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3 - DIAGNÓSTICO AMBIENTAL COMPLEMENTAR

3 - DIAGNÓSTICO AMBIENTAL COMPLEMENTAR ................................................. 111


3.1 Apresentação do Capítulo ................................................................................................. 112
3.2 Definição das Áreas de Influência do Empreendimento ................................................ 113
3.2.1 Área de Influência Direta (AID) ......................................................................................... 113
3.2.2 Área de Influência Indireta (AII)......................................................................................... 114
3.3 Histórico de transformação da AID .................................................................................. 115
3.4 Diagnóstico de Meio Físico ............................................................................................... 118
3.4.1 Características topográficas da Área de Implantação ...................................................... 118
3.4.2 Geologia / Geotecnia / Pedologia / Geomorfologia ........................................................... 119
3.4.3 Recursos Hídricos ............................................................................................................. 125
3.4.4 Ruído e Qualidade do Ar ................................................................................................... 127
3.4.5 Oceanografia Física / Climatologia ................................................................................... 129
3.4.6 Sedimentologia .................................................................................................................. 139
3.5 Diagnóstico de Meio Biótico ............................................................................................. 149
3.5.1 Cobertura Vegetal na AII ................................................................................................... 149
3.5.2 Cobertura Vegetal na Área Diretamente Afetada (ADA) .................................................. 151
3.5.3 Levantamento Fitosociológico das áreas de restinga da ADA ......................................... 158
3.5.4 Unidades de Conservação em um raio de 10km .............................................................. 168
3.5.5 Fauna Terrestre ................................................................................................................. 168
3.5.6 Microbiota Aquática ........................................................................................................... 175
3.5.7 Macrobiota Aquática .......................................................................................................... 189
3.5.8 Atividade Pesqueira nos Municípios do Cabo e Ipojuca ................................................... 195
3.5.9 Estimativa da Produção Pesqueira na AID do Empreendimento ..................................... 199
3.5.10 Espécies de Relevante Valor identificadas na AID ........................................................... 207
3.6 Diagnóstico socioeconômico nas áreas de influência do Empreendimento ............... 210
3.6.1 Observações Preliminares ................................................................................................ 210
3.6.2 Diagnóstico socioeconômico da AII .................................................................................. 210
3.6.3 Diagnóstico socioeconômico da AID ................................................................................. 230
3.6.4 Uso do Solo na AID ........................................................................................................... 237
3.7 Diagnóstico de Patrimônio Cultural ................................................................................. 241
3.7.1 Contexto do diagnostico de Patrimônio Cultural ............................................................... 241
3.7.2 A Arqueologia na AII após o EIA de 2000 ......................................................................... 242
3.7.3 Atualização do Diagnóstico de Patrimônio Cultural na AID .............................................. 245
3.7.4 Vistoria de superfície na Área Diretamente Afetada (ADA) .............................................. 248

Capítulo 3 - 111
3.1 APRESENTAÇÃO DO CAPÍTULO
O item 3.8 do Termo de Referência da CPRH direciona os trabalhos de diagnóstico
para uma complementação das informações já constantes nos estudos correlatos
efetuados na área com finalidades de licenciamento de outros empreendimentos. São
citados no referido TR os estudos desenvolvidos para o Estaleiro Atlântico Sul de 2007
e do EIA/RIMA de AMPLIAÇÃO E MODERNIZAÇÃO DO PORTO DE SUAPE do ano
2000. Poderia-se acrescentar a este conjunto de estudos o Relatório de Avaliação
Técnica de Impacto Ambiental (ATIA) de EXECUÇÃO DE SERVIÇO DE DRAGAGEM
PARA APROFUNDAMENTO DO CANAL DE ACESSO E BACIA DE MANOBRA, E
PARA A IMPLANTAÇÃO DO PÍER PETROLEIRO, TUBOVIA E PROLONGAMENTO E
REFORÇO EXTERNO DO MOLHE PRINCIPAL, elaborado pela Empresa DBF
Planejamento e Consultoria em 2008.
As complementações a que se refere o TR foram interpretadas pela equipe
elaboradora deste estudo, como as informações necessárias para permitir uma
avaliação da qualidade ambiental atual do local de implantação do Empreendimento.
Nesse sentido, aprofundaram-se as pesquisas naqueles aspectos de maior
sensibilidade que poderiam ter sido alterados pela atividade industrial do Porto desde
2007 e mais ainda desde 2000, quando da elaboração do EIA de SUAPE. Essas
informações referem-se principalmente a aspectos relacionados com qualidade d’água
e biota aquática.
Conforme exigido no TR, os levantamentos efetuados foram abordados em dois níveis
de detalhamento:  Com foco na caracterização da Área de Influência Indireta, onde a
fonte de informações principais foram os estudos existentes e planos co-localizados, e
 Com foco na caracterização da Área de Influência Direta (AID) e Área Diretamente
Afetada (ADA) onde primaram os levantamentos diretos de campo. Embora as
abordagens de levantamento de dados tenham sido diferenciadas para as áreas de
influência Direta e Indireta, a análise e interpretação de informações foram feita de
forma complementar, em um processo iterativo onde os levantamentos de dados
secundários direcionavam a necessidade de obtenção de dados primários, os quais,
após obtidos, complementavam e balizavam as informações inicialmente levantadas.

Áreas do conhecimento abordadas para atualização


Figura 3. 1 –
do diagnóstico

As áreas de influência foram levantadas por uma equipe multidisciplinar, cujas


especialidades são apresentadas na Figura 3.1. A metodologia de levantamento foi

Capítulo 3 - 112
proposta e desenvolvida por cada especialista, mas seguindo um objetivo comum
definido pela coordenação, notadamente que nos resultados obtidos pudessem ser
identificados três tipos de informações:  a história das transformações ambientais do
território,  o inventário ambiental com a descrição das alterações ecológicas ou
ambientais existentes, e finalmente,  a valoração do estado atual do meio ambiente.

3.2 DEFINIÇÃO DAS ÁREAS DE INFLUÊNCIA DO EMPREENDIMENTO


A definição das áreas de influência direta e indireta dos Empreendimentos é uma
exigência legal contida no art.5º, inc. III, da Resolução CONAMA n.º 001/86, e objetiva
racionalizar a posterior identificação e avaliação de impactos e correspondentes
medidas mitigadoras.
Transcendendo esta exigência legal, salienta-se que a definição das áreas de
influência tem por objetivo demarcar o limite geográfico necessário para realização de
uma avaliação ambiental de forma objetiva. Geralmente esta definição é feita em
função do cenário esperado de implantação e operação, no entanto, em algumas
ocasiões esta atividade está condicionada por ações pretéritas (passivo ambiental),
como no caso de áreas já degradadas.
Neste caso, foi realizada uma demarcação das áreas de influência do Empreendimento
no intuito de direcionar os trabalhos de campo, principalmente no que tange à definição
da abrangência de pesquisa de cada especialista.
Em se tratando de um estudo complementar, próximo a um Empreendimento existente
do mesmo segmento industrial, considerou-se que as áreas de influência a serem
definidas deveriam estar em consonância com os recortes de terreno que subsidiaram
a elaboração do EIA do Estaleiro Atlântico Sul e o EIA de 2000, salvo que, a critério da
equipe, estas áreas fossem inadequadas, insuficientes ou abrangentes demais para
serem adotadas neste estudo. Nesse sentido, considerou-se adequada a
compatibilização da Área de Influência Direta (AID) com a área de abrangência da
PDZ, que por sua vez contém o Cluster Naval do qual o empreendimento em análise
faz parte.
Assim, ficaram definidas como áreas de influência do Empreendimento os recortes de
terreno relacionados a seguir:

3.2.1 Área de Influência Direta (AID)


Definiu-se como área de Influência Direta (AID) do meio físico – biótico um recorte de
terreno com aproximadamente 4111 hectares, abrangendo a totalidade do futuro
cluster naval das Ilhas de Tatuoca e Cocaia, a totalidade do Rio Massangana incluindo
o canal norte e o trecho final do Rio Tatuoca. Do lado oeste o limite da AID compartilha
o limite do Cluster Naval, enquanto do lado leste coincide com o limite oceânico do
CIPS. Incluiu-se igualmente nesta área parte da vertente norte do Rio Massangana,
localizada no Cabo de Santo Agostinho, especificamente aquela abrangida pela
microbacia do Rio Tiriri e que alimenta os manguezais da denominada Gamboa do
Barroco, por trás da Praia de SUAPE. Nesta porção da AID estará localizada a Zona
Residencial Nova Tatuoca, criada pelo Governo do Estado através do decreto n°
35.170 de 16 de junho de 2010.

Capítulo 3 - 113
Salienta-se que alguns impactos diretos e relevantes do Empreendimento deverão
extrapolar os limites supracitados, notadamente, os referentes à disposição do material
proveniente da dragagem e que, por suas características, não possam ser usados nos
retro-aterros requeridos pelo cluster naval. Este material deverá ser lançado, ora em
bota-foras oceânicos devidamente licenciados, ora em bota-foras continentais
igualmente licenciados. Contudo, esta atividade que está sob a responsabilidade direta
da Empresa SUAPE, ainda não apresenta um projeto com a indicação das áreas de
destinação final de material, convertendo-se em uma limitante do estudo, uma vez que
impossibilita a extensão da AID para esses locais. Salienta-se adicionalmente que a
dragagem será realizada abrangendo grande parte do futuro cluster naval, não estando
restrita somente ao atendimento das necessidades do Estaleiro PROMAR.
Em termos socioeconômicos considera-se que o recorte de terreno definido acima
como AID, atende também as necessidades de diagnóstico relacionadas com a
dimensão social, tanto para a etapa de implantação como de operação. Observa-se
que, embora a área de instalação e adjacências do Empreendimento esteja inserida na
Zona Industrial Portuária-ZIP, ainda são encontradas edificações residenciais ou de
uso misto, que são objeto de um processo de negociação, envolvendo a Empresa
SUAPE e moradores do lugar, intermediado pela Associação de Tatuoca e do
Ministério Público, e visando à total desocupação dos terrenos com vistas à instalação
do cluster naval.

3.2.2 Área de Influência Indireta (AII)


Define-se como Área de Influência Indireta (AII) aquela ameaçada, real ou
potencialmente, pelos impactos da fase de instalação e operação do Empreendimento
em função dos impactos ocorridos na Área de Influência Direta –(AID).
Nesse sentido, considerou-se como AII do meio físico – biótico o perímetro do CIPS,
uma vez que a supressão de mangue, a mudança no uso do solo, a utilização de bota-
foras, dentre outros, terão um reflexo direto nas compensações, leis específicas e uso
do solo do Complexo como um todo.
Em termos socioeconômicos, o espaço geográfico definido como AII extrapola os
limites de SUAPE, sobretudo, na Fase de operação, tal como assinalado no EIA RIMA
referente ao Estaleiro Atlântico Sul e transcrito na sequência:
Uma cadeia produtiva vai se instalar em áreas próximas ao Estaleiro ou
mesmo dentro dos limites do Complexo. São indústrias de peças de
reposição, de equipamentos, acessórios, contando-se, ainda, a necessidade
de expansão da contratação de especialistas, serviços especializados,
intermediações financeiras de vulto, seguros, projetos, urbanização,
relacionamentos com agências governamentais1.
Diante disso, delimitou-se como AII do Meio Socioeconômico os municípios abrangidos
pelo Plano Território Estratégico de SUAPE, Diretrizes para uma ocupação
sustentável 2 , elaborado pelo Governo de Pernambuco com o Objetivo principal

1
MULTICONSULTORIA. Estaleiro Camargo Corrêa, Porto de SUAPE - PE. Estudo de Impacto
Ambiental. Recife, 2004, Cap. 8, p.2.
2
Disponível no endereço www.portais.pe.gov.br, consulta em 5/4/2010.

Capítulo 3 - 114
construir de forma participativa e integrada um referencial de ação, que oriente as
iniciativas dos diferentes atores na construção do Território do entorno do Complexo
Portuário de SUAPE, de forma a alcançar o seu desenvolvimento sustentável.
Assim, a AII ficou formada pelo seguinte conjunto de Municípios: (1) Cabo de Santo
Agostinho; (2) Ipojuca; (3) Escada; (4) Jaboatão dos Guararapes; (5) Moreno; (6)
Sirinhaém; (7) Ribeirão; (8) Rio Formoso.
A inserção do Empreendimento no Complexo Industrial Portuário de SUAPE, CIPS,
onde o funcionamento do cluster naval projetado indica a probabilidade de impactos
cumulativos e sinérgicos que poderão advir das atividades a serem desenvolvidas na
área. No entanto, considera-se que, do ponto de vista das relações socioeconômicas, a
maior intensidade dos impactos do Empreendimento estudado deverá acontecer nos
Municípios de Ipojuca e do Cabo de Santo Agostinho. Destaque-se, ainda, que o
Empreendimento provocará impactos para além dos limites acima mencionados, em
particular no que se refere à geração de emprego e renda, tópico que será abordado no
Prognóstico, mas prescinde de diagnóstico mais acurado, pelo fato de estudos
anteriores já haverem abordado essas questões3.

3.3 HISTÓRICO DE TRANSFORMAÇÃO DA AID


Conforme mencionado no item 3.1 acima, um dos três focos principais que devem ser
necessariamente abordados em um diagnostico ambiental, corresponde ao
levantamento do histórico de transformações do território que está sendo estudado.
Isto, no caso do CIPS, é ainda mais relevante, uma vez que se trata de um recorte de
terreno que vem passando por profundas mudanças em todas as dimensões
ambientais, tanto físicas como bióticas e também socioeconômicas.
Esta retrospectiva e contextualização se faz necessária para permitir situar o Estaleiro
no atual estado de desenvolvimento do Porto de Suape e no contexto de seu cluster
naval, bem como identificar e isolar as ações e obras que ocorrerão especificamente
para instalação do Estaleiro PROMAR daquelas em andamento ou que poderão vir a
ser desenvolvidas paralelamente nas proximidades da área de instalação do estaleiro,
mas que fazem parte da infraestrutura geral do Porto. Esta identificação é importante
posto que em alguns casos, obras e intervenções já foram alvo de EIA/RIMA anteriores
e para as quais já foram fornecidas licenças de instalação e demandadas ações
mitigadoras/compensadoras. Em outros, as obras e intervenções serão alvo de
EIA/RIMA específicos para tal. Nas duas situações, não cabendo contabilizar por
duplicados os impactos ao meio ambiente que resultaram ou que venham a serem
gerados pelas mesmas.
O Complexo Industrial Portuário de Suape teve sua construção iniciada em 1973. Em
1979, uma área central entre os Rios Ipojuca e Tatuoca foi aterrada e nela têm sido
edificadas as principais instalações da ZIP (terminais de Contêineres, parque de
tancagem, etc).

3
PIRES ADVOGADOS & CONSULTORES LTDA. EIA/RIMA de ampliação e modernização do Porto de
SUAPE, 2000; MULTICONSULTORIA: EIA/RIMA do Estaleiro Atlântico Sul (Camargo Corrêa), 2004;
MORAES & ALBUQUERQUE ADVOGADOS E CONSULTORES. Estudo de Impacto Ambiental do
Contorno Rodoviário do Cabo de Santo Agostinho, 2010.

Capítulo 3 - 115
Uma área de Porto Externo foi criada adjacente a área central da ZIP, com a
construção de um molhe de proteção em forma de "L", com 2.950 m de extensão, a
partir de 1984. Nesta área foram implantados o Píer de Granéis Líquidos (PGL1) e o
Cais de Múltiplos Usos (CMU), possibilitando o início da operação do Porto de Suape
ainda naquele ano. A construção do segundo Píer de Granéis Líquidos (PGL2) foi
concluída em 2001.
Em 1997, um trecho de 300m do arrecife principal foi aberto para dar acesso à área de
Porto Interno. A 1ª Etapa do Porto Interno foi concluída em 1999 e inaugurada com a
atracação do navio Sea Panther em seu primeiro berço, um caís público de múltiplos
usos, com 275 metros de extensão, e aberto ao tráfego marítimo nacional e
internacional. Neste mesmo ano, foi apresentado o Projeto Básico de Ampliação e
Modernização do Porto de Suape. Este projeto visava ampliar e melhorar a capacidade
operacional do Porto de Suape de modo a permitir a entrada e operação de navios de
grande porte, atrair a instalação de indústrias e terminais privados, redução de custos,
e assim maior competitividade no setor.
Em 2001, foi iniciada a 2ª etapa do Porto Interno, com a continuação das dragagens do
canal de navegação. Em 2003, o canal de navegação interno apresentava 1.500m de
extensão, 450 m de largura e 15,5 m de profundidade. Os berços 2 e 3, cada um com
330 m de extensão, haviam sido concluídos e passaram a atender o Terminal de
Contêineres Privados.
Posteriormente, em 2007, o canal de navegação interno foi estendido por mais 450 m e
concluído o berço 4, com 330, abrigando o Terminal de Granéis Sólidos do Porto de
Suape.
A construção do cais 5, com 330 m de extensão e 34 m de largura, foi iniciada em 2008
e concluída em 2009. Estão também prevista a construção de 3 berços adicionais
dentro do potencial de expansão de mais 15 km de cais acostável possíveis e que
comportarão os cais 6, 7 e 8.
Em 2009, a bacia de manobras do Porto Externo foi dragada e ampliada e um píer
petroleiro vem sendo construído para permitir manobra e atracação dos navios
petroleiros que estarão servindo a Refinaria Abreu e Lima. Ao longo de 2010, a bacia
de manobras do Porto Interno, a área nas imediações do Estaleiro Atlântico Sul e os
setores norte e oeste do canal da Ilha de Tatuoca deverão ser dragadas.
Recentemente, julho/2010, foi apresentado em audiência pública, a empresários e
representantes da sociedade civil, a revisão do Plano Diretor de Suape, que contempla
as ações previstas na área até 2030. Este plano prevê um cluster naval, na área da
Ilha de Tatuoca, onde atualmente acha-se instalado o Estaleiro Atlântico Sul e está
localizado o terreno no qual está prevista a instalação do Estaleiro PROMAR.
A instalação deste cluster implicará no desmatamento de áreas de mangue (893,4 ha),
de mata atlântica (17,0 ha) e de restinga (166,1 ha) para instalação dos novos
empreendimentos e aberturas de canais de navegação. Entendendo que o impacto da
perda da vegetação seria inevitável, mas de interesse público, a ocupação da área
para instalação do cluster náutico foi autorizada pela Lei Estadual 1496/2010.
O histórico de implantação do CIPS sumarizado nos parágrafos acima permite elucidar
que a dinâmica de transformação vem apresentando um comportamento de maior ou
menor intensidade ao longo dos anos, iniciando-se no final da década de 70 quando da

Capítulo 3 - 116
desapropriação das terras e implantação da primeira etapa do porto. A partir daí o
Porto de SUAPE continuou com seu processo de transformação com a construção da
primeira etapa do porto interno, na qual foi requerida a supressão de parte dos
manguezais localizados no estuário que na época formavam os Rios Massangana,
Tatuoca, Merepe e Ipojuca. Em épocas mais recentes as principais transformações do
Porto de SUAPE estiveram relacionadas com a implantação da Refinaria Abreu e Lima,
que modificou o relevo de uma área de 600 hectares, passando de uma formação
colinosa a uma formação tabular. Agora, vislumbra-se um novo ciclo de transformação
do Porto com a expectativa de implantação do cluster naval na zona portuária, o que
implicará em um novo processo de supressão de manguezais, restingas e alguns
remanescentes de mata atlântica.
Observa-se que a maior parte destas transformações do Porto de SUAPE ocorreram
na área baixa correspondente à planície costeira, no estuário que hoje formam
unicamente os Rios Massangana e Tatuoca e que, conforme item 3.2.1, coincide com a
delimitação definida por este estudo como AID.
O referido estuário é formado pelas Ilhas da Cocaia, Tatuoca, da Cana e dos Barreiros,
contidas no Município de Ipojuca e pela Ilha das Cobras, no Cabo de Santo Agostinho.
Todas são ilhas sedimentares cobertas por extensos manguezais. A Gamboa do
Barroco que fica por trás da faixa da Praia de SUAPE também é coberta de
manguezais.
Estas ilhas são ecossistemas isolados que resultaram de acidentes geográficos do
relevo continental ou da plataforma submarina, da ação de vulcões, ou da
sedimentação de materiais. No caso em apreço, as ilhas apresentam uma
característica fluvial, com grande parte das suas margens protegidas por mangues,
sendo as espécies mais comuns identificadas o Mangue Vermelho (Rhizophora
mangle), o Mangue Branco (Laguncularia racemosa), a Siriúba (Avicennia sp.) e o
Mangue de Botão (Conocarpus sp.).
Conforme já dito, das áreas que formam o Porto de SUAPE, a zona estuarina é a que
vem apresentando os processos de transformação mais drásticos, começando pela
ruptura da linha de arrecifes para efeitos de abertura do canal de navegação, que daria
acesso ao Porto. Esta transformação inicial eliminou a ilha original de Cocaia, sendo o
seu nome transferido para uma ilha mais ao norte. Com efeito, conforme consta no
capítulo de oceanografia física do EIA do EAS, até o início da implantação do
Complexo Industrial Portuário de SUAPE em fins da década de 70, as águas dos rios
Ipojuca e Merepe convergiam para a Baía de SUAPE e, juntamente com as dos Rios
Tatuoca e Massangana, comunicavam-se com o mar por meio de uma barra natural
próxima ao Cabo de Santo Agostinho, única comunicação aberta daqueles sistemas
com o Atlântico. O aterro realizado para instalação da zona portuária do CIPS, isolou o
fluxo dos Rios Ipojuca e Merepe da Baía de SUAPE com suas drenagens passando a
ocorrer via um rebaixamento realizado no recife.
Um aspecto importante que deve ser observado é que em SUAPE, ao longo destes
últimos 30 anos, nem tudo foi decadência dos ecossistemas naturais. Além dos
projetos de reflorestamento e preservação ambiental promovidos pelo CIPS, o fato das
terras terem sido congeladas para efeitos de cultivo, promoveu uma recuperação dos
ecossistemas naturais em áreas, verificando-se, por exemplo, o avanço das áreas de
mangue, restinga e mata sobre áreas, que antes da implantação do porto,
apresentavam solo exposto ou cultivos. Esta situação pode ser visualizada mais
Capítulo 3 - 117
claramente na Figura 3.2, que ilustra as condições da drenagem original da área antes
da implantação do CIPS.

Figura 3.2 – Mapa da Baía de SUAPE, prévio à implantação do CIPS.

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Fonte: AMS Assessoria e Consultoria Ltda. Estudos de consolidação de informações arqueológicas do CIPS.

3.4 DIAGNÓSTICO DE MEIO FÍSICO


3.4.1 Características topográficas da Área de Implantação
Conforme já mencionado ao longo do estudo, o Empreendimento ocupará uma área de
80 hectares localizados na porção nordeste da denominada Ilha de Tatuoca, estando
este recorte de terreno limitado fisicamente pela Ilha de Cocaia ao leste, o Rio
Massangana ao norte, o Riacho da Cana ao oeste e o Estaleiro Atlântico Sul do lado
sul.
Como aspectos relevantes do limites existentes, menciona-se o estreitamento do canal
que separa as Ilhas de Cocaia e Tatuoca, em decorrência do processo de
assoreamento que se verifica, possivelmente decorrente das atividades de dragagem.
Igualmente, menciona-se a presença do Hotel Vila Galé, antigo Blue Tree Park, na
margem oposta do Rio Massangana.

Capítulo 3 - 118
A formação topográfica da Ilha é enganosamente plana, com cotas altimétricas que
variam desde o zero hidrográfico até a cota 5,0m na porção sul do terreno limitando
com o EAS. Estas elevações do terreno possivelmente correspondem a aterros
antrópicos efetuados por SUAPE quando da dragagem da primeira etapa do canal de
navegação.
Na área de 131,0 hectares podem ser verificadas diversas tipologias de cobertura
vegetal, funções estas da altimetria do terreno, que determina a inter-relação com o
fluxo e refluxo da maré. Nas áreas mais externas da área localizada em cotas mais
baixas podem ser observados áreas de manguezais de diversas densidades e graus de
conservação, as quais dão passo a uma faixa de apicuns e salgados na medida em
que se adentra na área e as cotas se elevam de forma gradativa. Essas áreas de
salgados estão protegidas com vegetação rasteira, sendo nomeada pelos moradores
locais como “salinas”. Estes ecossistemas se intercalam com formações arbóreas e
arbustivas arbóreas de restinga.
Na área, verificam-se em torno de 13 imóveis de residentes na Ilha de Tatuoca, todas
localizadas do lado nordeste do terreno. O ponto de maior visibilidade é o denominado
“Bar do Bio”, que fornece alimentação para os funcionários do Estaleiro Atlântico Sul e
é freqüentemente visitado por turistas que se deslocam em lancha desde a Praia de
SUAPE. Foram verificados também afloramentos de arenito do lado norte da Ilha, bem
como pequenos processos erosivos nas bordas da Ilha, principalmente do lado oeste,
já nas margens do Riacho da Cana.

Foto 3.1 – Panorâmica norte – sul da Ilha de Tatucoca, no canal que a separa da vizinha Cocaia.

Foto: Héctor Díaz 08/04/10. Proximidades do Ponto : UTM 282388,9075211

3.4.2 Geologia / Geotecnia / Pedologia / Geomorfologia


3.4.2.1 Geologia
A área destinada à implantação do Estaleiro PROMAR encontra-se localizada
integralmente na Bacia Pernambuco (ou bacia do Cabo em algumas classificações
mais antigas) unidade geológica pertencente à Província Costeira de Pernambuco
(Rand, 1976; Mabesoone & Alheiros, 1988). Na área de influência do Empreendimento
ocorrem sedimentos quaternários e rochas da sequência vulcano-sedimentar cretácica
da Bacia de Pernambuco (Formações Algodoais, Formação Estiva, Suíte Magmática
Ipojuca e Formação Cabo), que foram depositados sobre um embasamento de rochas
graníticas e migmatíticas de idade pré-cambriana, e que afloram na porção norte da
Ilha da Tatuoca e no Riacho Ilha da Cana na área de influência do Estaleiro PROMAR.

Capítulo 3 - 119
A Bacia de Pernambuco, na qual se insere a AID do Empreendimento, corresponde a
uma sequência vulcano-sedimentar de idade cretácica composta, na área de influência
do Empreendimento, da Formação Cabo, da Suíte Magmática Ipojuca, da Formação
Estiva e da Formação Algodoais (Figura 3.3).

Coluna crono-estratigráfica da área da Área de


Figura 3. 3 –
Influência do Empreendimento.

Nota: A Carta 10 do Anexo 4 apresenta a geologia da AII

A. Bacia do Cabo
Posicionada na base da coluna estratigráfica, a Formação Cabo na área de
influência do Empreendimento está representada por rochas da sua fácies proximal,
mediana e distal. É representada por conglomerados e arenitos muito finos e
sílticos, que em campo apresentam uma coloração creme ou avermelhado,
mosqueado chegando às vezes a esbranquiçado intercalados com folhelhos negros
(os folhelhos negros não foram observados dentro da área mapeada), que
caracterizam um ambiente lacustre.
Já rochas pertencentes à Suíte Magmática Ipojuca afloram em diversos pontos na
área do CIPS e no promontório do Cabo de Santo Agostinho, correspondendo a
traquitos, riolitos e granitos. Estas unidades precedentes podem ser capeadas, em
discordância angular, pelos carbonatos e siliciclásticos da Formação Estiva (de
idade Cenomaniana-Santoniana), sendo possível identificar formações calcarias na
Ilha de Cocaia.
Capeando a sequência lítica descrita e já no topo da Bacia do Cabo, identifica-se a
Formação Algodoais, que ocorre na porção norte da Ilha de Tatuoca e em grande
extensão a norte do Rio Massangana, entre as praias de SUAPE e Itapoama.
Corresponde a rochas siliciclásticas representadas por conglomerados polimíticos,
composto por seixos centimétricos de traquitos e quartzos dispersos numa matriz
arcoseana grossa, de coloração avermelhada ou amarelada, por vezes em
discordância erosiva com os traquitos da Suíte Magmática Ipojuca. Observa-se
Capítulo 3 - 120
também uma fácies arenosa intercalada com níveis mais argilosos com
estratificações cruzadas, acanaladas e tabulares, com níveis conglomeráticos que
passam a arenitos finos com estratificação cruzada de pequeno porte na direção do
topo.

B. Sedimentos Flúvio-Lagunares

Sedimentos de mangue associado a área estuarina do Rio


Foto 3.2 –
Massangana.

Foto: Edmilson de Lima 17/04/10 - UTM 282420; 9076036

As porções mais planas da área de influência do Empreendimento são cobertas por


sedimentos quaternários holocênicos de origem marinha e fluvial (Foto 3.2). Os
depósitos marinhos são formados por sedimentos arenosos com granulação média a
fina de coloração branca bem selecionados, enquanto os depósitos flúvio-aluviais são
compostos por material de granulação que varia de areia grossa a cascalho.

3.4.2.2 Geotecnia
A Área Diretamente Afetada (ADA) foi prospectada pela Empresa GALVÃO
ENGENHARIA LTDA para efeitos de instalação de um Estaleiro naval, através da
execução de 12 sondagens de reconhecimento à percussão, nas quais foi realizado de
forma contínua o ensaio de SPT. As sondagens se adentraram no solo até atingir
níveis impenetráveis, a profundidades que variaram entre um mínimo de 26.91 no furo
S9 e 42,81 no furo S4, perfazendo um total de 402m de sondagem.
O perfil estratigráfico definido através da descrição tacto-visual registrada nas
sondagens confirma a gênese geológica descrita no item 3.4.2.1 e na qual se menciona
que o subsolo é formado por um depósito sedimentário que capeia rochas, arenitos e
folhelos neste caso, da Bacia Pernambuco. Com efeito, as sondagens mostram um
depósito de sedimentos arenosos, argilosos e siltosos, cujas percentagens variam
erraticamente com a profundidade, ora predominando o comportamento arenoso, ora o
comportamento argiloso.

Capítulo 3 - 121
A espacialização dos perfis das sondagens, complementadas com o registro de SPT,
permite identificar dois (2) setores geotécnicos (Vide Figura 3.4) na área conforme
descrito adiante:

Localização de sondagens e identificação de


Figura 3. 4 –
setores geotécnicos.

Fonte: Adaptado de dados do Estaleiro GALVÃO – GUARUPART

Setor 1
Abrange dois terços da ADA restritos ao setor leste da mesma. Este setor
caracteriza-se pela ocorrência de um estrato intermediário de arenito marrom escuro
a preto, muito duro, com valores de SPT (número de golpes) sempre superiores a 40,
e em alguns casos atingindo valores da ordem de 100. Este estrato foi identificado
em 9 das 12 sondagens (excetuando as sondagens 1,2 e 3), variando em espessura
e profundidade, sendo mais superficial na esquina nordeste do terreno, chegando a
aflorar inclusive em um setor da praia e mergulhando na direção sudoeste, sendo em
torno de 10m a maior profundidade detectada na sondagem 7. A espessura deste
estrato varia no mesmo padrão que sua posição vertical, sendo mais fino na medida
que se aproxima da superfície, tendo sido detectadas espessuras de 1,50m na
sondagem 11 e 5m na sondagem 7.
Sobre este estrato de arenito, observou-se, na maioria dos casos, um depósito de
areia de fina a grossa da cor cinza, com resistência crescente com a profundidade.
Em algumas sondagens (4,5,7,8) deste setor observou-se ainda um estrato
superficial de argila orgânica (turfa) muito mole com aproximadamente 2,50m de
espessura.
Capítulo 3 - 122
Subjazendo o estrado de arenito preto a marrom, observou-se na maioria das
sondagens um padrão similar, caracterizado por uma sequência de horizontes
arenosos siltosos com espessura de mais de 20m, e na qual a resistência à
penetração cai para valores em torno de 10 golpes quando a textura do solo é
predominantemente arenosa e para valores de menos de 5 golpes, quando a
predominância é de materiais siltosos. Superado este horizonte de solo, a resistência
do terreno aumenta rapidamente até atingir o nível de impenetrabilidade.

Setor 2
Abrange 1/3 da ADA, correspondente ao lado noroeste do terreno. Este setor
delimitado pelas sondagens 1,2 e 3, caracteriza-se pelo fato de não ter sido
identificado, até a profundidade explorada, o estrado de arenito marrom descrito
anteriormente.
Neste caso, nas 3 sondagens acima mencionadas identificou-se um horizonte
intermediário de silte arenoso, argiloso com conchas, no qual a resistência à
penetração decai para valores entre 2 e 4 golpes. Este estrato apresenta espessura
variando entre 3 e 5m e profundidades no topo que variam desde 14m (S1) a 5m
(S3).
O comportamento das camadas suprajacentes e das camadas subjacentes a este
estrato de menor resistência, seguem o padrão já descrito para o Setor 1, ou seja,
um acréscimo de resistência com a profundidade.

Por se tratar de uma exploração preliminar não foram realizadas perfurações rotativas
na formação rochosa, contudo, transcreve-se a seguir um trecho do diagnóstico
geotécnico contido no EIA/RIMA do Estaleiro Atlântico Sul, no qual são descritas as
características do estrato rochoso identificado na área vizinha:

Estrato 4: Este estrato correspondente à formação Cabo, pode ser dividido em dois
tipos de materiais.

A. Um primeiro horizonte de argila siltosa pouco arenosa, com presença de


pedregulhos miúdos, dura, vermelha escura com pequenos níveis de folhelhos,
sendo descrita como Argilito incoerente a pouco coerente, foi detectada na
maioria das sondagens após o estrato 3. Em alguns casos este material
apareceu com menor grau de alteração, sendo necessária sua perfuração com
sondagem rotativa. A espessura deste estrato foi variável, sendo os 10.0m a
máxima detectada.
B. Alternadamente com o Argilito, foram detectados níveis de arenito descritos
como de granulação fina com alguma cimentação argilosa, pouco a
medianamente coerente, medianamente fraturado na direção subhorizontal, de
superfícies irregulares e ocasionalmente, preenchida por material granular, cinza
claro.
A qualidade da rocha avaliada através do índice RQD, apresentou valores variáveis,
entre 0 e 60%, sendo 40% o valor mais freqüentemente apresentado, isto representa
uma qualidade da rocha entre muito pobre e pobre segundo tabela acima. Os valores

Capítulo 3 - 123
efetivos de recuperação de rocha estiveram na faixa de 80% como máximo, sendo em
alguns casos inferiores a 30%.

3.4.2.3 Pedologia
De acordo com Guerra (1998) e EMBRAPA (1999), na Área de Influência Direta (AID)
do Empreendimento ocorrem solos Argissolos Amarelos e Vermelho-Amarelos,
Nitossolos, Gleissolos e Neossolos (aolos aluviais, areias quartzosas e solos de
mangue).
Contudo, são os Gleissolos a unidade que melhor caracteriza a área de implantação e
seu entorno. Estes solos são distróficos e eutróficos, com atividade baixa e alta,
associados a relevos planos e suavemente ondulados, com horizonte A moderado e
proeminente, fase floresta perenifólia de várzea. São solos, hidromórficos, associados
à planície aluvial dos Rios Massagana e Tatuoca, Riacho Ilha da Cana e demais
riachos da área de influência do Empreendimento. Apresentam horizonte gley, em
geral, 50 cm abaixo da superfície do solo. Já os solos de mangue são solos
indiscriminados, textura indiscriminada e fase relevo plano, ocorrem em todo o entorno
da área do Empreendimento nas margens do Rio Massangana e Riacho Ilha da Cana.

3.4.2.4 Geomorfologia
Neumann (1991) divide as formas de relevo na área do Complexo Industrial Portuário
de SUAPE em quatro tipos: modelado cristalino, colinas, rampas de colúvio e planície
costeira. O Domínio Colinoso corresponde a formações geológicas cretácicas, com
cotas altimétricas entre 10 e 70 metros. O material deste domínio tem sido usado como
material de empréstimo para realizar os aterros e regularizar áreas para a implantação
de diversos empreendimentos no CIPS (Foto 3.3). De modo que a unidade Domínio
Colinoso e Domínio Rampas de Colúvio estão sendo progressivamente eliminadas na
área do CIPS.
Aspecto do relevo da área de influência do Empreendimento
Foto 3.3 – mostrando a utilização de material do Domínio Colinoso para
regularização de áreas no CIPS.

Foto: Edmilson de Lima 24/04/10 - UTM 279593; 9077308

Capítulo 3 - 124
Já a área onde será instalado o Estaleiro PROMAR, está inserida na unidade Planície
Costeira, que é a unidade mais representativa da Zona Industrial Portuária,
estendendo-se desde a linha do Recife até o sopé das formações mais antigas.

3.4.3 Recursos Hídricos


3.4.3.1 Recursos hídricos superficiais e usos d’água
Os recursos hídricos superficiais associados aos Rios Massangana e Tatuoca são
tratados neste estudo como parte do escopo da oceanografia física discutida no item
3.4.3 adiante. Com efeito, o comportamento destes cursos d’água é totalmente
dependente das condições oceânicas em termos de correntes, salinidade e vazão,
sendo verificado, por exemplo, que o Rio Tatuoca não apresenta uma nascente
definida e sua micro-bacia não ultrapassa os limites do CIPS, com águas
permanentemente salgadas, podendo ser considerado então como um braço de mar.

Foto 3.4 – Margens do Massangana e ao fundo o Estaleiro Atlântico Sul.

Foto: Héctor Díaz 08/04/10. Imediações do ponto UTM: 282352, 9075794

No conceito deste estudo o Rio Massangana apresenta as mesmas características do


Tatuoca podendo ser considerado também como um braço de mar, contudo, o deságue
do Rio Tabatinga pela margem direita, a jusante do Canal Norte, lhe confere, conforme
bibliografia consultada, uma característica de rio, muito embora fique claro visualmente
que a vazão transportada pelo Tabatinga é inexpressiva quando comparada com o
porte do Rio Massangana. De qualquer forma este aporte de água doce proveniente do
Rio Tabatinga atenua um pouco a salinidade deste curso de água, que atinge os
valores mínimos no período de inverno, quando as áreas altas drenam seus deflúvios
em direção a ele, bem como ao Rio Tatuoca.
Conforme bibliografia consultada, um dos impactos da construção do Porto de SUAPE
foi a alteração na salinidade no estuário dos Rios Massangana e Tatuoca. Com efeito,
dados hidrológicos obtidos por Cavalcanti et al. (1980) e citados por Almeida, et Al
(2001), permitiram a classificação do ecossistema, em três zonas: a primeira,
abrangendo a Baía de SUAPE, caracterizada como marinha costeira; a segunda,
compreendendo os Rios Massangana e Tatuoca, caracterizada como zona estuarina
com regimes salinos polialinos, e a terceira, estuário do Rio Ipojuca, com regime de
Capítulo 3 - 125
salinidade variando de polialino a limnético. Após a implantação do porto, a Baía de
SUAPE continua com características marinhas, os Rios Massangana e Tatuoca
apresentam altas salinidades em suas áreas mais internas, enquanto o Rio Ipojuca
continua polialino.
Deve-se ressaltar que embora, os impactos a que vem sendo submetido, o Rio
Massangana continua sendo um curso d’água extremamente vivo, com suas margens
protegidas por manguezais na maioria dos trechos. As vistorias ao local evidenciaram
usos d’água diversos, dentre os que se destaca a pesca artesanal, o uso recreacional
por parte de moradores dos engenhos mais próximos, especialmente crianças e o
turismo, desenvolvido através de passeios pelos manguezais oferecidos por barqueiros
da Praia de SUAPE principalmente.

3.4.3.2 Recursos hídricos subterrâneos


Na área de influência do Empreendimento são encontrados aquíferos classificados
como aluvial e intersticial. O aquífero aluvial corresponde a sedimentos aluviais da
planície de inundação do Rio Massangana, sendo de pouca relevância. Já o aquífero
intersticial é de importância na área de influência do Empreendimento uma vez que
nela ocorrem sedimentos das Formações Cabo, Algodoais e da Estiva, que abrigam os
aqüíferos homônimos. Correspondem aos aqüíferos confinados a semi-confinados da
Formação Algodoais, quando limitados por camadas de argilas, e também às suas
partes aflorantes que constituem aqüíferos livres.
O conhecimento sobre este tipo de aqüífero é escasso, pois a formação geológica está
sendo estudada há pouco tempo. A composição deste aqüífero é de arcósios
apresentando condições de permeabilidade de média a baixa. Verifica-se em suas
áreas livres a existência de poços tubulares pouco profundos, em média, de 12m de
profundidade, nível estático médio de 2,50m e vazões médias estimadas de 2,0m³/h.
Também em suas áreas livres são encontrados poços escavados (cacimbas) com
profundidades médias variáveis de 4m a 5m.

Cacimba para abastecimento da comunidade na área de


Foto 3.5 –
influência do Empreendimento.

Foto: Edmilson de Lima 24/04/10 - UTM: 270036; 9072170

Capítulo 3 - 126
Contudo, é o aqüífero Cabo o mais importante localizado dentro da AID do
Empreendimento, sendo que na Ilha de Tatuoca, o Estaleiro Atlântico Sul tem a outorga
para explotação de três (3) poços profundos (cerca de 100 metros de perfuração). Os
estudos realizados pelo Laboratório de Hidrogeologia da UFPE recomendaram que os
poços devem ser inicialmente bombeados com vazão de 20 m3/h, uma vez que, o
aqüífero explotado encontra-se em uma situação hidrogeológica complexa, entre dois
aqüíferos de água salinizada. Destes poços apenas os EAS 1 e EAS 2 possuem
outorga validade até 30/7/2012 e vazão outorgada de 320 m3/dia. Quanto ao poço EAS
3, o processo de outorga ainda não foi concluído.

3.4.4 Ruído e Qualidade do Ar


3.4.4.1 Qualidade do ar
Quiçá uma das maiores pendências que em termos ambientais se verificam no CIPS
esteja relacionada com o monitoramento da qualidade do Ar. O EIA de 2000 já
sinalizava no seu item 7.2.2 as conclusões do Grupo de Trabalho da CPRH/GTZ, nas
quais se recomendava a instalação de uma estação de monitoramento no CIPS a partir
de 1997, com uma freqüência mensal de medição. Na época, mesmo sendo a atividade
industrial do porto pouco intensa já era considerada como necessária, hoje se torna
imprescindível. Contudo, esta recomendação ainda não foi atendida.
Dessa forma, os níveis de poluentes no ar no CIPS são desconhecidos, não se tendo
nenhuma informação adicional, às já contidas no EIA/RIMA de 2000, que apontava as
fontes de poluição por tipologia de indústria e as taxas de geração médias para cada
fonte considerada. Salienta-se que os monitoramentos da qualidade tornam-se
confiáveis somente quando são realizados de forma sistêmica e continuada ao longo
do tempo.
Na mesma linha trabalhada no EIA/RIMA de 2000, pode-se dizer que na AID as fontes
de poluição estão concentradas basicamente em três atividades:  - Atividade
industrial no Porto de SUAPE (Fonte fixa4);  - Queimadas de cana-de-açúcar (fonte
difusa);  - Emissões veiculares (fonte móvel).
Em termos de SUAPE, verifica-se que em 2007 comportava 81 indústrias de diversos
segmentos, com significativo percentual relacionados com transformação de matérias
primas. Esta transformação de materiais primas gera subprodutos gasosos, que
quando liberados para a atmosfera se dispersam na direção predominante do vento
(noroeste) coincidindo com a direção da cidade do Cabo de Santo Agostinho, que,
outrossim, também apresenta um distrito industrial que deverá ser considerado em uma
análise mais regional.
Já as queimadas de cana-de-açúcar, frequentes na região, causam também alterações
ambientais que vão desde os incômodos causados pelo material particulado
(carvãozinho), até alterações da saúde em decorrência da exposição periódica a
eventos de poluição do ar. Finalmente destaca-se a poluição atmosférica proveniente

4
Considera-se fonte fixa estática para todo o parque industrial, porém o comportamento é sazonal em
casos importantes como a Termo SUAPE, que opera como Térmica de Disponibilidade, ou seja,
entrando em operação quando necessário durante períodos de tempo reduzidos, mas alterando a
qualidade do ar nesse período.

Capítulo 3 - 127
dos veículos automotores, pesados principalmente, que circulam pelo sistema
rodoviário do CIPS e seu entorno.

3.4.4.2 Ruído na ADA e seu entorno


A Área Diretamente Afetada (ADA) pelo Empreendimento, como já vem sendo descrito
ao longo do capitulo, corresponde a um segmento da Ilha de Tatuoca com acesso
restrito, ambiência rural, embora a presença do EAS, e com baixa taxa de ocupação
humana no entorno. Nesse sentido, os níveis de ruído que se verificam na ADA são
baixos e decrescentes, sendo menores nas porções interiores da área (48-50 dB), onde
a vegetação existente minimiza as maiores intensidades sonoras verificadas nas
proximidades do contorno do EAS que, mesmo assim, ficam abaixo do valor máximo
permitido para áreas industriais (70 dB).
As medições de ruído foram feitas em cada ponto em um intervalo de 5 minutos. O
aparelho mede automaticamente o Nível de pressão sonora equivalente (LAeq) (Item 3.1
NBR 10151), sendo esses os valores que foram registrados. A Figura a seguir
apresenta os pontos de monitoramento de ruído executados dentro da AID do
Empreendimento.

Pontos de medição de intensidade sonora na AID do


Figura 3. 5 –
Empreendimento.

Fonte: Levantamento de Campo, 2010

Capítulo 3 - 128
3.4.5 Oceanografia Física / Climatologia
Nas sessões, a seguir, são sumarizadas informações recentemente coletadas e
pretéritas existentes sobre os aspectos físicos oceanográficos para a área estuarina do
Complexo Industrial Portuário de SUAPE, mais fortemente passível de ser influenciada
durante a implantação e funcionamento do Estaleiro.

3.4.5.1 A Baía de SUAPE como cenário das principais transformações do CIPS


A implantação do Complexo Industrial Portuário de SUAPE teve início no final da década
de 70. Até então, as águas dos Rios Ipojuca, Merepe convergiam para a Baía de
SUAPE e juntamente com as dos Rios Tatuoca e Massangana, comunicavam-se com o
mar através de uma barra natural próxima ao Cabo de Santo Agostinho, única
comunicação aberta daqueles sistemas com o atlântico. Com o aterro realizado para
instalação da zona portuária do CIPS, os fluxos dos Rios Ipojuca e Merepe para a Baía
de SUAPE foram isolados, e suas drenagens passando a ocorrer via um rebaixamento
realizado no Recife, a sul do Porto de SUAPE.
Um molhe principal foi construído na região costeira adjacente ao recife principal,
propiciando uma área abrigada e dando origem ao Porto Externo. Posteriormente, um
trecho do arrecife principal foi derrocado e um canal de navegação dragado, para a
criação de uma área de Porto Interno. Atualmente, a área do Porto Interno recebe as
drenagens dos Rios Tatuoca e Massangana, conferindo um caráter estuarino à área.
O Rio Tatuoca nasce próximo a Mercês e apresenta uma extensão de cerca de 6 km.
Próximo a Baía de SUAPE, forma uma rede de pequenos canais e estuários afogados,
por vezes sendo confundido com um braço de mar. Mais recentemente, com a
instalação de empresas do pólo petroquímico, da Refinaria de Petróleo do Nordeste
Abreu e Lima e do Estaleiro Atlântico Sul, a área drenada por este rio recebeu aterros e
sua comunicação com a Baáa de SUAPE, grandemente reduzida.
O Rio Massangana separa os Municípios de Cabo de Santo Agostinho e Ipojuca, e se
origina dos Rios Utinga de Baixo e Tabatinga. Nesses rios, estão localizadas
respectivamente, as barragens do Utinga e do Bita, que representam os dois principais
mananciais de água doce que abastecem a região do Complexo Industrial Portuário de
SUAPE, o CIPS. Em seu trecho mediano, o Massangana recebe as águas do riacho
Algodoais e em seu trecho inferior, o Riacho Ilha das Canas, que limita a porção mais
oeste da Ilha da Cana e da Ilha do Tatuoca.
Novas intervenções deverão ocorrer na área e incluirão aterros de áreas de baixios e
de mangue, remoção de vegetação permanente, dragagem para aprofundamento de
canais existentes e aberturas de novos canais, etc. Essas intervenções afetarão
diretamente os aportes continentais e a drenagem fluvial, bem como o grau de
influência marinha na área e assim a situação descrita a seguir deverá ser tomada
apenas como característica da situação atual da área.

3.4.5.2 Condicionantes climáticos


No Nordeste brasileiro, o clima e regime de chuvas respondem aos mecanismos de
circulação geral da atmosfera e a mecanismos oceânicos externos à região sendo
condicionados por fatores como altitude, latitude, relevo, vegetação, e continentalidade.

Capítulo 3 - 129
A posição da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), as Perturbações e Ondas de
Leste, os Vórtices Ciclônicos de Ar Superior (VCAS), as Frentes Frias do sul e suas
instabilidades, e as brisas marítimas são os principais sistemas atmosféricos que
influenciam diretamente a região (Aragão, 2004). A região de SUAPE experimenta
clima tropical, quente e úmido, Ams’, segundo o sistema Köppen de classificação
climática.
Figura 3. 6 – CLIMATOLOGIA MENSAL MÉDIA NA AII.

350 28

27,5
300
27
Precipitação mensal (mm)

250 26,5

Temperatura °C
26
200
25,5
150
25

100 24,5

24
50
23,5

0 23
FEV

NOV
JAN

ABR

JUN

AGO
JUL

SET

OUT

DEZ
MAR

MAI

Precipitação (mm) Evaporação (mm) Temperatura °C

PRECIPITAÇÃO E TEMPERATURA NA ESTAÇÃO DE PORTO DE GALINHAS – EVAPORAÇÃO NA ESTAÇÃO CURADO EM RECIFE

A temperatura do ar é elevada, com média anual variando de 22 a 26ºC (Figura 3.6). O


volume anual de precipitação pluviométrica é de cerca de 2000 mm, e o regime
pluviométrico apresenta duas estações sazonais bem definidas: uma de estiagem e
outra chuvosa. A estação de estiagem corresponde ao período de setembro a
fevereiro, durante o qual a precipitação média mensal é de 70 mm. A estação chuvosa
corresponde ao período de março a agosto com uma precipitação média mensal de
250 mm. Os meses mais chuvosos são normalmente os de maio, junho e julho,
quando a precipitação mensal pode atingir 400-500 mm.
Na área do Complexo Estuarino de SUAPE, predominam os ventos alísios com
intensidade média anual de 2,2 m.s-1. Os ventos mais freqüentes (72%) sopram do
setor E-SSE, alternando para o setor N-ENE, durante cerca de 20% do tempo,
seguidos por ventos de NE (26%) (Consuplan, 1992).
A intensidade dos ventos mais freqüentes variam de 4 a 6 m.s-1 podendo
esporadicamente alcançar intensidades de 12 a 14 m.s-1. Os ventos de maior
intensidade ocorrem no final do período chuvoso, durante os meses de maio a agosto e
os mais fracos nos meses de dezembro e janeiro, durante o período de estiagem.
Verifica-se ainda, ao longo do ano, uma modulação diária dos ventos, com alternância
de brisas terrestre e marinha. A Rosa dos ventos da freqüência de ocorrência de
ventos de diferentes intensidades na área do Porto de SUAPE para medições
realizadas no período de é apresentada na Figura 3.7.

Capítulo 3 - 130
Figura 3. 7 – ROSA DOS VENTOS PARA A ÁREA DO PORTO DE SUAPE.

FONTE: CONSULPLAN.

3.4.5.3 Clima de ondas


Na região do Complexo Industrial Portuário de SUAPE, o clima de ondas ao longo da
costa é principalmente regido pelos ventos locais e reinantes ao largo (Neumann et al.,
1998). Registros de longa duração obtidos para a região do Cabo de Santo Agostinho
levantados pelo Instituto de Pesquisas Hidráulicas indicam um regime de ondas
caracterizado por altura máxima de 4,5 m e Hs de 3,0 m, com período significante é de
10s. As ondas mais freqüentes apresentam altura de 1,5 m, período de 6,5 s e incidem
sobre a costa com direção de 105° Azimute.
As áreas estuarinas de SUAPE encontram-se protegidas por uma longa linha de
arrecife natural, e experimentam clima de ondas diferenciados. Medições do clima de
ondas na porção da Baía de SUAPE, próxima ao Cabo de Santo Agostinho, indicaram
ondas de superfície com altura significante de 0,6 m e período significante de 4,4 s
(Medeiros et al., 1997).

3.4.5.4 Regime das Marés


As marés na Terra resultam do efeito combinado da atração gravitacional exercida por
corpos celestes, em particular Lua e Sol e da força centrípeta resultante de seus
movimentos relativos. Nos oceanos e marés, elas se manifestam no plano vertical
como oscilações periódicas do nível das águas e no plano horizontal, como oscilações
periódicas de correntes. Além do forçante astronômico, contribuem ainda para as
marés totais, forçantes meteorológicos como os ventos e as mudanças de pressão
barométrica.
As marés em áreas costeiras e estuarina podem ser modificadas pela descarga fluvial
e pela morfologia local (mudança na batimetria, estreitamento/alargamento de entradas
Capítulo 3 - 131
e canais e apresentarem características distintas daquelas do oceano adjacente). As
marés no Porto de SUAPE são mesomarés (Davies, 1964) com altura média de sizígia
de 2,0 m e altura média de quadratura de 0,9 m (DHN, 2010) do tipo semidiurna,
apresentando duas preamares e duas baixa-mares por dia lunar, com pouca
inequalidade diurna e um período de cerca de 12,42 horas. Previsões regulares das
marés no Porto do Recife são fornecidas pela DHN (Diretoria de Hidrografia e
Navegação - Marinha do Brasil).

3.4.5.5 Hidrologia, hidrodinâmica e qualidade d’água


As características hidrológicas dos ambientes costeiros e estuarinos refletem e
respondem a fatores como cobertura vegetal, ação dos ventos, marés, aportes de água
doce do continente, lançamento de efluentes e resíduos e da batimetria e morfologia do
ambiente e estão dentre os principais fatores que limitam e condicionam a flora e fauna
aí existentes.
Dragagens, aterros, construções de barragens, obras de retificação, bombeamento de
e para os cursos, influem em um ou mais daqueles fatores e normalmente resultam em
modificações do regime salino e hidrodinâmico local (MULTICONSULTORIA, 2004).
Visando caracterizar a qualidade das águas estuarinas na região de entorno da área
prevista para a instalação do Empreendimento, e conhecer os padrões de distribuição
de suas características, perfis verticais da distribuição da temperatura, salinidade e da
capacidade de retroespalhamento ótico foram obtidos com perfilador CTD Seabird19
munido de sonda OBS da D&A Instrument, desde a superfície até próximo ao fundo em
7 pontos do sistema (Figura 3.8).
Adicionalmente, amostras de água da camada superficial foram obtidas com uma
garrafa tipo Nansen, acondicionadas, preservadas, e transportadas para laboratórios
especializados para determinação dos teores de oxigênio dissolvido, demanda
bioquímica de oxigênio, pH e da concentração de coliformes totais e fecais.
Paralelamente, medições instantâneas da intensidade e da direção das correntes foram
efetuadas em 2 níveis de profundidade (próximo à superfície e próximo ao fundo), nas
sete estações, com uso de correntômetro Sensordata SD30, para permitir caracterizar
o padrão de circulação das águas na área de influência direta do Empreendimento.
As medições in situ foram realizadas de Dez/2009 a Jan/2010, durante o período de
estiagem e de modo a representarem os estágios de preamar, baixa-mar, enchente e
vazante de uma maré de sizígia. Os registros dos perfis CTD foram digitalizados e
submetidos a rotinas de filtragem e análise para obtenção dos resultados. Os valores
da salinidade foram computados com base nos dados filtrados da temperatura e da
condutividade, segundo os procedimentos indicados pela UNESCO (1983).

Capítulo 3 - 132
Figura 3. 8 – Localização das Estações de Coleta de Oceanografia Física.

FONTE: LEVANTAMENTO DE CAMPO, 2010

As distribuições verticais da temperatura, salinidade, e do sinal de retroespalhamento


ótico para as estações amostradas na região de entorno da área prevista para
instalação do Empreendimento, são apresentadas, respectivamente, nas figuras 3.8,
3.9 e 3.10. Ao longo da área estudada a coluna d’água apresenta-se bem misturada,
com temperatura média de 29,0 ºC e variando em geral entre 28,5 ºC e 29,5 ºC e à
superfície, entre 26,5 ºC e 32,4 ºC (Figura 3.8). As flutuações de temperatura de 2-6
ºC são verificadas na camada mais superficial (primeiro metro) em resposta ao ciclo
diurno de insolação e ao grau de participação na mistura das águas da drenagem
continental.

Capítulo 3 - 133
Distribuição vertical das temperaturas nas estações E1-7 para os
Figura 3.9 – estágios de maré enchente (EN), preamar (PM), maré vazante
(VZ) e baixa-mar (BM) durante uma sizígia em Dez/09.

Ao longo do ciclo das marés, a pequena variação (cerca de 1ºC) de temperatura


verificada entre os estágios de marés, para grande parte da coluna d’água
(profundidades superiores a 1m) responde principalmente ao ciclo diurno de insolação,
com os estágios de baixa-mar e enchente ocorrendo, respectivamente, por volta das
12h30 e 15h30 horas, e os estágios de preamar e vazante, respectivamente, por volta
das 6h30 e 9h30 da manhã, apresentando assim valores de temperatura relativamente
mais baixos.
Nas sete estações amostradas, a salinidade das águas apresentou-se elevada, com
valores médios de 36,1 e variáveis de 2,0 a 39,1 (camada mais superficial) e mais
freqüentemente (abaixo de 1 m de profundidade) entre 35 e 36.
Os registros de salinidade obtidos indicam um domínio das águas marinhas na área,
que apresentam tipicamente salinidades de 35-37 e a restrição da influência da baixa

Capítulo 3 - 134
descarga fluvial do período de estiagem ao primeiro metro da coluna d’água (Figura
3.10).

Distribuição vertical da salinidade nas estações E1-7 para os


Figura 3. 10 – estágios de maré enchente (EN), preamar (PM), maré vazante
(VZ) e baixa-mar (BM) durante uma sizígia em Dez/09.

Ao longo de toda a área o sistema mostrou-se bem misturados, sem estratificações de


salinidade ao longo da coluna d’água, refletindo o aporte reduzido de água doce para a
área e a forte dinâmica das correntes de marés e induzidas pelos ventos, impedindo a
manutenção de eventual estratificação
Os sensores de retroespalhamento ótico (OBS) são mini nefelometros capazes de
medir a quantidade de radiação infravermelha retroespalhada pelas partículas
presentes na coluna d’água em ângulos de 140° a 165°, sendo assim os valores de
capacidade de retroespalhamento ótico (OBS) medidos, diretamente proporcional à
quantidade/tamanho de partículas presentes em suspensão na água.

Capítulo 3 - 135
Distribuição vertical do sinal de retroespalhamento ótico nas
estações E1-7 para os estágios de maré enchente (EN), preamar
Figura 3. 11 –
(PM), maré vazante (VZ) e baixa-mar (BM) durante uma sizígia
em Dez/09.

Os valores de OBS medidos em toda a área e ao longo da coluna d’água foram sempre
extremamente reduzidos, variando de 2 a 10 unidades, valores comparáveis aos
encontrados em marinhas claras. Na camada mais superficial (primeiros 1-2 metro), no
entanto, as concentrações de partículas em suspensão foram mais elevadas, com
valores de OBS de 10-200 unidades, mas bastante inferiores aos valores de 200-800
unidades, relatados para águas superficiais do Rio Ipojuca (MULTICONSULTORIA,
2004).
Os baixos valores da capacidade retroespalhamento ótico encontradas nos
levantamentos realizados no período de estiagem, confirmam igualmente o maior
domínio das águas marinhas e o baixo aporte de sedimentos carreados pelos Rios
Massangana e Tatuoca naquele período. Valores relativamente reduzidos também
próximos ao fundo, indicam baixa capacidade de ressuspensão do material de fundo,
mesmo durante os estágios de maior dinâmica (enchente e vazante). Os resultados
das análises químicas para as amostras de água coletadas nas sete estações ao longo
da área de entorno do Empreendimento, são apresentados no Quadro 3.1.
Capítulo 3 - 136
Valores de pH e das concentrações de OD, DBO5 e de coliformes totais e fecais nas águas
QUADRO 3.1 –
superficiais na área de estudo.
OD DBO5 Coliformes TOTAIS Coliformes Fecais
-1 -1
MARE ESTAÇÃO pH (mL.L ) (mL.L ) (NMP/100 mL) (NMP/100 mL)

1 7.0 4.3 0.9 <20 <20


2 7.8 4.4 0.2 <20 <20
PREAMAR

3 8.0 4.3 0.8 <20 <20


4 8.0 4.7 1.0 <20 <20
5 7.9 4.9 1.1 <20 <20
6 8.0 4.4 0.7 <20 <20
7 8.0 4.5 0.7 <20 <20
1 7.6 2.8 0.8 <20 <20
2 7.6 3.4 0.7 <20 <20
BAIXA-MAR

3 7.6 3.5 0.8 <20 <20


4 7.7 3.3 0.2 <20 <20
5 7.9 4.3 0.0 <20 <20
6 7.8 4.2 0.7 40 20
7 8.0 4.3 0.4 <20 <20

Nas sete estações amostrais, os valores do pH mantiveram-se na faixa alcalina,


variando entre 7,6 e 8,0 durante a baixa-mar, e entre 7,0 e 8,0, durante a preamar,
quando é maior a influência das águas marinhas (Quadro 3.1).
Em águas estuarinas e marinhas o teor de oxigênio é governado pela temperatura e
salinidade, tendo como fonte a atmosfera e o processo fotossintético, e como
sumidouro, os processos de respiração animal e vegetal e as reações químicas. Os
teores de oxigênio dissolvido medidos nas estações 1 a 7, oscilaram entre 2,8 mL.L-1 e
4,3 mL.L-1 ,durante a baixa-mar, e entre 4,3 e 4,9 mL.L-1, durante a preamar, indicando
um certo nível de depleção nas águas do Rio Massangana (estações 1 a 4) e valores
mais próximos aos de saturação nas estações 5 a 7 que recebem maior influência
marinha (Quadro 3.1).
Os valores da demanda bioquímica de oxigênio para a área de estudo foram
relativamente reduzidos, e variaram, ao longo do ciclo das marés entre 0,2 e 1,1 mL.L-1
(Quadro 3.1).
A concentração de coliformes totais e fecais nas águas superficiais às estações 1 a 7,
foi reduzida, com valores sempre iguais ou inferiores a 20 NMP/100mL, indicando um
baixo nível de contaminação por esgoto.
Já em termos de correntes marinhas na área de estudo, os resultados obtidos para as
medições efetuadas nas camadas superficial e de fundo (Figura 3.11) são
apresentados sob forma vetorial, onde a direção da corrente é referida ao norte
verdadeiro e a intensidade da corrente, proporcional ao comprimento das setas.

Capítulo 3 - 137
As correntes preferenciais têm direção da calha estuarina e canais principais e variam
entre 1,6 e 54,0 cm.s-1, à superfície e entre 1,6 e 30,8 cm.s-1, próximo ao fundo. As
maiores intensidade de correntes estão associadas aos estágios de vazante e baixa-
mar, quando as drenagens fluvial e correntes de maré apresentam mesmo sentido.

Representação polar da intensidade e direção das correntes


Figura 3. 12 – superfície/fundo no entorno da área de instalação do Estaleiro
PROMAR.

Capítulo 3 - 138
Representação polar da intensidade e direção das correntes
Figura 3. 12 – superfície/fundo no entorno da área de instalação do Estaleiro
PROMAR.

3.4.6 Sedimentologia
Como parte do diagnóstico ambiental de meio físico foram determinadas as principais
características dos sedimentos presentes no estuário dos Rios Tatuoca e Massangana.
Esta caracterização esteve embasada principalmente em informações secundárias
provenientes do monitoramento do Estaleiro Atlântico Sul, mas também nas
campanhas expeditas desenvolvidas pela equipe do EIA.
Com efeito, no presente estudo foram coletados 4 testemunhos de sedimentos de
fundo no Rio Massangana (2), Riacho Ilha da Cana (1) e no Rio Tatuoca (1) para servir
com nível de base para o Estaleiro PROMAR (Figura 3.13).
A coleta de sedimentos ativos foi realizada através de testemunhos extraídos com o
auxílio de um amostrador à percussão confeccionado em tubos de PCV e aço
inoxidável (Figura 3.13), sendo capaz de retirar amostras indeformadas de sedimentos

Capítulo 3 - 139
subaquáticos com aproximadamente 4,5 cm de diâmetro. O sedimento é armazenado
em invólucro cilíndrico plástico, previamente ajustado à seção interna do amostrador,
que tem a finalidade de isolar a amostra até a chegada ao laboratório.

Localização dos pontos de coleta dos testemunhos de sedimentos de fundo na


Figura 3.13 –
área de influência do Empreendimento.

Dir – Detalhe do Amostrador utilizado


Fonte: Dados de campo

Foto 3.6 – Coleta de testemunho no ponto 2 do Riacho Ilha da Cana.

Foto: Edmilson de Lima 17/04/10 - UTM: (25L) 282091; 9074938

Capítulo 3 - 140
As amostras foram armazenadas a 18oC e seccionados em intervalos de 5 cm de
comprimento. Após o seccionamento do testemunho, as amostras foram colocadas em
estufa a 50oC para secagem. Depois de secas, as amostras serão retiradas da estufa e
colocadas em bancada até atingirem temperatura ambiente, em seguida serão
desagregadas e homogeneizadas em almofariz de porcelana.
Uma alíquota de 30g de cada amostra será enviada para análise química dos
elementos de interesse. As análises químicas serão realizadas no Laboratório Geosol-
Lakefield. A avaliação do conteúdo de matéria orgânica será realizada pela queima em
mufla à 400oC por 12 horas. A foto 3.6 mostra a coleta de amostra no ponto 2.

3.4.6.1 Características texturais dos sedimentos da AID


As características texturais dos sedimentos da área de influência do Empreendimento
foram determinadas através da análise granulométrica de amostras coletadas com
draga nos pontos de amostragem P2, P3 e P4 (Figura 3.13) e do perfil do ponto P4.
Os resultados obtidos mostram que a camada mais superficial (0-15cm) dos
sedimentos ativos do estuário dos Rios Massagana e Tatuoca tem predominância de
sedimentos lamasos, enquanto em que a fração areia aumento com a profundidade.

Variação granulométrica de amostras


QUADRO 3.2 –
de sedimentos superficiais da AID
Ponto Coleta Cascalho Areia Lama
% % %
P4 2,48 8,59 88,93
P3 0,00 71,27 28,74
P2 0,13 38,53 61,35
Fonte: Coletas expeditas de campo

Apesar do tamanho dos graus aumentarem com a profundidade, esta variação não é
linear como se mostra na Figura 3.14. Observa-se na Figura que o nível P48 aparece
com grande quantidade da fração argila, apesar da amostra ter sido extraída na
profundidade de 40cm. Deste modo, podemos inferir que as amostras P41 e P48 são
constituídas de material proveniente de sedimentação de baixa energia, assim como as
demais amostras (P42, P43, P44, P45, P46 e P47), são resultantes de um ambiente
com hidrodinâmica mais forte.
A presença de sedimentos argilosos na base deste testemunho (amostra P48) sugere a
existência de alterações no processo de sedimentação seja de origem natural (efeito
das marés) ou antrópico (dragagens no porto).

Capítulo 3 - 141
Razão argila/areia no perfil coletado no ponto P4
Figura 3. 14 – mostrando a variação granumétrica em 50 cm de
profundidade.

Fonte: Dados de campo

3.4.6.2 Presença de metais pesados em sedimentos do estuário Massangana-Tatuoca


O monitoramento realizado pelo Estaleiro Atlântico Sul, entre abril de 2007 a dezembro
de 2008, mostra que as concentrações de metais em sedimentos de fundo dos Rios
Tatuoca e Massangana, na área de influência do Estaleiro Atlântico Sul (6 pontos de
monitoramento, sendo 5 pontos no rio Tatuoca: 1 a montante do Empreendimento, 3
defronte ao Empreendimento, 1 a jusante do Empreendimento, e 1 ponto no Rio
Massangana), encontram-se dentro dos valores para áreas portuárias não
contaminadas, conforme observado na Quadro 3.3.
Entretanto, observa-se que no período do monitoramento houve um aumento
significativo de Zn e Mn na estação 1, Mn na estação 2 e Ni na estação 6, sendo que o
valor da concentração de Ni, nesta última, supera o nível 1 (>20,9mg/kg) estabelecido
para materiais a serem dragados em água salobra (Resolução 344/2004).
O monitoramento também destaca que os valores obtidos na terceira coleta estão
acima dos valores obtidos por Chagas (2003), o que pode indicar um acréscimo na
quantidade de metais pesados na área do Empreendimento, exceto para Pb. Vale
ressaltar que os pontos de coleta de Chagas (2003) não foram exatamente os mesmos
do presente trabalho, o que pode indicar uma variação espacial em vez de uma
variação temporal (Quadro 3.3). O estudo também destaca que na quarta coleta, em
dezembro de 2008, o aumento de metais nos sedimentos não está associado ao
aumento de matéria orgânica nos sedimentos. O monitoramento foi realizado em 2009
e continuará em 2010 para verificar se a estação 1 (a montante do EAS) está sofrendo
algum input não geogênico.

Capítulo 3 - 142
Concentrações médias de metal traço (mg. kg-1) em sedimentos superficiais do CIPS,
Quadro 3.3 –
comparadas com outros portos importantes do exterior.

Condição Áreas Mn Pb Zn Cr Ni Cu Co Autores

Porto Kembla Zhijia He & R. J.


- 484,0 1290,0 203,0 - 1468,0 -
(Austrália) em 1993 Morrison (2001)
Considerados
contaminados Vegunopala Rao &
Visakhapatnam 182,0- 78,1- 71,1- 17,7-
- 25,3-50,5 10,4-25,9 Vegunopala Rao
(Índia) 670,0 82,1 208,0 42,0
(1997)
Zhijia He & R. J.
Média mundial - 20,0 95,0 100,0 - 48,0 -
Morrison (2001)
Costa Oeste Zhijia He & R. J.
- 21,0 40,0 38,0 - 6,0 -
Considerados (Austrália) Morrison (2001)
não 37,1 19,2 15,3 13 2,9 2,8 2,4 Chagas (2003)
contaminados
Médias EAS
CIPS (Brasil) - 14,29 27,13 25,15 11,29 9,21 -
2007 – 2008
Médias deste
- 9,52 30,14 34,98 10,91 23,30 -
estudo (2010)
MONITORAMENTO ESTALEIRO ATLÂNTICO SUL
P1-Coleta 1 <100 25 32 36 11 12 3,9 EAS
P1- Coleta 2 43 11 21 13 6 4 ND EAS
P1-Coleta 3 600 9,3 66 19 13 8,8 4,1 EAS
P1-Coleta 4 100 5 66,3 21 13 13 ND EAS
P2–Coleta 1 <100 16 21 33 8.8 15 3,1 EAS
P2–Coleta 2 28 9 17 11 4 3 - EAS
P2-Coleta 3 500 5,2 15 14 11 12 <3 EAS
P2-Coleta4 200 16 39,5 18,4 15,7 16 ND EAS
P3–Coleta 1 <100 23 24 47 9.7 7.2 <3 EAS
P3–Coleta 2 48 39 27 46 11 5 - EAS
P3-Coleta 3 <100 11 19 25 21 9 <3 EAS
P3-Coleta 4 100 22 57,8 33,7 12,7 10 ND EAS
P4–Coleta 1 <100 20 26 38 8.5 12 <3 EAS
P4–Coleta 2 31 11 17 16 5 3 - EAS
P4-Coleta 3 <100 13 23 27 12 9,1 <3 EAS
P4-Coleta 4 <100 16 31,5 27,7 10,7 14 ND EAS
P5–Coleta 1 <100 18 24 40 9.8 15 3.2 EAS
P5–Coleta 2 50 18 31 29 9 7 - EAS
P5-Coleta 3 100 7,1 16 21 8,5 10 <3 EAS
P5-Coleta 4 100 10 25,4 21,6 9,2 7 ND EAS
P6–Coleta 1 <100 9.3 9.6 28 7.8 11 <3 EAS
P6–Coleta 2 17 6 5 9 2 2 - EAS
P6-Coleta 3 100 3,8 9,3 18 31 8 <3 EAS
P6-Coleta 4 <100 <3 11,3 11,3 8,7 6 ND EAS

EAS – Monitoramento do Estaleiro Atlântico Sul

Capítulo 3 - 143
Para confrontar/comparar os dados secundários extraídos dos monitoramentos do
Estaleiro Atlântico Sul, e conforme se mostra na Figura 3.13, foi realizada uma
campanha expedita de amostragem de sedimentos nos Rios Tatuoca e Massangana
em quatro pontos da AID. Os elementos químicos analisados em cada amostra foram
os mesmos elementos solicitados pela CPRH para o licenciamento do Estaleiro
Atlântico Sul, com a inclusão de arsênio que consta da Resolução 344/04 do CONAMA.
Os resultados das análises são apresentados no Quadro 3.4 a seguir.

Resultados das análises químicas realizadas em 4 perfis coletados na Área de


Quadro 3.4 – Influência Direta (AID) do Empreendimento
Amostra As Cd Cr Cu Ni Pb V Zn Zr Al2O3 Fe2O3 MnO
ppm ppm ppm ppm ppm ppm ppm ppm ppm % % %
BRANCO_PREP <5 <1 4 3 2 <3 <3 12 <1 0,15 0,48 <0,01
P1 (0-5) <5 <1 36 24 11 11 33 36 9 11,4 8,06 0,06
P1 (5-10) <5 <1 27 26 10 4 14 14 11 4,18 8,64 0,08
P1 (10-15) 7 <1 39 29 14 8 30 35 10 9,37 8,33 0,06
P1 (15-20) 6 <1 59 37 17 9 38 35 13 10,8 9,29 0,07
P1 (20-25) <5 <1 32 23 10 6 22 21 10 7,31 8,48 0,06
P1 (25-30) <5 <1 47 41 17 9 35 45 16 11,1 12,3 0,1
P1 (30-35) 10 <1 49 26 17 12 50 52 14 18,3 9,16 0,05
P1 (35-40) 8 <1 63 31 21 14 60 56 20 19,1 9,38 0,06
P1 (40-45) <5 <1 55 28 19 14 53 58 19 20,1 10,2 0,06
P1 (45-50) 8 <1 59 28 20 15 63 56 24 21 9,46 0,06
P1 (50-55) 7 <1 49 25 16 14 67 61 19 23,6 7,84 0,03
P1 (55-60) 17 <1 52 20 18 40 71 85 20 24,3 8,45 0,05
P2 (0-5) 11 <1 11 6 4 19 9 25 5 3,05 4,5 0,04
P2 (5-10) <5 <1 12 11 4 3 7 9 5 2,5 3,13 0,03
P2 (10-15) 6 <1 11 5 3 13 8 14 6 2,37 5,4 0,05
P2 (15-20) <5 <1 16 17 6 3 10 31 8 2,44 5,15 0,05
P2 (20-25) <5 <1 11 6 3 6 10 13 4 2,94 4,37 0,04
P2 (25-30) <5 <1 12 16 4 <3 7 11 5 1,62 3,67 0,04
P2 (30-35) <5 <1 13 8 4 6 11 13 5 3,24 5,48 0,05
P2 (35-40) <5 <1 38 26 11 5 19 15 12 -- -- --
P3 (0-5) <5 <1 22 17 6 5 13 13 15 4,52 5,72 0,05
P3 (5-10) <5 <1 22 20 8 5 14 13 17 3,99 6,62 0,06
P3 (10-15) <5 <1 19 16 6 4 13 23 12 3,85 4,56 0,04
P3 (15-20) <5 <1 35 25 10 4 17 13 14 4,1 6,58 0,06
P3 (20-25) <5 <1 29 21 8 5 19 17 12 5,68 8,18 0,06
P3 (25-30) <5 <1 26 24 9 4 15 14 12 4,24 7,82 0,07
P3 (30-35) <5 <1 23 21 8 4 13 35 10 3,98 6,21 0,05
P3 (35-40) <5 <1 36 25 10 4 18 18 11 4,79 7,18 0,06
P3 (40-45) <5 <1 25 18 7 4 16 13 8 4,7 6,99 0,06
P3 (45-50) <5 <1 32 33 12 <3 16 12 12 3,19 10,5 0,1
P3 (50-55) <5 <1 23 20 8 4 13 15 8 3,71 5,89 0,04
P3 (55-60) <5 <1 46 35 14 5 20 24 13 4,53 8,52 0,08
P4 (0-5) <5 <1 48 26 14 14 52 103 12 16,1 6,48 0,04
P4 (5-10) 10 <1 35 21 10 13 38 36 11 14 5,18 0,03
P4 (10-15) <5 <1 36 29 10 12 34 34 14 11,5 6,44 0,05
P4 (15-20) 6 <1 68 43 18 14 40 40 19 11,9 10 0,09
P4 (20-25) 11 <1 36 18 10 13 32 30 10 12,5 5,61 0,04

Capítulo 3 - 144
Resultados das análises químicas realizadas em 4 perfis coletados na Área de
Quadro 3.4 –
Influência Direta (AID) do Empreendimento
Amostra As Cd Cr Cu Ni Pb V Zn Zr Al2O3 Fe2O3 MnO
ppm ppm ppm ppm ppm ppm ppm ppm ppm % % %
P4 (25-30) 7 <1 41 22 13 15 32 28 15 12,6 7,01 0,06
P4 (30-35) 10 <1 39 15 12 14 33 33 12 13,7 5,2 0,04
P4 (35-40) 7 <1 58 39 16 10 29 27 14 8,95 9,39 0,08
P4 (40-45) 6 <1 32 20 9 9 22 22 11 8,29 7,01 0,06
P4 (45-50) <5 <1 32 26 10 8 20 22 12 7,31 8,2 0,07
P4 (50-55) 6 <1 31 19 9 9 26 27 5 8,55 5,53 0,03
P4 (55-60) 5 <1 54 39 14 10 31 29 10 8,66 9,23 0,08
MÉDIA 34,98 23,30 10,91 9,52 27,11 30,14 11,91 8,93 7,24 0,06
MÁXIMO 68,00 43,00 21,00 40,00 71,00 103,00 24,00 24,30 12,30 0,10
MÍNIMO 11,00 5,00 3,00 3,00 7,00 9,00 4,00 1,62 3,13 0,03
Amostras controle de laboratório e repetições controle
BRANCO_PREP <5 <1 4 3 2 <3 <3 11 <1 -- -- --
SS-2 82 2 33 205 49 121 42 431 6 -- -- --
TILL-3 78 <1 65 21 30 16 36 39 1 -- -- --
P5 (45-50) -- -- -- -- -- -- -- -- -- 7,5 8,16 0,08
P8 (10-15) -- -- -- -- -- -- -- -- -- 2,36 5,48 0,05
RXREF1 -- -- -- -- -- -- -- -- -- 8,68 5,82 0,22
RXREF1 -- -- -- -- -- -- -- -- -- 8,38 5,79 0,22
BRANCO_PREP <5 <1 5 3 1 <3 <3 9 <1 0,29 0,51 <0,01

A Resolução do CONAMA 344 de 2004 classifica o material a ser dragado, utilizando


critérios de qualidade a partir dois níveis de concentração5 de elementos e compostos
contaminantes. Dois limiares são definidos então para determinar as alternativas de
intervenção e destinação final do material.

NÍVEL 1 - limiar abaixo do qual prevê-se baixa probabilidade de efeitos adversos


à biota.
NÍVEL 2 - limiar acima do qual prevê-se um provável efeito adverso à biota.

Os resultados obtidos das análises mostraram em todos os casos que as amostras


analisadas apresentam concentração de metais predominantemente abaixo do nível 1
da Resolução 344/04 do CONAMA, e todas estão em concentrações bastante
inferiores ao Nível 2 da referida resolução, do que se pode inferir que as amostras de
sedimentos analisadas não apresentam toxicidade em função da concentração de
metais.
Para facilitar a visualização do comportamento das concentrações de metais ao longo
do perfil prospectado, foi construída a Figura 3.15, que mostra para cada metal, o perfil
mais crítico dos quatro (4) realizados na AID. A criticidade citada refere-se à maior
proximidade das concentrações obtidas, dos valores do Nível 1 especificados na
Resolução do Conama 344/04.

5
Caso as concentrações estejam entre os níveis 1 e 2, a Resolução solicita estudos adicionais no caso
dos metais mercúrio, cádmio, chumbo ou arsênio.

Capítulo 3 - 145
Distribuição de metais no perfil mais crítico (para cada metal), dos
Figura 3. 15 –
quatro coletados na área de influência direta do Empreendimento.

Fonte: Dados de campo

Um aspecto que deve ser ressaltado das análises é que os valores das concentrações
de todos os metais estão abaixo do Nível 1 da Resolução do Conama 344 de 2004,
porém, verifica-se uma tendência crescente que deve ser observada pelo Porto de
Suape. Com efeito, no quadro 3.3 acima foram destacadas as concentrações médias
de metais levantadas por Chagas (2003), pelo EAS (2007 e 2008) e por este estudo
(2010), sendo facilmente verificável o aumento nas concentrações em um lapso de
tempo de sete anos.

Capítulo 3 - 146
Salienta-se novamente que os pontos de coleta de Chagas (2003) e os do EAS, não
foram exatamente os mesmos do presente trabalho, o que pode indicar uma variação
espacial em vez de uma variação temporal, contudo, é um ponto que precisa ser
aprofundado através da continuidade dos monitoramentos.

3.4.6.3 Toxicidade em sedimentos do estuário Massangana-Tatuoca


A toxicidade letal e sub-letal dos sedimentos do estuário Massangana-Tatuoca vem
sendo avaliada dentro do programa de monitoramento do Estaleiro Atlântico Sul desde
2007 com o uso da sobrevivência, da fecundidade e do desenvolvimento do
microcrustáceo bentônico Tisbe biminiensis. Os detalhes metodológicos podem ser
encontrados em relatórios bimensais entregues a Agência Pernambucana de Meio
Ambiente e Recursos Hídricos (CPRH). De acordo com os resultados apresentados, à
toxicidade do sedimento da área de entorno do Estaleiro Atlântico Sul, varia de sub-
letal a letal, com predomínio de toxicidade sub-letal ao longo do monitoramento.
Entretanto, como observado no tópico anterior (metais em sedimentos) podemos inferir
que esta toxicidade não está associada a presença de metais nos sedimentos.

3.4.6.4 Erosão marinha na Praia de SUAPE


A praia de SUAPE, situada na área de influência direta do Empreendimento, está
localizada entre o Granito do Cabo, a norte e a foz do Rio Massangana, a sul,
apresenta uma extensão de 1.200 m, declividade atual variando de norte para sul,
entre 80 a 150, composta de areias de coloração branca de granulometria média (1.40
phi).
Na década de 80 a Praia de SUAPE apresentou um processo erosivo intenso, o qual
atingiu a pequena comunidade local em vários pontos, provocando destruição de casas
e vegetação (coqueiros) ao longo da praia, redução das atividades turísticas,
desacelerando o pequeno comércio local. Portanto, a restauração da Praia de SUAPE
era importantíssima no que diz respeito aos aspectos sociais e econômicos.
Com esses objetivos, a solução proposta na época foi a execução de um
engordamento que envolveu em torno de 300.000 m³ de material arenoso. O referido
engordamento em 2005 já apresentava significativa perda de sedimento, nos mesmos
pontos (P1, P2 e P3), apresentados na Figura 3.16. Na comparação de imagens
satelitais entre os anos de 2000 e 2007, foi observado que entre os perfis (P-1, P-2 e P
– 3) existe um recuo da linha de costa em relação ao mar da ordem de até 76,0 metros.
Entre os perfis P-2 e P-3 ocorrem duas áreas que ficaram relativamente estáveis, bem
como ocorre também em uma área entre os perfis P-3 e P-4. Sendo que nesse
período, apenas a região onde está localizado o perfil P-4 houve uma acresção de
sedimento com avanço de aproximadamente 65,4 m da linha de costa.
De 2007 a 2010 houve certa estabilização da área, mas, mesmo assim, ocorrendo um
pequeno processo erosional nos perfis P-1 (6,0 m), P-3 (14,9 m) e P-4 (15,2 m).
Somente no perfil P-2 ocorreu um acréscimo de sedimento fazendo com que a linha de
costa avançasse em cerca de 6,3 m. De um modo geral, esse período foi composto por
uma instabilidade como observado na Figura 3.16 ocorrendo áreas em que houve
erosão da ordem de 50,2m no entorno do perfil P-1. A área em que ocorreu maior
instabilidade está entre os perfis P-2 e P-3, localizado em frente ao complexo hoteleiro,
região onde houve uma grande variação, ora ganhando, ora perdendo material. No

Capítulo 3 - 147
perfil P-3 foi onde ocorreu a maior recuo da linha de costa, perdendo aproximadamente
91,6m. Na região localizada próximo ao perfil P-4 foi a única área em que houve um
avanço significativo da linha de costa, da ordem de 49,7m.

Comportamento da linha de costa na Praia de suape entre


Figura 3. 16 –
2000 e 2010.

Fonte: UFPE

A julgar pelos resultados do Geoprocessamento entre os anos de 2000 e 2010,


Monitoramento Morfodinâmico, realizado pelo LGGM-UFPE entre 1998 (implantação do
monitoramento) e 2004, fica claro a existência de um processo erosivo significativo em
toda a área, principalmente nos perfis 1 e 3, da Figura 3.16, onde se observa um nítido
rebaixamento do perfil praial, com significativo transporte de sedimentos para sul por
deriva litorânea.
Este processo é característico na área da bacia de SUAPE em função da
movimentação de sedimentos através dos sistemas primários e secundários de
correntes (correntes de maré e refluxo) e principalmente pela difração dos trens de
ondas incidente que atuam na área no sentido norte-sul, carreando material para a
ponta do Francês e parte interna da bacia e na parte fluvial de P4 para P3, em menor
escala.
Mudanças são esperadas em praias que tenham sido recuperadas, por aporte artificial
de areia (engordamento). Tais praias serão erodidas pelas mesmas razões que

Capítulo 3 - 148
precederam o esvaziamento da praia natural. Muitas praias engordadas começaram a
perder sedimentos, logo após serem recuperadas, seja pelas correntes de deriva
litorânea, seja pelas correntes “onshore – offshore”.
Em função deste comportamento hidrodinâmico intenso e contínuo ao longo do tempo,
na Praia de SUAPE, conseqüência direta das alterações morfológicas emersas (Ilha da
Cocaia, Praia do Outeiro Alto) e submersas (dragagens de canais), que vem ocorrendo
ao longo do tempo na área de SUAPE, fica claro a necessidade, urgente, da
implantação de um Monitoramento Ambiental na referida praia, no sentido de controlar
o processo hidrodinâmico anteriormente mostrado.

3.5 DIAGNÓSTICO DE MEIO BIÓTICO


A área de SUAPE se destaca por possuir ecossistemas costeiros altamente produtivos
como o ambiente recifal, o estuarino e o manguezal que estão interligados e funcionam
como área de reprodução, berçário e abrigo de muitas espécies de importância
comercial e ecológica.

3.5.1 Cobertura Vegetal na AII


Tratando-se especificamente da cobertura vegetal de SUAPE, é importante resgatar o
sistema de classificação adotado nos estudos ambientais realizados (EIA/RIMA –
SUAPE/CIPS, 2000), segundo o qual, a cobertura vegetal se distribui conforme as
fitofisionomias apresentadas no Quadro a seguir:

Quadro 3.5 – Fitofisionomias encontradas na área de SUAPE

Classe de Formação/Fitofisionomia Características


cobertura
Fisionomia herbáceo/arbustiva de porte baixo,
Vegetação arbustiva ou formação
de aberta a fechada, distribuição diamétrica
florestal em estágio inicial de
das espécies lenhosas de pequena amplitude.
regeneração
Espécies pioneiras abundantes. Resultado de
(Va) (=capoeira rala ou capoeirinha)
intervenções antrópicas.
Fisionomia arbórea ou arbustiva, aberta ou
Formação florestal aberta ou formação fechada, com árvores emergentes, distribuição
florestal em estágio médio de diamétrica com amplitude pequena a
regeneração (Fa) (=capoeirão) moderada, com predomínio de
diâmetros<10cm.

Cobertura vegetal Fisionomia arbórea, com dossel fechado,


natural Formação florestal densa ou formação diâmetros que podem chegar a 80cm, árvores
florestal em estágio avançado de emergentes (p.ex: visgueiro, praíba e ingá-
regeneração porco), presença de epífitas e subosque
diversificado
Fisionomia arbórea, com densidade inferior a
Mata de restinga Fd, espécies características das restingas e
presença de estrato herbáceo de gramíneas.
Complexo
vegetacional de Formada de moitas de arbustos circundadas
Restinga
restinga (Re) por tapete herbáceo, com grande
arbustiva
representação das Myrtaceae.
Campos de Fisionomia herbácea.

Capítulo 3 - 149
Quadro 3.5 – Fitofisionomias encontradas na área de SUAPE

Classe de Formação/Fitofisionomia Características


cobertura
restinga
Vegetação com influência flúvio-marinha,
Manguezais ou formação florestal
localizada nos estuários dos rios e periferias
paludosa costeira (M)
das ilhas. Fisionomias de arbustiva e arbórea
Tabuleiros ou formação não florestal Fisionomia arbustiva aberta com elementos
herbáceo-lenhosa, herbáceo-arbórea arbóreos ou subarbóreos e estrato herbáceo
com arbustos perinifólios (Tb) de gramíneas
Alagados Áreas permanentemente alagadas com água
(Al) doce e solo hidromórfico, com fisionomia
Formações não (campos de herbáceo-arbustiva com árvores isoladas ou
florestais hidrófilas, várzea) formando aglomerados.
perenifólias, herbáceas,
herbáceo-arbustivas Áreas periodicamente alagadas pelo fluxo das
como ou sem elementos Salgados marés, com vegetação herbácea ou arbustiva
arbóreos. (Sg) de pequeno porte, adaptada às condições de
salinidade, ou desnudos de vegetação.

Composta de espécies herbáceas, quando


Vegetação de praia (Pr)
muito arbustivas, com características próprias.
Áreas de cultivo de coqueiros, com vegetação
Coqueiral (Co)
herbáceo-arbustiva ruderal.
Áreas cultivadas para subsistência ou
Culturas diversificadas ou policulturas
comercialização (principalmente macaxeira,
(Ct)
mandioca, feijão e maracujá).
Remanescentes de pomares de antigos
Sítios com fruteiras (St)
engenhos.
Cobertura vegetal Canaviais (Cn) Áreas cultivadas com cana-de-açúcar.
antropizada
Vegetação campestre com herbáceas ruderais
Campos antrópicos (Ca) e arbustos lenhosos, estabelecida em áreas
de pouso ou abandonadas.
Cobertura vegetal monitorada, dividida
Plantios com fruteiras, principalmente
em: Áreas de recuperação com
mangueiras.
fruteiras (Fr)
Áreas de recuperação com essências Plantios de espécies da flora nativa com a
nativas (En) finalidade de estabelecer corredores.
Fonte: Adaptada pelos autores do presente estudo do EIA/RIMA- SUAPE/CIPS, 2000

Conforme já discutido ao longo do estudo, o Empreendimento se insere na Ilha de


Tatuoca onde dominam as fitofisionomias do Complexo Vegetacional de Restiga (Re) e
os Manguezais ou formação florestal paludosa costeira (M). Da mesma forma, sua
inserção na referida Ilha insere o Empreendimento dentro do processo de supressão de
vegetação previsto na Lei Estadual 14.046 de 2010, regulamentada pela Resolução do
CONSEMA n° 03/10.
A referida resolução exige da Empresa SUAPE (Art 4°) a elaboração de um Estudo
Ambiental contemplando a caracterização detalhada das áreas abrangidas no
Capítulo 3 - 150
perímetro de supressão aprovado na Lei Estadual 14.046, incluindo nele os 40
hectares destinados para o Empreendimento da PROMAR.
Da mesma forma o Art 11° exige, igualmente, da Empr esa SUAPE o levantamento e
mapeamento de todas as áreas estuarinas dos Rios Jaboatão, Pirapama, Massangana,
Ipojuca, Merepe e Maracaípe, além da Lagoa de Serrambi, incluindo assim a AID do
Empreendimento em análise. Em concordância com as exigências da referida Lei que
prevê levantamentos bióticos muito mais aprofundados e integrados na AID do
Empreendimento, a equipe de EIA limitou seus levantamentos na área à quantificação
(em área) de vegetação existente nos 40 hectares previstos para o Empreendimento
(ADA).

3.5.2 Cobertura Vegetal na Área Diretamente Afetada (ADA)

3.5.2.1 Vegetação secundária, herbácea, arbustiva e arbórea


Apesar de verificarem ações antrópicas que alteraram a cobertura vegetal natural, a
Ilha de Tatuoca apresenta grande parte de sua área bem conservada, uma vez que é
pouco habitada e o acesso restrito, feito apenas por meio de barco. Na localidade se
destacam espécies típicas de ecossistemas litorâneos, formando conjunto de
comunidades vegetais fisionomicamente distintas, arbóreas, arbustivas e herbáceas,
sob influência marinha e flúvio-marinha, distribuídas em mosaico.
Na orla, podem ser observados pequenos fragmentos de mangue formados por
Rhizophora mangle L. (mangue vermelho ou gaiteiro) e Laguncularia racemosa (L.)
Gaertn. f. (mangue branco). Próximos à praia, destacam-se indivíduos de Manilkara
salzmannii (A.DC.) H.J.Lam (maçaranduba), com aproximadamente 9,0m de altura. A
maçaranduba pertence à família das Sapotaceae, se apresentando como espécie
abundante em alguns estudos sobre a floresta Atlântica do Estado de Pernambuco,
possuindo grande valor comercial (SILVA-JÚNIOR et al., 2008; PESSOA et al., 2009).
Nas proximidades do Bar do Biu, a típica paisagem praieira é dominada por
Annacardium occidentale (cajueiro) e Cocus nucifera (coqueiro), como ilustram as
Fotos 3.7 e 3.8.

Foto 3.7 – Paisagem da praia na Ilha de Tautoca, Suape, Pernambuco.

Capítulo 3 - 151
Vegetação peridoméstica nas proximidades do Bar do Biu,
Foto 3.8 –
predominando cajueiros.

Na parte sudeste da ilha, mais para o interior, foram observados, além de Manilkara
salzmannii (A.DC.) H.J.Lam, indivíduos emergentes de Tapirira guianensis Aubl.
(pau pombo), Byrsonima sericea DC (murici), Cupania revoluta Radlk (caboatã de
rego), Cocos nucifera L. (coqueiro), Schinus terebinthifolius Raddi (aroeira da praia),
Buchenavia capitata Eichl., Cereus fernambucensis Lem., além de Vismia sp.,
Guatteria sp., Psychotria sp., várias Lauraceae (espécies predominantes) e de Manihot
sp.(maniçoba, espécie, segundo os moradores, introduzida na ilha).

Paisagem da praia na Ilha de Tautoca, Suape,


Foto 3.9 –
Pernambuco.

Capítulo 3 - 152
As árvores apresentam altura média de 5m, observando-se um estrato herbáceo-
arbustivo aberto, presença de serrapilheira e regeneração natural. A presença da
Manihot na área e em outros pontos, segundo uma moradora, comprova a existência
de roça há algum tempo atrás. Trata-se, pois, de vegetação secundária em estágio
processo de regeneração (Foto 3.9).
Em direção à porção central da ilha, a composição florística da vegetação mantém-se
sem variações, acrescentando-se indivíduos esparsos de Cereus fernambucensis
Lem., conhecida vulgarmente como cardeiro; Anacardium occidentale L., cajueiro;
Andira nitida Mart. ex Benth., angelim; Pithecolobium avaremotemo Mart., espécies
comuns em todos os locais da ilha, além de Clusia sp., Coccoloba sp., Cecropia sp.,
Tabebuia sp., e espécies das famílias Myrtaceae e Nyctaginaceae, muito comuns em
todos os ambientes visitados. O porte das árvores é maior do que o observado nas
áreas mais à praia, com indivíduos com mais de 8m de altura, sendo observada em
vários trechos a presença de pteridófitas formando o sub-bosque herbáceo. Além
disso, há um adensamento no estrato arbustivo e aumenta a espessura de serrapilheira
e a quantidade de indivíduos jovens na regeneração natural.

Intercalando-se às formações arbóreas e arbustivas arbóreas, encontram-se áreas com


vegetação rasteira, como o situado nas proximidades da praia, nomeada pelos
moradores locais como “salinas” (Fotos 3.10 e 3.11). As áreas de salinas são
periodicamente inundadas pelo mar e contam apenas com vegetação herbácea, tendo
sido registrada a presença de Conocarpus erectus L. (mangue de botão).

Área inundável com vegetação herbácea na Ilha de Tatuoca,


Foto 3.10 – Suape, Pernambuco.

Capítulo 3 - 153
Frutificação de Conocarpus erectus (mangue de botão)
Foto 3.11 – em área de salinas, na Ilha de Tatuoca, Suape,
Pernambuco.

Nas imediações do centro da ilha, em outra de salgado, foi observada a deposição de


lixo pelos moradores (Foto 3.12). Nas proximidades dessa área com cobertura
herbácea, outros maciços com fisionomia arbóreo-arbustiva podem ser vistos, com
composição florística similar a já descrita, além de Tocoyena formosa K. Schum.,
(jenipapinho ou jenipapo-bravo), Eschweilera obovata (Cambess.) Miers. (embiriba),
espécies de Lauraceae não identificadas, Humiria sp e Himathanthus sp , além de um
indivíduo de espécie conhecida localmente como amescla branca, cuja resina é
utilizada para espantar muriçoca.

Deposição de lixo em área com


Foto 3.12 – vegetação herbácea no Ilha de Tatuoca.

Na porção nordeste da ilha (UTM 0283058; 9075204), na área estuarina do Rio


Massangana, os manguezais são mais densos, formados por Rhizophora mangle e
Laguncularia racemosa (Foto 3.13). Nas áreas mais altas, registra-se a presença de
Capítulo 3 - 154
Hancornia speciosa Gomes, mangabeira, e Elaeais guineensis Jaquim, dendê, espécie
exótica originária da costa oriental da África (Golfo da Guiné) (SOUZA, 2000).

Faixa de mangue com intensa regeneração de


Foto 3.13 –
Laguncularia racemosa..

A vegetação arbórea nativa chega até a linha de praia, com composição semelhante à
descrita anteriormente, altura média de 10m, árvores emergentes de Tapirira
guianensis e Buchenavia capitata que chegam a atingir 15m de altura e diâmetro à
altura do peito de mais de 30cm. Estrato arbustivo é bastante denso (Foto 3.14), com
boa regeneração natural e espessa serrapilheira (Foto 3.15). Nas proximidades, um
antigo roçado abandonado apresenta-se em início de sucessão com abundante
crescimento de pteridófitas (Foto 3.16).

Foto 3.14 – Vegetação arbórea costeira na Ilha de Tatuoca.

Capítulo 3 - 155
Serrapilheira e regeneração natural em fragmento
Foto 3.15 –
de vegetação florestal.

Estágio inicial de sucessão em área desmatada,


Foto 3.16 –
dominado por pteridófitas.

A noroeste da ilha, nas proximidades da desembocadura do Riacho Ilha da Cana (UTM


0282395 9075184), vegetação apresenta porte mais baixo nas proximidades da praia
(aproximadamente 4m de altura), aumentando à medida que se avança para o interior
da ilha, com estrato arbustivo denso e presença de serrapilheira (Foto 3.17). São
encontrados indivíduos arbóreos com diâmetro à altura do peito variando de 5 a 25 cm,
e composição florística semelhante a dos outros locais visitados. Observou-se que a

Capítulo 3 - 156
concentração de dendê é superior nessa área do que nas demais e foi registrada a
presença de Croton sellowii Baill.
Coqueiro e dendê são as espécies exóticas mais freqüentes na ilha, mas não se
identificou situação de risco de invasão biológica e, além dessas, observou-se a
presença de Manihot sp, chamada pelos habitantes de maniçoba, espécie arbustiva
que, segundo habitante da ilha, é utilizada na fabricação de farinha usada na
alimentação e de poucos indivíduos de Syzygium cumini (azeitona-roxa ou jambolão).

Aspecto do interior de vegetação arbustiva-arbórea a


Foto 3.17 –
noroeste da Ilha.

3.5.2.2 Quantificação da vegetação na ADA


A quantificação das diversas fitofisionomias existentes na Área Diretamente Afetada foi
realizada com base na interpretação de imagens de satélite e apoiadas com os pontos
de amostragem localizados em campo pela equipe de biólogos.

Salienta-se que o MORAES & ALBUQUERQUE ADVOGADOS E CONSULTORES


encomendou uma ortofoto da ADA em agosto de 2010 para fins de se ter a
quantificação precisa da vegetação a ser removida da área. O Quadro, a seguir,
apresenta o uso do solo na ADA.

Quadro 3.6 – Uso do solo na ADA.


Classe Área (ha) %
Aterro Antrópico 2,02 2,52%
Vegetação peridoméstica 0,30 0,38%
Vegetação Herbácea e Subarbustiva 16,42 20,53%
Vegetação arbustiva de restinga 23,96 29,95%
Solo arenoso alagável (salgado) 13,01 16,26%
Transição de mangue (apicum) 13,44 16,80%
Mangue 10,84 13,55%
80,0 100%

Capítulo 3 - 157
3.5.3 Levantamento Fitosociológico das áreas de restinga da ADA

Nas áreas de restinga que deverão ser suprimidas para implantação do


empreendimento, foi realizado um estudo para avaliação da estrutura e composição
florística da vegetação. Os levantamentos abrangeram as duas manchas de vegetação
mais adensada de 27 e 11ha, sendo aqui denominadas Área I e II, respectivamente.
Em cada uma das áreas foram instaladas parcelas quadradas de 100 m², distribuídas
conforme critério aleatório. Na Área I foram avaliadas quatro parcelas amostrais e, na
Área II, três parcelas. As coordenadas das parcelas em UTM Sad 69 encontram-se no
Quadro 3.7.

Quadro 3.7 – Coordenadas UTM de parcelas amostrais avaliadas na ADA.

Área Parcela Coordenada Norte Coordenada Leste


1 9074396 0282608
I 2 9074590 0282800
3 9074210 0282905
4 9074062 0282666
1 9073966 0283481
III 2 9074380 0283608
3 9074252 0283600

3.5.3.1 Metodologia
Em cada uma das parcelas foram avaliados os indivíduos arborescentes e arbóreos
com circunferência à altura do peito igual ou superior a 10cm (CAP≥10cm), medindo-
lhes CAP com trena e altura com régua graduada e hipsômetro.
As espécies ocorrentes nas parcelas foram reconhecidas em campo e o material
botânico coletado, quando disponível e acessível. Também foram realizados percursos
aleatórios para coleta de material botânico, para posterior identificação no Herbário
Sérgio Tavares do Departamento de Ciência Florestal da Universidade Federal Rural
de Pernambuco.
O material botânico foi classificado segundo as normas do APG2 (Angiosperm
Phylogeny Group, Grupo para a Filogenia das Angiospermas) e a grafia botânica,
assim como autores das espécies, designados conforme a site do Missouri Botanical
Garden (MOBOT, 2010).
A classificação quanto aos hábitos de crescimento das plantas foi feita adotando-se as
seguintes classes:

 Árvore – Vegetal lenhoso dotado de tronco único ou bifurcado, apresentando


ramos de primeira ordem a partir de um certo nível, de onde se dispõem as
ramificações da copa, com altura igual ou superior a 4m.

 Arvoreta – vegetal lenhoso com fuste único e ramificações superiores formando


pequena copa, com até 4m de altura.

 Arbusto – vegetal lenhoso com múltiplos fustes, com altura entre 1,0 e 3,0m.

Capítulo 3 - 158
 Subarbusto – vegetal com múltiplos fustes delgados, porém lenhosos, com até
1,0m de altura.

 Ervas - Planta não lenhosa, geralmente de pequeno porte, cuja porção aérea
vive menos de um ano e cuja parte subterrânea pode ser perene.

 Trepadeira – indivíduos que não apresentam sistema de autosustentação e se


utilizam do suporte de outras plantas, podendo ser volúveis ou escandentes
(nesse estudo, incluiu hemiparasitas).

A partir dos dados das parcelas amostrais foram estimados o número total de
indivíduos e fustes, já que o elevado número de árvores e arbustos multifurcados
indicou ser essa uma estratégia importante de ocupação dos espaços. Também foram
calculadas as alturas média e máxima das parcelas e área basal, por parcela e por
hectare.
Foram estimados parâmetros para caracterizar a estrutura de uma comunidade
vegetal, denominados parâmetros da estrutura horizontal: abundância (ou densidade),
dominância e índice de valor de cobertura (VC).
A densidade expressa a participação das diferentes espécies dentro da associação
vegetal. Densidade absoluta (Dabs) indica o número de indivíduos de dada espécie por
unidade de área (Expressão 1) e densidade relativa (Drel), a participação de cada
espécie, em porcentagem, em relação ao número total de árvores (Expressão 2). A
densidade está diretamente relacionada à composição de uma comunidade em relação
às espécies presentes e ao número de indivíduos de cada uma delas, independente de
suas dimensões.

 Dabs(espécie X) = Número de indivíduos da espécie X por hectare (Nx) (Expressão1)

D abs
 Drel(espécie X) = *100 (Expressão 2)
∑ abs
D

sendo ∑D abs = densidade total (número de indivíduos por hectare, de todas as espécies =

N).

Densidade absoluta e relativa foram calculadas também empregando o número de


fustes, pelo motivo já exposto.
A dominância absoluta é definida como o somatório das áreas seccionais (transversais,
basimétricas ou basais individuais) dos indivíduos de uma dada espécie, por unidade
de área (Expressão 3) e a dominância relativa (Domrel) representa a porcentagem de
área basal da espécie (GX), em relação à área basal total (G), ambas calculadas por
unidade de área (Expressão 4).


Domabs(espécie X) = GX em m2ha-1 (Expressão 3)
Dom abs
 Domrel (espécie X) = *100 (Expressão 4)
∑ Domabs
Capítulo 3 - 159
sendo ∑ Dom abs = G em m2ha-1

O Valor de cobertura (VC) é a média da densidade e da dominância relativas de cada


espécie da comunidade (Expressão 5). É o índice que caracteriza o grau de ocupação
do espaço pelas espécies, reunindo os critérios de análise dos dois parâmetros
(abundância e porte dos indivíduos). Devido ao elevado número de espécies
multifurcadas e sendo isso uma estratégia para elevar a cobertura da espécie, o Valor
de Cobertura foi estimado em função da densidade de fustes, e não de indivíduos.

 VC= [Drel(x)+Domrel(x)]/2 (Expressão 5)

Foi estimado o índice de Shannon de diversidade de espécies arbóreas (H’) nas duas
áreas, em conjunto, conforme a expressão 6, baseado nas suas áreas basais
proporcionais (dominância relativa, expressa em decimais), considerando ser esse o
parâmetro que mais se relaciona à biomassa que, por sua vez, é, conforme Begon et
al. (2006), a medida mais importante para ser relacionada à diversidade.
 H´= −∑ p i lnpi , (Expressão 6)

Sendo H’ o índice de Shannon, pi a área basal proporcional da iª espécie, dada em


G
decimais, p i = i , e lnpi, o seu logaritmo natural (base e).
G
Também foram calculados os valores de Equitatividade (ou Equabilidade) das duas
áreas, conforme as expressões 7 e 8, na qual H’max é o valor máximo de H’ (índice de
Shannon).

 H’max=lnS (Expressão 7)
H'
 E= (Expressão 8)
H'max

3.5.3.2 Resultados Obtidos


No Quadro 3.8 se relacionam as espécies encontradas no levantamento florístico
realizado nas duas áreas, ao longo de percursos aleatórios, incluindo os estratos
herbáceos e arbustivos.

Quadro 3.8 – Espécies vegetais observadas na ADA do Empreendimento


Hábito de
Família Espécie Nome vulgar Obs¹
crescimento
Mangifera indica L. mangueira R árvore
Tapirira guianensis Aubl. pau-pombo R árvore
Anacardiaceae
Annacardium occidentale cajueiro R árvore
Spondias mombin L cajá R árvore
arbusto/
Apocynaceae Hancornia speciosa Gomes mangaba R
arvoreta
Araceae Anthurium affine Schott folha de urubu R erva
Philodendron imbe Schott ex Endl. imbé R trepadeira
Bignoniaceae Tabebuia sp ipê R árvore
Arecaceae Cocos nucifera L. coqueiro R árvore

Capítulo 3 - 160
Quadro 3.8 – Espécies vegetais observadas na ADA do Empreendimento
Hábito de
Família Espécie Nome vulgar Obs¹
crescimento
Blechnaceae Blechnum sp samambaia R erva
azeitona do
Chrysobalanaceae Hirtella racemosa Lam. R arbusto
mato
Hirtella ciliata Mart. & Zucc. murtinha R arbusto
Buchenavia tetraphylla (Aubl.) R.A.
Combretaceae embiridiba R árvore
Howard
Convolvulaceae Merremia cissoides (Lam.) Hallier f. jitirana R trepadeira
Cyperus diffusus Vahl R erva
Cyperus flavus (Vahl) Nees R erva
Cyperus imbricatus Retz. R erva
Cyperaceae Cyperus ligularis L. R erva
Eleocharis sp R erva
Fimbristylis cymosa (Lam.) R. Br. R erva
Remirea marítima Aubl. R erva
Dilleniaceae Curatella americana L. lixeira R árvore
Chamaesyce hyssopifolia (L.)
Euphorbiaceae R erva
Small
Croton sellowii Baill. R arbusto
Humiriaceae Humiria balsamifera Aubl. murtinha C árvore
Icacinaceae Emmotum affine Miers aderno R árvore
Lauraceae Ocotea sp. louro C árvore
Chamaecrista rotundifolia (Pers.)
R sub-arbusto
Leguminosae Greene
Caesalpinioideae Senna macranthera (DC. ex
canafistula R arbusto
Collad.) H.S. Irwin & Barneby
Leguminosae
Inga laurina (Sw.) Willd. ingá R árvore
Mimosoideae
Aeschynomene evenia C. Wright R erva
Andira nitida Mart. ex Benth. angelim C árvore
Crotalaria retusa L. R sub-arbusto
Desmodium barbatum (L.) Benth. R erva
Desmodium incanum DC. R erva
Leguminosae Dioclea sp R trepadeira
Papilionoideae Indigofera microcarpa Desv. R sub-arbusto
Indigofera spicata Forssk. R sub-arbusto
Macroptilium lathyroides (L.) Urb. R erva
Rhynchosia mínima (L.) DC. R trepadeira
Stylosanthes guianensis (Aubl.)
R sub-arbusto
Sw.
Lygodiaceae Lygodium sp R erva
Malpighiaceae Stigmaphyllon paralias A.Juss. R sub-arbusto
Malvaceae Pavonia cancellata (L.) Cav. R erva
Sida ciliaris L. R erva
Maranthaceae Calathea sp R erva
Melastomataceae Miconia albicans (Sw.) Steud. canela de velho R arbusto
Myrtaceae Myrcia bergiana O.Berg. cambuí C arbusto
Myrcia guianensis (Aubl.) DC. C arbusto
Psidium guajava L. goiaba R árvore
Nyctaginaceae Guapira sp maria-mole C arbusto
Ouratea sp1 R árvore
Ochnaceae
Ouratea sp2 R arbusto
Catasetum sp R epífita
Orchidaceae orquídea
Vanilla sp R trepadeira
baunilha
Passifloraceae Passiflora sp C trepadeira
Polygonaceae Coccoloba sp cauaçu R árvore
Avena sp R erva
Poaceae
Cenchrus echinatus L. R erva

Capítulo 3 - 161
Quadro 3.8 – Espécies vegetais observadas na ADA do Empreendimento
Hábito de
Família Espécie Nome vulgar Obs¹
crescimento
Chloris barbata Sw. R erva
Dactyloctenium aegyptium (L.)
R erva
Beauv.
Echinochloa sp R erva
Pteridaceae Pteridium aquilinum (l.) Kuhn R erva
Sapindaceae Matayba sp. C árvore
Manilkara salzmannii (A. DC.) H.J.
Sapotaceae maçaran-duba R árvore
Lam
Solanaceae Solanum paniculatum L. jurubeba R arbusto
Sterculiaceae Waltheria indica L. R sub-arbusto
Rubiaceae Chioccoca sp. C arbusto
Turneraceae Turnera subulata Sm. chanana R sub-arbusto
Verbenaceae Aegiphila sp papagaio R arbusto
Stachytarpheta elatior Schrad. ex
R sub-arbusto
Schult.
Observação 1: R= Espécie reconhecidas em campo, a partir de material botânico fértil ou não; C=
Espécie coletada e depositado no Herbário Sérgio Tavares da UFRPE (HST).

Foram reconhecidas e/ou coletadas 69 espécies vegetais pertencentes a 38 famílias


botânicas. A maior riqueza de espécies foi encontrada no estrato herbáceo, com 23
espécies, seguido pelo estrato arbóreo, com 18 espécies. Epífitas e trepadeiras
apresentaram baixa riqueza (Figura 3.17), devendo-se destacar que as trepadeiras
observadas foram herbáceas, não se identificando espécies de lianas na comunidade.

Riqueza de espécies por hábito de crescimento nas duas áreas


Figura 3. 17 –
pesquisadas na ADA
25
Número de espécies

20

15

10

0
ra

ta
to

o
va

re

a
st

et

ífi
i
s
vo

de
er

bu

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ep
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pa

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/a
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b-

to
su

us
b
ar

Fonte: Levantamento de Campo

Nas parcelas foram registradas as presenças de 17 espécies, sendo 11 na Área I e 7


na Área II (Quadro 3.9). Apenas uma espécie de “louro” foi amostrada nas duas áreas.
(Quadro 3.9).

Capítulo 3 - 162
Espécies amostradas nas duas áreas pesquisadas dentro da
Quadro 3.9 –
ADA
Espécies Área I Área II
Andira nitida X
Buchenavia tetraphylla X
Byrsonima sp X
Campomanesia sp X
Coccoloba sp. X
Humiria balsamifera X
Inga laurina X
Manilkara salzmannii X
Myrcia bergiana X
Myrsine sp X
Myrtaceae 1 X
Myrtaceae 2 X
Ocotea sp. X X
Ouratea sp. X
Tabebuia sp. X
Tapirira guianensis X

A riqueza pode ser considerada baixa quando comparada com a apresentada por
Almeida Jr. et al. (2009), que encontraram 38 espécies de mesofanerófitos nas
restingas de Maracaípe, em Ipojuca. Essa diferença deve ter se dado não só pelas
reduzidas dimensões dos fragmentos encontrados na Ilha de Tatuoca, mas também
devido a história de uso da ilha, diferente do regime de conservação ao qual está
sujeita a área estudada em Maracaípe.
A riqueza da Área I foi superior provavelmente devido ao maior tamanho da área e
também ao menor nível de intervenção antrópica, apresentando-se bem conservada e
sem trilhas no seu interior.
O índice de diversidade de Shannon, calculado com base nas densidades relativas nas
duas áreas, foi 2,56 nats/ind, com elevada equabilidade (0,90). Scherer et al. (2005),
em área de restingas no Parque Estadual de Itapuã, no Rio Grande do Sul, estimou
valores de H’ entre 1,08 e 2,38 e equabilidade entre 0,47 e 0,84. Guedes et al. (2006),
estimaram valores de H’ de 3,5 e 3,7nats/ind. em dois fragmentos de restinga para
matas de restinga em Bertioga, São Paulo.
Assis et al. (2001), numa floresta de restinga em Guarapari, ES, encontraram valor de
índice de diversidade de Shannon mais elevado (3,73 nats/ind), enquanto Pereira et al.
(2001), em uma formação fechada de restinga em Barra de Maricá, RJ, estimou
H’=2,84 nats/ind. Assim, observa-se que o valor estimado não foge ao intervalo
usualmente encontrado para o índice de Shannon em restingas brasileiras, mesmo
considerando a pequena extensão dos fragmentos e a baixa riqueza arbórea.
Na Área I, Humiria balsaminifera (murtinha) foi a espécie com maior Valor de
Cobertura, seguida de Manilkara salzmannii (massaranduba), Ocotea sp (louro),
Coccoloba sp e Mirtaceae não identificada (Quadro 3.10).

Capítulo 3 - 163
Espécies amostradas nas parcelas da Área I, com respectivos valores de
Quadro 3.10 –
parâmetros estruturais.
Na amostra (400m²) %
Espécies Número Área
Número Densidade Densidade Valor de
de basal Dominância
de fustes de árvores de fuste Cobertura
árvores (m²)
Humiria
balsamifera 5 21 0,12362 16,13 25,30 18,39 21,85
Manilkara
salzmannii 4 11 0,123255 12,90 13,25 18,34 15,80
Ocotea sp 7 14 0,076508 22,58 16,87 11,38 14,13
Coccoloba sp 1 3 0,152781 3,23 3,61 22,73 13,17
Myrtaceae 1 5 16 0,040949 16,13 19,28 6,09 12,68
Tabebuia sp 1 1 0,082231 3,23 1,20 12,24 6,72
Byrsonima sp 2 6 0,026905 6,45 7,23 4,00 5,62
Campomanesia sp 1 6 0,014227 3,23 7,23 2,12 4,67
Myrtaceae 2 2 2 0,010129 6,45 2,41 1,51 1,96
Croton sellowii 2 2 0,007319 6,45 2,41 1,09 1,75
Myrsine sp 1 1 0,014169 3,23 1,20 2,11 1,66
Total 31 83 0,672091 100,00 100,00 100,00 100,00

Na Área II, duas espécies dominaram, respondendo por 55,77% do valor de cobertura
estimado: a mirindiba (Buchenavia tetraphylla) e o ingá (Inga laurina), nas quais o alto
número de fustes por planta e as maiores dimensões transversais foram responsáveis
pela dominância elevada. É possível que essas espécies, como boas colonizadoras,
tenham impedido o estabelecimento de outras, em um processo conhecido como
exclusão competitiva, reduzindo a riqueza e diversidade da área (Quadro 3.11).

Espécies amostradas nas parcelas da Área II, com respectivos valores de


Quadro 3.11 –
parâmetros estruturais
Na amostra (300m²) %
Espécies Número Área
Número Densidade Densidade Valor de
de basal Dominância
de fustes de árvores de fuste Cobertura
árvores (m²)
Buchenavia
tetraphylla 1 16 1,48718 4,55 21,92 38,77 30,34
Inga laurina 5 20 0,89959 22,73 27,40 23,45 25,43
Tapirira
guianensis 5 7 0,69180 22,73 9,59 18,03 13,81
Myrcia bergiana 3 12 0,23171 13,64 16,44 6,04 11,24
Ouratea sp. 1 6 0,28326 4,55 8,22 7,38 7,80
Ocotea sp. 4 7 0,14407 18,18 9,59 3,76 6,67
Andira nitida 3 5 0,09499 13,64 6,85 2,48 4,66
Total 22 73 3,83260 100,00 100,00 100,00 100,00

Capítulo 3 - 164
No Quadro 3.12 sintetizam-se os parâmetros dendrométricos estimados nas duas
áreas, podendo-se observar que há grande variação de densidade arbórea em ambos
os locais, assim como de porte da vegetação. A altura média do dossel variou de pouco
menos de 5,0m a 14,3m, com raras árvores emergentes com mais de 15m de altura.

Quadro 3.12 – Síntese dos parâmetros dendrométricos nas duas áreas pesquisadas.
Área - Número Número Área basal Número Número Área basal Altura Altura
Parcela de de m² de árvores de fustes m² média máxima
árvores fustes m m
Por parcela Por hectare
7 22 0,110687 700 2200 11,0687 5,5 7,0
I-1
7 14 0,066534 700 1400 6,6534 6,4 8,5
I-2
5 15 0,066909 500 1500 6,6909 4,9 6,0
I-3
12 32 0,42796 1200 3200 42,7960 6,0 12,0
I-4
Média 775 2075 16,8023

II - 1 7 16 0,114625 700 1600 11,46251 5,4 7,0


II - 2 12 36 0,438556 1200 3600 43,85564 8,4 17,0
II - 3 3 21 0,404969 300 2100 40,49688 14,3 23,0
Média 733 2433 31,93834

A área basal estimada foi, em alguns locais, comparável a de florestas ombrófilas


densas, principalmente devido ao hábito de crescimento das árvores, com
esgalhamento baixo e amplo. Mesmo observando-se áreas com menor densidade, a
média de área basal na área II foi superior a 30m2ha-1, indicando a existência de
elevada fitomassa arbórea, assim como em alguns trechos da área I.
A variação de porte e densidade e o mosaico de tipos de vegetação encontradas nas
áreas podem ser observadas nas Fotos a seguir. Na Foto 3.18 se observa um
exemplar de Annacardium occidentale na localidade circundado por vegetação
herbácea e a Foto 3.19 ilustra a fisionomia encontrada na Área II.

Capítulo 3 - 165
Fisionomia da parcela 1 da Área I (UTM 9074396;
Foto 3.18 –
0282608).

A fisionomia da Área II não difere do já relatado, apresentando-se mais aberta em


certos locais Foto 3.19 (esq) e mais adensada em outros Foto 3.19 (dir).

(Esq) Fisionomia da parcela 1 da Área II (UTM 9073966;0283481). / (Dir)


Foto 3.19 –
Fisionomia da parcela 2 da Área II (UTM 9074380; 0283608).

A estrutura da vegetação apresentou-se sutilmente distinta na parcela 3 da área II,


devido a dominância de árvores muito esgalhadas, que promoveram a dominância no
ambiente, inibindo inclusive a estrato arbustivo e subarbustivo sob suas copas (Foto
3.20)

Capítulo 3 - 166
Foto 3.20 – Estrutura fisionômica da parcela 3 da área II.

Ressalte-se aqui que os levantamentos foram realizados apenas nas áreas


selecionadas por apresentarem cobertura arbórea expressiva, enquanto que em
grande parte da ilha dominam as formações herbáceas naturais e campos antrópicos,
resultado de intervenções pretéritas e de impactos recentes sobre a vegetação, como
ilustram as Fotos 3.21.

(Esq) Aspecto da vegetação fortemente antropizada nas coordenadas UTM


Foto 3.21 – 9073412; 0281812 / (Dir) Áreas naturais de campo delimitam formações
arbóreas (UTM 9074108; 0281798).

Capítulo 3 - 167
3.5.4 Unidades de Conservação em um raio de 10km
No entorno de 10km do Empreendimento são verificadas áreas protegidas, decorrentes
da sua riqueza biótica e ambiental. A relação destas áreas é apresentada no Quadro a
seguir:

Quadro 3.13 – Áreas de proteção ambiental localizadas no entorno de 10km


Nome da Diploma
Descrição
Reserva Legal
No Cabo de Santo Agostinho, a oeste da Praia de Itapoama,
MATA DE ocupa 233,30ha com remanescentes de Mata Atlântica em Lei
CAMAÇARI bom estado, embora apresente área devastada com a 9.889/87
extração de caulim.
Localizada no Cabo de Santo Agostinho, na margem
MATA DE DUAS Lei
esquerda da PE-028, tem 140,30ha de mata, tendo sido em
LAGOAS 9.889/87
parte devastada pelo Loteamento Enseada dos Corais.
Localizada no Cabo de Santo Agostinho, na margem direita
da PE-028, esta Reserva ecológica tem 292,40ha de Mata
Lei
MATA DO ZUMBI Atlântica, com riachos e lagoas. Apresenta bom estado de
9.889/87
conservação, embora tenha sofrido devastação com a
implantação do Loteamento Enseada dos Corais.
PARQUE No promontório de Santo Agostinho. Parque Estadual com
METROPOLITANO área de 270 ha, criado com vistas à preservação do
ARMANDO patrimônio histórico, artístico e ambiental da localidade. Sua
HOLANDA CAVAL- paisagem é marcada por voçorocas onde a vegetação
CANTI nativa desapareceu.
Com 1.608ha, está localizado nos Engenhos Utinga de
PARQUE
Cima e Utinga de Baixo, no Cabo de Santo Agostinho, e
NATURAL Decreto
Engenhos Penderama, Tabatinga, Arandepe e Pirajá, em
ESTADUAL DE 6727/80
Ipojuca. Apresenta resquício de Mata Atlântica com
SUAPE
ocupações irregulares e desmatamento acentuado.
Delimita as áreas de proteção de mananciais de interesse
ÁREA DE da Região Metropolitana do Recife e estabelece condições
Lei 9860/
PROTEÇÃO DE para preservação dos recursos hídricos. Uma fração desta
86
MANANCIAIS área protegida localiza-se dentro da AII, abrangendo os
reservatórios de Bita e Utinga.

A área estuarina dos Rios Massangana e Tatuoca não é relacionada no quadro acima,
por não estar contemplada no Anexo 1 da Lei n° 9.93 1 de 86, que define como área de
proteção ambiental as reservas biológicas constituídas pelas áreas estuarinas do
Estado de Pernambuco. Contudo, e mesmo não constando na Lei Estadual, em
decorrência possivelmente da sua utilizade pública como área portuária e industrial,
este estuário está acobertado pela Lei Federal 4771 de 65 que institui o código florestal
brasileiro que define as áreas de preservação permanente.

3.5.5 Fauna Terrestre


3.5.5.1 Aspectos gerais da fauna vertebrada na AID
O descritivo de fauna apresentado na sequência foi construído a partir de vistorias de
campo efetuadas na porção leste da Ilha de Tatuoca, nas proximidades do Estaleiro
Atlântico Sul, onde se verificam ainda remanescentes de vegetação de Restinga. A
pesquisa foi apoiada igualmente em entrevistas com membros da comunidade, com

Capítulo 3 - 168
reconhecido conhecimento da fauna local, que habitam atualmente na ilha também do
lado sudeste. De uma forma geral, este descritivo representa uma amostragem da
fauna remanescente na Ilha de Tatuoca, aplicável para os pontos que apresentem
características bióticas similares aos pesquisados, quais sejam, a presença de bolsões
de vegetação arbustiva e arbórea, arrodeados na vegetação de mangue.
De um modo geral, a fauna terrestre associada aos ambientes que compõem a área de
Abrangência do Empreendimento está representada por espécies generalistas (SICK,
1988; SOUZA, 2005; FARIAS et alli, 2002), com capacidade de se adaptar a diferentes
feições do ambiente (p. ex., formações vegetais abertas e fechadas), apresentando
ampla distribuição geográfica, com algumas também ocorrendo no domínio dos
Cerrados e das Caatingas nordestinas. Dentre estas estão o rouxinol (Troglodytes
musculus), o siriri (Tyrannus melancholicus), o pitiguari (Cyclarhis gujanensis), o sabiá-
gongá (Turdus rufiventris) e o bentevi (Pitangus sulphuratus), da classe das aves; o
guaxinim (Procyon cancrivorus) conhecido localmente por guaxelo, que freqüenta os
manguezais; e o timbu (Didelphis albiventris) entre os mamíferos; e o teju (Tupinambis
merianae), a jibóia (Boa constrictor), e o calanguinho (Cnemidophorus ocellifer) dentre
os répteis.
Na mancha de vegetação de restinga, localizada na área central da Ilha de Tatuoca, foi
constatada a predominância de espécies animais residentes e diurnos. Dentre as
espécies de hábito noturno, destacam-se a coruja-de-frio (Megascops choliba),
algumas serpentes, como a corre-campo (Philodryas nattereri), e anfíbios, sendo
poucas aquelas de hábito subterrâneo (fossorial), como a cobra-de-duas-cabeças
(Amphisbaena sp) e lagartos dos gêneros Ameiva, Cnemidophorus e Iguana, dentre
outros.
Nas áreas de praia, nos fragmentos de manguezais e nos bancos de areia,
ocasionalmente ocorrem diversas espécies de aves migratórias, provenientes do
Hemisfério Norte, que freqüentam a costa da América do Sul, no início do mês de
agosto, permanecendo por vários meses em busca de alimentos, sem contudo se
reproduzirem, retornando, entre os meses de abril e maio, aos seus locais de origem.
Dentre elas, são frequentes o maçarico-de-bando (Charadrius sp), maçarico-branco
(Calidris alba), maçarico-de-coleira (Charadrius collaris), vira-pedras (Arenaria
interpres), e batuíra-bicuda (Charadrius wilsonia), dentre outras (SUAPE, 1999).
Inúmeras espécies da fauna terrestre desapareceram da área prospectada,
principalmente de mamíferos de médio e grande porte. Alguns representantes, a
exemplo da raposa (Cerdocyon thous), estão hoje associados aos poucos fragmentos
de remanescentes da Mata Atlântica localizados na área de influência indireta (AII) do
Empreendimento.
Foi dada ênfase à classe das aves, consideradas boas indicadoras da qualidade
ambiental (MORRISON, 1986; REGALADO & SILVA, 1997; WORLD BIRDWATCH,
1999; VIELLIARD, 2000; ANTAS & ALMEIDA, 2003), por conta de serem detectadas
com facilidade, tanto visualmente como através de suas manifestações sonoras
(zoofonia - OLMOS et alli, 2005), possibilitando assim uma melhor identificação
específica no campo, na maioria dos casos sem a necessidade de se capturar
espécimes.

Capítulo 3 - 169
3.5.5.2 Identificação de espécies de fauna na AID
A. Herpetofauna
a1. Anfíbios
Certamente, devido ao aspecto antropizado da cobertura vegetal da ADA, foram
registradas, até o presente, nove espécies de anfíbios, na sua maioria de hábito
noturno, associadas aos ambientes arbustivos e herbáceos de maior umidade, sendo
as mais comuns o sapo-cururu (Rhinella jimi), a perereca (Phyllomedusa
hypochondrialis), a perereca-de-banheiro ou raspa-cuia (Scinax x-signatus) e o caçote
(Leptodactylus ocellatus), ocorrendo nas formações arbustivas da restinga.

Quadro 3.14 – Espécies de Anfíbios na ADA e AID do Empreendimento

Anfíbios AMBIENTE
NOME VULGAR
NOME CIENTÍFICO FA FF
Bufonidae
Rhinella jimi Sapo-cururu X X
Hylidae
Scinax x-signatus Perereca-de-banheiro X
Hyla albopunctata Perereca X X
Phyllomedusa hypochondrialis Rã X X
Leptodactylidae
Leptodactylus ocellatus Jia; caçote X X
Leptodactylus vastus Jia-pimenta X
Leptodactylus fuscus Rã X
Leptodactylus cf. labyrinthicus Jia X X
Physalaemus cuvieri Rã-cachorro X X
9 espécies
Ambientes: FA=formação vegetal aberta; FF=formação fechada; X em negrito indica preferência pelo respectivo tipo
de ambiente.

Fontes: SANTANA et alli, 2008; SANTOS & CARNAVAL, 2002; JUNCÁ, 2006.

a2. Répteis
Entre os répteis, foram anotadas 11 espécies, sendo 4 serpentes, 6 lagartos, e um
anfisbenídeo (a cobra de duas cabeças – Amphisbaena vermicularis).
Dentre as serpentes, são comuns a jibóia (Boa constrictor), e a corre-campo
(Philodryas nattereri). A família Colubridae, que engloba mais da metade das serpentes
conhecidas, foi relativamente bem representada. Dentre os lagartos, as espécies mais
comuns são: a lagartixa-preta (Tropidurus hispidus), inclusive nas cidades; a víbora ou
briba (Hemidactylus mabouia), freqüente nas casas, à noite; o camaleão (Iguana
iguana), e o calanguinho (Cnemidophorus ocellifer), esse freqüente nos ambientes
arbustivos e ensolarados (VANZOLINI et alli, 1980). O teju (Tupinambis merianae) é
visto ocasionalmente nas formações vegetais arbustivas e arbóreas, na AID do
Empreendimento.

Capítulo 3 - 170
Quadro 3.15 – Espécies de Répteis na ADA e AID do Empreendimento.

Répteis AMBIENTE
NOME VULGAR
FAMÍLIA - NOME CIENTÍFICO FA FF
(Serpentes)
Boidae
Boa constrictor Jibóia X X
Colubridae
Philodryas olfersii Cobra-verde X X
Philodryas nattereri Corre-campo X
Viperidae
Bothrops sp Jararaca X
(Lagartos)
Gekkonidae
Hemidactylus mabouia Lagartixa, briba, osga X
Iguanidae
Iguana iguana Camaleão X X
Teiidae
Ameiva ameiva Bico-doce; come-ovo X X
Tupinambis merianae Tejú; téju; teiú X X
Cnemidophorus ocellifer Calanguinho X
Tropiduridae
Tropidurus hispidus Lagartixa-preta X X
(Anfisbenídeos)
Amphisbaenidae
Amphisbaena vermicularis Cobra-de-duas-cabeças X X
11 espécies
Ambientes: FA=formação vegetal aberta; FF=formação fechada; X em negrito indica preferência pelo
respectivo tipo de ambiente.

Fontes: SANTANA et alli, 2008; SANTOS & CARNAVAL, 2002; JUNCÁ, 2006; SUAPE, 1999.

B. Avifauna
Na área de abrangência do Empreendimento foram identificadas 46 espécies de aves,
uma diversidade baixa, se comparada àquela da Mata Atlântica pernambucana, com
cerca de 190 espécies. A família mais numerosa, Tyrannidae, está representada por 7
espécies.
De um modo geral, predominam espécies pouco sensíveis às pressões antrópicas,
portanto, bem adaptadas aos vários tipos de ambientes florestados, com exceção, por
exemplo, do frei-vicente (Tangara cayana), (D’HORTA et alli, 2005), do dorminhoco
(Nystalus maculatus), e do maçarico (Charadrius wilsonia) todas com sensitividade
média; e da rolinha-do-mar (Arenaria interpres) de sensitividade alta (SILVA et alli,
2003). Outras espécies freqüentes na ADA e na AID foram: dorminhoco (Nystalus
maculatus), sanhaçu-de-coqueiro (Thraupis palmarum), sanhaçu-azul (Thraupis
sayaca), carcará (Caracara plancus), beija-flor-tesoura (Eupetomena macroura), sabiá-
Capítulo 3 - 171
gongá (Turdus rufiventris), pitiguari (Cyclarhis gujanensis), sebito (Coereba flaveola)
(COELHO, 1993).
Nas áreas abertas de restinga arbustiva e no estrato arbustivo-herbáceo, ocorrem: anu-
preto (Crotophaga ani), anu-branco (Guira guira), gavião-pega-pinto (Rupornis
magnirostris), o qual é atualmente visitante regular dos centros urbanos; siriri (Tyrannus
melancholicus), bentevi (Pitangus sulphuratus), rouxinol (Troglodytes musculus) e tiziu
(Volatinia jacarina), dentre outras (COELHO, 2002; COELHO, 2004 e 1988).
Nas proximidades de ambientes dulciaquícolas e estuarinos, foram anotadas: a
lavandeira (Fluvicola nengeta), garça-vaqueira (Bubulcus ibis), em pequenos bandos;
martin-pescador-pequeno (Chloroceryle americana), martim-pescador-grande
(Megaceryle torquata), jaçanã (Jacana jacana), socozinho (Butorides striata) e galinha-
d’água (Gallinula chloropus) (COELHO, 1988; 2008).

LISTA DAS AVES REGISTRADAS NAS ÁREAS DE PRAIA,


Quadro 3.16 –
MANGUE E RESTINGA, NA ADA E AID.

AMBIENTE
FAMÍLIA-ESPÉCIE NOME COMUM
P M R
Ardeidae
Butorides striata Socozinho X X
Bubulcus ibis Garça-vaqueira X X X
Cathartidae
Coragyps atratus Urubu-de-cabeça-preta X X
Cathartes aura Urubu-de-cabeça-vermelha X X
Accipitridae
Rupornis magnirostris Gavião-carijó; pega-pinto X X
Falconidae
Caracara plancus Carcará X X X
Charadriidae
Vanellus chilensis Quero-quero; tetéu X X
Charadrius semipalmatus Batuíra-de-bando X X
Charadrius collaris Batuíra-de-coleira X X
Charadrius wilsonia Maçarico X X
Scolopacidae
Arenaria interpres Rolinha-do-mar X X
Actitis macularius Maçarico-pintado X X
Calidris alba Maçarico-branco X X
Columbidae
Columbina minuta Rolinha-de-asa-canela X X
Columbina talpacoti Caldo-de-feijão X X X
Columbina squammata Fogo-apagou X X
Cuculidae
Crotophaga ani Anu-preto X X
Guira guira Anu-branco X X X
Tytonidae
Megascops choliba Corujinha X

Capítulo 3 - 172
LISTA DAS AVES REGISTRADAS NAS ÁREAS DE PRAIA,
Quadro 3.16 –
MANGUE E RESTINGA, NA ADA E AID.

AMBIENTE
FAMÍLIA-ESPÉCIE NOME COMUM
P M R
Apodidae
Reinarda squamata Tesourinha X X
Trochilidae
Amazilia versicolor Beija-flor-de-banda-branca X X
Eupetomena macroura Tesoura X X
Alcedinidae
Chloroceryle americana Martim-pescador-pequeno X X
Megaceryle torquata Martim-pescador-grande X X
Bucconidae
Nystalus maculatus Dorminhoco; joão-bobo X
Tyrannidae
Elaenia flavogaster Maria-já-é-dia X X
Hemitriccus margaritaceiventer Sebinho-de-olho-de-ouro X
Todirostrum cinereum Reloginho X X
Pitangus sulphuratus Bem-te-vi X X X
Tyrannus melancholicus Suiriri X
Machetornis rixosa Bentevi-do-gado X X
Fluvicola nengeta Lavadeira X X X
Hirundinidae
Tachycineta albiventer Andorinha-do-rio X X
Progne chalybea Andorinha-doméstica-grande X X X
Troglodytidae
Pheugopedius genibarbis Garrincha-de-bigode X
Troglodytes musculus Corruíra, Cambaxirra X X X
Mimidae
Mimus saturninus Sabiá-da-praia X X
Turdidae
Turdus rufiventris Sabiá-gongá X X
Vireonidae
Cyclarhis gujanensis Pitiguari X X
Vireo olivaceus Juruviara X
Emberizidae
Coereba flaveola Cambacica, sebito X X
Thraupis sayaca Sanhaço-de-bananeira X X X
Thraupis palmarum Sanhaço-de-coqueiro X X X
Tangara cayana Frei-vicente; X X
Conirostrum bicolor Sanhaçu-do-mangue EN X X
Passeridae
Passer domesticus Pardal X X
46 espécies
Ambiente: P: praia; M: mangue; R: restinga. EN: endêmica.
Fontes: NEVES et alli, 2000; COELHO, 1993 e 2008; SUAPE, 1999.

Capítulo 3 - 173
C. Mastofauna
Dentre os mamíferos, 13 espécies foram anotadas, na sua maioria de pequeno porte,
como roedores, morcegos e marsupiais, apresentando ampla distribuição geográfica
(Caatingas, Cerrados, além dos fragmentos da Mata Atlântica).
Algumas espécies, principalmente de porte maior, como a paca, felídeos, como o gato-
do-mato, gato-maracajá, jaguatirica etc, desapareceram da região analisada, devido
principalmente à perda de hábitat e a pressão de caça. A raposa (Cerdocyon thous)
ainda com populações estáveis, devido a sua plasticidade em relação aos diversos
ambientes florestados, pode ser observada, inclusive em ambientes urbanos
(COELHO, 2003). Registros de campo e de laboratório, confirmados por moradores
locais, dão conta de que as espécies mais comuns são os sagüis, morcegos, guaxinim,
timbu (CRUZ et alli, 2002), e o gabiru.

Quadro 3.17 – Espécies de Mamíferos na ADA e AID.


Empreendimento
Mamíferos AMBIENTE
NOME VULGAR
NOME CIENTÍFICO FA FF M
Didelphidae
Didelphis albiventris Cassaco, timbu X X
Caluromys philander Rato-cachorro X
Callitrichidae
Callithrix jacchus Sagüi, suim X X
Dasypodidae
Dasypus novemcinctus Tatu-verdadeiro X X
Dasyproctidae
Dasyprocta prymnolopha Cutia X
Muridae
Rattus rattus Rato-guabirú X X
Canidae
Cerdocyon thous Raposa X X
Molossidae
Molossus molossus Morcego-de-telhado X X
Procyonidae
Procyon cancrivorus Guaxinim; guaxelo X X X
Phyllostomidae
Artibeus lituratus Morcego X X
Glossophaga soricina Morcego X
Phyllostomus hastatus Morcego X X
Phyllostomus discolor Morcego X X
13 espécies
Ambientes: FA=formação vegetal aberta; FF=formação fechada, M=manguezal. X
em negrito indica preferência tipo de ambiente.
Fontes: MEDELLÍN et alli, 2000; CRUZ et alli, 2002.

Capítulo 3 - 174
3.5.6 Microbiota Aquática
Para identificar os organismos da fauna e flora aquáticas presentes na área costeira
adjacente ao Complexo Industrial Portuário de SUAPE (CIPS) foi realizado um trabalho
de campo envolvendo coletas de amostras, observações e registro in loco, no dia
1/4/2010.

Localização dos pontos de coleta e observação


Figura 3. 18 –
da microbiota aquática.

Fonte: Dados de campo

A amostragem do plâncton ocorreu em 4 pontos previamente demarcados (Figura


3.18) a partir de uma embarcação, nos períodos de baixa-mar, pela manhã, e preamar,
à tarde, em maré de sizígia, cobrindo toda Área de Influência Direta (AID) do
Empreendimento. Na coleta foi utilizada uma rede de plâncton de 1m de comprimento,
30cm de boca e malha de 65µm, com um tempo de arrasto de 3 minutos realizado
contra a corrente. Após os arrastos, as amostras foram acondicionadas em recipientes
de plástico com tampa rosqueada com capacidade de 200ml contendo formol a 4%.

Anteriormente aos arrastos, foram aferidos dados de profundidade local por intermédio
de uma ecossonda manual digital da Plastimo, temperatura da água através de
termômetro comum com escala de -20 até 60˚C, salinidade através de um refratômetro
manual da Atago com escala de 0 a 100‰ e transparência da água pelo uso do disco
de Secchi, seguro por um cabo graduado em cm.
Os organismos do macrobentos foram identificados e devidamente registrados in situ
ao longo do percurso, entre os pontos de amostragem e ainda a partir de uma
prospecção na Ilha de Cocaia e na margem esquerda do Rio Massangana próximo à
foz.
Capítulo 3 - 175
3.5.6.1 Plâncton
O conhecimento acerca da comunidade planctônica é de fundamental importância no
universo dos estudos biológicos de um ambiente estuarino. Base da teia alimentar dos
ecossistemas aquáticos, os elementos fotoautotróficos dessa comunidade utilizam a
radiação luminosa solar como fonte de energia, transformam nutrientes inorgânicos em
matéria orgânica e a colocam à disposição dos demais níveis tróficos da cadeia.
Enquanto o fitoplâncton produz a matéria orgânica pela fotossíntese, o zooplâncton
constitui um elo importante na transferência de energia para os demais níveis tróficos,
incluindo moluscos, crustáceos e peixes de interesse comercial. Influenciam e
determinam espécies nectônicas e bentônicas que têm estágios no plâncton, além de
atuar na ciclagem de energia de um ambiente para outro.
Alterações na composição e abundância das comunidades planctônicas ocasionam
profundas mudanças estruturais em todos os níveis tróficos do ecossistema estuarino.
Pelo seu caráter dinâmico, com elevadas taxas de reprodução e perda, elas
respondem rapidamente às alterações físico-químicas do meio aquático.

3.5.6.2 Fitoplâncton
O fitoplâncton é constituído por algas microscópicas fotossintetizantes, unicelulares,
isoladas ou coloniais, que flutuam na superfície das águas. A comunidade
fitoplanctônica tem grande significado ecológico e sua importância reside no fato de
constituírem o início da teia alimentar, como produtores primários mais importantes dos
ecossistemas aquáticos, estando na sua dependência direta os herbívoros aquáticos e
os demais animais dos níveis tróficos.
Quanto ao zooplâncton ou fração animal do plâncton, esse é constituído pelos
organismos planctônicos heterotróficos. De acordo com Smith (1977), no universo do
zooplâncton marinho e estuarino podem ser reconhecidos organismos pertencentes à
maioria dos filos do reino animal.
No ecossistema estuarino, a comunidade zooplanctônica é bastante heterogênea,
sendo composta por animais geralmente microscópicos, que vivem na massa d’água,
representado em sua maior parte por invertebrados, além de ovos e larvas de peixes.
O zooplâncton apresenta-se como um dos grupos mais importantes na teia trófica,
agindo como eficiente elo trófico na transferência de energia fitoplâncton-
bacterioplâncton e/ou material orgânico particulado para os demais níveis tróficos,
participando também na regeneração e transporte de nutrientes, são também sensíveis
indicadores biológicos da qualidade da água dando informações sobre a saúde do
ambiente.
Tendo em vista a importância que o plâncton representa na teia trófica do ambiente
estuarino, diversos estudos sobre esses organismos foram realizados no Complexo
Estuarino de SUAPE, podendo ser destacados Eskinazi-Leça & Koening (1985/86),
Paranaguá (1985/86) Neumann-Leitão (1994), Koening & Eskinazi-Leça (1991). Além
desses trabalhos científicos, alguns estudos ambientais elaborados como requisitos
para a instalação de empreendimentos na área do Complexo Industrial Portuário de
SUAPE (CIPS) realizaram levantamentos quanto à estrutura da comunidade
planctônica local (PIRES ADVOGADOS & CONSULTORES, 2000;
MULTICONSULTORIA, 2004).

Capítulo 3 - 176
O resultado das análises do fitoplâncton presente nas amostras coletadas indicou a
presença de 63 táxons, sendo 43 espécies e 20 gêneros, divididos nas Divisões
Cyanophyta, Euglenophyta, Dinophyta, Bacillariophyta e Chlorophyta (Quadro 3.18).
Os valores encontrados expressam um esforço de coleta único, em baixa-mar e
preamar, que evidentemente não revelam as variações sazonais que condicionam as
flutuações do fitoplâncton e zooplâncton, não permitindo, portanto, comparações
amplas com resultados anteriores.

Lista taxonômica das espécies de fitoplâncton observadas nas


Quadro 3.18 – amostras coletadas no Rio massangana e entorno das Ilhas de
Tatuoca e Cocaia, em abril de 2010.
Abundância Abundância
Espécies Relativa Média Relativa Média Freqüência %
Baixa-mar Preamar
CYANOPHYTA - - -
Anabaena sp 0.32 0 13
Oscillatoria princeps 0.16 0.17 25
Phormidium anomala 0.13 0.17 38
Phormidium SP 0.17 0.79 50
Oscillatoria sp1 1.59 17.88 88
Oscillatoria sp2 0.09 0 25
Trichodesmium thiebautii 0.66 0.59 25
Trichodesmium erytraeum 0.66 1.45 38
EUGLENOPHYTA - - -
Euglena SP 2.18 3.58 63
Phacus SP 1.01 0.17 25
DINOPHYTA - - -
Ceratium furca 0 1.79 50
Ceratium fusus (Ehrenberg)
Dujardim 0.56 0.54 63
Ceratium pentagonum Gourret 0.33 0.59 25
Ceratium tripos (O. F. Muller). 0 0.62 50
Ceratium teres Kofoid 0.66 0.59 25
Ceratium trichoceros (Ehrenberg) 0.33 0.69 50
Dinophysis caudata Saville Kent 0 19.28 38
Protoperidinium sp 0.67 0.60 50
BACILLARIOPHYTA - - -
Amphora arenaria Donkin 0 0.17 13
Asterionellopsis glacialis
(Castracane) 0 1.06 13
Bacillaria paxillifera Gmelin 64.46 23.62 100
Biddulphia aurita (Lyngd.) Brèb.
& Godey 0.67 0 25
Campylodiscus SP 0.55 0 25
Campyloneis grevillei
(Wm.Smith) 0.37 0.17 38
Chaetoceros affinis Lauder 1.66 1.69 50
Chaetoceros curvisetus Cleve 0.55 0.26 38
Chaetoceros lorenzianus Grunow 0.99 1.72 50
Chaetoceros SP 0.82 1.39 63
Climacosphenia moniligera 1.01 0.48 38
Coscinodiscus centralis
Ehrenberg 8.38 8.79 100
Coscinodiscus SP 0.24 0 25
Cylindrotheca closterium 0.16 1.18 38

Capítulo 3 - 177
Lista taxonômica das espécies de fitoplâncton observadas nas
Quadro 3.18 – amostras coletadas no Rio massangana e entorno das Ilhas de
Tatuoca e Cocaia, em abril de 2010.
Abundância Abundância
Espécies Relativa Média Relativa Média Freqüência %
Baixa-mar Preamar
Dimerogramma SP 0.53 0 13
Fragilaria capuccina
Desmazières 0.56 0 13
Fragilariasp 0.66 0 13
Gyrosigma balticum 0.21 0.43 38
Hemiaulus sinensis Greville 4.04 0.00 13
Isthmia enervis Ehrenberg 0.53 13
Licmophora abbreviata Agardh 0 0.17 13
Lyrella lyra (Ehrenberg)
Karayeva 0.08 0.34 25
Navicula SP 0.38 0.35 75
Nitzschia longissima 0.37 0.43 50
Nitzschiasp 0.17 0 38
Odontella aurita (Lyngd.) Agardh 0.66 2.37 25
Pleurosigma SP 1.12 0.43 50
Proboscia alata 1.78 13
Pseudonitzschia delicatissima 1.66 0 13
Pseudonitzschia pungens
Grunow 5.21 0 50
Rhizosolenia setigera Brightwell 0.32 0 13
Rhizosolenia styliformis
Brightwell 2.02 0.43 50
Surirella fastuosa 8.45 10.88 75
Synedra ulna (Nitzsch)
Ehrenberg 0.11 0.26 25
Terpsinoe musica Ehrenberg 1.22 1.22 75
Thalassionema nitzschioides
Grunow 0 3.55 13
Thalassiothrix frauenfeldii
Grunow 0 1.97 25
Tropidoneis lepidoptera 0.33 0 13
CHLOROPHYTA - - -
Pediastrum SP 0.16 0 13
Clarophora sp1 0.66 2.16 75
Cladophora sp2 0.56 0.96 50
Rhizoclonium SP 0.77 8.99 63
Spirogyra SP 0.16 0 13
Closterium costatum Corda 0.11 0.17 25
Closterium ehrenbergii
Meneghini 0 0.56 25

Das cinco Divisões encontradas a Bacillariophyta (diatomáceas) foi a que mais


contribuiu para riqueza florística do fitoplâncton local, sendo responsável por 60% de
todos os táxons identificados, correspondendo a um total de 38 organismos. A Divisão
Dinophyta (dinoflagelados) e a Cyanophyta (cianofíceas) ambos com 8 táxons
corresponderam a 13% dos indivíduos identificados (Figura 3.19). Fotografias de
algumas das espécies do fitoplâncton detalham-se na Figura 3.20.

Capítulo 3 - 178
Distribuição dos principais grupos identificados do fitoplâncton das amostras
Figura 3. 19 – coletadas na área estuarina do Rio Massangana e entorno das Ilhas de
Tatuoca e Cocaia, em abril de 2010.
Dinophyta
13%

Chlorophyta
11%

Cyanophyta
Bacillariophyta 13%
60%
Euglenophyta
3%

Dinophyta Chlorophyta Cyanophyta Euglenophyta Bacillariophyta

Espécies do fitoplâncton identificadas nas amostras coletadas na área


Figura 3.20 – estuarina do Rio Massangana e entorno das Ilhas de Tatuoca e Cocaia, em
abril de 2010.

1 2 3

4 5 6

1- Bacillaria paxillifera, 2 - Coscinodiscus centralis, 3- Terpsinoe musica, 4 - Oscillatoria sp1,


5 - Surirella fastuosa, 6 - Dinophysis caudata.

Quanto à abundância relativa dos táxons, as diatomáceas também foram as algas mais
importantes do microfitoplâncton destacando-se as seguintes espécies como os mais
abundantes: Bacillaria paxillifera, Coscinodiscus centralis e Surirela fastuosa.
Com relação à freqüência de ocorrência nas amostras dos dois estágios de maré
amostrados, os táxons considerados freqüentes (acima de 50%) foram: Bacillaria
paxillifera Coscinodiscus centralis Oscillatoria sp1 Navicula sp Surirella fastuosa
Terpsinoe musica Clarophora sp1 Euglena sp Ceratium fusus Chaetoceros sp
Rhizoclonium sp.

Capítulo 3 - 179
A partir da análise ecológica das espécies registradas observou-se um predomínio de
organismos marinhos neríticos (32%), seguidos por espécies oceânicas (30%),
ticoplanctônicos (19%), estuarinas (12%) e, em menor proporção, 7% de táxons de
águas doces. Em continuação indicam-se as espécies de fitoplâncton, segundo sua
caracterização ecológica (Quadro 3.19).

Ecologia das espécies identificadas nas amostras coletadas na área


QUADRO 3.19 – estuarina dos Rios Tatuoca e Massangana e área costeira marinha
de SUAPE, em abril de 2010.

Oceânica Costeira Estuarina Ticoplanctônica Dulcaqüícola


Gyrosigma Fragilaria
Bacillaria paxilifera Ceratium furca balticum Isthmia enervis capuccina
Ceratium Dinophysis Campyloneis Phormidium
trichoceros caudata grevillei Lyrella lyra anomala
Hemiaulus Amphora
Ceratium fusus sinensis arenaria Nitzschia longissima Synedra ulna
Ceratium Climacosphenia Oscillatoria Cylindrotheca
pentagonum moniligera princeps closterium
Closterium Terpsinoe
Ceratium tripos costatum musica Odontella aurita
Rhizosolenia Closterium
styliformis ehrenbergii Biddulphia aurita
Rhizosolenia Tropidoneis Asterionellopsis
setigera lepidoptera glacialis
Trichodesmium Trichodesmium Pseudonitzschia
thiebautii erytraeum delicatissima
Chaetoceros
Ceratium teres curvisetus
Thalassiothrix Chaetoceros
frauenfeldii lorenzianus
Chaetoceros affinis Pseudonitzschia
pungens
Proboscia alata Surirella
fastuosa
Thalassionema Coscinodiscus
nitzschioides centralis
Licmophora
abbreviata

Comparando a composição da microflora encontrada com os estudos realizados


anteriormente na área, observa-se que existe uma similaridade com relação à
ocorrência de várias espécies identificadas no presente trabalho. No que diz respeito a
espécies bioindicadoras de ambiente estuarino identificadas e encontradas também em
outros trabalhos realizados na área (Koening et al., 2002; PIRES, 2000) estão:
Bacillaria paxillifer, Climacosphaenia moniligera, Coscinodiscus centralis, Chaetoceros
curvisetus, C. lorenzianus, Cylindrotheca closterium, Merismopodia punctata e
Oscillatoria princeps. Entre os táxons identificados considerados potenciais causadores
de blooms tóxicos estão: Tricodesmium erytraeum, T. thiebautii, Dinophysis caudata,
Pseudonitzschia pungens. A presença de euglena sp. nas amostras é um indicativo de
eutrofização, uma vez que as espécies desse gênero são encontradas em locais onde
há alta concentração de matéria orgânica.

Capítulo 3 - 180
Quantitativamente, ficou evidente o impacto que as dragagens exercem no
desenvolvimento dos produtores primários na área do ponto 2. Neste local, tanto na
baixa-mar quanto na preamar, a riqueza de espécies identificadas foi inferior aos
demais pontos (Figura 3.21).

Riqueza de táxons do fitoplâncton identificado nas amostras


Figura 3. 21 – coletadas na área estuarina do Rio Massangana e entorno das
Ilhas de Tatuoca e Cocaia, em abril de 2010.

34
N° de Espécies identificadas

32
30
28
26
24
22
20
18
16
14
12
P1BM P2BM P3BM P4BM P1PM P2PM P3PM P4PM
Ponto de Coleta/Maré

3.5.6.3 Clorofila “A”


Em todos os grupos de microalgas a clorofila a está presente, sendo o pigmento
fotossintetizante mais importante. Sua quantificação é um dos métodos mais precisos e
de baixo custo, possibilitando determinar a biomassa fitoplanctônica, bem como avaliar
a comunidade dos produtores primários aquáticos. Neste sentido, a determinação da
biomassa fitoplanctônica, através da mensuração da clorofila a, tem sido muito utilizada
como ferramenta para avaliar as condições tróficas do meio.
No presente estudo, os teores de clorofila a variaram de um mínimo de 0,38 mg.m-3,
registrado no P1PM, a um máximo de 3,40mg.m-3, no P4BM. A concentração média
para o período de baixa-mar foi 2,04 e 0,79 mg.m-3 para a preamar (Figura 3.22).

Capítulo 3 - 181
Clorofila a registrada na área estuarina do Rio Massangana e
Figura 3. 22 –
entorno das Ilhas de Tatuoca e Cocaia, em abril de 2010.

3.5

3
Clorofila a (mg.m -3)

2.5

1.5

0.5

0
P1BM P2BM P3BM P4BM P1PM P2PM P3PM P4PM
Pontos de coletas/Maré

A partir desses valores de biomassa fitoplanctônica é possível inferir que o ambiente,


no geral, não apresenta indicativo de eutrofização, ou seja, apresenta um padrão de
mesotrofia na baixa-mar e oligotrofia na preamar. A exceção foi o ponto 4 que por ser o
mais interno no estuário e receber maior aporte de nutrientes se caracterizou como
eutrófico.
Pelos teores de clorofila percebeu-se que houve uma sensível redução da biomassa
algal na preamar devido à intrusão de águas da plataforma continental que são mais
salinas e pobres em sais nutrientes.
De toda forma, a concentração média de clorofila a registrada neste trabalho é
semelhante (considerando o mesmo período do ano) à de outras áreas estuarinas que
vêm sofrendo impactos antrópicos e/ou naturais, como por exemplo, os estuários do
Rio Botafogo-PE (LACERDA et al. 2004), do Rio Formoso-PE (HONORATO DA SILVA
et al., 2004) e de Barra de Jangada-PE (BRANCO, 2008), mas, devido ao grande
aporte de águas marinhas na preamar, esse impacto é minimizado.
Através dos dados abióticos também coletados na amostragem realizada, é possível
esclarecer o impacto das obras de dragagem no entorno da Ilha de Cocaia (ponto 2)
quando se observa uma perda expressiva da transparência da água na área (Quadro
3.20).

Resultado das medições de dados abióticos e clorofila a, coletados na área


QUADRO 3.20 – estuarina do Rio Massangana e entorno das Ilhas de Tatuoca e Cocaia em abril
de 2010.

Clorofila a
Data Hora Local Prof. (m) Secchi (m) Temp. (ºC) Salin. (‰) Maré -3
(mg.m )
01/04/10 09:25 P1 4,00 1,10 29,50 36,00 BM 1,77
01/04/10 10:00 P2 2,00 0,55 30,00 36,00 BM 1,28
01/04/10 10:35 P3 7,50 0,90 30,00 32,00 BM 1,74
01/04/10 11:10 P4 7,50 0,70 30,00 32,00 BM 3,40

Capítulo 3 - 182
Resultado das medições de dados abióticos e clorofila a, coletados na área
QUADRO 3.20 – estuarina do Rio Massangana e entorno das Ilhas de Tatuoca e Cocaia em abril
de 2010.
01/04/10 17:20 P1 7,00 2,50 29,00 39,00 PM 0,38
01/04/10 16:50 P2 3,50 0,60 29,50 38,00 PM 0,77
01/04/10 16:30 P3 9,00 2,00 29,50 39,00 PM 0,55
01/04/10 16:10 P4 8,50 1,00 30,50 35,00 PM 1,48

Explicando a distribuição espacial das espécies na área, a abundância das


diatomáceas é um reflexo das características de eurihalinidade desses organismos. As
espécies desse grupo são capazes de suportar grandes variações de salinidade, sendo
normalmente encontradas nos ambientes estuarinos, requerendo condições mais
eutróficas para seu florescimento. Os valores de salinidade encontrados foram altos
mesmo na baixa-mar indicando que a área sofre uma grande influência do aporte de
águas marinhas na preamar (Figura 3.23).

Salinidade da água registrada na área estuarina do Rio Massangana e


Figura 3. 23 –
entorno das Ilhas de Tatuoca e Cocaia, em abril de 2010.
40

38
Salinidade

36

34

32

30
P1BM P2BM P3BM P4BM P1PM P2PM P3PM P4PM
Pontos de Coleta/Maré

3.5.6.4 Microzooplâncton
Quanto aos organismos do zooplâncton identificados nas amostras, foram registrados
representantes dos grupos Tintinnina, Foraminifera, Rotifera, Nematoda, Mollusca,
Annelida, Crustacea (outros), Crustacea (Copepoda), Echinodermata e Chordata.
No total foram identificados 51 táxons, considerando-se a menor unidade possível para
cada grupo, tendo-se destacado os Copepoda, com 18 espécies e Tintinnina com 13
(Quadro 3.21).

Lista taxonômica das espécies do microzooplâncton observadas


QUADRO 3.21 – nas amostras coletadas no Rio Massangana e entorno das Ilhas
de Tatuoca e Cocaia, em abril de 2010.

TAXA TAXA TAXA


Filo Ciliophora Classe Eurotatoria Oithona hebes
Classe Polihymenophorea Subclasse Bdelloidea Oithona nana
Subordem Tintinnina Rotaria sp. Oithona oculata

Capítulo 3 - 183
Lista taxonômica das espécies do microzooplâncton observadas
QUADRO 3.21 – nas amostras coletadas no Rio Massangana e entorno das Ilhas
de Tatuoca e Cocaia, em abril de 2010.

TAXA TAXA TAXA


Codonella galea Filo Mollusca Oithona oswaldocruzi
Tintinnopsis radix Classe Gastropoda (véliger) Oithona sp.
Tintinnopsis amphora Classe Bivalvia (véliger) Ordem Poecilostomatoida
Tintinnopsis parvula Filo Nematoda Corycaeus amazonicus
Tintinnopsis prowaziki Filo Annelida Corycaeus sp.
Classe Polychaeta (larva
Tintinnopsis beroidea Ordem Harpacticoida
Trocophora)
Tintinnopsis báltica Filo Arthropoda Euterpina acutifrons
Tintinnopsis sp. Subfilo Crustácea Microsetella norvegica
Tintinnidium balechi Classe Maxillopoda Classe Malacostraca
Codonellopsis balechi Infra-ordem Cirripedia (nauplius) Subclasse Eumalacostraca
Favella ehrenbergii Cirripedia (nauplius) Superordem Eucarida
Leprotintinnus nordqvistii Cirripedia (cypris) Ordem Decapoda
Undella hyalina Subclasse Copepoda Lucifer sp. (mysis)
Filo Granuloreticulosa Ordem Calanoida Brachyura (zoea)
Classe Foraminifera Acartia lilljeborgi Amphipoda
Globorotalia scitula Parvocalanus crassirostris Crustacea (nauplius)
Globorotalia sp. Paracalanus indicus Filo Echinordemata
Tetromphalus bulloides Paracalanus parvus Larva pluteus (ophiopluteus)
Globigerinoides ruber Temora turbinata Filo Chordata
Globigerinoides sp. Pseudodiaptomus acutus Oikopleura longicauda
Globigerina sp. Paracalanus sp. Oikopleura sp.
Filo Rotifera Ordem Cyclopoida

O meroplâncton, formado por estágios de organismos bentônicos e nectônicos, que


passam apenas parte do ciclo de vida na coluna d’água como plâncton, foi
predominante principalmente nas amostras de BM, enquanto que o holoplâncton,
formado pelos organismos plânctonicos que passam todo o ciclo de vida na coluna
d’água, predominou nas amostras de PM e no P1_BM (Figura 3.24).

Abundância relativa do microzooplâncton em relação ao ciclo de vida na


Figura 3. 24 – área estuarina do Rio Massangana e entorno das Ilhas de Tatuoca e
Cocaia, em abril de 2010.

100%

90%

80%

70%

60%

50%

40%

30%

20%

10%

0%
P1_BM P2_BM P3_BM P4_BM P1_PM P2_PM P3_PM P4_PM

Meroplâncton Holoplâncton Picoplâncton

Capítulo 3 - 184
A predominância de organismos meroplanctônicos nas amostras de BM ocorre uma
vez e é nesse momento que esses organismos são exportados para a área costeira
adjacente ao estuário, afetando as teias alimentares pelágicas marinhas. Isso acontece
com diversos organismos do zooplâncton, como por exemplo, as larvas de crustáceos
decápodes.
Já dentre os organismos holoplanctônicos, destacaram-se os Copepoda, grupo mais
abundante do zooplâncton estuarino. Neumann-Leitão et al. (1998), afirma a
importância dos Copepoda para o zooplâncton estuarino de Pernambuco, com 40
espécies registradas. Destaca-se dentre os Copepoda, uma dominância de estágios
juvenis (copepoditos), principalmente dos gêneros Acartia, Oithona e Paracalanus,
espécies estuarinas típicas, dominantes nos estuários Pernambucanos.
Já o ticoplâncton, que é formado por organismos não planctônicos, mas que por algum
motivo, como dragagens, ressuspensão do sedimento e/ou turbulência provocada pelo
próprio motor da embarcação no momento do arrasto, vão parar na coluna d’água,
estiveram presentes em 3 amostras das quais duas são provenientes do P2, área que
apresentou menor profundidade (Figura 3.24).
Quanto à abundância relativa dos grandes grupos (Figura 3.25), destacaram-se além
dos Copepoda, outros Crustacea, principalmente nauplius, e larvas véliger de Annelida
e Mollusca, estes últimos com grande importância para a pesca artesanal na
comunidade local, que coleta organismos das espécies Crassostrea rhizophorae,
Tagelus plebeius, Anomalocardia brasiliana, Mytella guyanensis e M. charruana.
Diversos autores relatam que em áreas estuarinas as larvas são comuns e podem
chegar a dominar toda a população durante períodos reprodutivos (SANTANA-
BARRETO et al., 1991; PARANAGUÁ, 1985/86; NEUMANN-LEITÃO et al., 1992;
SANT’ANNA, 1993). Esses períodos reprodutivos ocorrem durante a lua cheia, quando
há a liberação dessas larvas para fora dos estuários.

Abundância relativa dos principais grupos do microzooplâncton na área


Figura 3. 25 – estuarina do Rio Massangana e entorno das Ilhas de Tatuoca e Cocaia, em
abril de 2010.

100%

90%

80%
Chordata
70%
Echinodermata
Copepoda
60%
Crustacea (outros)
50% Annelida
Mollusca
40%
Nematoda
30% Rotifera
Foraminifera
20%
Tintinnina

10%

0%
P1_BM P2_BM P3_BM P4_BM P1_PM P2_PM P3_PM P4_PM

Capítulo 3 - 185
Em P4PM, ainda estiveram bem representados os Foraminifera e os Tintinnina. Dentre
os Foraminifera, destaque para Tretomphalus bulloides, espécie que apresenta
ecologia bastante peculiar, ocorrendo tanto na forma bentônica, quanto na planctônica,
durante o período reprodutivo. Esta espécie forma uma “câmara” cheia de ar que
permite que ela migre para a coluna d’água. Os Tintininna apresentam importantes
vantagens como indicadores biológicos em relação a outros grupos do zooplâncton,
pois são mais abundantes, com maiores taxas de reprodução e habitam áreas
costeiras e oceânicas, enquanto outros grupos são restritos às áreas oceânicas.

Frequência de ocorrência dos principais grupos do microzooplâncton na área


Figura 3. 26 – estuarina do Rio Massangana e entorno das Ilhas de Tatuoca e Cocaia, em
abril de 2010.

0% 20% 40% 60% 80% 100%

Tetromphalus buloides, Crustacea (nauplius),


Polychaeta (larva), Bivalve (véliger),
Gastropode (véliger)

Paracalanus sp. (copepodito), Oithona oculata

Cirripedia (nauplius), Oithona sp. (copepodito),


Oithona hebes,Oithona oswaldocruzi,
Oikopleura longicauda, Oikopleura sp.

Globorotalia scitula, Undella hyalina, Acartia sp.


(copepodito), Oithona nana, Parvocalanus
crassirostris, Paracalanus parvus,
Euterpina acutifrons
Globigerinoides ruber, Tintinnopsis radix,
Corycaeus amazonicus, Paracalanus indicus,
Paracalanus sp., Larva pluteus (ophiopluteus)

Pseudodiaptomus acutus, Nematoda

Rotaria sp.,Globorotalia sp.,Globigerinoides sp.,


Tintinnopsis parvula, Tintinnopsis prowaziki,
Leprotintinnus nordqvisti, Tintinnopsis sp.,
Favella ehrenbergii, Cypres, Corycaeus sp., Oithona sp.,
Temora tubinata, Amphipoda
Globigerina sp., Tintinnopsis amphora, Tintinnopsis
beroidea, Tintinnopsis báltica, Tintinnidium balechi,
Codonellopsis balechi, Codonella gálea, Microsetella
norvegica, Lucifer sp. (mysis), Brachyura (zoea)

Oliveira (2008) em estudo na região portuária do Recife observou uma forte dominância
de Favella ehrenbergii. Águas poluídas por matéria orgânica, como a área estudada
pela autora, possuem fauna restrita a um pequeno número de espécies capazes de
sobreviver em baixas concentrações de oxigênio dissolvido e altas concentrações de
matéria orgânica dissolvida e particulada, e a ocorrência dessa espécie sugere que ela
tenha capacidade de suportar um elevado grau de poluição, sendo ótima bioindicadora
de poluição orgânica. A presença de Favella ehrenbergii em quantidades similares as
demais espécies de Tintinnina na área de estudo, indica que poluição orgânica
provavelmente não represente um forte impacto naquele ambiente.
Em termos de frequência de ocorrência (Figura 3.26), 7 dos 51 taxa registrados foram
considerados muito frequentes, sendo eles: Tetromphalus buloides, Crustacea
(nauplius), Polychaeta (larva), Bivalve (véliger) e Gastropode (véliger) com 100% de
ocorrência e Paracalanus sp. (copepodito) e Oithona oculata com 87,5%. Cerca de

Capítulo 3 - 186
45% dos taxa foram considerados esporádicos. Os valores de densidade variaram de
3042,48 a 18795,64 ind.m-3 nas amostras P1_BM e P3_PM respectivamente (Figura
3.27).

Densidade dos principais grupos do microzooplâncton na área estuarina do


Figura 3. 27 –
Rio Massangana, em abril de 2010.

20000
18000 BM

16000 PM
Densidade (ind.m-³)

14000
12000
10000
8000
6000
4000
2000
0
P1 P2 P3 P4

De maneira geral, foram observados valores superiores nas BM, com média de
8309,54 ind.m-3, enquanto a PM apresentou média de 6937,79 ind.m-3. Os principais
organismos em termos de densidade foram Crustacea (nauplius) e Paracalanus sp.
(copepodito). Esses valores são bastante similares aos encontrados por Oliveira (2008)
em amostras estuarinas também coletadas no período chuvoso, com uma maior
densidade sendo observada na PM, provavelmente devido à contribuição de espécies
costeiras.

Diversidade e equitabilidade das amostras do microzooplâncton na área


Figura 3. 28 –
estuarina do Rio Massangana, em abril de 2010.

3,0

2,5

2,0

1,5

1,0

0,5

0,0
P1_BM P2_BM P3_BM P4_BM P1_PM P2_PM P3_PM P4_PM

Diversidade Equitabilidade

Capítulo 3 - 187
Outro fator que ainda pode afetar fortemente a densidade do microzooplâncton é a
pressão de predação, devido a estes animais serem consumidos pelo meso e
macrozooplâncton. A diversidade variou de média a baixa, chegando a um máximo de
2,66 bits.ind-1 em P4_PM (Figura 3.28). Estudos em estuários pernambucanos
mostram valores próximos a estes, podendo também, apresentar valores maiores que
3 bits.ind-1 em alguns casos. Observa-se um leve aumento deste parâmetro nos pontos
mais externos durante a PM, devido ao aporte de espécies marinhas.
Quanto à equitabilidade, em todas as amostras os valores foram superiores a 0,5, o
que demonstra uma equitatividade entre as amostras.
A análise de Agrupamento (Figura 3.29) mensurada a partir do índice de Bray e Curtis,
revelou a formação de dois grupos principais. O primeiro (A) composto pelas amostras
dos pontos 1 e 2, além da P3_BM, enquanto o segundo grupo (B) foi formado pela
P3_PM e pelas amostras do ponto 4. Esse agrupamento demonstra a forte influência
das águas costeiras nos dois pontos de coleta mais externos (pontos 1 e 2). Além
disso, observa-se que durante a PM, essa influência se estende ainda mais, afetando a
estrutura da comunidade zooplanctônica do Ponto 3. Uma espécie que atua como
indicadora dessa condição é Paracalanus indicus, espécie típica de águas costeiras e
de plataforma, que esteve presente apenas nos pontos 1 e 2.

Dendrograma mostrando os agrupamentos formados pela associação das


Figura 3. 29 – amostras do microzooplâncton na área estuarina do Rio Massangana, em
abril de 2010.

Pode-se destacar ainda a presença de outras espécies indicadoras, como Corycaeus


amazonicus e Oithona nana, espécies típicas de áreas com alta salinidade, como
observado nas coletas, até mesmo nas estações mais internas. Destacam-se ainda O.
hebes e O. oswaldocruzi, como espécies típicas de áreas de manguezal, com a
primeira podendo dominar em elevadas salinidades.

Capítulo 3 - 188
3.5.7 Macrobiota Aquática

3.5.7.1 Macrofitas aquáticas


A. Macroalgas

A partir das prospecções realizadas na baixa-mar foi possível registrar algumas


espécies de macroalgas representadas pelas três Divisões: Rhodophyta, Chlorophya e
Ochrophyta. Esses organismos foram encontrados no ambiente, fixados em rochas
(epilíticas), vegetação (epífitas) e sobre areia ou lama (episâmicas).
O “Bostrychietum”, constituído pela associação entre macroalgas e as raízes de
mangue, está representado principalmente pelas rodofíceas (Bostrychia caliptera, B.
leprieurii e B. radicans) e foi registrado nos pneumatóforos de Avicennia schaueriana e
Laguncularia racemosa. Fixadas na areia uma grande quantidade de espécies
feofíceas foi encontrada nas adjacências da Ilha de Cocaia (Foto 3.22).

Algas rodofíceas (Bostrychia spp) associadas a pneumatóforos de


Foto 3.22 –
Laguncularia racemosa na área estuarina do Rio Massangana.

Foto: Fernando Feitosa 04/10. Entorno do ponto UTM 283909, 9074487

Capítulo 3 - 189
Foto 3.23 – Macroalgas feofíceas presentes no entorno da Ilha de Cocaia.

Foto: Fernando Feitosa 04/10. Entorno do ponto UTM 283697, 9074054

Entre as espécies identificadas estão: Dictyopteris delicatula, Dictyopteris justii,


Dyctiota bartayresiana, Dyctiota sp., Padina gymnospora e Sargassum sp,. Também foi
anotada a presença da espécie de rodofícea Hypnea musciformis, além de verificado
artículos de Halimeda sp. espalhados ao largo da ilha.

B. Fanerógamas marinhas
As fanerógamas marinhas habitam áreas costeiras e nos locais onde ocorrem, tendem
a formar extensos prados.
Halodule wrightii é a fanerógama mais comum no litoral de Pernambuco, ocupando
sedimentos constituídos por areias quartzosas como calcárias, em lugares
relativamente calmos, freqüentemente em posições intermediarias entre os estuários e
o mar, desde a linha de maré baixa até os 10 mts de profundidade.
O fital constitui um local de proteção e abrigo para pequenos animais contra seus
predadores, alem de servir de alimento para uma grande variedade de animais:
crustáceos, moluscos, peixes, mamíferos marinhos como o peixe boi marinho Tricherus
manatus em algumas áreas, e aves, sendo uma área de grande produção e
transferência energética.
Os prados de angiospermas são considerados, dentre os ecossistemas marinhos, um
dos mais produtivos, beneficiando significativamente à produtividade de áreas
costeiras, tanto em águas temperadas como em tropicais. A área da Baía de SUAPE é
conhecida pelos vastos prados de fanerógamas Halodule wrightii (capim agulha ou
grama marinha). Tais concentrações de H. wrightii foram observadas ao largo de toda a
baía, porém em maior concentração na área marginal da Ilha de Cocaia com mais ao
norte da região, próximo à Praia de Paraíso (Foto 3.24).

Capítulo 3 - 190
Fanerógama marinha (Halodule wrightii) registrada na
Foto 3.24 – baía de SUAPE, próximo à praia de Paraíso, em abril de
2010.

Foto: Fernando Feitosa 04/10. Entorno do ponto UTM 284845, 9075864

Um estudo de Guimarães et al. (2009), na Baía de SUAPE, revelou uma alta


diversidade de espécies de macroalgas epífitas da angiosperma marinha Halodule
wrightii, remarcando a importância dos prados na biodiversidade da flora aquática.
Além disso, os prados de Halodule wrightii se consideram importantes para a
estabilização dos sedimentos, pois a sua maior parcela de biomassa (82%) está
representada pelas partes subterrâneas, raízes e rizomas.
Uma constatação preocupante é que na baixa-mar, nas redondezas dos pontos 1 e 2, a
água apresentava pouca transparência (conseqüência das atividades de dragagem).
Tal fato pode significar um risco para a manutenção dos prados, uma vez que sua
ocorrência está condicionada a determinadas condições oceanográficas, dentre as
quais se destacam águas transparentes e calmas, disponibilidade de nutrientes e
pequena profundidade local.

3.5.7.2 Crustáceos e moluscos


A. Crustáceos
Nos quatro pontos analisados na área estuarina do CIPS percebe-se uma diferença
espacial na distribuição das espécies de crustáceos em termos quantitativos e
específicos. Nas áreas de maior influência marinha foi registrada a presença dos siris
Callinectes danae e Callinectes larvatus, e marinha farinha (Ocypode quadrata). Nesta
região também foram notados várias tocas de decápodos. A espécie Uca leptodactyla
foi registrada na areia nos lugares ensolarados e secos. Já as espécies Uca burguesi,
U. maracoani, e U. thayeri, conhecidas como chama-maré, foram mais notadas onde o
sedimento é lamoso (Foto 3.25 e 3.26).

Capítulo 3 - 191
Nos ambientes mais internos do Rio Massangana foram identificados espécies de
crustáceos de grande valor econômico, como Ucides cordatus (caranguejo-uçá),
Goniopsis cruentata (aratu-do-mangue) e Cardisoma guanhumi (guaiamum).

Toca de caranguejo-uça e chama-maré, na porção interna do estuário do Rio


Foto 3.25 –
Massangana, em abril de 2010.

Foto: Fernando Feitosa 04/10. Entorno do ponto UTM 281703,9076304

Foto 3.26 – Toca de marinha farinha e siri registrada em abril de 2010.

Foto: Fernando Feitosa 04/10. Entorno do ponto UTM 282488, 9076055

Algumas destas espécies preferem ambientes com condições particulares, o que


permite utilizá-las como bioindicadoras. O guaiamum, por exemplo, é encontrado na
porção marginal e mais superior do manguezal, em substrato mais arenoso e seco,
contíguo a áreas terrestres; o caranguejo-uçá pode ser encontrado na porção mais
interna do manguezal, numa área de substrato lamoso; o aratu-do-mangue foi
registrado entre as raízes do mangue, normalmente na lama, sendo mais difíceis de
capturar; já os siris são encontrados em pequenos córregos e poças d’água durante a
baixa-mar.

Capítulo 3 - 192
Nas raízes, caules e ramos de árvores de mangue foi possível detectar a presença fixa
de alguns cirrípedes (cracas), organismos de importância ecológica e filtradores como
o gênero Balanus spp, Chthamalus spp, Euraphia sp.
Dentre os camarões, as espécies Macrobrachium acanthurus (pitu) M. carcinus,
Palaemon northropi, Palaemon pandaliformis, Penaeus brasiliensis (camarão-rosa) e
Penaeus schmitti são citadas em trabalhos anteriores como presentes na área. De
acordo com informações colhidas informalmente com pescadores locais, a pesca de
camarão na região é hoje bastante reduzida, apontada pelos próprios pescadores
como reflexo das alterações ambientais do Porto e sobrepesca.
Nos ambientes com salinidade marinha e mesohalina, Baía de SUAPE e estuário do
Massangana, podem ser encontrados exemplares juvenis de camarões
(predominantemente Penaeus spp), indicando o uso destes locais como áreas de
berçários.

B. Moluscos
O estudo realizado por Pires Advogados e Consultores (2000) registrou naquela
oportunidade a ocorrência de 94 espécies de Gastrópodes e 16 de Bivalves,
totalizando 110 espécies para a área do CIPS. No presente estudo, foram identificadas
na AID do Empreendimento as classes de moluscos Gastropoda, Bivalvia, Scaphopoda
e Amphineura.
Entre as espécies anotadas no presente estudo estão Anomalocardia brasiliana
(marisco-pedra), Tagelus plebeius (unha-de-velho), Iphigenia brasiliana (taioba),
Mytella falcata (sururu), Crassostrea rhizophorae (ostra-do-mangue), o mexilhão
Mytillus charruana, os gastrópodes comestiveis Neritina virginea, Pugilina morio e
Teredo navalis. A espécie Littorina angulifera (mela-pau) também foi vista nas partes
mais altas das árvores de mangue (Foto 3.27).

Moluscos (Neritina virginea e Littorina angulifera) identificados na AID do


Foto 3.27 –
Empreendimento, em abril de 2010.

Foto: Fernando Feitosa 04/10. Entorno do ponto UTM 283329, 9075208

Na porção mais interna do Rio Massangana, percebe-se que os substratos duros,


principalmente, as raízes de Rhizophora mangle são densamente colonizadas por
cracas e ostras (Foto 3.28).

Capítulo 3 - 193
Ostras e cracas colonizando raízes de Rhizophora mangle na margem esquerda
Foto 3.28 –
do rio Massangana, em abril de 2010.

Foto: Fernando Feitosa 04/10. Entorno do ponto UTM 281697, 9076305

Foi possível perceber também, através das observações de campo que o processo de
assoreamento em algumas áreas nas adjacências da Ilha de Cocaia vem afetando
diretamente a navegação e, sobretudo, a população de marisqueiros. Tais
modificações decorrentes das obras no Porto (dragagem), principalmente, relacionadas
às escavações para aprofundamento do leito do Rio Tatuoca, além de aterros,
provocam alterações na hidrodinâmica local e influenciam a estrutura populacional
desses organismos e das comunidades de organismos bentônicos como um todo, com
reflexos negativos sobre o rendimento das espécies comerciais.

3.5.7.3 Interações Mangue – Fauna


ROCHA FARRAPEIRA e colaboradores (2009) realizaram um estudo da composição e
distribuição vertical da fauna de macroinvertebrados bentônicos de substrato duro
(raízes de mangue) no estuário do Rio Massangana e seu afluente, o Riacho Barroso,
como uma referência para o monitoramento biológico futuro em relação às mudanças
que podem ocorrer no complexo.
79 espécies foram encontradas principalmente nos manguezais e nas três zonas
entremarés: Chthamaletum, delimitando o supralitoral, "área Balanoide”, contendo,
cirrípedes e ostras no andar mediolitoral, e Bostrychietum na região inferior. Essa
distribuição geral concordou com o padrão brasileiro e internacional de distribuição
vertical de invertebrados nos manguezais. Uma representação gráfica dessa
distribuição vertical das espécies mais representativas nos manguezais pode observar-
se na Figura 3.30.

Capítulo 3 - 194
Representação gráfica da distribuição espacial das espécies
Figura 3. 30 –
mais representativas nos manguezais.

Fonte: ROCHA FARRAPEIRA et. al. 2009

No estuário, de acordo com os autores, foi surpreendente a presença de colônias de


corais Siderastrea stellata. Esta espécie é endêmica para o Brasil e, embora
considerado extremamente tolerante a condições adversas, incluindo a entrada
excessiva de sedimentos, nunca havia sido registrada para áreas estuarinas. Sua
presença no estuário pode ser explicada pela intrusão de água mais salina no estuário
do Rio Massangana, provavelmente devido à abertura do recife e alteração da
dinâmica a Baía de SUAPE, após a criação do Porto de SUAPE. Segundo os autores
(ROCHA FARRAPEIRA et. al., 2009), foi notável a ausência dos mexilhões Mytella
charruana e M. guyanensis, considerada fauna característica dos manguezais, do
mediolitoral baixo em estuários do Nordeste. Essa ausência de animais típicos deste
ecossistema, assim como a ampla distribuição de organismos incrustantes em
substratos, são sinais de que o ambiente já sofre algum stress devido às diversas
intervenções humanas que estão acontecendo.

3.5.8 Atividade Pesqueira nos Municípios do Cabo e Ipojuca


A região costeira apresenta uma produtividade muito maior do que a região oceânica,
por causa de uma maior absorção da energia solar em menores profundidades, que
favorece a fotossíntese. Devido à grande oferta de alimento e habitats existentes nas
regiões costeiras, muitas das espécies de peixes marinhos escolhem estes ambientes
como área de reprodução, desenvolvimento e alimentação.
Um recente estudo de SILVA E COLABORADORES (2009) analisou a composição e
estrutura da comunidade de peixes nas algas de deriva da Praia de SUAPE, cercada

Capítulo 3 - 195
por coqueiros e vestígios de Mata Atlântica e protegida por uma barreira natural de
recifes de arenito.
As famílias Clupeidae (36%) e Engraulidae (19%), representantes da ordem
Clupeiformes, foram as mais abundantes, evidenciando que estas têm grande
relevância para a composição da ictiofauna da Praia de SUAPE. O aumento da
freqüência destas famílias no verão indica que os índices pluviométricos possuem
influência inversa sobre a sazonalidade da comunidade de peixes local.
A espécie mais representativa foi o clupeídeo Lile piquitinga, (comumente chamado
pipitinga) apresentando 36% dos indivíduos totais amostrados, seguido de espécie não
identificada representante da família Engraulidae (19%), Sphoeroides testudineus
baiacu-pintado (12%) e Haemulon parra biquara (7%). Lile piquitinga é a espécie mais
comum no nordeste, sendo bastante flexível a diversos tipos de habitats, como áreas
com muita lama, sendo capaz de tolerar altas salinidades.
Foram amostradas também as espécies Chaetodipterus faber (paru branco) e Eugerres
brasilianus (carapeba-listrada), que consomem principalmente algas cianofíceas, restos
de mangue e vegetais fanerógamas, sugerindo que estas espécies se beneficiam da
grande quantidade de algas presente no local, demonstrando também a capacidade de
suporte trófico da Praia de SUAPE. A quantidade representativa de indivíduos (841)
encontrada pode estar associada ao grande acúmulo de algas arribadas presente na
Praia de SUAPE, as quais oferecem alimento, refúgio e novos microhabitats para
muitas espécies de peixes, demonstrando sua grande importância para a continuidade
do ciclo de vida das comunidades de peixes locais.

3.5.8.1 Estatísticas da produção pesqueira de peixe nos Municípios de Ipojuca e Cabo


As estatísticas da produção pesqueira no Nordeste são fundamentalmente as
produzidas pelo IBAMA através do CEPENE. A última edição inclui a produção do ano
de 2006.
Esse sistema ainda sofre adaptações técnicas temporárias e talvez ainda demore até
encontrar o procedimento técnico definitivo para agregar tanta diversidade espacial,
temporal, de ambientes, de espécies, modelos de embarcações, de apetrechos de
captura, regimes de pesca, modalidades de armadilhas, etc.
Na década atual a mudança metodológica fez dobrar a captura de um ano para outro o
que é absolutamente impossível em pesca, salvo quando ocorre a descoberta de um
novo estoque de alta rentabilidade, ou se introduz uma tecnologia altamente eficiente
ou ainda ocorre uma corrida de pescadores para determinada área o que não foi o
caso do Nordeste.
Ao mesmo tempo, não se incluíram ainda nas estatísticas, elementos aferidores da
produtividade das pescas impedindo comparações sobre capturas por unidade de
esforço, por espécies e por número de indivíduos capturados, dificultando análises
comparativas sobre a abundância relativa e a produtividade das pescarias.
Pernambuco produziu em 2006, 13.999,5 toneladas de pescado marinho e estuarino
em 15 municípios litorâneos segundo o IBAMA. Os maiores produtores do Estado
foram os Municípios de Itapissuma (36,8%) e Goiana (20,5%). Ipojuca (inclui dados das
comunidades pesqueiras de Porto de Galinhas e Ponta de Serrambi), onde se insere o
Estaleiro PROMAR, teve a participação de 291,8 toneladas, equivalente a 2,1% da

Capítulo 3 - 196
produção estadual. O Município de Cabo, que inclui a comunidade pesqueira de
SUAPE, além da de Gaibú, gerou 164,6 toneladas, representando uma das menores
produções do estado (1,2 %). A produção conjunta de Ipojuca e Cabo é muito pequena
diante da demanda da população de seus municípios.
Com base nas estatísticas existentes se fará a seguir uma caracterização da atividade
pesqueira nos Municípios de Ipojuca e Cabo, pois ambos compartilham a área de
abrangência do Empreendimento, sendo o Rio Massangana o limite entre ambos.
Em Pernambuco, o Projeto ESTATPESCA acompanha os desembarques de mais de
cem espécies, entre peixes, moluscos e crustáceos. Entre elas, 46 têm seus
desembarques controlados e aquelas com produção anual inferior a 0,1 toneladas
foram agrupadas na categoria “OUTROS”, incluindo cerca de 60 espécies.
As capturas de 2006 em Ipojuca incidiram mais intensamente sobre as 18 espécies,
cujas produções foram superiores a 4,0% e totalizaram 219,3t ou 75% das capturas no
município. No Cabo, as seguintes espécies tiveram capturas foram superiores a 4,0%,
totalizaram 106,5 t ou 64,7% das capturas no município:

Quadro 3.22 – Principais espécies capturadas nos Municípios do Cabo e Ipojuca.

Produção de Produção do
Recurso Pesqueiro Ipojuca (T) Cabo (T)
em 2006 em 2006
Sardinha 39,8 6,0
Saramunete - 20,0
Camarões 27,6 7,6
Agulha 23,6 6,4
Cioba 18,7
Arioco - 12,2
Lagosta vermelha 15,9 5,9
Sapuruna - 15,7
Lagosta Verde - 6,8
Cavala 13,7
Arioco - 12,2
Sirigado 10,2
Dourado 9,1
Guaiuba 8,8
Garajuba 8,0 12,1
Bagre 7,4
Serra 7,0 6,3
Albacora 6,6
Tainha 5,2
Camurim 4,8
Arabaiana 4,7
Budião 4,1 7,5
Dentão 4,1

Cabe assinalar as diferencias em importância de capturas de espécies entre ambos os


municípios, sendo o saramunete, sapuruna, e arioco as espécies mais salientes no
Cabo e praticamente inexpressivos em Ipojuca. Enquanto os peixes sirigado, cavala e

Capítulo 3 - 197
guaiuba, foram muito importantes na produção de Ipojuca, suas capturas foram baixas
no Cabo.
A produção de camarões e lagosta vermelha foi importante em ambos os municípios,
porém a lagosta verde foi um recurso pesqueiro significativo somente em Cabo.
Das 29 espécies que compõem a maior parcela de produção na área de abrangência
do Empreendimento, 26 são consideradas estuarinas e 3, o dourado, a lagosta e a
albacora ocupam nichos marinhos. Além destas espécies, o ESTATPESCA registra
ainda a participação em menor escala de outras espécies comuns em estuários, entre
elas: sauna, pescada, sapuruna, biquara, pargo mulato, carapeba, cação, bonito,
aracimbora e xaréu.
A produção de peixes em Ipojuca e Cabo como decerto a dos demais estuários é
sustentada pelas condições oferecidas pelos manguezais que abrigam as espécies em
alguma fase do seu desenvolvimento ontológico ou em todas elas quando se trata das
espécies residentes. Segundo o Boletim da Estatística da Pesca Marítima e Estuarina
do Nordeste do Brasil, em 2006 (CEPENE) a frota cadastrada nos dois municípios de
interesse, Ipojuca e Cabo esteve representada conforme quadro a seguir.

Tipologia de embarcações de pesca utilizadas nos Municípios do Cabo e


Quadro 3.23 –
Ipojuca.
Tipo de
Nº em Ipojuca Nº em Cabo
Embarcação
Jangadas 60 13
Lanchas pequenas 18 16
Lanchas médias 19 8
Total 97 37

As jangadas são embarcações com quilha, construídas com madeira e movidas a


remo, vara ou vela. Comportam uma urna para transporte do material de pesca. As
lanchas são barcos de madeira com menos de 15 m de comprimento, com cabine no
convés conhecidas como barco a motor ou motorizado.
As produções mais expressivas foram obtidas com as lanchas médias e pequenas
tanto em Ipojuca (127,1 t e 88,5 t, respectivamente) como no Cabo (64,1 t e 64,6 t,
respectivamente), em vista das suas maiores autonomias operam no “mar de fora”, ou
seja, além do estuário. As 76 t de produção em Ipojuca procedem das operações de
um número sugestivamente maior de jangadas. Os dados indicam que a maior parte da
produção é de origem marinha e que a produtividade da captura com jangadas, no mar
de dentro, é baixa, em relação aos demais meios flutuantes.

3.5.8.2 Pesca de moluscos e crustáceos


Embora tenha certa expressão aparente, a coleta de marisco, ostra e sururu no
estuario do Rio Massangana, a estatistica oficial não registra nenhuma produção para
os Municipios de Ipojuca e Cabo, enquanto se registram produções superiores a mil
toneladas para Igarassu e Goiana, e produções menores (227,2 t) para Itapissuma,
além de outros.

Capítulo 3 - 198
Contudo, nas visitas efetuadas, e especificamente durante a baixa-mar, foram
observados catadores de mariscos (marisqueiros) em bancos de areia localizados na
Baía de SUAPE, nas proximidades da Ilha de Cocaia, o que indica que a exploração
desse ambiente ainda sustenta uma parcela da população local. Os moluscos de
importância comercial que são capturados, segundo os pescadores-catadores, são:
unha-de-velho, sururu, marisco-pedra e ostra.
Da mesma maneira não há registro da produção de brachiuros (caranguejo, aratu, siri)
que são coletados no manguezal e abastecem bares e restaurantes locais numa escala
razoável.
Aparece, no entanto, a produção de camarões Xiphopenaeus kroyeri (camarão sete-
barbas), Litopenaeus schmitti (camarão branco) e Farfantepenaeus subtilis (camarão
rosa), alcançando 27,6 t e de lagosta vermelha com 21,1 t, obtidas em Ipojuca, no mar
de fora. A lagosta verde também teve uma produção significativa em SUAPE (6,8 t).
Estes têm maior valor de venda na época de pesca proibida, daí o maior controle sobre
a produção. Os camarões vêm de fundos de lama sob influência estuarina, são
capturados com embarcações com maiores recursos e autonomia que os brachiuros ou
outros recursos pesqueiros.
As lagostas são buscadas em fundos de cascalhos e rochosos igualmente com barcos
melhor equipados capazes de conduzir covos ou mergulhadores com seus
equipamentos.

3.5.9 Estimativa da Produção Pesqueira na AID do Empreendimento


Embora os impactos ambientais sobre a produção pesqueira no estuário do Rio
Massangana estejam associados à implantação do PDZ como um todo e não
especificamente à implantação do Empreendimento ora analisado, foi feito um
aprofundamento nas pesquisas de campo objetivando o levantamento de dados de
produção pesqueira, os quais poderão complementar posteriormente, pesquisas mais
aprofundadas desenvolvidas pelo CIPS para efeitos de mitigação e/ou compensação
de impactos.
A metodologia planejada inicialmente para determinação da produção pesqueira no
estuário baseava-se na participação ativa dos pescadores, conforme se descreve na
seqüência:

 Identificação dos núcleos de pescadores situados na área de influência direta,


no estuário;
 Inventário do esforço de pesca, através do levantamento do número de
pescadores, número de barcos pesqueiros, de qualquer tipo existentes nos
núcleos, e estimativa da quantidade e caracterização dos petrechos de captura;
 Avaliação da produtividade das pescarias visando a entender o significado da
atividade para as comunidades que dela dependem, através de dados
secundários sobre a pesca na área ou estuários próximos;
 Coleta de espécimes junto às operações normais dos pescadores da área, a
partir da contratação de pescadores em três pontos representativos do estuário
(estuário superior, médio e inferior) para, mediante pequena remuneração, se for
o caso, disponibilizarem, momentaneamente, os produtos das suas operações

Capítulo 3 - 199
para análise da composição das capturas e identificação das espécies
ocorrentes;
 Reconhecimento das espécies fornecidas pelos pescadores, a partir de dados
secundários oriundos da UFPE, UFRPE, CEPENE e outras instituições locais e
regionais de pesquisa e desenvolvimento;
 A partir da produção individual dos pescadores parceiros, associada ao número
total de pescadores existentes, avaliar a produção pesqueira na AID.

A metodologia inicialmente prevista e acima descrita não pode ser aplicada na integra
como inicialmente pretendido, em função das dificuldades de obtenção de dados
representativos do número de pescadores que regularmente trabalham no estuário, ao
igual que seus hábitos de pesca. Da mesma forma, a produção individual dos
pescadores não pode ser aferida com precisão fase à dificuldade de obter os dados de
tempo de pescaria e metodologia utiliza, além de em muitos casos, terem verificado
produções individuais muito baixas.
Contudo, estes fatos também são resultados da pesquisa e serão valiosos para efeitos
de levantamentos futuros porventura realizados. Enquanto isso, os levantamentos
efetuados e descritos na seqüência fornecem uma visão geral da situação atual da
pesca no estuário do Massangana.

3.5.9.1 Esforço de pesca


De acordo com levantamento da prefeitura do Cabo informado pela Colônia de
pescadores, a área da bacia de SUAPE congrega 47 pescadores, dos 489 associados
à Colônia Z-8. Tal Colônia tem jurisdição sobre o Município do Cabo de Santo
Agostinho e sede na praia de Gaibu. Abrange além de Gaibu, SUAPE, Calheitas,
Itapoama e Xaréu.

Foto 3.29 – Porto “Malassombrado” sobre o Rio Massangana.

Foto: Aldemir Castro 04/10. Ponto UTM 282488,9076042

Capítulo 3 - 200
47 pescadores para SUAPE e entorno da Ilha de Tatuoca é um pequeno
contingente, mesmo considerando que boa parte não vive exclusivamente da
pesca dedicando-se a outras atividades como agricultura e turismo. A verdade é
que a movimentação nas praias e nas águas e as informações colhidas junto
aos pescadores locais indicam que o contingente pode ser menor. Essa
possibilidade é reforçada pelo fato de que o defeso da lagosta protege apenas
14 pescadores em todo o Município do Cabo.
Quando se pretende quantificar os pescadores pelo tipo de atividade que cada um
exerce, o número se dilui mais encontrando-se: marisqueiro, caranguejeiro,
camaroneiro, pescador, etc. Cada uma destas atividades tem suas nuanças quanto ao
modo de operação, em relação ao tipo do local de trabalho, ou ainda quanto ao recurso
natural explorado. Uns operam no mar de dentro, outros no mar de fora, outros no
mangue, outros em bancos de areia no interior da baía. Uns trabalham em função da
maré e outros trabalham a qualquer hora no mar de fora e assim por diante. Isso torna
muito difícil o enquadramento destas praias num sistema de estatística de grande
escala. Em assim sendo e não havendo estudos pontuais sobre a pesca desta área,
procurou-se aqui estabelecer as suas características gerais a fim de aferir na medida
do possível a importância da atividade para as comunidades que dela dependem.
Neste sentido e visando detectar eventuais mudanças na estrutura da pesca local e no
seu potencial, foram realizadas visitas à Praia de SUAPE, incursões sobre o Rio
Massangana, acompanhamento de jornadas de pesca, entrevistas a experientes
pescadores atuais e aposentados, a lideranças locais dos pescadores e a
representantes de atividades correlacionadas como bugreiros e agricultores.
A produção local, como mencionado anteriormente, apóia-se nas capturas de moluscos
(ostra, sururu, mariscão e marisquinho), de crustáceos (caranguejos, siris, aratus,
guaiamu) e de peixes (tainha e agulha basicamente), sendo que as pesquisas
desenvolvida pela equipe resultaram no seguinte perfil da pesca local.

3.5.9.2 Marisquinho
O catador do marisquinho opera nos bancos de areia que se põem à descoberto nas
baixa-mares (Foto 3.30).
O esforço de captura direcionado para este e os demais moluscos é pequeno não se
conseguindo listar 15 chefes (líderes de grupos de 3 ou quatro pessoas geralmente de
uma mesma família) operando nos bancos da área de SUAPE. Nesta faina utilizam
canoa, balde, puçá e gálea. Com base nas operações de catadores acompanhadas
pela equipe do EIA, nos meses de abril/maio, estimou-se a produtividade atual da
forma seguinte:

 Em uma maré trabalham comumente 3 ou 4 pessoas (filho, mulher, vizinho) sob


a liderança de uma pessoa – o chefe ou dono da pesca;
 Geralmente trabalham em torno 3 a 4 horas numa maré;
 Catam 40 a 50 quilos de marisquinho inteiro (com as conchas), o que resulta em
4 a 5 quilos de carne do molusco;
 Em termos médios, 3,5 pessoas durante 3,5 horas de labuta representam um
esforço de 12,2 homem/hora;
Capítulo 3 - 201
 Para tal esforço de 12,2 horas a produção de 4,5kg equivale a 368,g de carne
/catador/hora ou aproximadamente 1,3kg/catador/maré.

5% dessa produção se compõem da espécie acompanhante conhecida por taioba. Nas


marés baixas de águas vivas (marés de sizígia), os bancos de areia descobrem
extensões maiores o que aumenta a exposição dos moluscos possibilitando produção
maior - cerca de 60kg/maré. Assim sendo, pode-se dizer que a cata dos mariscos ao
longo do mês tem uma semana boa outra mais fraca, outra boa e outra vez uma mais
fraca possibilitando alternadamente produções médias de 4,5 e de 6,0kg.
Não se pode extrapolar os dados para obter uma produção média mensal desses
profissionais, pois não existe uma jornada padrão de trabalho. Isso só seria possível
com resultado de estatísticas abrangendo períodos anuais. Quando chove longamente
os pescadores não operam, igualmente quando não há encomendas prévias, afirmam
que o produto pode se perder e também não pescam. Nestes termos, parece razoável
supor uma atividade de 15 pescarias/mês o que representa uma produção média de
75kg de carne do molusco/mês.

Foto 3.30 – Coleta de Marisquinho na ilha de Cocaia.

Fotos: Aldemir Castro Barros

3.5.9.3 Mariscão
O mariscão também chamado de lambreta, sendo um molusco de maior valor de venda
no mercado local. Em uma jornada de trabalho pode-se obter 10 litros de mariscão que
é vendido inteiro a R$4,00 (quatro reais) e R$5,00 (cinco reais) o litro. O litro local é a
metade da cuia de queijo do reino.

Capítulo 3 - 202
3.5.9.4 Sururu
É coletado na lama na baixa-mar, no interior do mangue. A produção observada
correspondeu a uma jornada de 4 horas (das 9h às 13h), de duas pessoas e rendeu
20,0 quilos brutos que resultou em 2,0kg de carne que foram vendidos a R$13,00
(treze reais) o quilo. A atividade depende dos pedidos dos clientes, pois se não há a
quem entregar imediatamente, perde-se o produto.

3.5.9.5 Caranguejo
Praticamente só pescam caranguejo na área de SUAPE durante as “andadas” do
crustáceo. São poucas as pessoas que penetram o mangue para tirar caranguejos nos
buracos onde se abrigam. Em áreas isoladas da região encontram-se pessoas
dedicadas a esse affair. É o caso de Tiriri de Dentro, comunidade ao lado do “Mangue
da Diamar” no qual algumas pessoas dedicam-se à tira não apenas de caranguejos,
mas também de guaiamuns, siris, sururus. Pesca-se também com “laço” que é um saco
desfiado que emaranha o caranguejo ao sair do buraco. Antigo pescador descreve que
antigamente se pescava caranguejos onde agora está o Porto de SUAPE e em Cocaia.
Hoje a pesca é praticamente só no Tiriri, na Ilha Mercês ao lado do porto. A jornada de
pesca vai da quarta até a sexta-feira ou sábado, quando levam as “cordas” para a feira
do Cabo no mercado público. A produção nas segundas e terças-feiras não consegue
compradores correndo o risco de ser perdida. Neste ano já ocorreram três andadas de
caranguejos. Na primeira andada o entrevistado capturou 110 caranguejos em jornada
de seis horas, na segunda andada 90-100 caranguejos sempre no Mangue da Diamar.
O mangue do Rio Massangana possibilita a pesca de mariscão, caranguejo, aratu, siri
e guaiamum.

3.5.9.6 Siris
O siri é capturado na maré vazante com gancho que é uma forquilha obtida de galhos
de embiriba ou de mangue canoé. Também se usam covos iscados com tripa de peixe
ou com caranguejo morto. Às vezes o pescador percorre três manguezais para
conseguir uma baixa captura representada por 3-5 exemplares. Quando a produção é
boa consegue-se 30 siris e nesta época vêm pessoas do Cabo pescar siri e
caranguejo, levando na volta até dois sacos dos crustáceos no quadro das bicicletas.

3.5.9.7 Guaiamuns
Abrigam-se em buracos cavados na parte alta do mangue, no limite com a terra firme.
São capturados com armadilhas denominadas “ratoeiras” em vista da semelhança do
funcionamento com as verdadeiras ratoeiras. Preferem a Ilha de Cocaia para captura
de guaiamus quando uma pessoa conduz 20-30 ratoeiras pegando 20-30 guaiamuns.

3.5.9.8 Ostras
Os ostreiros trabalham no mangue. Aí as partes inferiores dos caules das árvores
emergem nas baixa-mares permitindo o descolamento das ostras com auxilio de facões
(Foto 3.31).

Capítulo 3 - 203
Ostra de mangue (Crassostrea rhyzophorae) na zona supralitoral, nas raízes de
Foto 3.31 –
mangue.

Fotos: Aldemir Castro Barros - UTM 281382, 9074612

3.5.9.9 Peixes
As principais espécies variam segundo o local de pesca e o apetrecho empregado:

No Rio Massangana usa-se rede de emalhe (Foto 3.32), com a qual se pesca uma
grande variedade de espécies: camurim (robalo, Centropomus spp.), arraias, bagres,
carapeba (Diapterus spp.), caranha (Lutjanus griseus), carapitanga (Lutjanus spp.),
baúna (dentão jovem, Lutjanus jocu), sauna (tainha jovem, Mugil spp.), mero
(Epinephelus itaiara, é devolvido à água, está proibida sua captura por estar em
perigo).

Pescador local do Porto Malassombrado e redes de emalhe no cômodo onde


Foto 3.32 –
mora o pescador.

Fotos: Aldemir Castro Barros

Empregam rede de seda (gill net) com malhas de 20-30 mm, que eles mesmos fazem a
mão. São redes de 18 a 40 metros de comprimento e 2 metros de altura, usam redes
Capítulo 3 - 204
continuas alcançando até 700 metros de comprimento, segundo o local de pesca.
Pescam 8 pescadores juntos, todos vão de canôa a remo. A pescaria dura 24 horas
obtendo produções de 40-50 kg em cada saída de espécies misturadas, sendo
realizadas 3 pescarias por semana.
Também ocorre este tipo de pescaria realizada por pescadores individuais da Ilha de
Tatuoca, obtendo produções de 10-15 kg por pessoa em 24 horas de pesca. A
produção, neste caso, é maior, pois os pescadores mais experientes realizam duas
coletas, uma às 10 pm e outra ao retirar o apetrecho para obter uma melhor qualidade
da carne.

A venda da produção se realiza na feira de Cabo ou Gaibu, ou no barzinho de Tatuoca,


aos trabalhadores do Estaleiro ou a turistas. Os preços variam segundo a espécie e o
tamanho, sendo as melhor pagas: camorim, R$15,00 (quinze reais); carapeba, R$15,00
(quinze reais); tainha, R$8,00 (oito reais) e as mais baratas: carapitanga, R$4,00
(quatro reais); baúna, R$4,00 (quatro reais); sauna, R$4,00 (quatro reais) o quilo.

No canal de navegação emprega-se principalmente tarrafa para pescar tainha e


carapeba. A tarrafa geralmente possui 32 palmos de circunferência e malha de 30 mm,
e é geralmente construída com náilon fio 40. A pesca se realiza com duas pessoas,
sendo uma quem rema a jangada e outra que lança a rede à água. O pescador lança a
rede quando observa peixes passando perto da embarcação. A pescaria dura
aproximadamente 5 horas, na maré baixa-enchente, obtendo produções de 6 kg,
porém dependendo em grande medida do vento. A captura é vendida na feira de Cabo,
no mercadão, no dia sábado. Um total de 20 kg de peixe inteiro rende R$150,00 (cento
e cinqüenta reais) ao grupo de pescadores.
Baía de SUAPE, perto do arrecife, obtêm-se tainha, carapeba, peixe gato (família
Serranidae), cambuba (Haemulon flavolineatum), carapau (garajuba, Caranx chrysos),
canguitos (gordinho, Prepilus paru), dentão, salema.
Esta pesca, como a da agulha, é feita com rede de cerco cuja operação geralmente
requer duas pessoas uma que conduz a canoa com a rede e outra que lança a rede à
água. Ao cercar o cardume, batem com varas ou remos no centro da rede quando os
peixes em fuga são emalhados no pano da rede. As duas últimas pescarias registradas
foram realizadas, respectivamente, entre 11-16 horas e entre 8-12 horas obtendo
produções de 4,0 e 4,5kg. Especificamente, para a pesca de tainha emprega-se a rede
tainheira, com malhas de 35mm e a depender das condições dos pescadores o seu
comprimento oscila em torno de 300 metros. O cerco ao cardume é feito com duas
canoas. Juntamente com a tainha, ocorrem espécies acompanhantes como sauna,
camorim e serra.
No mar de fora pesca-se com rede e covo (Foto 3.33b). Com rede obtêm-se biquara
(Haemulon spp.), serra (Scomberomorus brasiliensis), garajuba, chicharro (Trachurus
lathami) e bonito (família Scombridae). Com covo pesca-se saramunete
(Pseudupeneus maculatus), xira (Haemulon spp.), ariacó (Lutjanus synagris), biquara,
macaça.
Em SUAPE, muitos pescam no “mar de fora”, principalmente, além do recife que limita
a Baía de SUAPE, com embarcações de motor e 3-4 pessoas por barco. Geralmente a
pescaria dura 12 horas, mas às vezes podem ficar no mar por até 3 ou 5 dias. As

Capítulo 3 - 205
capturas vendem-se em barzinhos da Praia de SUAPE, na feira de Cabo o Gaibu ou na
peixaria de Neném na Praia de SUAPE. A produção varia entre 50-200 kg/saída.

(a) Pesca com tarrafa em jangada no canal de navegação de Tatuoca. (b) Pesca
Foto 3.33 – de tainha com covo (armadilha) na Baía de SUAPE e mar de fora. (c) Tarrafa
secando-se no porão da casa.

Fotos: Aldemir Castro Barros

Segundo observações in situ, os peixes são geralmente de pequeno porte. Das


capturas observadas, os maiores foram as arraias (Foto 3.34a), carapebas (Foto
3.34e), e salemas (Foto 3.34g). Segundo os depoimentos dos pescadores, os bagres e
tainhas são também os peixes de maior tamanho obtidos.

3.5.9.10 Principais problemas apontados pelos pescadores


Os principais problemas apontados pelos pescadores relacionados com os impactos na
pescaria são os seguintes:

 Aumento da profundidade do canal de Tatuoca, o que prejudica a captura dos


peixes.
 Modificação da composição do sedimento, sendo cada vez mais fino, o que
prejudica os bancos de mariscos. Mariscão não é mais encontrado.
 Mais pescadores que há vários anos atrás.
 Desmatamento dos manguezais para construção e expansão do Estaleiro
Atlântico Sul.

Capítulo 3 - 206
(a) Arraia pintada de 38 cm de comprimento e 60 cm de envergadura. (b)
Cambuba de 20 a 27 cm de comprimento. (c) Peixe gato de 29 cm de
Foto 3.34 – comprimento. (d) Dentão de 24 cm de comprimento. (e) Carapeba de 30 cm de
comprimento (f) Carapau de 15 cm de comprimento. (g) Salema de 33 cm de
comprimento.

Fotos: Aldemir Castro Barros

3.5.10 Espécies de Relevante Valor identificadas na AID

3.5.10.1 Espécies de fauna terrestre de relevante valor


Em termos da existência de espécies Raras, Endêmicas (stricto sensu), Ameaçadas de
Extinção (IBAMA, 2008; IUCN, 2009) e de Interesse Econômico nas quatro (4) classes
de animais estudadas para a área de abrangência do Empreendimento no item 3.5.5,
destaca-se que não foi identificada nenhuma espécie pertencente a alguma destas
categorias.
Algumas espécies animais são endêmicas lato sensu, como, por exemplo, o sagüi
(Callithrix jacchus), no Brasil; e o sanhaçu-do-mangue (Conirostrum bicolor), na faixa
costeira de manguezais. Apesar de incipientes na região analisada, as atividades de
Capítulo 3 - 207
caça tem se concentrado principalmente nas matas fora da área de abrangência do
Empreendimento.

3.5.10.2 Espécies de flora terrestre de relevante valor


Nas pesquisas realizadas não foram encontradas espécies consideradas endêmicas
nas áreas avaliadas da Ilha de Tatuoca. Vários estudos realizados em restingas
conservadas do litoral de Pernambuco indicam a inexistência de espécies endêmicas
endemismo das restingas pernambucanas (ALMEIDA Jr. et al., 2007; SACRAMENTO
et al., 2007; SILVA et al., 2008; ALMEIDA Jr. et al., 2009).
Da mesma forma, não foram observadas espécies integrantes da lista oficial de
espécies ameaçadas de extinção, conforme relação apresentada na Instrução
Normativa MMA no 06, de 23 de setembro de 2008 (Tabela A), especialmente rica em
espécies das famílias Bromeliaceae e Orchidaceae, famílias que não foram observadas
nas áreas visitadas.

3.5.10.3 Espécies de interesse científico ou econômico


Em termos de espécies de valor científico, destacam-se o Halodule wrightii (Capim
agulha) e Rhizophora mangle (mangue vermelho). São espécies vegetais
predominantes na fitofisionomia natural da Baía de SUAPE e os estuários dos Rios
Tatuoca e Massangana.
Já de valor Econômico podem ser citadas as espécies relacionadas no Quadro 3.24, a
seguir:

Espécies de fauna aquática de valor econômico identificadas na


QUADRO 3.24 –
AID.
MOLUSCOS CRUSTÁCEOS PEIXES
Crassostrea rhizophorae Ucides cordatus Centropomus undecimalis
Anomalocardia brasiliana Callinectes danae Diapterus rhombeus
Iphigenia brasiliana Goniopsis cruentata Bagre bagre
Pugilina morio Xiphopenaeus kroyeri Bagre Marinus
Mytella charruana Litopenaeus schmitti Caranx spp.
Lucina pectinata Farfantepenaeus subtilis Elops saurus
Mugil liza
Eucinostomos argenteus
Lutjanus synagris
Lutjanus analis
Haemulon aurolineatum
Haemulon parrai
Harengula clupeola
Opisthonema oglinum
Pseudupeneus maculatus
Scomberomorus brasiliensis
Sparisoma spp.
Strongylura spp.

3.5.10.4 Espécies bioindicadoras


As espécies identificadas nas águas do estuário dos Rios Massangana e Tatuoca que
servem como indicadoras biológicas das condições de poluição do meio são as
seguintes:

Capítulo 3 - 208
 A anomalia morfológica típica da valva direita das ostras, provocada pelo
estanho orgânico na ostra-de-mangue Crassostrea rhizophorae resulta um
importante elemento de monitoramento e controle da presença de
contaminantes químicos derivados de tintas das embarcações.
(MULTICONSULTORIA, 2004)
 Abundância de gastrópodes pouco tolerantes a poluição da família
Columbellidae no Complexo Estuarino de SUAPE, indica uma boa qualidade
ambiental (FERNANDES et. al. 1995). Se a abundância diminui, reflexa
indiretamente uma modificação nas condições ambientais.
 Espécies bioacumuladoras são indicadores adequados para metais pesados,
agrotóxicos e hidrocarbonetos aromáticos. Espécies filtradoras como
Crassostrea rhizophorae podem indicar as condições de contaminação da
coluna d´água e as detritívoras, como o marisquinho A. brasiliana e o
gastrópodo P. morio, podem evidenciar a contaminação do sedimento.
(MULTICONSULTORIA, 2004)
 Espécies de peixes bentônicos de mobilidade reduzida, como Achirus declives e
Citharichthys spilopterus, pois além do contato branquial com a água e dérmico
com o substrato, também ingerem organismos bentônicos detritívoros e assim
acumulam facilmente os contaminantes, desde que a rota dietária, por solubilizar
os contaminantes, é considerada a mais importante fonte de toxidade,
informando sobre a trajetória na cadeia trófica. A contaminação química produz
sintomas de alterações visíveis, como as morfológicas (olhos, nadadeiras,
deformações esqueléticas) e o aparecimento de lesões típicas na epiderme,
facilitando assim a detecção da contaminação. (MULTICONSULTORIA, 2004)
 O ouriço do mar (Equinometra lucunter), por apresentar um hábito
essencialmente sedentário, se torna importante elemento bioindicador (MELO et.
al. 2003). Os teores de lipídios (colesterol e triglicerídeos), proteínas,
carboidratos e DNA podem servir como indicadores da qualidade de alimento
presentes numa área.

Capítulo 3 - 209
3.6 DIAGNÓSTICO SOCIOECONÔMICO NAS ÁREAS DE INFLUÊNCIA DO EMPREENDIMENTO

3.6.1 Observações Preliminares


A análise dos aspectos concernentes ao Meio Antrópico remete, inicialmente, à
necessidade de focalizar o Empreendimento em relação a três dimensões básicas: o
local de instalação (Área Diretamente Afetada ou Área de Intervenção), a Área de
Influência Direta-AID e a Área de Influência Indireta-AII.

3.6.2 Diagnóstico socioeconômico da AII


No intuito de apresentar uma caracterização dos municípios que compõem a AII, foram
sistematizadas informações que têm, como principal fonte, estatísticas oficiais mais
recentes. Na análise, procurou-se seguir as recomendações contidas no Termo de
Referência, no que diz respeito ao conjunto de variáveis socioeconômicas. Parte desse
território está igualmente inserido na Região Metropolitana do Recife, RMR, onde
também repercute a instalação de um conjunto de empreendimentos de grande porte
no Complexo Industrial Portuário de SUAPE. Entretanto, nesse recorte analítico, torna-
se difícil isolar os reais impactos do Estaleiro PROMAR.
É possível, porém, assinalar alguns dados que permitem traçar um perfil geral das
principais atividades econômicas da RD Metropolitana: serviços, varejo moderno,
tecnologia da informação e comunicação, indústria de transformação. Em síntese
constante do Projeto Todos por Pernambuco6, verifica-se que a citada RD é ocupada
por mais de 3,5 milhões de habitantes distribuídos em 2.768 hectares.
Na porção sul da Região Metropolitana, encontra-se o Complexo Industrial Portuário de
SUAPE de incontestável relevância na economia do Estado de Pernambuco. Sem
dúvida, a instalação de empresas de diversos matizes tem contribuído para um variado
conjunto de repercussões socioambientais, decorrentes da implantação de
infraestrutura por parte do Estado e dos investimentos do setor privado expressos no
crescente número de empresas na região.
Considerando as perspectivas de dinamização em uma escala mais ampla, tal como
sugere o Plano Território Estratégico de SUAPE – Diretrizes para uma ocupação
sustentável 7 que inclui municípios vizinhos àqueles onde se localiza o CIPS,
atualmente, já se contempla um raio de influência que extrapola os limites inicialmente
fixados no plano. Pelo menos mais três municípios foram incorporados ou se
encontram em vias de inserção nesse território, perfazendo um total de oito unidades:
Cabo de Santo Agostinho; Ipojuca; Escada; Jaboatão; Moreno; Sirinhaém; Ribeirão e
Rio Formoso.

6
GOVERNO DE PERNAMBUCO. Projeto Todos por Pernambuco. Plano Plurianual – PPA 2008/2011.
Disponível no endereço:
http://www2.portaltransparencia.pe.gov.br/c/portal/layout?p_l_id=PUB.1020.53#. Acesso em 6/7/2009.
7
GOVERNO DE PERNAMBUCO. Plano Território Estratégico de SUAPE – Diretrizes para uma
ocupação sustentável. Disponível no endereço:
http://www.portais.pe.gov.br/c/portal/layout?p_l_id=PUB.1557.187. Consulta em 10/4/2010.

Capítulo 3 - 210
Ainda com base na primeira delimitação dos espaços abrangidos pela referida política
de desenvolvimento estadual, destacam-se algumas características do Território
SUAPE8:
 Área – 1.774.07 km2 (1,8% de Pernambuco);
 População Total 2007 – 1.011.276 habitantes (12% de Pernambuco);
 Taxa de urbanização 2007 – 94,3%
 Densidade demográfica 2007– 570 habitantes por km2 (PE - 86 hab/Km2);
 PIB (Produto Interno Bruto) – R$ 9.833,1 milhões, o que representa 23,3% do
PIB de Pernambuco e 36,7% da Região Metropolitana. (2003);
 PIB per capta 2005 - R$ 10.791 (PE: R$ 5.931);
 Atividades econômicas predominantes – agropecuária, turismo e indústria da
transformação;
 Déficit habitacional – 40.000 (2006);
 Incremento potencial de 100 mil empregos em decorrência dos recentes
investimentos no setor industrial.

3.6.2.1 Dinâmica populacional


Os dados do IBGE9 mostram uma variação significativa no grau de urbanização dos
municípios da AII, observando-se que, enquanto em Jaboatão a quase totalidade da
população reside em áreas definidas como urbanas, em Sirinhaém este mesmo
percentual corresponde a pouco mais da metade dos habitantes. Ver a respeito no
Quadro 3.25. O comportamento dessa variável está associado às formas de uso e
ocupação do solo, indicando, nos municípios estudados, a importância das atividades
agropecuárias em determinadas áreas, em especial a cultura de cana-de-açúcar que
ainda constitui elemento determinante na formação social e econômica da Zona da
Mata pernambucana.
A densidade demográfica (número de habitantes /Km2) revela-se mais elevada
justamente nos municípios com maior grau de urbanização. A média de moradores por
domicílio varia de 4,24 em Sirinhaém a 3,63 em Moreno.

QUADRO 3.25 – Indicadores demográficos – 2007.

Rio
Discriminação Cabo Ipojuca Escada Jaboatão Moreno Sirinhaém Ribeirão
Formoso
Taxa de urbanização
88,31 69,06 82,66 98,00 87,84 53,00 79,32 61,42
(%)
Densidade
364,25 105,27 172,38 2.598,43 270,09 96,13 134,57 87,67
demográfica

8
Idem.
9
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Censo Demográfico 1991;
Censo Demográfico 2000; Contagem de População 2007; Cid@des; Estimativas de População.
Informações disponíveis no endereço http://www.ibge.gov.br/home/.

Capítulo 3 - 211
QUADRO 3.25 – Indicadores demográficos – 2007.

Rio
Discriminação Cabo Ipojuca Escada Jaboatão Moreno Sirinhaém Ribeirão
Formoso
(hab/km2)
Taxa anual de
crescimento
0,97 2,5 0,64 2,04 1,07 1,47 -1 0,19
demográfico
1
(2000/2007)
Média de moradores
4,13 3,92 3,71 3,87 3,63 4,24 3,76 4,17
por domicílio
Estimativa da
população para 171.583 75.512 62.604 687.688 55.659 38.610 39.317 21.815
2009
Fonte: IBGE e Agência CONDEPE/FIDEM

Notas: (1) População ajustada de 01.04.2007 para 01.08.2007, para que a taxa de crescimento da população no período 2000 a
2007, tivesse o mesmo mês de referência; (2) Os dados relativos a Jaboatão dos Guararapes têm como referências estimativas
elaboradas pelo IBGE, sendo que a média de moradores é de 2000, já que a Contagem de População de 2007 foi realizada
apenas nos municípios com menos de 100.000 habitantes.

Na Figura 3.31, adiante exposto, percebem-se as tendências de crescimento da


população nos oito municípios, sobretudo quando se comparam os dados do Censo de
2000 com as estimativas referentes a 2009. A diferença no número total de habitantes
mostra-se bastante significativa em Jaboatão dos Guararapes (106.132 novos
habitantes), no Cabo de Santo Agostinho (18.606) e Ipojuca (16.231). Por outro lado,
em Ribeirão, registrou-se uma redução de 2.132 moradores.

Figura 3. 31 – EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO DA AII (IBGE 2000 – 2009).

Embora alguns municípios tenham apresentado baixo índice de crescimento


demográfico anual entre 2000 e 2007, a exemplo de Rio Formoso e do Cabo de Santo
Agostinho, apenas Ribeirão teve um decréscimo no total de habitantes nesse período,
como ilustra a Figura 3.31.

Capítulo 3 - 212
Resultados da última contagem de população realizada nos municípios da AII onde
ocorrerá a maior parte dos impactos esperados do Empreendimento, Cabo de Santo
Agostinho e Ipojuca, mostram distribuições da população por idade relativamente
semelhantes, indicando uma elevada concentração de pessoas na faixa de idade de 20
a 29 anos, com uma inflexão na curva na faixa de 30 a 39 anos de idade e voltando a
ascender no grupo de idade de 40 a 49 anos. As informações sobre idade constituem a
base para o planejamento e execução de políticas públicas na área de educação e
saúde.
Com relação à variável sexo, verifica-se um equilíbrio na distribuição da população de
ambos os municípios mencionados (49% de homens e 51% de mulheres).

3.6.2.2 Principais atividades econômicas


Como o Diagnóstico deve refletir as análises que respaldaram a delimitação da área de
influência do Empreendimento e subsidiar o Prognóstico dos Impactos, cabe destacar
que, no tocante à dimensão econômica, o Empreendimento produzirá impactos de
maior significância apenas em Ipojuca, onde ficará sediado, e no Cabo de Santo
Agostinho. Nos demais municípios da AII, poderão ser identificados efeitos indiretos
que, no entanto, ainda não se explicitaram claramente.
Na realidade, a tendência de buscar novos espaços para a localização de
infraestruturas de apoio às empresas instaladas ou em projeto na área do CIPS
certamente contribui para aumentar a probabilidade de impactos dispersos no território.
Já se discute, por exemplo, a construção de alojamentos para operários nos municípios
vizinhos, numa perspectiva de, no futuro, serem convertidos em bairros planejados
(conjuntos habitacionais com infraestrutura de serviços).
No entanto, no escopo do presente estudo preferiu-se concentrar a análise nos
municípios que, de fato, serão mais diretamente afetados pelas obras e durante a
operação do Empreendimento.
Os dados do Ministério do trabalho e Emprego, MTE (2008), revelam a importância dos
setores de comércio e serviços no contexto das atividades econômicas do Município do
Cabo de Santo Agostinho, situação semelhante a que se observa em relação a Ipojuca.
A instalação do Complexo Industrial Portuários de SUAPE em terras dos dois
mencionados municípios, associada à crise que o setor sucroalcooleiro viveu ao longo
da década de 90 constituem fatores relevantes na diversificação da economia regional,
o que se revela tanto no incremento do segmento de comércio e serviços. Mas
igualmente na dinamização do setor industrial.
Ainda que a lavoura de cana-de-açúcar desempenhe papel importante na composição
da produção local, hoje tem menor expressão econômica, sobretudo quando se
analisam as informações sobre os estabelecimentos formalmente constituídos por
município. No Cabo e em Ipojuca, por exemplo, a indústria de transformação aparece
de forma ascendente, representando, atualmente (os dados disponíveis são de 2008),
mais de 10% do total de estabelecimentos catalogados pelo Ministério do Trabalho e
Emprego, MTE.

Capítulo 3 - 213
Do EIA-RIMA do Contorno Rodoviário do Cabo de Santo Agostinho (2010) 10 ,
transcreve-se o seguinte trecho que retrata, de maneira sintética, algumas
peculiaridades da economia local, ao qual se somam a Quadro 3.26 e a Figura 3.32
que tratam, exatamente, dos estabelecimentos e empregos formalmente reconhecidos
pelo Ministério do Trabalho e Emprego:
Nos últimos anos, foram realizados grandes investimentos, a exemplo da
Refinaria, do Estaleiro e do Pólo Poliéster, empreendimentos que, sem
dúvida, constituem fatores de dinamização econômica de toda a região que,
atualmente, conforma o Território Estratégico de SUAPE, em particular os
municípios do Cabo e Ipojuca. Essa dinâmica recente reverbera, direta e
indiretamente, sobre a economia, servindo de estímulo à instalação de novos
negócios, capazes de atender à demanda crescente por bens e serviços.
São inegáveis, ainda, os impactos de vários matizes, ocorridos no passado
e, também, no momento atual e no futuro, que possuem desdobramentos em
todo o tecido social, interferindo no modo de vida das pessoas do lugar e da
região.
No que diz respeito às atividades de comércio e serviços, é preciso ressaltar
singularidades decorrentes da expansão de alguns segmentos: (i) a
instalação de empresas voltadas ao atendimento da demanda de SUAPE; (ii)
a diversificação dos bens oferecidos e dos produtos, tendo em vista a
expansão das atividades turísticas no município (novos hotéis e pousadas,
resorts, residências de veraneio, realização de passeios e eventos, etc.); (iii)
crescimento das cidades e construção de novos hábitos de consumo entre
os habitantes do município; (iv) a condição de cidade-pólo em relação aos
municípios da Zona da Mata sul de Pernambuco, fato que contribui para o
aumento da oferta de serviços, por exemplo, na área de saúde e educação,
inclusive profissionalizante.
Quando se consideram os percentuais referentes à composição setorial do valor
adicionado bruto (VAB) nos municípios do Cabo de Santo Agostinho e Ipojuca,
constata-se a expressiva participação dos setores de serviços e industrial. Atualmente,
a agropecuária tem uma participação reduzida na composição do PIB dos municípios
estudados.
Com relação a Ipojuca, a participação do setor industrial apresentou um visível
crescimento no período entre 2003 e 2007, como atestam dados compilados pela
agência de planejamento do Estado de Pernambuco. Em 2003, a indústria contribuía
com 15,96 do PIB, passando a 32,70 em 2007. O Estudo de Impacto Ambiental do
Contorno Rodoviário do Cabo de Santo Agostinho (2010) ressalta algumas
singularidades do processo de crescimento dos setores de comércio e serviços no
Cabo de Santo Agostinho, mas que também são pertinentes no tocante a Ipojuca,
como se observa nos pontos a seguir relacionadas:
(i)a instalação de empresas voltadas ao atendimento da demanda de
SUAPE; (ii) a diversificação dos bens e dos produtos oferecidos, tendo em
vista a expansão das atividades turísticas no município (novos hotéis e

10
MORAES & ALBUQUERQUE ADVOGADOS E CONSULTORES. Estudo de Impacto Ambiental do
Contorno Rodoviário do Cabo de Santo Agostinho, 2010.

Capítulo 3 - 214
pousadas, resorts, residências de veraneio, realização de passeios e
eventos, etc.); (iii) crescimento das cidades e construção de novos hábitos
de consumo entre os habitantes do município; (iv) a condição de cidade-pólo
em relação aos municípios da Zona da Mata sul de Pernambuco, fato que
contribui para o aumento da oferta de serviços, por exemplo, na área de
saúde e educação, inclusive profissionalizante.

3.6.2.3 Geração de emprego e renda


Verifica-se, ainda, que os dados sobre emprego formal indicam uma elevada proporção
de postos e trabalho gerados pela indústria de transformação, em ambos os municípios
focalizados [38% no Cabo e 29% em Ipojuca). O comércio e o setor de serviços
concentram em torno de 30% dos empregos, fato que aponta para a permanência de
uma parcela expressiva da mão de obra no mercado informal de trabalho,
considerando o desequilíbrio entre o número de estabelecimentos e o da mão de obra
empregada. Em seguida, vem a administração pública, com [22% no Cabo e 21% em
Ipojuca] do total de empregos existentes à época do levantamento do Ministério do
Trabalho e Emprego. Ver, a respeito, o Quadro 3.26. A agropecuária e a construção
civil participam, respectivamente, com 3% e 8% da mão de obra empregada naquele
ano no Município do Cabo de Santo Agostinho e 1% e 15% em Ipojuca. Nota-se que o
segmento da construção civil tem apresentado maior dinamismo em Ipojuca, onde se
situa grande parte das empresas instaladas em SUAPE, além do crescimento urbano
na zona litorânea, onde vêm sendo construídos equipamentos voltados ao segmento
do turismo (hotéis, pousadas, restaurantes, casas de veraneio etc.).

Número de estabelecimentos e de empregados no setor


QUADRO 3.26 –
formal no Cabo de Santo Agostinho e em Ipojuca (2008)
Cabo Ipojuca
Setor de atividade
Estab. Empreg. Estab. Empreg.
Agropecuária, extração vegetal, caça e pesca 38 849 27 182
Extrativa mineral 5 - 6 155
Indústria de transformação 344 10.775 104 7.227
Serviço industrial de utilidade pública 10 301 7 15
Construção civil 113 2.171 84 3.624
Comércio 1.372 3.497 764 2.276
Serviços 1.110 4.907 779 5.970
Administração Pública 5 6.220 4 5.223
Total 2.997 28.720 1.775 24.672
Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego.

Capítulo 3 - 215
Figura 3.32 – Proporção de estabelecimentos e empregados por setor da economia.

Fonte: MTe - 2008

O Mapa de Pobreza e Desigualdade - Municípios Brasileiros (IBGE, 2003) revela


um quadro desafiador no tocante aos indicadores de qualidade de vida nos dois
municípios estudados, visto que mais da metade da população está classificada como
em situação de pobreza11. Em Ipojuca, o percentual de pobres chega a quase 63% do
total de habitantes, enquanto no Cabo de Santo Agostinho corresponde a 57%. Ao se
analisar o comportamento desse indicador nos municípios integrantes do Território
Estratégico de SUAPE, constata-se que apenas Moreno abriga uma proporção de
pobres maior que a de Ipojuca (64, %). O menor índice é encontrado em Sirinhaém
(46%).
Outro aspecto importante a ressaltar diz respeito à influência positiva das políticas
sociais do Governo Federal, contribuindo para a melhoria do padrão de vida da
população, principalmente no que se refere à ampliação do acesso à educação e ao
atendimento médico-hospitalar, ainda que estejam presentes deficiências nos serviços
oferecidos. Sem dúvida, ocorreu, nos últimos anos, um avanço significativo no poder
aquisitivo da população pobre, como resultado das políticas de distribuição de renda
implementadas, dentre as quais se destacam o Programa Bolsa Família e a
Previdência Rural.

3.6.2.4 Educação
O Termo de Referência que norteia a elaboração do presente diagnóstico relaciona um
conjunto de variáveis a serem examinadas no item que aborda o tema educação. No
tocante às referidas exigências, faz-se necessário fazer algumas considerações: (a) os
dados disponíveis quanto ao nível de escolaridade da população, inclusive os

11
Proporção de pobres (P0) - proporção dos indivíduos com renda familiar per capita inferior a 50% do
salário mínimo numa determinada data. De modo geral, a renda constitui o principal indicador da
condição de pobreza, muito embora alguns índices recorram a formas de mensuração mais complexas
e, por conseqüência, de maior consistência.

Capítulo 3 - 216
agrupados por sexo e faixa etária, estão bastante defasados, já que resultam do Censo
Demográfico de 2000; (b) um novo Censo encontra-se em andamento, mas os seus
resultados só deverão estar disponíveis, em nível de município, no próximo ano12.
No entanto, visando atender à recomendação acima mencionada, foram sistematizadas
informações, ressalvando-se que um quadro mais preciso e atual dessa realidade
dependeria da disponibilidade de dados ou de pesquisa direta sobre o assunto, tarefa
que extrapola o escopo do presente trabalho.
O Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil condensa informações acercada
proporção de pessoas que, por ocasião dos Censos Demográficos de 1991 e 2000,
haviam ingressado e estavam frequentando unidades de ensino instaladas em Ipojuca
e no Cabo de Santo Agostinho, como é possível visualizar no Figura 3.33 a seguir.
Observa-se, por exemplo, que à época já se mostrava elevado o percentual de
crianças de 7 a 14 anos de idade frequentando unidades de ensino fundamental, ainda
que em Ipojuca fossem registrados números inferiores aos do Cabo de Santo
Agostinho. No tocante ao segundo grau, pode-se constatar que, em 2000, havia uma
proporção reduzida de adolescentes de 15 a 17 anos de idade matriculados, muito
embora tenham ocorrido pequenos avanços quando se observam os dados referentes
a 1991. As informações assinaladas apontam que essa tendência decrescente torna-se
ainda mais acentuada em relação ao ensino superior, onde a proporção de jovens e
adultos matriculados era bastante reduzida, sendo inferior a 1% do total da população
do município.
A Quadro 3.27, adiante apresentada, aborda os números relativos à alfabetização da
população residente nos municípios da AII, com idade de 5 anos ou mais, incluindo a
variável sexo.Nota-se, de imediato, a linha decrescente da taxa de alfabetização,
quando se focaliza a distribuição por grupos de idade. Nesse sentido, os dados
específicos sobre a população adulta confirmam, justamente, o baixo nível de
escolaridade das pessoas com mais de 25 anos de idade, como se deduz do Quadro
3.28. Essa tabela confirma, ainda, o baixo nível de acesso ao ensino superior,
registrando-se percentuais abaixo dos obtidos em nível nacional.
De acordo com o prescrito na Lei 9.394, de 20/12/1996, que estabelece as diretrizes e
bases da educação nacional, a educação básica abrange o nível fundamental, com 9
anos de duração, e o nível médio, correspondendo a 3 anos de curso. Afora a
educação básica obrigatória, vêm sendo realizadas ações como o Programa Brasil
Alfabetizado (PBA), voltado para a alfabetização de jovens, adultos e idosos,no intuito
de superar as deficiências identificadas, e o programa Brasil Profissionalizado com o
objetivo de fortalecer as redes estaduais de educação profissional e tecnológica.
Outro elemento para análise do nível de escolaridade da população é fornecido pelos
dados relativos ao número de anos de estudo por faixa de idade, utilizando-se aqui as
faixas etárias definidas pelo IBGE nas tabelas resultantes do Censo Demográfico de
2000 – Dados da Amostra. Em função do presente diagnóstico, foram sistematizadas
as informações atinentes aos municípios do Cabo de Santo Agostinho e Ipojuca,
conforme ilustra a Quadro 3.29, à frente apresentada. Mais uma vez evidencia-se o
declínio da porcentagem de pessoas de sete anos e mais em relação à quantidade de

12
Até o momento, o IBGE divulgou apenas os dados preliminares referentes ao total da população
residente nos municípios. Ver, a respeito, www.ibge.gov.br

Capítulo 3 - 217
anos de estudo. Em outras palavras, à medida que cresce a idade, diminui o número
de anos de estudo, devendo-se destacar o fato de que para se completar o ensino
fundamental são necessários nove anos de frequência regular a uma escola.

Figura 3. 33 – População por nível de escolaridade e faixa de idade.

População residente de 5 anos ou mais de idade por sexo, alfabetização


Quadro 3.27 –
e grupos de idade.
Cabo de Santo Agostinho - PE Ipojuca - PE
Faixas
Homem Mulher Total Homem Mulher Total
de idade
Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº %
5a9
3.341 7% 3.580 7% 6.921 7% 915 5% 1.097 6% 2.012 6%
anos
10 a 14
7.012 14% 7.427 14% 14.439 14% 2.466 15% 2.862 16% 5.328 15%
anos
15 a 19
8.025 16% 8.353 15% 16.378 16% 3.004 18% 3.349 19% 6.353 18%
anos
20 a 24
7.386 14% 7.503 14% 14.889 14% 2.548 15% 2.731 15% 5.279 15%
anos
25 a 29
5.670 11% 6.118 11% 11.788 11% 1.922 12% 2.133 12% 4.055 12%
anos
30 a 34
4.637 9% 5.249 10% 9.886 9% 1.466 9% 1.635 9% 3.101 9%
anos
35 a 39
3.837 7% 4.448 8% 8.285 8% 1.172 7% 1.250 7% 2.422 7%
anos

Capítulo 3 - 218
População residente de 5 anos ou mais de idade por sexo, alfabetização
Quadro 3.27 –
e grupos de idade.
40 a 44
3.239 6% 3.550 7% 6.789 6% 911 5% 881 5% 1.792 5%
anos
45 a 49
2.654 5% 2.562 5% 5.216 5% 673 4% 637 4% 1.310 4%
anos
50 a 54
1.925 4% 1.815 3% 3.740 4% 490 3% 434 2% 924 3%
anos
55 a 59
1.245 2% 1.168 2% 2.413 2% 345 2% 308 2% 653 2%
anos
60 a 64
934 2% 896 2% 1.830 2% 306 2% 264 1% 570 2%
anos
65 a 69
570 1% 566 1% 1.136 1% 198 1% 140 1% 338 1%
anos
70 a 74
429 1% 353 1% 782 1% 126 1% 104 1% 230 1%
anos
75 a 79
219 0% 210 0% 429 0% 65 0% 51 0% 116 0%
anos
80 anos
192 0% 164 0% 356 0% 53 0% 50 0% 103 0%
ou mais
Total 51.315 100% 53.962 100% 105.277 100% 16.660 100% 17.926 100% 34.586 100%
f

Pessoas de 25 anos ou mais de idade, por sexo e nível


Quadro 3.28 –
educacional concluído (%)
Sexo
Brasil e Município Nível educacional concluído
Homens Mulheres
Alfabetização de adultos 0,01 0,08
Fundamental incompleto - 1ª série a 3ª
9,99 10,25
série

Cabo de Santo Fundamental incompleto - 4ª série a 7ª


14,58 15,56
Agostinho - PE série
Fundamental 5,86 5,90
Médio 7,61 8,86
Superior - graduação 0,72 1,19
Alfabetização de adultos 0,05 -
Fundamental incompleto - 1ª série a 3ª
15,01 12,91
série
Fundamental incompleto - 4ª série a 7ª
Ipojuca - PE 11,71 13,15
série
Fundamental 3,47 4,18
Médio 4,00 5,01
Superior - graduação 0,51 0,77

Capítulo 3 - 219
Pessoas de 7 anos ou mais de idade, por sexo e por número de anos de estudo
Quadro 3.29 –
(%).
Grupos de anos de estudo/Municípios
Sem instrução
Grupos de 15 anos ou
e menos de 1 1 a 3 anos 4 a 7 anos 8 a 10 anos 11 a 14 anos
idade/Sexo mais
ano
Cabo Ipojuca Cabo Ipojuca Cabo Ipojuca Cabo Ipojuca Cabo Ipojuca Cabo Ipojuca
7 a 9 anos
Homens 1,56 3,03 1,83 1,29 0,01 0,02 - - - - - -
Mulheres 1,38 2,43 1,91 1,94 0,01 - - - - - - -
10 a 14
anos
Homens 0,45 1,3 2,4 3,38 3,03 1,98 - - - - - -
Mulheres 0,29 0,68 2,06 3,21 3,37 2,75 0,07 - - - - -
15 anos
Homens 0,06 0,15 0,2 0,46 0,65 0,73 0,62 0,05 - - - -
Mulheres 0,04 0,07 0,14 0,3 0,29 1,03 0,39 0,23 - - - -
16 e 17
anos
Homens 0,11 0,25 0,33 0,73 1,01 1,62 0,94 0,4 0,04 0,02 - -
Mulheres 0,07 0,11 0,22 0,55 0,89 1,49 1,16 0,56 0,07 - - -
18 e 19
anos
Homens 0,12 0,19 0,3 0,66 0,8 1,13 0,79 0,67 0,44 0,08 - -
Mulheres 0,07 0,17 0,21 0,36 0,7 1,09 0,82 0,63 0,63 0,19 - -
20 a 24
anos
Homens 0,32 0,96 0,2 1,35 1,7 2,18 1,18 1,11 1,41 0,65 0,09 0,02
Mulheres 0,73 0,51 0,55 1,21 1,55 2,01 1,19 1,32 1,84 1,29 0,15 0,04
25 a 29
anos
Homens 0,33 0,92 0,66 1,39 1,54 1,49 0,81 0,61 1,04 0,62 0,22 0,02
Mulheres 0,23 0,91 0,56 1,04 1,49 1,81 0,84 0,6 1,32 0,96 0,32 0,06
30 a 34
anos
Homens 0,37 0,98 0,66 1,39 1,42 1,18 0,73 0,26 0,88 0,46 0,25 0,02
Mulheres 0,29 0,74 0,61 1,24 1,42 1,29 0,75 0,45 1,09 0,65 0,33 0,1
35 a 39
anos
Homens 0,37 0,71 0,65 1,04 1,29 0,95 0,63 0,29 0,8 0,4 0,29 0,08

Capítulo 3 - 220
Pessoas de 7 anos ou mais de idade, por sexo e por número de anos de estudo
Quadro 3.29 –
(%).
Mulheres 0,32 0,64 0,64 1 1,34 1,12 0,65 0,3 0,96 0,49 0,35 0,1
40 a 49
anos
Homens 0,72 1,09 1,14 1,77 2,05 1,18 0,84 0,37 1,04 0,37 0,52 0,1
Mulheres 0,76 1,23 1,21 1,51 2,13 1,37 0,85 0,45 1,21 0,35 0,57 0,13
50 a 59
anos
Homens 0,77 1,1 0,93 1,15 1,24 0,6 0,36 0,12 0,43 0,14 0,32 0,05
Mulheres 0,94 1,61 1,04 0,88 1,29 0,7 0,37 0,13 0,49 0,13 0,27 0,05
60 a 69
anos
Homens 0,7 1,14 0,66 0,56 0,71 0,34 0,17 0,09 0,18 0,05 0,13 0,02
Mulheres 0,94 1,31 0,75 0,64 0,8 0,25 0,18 0,08 0,21 0,07 0,09 -
70 anos ou
mais
Homens 0,74 0,92 0,45 0,34 0,41 0,15 0,09 - 0,09 - 0,07 -
Mulheres 1,04 1,11 0,53 0,23 0,57 0,13 0,13 - 0,13 - 0,04 -
Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000- Dados da Amostra.

No tocante à área focalizada no EIA-RIMA, as carências educacionais objeto de


estudos na Academia e de ações mitigadores por parte do Poder Público, adquiriram
maior visibilidade quando o acelerado processo de crescimento econômico na área de
SUAPE começou a revelar os baixos níveis de instrução da população
economicamente ativa, potenciais beneficiários dos empregos associados aos novos
investimentos. Apesar da eficácia das políticas de educação implementadas pelo Poder
Público com o objetivo de reduzir as taxas de analfabetismo, ainda existe uma grande
defasagem dos estudantes da região em face das exigências do mercado de trabalho.
Nos municípios estudados, a infraestrutura de ensino apresenta o perfil constante do
Quadro 3.30.

Número de escolas por dependência administrativa,


Quadro 3.30 –
segundo o tipo de ensino (2006).
Municípios / Tipo de
Total Federal Estadual Municipal Particular
ensino
Cabo de Santo
Agostinho
Creche 21 - - 6 15
Pré-escolar 97 - - 79 18
Ensino fundamental 121 - 14 86 21
Ensino médio 23 - 13 2 8
Supletivo 74 - 8 64 2

Capítulo 3 - 221
Número de escolas por dependência administrativa,
Quadro 3.30 –
segundo o tipo de ensino (2006).
Educação profissional em
- - - - -
nível técnico
Educação especial 2 - 1 1 -
Ipojuca
Creche 14 - - 3 11
Pré-escolar 74 - - 63 11
Ensino fundamental 100 - 7 75 18
Ensino médio 8 - 6 - 2
Supletivo 30 - 4 26 -
Educação profissional em
- - - - -
nível técnico
Educação especial 3 - 1 2 -
Nota: como os dados são de 2006, a unidade de ensino federal ainda não estava
contemplada.
Fonte: Agência Condepe-Fidem; BDE.

Dados do Censo Escolar 2009 13 permitem aferir o número de matrículas por


dependência administrativa e, também por nível de ensino. Conforme a classificação
utilizada no referido censo, a municipalização do ensino fundamental, decorrente da
descentralização administrativa estabelecida pela Constituição de 1988, por si só
condiciona o número mais elevado de matrículas nas escolas municipais. Por sua vez,
o ensino de nível médio e a educação profissional contam com a participação mais
efetiva dos órgãos estaduais e, no último caso, aparecem unidades coordenadas pelo
serviço público federal e por entidades privadas.
Os Quadros 3.31 e 3.32, exibidos adiante, sintetizam as informações sobre os tópicos
mencionados, podendo-se constatar que cabe ao Estado e, sobretudo, aos Municípios
a responsabilidade maior pela oferta dos serviços relativos ao ensino regular
fundamental, ficando com a iniciativa privada - 8%, em Ipojuca, e 13%, no Cabo - do
total de matrículas realizadas em 2009.
Quando se analisa o número de matrículas no ensino de nível médio, ressalta a
concentração de alunos nos estabelecimentos vinculados ao Estado – 85% em Ipojuca
e 88% no Cabo -, havendo uma proporção maior oferta de vagas em unidades
particulares, no Cabo de Santo Agostinho (6% do total de matrículas em 2009).

13
O Censo Escolar constitui um “instrumento de coleta de informações da educação básica, que
abrange as suas diferentes etapas e modalidades: ensino regular (educação Infantil e ensinos
fundamental e médio), educação especial e educação de jovens e adultos (EJA). O Censo Escolar coleta
dados sobre estabelecimentos, matrículas, funções docentes, movimento e rendimento escolar”.
Informações disponíveis no endereço: http://www.inep.gov.br/basica/censo/default.asp. Consulta em
11/4/2010.

Capítulo 3 - 222
O ensino público profissional (nível técnico) é oferecido em uma unidade do no
município de Ipojuca, com 617 alunos matriculados em 2009, segundo dados do Censo
Escolar realizado pelo INEP.
O Governo Federal desenvolve, igualmente, Programa de Educação de Jovens e
Adultos – EJA através das redes estadual e municipal de ensino, atendendo pessoas
em situação de defasagem idade-série. Do total de 111.280 matrículas realizadas em
2008, no Cabo, 12.132 eram alunos inseridos no EJA. Em Ipojuca, das 49.252
matrículas, 7.034 eram vinculadas ao citado programa governamental, o que
demonstra um esforço do poder público em superar as deficiências identificadas em
relação ao nível educacional da população.

Matrícula inicial no ensino fundamental, por


QUADRO 3.31 –
dependência administrativa.
Município/Discriminação Total Estadual Federal Municipal Privada
Ipojuca 17.636 1.841 - 14.392 1.403
Anos iniciais 10.115 291 - 8.859 965
Anos finais 7.521 1.550 - 5.533 438
Cabo de Santo Agostinho 32.944 5.272 - 23.338 4.334
Anos iniciais 17.343 1.034 - 13.843 2.466
Anos finais 15.601 4.238 - 9.495 1.868
Fonte: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira Estatística e
Agência Estadual de Planejamento e Pesquisas de Pernambuco.

Matrícula inicial no ensino médio, por dependência


QUADRO 3.32 –
administrativa, segundo o tipo de ensino (2009).
Município / Tipo de ensino Total Estadual Federal Municipal Particular
Ipojuca
Ensino médio 4.071 3.999 - - 72
Educ. profissional (Nível 617 - 617 - -
técnico)
Cabo de Santo Agostinho
Ensino médio 11.414 10.008 - 750 656
Fonte: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira Estatística e Agência Estadual
de Planejamento e Pesquisas de Pernambuco.

O INSTITUTO Federal de Educação, Ciência e Tecnologia – IFET - Campus


Ipojuca14 oferece três cursos profissionalizantes, numa perspectiva de articulação do
conteúdo programático com as demandas associadas à dinâmica econômica da região:
Automação Industrial com as seguintes áreas de atuação profissional:
 Refinaria de Petróleo.
 Estaleiro.
 Parques industriais.

14
Cf. http://ipojuca.ifpe.edu.br/conteudo.php?cat=20&sub=3. Consulta em 13/4/2010.

Capítulo 3 - 223
 Microempresas.
 Empresas de construção civil.
 Escritórios de projetos (consultores)
 Empresas de representações, vendas e assistência técnica.
 Empreiteiras de serviços elétricos.
 Indústria em geral (metalúrgica, tintas, produtos químicos, gás, cimento,
alimentos, bebidas).

Segurança do Trabalho com as seguintes áreas de atuação profissional:

 Construção civil.
 Indústrias de petróleo e gás.
 Construção e reparação de embarcações e estruturas flutuantes.
 Transportes.
 Limpeza urbana.
 Porto.
 Mineração.
 Refrigeração.
 Hospitais, casa de saúde, laboratórios, etc.
 Centros de pesquisas, universidades e escolas.
 Empresas de telecomunicações.
 Empresas de distribuição de energia.
 Fundações, clubes e associações.
 Bancos e instituições financeiras.
 Secretarias e departamentos do Ministério do Trabalho.
 Agroindústria e outras.

Química com as seguintes áreas de atuação profissional:

 Laboratórios de controle de qualidade industrial (físicos, químicos e de


produção).
 Indústrias químicas, petroquímicas, têxteis, alimentícias e farmacêuticas.
 Destilarias de álcool.
 Usina de açúcar.
 Unidades de tratamento de água.
 Unidades de tratamento de efluentes.
 Laboratórios de centros de pesquisa.
 Farmácias de manipulação.
A Prefeitura de Ipojuca, em parceria com o Estaleiro Atlântico Sul, instalou a Escola
Nascedouro de Talentos, havendo reformado o antigo matadouro do município, de
modo a abrigar seis salas de aula, com capacidade para 300 alunos, por turno. O
principal objetivo é capacitar os alunos para trabalharem nas empresas instaladas no
Complexo Industrial Portuário de SUAPE, CIPS, a exemplo do Estaleiro Atlântico Sul e
de outras empresas que vierem a firmar convênios com a Prefeitura. Estão sendo
Capítulo 3 - 224
oferecidos cursos de capacitação profissional para soldadores, montadores e
encanadores.
O Centro de Treinamento de SUAPE encontra-se em atividade, com base, inicialmente,
em parceria firmada entre a Empresa SUAPE e a Secretaria de Educação do Estado
de Pernambuco, oferecendo cursos de qualificação e o Telecurso 2000. As aulas são
ministradas em quatro locais nos Municípios do Cabo de Santo Agostinho (Agência do
Trabalho e Centro de Formação Profissional) e de Ipojuca (Condomínio de Cursos e
Centro de Treinamento do Porto de SUAPE)15. Posteriormente, com a ampliação do
público atendido, foi feita parceria com a Secretaria de Desenvolvimento Social e
Cidadania, para através do SENAI promover cursos de capacitação profissional para
residentes dos Municípios do Cabo e Ipojuca. Segundo consta na página consultada,
os cursos contam com um “total, 832 profissionais de diversas áreas já foram
formados, e, atualmente, mais de 1.300 trabalhadores estão sendo capacitados. Essa
capacitação é financiada com recurso do Fundo Estadual de Combate e Erradicação
da Pobreza (Fecep), no total de R$ 1,4 milhão” 16.
No que concerne, em particular, ao Cluster Naval, sobressai o projeto de implantação
de um Centro de Qualificação Profissional voltado especificamente a este setor, no
âmbito do Complexo Industrial Portuário de SUAPE. De acordo com matéria publicada
no Jornal do Comércio 17 , o grupo holandês STC Holding B. V. e o Governo de
Pernambuco firmaram acordo para a construção de uma unidade de ensino, visando a
formação de técnicos qualificados para trabalhar no setor, além da realização de
treinamento dirigidos à área industrial, de logística e de operações portuárias.
A Empresa SUAPE, através das Superintendências de Gestão Fundiária e Patrimônio e
Administrativa,
viabilizou 300 vagas para a educação formal através de uma parceria
com a Secretaria de Educação e Cultura do Estado (SEDUC). A
prioridade deste projeto educacional é colaborar com o acesso ao
Ensino Fundamental I e II, e ao Ensino Médio de jovens e adultos fora
de faixa para os ocupantes da área de 13.500 hectares do Complexo
Industrial Portuário de SUAPE18.
No nível da formação profissional, um convênio da Empresa SUAPE com o Serviço
Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), permitirá a capacitação nas seguintes
áreas: auxiliar de garçom e cozinheiro, manicure, pedicure, cabeleireiro, recepcionista,
auxiliar de limpeza e jardineiro. Esses cursos são oferecidos em dois locais, no Centro
de Treinamento de SUAPE (Cetreino) e nas unidades móveis do Senac, tendo como
público-alvo moradores da região, numa perspectiva de desenvolvimento local e de
responsabilidade social.
No tocante aos investimentos na melhoria das condições educacionais, desde 2006,
estava prevista a ampliação da oferta de ensino de nível médio, com base em protocolo
de intenções, assinado naquele ano, para a construção de duas escolas nos

15
Cf. http://www.suape.pe.gov.br/atrativos_responsabilidade_social.asp . Consulta realizada em
13/4/2009.
16
Idem.
17
JORNAL DO COMÉRCIO, 13/4/2010, Caderno Economia, p.4.
18
Idem.
Capítulo 3 - 225
Municípios do Cabo de Santo Agostinho e de Ipojuca, colocando à disposição mais
duas mil vagas.
Ainda com relação ao ensino profissionalizante, cabe destacar as ações desenvolvidas
pelo SEST/ SENAT 19 e pelo SENAI 20 , algumas das quais em parceria com outros
órgãos, como apontado anteriormente.
Quanto ao ensino superior, há as Faculdades que funcionam nos Municípios do Cabo
de Santo Agostinho e Ipojuca, com as áreas de concentração a seguir discriminadas:
Faculdade de Ipojuca – FAJOLCA: bacharelado em Ciências Contábeis, Administração
e Pedagogia e cursos superiores de menor duração: gastronomia, gestão ambiental,
gestão de pessoas, hotelaria, logística empresarial, redes de computadores,
secretariado executivo, sistemas de informação. A faculdade oferece, também, cursos
de inglês e de informática para a comunidade.
Faculdade de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas do Cabo de Santo Agostinho –
FACHUCA: bacharelado em administração, licenciatura em história e em comércio e
administração.
Por outro lado, a proximidade em relação ao Recife e demais municípios da Região
Metropolitana abre um leque de oportunidades considerável no que diz respeito ao
ensino superior, tanto nas Universidades Públicas, como nas Particulares, já estando
em curso parcerias visando à formação de profissionais para atender à demanda das
empresas instaladas ou em processo de instalação em SUAPE.
Da análise dos vários aspectos envolvidos na questão educacional, observa-se que
ainda existe um enorme desafio no sentido da superação das enormes deficiências que
vêm sendo apontadas em relação à qualificação profissional da força de trabalho local,
sobretudo depois da instalação de grandes projetos, como a Refinaria Abreu e Lima e o
Estaleiro Atlântico Sul. A dificuldade para preencher o quadro de funcionários com a
mão de obra local remete ao despreparo associado a um modelo de ensino que não
tem se mostrado eficiente ma transmissão e consolidação de conhecimentos básicos.

3.6.2.5 Infraestrutura de saúde


Considerando a infraestrutura de saúde disponível nos municípios estudados, as
informações compiladas pelo Ministério da Saúde indicam a presença de 4 unidades
hospitalares no Cabo de Santo Agostinho e 2 em Ipojuca (ver Quadro 3.33). Trata-se
de dados de 2007, podendo-se acrescentar a existência de investimentos recentes no
intuito de ampliação do atendimento médico-hospitalar na região de SUAPE, a exemplo
do Hospital Metropolitano Sul Dom Helder Camara, que deverá atender cerca de 440
mil habitantes do Cabo de Santo Agostinho, Primavera, Escada, Ipojuca, Sirinhaém,
Rio Formoso, Tamandaré, Barreiros e São José da Coroa Grande. Esse
estabelecimento de saúde terá 169 leitos, dos quais 30 de correspondentes a unidades
de terapia intensiva, UTIs, e 19 destinados ao atendimento de queimados. No total, o
hospital terá capacidade para atender a 67.536 consultas/emergências e 19.690
internamentos por ano. A área total construída da unidade é de 12.754,37 m², contando

19
Cf. www.sestsenat.org.br
20
Cf. www.senai.br
Capítulo 3 - 226
com investimentos da ordem de R$ 55 milhões, referente a gastos com estrutura física
e equipamentos. Na área privada, cabe mencionar o novo Hospital da Unimed.

QUADRO 3.33 – Estabelecimentos e leitos hospitalares (2007).

Municípios Estabelecimentos Leitos hospitalares


Hospitalares
Cabo de Santo Agostinho 4 281
Ipojuca 2 28
Fonte: Ministério da Saúde/Datasus.

A rede municipal de saúde no Município de Ipojuca conta com: (a) 2 unidades


hospitalares; (b) 4 unidades ambulatoriais; (c) 2 postos de saúde; d) 1 centro de
referência odontológica (inaugurado em 2008); e (e) 1 ambulatório de saúde mental.
Além dessas unidades, a Prefeitura dispõe de 3 unidades móveis: (a) Unidade móvel
médico-odontológica I; (b) Unidade móvel médico-odontológica II; e (c) Unidade móvel
oftalmológica.
O Programa Saúde na Família, PSF, e o Programa Agentes Comunitários de Saúde,
PACS, têm representado um importante papel no controle e redução da incidência de
determinadas doenças, ações que repercutem na redução da mortalidade infantil e na
elevação da esperança de vida ao nascer. Em Ipojuca, há 10 equipes de PSF e no
Cabo de Santo Agostinho são 34. O número de agentes de saúde (PACS) corresponde
a 104 em Ipojuca e 249 no Cabo.
Ainda com base nos dados do Ministério da Saúde/Datasus, pode-se dimensionar os
recursos humanos alocados nos serviços de saúde dos municípios mencionados,
conforme se descreve na Quadro 3.34.

QUADRO 3.34 – Recursos Humanos da saúde, por categorias selecionadas (2007).

Municípios / Cabo de Santo Agostinho Ipojuca


Recursos Total Atende Profissional/ Profissional Total Atende Profissional Profissional
Humanos ao SUS 1.000 hab SUS/1.000 ao SUS /1.000 hab SUS/1.000
hab hab
Médicos 328 261 1,9 1,5 123 123 1,7 1,7
Cirurgião dentista 56 51 0,3 0,3 40 40 0,6 0,6
Enfermeiro 105 103 0,6 0,6 22 22 0,3 0,3
Téc. de
45 41 0,3 0,2 62 62 0,9 0,9
Enfermagem
Aux. de
183 171 1 1 49 49 0,7 0,7
Enfermagem
Fonte: Ministério da Saúde/Datasus.

Notícia recentemente divulgada na imprensa21 relata que o Serviço Social da Indústria,


SESI, deverá investir R 3 milhões na construção de uma unidade de saúde no
Complexo Industrial Portuário de SUAPE, dentro de 12 a 18 meses, com o objetivo de
“atender ao crescimento da demanda empresarial na região”. Desde dezembro de

21
JORNAL DO COMÉRCIO, 19/4/2010, Caderno Economia, p.6.

Capítulo 3 - 227
2009, encontra-se em funcionamento uma unidade de atendimento provisória. Dentre
os serviços atualmente oferecidos, podem ser destacados: exames exigidos pelas
empresas nos processos admissional e demissionário. Com a nova unidade planejada,
além dos serviços de saúde (exames clínicos e laboratoriais, raio-X, consultório
odontológico etc.), o SESI projeta a criação de espaço voltado à educação, com
biblioteca e laboratório de informática, cursos de línguas, palestras sobre saúde, meio
ambiente e segurança.

3.6.2.6 Infraestrutura de saneamento básico


Focalizando dados mais recentes sobre acesso ao serviço de fornecimento de água,
estabelecendo-se um paralelo entre o total de ligações residenciais com o total de
domicílios por município, verifica-se que há um percentual aproximado de 79% dos
domicílios do Cabo de Santo Agostinho ligados à rede geral de abastecimento de água.
Em Ipojuca, há uma porcentagem menor de domicílios nessa situação (59%), o que
pode estar associado ao fato de cerca de 36% da população residir nas áreas rurais,
em alguns casos de maneira dispersa no interior dos engenhos e sítios. Cabe
acrescentar que, em 2000, segundo dados do último Censo Demográfico realizado no
Brasil, 82% dos domicílios do Cabo tinham acesso à rede geral de fornecimento de
água, enquanto em Ipojuca esse percentual correspondia a 52%.
O esgotamento sanitário ainda tem uma cobertura restrita, mesmo nas áreas urbanas,
constituindo um elemento negativo quando se avaliam as condições de vida da
população, muito embora, deva-se frisar que os dados disponíveis sobre a cobertura
domiciliar ainda são os do Censo Demográfico de 2000. Por outro lado, sabe-se que o
crescimento das cidades tem contribuído para a ocupação desordenada de áreas
periféricas, nas quais a infraestrutura é, em geral, muito precária, em especial no que
se refere aos serviços de saneamento básico. Tal situação tem se alterado em ritmo
extremamente lento, permanecendo, portanto, carências, de fato, relevantes em
relação a este aspecto que constitui um dos Objetivos do Milênio fixados pela
Organização das Nações Unidas. Basta lembrar que, nos dois municípios, em 2000,
apenas pouco mais de 20% dos domicílios estavam ligados à rede geral de esgotos,
havendo, ainda, quase 20% dos domicílios de Ipojuca que não possuíam, então,
banheiro ou instalação sanitária.

QUADRO 3.35 – Ligações e economias abastecidas pela rede de água (2008).

Municípios Total de Total de Residencial Comercial Industrial Público


ligações economias
Nº % Nº % Nº % Nº %
Cabo de Santo
34.926 36.741 34.850 100% 1.425 4% 198 1% 268 1%
Agostinho
Ipojuca 10.427 10.978 10.369 99% 472 5% 24 0% 113 1%
Fonte: Companhia Pernambucana de Saneamento - COMPESA.

3.6.2.7 Infraestrutura Regional


O TR na página 12 (letra “e”) solicita a caracterização do sistema viário e
rodoferroviário, elétrico e de comunicações. Em função da estrutura do EIA definida
pela Moraes & Albuquerque Advogados e Consultores, estas informações foram
apresentadas no Capítulo 2 deste estudo denominado “CONTEXTUALIZAÇÃO DO
Capítulo 3 - 228
CENÁRIO ATUAL”. No referido capítulo, estes aspectos de infraestrutura existente e
futura no CIPS e seu território estratégico, são analisados desde a ótica da capacidade
de SUAPE de absorver novos empreendimentos, especificamente o Estaleiro
PROMAR. Estas informações referentes a SUAPE foram extraídas de documentos de
planejamento recentes, como é o PDZ e o Plano Diretor que ainda está em discussão
para aprovação.
Adicionalmente a isto, o item 2.6 do mesmo Capítulo complementa estas informações,
pois realiza um levantamento dos principais planos co-localizados da região, os quais
tem um rebatimento direto nas condições futuras de oferta de serviços para as novas
empresas que vem se instalando no Porto de SUAPE.

3.6.2.8 Organização social na AII


Como assinalado em estudos anteriores sobre a Zona da Mata de Pernambuco, dentre
os quais, o Estudo de Impacto Ambiental, EIA/RIMA. Unidade Industrial para a
produção de Ácido Tereftálico Purificado, PTA (2005)22:
os municípios que integram a AID historicamente estiveram ligados a lutas
sociais relevantes, envolvendo trabalhadores rurais organizados, desde a
década de 1950, quando, em toda a Zona da Mata Pernambucana, atuavam
as Ligas Camponesas, extintas por pressão da ditadura militar. Os
Sindicatos de Trabalhadores Rurais foram, durante muito tempo, o canal de
representação mais expressivo naquela região, a despeito das perseguições
políticas ocorridas após 1964 até meados da década de 1970. Com a
abertura política, surgiram outros mecanismos de organização, não mais
restritos ao mundo do trabalho, na medida em que começam a ser fundadas
organizações de bairro, voltadas para a defesa de melhorias nas condições
de moradia, bem como outros organismos que congregavam grupos sociais
como mulheres, negros, jovens. Além disso, foram fundados movimentos em
defesa de questões de maior abrangência, como o meio ambiente, a paz ou
temas conjunturais, a exemplo de campanhas como as Diretas Já. Dentre os
movimentos surgidos a partir da década de 1980, merecem destaque os que
vêm aglutinando os trabalhadores rurais sem terra, dos quais o MST é,
provavelmente, o mais conhecido.
Acrescenta-se no referido estudo que:
De modo geral, nas análises sobre a dimensão socioeconômica de uma
dada realidade, a abordagem dos canais e das formas de representação
política da população constitui uma maneira geralmente eficiente para se
identificarem grupos de interesse atuantes, assim como eventuais situações
de conflito. De antemão, é possível apontar os principais formatos que
assumem as várias iniciativas de organização em nível municipal:
Associações da sociedade civil; Associações de produtores (agrícolas,
artesanais etc.); Cooperativa; Sindicatos patronais e de trabalhadores;
Clubes, centros, grupos ou núcleos que congregam segmentos específicos

22
PIRES ADVOGADOS E CONSULTORES. Estudo de Impacto Ambiental, EIA/RIMA. Unidade
Industrial para a produção de Ácido Tereftálico Purificado, PTA. Recife, 2005.

Capítulo 3 - 229
da sociedade (mães, mulheres, negros, jovens etc.); Mobilizações sociais
em torno de lutas circunstanciais/imediata.
Nas últimas duas décadas, assiste-se a um processo de reestruturação das prefeituras,
no contexto da descentralização administrativas preconizadas na Constituição de 1988,
o que levou à formação de canais de participação da população e à criação dos
Conselhos Municipais. Tanto no Cabo de Santo Agostinho, como em Ipojuca, esse
padrão de organização social acontece com diferenciações inerentes às características
locais.
No âmbito do Complexo Industrial Portuário de SUAPE, foram constituídas
Associações com objetivos específicos, reunindo moradores e/ou produtores rurais.
Com relação à Área de Influência Direta, AID, destaca-se a presença da Associação
dos Moradores da Ilha de Tatuoca, que representa os moradores do local, defendendo
o acesso à moradia, desde que haverá necessidade de remanejamento das famílias ali
residentes, em função das diretrizes do Plano Diretor de SUAPE.
A Empresa SUAPE tem mantido negociações com os moradores da Ilha, intermediadas
pela Associação, cujo presidente é apontado como reconhecida tanto pela instituição,
como pelos representados. Persiste, contudo, alguns pontos de conflito, associados ao
processo de reassentamento ainda indefinido quanto aos prazos da mudança
necessária. Há um local escolhido e apresentado à membros da comunidade para a
construção de uma agrovila, para onde serão transferidas as 48 famílias que residem
no local. Parte delas habita onze (11) edificações de baixo padrão construtivo,
localizadas do lado sudeste da ilha, próximas ao mar.
Alguns moradores do referido local, conhecido como Pontal da Ticirana, como o Sr.
Severino Cassiano da Silva, proprietário do Bar do Bio, são refratários à proposta de
relocação, reafirmando, enfaticamente, a intenção de lutar para permanecer no local,
sob a alegação de que não teriam condições de se recompor economicamente em
outro lugar, além dos laços afetivos com aquele trecho de praia.
Ainda na AID, há a Associação da Praia de SUAPE e a Colônia de Pesca do Cabo
(Gaibu) que vêm empreendendo ações, no sentido de denunciar as más condições de
pesca, em decorrência da recente dragagem realizada pela Empresa SUAPE. Durante
a pesquisa de campo, moradores da Ilha de Tatuoca também formularam reclamações
com relação à “água suja” e ao “depósito de lama” no banco de areia, fatos que têm
acarretado prejuízos para as marisqueiras e os pescadores que trabalham no estuário.

3.6.3 Diagnóstico socioeconômico da AID

3.6.3.1 População nas terras do CIPS23


No EIA-RIMA referente às ações de modernização e ampliação do Porto de SUAPE, a
Pires Advogados e Consultores (2000) sistematizou os questionários aplicados pela
GEAP/SUAPE em 1997. Naquela ocasião, o total de moradores na área do CIPS já se
mostrava bastante elevado, correspondendo a, aproximadamente, 8.803 habitantes,

23
Trecho transcrito, na íntegra, do documento: MORAES & ALBUQUERQUE ADVOGADOS E
CONSULTORES. Estudo de Impacto Ambiental do Contorno Rodoviário do Cabo de Santo
Agostinho, 2010, havendo-se alterado apenas a numeração da Tabela citada.

Capítulo 3 - 230
distribuídos em 22 engenhos localizados no continente e em terras situadas nas Ilhas
de Cocaia, Barreiros, Martins e Tatuoca. O citado levantamento de dados foi de grande
importância para construção de um perfil dessa população, bem como para
dimensionar as formas de uso e de ocupação das terras que haviam sido
desapropriadas visando à instalação do Porto de SUAPE. Em 2003, foi realizada uma
nova pesquisa com o objetivo de atualizar as informações obtidas anteriormente. O
produto desse trabalho revelou, de imediato, o aumento da população residente,
havendo-se, então, computado um total de 9.146 habitantes.
O Estudo de Impacto Ambiental, EIA/RIMA. Unidade Industrial para a produção de
Ácido Tereftálico Purificado, PTA apresentado, condensou as informações relativas
aos dois momentos pesquisados pela Empresa SUAPE/GEAP, permitindo assim traçar
um quadro geral desta população, o qual se descreve na sequência:
1. O número de habitantes teve um aumento percentual de 4%, quando se
comparam os dados referentes ao período 1996/97-2003/04.
2. Em relação ao contingente de moradores registrado em 1996/97, os dados
relativos à 2003/04 mostram que o aumento da população foi mais elevado nas
áreas correspondentes aos antigos engenhos Rosário, Conceição Velha, Utinga
de Cima, Massangana, Colônia, Jurissaca e Serraria. Merece especial destaque
o fato de, no Engenho Rosário, esse crescimento populacional ter assumido
proporções realmente impressionantes, já que o número de habitantes pulou de
64 para 359 pessoas, em pouco mais de cinco anos.
3. Nota-se, igualmente, que o adensamento populacional ocorreu, com maior
intensidade, em engenhos situados em áreas que, segundo o Zoneamento de
SUAPE, correspondem a Zonas de Preservação Ecológica, ZPEC, como é o
caso dos Engenhos Rosário, Conceição Velha, Utinga de Cima e Jurissaca.
4. Nos Engenhos localizados em Zona Industrial, ZI (Serraria e Colônia), e na Zona
Central Administrativa, ZCA (Massangana), houve um crescimento em termos
percentuais menos acelerado, mas mesmo assim bastante significativo.
5. No Engenho Tiriri, Ilha dos Martins e Engenho do Meio o número de habitantes
aumentou em mais de 14%, enquanto nos Engenhos Algodoais e Pirajá esse
crescimento foi menor (6% e 4% respectivamente).
6. Por outro lado, em alguns locais ocorreu uma diminuição do número de
habitantes, a exemplo dos seguintes engenhos: Boa Vista (-77%), Conceição
Nova (-76%), Penderama (-35%). Na Ilha de Tatuoca, houve um decréscimo de
23% em relação à população residente em 1996, e na Ilha de Cocaia atualmente
não há mais nenhum morador, havendo-se retirado os 173 que havia em 1996
(Cf. Pires Advogados e Consultores, 2003).

3.6.3.2 População na Ilha de Tatuoca


A Ilha de Tatuoca se estende por 637 hectares inseridos na Zona Industrial Portuária,
ZIP, de acordo com classificação adotada no Plano Diretor de SUAPE. Os dados da
Empresa SUAPE mencionados no item anterior, mostram que houve uma redução no
número de habitantes, quando se considera o período entre 1996 e 2004. À época da
primeira coleta de dados (1996/97), foram computados 171 moradores e 41 edificações
dos mais diversos usos. Em 2003/04, esse número decresce, passando para 131

Capítulo 3 - 231
habitantes e 35 ocupações, sendo esta diminuição decorrente de um processo de
indenização e liberação de alguns espaços da Ilha, com vistas à consolidação dos usos
previstos no Zoneamento do CIPS.
Com a instalação de novos empreendimentos na Ilha de Tatuoca, a exemplo do
Estaleiro Atlântico Sul, e a definição daqueles espaços como área de funcionamento de
um Cluster Naval, foi realizado um novo levantamento de dados, no intuito de indenizar
as posses e benfeitorias existentes, assim como dimensionar e desenhar o projeto de
reassentamento do conjunto de famílias ali residentes.
Segundo informações da Diretoria de Gestão Fundiária e Patrimônio/Empresa SUAPE,
atualmente, 48 famílias residem em Tatuoca, o que perfaz um total aproximado de 185
pessoas. Há pessoas que declararam morar na área há mais de setenta anos, ainda
que haja ocupações mais recentes. Cerca de 80% das casas são de taipa, enquanto os
20% restantes correspondem a edificações de madeira.
A ocupação humana na Ilha de Tatuoca se concentra em dois setores:
1. No entorno da Escola (Foto 3.35) onde se concentra a maior quantidade de
imóveis, alguns dos quais têm uso misto, na medida em que, além de
funcionarem como residências, abrigam atividades de comércio de alimentos e
bebidas.

Foto 3.35 – (Esq.) Escola Municipal Santo André, na Ilha de Tatuoca.

Foto: Albérico Queiroz. 08/10 UTM: 281712, 9073277

2. Na parte leste da ilha, ao norte do Estaleiro Atlântico Sul, localiza-se um


segundo assentamento populacional de Tatuoca. Trata-se de algumas casas de
pescadores, com predominância da madeira como principal material construtivo.
Este setor se constitui no assentamento populacional mais próximo da área do
futuro Estaleiro PROMAR, pois se localiza dentro do recorte de 80 hectares
destinado para o Empreendedor. Neste setor verifica-se a presença de 13
imóveis de padrão construtivo apresentado na Foto 3.35.

Capítulo 3 - 232
Destaca-se o bar de “Seu Bio” e que fica aberto nos finais de semana, sobretudo
no verão. Segundo o proprietário, o movimento “está muito fraco”, em virtude da
proibição do acesso de carros através do Estaleiro Atlântico Sul e da poluição da
água, em razão da dragagem que vem sendo realizada nas proximidades.
Afirma ele que a água está suja e a praia/banco de areia, “croa”, cheia de lama.
Assim, as condições da água, consideradas inadequadas para banho, têm
desestimulado a ida de turistas que, antes, através de embarcações, chegavam
ao local, situação que tem acarretado prejuízos financeiros ao bar.

Panorâmica desde as proximidades do Bar do Bio, da dragagem e


Foto 3.36 – aterro realizada no EAS, onde se observa a pluma de sedimento na
água.

Foto: Albérico Queiroz. 08/10 UTM: 283530, 9074016

São reduzidas as áreas com explorações agrícolas, com a maior parte da população
vivendo da pesca, hoje praticada em menor escala, por conta dos parcos resultados
que vem alcançando depois da dragagem. Lembrou um pescador entrevistado que, no
terreno onde hoje está o Estaleiro Atlântico Sul, havia um local conhecido como Poça
do Sal, espécie de lagoa que, quando secava, retinha muitos peixes, além de
possibilitar a retirada de muitos sacos de sal. Segundo ele, depois da supressão do
mangue, ficou bastante prejudicada a pesca de siri açu, caranguejos, aratu ou sururu.
Como subproduto da pesca do marisco, os pescadores juntavam as cascas que eram
vendidas para decoração ou para uso em construções.
Atualmente, alguns moradores de Tatuoca trabalham em empresas instaladas no
CIPS, embora a absorção desses trabalhadores encontre obstáculos devido ao baixo
nível de qualificação da mão de obra. Na composição da renda dessas famílias, vale
ressaltar a importância de programas do Governo, como o Bolsa Família.
Traços gerais da comunidade de Tatuoca encontram-se no Estudo de Impacto
Ambiental do Estaleiro Atlântico Sul, segundo o qual as pessoas do lugar:
vivem da pesca e da coleta de frutos (manga, caju, mangaba, coco) para
comercialização na cidade do Cabo de Santo Agostinho e de Ipojuca,

Capítulo 3 - 233
núcleos com os quais mantêm estreita relação social e econômica. São
poucos os roçados uma vez que a excessiva presença de formiga de roça
impede essa atividade. Os domicílios são dispersos guardando certa
distância uns dos outros. A ilha dispõe de uma única escola, mantida pelo
município, cuja única professora, Maria José Andrade, aí leciona há 24 anos.
A Escola Municipal Santo André dispõe de uma sala de aula, oferecendo
educação fundamental de 1ª. a 4ª. Série em sistema multiserial.(...) O
município oferece capacitação pedagógica regularmente e a administração
de SUAPE sempre a convida para cursos e palestras “o que é muito bom
porque agente aprende novidades”, como afirma Maria José. (...) Os
melhores equipamentos da escola, refrigerador a gás, fogão, televisão foram
doados pela Empresa Odebrecht quando esteve executando obras em
SUAPE. Ainda foi esta empresa que, com apoio da CHESF, colocou a placa
e a bateria para energia solar e construiu um poço (doou os materiais e os
moradores entraram com a mão de obra) uma caixa d’água (...).
De modo geral, predominam os domicílios de baixo padrão construtivo, em especial os
que ficam mais próximos à praia, com paredes em madeira, como se observa nas
fotografias a seguir. As casas contam com fornecimento de energia elétrica, o que
possibilitou a aquisição de bens como televisores, geladeiras e freezer.

O passado e o futuro de SUAPE convivendo juntos no Rio


Foto 3.37 –
Tatuoca.

Foto: Albérico Queiroz. 08/10 UTM: 282096, 9072893

Segundo pessoas entrevistadas na localidade, as maiores dificuldades dizem respeito


às alternativas de locomoção e ao acesso à água potável. Depois da construção do
Estaleiro Atlântico Sul, houve a interceptação de caminhos tradicionalmente utilizados
pela população, ao que se somam as restrições, por motivo de segurança, quanto à
circulação de pessoas e veículos nos espaços utilizados pela referida Empresa.
Lembrou um morador da área que havia uma estrada, construída pela comunidade,
indo das casas próximas à praia até a escola de Tatuoca, permitindo a fácil locomoção
das pessoas dentro da ilha. Com a interdição de alguns trechos dessa estrada, só é

Capítulo 3 - 234
possível chegar às referidas casas passando-se por dentro do terreno do Estaleiro,
situação que tem prejudicado, de acordo com entrevistados, os alunos que freqüentam
a escola. Diante disso, os moradores das onze casas junto à praia têm recorrido, com
maior freqüência, ao transporte através de embarcações de pequeno porte, com
destino à Praia de SUAPE, onde fazem compras visando o abastecimento doméstico e,
também, para buscar água no Hotel, ou ainda, para, de lá, seguirem para cidades ou
municípios da região.
Em praticamente todas as residências, vêem-se tonéis destinados à captação da água
da chuva (Foto 3.38), tendo afirmado pessoas entrevistadas na ilha que a qualidade da
água das cacimbas ali existentes não são adequada para consumo humano. Afirmou
uma mulher entrevistada que “a água ficou escura e meio salgada... não presta”.
O Hotel Vila Galé, anteriormente Blue Tree Park, fez um cadastro de moradores da
área, aos quais é fornecida água e o direito de passagem através do terreno daquele
equipamento turístico.

Armazenamento de água de chuva


Foto 3.38 –
para consumo na Ilha de Tatuoca.

Fotos: Maria Lia Corrêa de Araújo

No que se refere às condições de saúde, o Estudo de Impacto Ambiental do Estaleiro


Atlântico Sul menciona que:
Agentes de Saúde da Prefeitura Municipal de Ipojuca vêm à Ilha
esporadicamente. As campanhas de vacinação são observadas
sistematicamente. A assistência à saúde é oferecida em SUAPE que
sempre faz doações à escola de remédios para verminose, tosse,
escabiose e a Prefeitura esporadicamente manda um médico para atender
a população. Quando há um caso que o saber popular entende ser mais
complexo o doente é levado para o Posto de Saúde do Distrito de N.S. do
Ó e de lá referenciado para atendimento na rede do SUS.

A diversidade de tipologias de edificações existentes na Ilha de Tatuoca pode ser


visualizada na sequência de fotografias adiante apresentadas:

Capítulo 3 - 235
Foto 3.39 – Tipologias habitacionais existentes na Ilha de Tatuoca.

Fotos: Maria Lia Corrêa de Araújo

Capítulo 3 - 236
3.6.4 Uso do Solo na AID

3.6.4.1 Restrospectiva, atualização e possíveis conflitos


O projeto em análise, Estaleiro PROMAR, está localizado no Complexo Industrial e
Portuário de SUAPE, CIPS, numa região marcada pela existência de remanescentes
ambientais, tais como manguezais, matas e áreas de reservas, ecológica e biológica,
litoral de grande beleza cênica, elementos do patrimônio histórico e cultural e ainda
áreas destinadas à indústria, com distritos industriais, bem como o próprio CIPS. Esta
localização confere ao entorno do projeto em análise peculiaridades que envolvem
possíveis impactos no uso do solo, em face da dinâmica a ele aplicada.
Neste cenário, o turismo é um segmento que, como o industrial, em SUAPE, vem
experimentando um notável crescimento impulsionado pelo volume de investimento
público diante da potencialidade de captação de receita provinda de visitantes,
estrangeiros e brasileiros, dos estados do sul principalmente, que se deslocam para
região em férias ou feriados longos. A previsão é que até 2020 sejam aplicados no
setor, investimentos públicos e privados que giram em torno de R$ 18.000.000 para
todo Estado. Deste recurso parcela significativa deverá ser direcionada para o litoral sul
do Estado, onde está o CIPS e nele a área do Estaleiro em análise, sendo 70% da
parcela pública destes recursos destinada a saneamento básico e infraestrutura urbana
(GOVERNO DE PERNAMBUCO/FUNDAÇÃO CTI NORDESTE/INDÚSTRIAS
CRIATIVAS, 2008).
Esse esforço do governo vem dando credibilidade e confiança aos investidores desse
segmento da economia, marcando um “boom” de macro-projetos turísticos voltados
para o litoral sul do Estado. Esses projetos partem das potencialidades da região, a
saber:
 Beleza cênica das praias e áreas litorâneas, o que permite oferecer um padrão
de paisagem e lazer à altura de qualquer destino turístico nacional e
internacional.
2 A oferta de trabalho de alto padrão para executivos e funcionários do CIPS e
imediações, que buscam nesses equipamentos turísticos não uma forma de
descanso e turismo, mas a possibilidade de uma primeira moradia, próxima ao
trabalho. Passando a demandar serviços de padrões de qualidade concordantes
com sua capacidade aquisitiva.
De modo mais focado, a área do CIPS está localizada em parte dos Municípios do
Cabo e Ipojuca, com impactos que seguem pelo, agora, chamado Território Estratégico
de SUAPE. Este inclui, além dos já mencionados Municípios os de Sirinhaém, Ribeirão,
Moreno, Escada e Jaboatão, com influências que, vindo pelo litoral, chega até o Recife,
principalmente na área imobiliária, como pode se constatar pelas publicações com
referência ao setor (Jornal do Comércio e Diário de Pernambuco).
Os municípios onde se localiza o CIPS, Cabo e Ipojuca, são os mais afetados pela
proximidade ao Porto de SUAPE. Essa aproximação reverte-se em impactos positivos,
principalmente em termo de arrecadação municipal, e negativo, decorrente da afluência
de grande contingente populacional que demanda cada vez mais infraestrutura de
apoio e serviços. Negativo, ainda, pela degradação ambiental que se verifica, tanto
como conseqüência da localização das indústrias, e mesmo do próprio CIPS, quanto

Capítulo 3 - 237
pelo crescimento do movimento turístico, que segue, em alguns momentos, por sobre
remanescentes ambientais.
Essa situação tende a se intensificar. Com a implantação de projetos estruturadores
como a Refinaria Abreu e Lima, Moinho Bunge, Pólo Petroquímico e o Estaleiro
Atlântico Sul, nova fase de crescimento é vivenciada e outra ainda está por vir, quando
ocorrer a implantação dos estaleiros que estão projetados (Quadro 3.25), entre eles o
Estaleiro PROMAR, objeto deste EIAC. Situação esta que faz demandar maiores
cuidados ambientais em face da proximidade de áreas urbanas e projetos turísticos de
importância ao longo do litoral sul.
Neste, na zona rural, a monocultura da cana-de-açúcar é predominante. No espaço
urbano, o loteamento tem sido a forma de apropriação do solo. Na área de SUAPE a
regulação é feita pelo zoneamento do Plano Diretor existente, no qual está assegurada
a preservação ambiental para algumas das zonas (ZPEC e áreas na ZAF), agora
ratificada, embora preliminarmente, pela definição do novo Plano Diretor (ZPA, que
corresponde a antiga ZPEC) para o CIPS (Figura 3.34).

Figura 3. 34 – Zoneamento Comparativo do CIPS

Fonte: Governo do Estado, SUAPE, Planave S.A e Projetec. Plano Diretor de SUAPE. SUAPE, julho de 2009

O CIPS, portanto, tem seu zoneamento e estrutura viária definidos em Plano Diretor
próprio, atualmente em fase de requalificação e adequação. Nesse novo Plano não
houve grandes modificações, como foi dito anteriormente, no entanto, ainda
comparando com o plano atual, através do PDZ (Plano de Desenvolvimento e
Zoneamento), já aprovado, a ZIP (Zona Industrial Portuária) passa por radical alteração

Capítulo 3 - 238
com a criação de um Cluster Naval, com layout definido e previsto sua conclusão até
2030.
Essa proposta (PDZ, 2010) altera toda a forma do território da Ilha de Tatuoca e
proximidades, envolvendo mudanças no fluxo da água e supressão de grande
extensão de manguezais ainda existentes. Essa mudança do conjunto de ilhas do
estuário dos Rios Massangana e Tatuoca foi um dos pontos principais tratados e
analisados no EIA/RIMA de 2000, conforme será analisado no item 4.2 do Capítulo 4.

O uso do solo no entorno da ADA onde prima o zoneamento oficial do CIPS, considera
ainda a compatibilidade com os Planos Diretores dos Municípios de Ipojuca e Cabo de
Santo Agostinho. Nesse sentido, o Plano Diretor elaborado para o Município do Cabo
(Figura 3.35) considera a presença do Complexo como área a ser regulada por Plano
Diretor específico, não intervindo na área, SUAPE, é tido como área especial,
requerendo tratamento específico de acordo com sua destinação. No de Ipojuca, a área
referente a SUAPE fica definida com áreas com uso e limitações que se coadunam
com o Plano Diretor do CIPS, como pode ser constatado nos trechos das cartas
elaboradas pelos mencionados municípios, como se seguem.

Figura 3. 35 – Zoneamento Planos Diretores do Cabo e de Ipojuca.

Fontes: Prefeituras Municipais

Na área de SUAPE ainda existe população residente, localizada em pequenos sítios


caracterizados pelo uso combinado residencial-agrícola de subsistência e pequeno
comércio, incluindo áreas, de terceiros, com plantio de cana-de-açúcar. As residências
adotam uma combinação de material construtivo como seja taipa, alvenaria, madeira e
outros.

Capítulo 3 - 239
3.6.4.2 Segmentos industrial e turístico: possíveis conflitos

Toda a região que compõe a AII, ao longo de sua história tem se caracterizado pelo
uso intensivo da agricultura da cana-de-açúcar, predominando, ainda nos dias atuais,
na zona rural do Estado. A monocultura da cana, portanto, tem sido o uso do solo
predominante, alavancando o crescimento econômico, mas, também, graves seqüelas
sociais e ambientais, com dinâmica peculiar, a saber.
A partir dos anos 60, no ritmo da então industrialização acelerada, a extensa ocupação
de terras para o plantio da cana começou a dar lugar a outras atividades, a exemplo do
Distrito Industrial do Cabo e, posteriormente, na década de 70, com a delimitação de
áreas rurais desapropriadas dos Municípios do Cabo e de Ipojuca, para implantação do
CIPS. As atividades industriais atraíram, naturalmente, mão de obra específica. Esta
seguiu fixando-se nas proximidades, associando-se ao fluxo turístico que afluía à
região atraída pela beleza da paisagem do entorno, que conta com um extenso litoral
de praias e ecossistemas naturais e elementos do patrimônio histórico cultural. Assim,
ao uso industrial uniram-se o turístico e o residencial, de primeira ou segunda moradia.
Esse uso teve seu crescimento intensificado pela abertura de loteamentos, que com
maior intensidade ocupou os municípios periféricos, principalmente o Cabo e, em
menor escala, Ipojuca, voltando-se para atender à demanda por moradia de finais de
semana, para lazer, e dos trabalhadores da indústria, do turismo e dos serviços que
seguiam, precariamente, o crescimento da região.
Na última década a atividade industrial tem sido intensificada como caminho para o
desenvolvimento a partir de maciços investimentos, federal e estadual. Estes através
de incentivos voltaram-se à infraestrutura, buscando a melhoria de acessos ao Porto de
SUAPE, favorecendo a implantação de equipamentos de serviços (hotéis, pousadas,
resorts, shopping Center e restaurantes) na região, principalmente nas áreas lindeiras
às principais vias de acesso, PE-60 e BR-101, com vistas ao atendimento à demanda
crescente na região.
Paralelamente, o setor industrial e o turístico, nessa região, têm contribuído fortemente
para a economia do Estado, sendo que o turismo vem se constituindo pelos
importantes roteiros, com repercussão nacional e, por vezes, internacional em função
da paisagem local e regional. Essas atividades, contudo, merecem especial atenção do
ponto de vista do desenvolvimento sustentável, uma vez que impactam fortemente o
ambiente da região, com importantes ecossistemas já bastante degradados e
ameaçados tanto pela monocultura da cana-de-açúcar, quanto pela implantação de
áreas voltadas à indústria e, mais recentemente na história, pelo turismo, em alguns
momentos, predatório. À cultura da cana-de-açúcar, responsável pela quase total
destruição da Mata Atlântica, que outrora ocupava toda essa região, persistem
pequenos fragmentos de mata, nos topos íngremes dos morros, impróprios para o
cultivo, no entanto, ainda predominante no uso do solo da região, adentrando em todos
os espaços, até mesmo em áreas internas do Complexo.
No CIPS, na área na qual se pretende erguer o Estaleiro PROMAR, em análise,
existem elementos da paisagem natural, expressando a beleza do lugar, e construídos,
marcando o nível de interferência já existente na área, que coexistem nos dias atuais.
Na medida em que cresce o Porto de SUAPE diminuem as áreas de manguezais,
tratadas como reservas de território para expansão de área a ser construída no CIPS.
No ano 2000, com o EIA/RIMA realizado, já era evocado o princípio de precaução para
Capítulo 3 - 240
que áreas de manguezais fossem liberadas da supressão, até que houvesse, de fato,
necessidade de utilização, sem nenhuma alternativa locacional para empreendimentos
ou qualquer tipo de ambiente construído. Neste mesmo período, quando da melhoria e
adequação do porto, envolvendo construção de cais, houve substancial redução nas
áreas de manguezais, não tendo sido, no entanto, acompanhada de compensação
ambiental, como exigido pelo referido EIA/RIMA.
Finalmente, ressalta-se que o crescimento acelerado do Porto de SUAPE, como um
pólo industrial portuário, precisa ser acompanhado por uma estrutura ambiental
adequada que o atenda e que priorize, também, compensações e projetos básicos
ambientais, de modo a buscar minimizar, quando possível, mas sempre compensar os
danos causados não só no presente, mas também no futuro. Desse modo, os impactos
ambientais oriundos da implantação desse novo Empreendimento, deverão ser
acompanhados de determinação das respectivas medidas compensatórias,
principalmente nos casos de eliminação de importantes áreas de manguezais e
medidas de segurança aos danos ambientais.

3.7 DIAGNÓSTICO DE PATRIMÔNIO CULTURAL

3.7.1 Contexto do diagnostico de Patrimônio Cultural

Os estudos de diagnóstico do Patrimonio Histórico e Cultural associados à implantação


do Estaleiro PROMAR S.A na porção leste da Ilha de Tatuoca, seguiram as diretrizes
mestras do estudo como um todo, no sentido de complementar as informações
arqueológicas já constantes nos Estudos de Impacto Ambiental precedentes,
notadamente o EIA/RIMA de Ampliação e Modernização do Porto de SUAPE do ano
2000 e o EIA/RIMA para instalaçã do Estaleiro Atlântico Sul na área vizinha do
Empreendimento.
Nesse sentido e referente ao primeiro dos dois documentos supracitados, destaca-se
que é no item 7.4.5 do referido documento, onde constam todas as informações de
Patrimônio Cultural associadas ao Porto de SUAPE e levantadas no ano de 2000. O
documento traz uma relação completa dos principais pontos arqueológicos, conhecidos
dentro do CIPS, ficando-se principalmente na relação de Engenhos e no patrimônio do
Cabo de Santo Agostinho, na Vila de Nazaré.
Já no caso do Estaleiro Atlântico Sul, na consulta ao EIA/RIMA não se identificou
nenhum capítulo onde se relacionassem informações relacionadas com Patrimônio
Cultural e Arqueológico.
Assim, considerando as informações existentes nesses dois documentos, planejaram-
se os trabalhos de complementação focado em dois objetivos:
1. Atualizar as informações existentes em termos das pesquisas arqueológicas que
se vem desenvolvendo dentro do CIPS para efeitos de instalação de
infraestrutura.
2. Reconhecimento superficial na ADA, tendente à identificação de vestígios em
superfície.

Capítulo 3 - 241
3.7.2 A Arqueologia na AII após o EIA de 2000

3.7.2.1 As pesquisas arqueológicas recentes na AII

As pesquisas arqueológicas realizadas no Litoral do Sul do Estado de Pernambuco têm


avançado em conformidade com as exigências do IPHAN e vêem complementando os
dados históricos, assim como ajudando a confirmar as informações etnohistóricas.
Essas pesquisas permitem afirmar que existe um rico patrimônio histórico-cultural e
arqueológico nas áreas de influência Indireta e Direta do Empreendimento, constituído
de ocupações pré-históricas, históricas e de contato com os colonizadores.
Vários projetos de salvamento arqueológico já foram desenvolvidos nesses municípios
fornecendo dados sobre esses períodos. Em 1998, o projeto do Gasoduto Alagoas –
Pernambuco (GASALP), realizado pela Fundação Seridó, identificou neste município,
localizados nos morros, dentro de plantações de cana-de-açúcar, quatro ocorrências
pré-históricas e uma ocorrência arqueológica histórica.
Outros estudos de prospecção, prospecção intensiva e salvamento arqueológico
realizados na área, como o da Refinaria do Nordeste, da Duplicação das Rodovias PE-
60 em 2007, do Empreendimento Moinho de Processamento de Trigo Bunge Alimentos
S.A em 2007, Contorno Viário do Cabo em 2009, da Barragem de Ipojuca 2009, da
TDR Norte em 2010 e do Terminal Marítimo na Ilha de Cocaia em 2010 evidenciaram,
ainda nos Municípios de Ipojuca e do Cabo, dezenas de sítios e ocorrências
arqueológicas assim com um vasto patrimônio histórico dos Engenhos de cana-de-
açúcar.
O patrimônio histórico e arqueológico encontrado até o presente demonstra que os
municípios do Litoral Sul de Pernambuco, apresentam zonas de significativo potencial
arqueológico, principalmente histórico, a partir dos remanescentes materiais de vários
engenhos, de diferentes períodos, e de importância para a história colonial brasileira.
As evidências arqueológicas localizadas nos Municípios de Cabo de Santo Agostinho e
Ipojuca foram classificadas neste relatório como ocorrências ou sítios arqueológicos,
sendo estas duas classes subdivididas em históricos, pré-históricos e
multicomponenciais.
Evidências arqueológicas são fragmentos de cerâmica pré-histórica e histórica, ruínas
ou edificações representativas de uma época e material lítico de quartzo e sílex com
evidências de uso, que serviram como utensílios ou ferramentas para o homem pré-
histórico.
De acordo com os diversos fatores que envolvem essas evidências é que se determina
a denominação de ocorrências ou sítios arqueológicos. Quando são pré-históricas,
estão geralmente localizadas nos topos e nas áreas de declive do morro. Muitas delas
já estão impactadas por conta do plantio de cana-de-açúcar. As históricas ou
multicomponencias também são encontradas em topos e declives de morros, porém a
incidência maior é de localização no pé do morro, onde são encontradas estruturas de
casas de antigos sítios de moradores.
O material cerâmico é um bom indicativo dos usos e costumes dos povos pretéritos.
Para se estudar esse material separam-se os fragmentos para classificá-los. Os
fragmentos são divididos então em borda, bojo, base, alça e pelos tamanhos e

Capítulo 3 - 242
espessuras variadas. Nas ocorrências históricas o material arqueológico corresponde a
fragmentos de cerâmica histórica, louça colonial, louça recente, telhas, tijolos ou
mesmo ruínas e edificações onde se podem pesquisar as técnicas construtivas.

3.7.2.2 Ocorrências históricas e pré-históricas da AII

Os quadros abaixo contêm as principais ocorrências encontradas na área de influência


indireta do Empreendimento pelas pesquisas citadas acima.

QUADRO 3.36 – Ocorrências pré-históricas identificadas na AII.

Nome Município Coordenadas Altitude Tipo


UTM 25L
Ocorrência BI - 01 Ipojuca 115 m Pré-Histórica
262463/9074864
Lat.: S 8°22’58” Long. W
Ocorrência GL- 45 Ipojuca Pré-Histórica
35°03’28”
Lat.: S 8°22’45” Long. W
Ocorrência GL-46 Ipojuca Pré-Histórica
35°03’06”
Lat.: S 8°22’44” Long. W
Ocorrência GL-47 Ipojuca Pré-Histórica
35°02’51”
Lat.: S 8°22’32” Long. W
Ocorrência GL-48 Ipojuca Pré-Histórica
35°02’40”
Ocorrência PE 60 - 1 Ipojuca 0274864/9072922 53 m Pré-Histórica
Ocorrência PE 60 - 3 Ipojuca 0271552/9068272 46m Pré-Histórica
Ocorrência PE 60 - 4 Ipojuca 0269870/9065682 76m Pré-Histórica
Ocorrência PE 60 - 05 Ipojuca 0269473/9063508 103m Pré-Histórica
Ocorrência PE 60 - 06 Ipojuca 0269164/9063368 86m Pré-Histórica
Ocorrência PE 60 - 07 Ipojuca 0268942/9064328 71m Pré-Histórica
Ocorrência PE 60 - 08 Ipojuca 0270284/9056818 86m Pré-Histórica
Ocorrência RNEST 01 Ipojuca 9073741 E / 0273741 27 m Pré-Histórica
Ocorrência RNEST 02 Ipojuca 9074044 E / 0276576 57 m Pré-Histórica
Ocorrência RNEST 03 Ipojuca 9073987 E / 0277040 47 m Pré-Histórica
Ocorrência RNEST 05 Ipojuca 9072820 E / 0276024 25 m Pré-Histórica
Ocorrência RNEST 06 Ipojuca 9072086 E / 0276333 7m Pré-Histórica
Ocorrência ND-23 Cabo 0275167 E / 9092142 N Pré-Histórica
Lat.: S 8°19’35” Long. W
Ocorrência GL- 50 Cabo Pré-Histórica
35°02’26”
Lat.: S 8°19’31” Long. W
Ocorrência GL- 51 Cabo Pré-Histórica
35°02’39”
Ocorrência BI - 02 Ipojuca 258818/9073910 100 m Multicomponencial
Ocorrência BI - 05 Ipojuca 261968/9073415 150 m Histórica
Ocorrência BI - 03 Ipojuca 259810/ 9073806 112 m Histórica
Ocorrência BI - 04 Ipojuca 260140/9073826 108 m Histórica
Lat.: S 8°22’58” Long. W
Ocorrência GL-49 Ipojuca Histórica
35°03’28”
Ocorrência PE 60 - 2 Ipojuca 0274660/9071950 Histórica
Ocorrência RNEST 07 Ipojuca 9071708 E / 0276024 25 m Histórica
Ocorrência RNEST 04 Ipojuca 9072915 E / 0277193 44 m Histórica
Ocorrência ND-24 Cabo L 0275665 E / 9088042 Histórica
Ocorrência ND-25 Cabo 0275515 E / 9087102 N Histórica
Lat.: S 8°18’07” Long. W
Ocorrência GL-52 Cabo Histórica
35°02’44”
Lat.: S 8°16’23” Long. W
Ocorrência GL-53 Cabo Histórica
35°02’23”

Capítulo 3 - 243
As fotos a seguir mostram exemplos do tipo de vestígios que vem sendo encontrados
no CIPS e sua Área de Influência.

Foto 3.40 – Exemplos da tipologia de vestígios que vem sendo encontrados no CIPS e na AII.

(a) Ocorrência. BI 01 – Material lítico lascado (d) Ocorrência PE 60-04 cerâmica


(b) Ocorrência BI 02 – Afiador 01 (e) Ocorrência PE 60-06 – afiador
(c) Ocorrência BI 03 – Louça (f) Ocorrência ND -24 cerâmica histórica

Fotos: Equipe Arqueológica

Outros sítios históricos foram identificados na instalação da Refinaria Abreu e Lima. Na


maioria são sítios situados na meia encosta e na área plana das colinas. Em raros
casos, como no sítio RNEST 26, os sítios estão situados em várzeas, rodeada de
colinas cultivadas com cana. Nestes sítios foram encontrados fragmentos de louça,
ferro, faiança, telhas, cerâmica vermelha e fragmento de afiador em arenito. Em outros
sítios foram encontradas estruturas de fundações de moradia de taipa, cachimbos luso-
brasileiro, cerâmica vitrificada, colher de metal e, mais raro, moedas. Nesses tipos de
sítios é comum se encontrar concentrações de conchas de ostras e mariscos,
associados a fragmentos de louças, grés, cerâmica e ferro.
Os sítios pré-históricos localizados no Município de Ipojuca, como no caso das
ocorrências estão nos topos e nas meias encostas das colinas. Alguns desses sítios e
ocorrências estavam próximos às torres de linha de transmissão. Neles foram
encontrados vestígios cerâmicos e líticos dispersos em áreas amplas, variando em
torno de 100 m2 a 200 m2. Além da cerâmica com características da tecnologia
indígena, foram encontradas lascas e núcleos em sílex.

Capítulo 3 - 244
Quadro 3.37 – OCORRÊNCIAS HISTÓRICAS IDENTIFICADAS NA AII.

Nome Município Coordenadas Altitude Tipo


UTM: 25 L 9073841 E /
Sítio RNEST 06 Ipojuca 50 m
0277201
UTM: 25 L 9073633 E /
Sítio RNEST 07 Ipojuca 40 m
0277216
UTM: 25 L 9073751 E /
Sítio RNEST 09 Ipojuca 38 m
0276309
UTM: 25 L 9073713 E /
Sítio RNEST 10 Ipojuca 45 m
0277264
UTM: 25 L 9073889 E /
Sítio RNEST 17 Ipojuca 74 m
0278268

3.7.3 Atualização do Diagnóstico de Patrimônio Cultural na AID


A vistoria realizada pela equipe arqueológica na área de influência direta do
Empreendimento registrou a importância do patrimônio cultural do Conjunto Histórico
da Vila Nazaré do Cabo de Santo Agostinho e da Ilha de Cocaia.

3.7.3.1 Conjunto Histórico da Vila de Nazaré


Localizado no Parque Metropolitano Armando de Holanda Cavalcanti, ao lado da baía
de SUAPE. É um dos núcleos mais antigos do litoral de Pernambuco. A história deste
núcleo está relacionada principalmente com o período holandês. Apresenta edifícios
conservados e em ruínas.

Antiga casa do faroleiro: localizada na Vila de Nazaré. A construção original data do


final do século XIX. Encontra-se em ruínas.
Museu do Pescador: localizado na Vila de Nazaré. Fundado em 2003.
Igreja de Nossa Senhora de Nazaré: localizada na Praça da Aurora, Vila de Nazaré,
no ponto mais elevado do Cabo de Santo Agostinho ao lado das ruínas do Convento
Carmelita e do Cemitério. Foi construída originalmente no século XVI. Encontra-se em
bom estado de conservação.
Ruínas do Convento Carmelita: localizado na Vila de Nazaré ao lado da Igreja de
Nossa Senhora de Nazaré. Foi construído no século XIX, mas atualmente encontra-se
em ruínas (Foto 3.41a).
Ruínas da capela velha: localizado na Vila de Nazaré nas proximidades da Igreja de
Nossa Senhora de Nazaré. Encontra-se em ruínas (Foto 3.41b).

Capítulo 3 - 245
Foto 3.41 – (a) Ruínas do Convento Carmelita (b) Ruínas da Capela Velha na Vila Nazaré.

Fotos: Equipe Arqueológica

3.7.3.2 Edificações militares


Forte de Gaibu: construído entre 1755 e 1763. Encontra-se em ruínas.
Quartel do Forte de Gaibu: construído no século XVIII.
Forte Castelo do Mar: localizado na Vila de Nazaré, na extremidade sul do Cabo de
Santo Agostinho. Tem construção de 1632 e encontra-se em ruínas.
Quartel Velho do Cabo de Santo Agostinho: localizado na porta sul do Cabo de
Santo Agostinho. Foi construído em 1632. Está abandonado (Foto 3.42a).
Ruínas das Baterias de São Jorge: localizado no Cabo de Santo Agostinho.
Construídas sobre os afloramentos graníticos do Cabo, bem próximas ao mar.
Forte do Pontal de SUAPE: localizado nas margens do Rio Massangana na porção
norte do pontal de SUAPE. Era uma bateria marítima voltada para a defesa do
fundeadouro; tinha a forma quadrada e foi edificado pelos portugueses em 1633 e
tomado pelos holandeses em 1634 passando a ser denominado de Van Der Dussen
(Foto 3.42b).
(a) Ruínas do Quartel do Cabo de S. Agostinho (b) Ruínas do Forte do Pontal
Foto 3.42 –
de SUAPE.

Fotos: Equipe Arqueológica

Capítulo 3 - 246
3.7.3.3 Ilha de Cocaia
A ilha denominada atualmente como Ilha de Cocaia (Foto 3.43a), na verdade uma
formação de três ilhas cortadas por mangue denominadas de Oiteiro Alto Ilha do
Cachorro e Ilha do Francês, que se somam a Tatuoca e a da Cana, formando um
arquipélago cortado por mangues. A verdadeira Ilha de Cocaia era situada onde hoje
está a TECON. O antigo proprietário desse aglomerado era o senhor de Engenho
Sebastião Cabral que foi responsável pelo plantio de coqueiros no Oiteiro Alto.
Durante os trabalhos de prospecção arqueológica realizados no mês de março de
2010, por esta equipe foram identificadas muitas estruturas de casas, vestígios de casa
de farinha (Foto 3.43b), ruínas de uma olaria (Foto 3.43c), restos de pisos, tijoleiras
(Foto 3.43d), áreas com restos alimentares e fragmentos de louça, cachimbo e
cerâmica histórica.

Foto 3.43 – Exemplos de vestígios encontrados na Ilha de Cocaia.

(a) Ilha de Cocaia


(c) Estrutura de forno conhecida localmente como “Olaria”
(b) Estrutura de forno conhecida localmente como “Casa de Farinha”
(d) Estrutura de tijoleira

Fotos: Equipe Arqueológica. Entorno do ponto UTM: 283835, 9073772

Capítulo 3 - 247
Nessa ilha hoje denominada de Cocaia, na época dos holandeses foi construída uma
fortaleza para completar a defesa da costa junto com o Forte do Pontal e a Fortaleza
de Nazaré. A ilha de Cocaia tem um grande potencial arquitetônico pela intensa
ocupação nos diversos períodos da colonização portuguesa e na invasão holandesa.
Nesse sentido, destaca-se que nas pesquisas e consultas realizadas junto ao IPHAN,
foi identificada a existência do processo n° 875-T- 73 do IPHAN, tendente a efetuar o
tombamento do “Conjunto de Áreas da Baía de SUAPE e do Cabo de Santo
Agostinho”, em cujo perímetro se inclui a porção norte da Ilha de Cocaia e parte leste
da Ilha de Tatuoca, abrangendo uma porção da área do Empreendimento.

A proposta de tombamento inicial realizada há 37 anos, já sofreu várias modificações


decorrentes das pesquisas desenvolvidas na área. Recentemente com o anúncio da
construção de um terminal de minério de ferro na Ilha de Cocaia por parte de SUAPE,
foram iniciadas as pesquisas arqueológicas intensivas na área correspondente,
tendentes à procura de vestígios. Esse mesmo procedimento seria extensivo à faixa de
terreno da Ilha de Tatuoca, inserido também nesse contorno preliminarmente
delimitado pelo IPHAN.

3.7.3.4 Ilha de Tatuoca


Vistorias de superfície foram realizadas pela equipe arqueológica da Moraes &
Albuquerque Advogados e Consultores do lado sul da Ilha de Tatuoca, em abril de
2010.
Embora a área tenha-se encontrado bastante impactada por ações antrópicas,
principalmente decorrentes da construção do Estaleiro Atlântico Sul, foram identificados
alguns vestígios, que já direcionam para a necessidade de uma prospecção intensiva
nesse setor da Ilha de Tatuoca principalmente. A vistoria apontou que existem muitas
ruínas históricas nas imediações, de engenho e de casa de melaço, entre outras
informações importantes.
Nas áreas de cotas mais altas, nas imediações da escola, foram localizados vestígios
históricos, bem como cerâmica indígena.

3.7.4 Vistoria de superfície na Área Diretamente Afetada (ADA)


A vitória superficial na Área Diretamente Afetada (ADA) pelo Empreendimento foi
dificultada pela presença da vegetação de Restinga e de Mangue. Nas áreas abertas
de salgados e apicuns, não foram identificados vestígios em superfície.

Capítulo 3 - 248

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