui ainda, como
uma vez que as incertezas críticas fazem com área de influência direta do empreendimen-
que o tamanho econômico dos impactos posi- to, o município do Cabo de Santo Agostinho,
tivos seja bastante duvidoso e também porque considerando-se que o ponto de dragagem faz
sobrecarregaria demasiadamente o futuro face àquele litoral. Na faixa litorânea destes
orçamentário dos municípios. municípios, os estudos envolveram a busca
pela coleta de dados primários, de modo não
A melhor alternativa parece ser o aprofunda- interventivo, além do levantamento de dados
mento dos estudos de engenharia, principal- secundários.
mente detalhando melhor as origens de areia e
o complemento do projeto de engenharia com Durante o diagnóstico, foram levantados os
um projeto socioeconômico de implantação e aspectos culturais dos municípios estudados,
gestão da orla acoplado ao projeto de engenha- incluindo o levantamento do patrimônio ima-
ria. Um enriquecimento no projeto deste tipo terial (festas, danças, comidas típicas, lendas,
pode, por exemplo, propor que sejam criados artesanato), do patrimônio paisagístico, do
tributos específicos para os beneficiários do patrimônio espeleológico (cavernas e furnas)
projeto, de sorte a que as compensações am- e paleontológico, e do patrimônio material (ar-
bientais e a manutenção da orla sejam garan- queológico e histórico), relativos à AII.
tidas.
Os aspectos relativos ao patrimônio imaterial

Patrimônio dos referidos municípios, no geral, correspon-


dem àqueles que ocorrem na região pernam-
cultural bucana como um todo. Merece destaque as
festas populares como o Carnaval e o São João,
A legislação federal aplicável ao patrimônio quando ocorrem manifestações culturais típicas
histórico-cultural protege os conjuntos urbanos que envolvem grupos organizados como os
e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, blocos de Carnaval, o Galo da Madrugada e
arqueológico, paleontológico, ecológico e cien- outros.
tífico. No estudo do Patrimônio Cultural relativo Entre as festas religiosas e profanas, desta-
107
cam-se a Festa da Pitomba em Jaboatão dos mônio paisagístico pela esfera federal, como o
Guararapes e a Festa da Lavadeira, uma festa conjunto arquitetônico, urbanístico e paisagísti-
de cunho religioso realizada todo dia 1 de maio, co de Olinda; o conjunto arquitetônico, urbanís-
na praia do Paiva. Ainda no âmbito das festas tico e paisagístico do antigo Bairro do Recife;
populares e religiosas, a corrida de jangadas no o conjunto paisagístico do Sítio da Trindade,
Paulista e a Romaria ciclística a São Severino estrada do Arraial n° 3250; a casa de Gilberto
do Ramos. Freyre - Vivenda Santo Antônio de Apipucos,
envolvendo as edificações e o sítio paisagístico
Ainda no âmbito do patrimônio imaterial, cons- ao seu redor. Menção específica se deve aos
tam na lista gastronômica o Bolo Souza Leão, coqueirais, que outrora caracterizavam pratica-
a tapioca, além dos frutos do mar típicos da mente todo o litoral.
região (peixes, camarões, caranguejo, sururu,
marisco, entre outros), os licores e doces ca- Do ponto de vista do Patrimônio Espeleológi-
seiros vendidos em barracas de rua nas áreas co, o Cadastro Nacional de Cavernas do Brasil
de praia são famosos na região. São doces e (CNC) não registra a presença de formações
licores de frutas regionais produzidos artesanal- cavernícolas de interesse espeleológico na
mente. A passa-de-caju é um dos doces mais Área de Influência Indireta (AII) deste empre-
procurados. endimento. A despeito da presença de rochas
carbonáticas, representada pelas Formações
Há que se mencionar ainda a relação da popu- Gramame e Maria Farinha do Grupo Paraíba,
lação com a orla marítima e as atividades que presentes no litoral Norte de Pernambuco,
nela ocorrem como cerimoniais e festividades mesmo no litoral onde tais rochas se expõem
religiosas (manifestações dos cultos afro-bra- em contato com o mar, não há referências à
sileiros), a pesca artesanal, além do uso como presença de cavernas.
lazer e o comércio informal.
Todavia, aquelas rochas carbonáticas têm
O patrimônio paisagístico profuso na AII, na revelado a presença de alguns fósseis relatados
realidade se sobressai como paisagem valoriza- em pesquisas que precederam a explotação
da. Facilmente a população consultada elenca industrial daqueles depósitos. Do mesmo
um número significativo de locais de interesse modo, se tem em Olinda, onde na década de
paisagístico, onde certamente se incluem as 1940 foi identificada a ocorrência de depósitos
praias e as áreas de esporte e passeio náutico. de fosforitos marinhos com considerável teor
em fosfato, associados aos arenitos calcíferos
No âmbito da Área de Influência Indireta, al- da bacia sedimentar costeira nos estados de
guns bens têm o reconhecimento como patri- Pernambuco e Paraíba. Kegel (1953) denomi-
108

nou de Formação Itamaracá esses arenitos cal- no Recife, 2 em Olinda, 4 no Paulista e 176 no
cíferos de granulometria grossa com abundante Cabo de Santo Agostinho.
fauna cretácea e, posteriormente, Kegel (1955)
incluiu na referida formação a porção inferior A implantação do Projeto Recuperação da
de arenitos friáveis, continentais, com restos de Orla Marítima interferirá fisicamente em áre-
plantas carbonizadas, por vezes conglomeráti- as urbanas, entretanto, no que concerne às
cos, interdigitados com calcarenitos de fácies edificações reconhecidas como de interesse
marinhas anteriores. histórico e arqueológico, tem-se o caso da área
onde provavelmente existiu a primitiva Igreja de
O patrimônio material identificado na AII, do Nossa Senhora das Candeias, hoje destruída.
ponto de vista histórico, representa o foco No trecho onde se supõe ter existido aquela
inicial da ocupação histórica do Estado. Longa igreja, foram realizadas obras de contenção
é a lista dos bens tombados, sobretudo em marinha. De permeio com o material utilizado
Olinda e no Recife, onde se destaca o conjunto nas obras, podem ser vistos blocos de calcário
de igrejas que está entre os mais antigos do com evidencias de trabalho de cantaria. Parte
Brasil. O rol de edificações históricas tombadas desse material calcário foi reunido e transporta-
(e em processo de tombamento), por institui- do por moradores interessados na preservação
ções do governo federal, estadual e municipal do patrimônio, que de há muito sugerem que
abrange uma vasta gama de exemplares da sejam realizados estudos na área para a iden-
arquitetura histórica, envolvendo não apenas tificação do local e das ruínas da antiga igreja,
edificações religiosas e de defesa, mas exem- cuja construção remonta ao primeiro quartel do
plares da arquitetura civil governamental e século XVII.
particular. Quanto à distribuição temporal,
estão contemplados desde monumentos com As obras do empreendimento envolvem ainda
origem no século XVII, àqueles representantes riscos com relação ao patrimônio arqueológico
do século XX. não manifesto, além do natural e paisagístico.
A expectativa de tais riscos converge para as
No âmbito do patrimônio material arqueológico, áreas onde existiram obras de defesa, como
estão registrados no Cadastro Nacional de Sí- aquelas que cercavam a cidade de Olinda, em
tios Arqueológicos do IPHAN (CNSA), 39 Sítios que se inclui o Forte do Buraco.
arqueológicos. Todavia com base nas consultas
realizadas na sede do IPHAN em Pernambuco, As áreas a serem aterradas, em parte corres-
bem como em outras instituições de pesquisa, pondem àquelas que foram atingidas pelo
foram arrolados mais 206 sítios arqueológicos, avanço das águas do mar. Entretanto, há que
sendo que 7 em Jaboatão dos Guararapes, 17 se considerar o risco que a dragagem a ser
109
realizada representa para eventuais sítios ar- na datação de outros sítios arqueológicos. Por
queológicos subaquáticos não manifestos, visto outro lado, o ato de dragar acarreta em retira-
que o material para o engordamento das praias da de um pacote sedimentar, podendo expor
será obtido a partir da dragagem de trechos do vestígios que estejam enterrados, ou mesmo
leito oceânico nas proximidades do Cabo de removê-los.
Santo Agostinho.
Considerando-se o potencial arqueológico da
A grande maioria dos múltiplos naufrágios área e avaliando-se a intensidade no local das
listados na costa pernambucana é de localiza- ações que interferirão fisicamente no leito
ção imprecisa ou desconhecida. O potencial oceânico, no trecho considerado e adjacências,
em termos de informações, de remanescentes as ações de dragagem, potencialmente pro-
materiais destes sítios arqueológicos é dos moverão o deslocamento de vestígios arque-
mais ricos. Quando identificados, os vestígios ológicos eventualmente presentes na área;
de naufrágios apresentam um valor científico alterações e mesmo inversões estratigráficas no
agregado, representado pela exatidão cronoló- terreno contíguo, o que representa a destruição
gica dos remanescentes, que podem auxiliar do contexto arqueológico de uma área.
110

7
Quais são os impactos do
empreendimento?
A identificação dos impactos previsíveis em decorrência do empreen-
dimento de recuperação da orla marítima, as medidas que deverão ser
tomadas para minimizar os efeitos negativos e maximizar os positivos, em
todas as etapas da obra são, de fato, as informações e os instrumentos
essenciais para a sustentabilidade ambiental da área modificada. Por sua
vez, os Programas de Controle e Monitoramento Ambiental propostos para
acompanhar possíveis mudanças e adequar seu curso, contribuem para
a consolidação de um Sistema de Gestão Ambiental na área da bacia que
será afetada.

Grupo de Discussão Multidisciplinar

Matriz de Correlação
(Meio físico - Meio Biótico -
Meio Socioeconômico)

DESCRIÇÃO dos Impactos MEDIDAS de Mitigação e Controle


AVALIAÇÃO dos Impactos PROPOSTAS de Monitoramento

Prognóstico Ambiental

Os impactos identificados foram localizados, avaliados e descritos e,


para cada um deles, foram sugeridas medidas mitigadoras e de controle
ambiental, além de ações de monitoramento. Os impactos identificados
foram:
111
MEIO IMPACTO

Físico
Aumento da oferta da praia
Propagação da linha de costa
Instabilidade do fundo arenoso
Aumento de processos erosivos
Risco de compactação da camada superficial da areia na área destinada
ao reforço do leito da praia
Alteração da qualidade da água
Geração de efluentes e resíduos sólidos decorrentes da obra
Modificação da dinâmica sedimentar
Aumento do nível de ruídos e vibrações
Alteração da qualidade do ar (emissão de gases e material particulado)
Risco de alteração da qualidade da água com óleos e graxas

Biótico
Perda da área de alimentação/reprodução de espécies
Interferências sobre a fauna associada
Alterações que impliquem em extinção de espécies
Interrupção da migração de espécies
Perda de diversidade biológica
Favorecimento da seleção de organismos existentes
Destruição de ninhos de tartarugas marinhas
Atropelamento e destruição das áreas de alimentação e reprodução das tartarugas marinhas
Perda de biodiversidade e das características das comunidades vegetais

Socioeconômico
Expectativa da população em relação à implantação do empreendimento
Eliminação de equipamentos disponíveis para atividades sociais e culturais
Risco de acidentes com a população local e o pessoal alocado às obras
Impactos sobre a população decorrentes da instalação das obras e canteiro de obras
Valorização imobiliária do entorno
Desvalorização imobiliária do entorno
Incremento das atividades econômicas
Paralisação e /ou redução de atividades econômicas
Alteração na oferta de emprego
Impactos sobre a saúde pública - doenças dermatológicas e bacteriológicas
Aumento do valor do imobilizado dos empreendimentos através da valorização dos imóveis onde
estão instalados os bares, restaurantes e hotéis
Aumento do número de clientes que resultarão em elevação de receita de todos os
empreendimentos: quiosques, bares, ambulantes, hotéis e restaurantes
Diminuição da demanda para os negócios dos grupos econômicos
Diminuição da produção pesqueira
Impedimento da atividade pesqueira
Impactos sobre as caiçaras e atividade produtiva dos pescadores realizada na beira-mar
Aumento de acidentes com embarcações e em terra
Diminuição das vendas de produtos pesqueiros nas praias durante as obras
Comprometimento de estruturas em terra devido a deposição de sedimento – Ilha do Maruim, Olinda
Restrição de acesso a área de praia
Aumento no número de afogamentos na área de Suape e outras áreas a serem
estabelecidas como áreas de tomada de sedimento
Possibilidade de aumento nos ataques de tubarão
Possibilidade de implantação de projetos turísticos
Aumento das receitas municipais
112

Aumento da educação ambiental da população


Interferência no patrimônio cultural arqueológico, histórico de interesse arqueológico,
paisagístico e imaterial
Interferência no patrimônio cultural subaquático

Programas de Sistema
acompanha- de Gestão
mento e Ambiental
monitoramento
de impactos O Sistema de Gestão Ambiental proposto para
o empreendimento tem seus fundamentos no
arcabouço legal pertinente e na articulação
O Programa de Acompanhamento e Monitora-
interinstitucional necessária à sua efetivação.
mento dos Impactos que se apresenta a seguir,
Sua concepção busca favorecer e estimular a
atende ao Termo de Referência da Agência
participação da sociedade, não apenas no que
Estadual de Meio Ambiente (CPRH), TR GT Nº
se refere aos programas educativos, mas em
14/11, para elaboração do Estudo de Impacto
todas as ações implementadas. Nesse sen-
Ambiental e do Relatório do Impacto Ambiental
tido, o processo de gestão incorporará como
(Rima) para implantação do empreendimento
instrumentos básicos os Programas Ambientais
Recuperação da Orla Marítima de Jaboatão, do
apresentados no quadro seguinte, relacionados
Recife, de Olinda e do Paulista e incorpora da-
aos temas maiores do EIA e sintetizados em
dos dos estudos anteriores bem como as reco-
seguida.
mendações decorrentes do presente trabalho.

O monitoramento ambiental durante e depois


da execução das obras é de fundamental
importância para garantir que o projeto exe-
cutivo seja corretamente implementado, bem
como para sugerir alguns ajustes que se façam
necessários, e avaliar os possíveis impactos
ambientais decorrentes da interferência no
meio ambiente.
113
Programas de Acompanhamento e Monitoramento dos Impactos (PAs)

Temática do PA Denominação

MEIO FÍSICO
PA 1 - Programa de Gerenciamento de Resíduos Sólidos
PA 2 - Programa de Monitoramento da Linha e do Perfil Praial
PA 3 - Programa de Monitoramento da Qualidade da Água e Balneabilidade
PA 4 - Programa de Recuperação de Restinga e Áreas de Dunas na Praia Engordada
PA 5 - Programa de Monitoramento Contínuo para Identificação de Hotspots de Erosão
PA 6 - Programa de Segurança do Trabalho
PA 7 - Programa de Acompanhamento da Execução das Obras

MEIO BIÓTICO
PA 8 - Programa de Salvamento e Conservação da Fauna Marinha
PA 9 - Programa de Salvamento e Conservação da Fauna Costeira
PA 10 - Programa de Monitoramento da Flora Terrestre
PA 11 - Programa de Monitoramento da Fauna e Flora (Marinhas e Associadas)
PA 12 - Programa de e Resgate de Germoplasma e Conservação da Flora

MEIO SOCIOECONÔMICO
PA 13 - Compensação Socioeconômica para Pescadores
PA 14 - Programa de Cooperativismo Pesqueiro
PA 15 - Programa de Melhoria da Qualidade e Beneficiamento dos Pescados
PA 16 - Capacitação em Zooartesanato
PA 17 - Programa de Capacitação Técnica e Profissional do Estaleiro Escola
PA 18 - Programa de Comunicação Social (PCS)
PA 19 - Apoio a Atividades Econômicas e Produtivas Ligadas Diretamente à Praia
PA 20 - Programa de Educação Ambiental
PA 21 - Prospecção e Resgate do Forte do Buraco
PA 22 - Programa de Prospecção e de Resgate Arqueológico
PA 23 - Programa de Prospecção Arqueológica Subaquática
PA 24 - Programa de Monitoramento, de Resgate Arqueológico e Educação Patrimonial
das Obras de Contenção e de Engordamento das Praias
PA 25 - Programa Paisagístico Integrando às Obras e às “Novas Praias”
114

Gerenciamento de resíduos Sólidos

Monitoramento da linha e do Perfil Praial

Monitoramento da qualidade da Água e Balneabilidade

Recuperação de Restinga e Áreas de Dunas na Praia da Engordada

empreendimento.
Monitoramento contínuo para identificação de hotspots de Erosão
Prog. meio físico
Segurança do trabalho

Acompanhamento da execução das Obras

ambiental
Salvamentos e conservação da Fauna Marinha

Prognóstico
Salvamentos e conservação da Fauna Costeira

da qualidade
Monitoramento da flora terrestre

situações sem o empreendimento e com o


Monitoramento da fauna e flora (marinha e associadas)

O prognóstico ambiental foi elaborado com

ção de impactos, apresentando uma análise


bem como na sua análise integrada e avalia-

comparativa dos cenários ambientais para as


base nas informações do diagnóstico ambien-
tal dos meios físico, biótico e socioeconômico,
Resgate de germoplasmas e conservação da flora
Prog. meio biótico

Compensação socioeconomica para pescadores

Cooperativismo Pesqueiro

Melhoria da qualidade e Beneficiamento dos pescados

Capacitação em Zooartesanato
Sistema de gestão ambiental

Capacitação técnica e profissional do estaleiro escola

Comunicação social (PCS)

do turismo na região.
Apoio a atividades econômicas e produtivas ligadas

dimento
diretamente a praia.
Educação Ambiental
Qualidade Prospecção e resgate do forte do buraco

o empreen-
Prospecção e resgate arqueológico
Prog. meio sócioeconômico

Prospecção arqueolócia subaquática


Monitoramento, de resgate arqueológico e educação
ambiental sem
patrimonial das obras de contenção de engoradamento das praias

das perdas econômicas com a desvalorização


ao longo das décadas associado às atividades

nio material e imaterial, representadas através


O processo desordenado da ocupação urbana

antrópicas, à urbanização, à construção de al-

orla marítima ao longo das décadas, revelando


uma tendência de grandes perdas do patrimô-
ternativas inadequadas para o controle do pro-
Paisagístico integrando as obras e as “novas praias”

imobiliária, perdas do espaço público de lazer e


cesso erosivo vem provocando a degradação da
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Esse processo de degradação avança, sendo
um processo progressivo contínuo.
Qualidade
ambiental com
A situação ambiental, no que se refere à faixa
de praia futura da área, sem o empreendimen-
o empreen-
to, pode ser prognosticada da seguinte forma: dimento
• Sem a segmentação do quebra-mar, as as O projeto de recuperação da orla marítima tem
ondas continuarão atingindo fortemente como finalidade reduzir os danos provocados
a praia. Essa variação gera um gradiente pelo avanço do mar nas últimas décadas, mi-
de pressão que induz correntes longitudi- tigando o efeito da perda de área de acesso a
nais na zona de surfe (entre o arrecife e praia, bem com reduzindo o risco de perda dos
a praia). Essas correntes são capazes de imóveis, equipamentos de infraestrutura e lazer
transportar sedimento para fora do sistema construídos na orla marítima.
costeiro, servindo como um sumidouro Esta obra trará usos múltiplos, tendo em vista
natural; que o espaço da orla garante o equilíbrio do
• O enrocamento não potencializará a ecossistema praial, assegura o habitat susten-
recuperação da praia preexistente como é tável da fauna e flora existentes, que propor-
observado atualmente, devido aos pro- cionarão uma melhoria da qualidade de vida
cessos erosivos, o que reflete em perdas da população diretamente afetada, ao permitir
econômicas; a dinamização de atividades econômicas e
• O engordamento (aterro hidráulico) terá aumento de emprego e renda. A obra também
vida útil curta, devido aos processos erosi- vai oferecer um espaço de beleza paisagística e
vos o que reflete em perdas econômicas; de uso de área de lazer para a população local
• A área a ser recuperada retornará as condi- e os turistas.
ções atuais, prevendo-se o avanço do mar Ressalta-se que o processo de engorda da orla,
sobre o calçadão. contemplando reposição de areia e constru-
ção de espigões, implica necessariamente na
Dessa forma, a não construção de uma obra ocorrência de vários impactos adversos sobre
de porte sistêmico mantém esse status quo, o ambiente atual, cuja importância foi avaliada
deixando os bens da população residente, bem e coberta por um conjunto de propostas de
como a população usuária, além da infraestru- mitigação e por Programas Ambientais, que
tura pública, a mercê do avanço do nível do permitirão desenvolver a gestão ambiental da
mar e degradação progressiva da orla marítima. área.
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Entre os impactos positivos, ressaltam-se a pro- ecossistema, prevendo-se temporariamente


teção do patrimônio construído, estímulo à eco- a degradação da paisagem pela própria
nomia local, fortalecimento do turismo, diversi- exposição do canteiro de obras e movimen-
ficação das atividades econômicas, contratação tação das máquinas, materiais e trabalha-
de mão de obra e do fornecimento de produtos dores no local;
e serviços ao empreendimento, contribuindo • O local em obras demonstrará uma situa-
para a geração direta de emprego e renda, ção de desconforto ambiental em decor-
além de incentivar de forma indireta a geração rência da emissão de ruídos e lançamento
de postos de trabalho em outros setores. de poeiras, bem como pela situação de
alteração da paisagem pelas obras;
Deve-se considerar que o aumento das de- • Como efeito da situação de desconforto
mandas de infraestrutura física e social da orla ambiental, os estabelecimentos do entorno
marítima nos últimos anos, vem acontecendo sofrerão perdas temporárias, uma vez que
face à grande especulação imobiliária, particu- é previsível uma diminuição na frequência
larmente em razão do crescimento econômico de visitantes ao local, o que deverá per-
de Pernambuco. Este crescimento se deve à manecer até que as condições ambientais
existência de empreendimentos estruturado- favoráveis sejam restabelecidas;
res, tais como o Complexo Portuário Eraldo • Temporariamente, o tráfego de veículos na
Gueiros (Suape), o Polo Industrial de Goiana, via principal e nas secundárias (vias de
bem como as obras estruturadoras, como a Via acesso) sofrerá alteração no trânsito, uma
Mangue, para atender as demandas futuras da vez que haverá necessidade do transporte
Copa do Mundo de 2014. de diversos materiais de construção civil e
máquinas pesadas;
Durante a fase de implantação das obras de • A qualidade da água nessa faixa de praia,
controle da erosão na orla dos municípios do bem como no seu entorno, apresentará
Paulista, de Olinda, do Recife e de Jaboatão alteração, tornando-se temporariamente
dos Guararapes, o processo construtivo do turva, devido o aumento de sólidos em
empreendimento que envolve ações como suspensão;
manejo de materiais rochosos, manuseio de • Durante o período de instalação da
equipamentos, movimentação de máquinas e segmentação do quebra-mar e do en-
de trabalhadores, poderá apresentar os seguin- gordamento da praia, é provável que os
tes prognósticos: componentes da fauna e flora marinha
(ecossistema aquático), bem como as
• Ficar submetida à instabilidade ambiental relações tróficas estabelecidas, sofram
e desequilíbrio da dinâmica natural do desequilíbrio em caráter temporário. Pos-
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teriormente, é notório que a obra se torne o equilíbrio morfodinâmico;
um atrativo para a fauna e flora, criando-se • Na área de interferência física do quebra-
desta forma um novo habitat para algas e mar no ambiente aquático, ou seja, entre
organismos incrustantes. a praia e o alto-mar, não há previsão de
alterações nos parâmetros físicos ou bio-
Depois da segmentação do quebra-mar e en- lógicos, desde que não haja intervenções
gordamento da praia: antrópicas no local.

• A segmentação do quebra-mar, para área O prognóstico desse estudo é o de que o


em foco, irá intensificar a troca de sedi- empreendimento recuperação da orla maríti-
mentos pelas correntes de retorno e permi- ma dos municípios de Jaboatão, do Recife, de
tir a oxigenação da água, não afetando o Olinda e do Paulista deve ser implementado, o
equilíbrio do ecossistema marinho; que contribuirá para o desenvolvimento susten-
• A paisagem local será alterada com a ins- tável da região. A recuperação da orla marítima
talação de uma nova feição a qual deverá, corresponde ao principal impacto positivo deste
a médio e longo prazo, ser reincorporada projeto.
aos cartões postais da orla marítima dos
municípios da Região Metropolitana do
Recife, restabelecendo a beleza anterior;
Conclusões
• A obra proporcionará a conservação da
O Estado de Pernambuco se encontra em gran-
faixa de praia recuperada com o aterro
de crescimento, em especial na Zona Costeira,
hidráulico, gerando saldos positivos;
que apresenta a maior densidade demográfica
• A manutenção da praia recuperada, garan-
do Estado, concentrando atividades econômi-
tida com o engordamento da mesma, redu-
cas, industriais, de recreação e turismo. Diver-
zirá sensivelmente os custos com possíveis
sos problemas ambientais têm se desenvolvido
reposição do aterro hidráulico;
no litoral pernambucano com destaque para
• A faixa litorânea, no entorno, poderá levar
os processos erosivos ao longo da costa. Na
vários anos para estabelecer um novo equi-
tentativa de contê-los, ao longo dos anos, di-
líbrio, especialmente se houver transporte
versas alternativas foram implementadas, como
de areia pela deriva litorânea. Por isso é
a instalação de estruturas rígidas, a exemplo
essencial o monitoramento posterior;
de muros de proteção, diques, quebra-mares,
• Como a estrutura será construída paralela
espigões e outras técnicas de contenção cons-
a praia, ocorrerá significativa redução na
truídas para solucionar um problema local, e
altura das ondas e ressacas que alcançam
que passaram a induzir o processo de erosão
a linha de costa promovendo, dessa forma,
em áreas próximas.
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Os municípios de Jaboatão dos Guararapes, analisados e avaliados. Para mitigar, controlar e


do Recife, de Olinda e do Paulista, localizados até neutralizar o efeito desses impactos foram
na Região Metropolitana do Recife, sofrem propostas medidas mitigadoras, e elaborados
bastante com os processos erosivos causados 25 Programas Ambientais para subsidiar o de-
pela ação do mar ou como consequência das senvolvimento da Gestão Ambiental da área.
estruturas de contenção instaladas, provocando
a destruição do potencial da orla para o turismo A análise dos impactos positivos e negativos
e o lazer. A partir desse panorama, as prefei- e a convicção da necessidade de obras estru-
turas decretaram situação de emergência em turadoras concatenadas em políticas públicas
algumas áreas da orla marítima, o que levou efetivas para a redução dos desastres recorren-
o Governo de Pernambuco a buscar medidas tes do avanço do mar no litoral pernambucano
para minimizar esses impactos, através de mostrou que é importante e indispensável para
projetos que considerem uma visão mais ampla a implementação do empreendimento. Por fim,
do Estado. considerando o caráter dinâmico e a especifi-
O empreendimento Recuperação da Orla Ma- cidade do empreendimento, é possível que, ao
rítima dos municípios de Jaboatão dos Gua- longo do tempo, ou até mesmo durante a fase
rarapes, do Recife, de Olinda e do Paulista é de discussão e análise deste EIA, seja neces-
uma ação estruturadora do Governo do Estado, sária a adoção de medidas complementares
inserida numa política pública de controle das não previstas neste documento. Assim sendo,
Mudanças Climáticas. A recuperação da orla é relevante o acompanhamento sistemático de
marítima e recomposição das praias arenosas todas as fases de operacionalização do empre-
proporcionarão melhores condições para o endimento, de forma a possibilitar a adoção, de
desenvolvimento socioeconômico e ambiental modo proativo, de medidas complementares
destes municípios, através de novas oportuni- que se fizerem necessárias. Do ponto de vista
dades e melhores condições. técnico, pode-se considerar que os cuidados
ambientais prévios, as medidas mitigadoras
O Estudo de Impacto Ambiental (RIMA) foi de- e de controle, quando bem implementadas,
senvolvido com o objetivo de avaliar os diferen- contribuirão efetivamente para a viabilidade
tes tipos de impactos ambientais, associados às ambiental da atividade descrita e avaliada neste
distintas fases de planejamento, implantação e documento.
de operação do empreendimento. Foi realizado
um diagnóstico do ambiente a ser afetado, con-
templando os elementos ambientais dos meios
físico, biótico e socioeconômico, sendo iden-
tificados prováveis impactos, os quais foram
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