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Capítulo 3 - 111
3.1 APRESENTAÇÃO DO CAPÍTULO
O item 3.8 do Termo de Referência da CPRH direciona os trabalhos de diagnóstico
para uma complementação das informações já constantes nos estudos correlatos
efetuados na área com finalidades de licenciamento de outros empreendimentos. São
citados no referido TR os estudos desenvolvidos para o Estaleiro Atlântico Sul de 2007
e do EIA/RIMA de AMPLIAÇÃO E MODERNIZAÇÃO DO PORTO DE SUAPE do ano
2000. Poderia-se acrescentar a este conjunto de estudos o Relatório de Avaliação
Técnica de Impacto Ambiental (ATIA) de EXECUÇÃO DE SERVIÇO DE DRAGAGEM
PARA APROFUNDAMENTO DO CANAL DE ACESSO E BACIA DE MANOBRA, E
PARA A IMPLANTAÇÃO DO PÍER PETROLEIRO, TUBOVIA E PROLONGAMENTO E
REFORÇO EXTERNO DO MOLHE PRINCIPAL, elaborado pela Empresa DBF
Planejamento e Consultoria em 2008.
As complementações a que se refere o TR foram interpretadas pela equipe
elaboradora deste estudo, como as informações necessárias para permitir uma
avaliação da qualidade ambiental atual do local de implantação do Empreendimento.
Nesse sentido, aprofundaram-se as pesquisas naqueles aspectos de maior
sensibilidade que poderiam ter sido alterados pela atividade industrial do Porto desde
2007 e mais ainda desde 2000, quando da elaboração do EIA de SUAPE. Essas
informações referem-se principalmente a aspectos relacionados com qualidade d’água
e biota aquática.
Conforme exigido no TR, os levantamentos efetuados foram abordados em dois níveis
de detalhamento: Com foco na caracterização da Área de Influência Indireta, onde a
fonte de informações principais foram os estudos existentes e planos co-localizados, e
Com foco na caracterização da Área de Influência Direta (AID) e Área Diretamente
Afetada (ADA) onde primaram os levantamentos diretos de campo. Embora as
abordagens de levantamento de dados tenham sido diferenciadas para as áreas de
influência Direta e Indireta, a análise e interpretação de informações foram feita de
forma complementar, em um processo iterativo onde os levantamentos de dados
secundários direcionavam a necessidade de obtenção de dados primários, os quais,
após obtidos, complementavam e balizavam as informações inicialmente levantadas.
Capítulo 3 - 112
proposta e desenvolvida por cada especialista, mas seguindo um objetivo comum
definido pela coordenação, notadamente que nos resultados obtidos pudessem ser
identificados três tipos de informações: a história das transformações ambientais do
território, o inventário ambiental com a descrição das alterações ecológicas ou
ambientais existentes, e finalmente, a valoração do estado atual do meio ambiente.
Capítulo 3 - 113
Salienta-se que alguns impactos diretos e relevantes do Empreendimento deverão
extrapolar os limites supracitados, notadamente, os referentes à disposição do material
proveniente da dragagem e que, por suas características, não possam ser usados nos
retro-aterros requeridos pelo cluster naval. Este material deverá ser lançado, ora em
bota-foras oceânicos devidamente licenciados, ora em bota-foras continentais
igualmente licenciados. Contudo, esta atividade que está sob a responsabilidade direta
da Empresa SUAPE, ainda não apresenta um projeto com a indicação das áreas de
destinação final de material, convertendo-se em uma limitante do estudo, uma vez que
impossibilita a extensão da AID para esses locais. Salienta-se adicionalmente que a
dragagem será realizada abrangendo grande parte do futuro cluster naval, não estando
restrita somente ao atendimento das necessidades do Estaleiro PROMAR.
Em termos socioeconômicos considera-se que o recorte de terreno definido acima
como AID, atende também as necessidades de diagnóstico relacionadas com a
dimensão social, tanto para a etapa de implantação como de operação. Observa-se
que, embora a área de instalação e adjacências do Empreendimento esteja inserida na
Zona Industrial Portuária-ZIP, ainda são encontradas edificações residenciais ou de
uso misto, que são objeto de um processo de negociação, envolvendo a Empresa
SUAPE e moradores do lugar, intermediado pela Associação de Tatuoca e do
Ministério Público, e visando à total desocupação dos terrenos com vistas à instalação
do cluster naval.
1
MULTICONSULTORIA. Estaleiro Camargo Corrêa, Porto de SUAPE - PE. Estudo de Impacto
Ambiental. Recife, 2004, Cap. 8, p.2.
2
Disponível no endereço www.portais.pe.gov.br, consulta em 5/4/2010.
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construir de forma participativa e integrada um referencial de ação, que oriente as
iniciativas dos diferentes atores na construção do Território do entorno do Complexo
Portuário de SUAPE, de forma a alcançar o seu desenvolvimento sustentável.
Assim, a AII ficou formada pelo seguinte conjunto de Municípios: (1) Cabo de Santo
Agostinho; (2) Ipojuca; (3) Escada; (4) Jaboatão dos Guararapes; (5) Moreno; (6)
Sirinhaém; (7) Ribeirão; (8) Rio Formoso.
A inserção do Empreendimento no Complexo Industrial Portuário de SUAPE, CIPS,
onde o funcionamento do cluster naval projetado indica a probabilidade de impactos
cumulativos e sinérgicos que poderão advir das atividades a serem desenvolvidas na
área. No entanto, considera-se que, do ponto de vista das relações socioeconômicas, a
maior intensidade dos impactos do Empreendimento estudado deverá acontecer nos
Municípios de Ipojuca e do Cabo de Santo Agostinho. Destaque-se, ainda, que o
Empreendimento provocará impactos para além dos limites acima mencionados, em
particular no que se refere à geração de emprego e renda, tópico que será abordado no
Prognóstico, mas prescinde de diagnóstico mais acurado, pelo fato de estudos
anteriores já haverem abordado essas questões3.
3
PIRES ADVOGADOS & CONSULTORES LTDA. EIA/RIMA de ampliação e modernização do Porto de
SUAPE, 2000; MULTICONSULTORIA: EIA/RIMA do Estaleiro Atlântico Sul (Camargo Corrêa), 2004;
MORAES & ALBUQUERQUE ADVOGADOS E CONSULTORES. Estudo de Impacto Ambiental do
Contorno Rodoviário do Cabo de Santo Agostinho, 2010.
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Uma área de Porto Externo foi criada adjacente a área central da ZIP, com a
construção de um molhe de proteção em forma de "L", com 2.950 m de extensão, a
partir de 1984. Nesta área foram implantados o Píer de Granéis Líquidos (PGL1) e o
Cais de Múltiplos Usos (CMU), possibilitando o início da operação do Porto de Suape
ainda naquele ano. A construção do segundo Píer de Granéis Líquidos (PGL2) foi
concluída em 2001.
Em 1997, um trecho de 300m do arrecife principal foi aberto para dar acesso à área de
Porto Interno. A 1ª Etapa do Porto Interno foi concluída em 1999 e inaugurada com a
atracação do navio Sea Panther em seu primeiro berço, um caís público de múltiplos
usos, com 275 metros de extensão, e aberto ao tráfego marítimo nacional e
internacional. Neste mesmo ano, foi apresentado o Projeto Básico de Ampliação e
Modernização do Porto de Suape. Este projeto visava ampliar e melhorar a capacidade
operacional do Porto de Suape de modo a permitir a entrada e operação de navios de
grande porte, atrair a instalação de indústrias e terminais privados, redução de custos,
e assim maior competitividade no setor.
Em 2001, foi iniciada a 2ª etapa do Porto Interno, com a continuação das dragagens do
canal de navegação. Em 2003, o canal de navegação interno apresentava 1.500m de
extensão, 450 m de largura e 15,5 m de profundidade. Os berços 2 e 3, cada um com
330 m de extensão, haviam sido concluídos e passaram a atender o Terminal de
Contêineres Privados.
Posteriormente, em 2007, o canal de navegação interno foi estendido por mais 450 m e
concluído o berço 4, com 330, abrigando o Terminal de Granéis Sólidos do Porto de
Suape.
A construção do cais 5, com 330 m de extensão e 34 m de largura, foi iniciada em 2008
e concluída em 2009. Estão também prevista a construção de 3 berços adicionais
dentro do potencial de expansão de mais 15 km de cais acostável possíveis e que
comportarão os cais 6, 7 e 8.
Em 2009, a bacia de manobras do Porto Externo foi dragada e ampliada e um píer
petroleiro vem sendo construído para permitir manobra e atracação dos navios
petroleiros que estarão servindo a Refinaria Abreu e Lima. Ao longo de 2010, a bacia
de manobras do Porto Interno, a área nas imediações do Estaleiro Atlântico Sul e os
setores norte e oeste do canal da Ilha de Tatuoca deverão ser dragadas.
Recentemente, julho/2010, foi apresentado em audiência pública, a empresários e
representantes da sociedade civil, a revisão do Plano Diretor de Suape, que contempla
as ações previstas na área até 2030. Este plano prevê um cluster naval, na área da
Ilha de Tatuoca, onde atualmente acha-se instalado o Estaleiro Atlântico Sul e está
localizado o terreno no qual está prevista a instalação do Estaleiro PROMAR.
A instalação deste cluster implicará no desmatamento de áreas de mangue (893,4 ha),
de mata atlântica (17,0 ha) e de restinga (166,1 ha) para instalação dos novos
empreendimentos e aberturas de canais de navegação. Entendendo que o impacto da
perda da vegetação seria inevitável, mas de interesse público, a ocupação da área
para instalação do cluster náutico foi autorizada pela Lei Estadual 1496/2010.
O histórico de implantação do CIPS sumarizado nos parágrafos acima permite elucidar
que a dinâmica de transformação vem apresentando um comportamento de maior ou
menor intensidade ao longo dos anos, iniciando-se no final da década de 70 quando da
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desapropriação das terras e implantação da primeira etapa do porto. A partir daí o
Porto de SUAPE continuou com seu processo de transformação com a construção da
primeira etapa do porto interno, na qual foi requerida a supressão de parte dos
manguezais localizados no estuário que na época formavam os Rios Massangana,
Tatuoca, Merepe e Ipojuca. Em épocas mais recentes as principais transformações do
Porto de SUAPE estiveram relacionadas com a implantação da Refinaria Abreu e Lima,
que modificou o relevo de uma área de 600 hectares, passando de uma formação
colinosa a uma formação tabular. Agora, vislumbra-se um novo ciclo de transformação
do Porto com a expectativa de implantação do cluster naval na zona portuária, o que
implicará em um novo processo de supressão de manguezais, restingas e alguns
remanescentes de mata atlântica.
Observa-se que a maior parte destas transformações do Porto de SUAPE ocorreram
na área baixa correspondente à planície costeira, no estuário que hoje formam
unicamente os Rios Massangana e Tatuoca e que, conforme item 3.2.1, coincide com a
delimitação definida por este estudo como AID.
O referido estuário é formado pelas Ilhas da Cocaia, Tatuoca, da Cana e dos Barreiros,
contidas no Município de Ipojuca e pela Ilha das Cobras, no Cabo de Santo Agostinho.
Todas são ilhas sedimentares cobertas por extensos manguezais. A Gamboa do
Barroco que fica por trás da faixa da Praia de SUAPE também é coberta de
manguezais.
Estas ilhas são ecossistemas isolados que resultaram de acidentes geográficos do
relevo continental ou da plataforma submarina, da ação de vulcões, ou da
sedimentação de materiais. No caso em apreço, as ilhas apresentam uma
característica fluvial, com grande parte das suas margens protegidas por mangues,
sendo as espécies mais comuns identificadas o Mangue Vermelho (Rhizophora
mangle), o Mangue Branco (Laguncularia racemosa), a Siriúba (Avicennia sp.) e o
Mangue de Botão (Conocarpus sp.).
Conforme já dito, das áreas que formam o Porto de SUAPE, a zona estuarina é a que
vem apresentando os processos de transformação mais drásticos, começando pela
ruptura da linha de arrecifes para efeitos de abertura do canal de navegação, que daria
acesso ao Porto. Esta transformação inicial eliminou a ilha original de Cocaia, sendo o
seu nome transferido para uma ilha mais ao norte. Com efeito, conforme consta no
capítulo de oceanografia física do EIA do EAS, até o início da implantação do
Complexo Industrial Portuário de SUAPE em fins da década de 70, as águas dos rios
Ipojuca e Merepe convergiam para a Baía de SUAPE e, juntamente com as dos Rios
Tatuoca e Massangana, comunicavam-se com o mar por meio de uma barra natural
próxima ao Cabo de Santo Agostinho, única comunicação aberta daqueles sistemas
com o Atlântico. O aterro realizado para instalação da zona portuária do CIPS, isolou o
fluxo dos Rios Ipojuca e Merepe da Baía de SUAPE com suas drenagens passando a
ocorrer via um rebaixamento realizado no recife.
Um aspecto importante que deve ser observado é que em SUAPE, ao longo destes
últimos 30 anos, nem tudo foi decadência dos ecossistemas naturais. Além dos
projetos de reflorestamento e preservação ambiental promovidos pelo CIPS, o fato das
terras terem sido congeladas para efeitos de cultivo, promoveu uma recuperação dos
ecossistemas naturais em áreas, verificando-se, por exemplo, o avanço das áreas de
mangue, restinga e mata sobre áreas, que antes da implantação do porto,
apresentavam solo exposto ou cultivos. Esta situação pode ser visualizada mais
Capítulo 3 - 117
claramente na Figura 3.2, que ilustra as condições da drenagem original da área antes
da implantação do CIPS.
R.
Ma
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a
tu oc
Ta
R.
uca
R.Merepe
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R.I
Fonte: AMS Assessoria e Consultoria Ltda. Estudos de consolidação de informações arqueológicas do CIPS.
Capítulo 3 - 118
A formação topográfica da Ilha é enganosamente plana, com cotas altimétricas que
variam desde o zero hidrográfico até a cota 5,0m na porção sul do terreno limitando
com o EAS. Estas elevações do terreno possivelmente correspondem a aterros
antrópicos efetuados por SUAPE quando da dragagem da primeira etapa do canal de
navegação.
Na área de 131,0 hectares podem ser verificadas diversas tipologias de cobertura
vegetal, funções estas da altimetria do terreno, que determina a inter-relação com o
fluxo e refluxo da maré. Nas áreas mais externas da área localizada em cotas mais
baixas podem ser observados áreas de manguezais de diversas densidades e graus de
conservação, as quais dão passo a uma faixa de apicuns e salgados na medida em
que se adentra na área e as cotas se elevam de forma gradativa. Essas áreas de
salgados estão protegidas com vegetação rasteira, sendo nomeada pelos moradores
locais como “salinas”. Estes ecossistemas se intercalam com formações arbóreas e
arbustivas arbóreas de restinga.
Na área, verificam-se em torno de 13 imóveis de residentes na Ilha de Tatuoca, todas
localizadas do lado nordeste do terreno. O ponto de maior visibilidade é o denominado
“Bar do Bio”, que fornece alimentação para os funcionários do Estaleiro Atlântico Sul e
é freqüentemente visitado por turistas que se deslocam em lancha desde a Praia de
SUAPE. Foram verificados também afloramentos de arenito do lado norte da Ilha, bem
como pequenos processos erosivos nas bordas da Ilha, principalmente do lado oeste,
já nas margens do Riacho da Cana.
Foto 3.1 – Panorâmica norte – sul da Ilha de Tatucoca, no canal que a separa da vizinha Cocaia.
Capítulo 3 - 119
A Bacia de Pernambuco, na qual se insere a AID do Empreendimento, corresponde a
uma sequência vulcano-sedimentar de idade cretácica composta, na área de influência
do Empreendimento, da Formação Cabo, da Suíte Magmática Ipojuca, da Formação
Estiva e da Formação Algodoais (Figura 3.3).
A. Bacia do Cabo
Posicionada na base da coluna estratigráfica, a Formação Cabo na área de
influência do Empreendimento está representada por rochas da sua fácies proximal,
mediana e distal. É representada por conglomerados e arenitos muito finos e
sílticos, que em campo apresentam uma coloração creme ou avermelhado,
mosqueado chegando às vezes a esbranquiçado intercalados com folhelhos negros
(os folhelhos negros não foram observados dentro da área mapeada), que
caracterizam um ambiente lacustre.
Já rochas pertencentes à Suíte Magmática Ipojuca afloram em diversos pontos na
área do CIPS e no promontório do Cabo de Santo Agostinho, correspondendo a
traquitos, riolitos e granitos. Estas unidades precedentes podem ser capeadas, em
discordância angular, pelos carbonatos e siliciclásticos da Formação Estiva (de
idade Cenomaniana-Santoniana), sendo possível identificar formações calcarias na
Ilha de Cocaia.
Capeando a sequência lítica descrita e já no topo da Bacia do Cabo, identifica-se a
Formação Algodoais, que ocorre na porção norte da Ilha de Tatuoca e em grande
extensão a norte do Rio Massangana, entre as praias de SUAPE e Itapoama.
Corresponde a rochas siliciclásticas representadas por conglomerados polimíticos,
composto por seixos centimétricos de traquitos e quartzos dispersos numa matriz
arcoseana grossa, de coloração avermelhada ou amarelada, por vezes em
discordância erosiva com os traquitos da Suíte Magmática Ipojuca. Observa-se
Capítulo 3 - 120
também uma fácies arenosa intercalada com níveis mais argilosos com
estratificações cruzadas, acanaladas e tabulares, com níveis conglomeráticos que
passam a arenitos finos com estratificação cruzada de pequeno porte na direção do
topo.
B. Sedimentos Flúvio-Lagunares
3.4.2.2 Geotecnia
A Área Diretamente Afetada (ADA) foi prospectada pela Empresa GALVÃO
ENGENHARIA LTDA para efeitos de instalação de um Estaleiro naval, através da
execução de 12 sondagens de reconhecimento à percussão, nas quais foi realizado de
forma contínua o ensaio de SPT. As sondagens se adentraram no solo até atingir
níveis impenetráveis, a profundidades que variaram entre um mínimo de 26.91 no furo
S9 e 42,81 no furo S4, perfazendo um total de 402m de sondagem.
O perfil estratigráfico definido através da descrição tacto-visual registrada nas
sondagens confirma a gênese geológica descrita no item 3.4.2.1 e na qual se menciona
que o subsolo é formado por um depósito sedimentário que capeia rochas, arenitos e
folhelos neste caso, da Bacia Pernambuco. Com efeito, as sondagens mostram um
depósito de sedimentos arenosos, argilosos e siltosos, cujas percentagens variam
erraticamente com a profundidade, ora predominando o comportamento arenoso, ora o
comportamento argiloso.
Capítulo 3 - 121
A espacialização dos perfis das sondagens, complementadas com o registro de SPT,
permite identificar dois (2) setores geotécnicos (Vide Figura 3.4) na área conforme
descrito adiante:
Setor 1
Abrange dois terços da ADA restritos ao setor leste da mesma. Este setor
caracteriza-se pela ocorrência de um estrato intermediário de arenito marrom escuro
a preto, muito duro, com valores de SPT (número de golpes) sempre superiores a 40,
e em alguns casos atingindo valores da ordem de 100. Este estrato foi identificado
em 9 das 12 sondagens (excetuando as sondagens 1,2 e 3), variando em espessura
e profundidade, sendo mais superficial na esquina nordeste do terreno, chegando a
aflorar inclusive em um setor da praia e mergulhando na direção sudoeste, sendo em
torno de 10m a maior profundidade detectada na sondagem 7. A espessura deste
estrato varia no mesmo padrão que sua posição vertical, sendo mais fino na medida
que se aproxima da superfície, tendo sido detectadas espessuras de 1,50m na
sondagem 11 e 5m na sondagem 7.
Sobre este estrato de arenito, observou-se, na maioria dos casos, um depósito de
areia de fina a grossa da cor cinza, com resistência crescente com a profundidade.
Em algumas sondagens (4,5,7,8) deste setor observou-se ainda um estrato
superficial de argila orgânica (turfa) muito mole com aproximadamente 2,50m de
espessura.
Capítulo 3 - 122
Subjazendo o estrado de arenito preto a marrom, observou-se na maioria das
sondagens um padrão similar, caracterizado por uma sequência de horizontes
arenosos siltosos com espessura de mais de 20m, e na qual a resistência à
penetração cai para valores em torno de 10 golpes quando a textura do solo é
predominantemente arenosa e para valores de menos de 5 golpes, quando a
predominância é de materiais siltosos. Superado este horizonte de solo, a resistência
do terreno aumenta rapidamente até atingir o nível de impenetrabilidade.
Setor 2
Abrange 1/3 da ADA, correspondente ao lado noroeste do terreno. Este setor
delimitado pelas sondagens 1,2 e 3, caracteriza-se pelo fato de não ter sido
identificado, até a profundidade explorada, o estrado de arenito marrom descrito
anteriormente.
Neste caso, nas 3 sondagens acima mencionadas identificou-se um horizonte
intermediário de silte arenoso, argiloso com conchas, no qual a resistência à
penetração decai para valores entre 2 e 4 golpes. Este estrato apresenta espessura
variando entre 3 e 5m e profundidades no topo que variam desde 14m (S1) a 5m
(S3).
O comportamento das camadas suprajacentes e das camadas subjacentes a este
estrato de menor resistência, seguem o padrão já descrito para o Setor 1, ou seja,
um acréscimo de resistência com a profundidade.
Por se tratar de uma exploração preliminar não foram realizadas perfurações rotativas
na formação rochosa, contudo, transcreve-se a seguir um trecho do diagnóstico
geotécnico contido no EIA/RIMA do Estaleiro Atlântico Sul, no qual são descritas as
características do estrato rochoso identificado na área vizinha:
Estrato 4: Este estrato correspondente à formação Cabo, pode ser dividido em dois
tipos de materiais.
Capítulo 3 - 123
efetivos de recuperação de rocha estiveram na faixa de 80% como máximo, sendo em
alguns casos inferiores a 30%.
3.4.2.3 Pedologia
De acordo com Guerra (1998) e EMBRAPA (1999), na Área de Influência Direta (AID)
do Empreendimento ocorrem solos Argissolos Amarelos e Vermelho-Amarelos,
Nitossolos, Gleissolos e Neossolos (aolos aluviais, areias quartzosas e solos de
mangue).
Contudo, são os Gleissolos a unidade que melhor caracteriza a área de implantação e
seu entorno. Estes solos são distróficos e eutróficos, com atividade baixa e alta,
associados a relevos planos e suavemente ondulados, com horizonte A moderado e
proeminente, fase floresta perenifólia de várzea. São solos, hidromórficos, associados
à planície aluvial dos Rios Massagana e Tatuoca, Riacho Ilha da Cana e demais
riachos da área de influência do Empreendimento. Apresentam horizonte gley, em
geral, 50 cm abaixo da superfície do solo. Já os solos de mangue são solos
indiscriminados, textura indiscriminada e fase relevo plano, ocorrem em todo o entorno
da área do Empreendimento nas margens do Rio Massangana e Riacho Ilha da Cana.
3.4.2.4 Geomorfologia
Neumann (1991) divide as formas de relevo na área do Complexo Industrial Portuário
de SUAPE em quatro tipos: modelado cristalino, colinas, rampas de colúvio e planície
costeira. O Domínio Colinoso corresponde a formações geológicas cretácicas, com
cotas altimétricas entre 10 e 70 metros. O material deste domínio tem sido usado como
material de empréstimo para realizar os aterros e regularizar áreas para a implantação
de diversos empreendimentos no CIPS (Foto 3.3). De modo que a unidade Domínio
Colinoso e Domínio Rampas de Colúvio estão sendo progressivamente eliminadas na
área do CIPS.
Aspecto do relevo da área de influência do Empreendimento
Foto 3.3 – mostrando a utilização de material do Domínio Colinoso para
regularização de áreas no CIPS.
Capítulo 3 - 124
Já a área onde será instalado o Estaleiro PROMAR, está inserida na unidade Planície
Costeira, que é a unidade mais representativa da Zona Industrial Portuária,
estendendo-se desde a linha do Recife até o sopé das formações mais antigas.
Capítulo 3 - 126
Contudo, é o aqüífero Cabo o mais importante localizado dentro da AID do
Empreendimento, sendo que na Ilha de Tatuoca, o Estaleiro Atlântico Sul tem a outorga
para explotação de três (3) poços profundos (cerca de 100 metros de perfuração). Os
estudos realizados pelo Laboratório de Hidrogeologia da UFPE recomendaram que os
poços devem ser inicialmente bombeados com vazão de 20 m3/h, uma vez que, o
aqüífero explotado encontra-se em uma situação hidrogeológica complexa, entre dois
aqüíferos de água salinizada. Destes poços apenas os EAS 1 e EAS 2 possuem
outorga validade até 30/7/2012 e vazão outorgada de 320 m3/dia. Quanto ao poço EAS
3, o processo de outorga ainda não foi concluído.
4
Considera-se fonte fixa estática para todo o parque industrial, porém o comportamento é sazonal em
casos importantes como a Termo SUAPE, que opera como Térmica de Disponibilidade, ou seja,
entrando em operação quando necessário durante períodos de tempo reduzidos, mas alterando a
qualidade do ar nesse período.
Capítulo 3 - 127
dos veículos automotores, pesados principalmente, que circulam pelo sistema
rodoviário do CIPS e seu entorno.
Capítulo 3 - 128
3.4.5 Oceanografia Física / Climatologia
Nas sessões, a seguir, são sumarizadas informações recentemente coletadas e
pretéritas existentes sobre os aspectos físicos oceanográficos para a área estuarina do
Complexo Industrial Portuário de SUAPE, mais fortemente passível de ser influenciada
durante a implantação e funcionamento do Estaleiro.
Capítulo 3 - 129
A posição da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), as Perturbações e Ondas de
Leste, os Vórtices Ciclônicos de Ar Superior (VCAS), as Frentes Frias do sul e suas
instabilidades, e as brisas marítimas são os principais sistemas atmosféricos que
influenciam diretamente a região (Aragão, 2004). A região de SUAPE experimenta
clima tropical, quente e úmido, Ams’, segundo o sistema Köppen de classificação
climática.
Figura 3. 6 – CLIMATOLOGIA MENSAL MÉDIA NA AII.
350 28
27,5
300
27
Precipitação mensal (mm)
250 26,5
Temperatura °C
26
200
25,5
150
25
100 24,5
24
50
23,5
0 23
FEV
NOV
JAN
ABR
JUN
AGO
JUL
SET
OUT
DEZ
MAR
MAI
Capítulo 3 - 130
Figura 3. 7 – ROSA DOS VENTOS PARA A ÁREA DO PORTO DE SUAPE.
FONTE: CONSULPLAN.
Capítulo 3 - 132
Figura 3. 8 – Localização das Estações de Coleta de Oceanografia Física.
Capítulo 3 - 133
Distribuição vertical das temperaturas nas estações E1-7 para os
Figura 3.9 – estágios de maré enchente (EN), preamar (PM), maré vazante
(VZ) e baixa-mar (BM) durante uma sizígia em Dez/09.
Capítulo 3 - 134
descarga fluvial do período de estiagem ao primeiro metro da coluna d’água (Figura
3.10).
Capítulo 3 - 135
Distribuição vertical do sinal de retroespalhamento ótico nas
estações E1-7 para os estágios de maré enchente (EN), preamar
Figura 3. 11 –
(PM), maré vazante (VZ) e baixa-mar (BM) durante uma sizígia
em Dez/09.
Os valores de OBS medidos em toda a área e ao longo da coluna d’água foram sempre
extremamente reduzidos, variando de 2 a 10 unidades, valores comparáveis aos
encontrados em marinhas claras. Na camada mais superficial (primeiros 1-2 metro), no
entanto, as concentrações de partículas em suspensão foram mais elevadas, com
valores de OBS de 10-200 unidades, mas bastante inferiores aos valores de 200-800
unidades, relatados para águas superficiais do Rio Ipojuca (MULTICONSULTORIA,
2004).
Os baixos valores da capacidade retroespalhamento ótico encontradas nos
levantamentos realizados no período de estiagem, confirmam igualmente o maior
domínio das águas marinhas e o baixo aporte de sedimentos carreados pelos Rios
Massangana e Tatuoca naquele período. Valores relativamente reduzidos também
próximos ao fundo, indicam baixa capacidade de ressuspensão do material de fundo,
mesmo durante os estágios de maior dinâmica (enchente e vazante). Os resultados
das análises químicas para as amostras de água coletadas nas sete estações ao longo
da área de entorno do Empreendimento, são apresentados no Quadro 3.1.
Capítulo 3 - 136
Valores de pH e das concentrações de OD, DBO5 e de coliformes totais e fecais nas águas
QUADRO 3.1 –
superficiais na área de estudo.
OD DBO5 Coliformes TOTAIS Coliformes Fecais
-1 -1
MARE ESTAÇÃO pH (mL.L ) (mL.L ) (NMP/100 mL) (NMP/100 mL)
Capítulo 3 - 137
As correntes preferenciais têm direção da calha estuarina e canais principais e variam
entre 1,6 e 54,0 cm.s-1, à superfície e entre 1,6 e 30,8 cm.s-1, próximo ao fundo. As
maiores intensidade de correntes estão associadas aos estágios de vazante e baixa-
mar, quando as drenagens fluvial e correntes de maré apresentam mesmo sentido.
Capítulo 3 - 138
Representação polar da intensidade e direção das correntes
Figura 3. 12 – superfície/fundo no entorno da área de instalação do Estaleiro
PROMAR.
3.4.6 Sedimentologia
Como parte do diagnóstico ambiental de meio físico foram determinadas as principais
características dos sedimentos presentes no estuário dos Rios Tatuoca e Massangana.
Esta caracterização esteve embasada principalmente em informações secundárias
provenientes do monitoramento do Estaleiro Atlântico Sul, mas também nas
campanhas expeditas desenvolvidas pela equipe do EIA.
Com efeito, no presente estudo foram coletados 4 testemunhos de sedimentos de
fundo no Rio Massangana (2), Riacho Ilha da Cana (1) e no Rio Tatuoca (1) para servir
com nível de base para o Estaleiro PROMAR (Figura 3.13).
A coleta de sedimentos ativos foi realizada através de testemunhos extraídos com o
auxílio de um amostrador à percussão confeccionado em tubos de PCV e aço
inoxidável (Figura 3.13), sendo capaz de retirar amostras indeformadas de sedimentos
Capítulo 3 - 139
subaquáticos com aproximadamente 4,5 cm de diâmetro. O sedimento é armazenado
em invólucro cilíndrico plástico, previamente ajustado à seção interna do amostrador,
que tem a finalidade de isolar a amostra até a chegada ao laboratório.
Capítulo 3 - 140
As amostras foram armazenadas a 18oC e seccionados em intervalos de 5 cm de
comprimento. Após o seccionamento do testemunho, as amostras foram colocadas em
estufa a 50oC para secagem. Depois de secas, as amostras serão retiradas da estufa e
colocadas em bancada até atingirem temperatura ambiente, em seguida serão
desagregadas e homogeneizadas em almofariz de porcelana.
Uma alíquota de 30g de cada amostra será enviada para análise química dos
elementos de interesse. As análises químicas serão realizadas no Laboratório Geosol-
Lakefield. A avaliação do conteúdo de matéria orgânica será realizada pela queima em
mufla à 400oC por 12 horas. A foto 3.6 mostra a coleta de amostra no ponto 2.
Apesar do tamanho dos graus aumentarem com a profundidade, esta variação não é
linear como se mostra na Figura 3.14. Observa-se na Figura que o nível P48 aparece
com grande quantidade da fração argila, apesar da amostra ter sido extraída na
profundidade de 40cm. Deste modo, podemos inferir que as amostras P41 e P48 são
constituídas de material proveniente de sedimentação de baixa energia, assim como as
demais amostras (P42, P43, P44, P45, P46 e P47), são resultantes de um ambiente
com hidrodinâmica mais forte.
A presença de sedimentos argilosos na base deste testemunho (amostra P48) sugere a
existência de alterações no processo de sedimentação seja de origem natural (efeito
das marés) ou antrópico (dragagens no porto).
Capítulo 3 - 141
Razão argila/areia no perfil coletado no ponto P4
Figura 3. 14 – mostrando a variação granumétrica em 50 cm de
profundidade.
Capítulo 3 - 142
Concentrações médias de metal traço (mg. kg-1) em sedimentos superficiais do CIPS,
Quadro 3.3 –
comparadas com outros portos importantes do exterior.
Capítulo 3 - 143
Para confrontar/comparar os dados secundários extraídos dos monitoramentos do
Estaleiro Atlântico Sul, e conforme se mostra na Figura 3.13, foi realizada uma
campanha expedita de amostragem de sedimentos nos Rios Tatuoca e Massangana
em quatro pontos da AID. Os elementos químicos analisados em cada amostra foram
os mesmos elementos solicitados pela CPRH para o licenciamento do Estaleiro
Atlântico Sul, com a inclusão de arsênio que consta da Resolução 344/04 do CONAMA.
Os resultados das análises são apresentados no Quadro 3.4 a seguir.
Capítulo 3 - 144
Resultados das análises químicas realizadas em 4 perfis coletados na Área de
Quadro 3.4 –
Influência Direta (AID) do Empreendimento
Amostra As Cd Cr Cu Ni Pb V Zn Zr Al2O3 Fe2O3 MnO
ppm ppm ppm ppm ppm ppm ppm ppm ppm % % %
P4 (25-30) 7 <1 41 22 13 15 32 28 15 12,6 7,01 0,06
P4 (30-35) 10 <1 39 15 12 14 33 33 12 13,7 5,2 0,04
P4 (35-40) 7 <1 58 39 16 10 29 27 14 8,95 9,39 0,08
P4 (40-45) 6 <1 32 20 9 9 22 22 11 8,29 7,01 0,06
P4 (45-50) <5 <1 32 26 10 8 20 22 12 7,31 8,2 0,07
P4 (50-55) 6 <1 31 19 9 9 26 27 5 8,55 5,53 0,03
P4 (55-60) 5 <1 54 39 14 10 31 29 10 8,66 9,23 0,08
MÉDIA 34,98 23,30 10,91 9,52 27,11 30,14 11,91 8,93 7,24 0,06
MÁXIMO 68,00 43,00 21,00 40,00 71,00 103,00 24,00 24,30 12,30 0,10
MÍNIMO 11,00 5,00 3,00 3,00 7,00 9,00 4,00 1,62 3,13 0,03
Amostras controle de laboratório e repetições controle
BRANCO_PREP <5 <1 4 3 2 <3 <3 11 <1 -- -- --
SS-2 82 2 33 205 49 121 42 431 6 -- -- --
TILL-3 78 <1 65 21 30 16 36 39 1 -- -- --
P5 (45-50) -- -- -- -- -- -- -- -- -- 7,5 8,16 0,08
P8 (10-15) -- -- -- -- -- -- -- -- -- 2,36 5,48 0,05
RXREF1 -- -- -- -- -- -- -- -- -- 8,68 5,82 0,22
RXREF1 -- -- -- -- -- -- -- -- -- 8,38 5,79 0,22
BRANCO_PREP <5 <1 5 3 1 <3 <3 9 <1 0,29 0,51 <0,01
5
Caso as concentrações estejam entre os níveis 1 e 2, a Resolução solicita estudos adicionais no caso
dos metais mercúrio, cádmio, chumbo ou arsênio.
Capítulo 3 - 145
Distribuição de metais no perfil mais crítico (para cada metal), dos
Figura 3. 15 –
quatro coletados na área de influência direta do Empreendimento.
Um aspecto que deve ser ressaltado das análises é que os valores das concentrações
de todos os metais estão abaixo do Nível 1 da Resolução do Conama 344 de 2004,
porém, verifica-se uma tendência crescente que deve ser observada pelo Porto de
Suape. Com efeito, no quadro 3.3 acima foram destacadas as concentrações médias
de metais levantadas por Chagas (2003), pelo EAS (2007 e 2008) e por este estudo
(2010), sendo facilmente verificável o aumento nas concentrações em um lapso de
tempo de sete anos.
Capítulo 3 - 146
Salienta-se novamente que os pontos de coleta de Chagas (2003) e os do EAS, não
foram exatamente os mesmos do presente trabalho, o que pode indicar uma variação
espacial em vez de uma variação temporal, contudo, é um ponto que precisa ser
aprofundado através da continuidade dos monitoramentos.
Capítulo 3 - 147
perfil P-3 foi onde ocorreu a maior recuo da linha de costa, perdendo aproximadamente
91,6m. Na região localizada próximo ao perfil P-4 foi a única área em que houve um
avanço significativo da linha de costa, da ordem de 49,7m.
Fonte: UFPE
Capítulo 3 - 148
precederam o esvaziamento da praia natural. Muitas praias engordadas começaram a
perder sedimentos, logo após serem recuperadas, seja pelas correntes de deriva
litorânea, seja pelas correntes “onshore – offshore”.
Em função deste comportamento hidrodinâmico intenso e contínuo ao longo do tempo,
na Praia de SUAPE, conseqüência direta das alterações morfológicas emersas (Ilha da
Cocaia, Praia do Outeiro Alto) e submersas (dragagens de canais), que vem ocorrendo
ao longo do tempo na área de SUAPE, fica claro a necessidade, urgente, da
implantação de um Monitoramento Ambiental na referida praia, no sentido de controlar
o processo hidrodinâmico anteriormente mostrado.
Capítulo 3 - 149
Quadro 3.5 – Fitofisionomias encontradas na área de SUAPE
Capítulo 3 - 151
Vegetação peridoméstica nas proximidades do Bar do Biu,
Foto 3.8 –
predominando cajueiros.
Na parte sudeste da ilha, mais para o interior, foram observados, além de Manilkara
salzmannii (A.DC.) H.J.Lam, indivíduos emergentes de Tapirira guianensis Aubl.
(pau pombo), Byrsonima sericea DC (murici), Cupania revoluta Radlk (caboatã de
rego), Cocos nucifera L. (coqueiro), Schinus terebinthifolius Raddi (aroeira da praia),
Buchenavia capitata Eichl., Cereus fernambucensis Lem., além de Vismia sp.,
Guatteria sp., Psychotria sp., várias Lauraceae (espécies predominantes) e de Manihot
sp.(maniçoba, espécie, segundo os moradores, introduzida na ilha).
Capítulo 3 - 152
As árvores apresentam altura média de 5m, observando-se um estrato herbáceo-
arbustivo aberto, presença de serrapilheira e regeneração natural. A presença da
Manihot na área e em outros pontos, segundo uma moradora, comprova a existência
de roça há algum tempo atrás. Trata-se, pois, de vegetação secundária em estágio
processo de regeneração (Foto 3.9).
Em direção à porção central da ilha, a composição florística da vegetação mantém-se
sem variações, acrescentando-se indivíduos esparsos de Cereus fernambucensis
Lem., conhecida vulgarmente como cardeiro; Anacardium occidentale L., cajueiro;
Andira nitida Mart. ex Benth., angelim; Pithecolobium avaremotemo Mart., espécies
comuns em todos os locais da ilha, além de Clusia sp., Coccoloba sp., Cecropia sp.,
Tabebuia sp., e espécies das famílias Myrtaceae e Nyctaginaceae, muito comuns em
todos os ambientes visitados. O porte das árvores é maior do que o observado nas
áreas mais à praia, com indivíduos com mais de 8m de altura, sendo observada em
vários trechos a presença de pteridófitas formando o sub-bosque herbáceo. Além
disso, há um adensamento no estrato arbustivo e aumenta a espessura de serrapilheira
e a quantidade de indivíduos jovens na regeneração natural.
Capítulo 3 - 153
Frutificação de Conocarpus erectus (mangue de botão)
Foto 3.11 – em área de salinas, na Ilha de Tatuoca, Suape,
Pernambuco.
A vegetação arbórea nativa chega até a linha de praia, com composição semelhante à
descrita anteriormente, altura média de 10m, árvores emergentes de Tapirira
guianensis e Buchenavia capitata que chegam a atingir 15m de altura e diâmetro à
altura do peito de mais de 30cm. Estrato arbustivo é bastante denso (Foto 3.14), com
boa regeneração natural e espessa serrapilheira (Foto 3.15). Nas proximidades, um
antigo roçado abandonado apresenta-se em início de sucessão com abundante
crescimento de pteridófitas (Foto 3.16).
Capítulo 3 - 155
Serrapilheira e regeneração natural em fragmento
Foto 3.15 –
de vegetação florestal.
Capítulo 3 - 156
concentração de dendê é superior nessa área do que nas demais e foi registrada a
presença de Croton sellowii Baill.
Coqueiro e dendê são as espécies exóticas mais freqüentes na ilha, mas não se
identificou situação de risco de invasão biológica e, além dessas, observou-se a
presença de Manihot sp, chamada pelos habitantes de maniçoba, espécie arbustiva
que, segundo habitante da ilha, é utilizada na fabricação de farinha usada na
alimentação e de poucos indivíduos de Syzygium cumini (azeitona-roxa ou jambolão).
Capítulo 3 - 157
3.5.3 Levantamento Fitosociológico das áreas de restinga da ADA
3.5.3.1 Metodologia
Em cada uma das parcelas foram avaliados os indivíduos arborescentes e arbóreos
com circunferência à altura do peito igual ou superior a 10cm (CAP≥10cm), medindo-
lhes CAP com trena e altura com régua graduada e hipsômetro.
As espécies ocorrentes nas parcelas foram reconhecidas em campo e o material
botânico coletado, quando disponível e acessível. Também foram realizados percursos
aleatórios para coleta de material botânico, para posterior identificação no Herbário
Sérgio Tavares do Departamento de Ciência Florestal da Universidade Federal Rural
de Pernambuco.
O material botânico foi classificado segundo as normas do APG2 (Angiosperm
Phylogeny Group, Grupo para a Filogenia das Angiospermas) e a grafia botânica,
assim como autores das espécies, designados conforme a site do Missouri Botanical
Garden (MOBOT, 2010).
A classificação quanto aos hábitos de crescimento das plantas foi feita adotando-se as
seguintes classes:
Arbusto – vegetal lenhoso com múltiplos fustes, com altura entre 1,0 e 3,0m.
Capítulo 3 - 158
Subarbusto – vegetal com múltiplos fustes delgados, porém lenhosos, com até
1,0m de altura.
Ervas - Planta não lenhosa, geralmente de pequeno porte, cuja porção aérea
vive menos de um ano e cuja parte subterrânea pode ser perene.
A partir dos dados das parcelas amostrais foram estimados o número total de
indivíduos e fustes, já que o elevado número de árvores e arbustos multifurcados
indicou ser essa uma estratégia importante de ocupação dos espaços. Também foram
calculadas as alturas média e máxima das parcelas e área basal, por parcela e por
hectare.
Foram estimados parâmetros para caracterizar a estrutura de uma comunidade
vegetal, denominados parâmetros da estrutura horizontal: abundância (ou densidade),
dominância e índice de valor de cobertura (VC).
A densidade expressa a participação das diferentes espécies dentro da associação
vegetal. Densidade absoluta (Dabs) indica o número de indivíduos de dada espécie por
unidade de área (Expressão 1) e densidade relativa (Drel), a participação de cada
espécie, em porcentagem, em relação ao número total de árvores (Expressão 2). A
densidade está diretamente relacionada à composição de uma comunidade em relação
às espécies presentes e ao número de indivíduos de cada uma delas, independente de
suas dimensões.
D abs
Drel(espécie X) = *100 (Expressão 2)
∑ abs
D
sendo ∑D abs = densidade total (número de indivíduos por hectare, de todas as espécies =
N).
Domabs(espécie X) = GX em m2ha-1 (Expressão 3)
Dom abs
Domrel (espécie X) = *100 (Expressão 4)
∑ Domabs
Capítulo 3 - 159
sendo ∑ Dom abs = G em m2ha-1
Foi estimado o índice de Shannon de diversidade de espécies arbóreas (H’) nas duas
áreas, em conjunto, conforme a expressão 6, baseado nas suas áreas basais
proporcionais (dominância relativa, expressa em decimais), considerando ser esse o
parâmetro que mais se relaciona à biomassa que, por sua vez, é, conforme Begon et
al. (2006), a medida mais importante para ser relacionada à diversidade.
H´= −∑ p i lnpi , (Expressão 6)
H’max=lnS (Expressão 7)
H'
E= (Expressão 8)
H'max
Capítulo 3 - 160
Quadro 3.8 – Espécies vegetais observadas na ADA do Empreendimento
Hábito de
Família Espécie Nome vulgar Obs¹
crescimento
Blechnaceae Blechnum sp samambaia R erva
azeitona do
Chrysobalanaceae Hirtella racemosa Lam. R arbusto
mato
Hirtella ciliata Mart. & Zucc. murtinha R arbusto
Buchenavia tetraphylla (Aubl.) R.A.
Combretaceae embiridiba R árvore
Howard
Convolvulaceae Merremia cissoides (Lam.) Hallier f. jitirana R trepadeira
Cyperus diffusus Vahl R erva
Cyperus flavus (Vahl) Nees R erva
Cyperus imbricatus Retz. R erva
Cyperaceae Cyperus ligularis L. R erva
Eleocharis sp R erva
Fimbristylis cymosa (Lam.) R. Br. R erva
Remirea marítima Aubl. R erva
Dilleniaceae Curatella americana L. lixeira R árvore
Chamaesyce hyssopifolia (L.)
Euphorbiaceae R erva
Small
Croton sellowii Baill. R arbusto
Humiriaceae Humiria balsamifera Aubl. murtinha C árvore
Icacinaceae Emmotum affine Miers aderno R árvore
Lauraceae Ocotea sp. louro C árvore
Chamaecrista rotundifolia (Pers.)
R sub-arbusto
Leguminosae Greene
Caesalpinioideae Senna macranthera (DC. ex
canafistula R arbusto
Collad.) H.S. Irwin & Barneby
Leguminosae
Inga laurina (Sw.) Willd. ingá R árvore
Mimosoideae
Aeschynomene evenia C. Wright R erva
Andira nitida Mart. ex Benth. angelim C árvore
Crotalaria retusa L. R sub-arbusto
Desmodium barbatum (L.) Benth. R erva
Desmodium incanum DC. R erva
Leguminosae Dioclea sp R trepadeira
Papilionoideae Indigofera microcarpa Desv. R sub-arbusto
Indigofera spicata Forssk. R sub-arbusto
Macroptilium lathyroides (L.) Urb. R erva
Rhynchosia mínima (L.) DC. R trepadeira
Stylosanthes guianensis (Aubl.)
R sub-arbusto
Sw.
Lygodiaceae Lygodium sp R erva
Malpighiaceae Stigmaphyllon paralias A.Juss. R sub-arbusto
Malvaceae Pavonia cancellata (L.) Cav. R erva
Sida ciliaris L. R erva
Maranthaceae Calathea sp R erva
Melastomataceae Miconia albicans (Sw.) Steud. canela de velho R arbusto
Myrtaceae Myrcia bergiana O.Berg. cambuí C arbusto
Myrcia guianensis (Aubl.) DC. C arbusto
Psidium guajava L. goiaba R árvore
Nyctaginaceae Guapira sp maria-mole C arbusto
Ouratea sp1 R árvore
Ochnaceae
Ouratea sp2 R arbusto
Catasetum sp R epífita
Orchidaceae orquídea
Vanilla sp R trepadeira
baunilha
Passifloraceae Passiflora sp C trepadeira
Polygonaceae Coccoloba sp cauaçu R árvore
Avena sp R erva
Poaceae
Cenchrus echinatus L. R erva
Capítulo 3 - 161
Quadro 3.8 – Espécies vegetais observadas na ADA do Empreendimento
Hábito de
Família Espécie Nome vulgar Obs¹
crescimento
Chloris barbata Sw. R erva
Dactyloctenium aegyptium (L.)
R erva
Beauv.
Echinochloa sp R erva
Pteridaceae Pteridium aquilinum (l.) Kuhn R erva
Sapindaceae Matayba sp. C árvore
Manilkara salzmannii (A. DC.) H.J.
Sapotaceae maçaran-duba R árvore
Lam
Solanaceae Solanum paniculatum L. jurubeba R arbusto
Sterculiaceae Waltheria indica L. R sub-arbusto
Rubiaceae Chioccoca sp. C arbusto
Turneraceae Turnera subulata Sm. chanana R sub-arbusto
Verbenaceae Aegiphila sp papagaio R arbusto
Stachytarpheta elatior Schrad. ex
R sub-arbusto
Schult.
Observação 1: R= Espécie reconhecidas em campo, a partir de material botânico fértil ou não; C=
Espécie coletada e depositado no Herbário Sérgio Tavares da UFRPE (HST).
20
15
10
0
ra
ta
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o
va
re
a
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ífi
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bu
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ar
/a
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su
us
b
ar
Capítulo 3 - 162
Espécies amostradas nas duas áreas pesquisadas dentro da
Quadro 3.9 –
ADA
Espécies Área I Área II
Andira nitida X
Buchenavia tetraphylla X
Byrsonima sp X
Campomanesia sp X
Coccoloba sp. X
Humiria balsamifera X
Inga laurina X
Manilkara salzmannii X
Myrcia bergiana X
Myrsine sp X
Myrtaceae 1 X
Myrtaceae 2 X
Ocotea sp. X X
Ouratea sp. X
Tabebuia sp. X
Tapirira guianensis X
A riqueza pode ser considerada baixa quando comparada com a apresentada por
Almeida Jr. et al. (2009), que encontraram 38 espécies de mesofanerófitos nas
restingas de Maracaípe, em Ipojuca. Essa diferença deve ter se dado não só pelas
reduzidas dimensões dos fragmentos encontrados na Ilha de Tatuoca, mas também
devido a história de uso da ilha, diferente do regime de conservação ao qual está
sujeita a área estudada em Maracaípe.
A riqueza da Área I foi superior provavelmente devido ao maior tamanho da área e
também ao menor nível de intervenção antrópica, apresentando-se bem conservada e
sem trilhas no seu interior.
O índice de diversidade de Shannon, calculado com base nas densidades relativas nas
duas áreas, foi 2,56 nats/ind, com elevada equabilidade (0,90). Scherer et al. (2005),
em área de restingas no Parque Estadual de Itapuã, no Rio Grande do Sul, estimou
valores de H’ entre 1,08 e 2,38 e equabilidade entre 0,47 e 0,84. Guedes et al. (2006),
estimaram valores de H’ de 3,5 e 3,7nats/ind. em dois fragmentos de restinga para
matas de restinga em Bertioga, São Paulo.
Assis et al. (2001), numa floresta de restinga em Guarapari, ES, encontraram valor de
índice de diversidade de Shannon mais elevado (3,73 nats/ind), enquanto Pereira et al.
(2001), em uma formação fechada de restinga em Barra de Maricá, RJ, estimou
H’=2,84 nats/ind. Assim, observa-se que o valor estimado não foge ao intervalo
usualmente encontrado para o índice de Shannon em restingas brasileiras, mesmo
considerando a pequena extensão dos fragmentos e a baixa riqueza arbórea.
Na Área I, Humiria balsaminifera (murtinha) foi a espécie com maior Valor de
Cobertura, seguida de Manilkara salzmannii (massaranduba), Ocotea sp (louro),
Coccoloba sp e Mirtaceae não identificada (Quadro 3.10).
Capítulo 3 - 163
Espécies amostradas nas parcelas da Área I, com respectivos valores de
Quadro 3.10 –
parâmetros estruturais.
Na amostra (400m²) %
Espécies Número Área
Número Densidade Densidade Valor de
de basal Dominância
de fustes de árvores de fuste Cobertura
árvores (m²)
Humiria
balsamifera 5 21 0,12362 16,13 25,30 18,39 21,85
Manilkara
salzmannii 4 11 0,123255 12,90 13,25 18,34 15,80
Ocotea sp 7 14 0,076508 22,58 16,87 11,38 14,13
Coccoloba sp 1 3 0,152781 3,23 3,61 22,73 13,17
Myrtaceae 1 5 16 0,040949 16,13 19,28 6,09 12,68
Tabebuia sp 1 1 0,082231 3,23 1,20 12,24 6,72
Byrsonima sp 2 6 0,026905 6,45 7,23 4,00 5,62
Campomanesia sp 1 6 0,014227 3,23 7,23 2,12 4,67
Myrtaceae 2 2 2 0,010129 6,45 2,41 1,51 1,96
Croton sellowii 2 2 0,007319 6,45 2,41 1,09 1,75
Myrsine sp 1 1 0,014169 3,23 1,20 2,11 1,66
Total 31 83 0,672091 100,00 100,00 100,00 100,00
Na Área II, duas espécies dominaram, respondendo por 55,77% do valor de cobertura
estimado: a mirindiba (Buchenavia tetraphylla) e o ingá (Inga laurina), nas quais o alto
número de fustes por planta e as maiores dimensões transversais foram responsáveis
pela dominância elevada. É possível que essas espécies, como boas colonizadoras,
tenham impedido o estabelecimento de outras, em um processo conhecido como
exclusão competitiva, reduzindo a riqueza e diversidade da área (Quadro 3.11).
Capítulo 3 - 164
No Quadro 3.12 sintetizam-se os parâmetros dendrométricos estimados nas duas
áreas, podendo-se observar que há grande variação de densidade arbórea em ambos
os locais, assim como de porte da vegetação. A altura média do dossel variou de pouco
menos de 5,0m a 14,3m, com raras árvores emergentes com mais de 15m de altura.
Quadro 3.12 – Síntese dos parâmetros dendrométricos nas duas áreas pesquisadas.
Área - Número Número Área basal Número Número Área basal Altura Altura
Parcela de de m² de árvores de fustes m² média máxima
árvores fustes m m
Por parcela Por hectare
7 22 0,110687 700 2200 11,0687 5,5 7,0
I-1
7 14 0,066534 700 1400 6,6534 6,4 8,5
I-2
5 15 0,066909 500 1500 6,6909 4,9 6,0
I-3
12 32 0,42796 1200 3200 42,7960 6,0 12,0
I-4
Média 775 2075 16,8023
Capítulo 3 - 165
Fisionomia da parcela 1 da Área I (UTM 9074396;
Foto 3.18 –
0282608).
Capítulo 3 - 166
Foto 3.20 – Estrutura fisionômica da parcela 3 da área II.
Capítulo 3 - 167
3.5.4 Unidades de Conservação em um raio de 10km
No entorno de 10km do Empreendimento são verificadas áreas protegidas, decorrentes
da sua riqueza biótica e ambiental. A relação destas áreas é apresentada no Quadro a
seguir:
A área estuarina dos Rios Massangana e Tatuoca não é relacionada no quadro acima,
por não estar contemplada no Anexo 1 da Lei n° 9.93 1 de 86, que define como área de
proteção ambiental as reservas biológicas constituídas pelas áreas estuarinas do
Estado de Pernambuco. Contudo, e mesmo não constando na Lei Estadual, em
decorrência possivelmente da sua utilizade pública como área portuária e industrial,
este estuário está acobertado pela Lei Federal 4771 de 65 que institui o código florestal
brasileiro que define as áreas de preservação permanente.
Capítulo 3 - 168
reconhecido conhecimento da fauna local, que habitam atualmente na ilha também do
lado sudeste. De uma forma geral, este descritivo representa uma amostragem da
fauna remanescente na Ilha de Tatuoca, aplicável para os pontos que apresentem
características bióticas similares aos pesquisados, quais sejam, a presença de bolsões
de vegetação arbustiva e arbórea, arrodeados na vegetação de mangue.
De um modo geral, a fauna terrestre associada aos ambientes que compõem a área de
Abrangência do Empreendimento está representada por espécies generalistas (SICK,
1988; SOUZA, 2005; FARIAS et alli, 2002), com capacidade de se adaptar a diferentes
feições do ambiente (p. ex., formações vegetais abertas e fechadas), apresentando
ampla distribuição geográfica, com algumas também ocorrendo no domínio dos
Cerrados e das Caatingas nordestinas. Dentre estas estão o rouxinol (Troglodytes
musculus), o siriri (Tyrannus melancholicus), o pitiguari (Cyclarhis gujanensis), o sabiá-
gongá (Turdus rufiventris) e o bentevi (Pitangus sulphuratus), da classe das aves; o
guaxinim (Procyon cancrivorus) conhecido localmente por guaxelo, que freqüenta os
manguezais; e o timbu (Didelphis albiventris) entre os mamíferos; e o teju (Tupinambis
merianae), a jibóia (Boa constrictor), e o calanguinho (Cnemidophorus ocellifer) dentre
os répteis.
Na mancha de vegetação de restinga, localizada na área central da Ilha de Tatuoca, foi
constatada a predominância de espécies animais residentes e diurnos. Dentre as
espécies de hábito noturno, destacam-se a coruja-de-frio (Megascops choliba),
algumas serpentes, como a corre-campo (Philodryas nattereri), e anfíbios, sendo
poucas aquelas de hábito subterrâneo (fossorial), como a cobra-de-duas-cabeças
(Amphisbaena sp) e lagartos dos gêneros Ameiva, Cnemidophorus e Iguana, dentre
outros.
Nas áreas de praia, nos fragmentos de manguezais e nos bancos de areia,
ocasionalmente ocorrem diversas espécies de aves migratórias, provenientes do
Hemisfério Norte, que freqüentam a costa da América do Sul, no início do mês de
agosto, permanecendo por vários meses em busca de alimentos, sem contudo se
reproduzirem, retornando, entre os meses de abril e maio, aos seus locais de origem.
Dentre elas, são frequentes o maçarico-de-bando (Charadrius sp), maçarico-branco
(Calidris alba), maçarico-de-coleira (Charadrius collaris), vira-pedras (Arenaria
interpres), e batuíra-bicuda (Charadrius wilsonia), dentre outras (SUAPE, 1999).
Inúmeras espécies da fauna terrestre desapareceram da área prospectada,
principalmente de mamíferos de médio e grande porte. Alguns representantes, a
exemplo da raposa (Cerdocyon thous), estão hoje associados aos poucos fragmentos
de remanescentes da Mata Atlântica localizados na área de influência indireta (AII) do
Empreendimento.
Foi dada ênfase à classe das aves, consideradas boas indicadoras da qualidade
ambiental (MORRISON, 1986; REGALADO & SILVA, 1997; WORLD BIRDWATCH,
1999; VIELLIARD, 2000; ANTAS & ALMEIDA, 2003), por conta de serem detectadas
com facilidade, tanto visualmente como através de suas manifestações sonoras
(zoofonia - OLMOS et alli, 2005), possibilitando assim uma melhor identificação
específica no campo, na maioria dos casos sem a necessidade de se capturar
espécimes.
Capítulo 3 - 169
3.5.5.2 Identificação de espécies de fauna na AID
A. Herpetofauna
a1. Anfíbios
Certamente, devido ao aspecto antropizado da cobertura vegetal da ADA, foram
registradas, até o presente, nove espécies de anfíbios, na sua maioria de hábito
noturno, associadas aos ambientes arbustivos e herbáceos de maior umidade, sendo
as mais comuns o sapo-cururu (Rhinella jimi), a perereca (Phyllomedusa
hypochondrialis), a perereca-de-banheiro ou raspa-cuia (Scinax x-signatus) e o caçote
(Leptodactylus ocellatus), ocorrendo nas formações arbustivas da restinga.
Anfíbios AMBIENTE
NOME VULGAR
NOME CIENTÍFICO FA FF
Bufonidae
Rhinella jimi Sapo-cururu X X
Hylidae
Scinax x-signatus Perereca-de-banheiro X
Hyla albopunctata Perereca X X
Phyllomedusa hypochondrialis Rã X X
Leptodactylidae
Leptodactylus ocellatus Jia; caçote X X
Leptodactylus vastus Jia-pimenta X
Leptodactylus fuscus Rã X
Leptodactylus cf. labyrinthicus Jia X X
Physalaemus cuvieri Rã-cachorro X X
9 espécies
Ambientes: FA=formação vegetal aberta; FF=formação fechada; X em negrito indica preferência pelo respectivo tipo
de ambiente.
Fontes: SANTANA et alli, 2008; SANTOS & CARNAVAL, 2002; JUNCÁ, 2006.
a2. Répteis
Entre os répteis, foram anotadas 11 espécies, sendo 4 serpentes, 6 lagartos, e um
anfisbenídeo (a cobra de duas cabeças – Amphisbaena vermicularis).
Dentre as serpentes, são comuns a jibóia (Boa constrictor), e a corre-campo
(Philodryas nattereri). A família Colubridae, que engloba mais da metade das serpentes
conhecidas, foi relativamente bem representada. Dentre os lagartos, as espécies mais
comuns são: a lagartixa-preta (Tropidurus hispidus), inclusive nas cidades; a víbora ou
briba (Hemidactylus mabouia), freqüente nas casas, à noite; o camaleão (Iguana
iguana), e o calanguinho (Cnemidophorus ocellifer), esse freqüente nos ambientes
arbustivos e ensolarados (VANZOLINI et alli, 1980). O teju (Tupinambis merianae) é
visto ocasionalmente nas formações vegetais arbustivas e arbóreas, na AID do
Empreendimento.
Capítulo 3 - 170
Quadro 3.15 – Espécies de Répteis na ADA e AID do Empreendimento.
Répteis AMBIENTE
NOME VULGAR
FAMÍLIA - NOME CIENTÍFICO FA FF
(Serpentes)
Boidae
Boa constrictor Jibóia X X
Colubridae
Philodryas olfersii Cobra-verde X X
Philodryas nattereri Corre-campo X
Viperidae
Bothrops sp Jararaca X
(Lagartos)
Gekkonidae
Hemidactylus mabouia Lagartixa, briba, osga X
Iguanidae
Iguana iguana Camaleão X X
Teiidae
Ameiva ameiva Bico-doce; come-ovo X X
Tupinambis merianae Tejú; téju; teiú X X
Cnemidophorus ocellifer Calanguinho X
Tropiduridae
Tropidurus hispidus Lagartixa-preta X X
(Anfisbenídeos)
Amphisbaenidae
Amphisbaena vermicularis Cobra-de-duas-cabeças X X
11 espécies
Ambientes: FA=formação vegetal aberta; FF=formação fechada; X em negrito indica preferência pelo
respectivo tipo de ambiente.
Fontes: SANTANA et alli, 2008; SANTOS & CARNAVAL, 2002; JUNCÁ, 2006; SUAPE, 1999.
B. Avifauna
Na área de abrangência do Empreendimento foram identificadas 46 espécies de aves,
uma diversidade baixa, se comparada àquela da Mata Atlântica pernambucana, com
cerca de 190 espécies. A família mais numerosa, Tyrannidae, está representada por 7
espécies.
De um modo geral, predominam espécies pouco sensíveis às pressões antrópicas,
portanto, bem adaptadas aos vários tipos de ambientes florestados, com exceção, por
exemplo, do frei-vicente (Tangara cayana), (D’HORTA et alli, 2005), do dorminhoco
(Nystalus maculatus), e do maçarico (Charadrius wilsonia) todas com sensitividade
média; e da rolinha-do-mar (Arenaria interpres) de sensitividade alta (SILVA et alli,
2003). Outras espécies freqüentes na ADA e na AID foram: dorminhoco (Nystalus
maculatus), sanhaçu-de-coqueiro (Thraupis palmarum), sanhaçu-azul (Thraupis
sayaca), carcará (Caracara plancus), beija-flor-tesoura (Eupetomena macroura), sabiá-
Capítulo 3 - 171
gongá (Turdus rufiventris), pitiguari (Cyclarhis gujanensis), sebito (Coereba flaveola)
(COELHO, 1993).
Nas áreas abertas de restinga arbustiva e no estrato arbustivo-herbáceo, ocorrem: anu-
preto (Crotophaga ani), anu-branco (Guira guira), gavião-pega-pinto (Rupornis
magnirostris), o qual é atualmente visitante regular dos centros urbanos; siriri (Tyrannus
melancholicus), bentevi (Pitangus sulphuratus), rouxinol (Troglodytes musculus) e tiziu
(Volatinia jacarina), dentre outras (COELHO, 2002; COELHO, 2004 e 1988).
Nas proximidades de ambientes dulciaquícolas e estuarinos, foram anotadas: a
lavandeira (Fluvicola nengeta), garça-vaqueira (Bubulcus ibis), em pequenos bandos;
martin-pescador-pequeno (Chloroceryle americana), martim-pescador-grande
(Megaceryle torquata), jaçanã (Jacana jacana), socozinho (Butorides striata) e galinha-
d’água (Gallinula chloropus) (COELHO, 1988; 2008).
AMBIENTE
FAMÍLIA-ESPÉCIE NOME COMUM
P M R
Ardeidae
Butorides striata Socozinho X X
Bubulcus ibis Garça-vaqueira X X X
Cathartidae
Coragyps atratus Urubu-de-cabeça-preta X X
Cathartes aura Urubu-de-cabeça-vermelha X X
Accipitridae
Rupornis magnirostris Gavião-carijó; pega-pinto X X
Falconidae
Caracara plancus Carcará X X X
Charadriidae
Vanellus chilensis Quero-quero; tetéu X X
Charadrius semipalmatus Batuíra-de-bando X X
Charadrius collaris Batuíra-de-coleira X X
Charadrius wilsonia Maçarico X X
Scolopacidae
Arenaria interpres Rolinha-do-mar X X
Actitis macularius Maçarico-pintado X X
Calidris alba Maçarico-branco X X
Columbidae
Columbina minuta Rolinha-de-asa-canela X X
Columbina talpacoti Caldo-de-feijão X X X
Columbina squammata Fogo-apagou X X
Cuculidae
Crotophaga ani Anu-preto X X
Guira guira Anu-branco X X X
Tytonidae
Megascops choliba Corujinha X
Capítulo 3 - 172
LISTA DAS AVES REGISTRADAS NAS ÁREAS DE PRAIA,
Quadro 3.16 –
MANGUE E RESTINGA, NA ADA E AID.
AMBIENTE
FAMÍLIA-ESPÉCIE NOME COMUM
P M R
Apodidae
Reinarda squamata Tesourinha X X
Trochilidae
Amazilia versicolor Beija-flor-de-banda-branca X X
Eupetomena macroura Tesoura X X
Alcedinidae
Chloroceryle americana Martim-pescador-pequeno X X
Megaceryle torquata Martim-pescador-grande X X
Bucconidae
Nystalus maculatus Dorminhoco; joão-bobo X
Tyrannidae
Elaenia flavogaster Maria-já-é-dia X X
Hemitriccus margaritaceiventer Sebinho-de-olho-de-ouro X
Todirostrum cinereum Reloginho X X
Pitangus sulphuratus Bem-te-vi X X X
Tyrannus melancholicus Suiriri X
Machetornis rixosa Bentevi-do-gado X X
Fluvicola nengeta Lavadeira X X X
Hirundinidae
Tachycineta albiventer Andorinha-do-rio X X
Progne chalybea Andorinha-doméstica-grande X X X
Troglodytidae
Pheugopedius genibarbis Garrincha-de-bigode X
Troglodytes musculus Corruíra, Cambaxirra X X X
Mimidae
Mimus saturninus Sabiá-da-praia X X
Turdidae
Turdus rufiventris Sabiá-gongá X X
Vireonidae
Cyclarhis gujanensis Pitiguari X X
Vireo olivaceus Juruviara X
Emberizidae
Coereba flaveola Cambacica, sebito X X
Thraupis sayaca Sanhaço-de-bananeira X X X
Thraupis palmarum Sanhaço-de-coqueiro X X X
Tangara cayana Frei-vicente; X X
Conirostrum bicolor Sanhaçu-do-mangue EN X X
Passeridae
Passer domesticus Pardal X X
46 espécies
Ambiente: P: praia; M: mangue; R: restinga. EN: endêmica.
Fontes: NEVES et alli, 2000; COELHO, 1993 e 2008; SUAPE, 1999.
Capítulo 3 - 173
C. Mastofauna
Dentre os mamíferos, 13 espécies foram anotadas, na sua maioria de pequeno porte,
como roedores, morcegos e marsupiais, apresentando ampla distribuição geográfica
(Caatingas, Cerrados, além dos fragmentos da Mata Atlântica).
Algumas espécies, principalmente de porte maior, como a paca, felídeos, como o gato-
do-mato, gato-maracajá, jaguatirica etc, desapareceram da região analisada, devido
principalmente à perda de hábitat e a pressão de caça. A raposa (Cerdocyon thous)
ainda com populações estáveis, devido a sua plasticidade em relação aos diversos
ambientes florestados, pode ser observada, inclusive em ambientes urbanos
(COELHO, 2003). Registros de campo e de laboratório, confirmados por moradores
locais, dão conta de que as espécies mais comuns são os sagüis, morcegos, guaxinim,
timbu (CRUZ et alli, 2002), e o gabiru.
Capítulo 3 - 174
3.5.6 Microbiota Aquática
Para identificar os organismos da fauna e flora aquáticas presentes na área costeira
adjacente ao Complexo Industrial Portuário de SUAPE (CIPS) foi realizado um trabalho
de campo envolvendo coletas de amostras, observações e registro in loco, no dia
1/4/2010.
Anteriormente aos arrastos, foram aferidos dados de profundidade local por intermédio
de uma ecossonda manual digital da Plastimo, temperatura da água através de
termômetro comum com escala de -20 até 60˚C, salinidade através de um refratômetro
manual da Atago com escala de 0 a 100‰ e transparência da água pelo uso do disco
de Secchi, seguro por um cabo graduado em cm.
Os organismos do macrobentos foram identificados e devidamente registrados in situ
ao longo do percurso, entre os pontos de amostragem e ainda a partir de uma
prospecção na Ilha de Cocaia e na margem esquerda do Rio Massangana próximo à
foz.
Capítulo 3 - 175
3.5.6.1 Plâncton
O conhecimento acerca da comunidade planctônica é de fundamental importância no
universo dos estudos biológicos de um ambiente estuarino. Base da teia alimentar dos
ecossistemas aquáticos, os elementos fotoautotróficos dessa comunidade utilizam a
radiação luminosa solar como fonte de energia, transformam nutrientes inorgânicos em
matéria orgânica e a colocam à disposição dos demais níveis tróficos da cadeia.
Enquanto o fitoplâncton produz a matéria orgânica pela fotossíntese, o zooplâncton
constitui um elo importante na transferência de energia para os demais níveis tróficos,
incluindo moluscos, crustáceos e peixes de interesse comercial. Influenciam e
determinam espécies nectônicas e bentônicas que têm estágios no plâncton, além de
atuar na ciclagem de energia de um ambiente para outro.
Alterações na composição e abundância das comunidades planctônicas ocasionam
profundas mudanças estruturais em todos os níveis tróficos do ecossistema estuarino.
Pelo seu caráter dinâmico, com elevadas taxas de reprodução e perda, elas
respondem rapidamente às alterações físico-químicas do meio aquático.
3.5.6.2 Fitoplâncton
O fitoplâncton é constituído por algas microscópicas fotossintetizantes, unicelulares,
isoladas ou coloniais, que flutuam na superfície das águas. A comunidade
fitoplanctônica tem grande significado ecológico e sua importância reside no fato de
constituírem o início da teia alimentar, como produtores primários mais importantes dos
ecossistemas aquáticos, estando na sua dependência direta os herbívoros aquáticos e
os demais animais dos níveis tróficos.
Quanto ao zooplâncton ou fração animal do plâncton, esse é constituído pelos
organismos planctônicos heterotróficos. De acordo com Smith (1977), no universo do
zooplâncton marinho e estuarino podem ser reconhecidos organismos pertencentes à
maioria dos filos do reino animal.
No ecossistema estuarino, a comunidade zooplanctônica é bastante heterogênea,
sendo composta por animais geralmente microscópicos, que vivem na massa d’água,
representado em sua maior parte por invertebrados, além de ovos e larvas de peixes.
O zooplâncton apresenta-se como um dos grupos mais importantes na teia trófica,
agindo como eficiente elo trófico na transferência de energia fitoplâncton-
bacterioplâncton e/ou material orgânico particulado para os demais níveis tróficos,
participando também na regeneração e transporte de nutrientes, são também sensíveis
indicadores biológicos da qualidade da água dando informações sobre a saúde do
ambiente.
Tendo em vista a importância que o plâncton representa na teia trófica do ambiente
estuarino, diversos estudos sobre esses organismos foram realizados no Complexo
Estuarino de SUAPE, podendo ser destacados Eskinazi-Leça & Koening (1985/86),
Paranaguá (1985/86) Neumann-Leitão (1994), Koening & Eskinazi-Leça (1991). Além
desses trabalhos científicos, alguns estudos ambientais elaborados como requisitos
para a instalação de empreendimentos na área do Complexo Industrial Portuário de
SUAPE (CIPS) realizaram levantamentos quanto à estrutura da comunidade
planctônica local (PIRES ADVOGADOS & CONSULTORES, 2000;
MULTICONSULTORIA, 2004).
Capítulo 3 - 176
O resultado das análises do fitoplâncton presente nas amostras coletadas indicou a
presença de 63 táxons, sendo 43 espécies e 20 gêneros, divididos nas Divisões
Cyanophyta, Euglenophyta, Dinophyta, Bacillariophyta e Chlorophyta (Quadro 3.18).
Os valores encontrados expressam um esforço de coleta único, em baixa-mar e
preamar, que evidentemente não revelam as variações sazonais que condicionam as
flutuações do fitoplâncton e zooplâncton, não permitindo, portanto, comparações
amplas com resultados anteriores.
Capítulo 3 - 177
Lista taxonômica das espécies de fitoplâncton observadas nas
Quadro 3.18 – amostras coletadas no Rio massangana e entorno das Ilhas de
Tatuoca e Cocaia, em abril de 2010.
Abundância Abundância
Espécies Relativa Média Relativa Média Freqüência %
Baixa-mar Preamar
Dimerogramma SP 0.53 0 13
Fragilaria capuccina
Desmazières 0.56 0 13
Fragilariasp 0.66 0 13
Gyrosigma balticum 0.21 0.43 38
Hemiaulus sinensis Greville 4.04 0.00 13
Isthmia enervis Ehrenberg 0.53 13
Licmophora abbreviata Agardh 0 0.17 13
Lyrella lyra (Ehrenberg)
Karayeva 0.08 0.34 25
Navicula SP 0.38 0.35 75
Nitzschia longissima 0.37 0.43 50
Nitzschiasp 0.17 0 38
Odontella aurita (Lyngd.) Agardh 0.66 2.37 25
Pleurosigma SP 1.12 0.43 50
Proboscia alata 1.78 13
Pseudonitzschia delicatissima 1.66 0 13
Pseudonitzschia pungens
Grunow 5.21 0 50
Rhizosolenia setigera Brightwell 0.32 0 13
Rhizosolenia styliformis
Brightwell 2.02 0.43 50
Surirella fastuosa 8.45 10.88 75
Synedra ulna (Nitzsch)
Ehrenberg 0.11 0.26 25
Terpsinoe musica Ehrenberg 1.22 1.22 75
Thalassionema nitzschioides
Grunow 0 3.55 13
Thalassiothrix frauenfeldii
Grunow 0 1.97 25
Tropidoneis lepidoptera 0.33 0 13
CHLOROPHYTA - - -
Pediastrum SP 0.16 0 13
Clarophora sp1 0.66 2.16 75
Cladophora sp2 0.56 0.96 50
Rhizoclonium SP 0.77 8.99 63
Spirogyra SP 0.16 0 13
Closterium costatum Corda 0.11 0.17 25
Closterium ehrenbergii
Meneghini 0 0.56 25
Capítulo 3 - 178
Distribuição dos principais grupos identificados do fitoplâncton das amostras
Figura 3. 19 – coletadas na área estuarina do Rio Massangana e entorno das Ilhas de
Tatuoca e Cocaia, em abril de 2010.
Dinophyta
13%
Chlorophyta
11%
Cyanophyta
Bacillariophyta 13%
60%
Euglenophyta
3%
1 2 3
4 5 6
Quanto à abundância relativa dos táxons, as diatomáceas também foram as algas mais
importantes do microfitoplâncton destacando-se as seguintes espécies como os mais
abundantes: Bacillaria paxillifera, Coscinodiscus centralis e Surirela fastuosa.
Com relação à freqüência de ocorrência nas amostras dos dois estágios de maré
amostrados, os táxons considerados freqüentes (acima de 50%) foram: Bacillaria
paxillifera Coscinodiscus centralis Oscillatoria sp1 Navicula sp Surirella fastuosa
Terpsinoe musica Clarophora sp1 Euglena sp Ceratium fusus Chaetoceros sp
Rhizoclonium sp.
Capítulo 3 - 179
A partir da análise ecológica das espécies registradas observou-se um predomínio de
organismos marinhos neríticos (32%), seguidos por espécies oceânicas (30%),
ticoplanctônicos (19%), estuarinas (12%) e, em menor proporção, 7% de táxons de
águas doces. Em continuação indicam-se as espécies de fitoplâncton, segundo sua
caracterização ecológica (Quadro 3.19).
Capítulo 3 - 180
Quantitativamente, ficou evidente o impacto que as dragagens exercem no
desenvolvimento dos produtores primários na área do ponto 2. Neste local, tanto na
baixa-mar quanto na preamar, a riqueza de espécies identificadas foi inferior aos
demais pontos (Figura 3.21).
34
N° de Espécies identificadas
32
30
28
26
24
22
20
18
16
14
12
P1BM P2BM P3BM P4BM P1PM P2PM P3PM P4PM
Ponto de Coleta/Maré
Capítulo 3 - 181
Clorofila a registrada na área estuarina do Rio Massangana e
Figura 3. 22 –
entorno das Ilhas de Tatuoca e Cocaia, em abril de 2010.
3.5
3
Clorofila a (mg.m -3)
2.5
1.5
0.5
0
P1BM P2BM P3BM P4BM P1PM P2PM P3PM P4PM
Pontos de coletas/Maré
Clorofila a
Data Hora Local Prof. (m) Secchi (m) Temp. (ºC) Salin. (‰) Maré -3
(mg.m )
01/04/10 09:25 P1 4,00 1,10 29,50 36,00 BM 1,77
01/04/10 10:00 P2 2,00 0,55 30,00 36,00 BM 1,28
01/04/10 10:35 P3 7,50 0,90 30,00 32,00 BM 1,74
01/04/10 11:10 P4 7,50 0,70 30,00 32,00 BM 3,40
Capítulo 3 - 182
Resultado das medições de dados abióticos e clorofila a, coletados na área
QUADRO 3.20 – estuarina do Rio Massangana e entorno das Ilhas de Tatuoca e Cocaia em abril
de 2010.
01/04/10 17:20 P1 7,00 2,50 29,00 39,00 PM 0,38
01/04/10 16:50 P2 3,50 0,60 29,50 38,00 PM 0,77
01/04/10 16:30 P3 9,00 2,00 29,50 39,00 PM 0,55
01/04/10 16:10 P4 8,50 1,00 30,50 35,00 PM 1,48
38
Salinidade
36
34
32
30
P1BM P2BM P3BM P4BM P1PM P2PM P3PM P4PM
Pontos de Coleta/Maré
3.5.6.4 Microzooplâncton
Quanto aos organismos do zooplâncton identificados nas amostras, foram registrados
representantes dos grupos Tintinnina, Foraminifera, Rotifera, Nematoda, Mollusca,
Annelida, Crustacea (outros), Crustacea (Copepoda), Echinodermata e Chordata.
No total foram identificados 51 táxons, considerando-se a menor unidade possível para
cada grupo, tendo-se destacado os Copepoda, com 18 espécies e Tintinnina com 13
(Quadro 3.21).
Capítulo 3 - 183
Lista taxonômica das espécies do microzooplâncton observadas
QUADRO 3.21 – nas amostras coletadas no Rio Massangana e entorno das Ilhas
de Tatuoca e Cocaia, em abril de 2010.
100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
P1_BM P2_BM P3_BM P4_BM P1_PM P2_PM P3_PM P4_PM
Capítulo 3 - 184
A predominância de organismos meroplanctônicos nas amostras de BM ocorre uma
vez e é nesse momento que esses organismos são exportados para a área costeira
adjacente ao estuário, afetando as teias alimentares pelágicas marinhas. Isso acontece
com diversos organismos do zooplâncton, como por exemplo, as larvas de crustáceos
decápodes.
Já dentre os organismos holoplanctônicos, destacaram-se os Copepoda, grupo mais
abundante do zooplâncton estuarino. Neumann-Leitão et al. (1998), afirma a
importância dos Copepoda para o zooplâncton estuarino de Pernambuco, com 40
espécies registradas. Destaca-se dentre os Copepoda, uma dominância de estágios
juvenis (copepoditos), principalmente dos gêneros Acartia, Oithona e Paracalanus,
espécies estuarinas típicas, dominantes nos estuários Pernambucanos.
Já o ticoplâncton, que é formado por organismos não planctônicos, mas que por algum
motivo, como dragagens, ressuspensão do sedimento e/ou turbulência provocada pelo
próprio motor da embarcação no momento do arrasto, vão parar na coluna d’água,
estiveram presentes em 3 amostras das quais duas são provenientes do P2, área que
apresentou menor profundidade (Figura 3.24).
Quanto à abundância relativa dos grandes grupos (Figura 3.25), destacaram-se além
dos Copepoda, outros Crustacea, principalmente nauplius, e larvas véliger de Annelida
e Mollusca, estes últimos com grande importância para a pesca artesanal na
comunidade local, que coleta organismos das espécies Crassostrea rhizophorae,
Tagelus plebeius, Anomalocardia brasiliana, Mytella guyanensis e M. charruana.
Diversos autores relatam que em áreas estuarinas as larvas são comuns e podem
chegar a dominar toda a população durante períodos reprodutivos (SANTANA-
BARRETO et al., 1991; PARANAGUÁ, 1985/86; NEUMANN-LEITÃO et al., 1992;
SANT’ANNA, 1993). Esses períodos reprodutivos ocorrem durante a lua cheia, quando
há a liberação dessas larvas para fora dos estuários.
100%
90%
80%
Chordata
70%
Echinodermata
Copepoda
60%
Crustacea (outros)
50% Annelida
Mollusca
40%
Nematoda
30% Rotifera
Foraminifera
20%
Tintinnina
10%
0%
P1_BM P2_BM P3_BM P4_BM P1_PM P2_PM P3_PM P4_PM
Capítulo 3 - 185
Em P4PM, ainda estiveram bem representados os Foraminifera e os Tintinnina. Dentre
os Foraminifera, destaque para Tretomphalus bulloides, espécie que apresenta
ecologia bastante peculiar, ocorrendo tanto na forma bentônica, quanto na planctônica,
durante o período reprodutivo. Esta espécie forma uma “câmara” cheia de ar que
permite que ela migre para a coluna d’água. Os Tintininna apresentam importantes
vantagens como indicadores biológicos em relação a outros grupos do zooplâncton,
pois são mais abundantes, com maiores taxas de reprodução e habitam áreas
costeiras e oceânicas, enquanto outros grupos são restritos às áreas oceânicas.
Oliveira (2008) em estudo na região portuária do Recife observou uma forte dominância
de Favella ehrenbergii. Águas poluídas por matéria orgânica, como a área estudada
pela autora, possuem fauna restrita a um pequeno número de espécies capazes de
sobreviver em baixas concentrações de oxigênio dissolvido e altas concentrações de
matéria orgânica dissolvida e particulada, e a ocorrência dessa espécie sugere que ela
tenha capacidade de suportar um elevado grau de poluição, sendo ótima bioindicadora
de poluição orgânica. A presença de Favella ehrenbergii em quantidades similares as
demais espécies de Tintinnina na área de estudo, indica que poluição orgânica
provavelmente não represente um forte impacto naquele ambiente.
Em termos de frequência de ocorrência (Figura 3.26), 7 dos 51 taxa registrados foram
considerados muito frequentes, sendo eles: Tetromphalus buloides, Crustacea
(nauplius), Polychaeta (larva), Bivalve (véliger) e Gastropode (véliger) com 100% de
ocorrência e Paracalanus sp. (copepodito) e Oithona oculata com 87,5%. Cerca de
Capítulo 3 - 186
45% dos taxa foram considerados esporádicos. Os valores de densidade variaram de
3042,48 a 18795,64 ind.m-3 nas amostras P1_BM e P3_PM respectivamente (Figura
3.27).
20000
18000 BM
16000 PM
Densidade (ind.m-³)
14000
12000
10000
8000
6000
4000
2000
0
P1 P2 P3 P4
De maneira geral, foram observados valores superiores nas BM, com média de
8309,54 ind.m-3, enquanto a PM apresentou média de 6937,79 ind.m-3. Os principais
organismos em termos de densidade foram Crustacea (nauplius) e Paracalanus sp.
(copepodito). Esses valores são bastante similares aos encontrados por Oliveira (2008)
em amostras estuarinas também coletadas no período chuvoso, com uma maior
densidade sendo observada na PM, provavelmente devido à contribuição de espécies
costeiras.
3,0
2,5
2,0
1,5
1,0
0,5
0,0
P1_BM P2_BM P3_BM P4_BM P1_PM P2_PM P3_PM P4_PM
Diversidade Equitabilidade
Capítulo 3 - 187
Outro fator que ainda pode afetar fortemente a densidade do microzooplâncton é a
pressão de predação, devido a estes animais serem consumidos pelo meso e
macrozooplâncton. A diversidade variou de média a baixa, chegando a um máximo de
2,66 bits.ind-1 em P4_PM (Figura 3.28). Estudos em estuários pernambucanos
mostram valores próximos a estes, podendo também, apresentar valores maiores que
3 bits.ind-1 em alguns casos. Observa-se um leve aumento deste parâmetro nos pontos
mais externos durante a PM, devido ao aporte de espécies marinhas.
Quanto à equitabilidade, em todas as amostras os valores foram superiores a 0,5, o
que demonstra uma equitatividade entre as amostras.
A análise de Agrupamento (Figura 3.29) mensurada a partir do índice de Bray e Curtis,
revelou a formação de dois grupos principais. O primeiro (A) composto pelas amostras
dos pontos 1 e 2, além da P3_BM, enquanto o segundo grupo (B) foi formado pela
P3_PM e pelas amostras do ponto 4. Esse agrupamento demonstra a forte influência
das águas costeiras nos dois pontos de coleta mais externos (pontos 1 e 2). Além
disso, observa-se que durante a PM, essa influência se estende ainda mais, afetando a
estrutura da comunidade zooplanctônica do Ponto 3. Uma espécie que atua como
indicadora dessa condição é Paracalanus indicus, espécie típica de águas costeiras e
de plataforma, que esteve presente apenas nos pontos 1 e 2.
Capítulo 3 - 188
3.5.7 Macrobiota Aquática
Capítulo 3 - 189
Foto 3.23 – Macroalgas feofíceas presentes no entorno da Ilha de Cocaia.
B. Fanerógamas marinhas
As fanerógamas marinhas habitam áreas costeiras e nos locais onde ocorrem, tendem
a formar extensos prados.
Halodule wrightii é a fanerógama mais comum no litoral de Pernambuco, ocupando
sedimentos constituídos por areias quartzosas como calcárias, em lugares
relativamente calmos, freqüentemente em posições intermediarias entre os estuários e
o mar, desde a linha de maré baixa até os 10 mts de profundidade.
O fital constitui um local de proteção e abrigo para pequenos animais contra seus
predadores, alem de servir de alimento para uma grande variedade de animais:
crustáceos, moluscos, peixes, mamíferos marinhos como o peixe boi marinho Tricherus
manatus em algumas áreas, e aves, sendo uma área de grande produção e
transferência energética.
Os prados de angiospermas são considerados, dentre os ecossistemas marinhos, um
dos mais produtivos, beneficiando significativamente à produtividade de áreas
costeiras, tanto em águas temperadas como em tropicais. A área da Baía de SUAPE é
conhecida pelos vastos prados de fanerógamas Halodule wrightii (capim agulha ou
grama marinha). Tais concentrações de H. wrightii foram observadas ao largo de toda a
baía, porém em maior concentração na área marginal da Ilha de Cocaia com mais ao
norte da região, próximo à Praia de Paraíso (Foto 3.24).
Capítulo 3 - 190
Fanerógama marinha (Halodule wrightii) registrada na
Foto 3.24 – baía de SUAPE, próximo à praia de Paraíso, em abril de
2010.
Capítulo 3 - 191
Nos ambientes mais internos do Rio Massangana foram identificados espécies de
crustáceos de grande valor econômico, como Ucides cordatus (caranguejo-uçá),
Goniopsis cruentata (aratu-do-mangue) e Cardisoma guanhumi (guaiamum).
Capítulo 3 - 192
Nas raízes, caules e ramos de árvores de mangue foi possível detectar a presença fixa
de alguns cirrípedes (cracas), organismos de importância ecológica e filtradores como
o gênero Balanus spp, Chthamalus spp, Euraphia sp.
Dentre os camarões, as espécies Macrobrachium acanthurus (pitu) M. carcinus,
Palaemon northropi, Palaemon pandaliformis, Penaeus brasiliensis (camarão-rosa) e
Penaeus schmitti são citadas em trabalhos anteriores como presentes na área. De
acordo com informações colhidas informalmente com pescadores locais, a pesca de
camarão na região é hoje bastante reduzida, apontada pelos próprios pescadores
como reflexo das alterações ambientais do Porto e sobrepesca.
Nos ambientes com salinidade marinha e mesohalina, Baía de SUAPE e estuário do
Massangana, podem ser encontrados exemplares juvenis de camarões
(predominantemente Penaeus spp), indicando o uso destes locais como áreas de
berçários.
B. Moluscos
O estudo realizado por Pires Advogados e Consultores (2000) registrou naquela
oportunidade a ocorrência de 94 espécies de Gastrópodes e 16 de Bivalves,
totalizando 110 espécies para a área do CIPS. No presente estudo, foram identificadas
na AID do Empreendimento as classes de moluscos Gastropoda, Bivalvia, Scaphopoda
e Amphineura.
Entre as espécies anotadas no presente estudo estão Anomalocardia brasiliana
(marisco-pedra), Tagelus plebeius (unha-de-velho), Iphigenia brasiliana (taioba),
Mytella falcata (sururu), Crassostrea rhizophorae (ostra-do-mangue), o mexilhão
Mytillus charruana, os gastrópodes comestiveis Neritina virginea, Pugilina morio e
Teredo navalis. A espécie Littorina angulifera (mela-pau) também foi vista nas partes
mais altas das árvores de mangue (Foto 3.27).
Capítulo 3 - 193
Ostras e cracas colonizando raízes de Rhizophora mangle na margem esquerda
Foto 3.28 –
do rio Massangana, em abril de 2010.
Foi possível perceber também, através das observações de campo que o processo de
assoreamento em algumas áreas nas adjacências da Ilha de Cocaia vem afetando
diretamente a navegação e, sobretudo, a população de marisqueiros. Tais
modificações decorrentes das obras no Porto (dragagem), principalmente, relacionadas
às escavações para aprofundamento do leito do Rio Tatuoca, além de aterros,
provocam alterações na hidrodinâmica local e influenciam a estrutura populacional
desses organismos e das comunidades de organismos bentônicos como um todo, com
reflexos negativos sobre o rendimento das espécies comerciais.
Capítulo 3 - 194
Representação gráfica da distribuição espacial das espécies
Figura 3. 30 –
mais representativas nos manguezais.
Capítulo 3 - 195
por coqueiros e vestígios de Mata Atlântica e protegida por uma barreira natural de
recifes de arenito.
As famílias Clupeidae (36%) e Engraulidae (19%), representantes da ordem
Clupeiformes, foram as mais abundantes, evidenciando que estas têm grande
relevância para a composição da ictiofauna da Praia de SUAPE. O aumento da
freqüência destas famílias no verão indica que os índices pluviométricos possuem
influência inversa sobre a sazonalidade da comunidade de peixes local.
A espécie mais representativa foi o clupeídeo Lile piquitinga, (comumente chamado
pipitinga) apresentando 36% dos indivíduos totais amostrados, seguido de espécie não
identificada representante da família Engraulidae (19%), Sphoeroides testudineus
baiacu-pintado (12%) e Haemulon parra biquara (7%). Lile piquitinga é a espécie mais
comum no nordeste, sendo bastante flexível a diversos tipos de habitats, como áreas
com muita lama, sendo capaz de tolerar altas salinidades.
Foram amostradas também as espécies Chaetodipterus faber (paru branco) e Eugerres
brasilianus (carapeba-listrada), que consomem principalmente algas cianofíceas, restos
de mangue e vegetais fanerógamas, sugerindo que estas espécies se beneficiam da
grande quantidade de algas presente no local, demonstrando também a capacidade de
suporte trófico da Praia de SUAPE. A quantidade representativa de indivíduos (841)
encontrada pode estar associada ao grande acúmulo de algas arribadas presente na
Praia de SUAPE, as quais oferecem alimento, refúgio e novos microhabitats para
muitas espécies de peixes, demonstrando sua grande importância para a continuidade
do ciclo de vida das comunidades de peixes locais.
Capítulo 3 - 196
produção estadual. O Município de Cabo, que inclui a comunidade pesqueira de
SUAPE, além da de Gaibú, gerou 164,6 toneladas, representando uma das menores
produções do estado (1,2 %). A produção conjunta de Ipojuca e Cabo é muito pequena
diante da demanda da população de seus municípios.
Com base nas estatísticas existentes se fará a seguir uma caracterização da atividade
pesqueira nos Municípios de Ipojuca e Cabo, pois ambos compartilham a área de
abrangência do Empreendimento, sendo o Rio Massangana o limite entre ambos.
Em Pernambuco, o Projeto ESTATPESCA acompanha os desembarques de mais de
cem espécies, entre peixes, moluscos e crustáceos. Entre elas, 46 têm seus
desembarques controlados e aquelas com produção anual inferior a 0,1 toneladas
foram agrupadas na categoria “OUTROS”, incluindo cerca de 60 espécies.
As capturas de 2006 em Ipojuca incidiram mais intensamente sobre as 18 espécies,
cujas produções foram superiores a 4,0% e totalizaram 219,3t ou 75% das capturas no
município. No Cabo, as seguintes espécies tiveram capturas foram superiores a 4,0%,
totalizaram 106,5 t ou 64,7% das capturas no município:
Produção de Produção do
Recurso Pesqueiro Ipojuca (T) Cabo (T)
em 2006 em 2006
Sardinha 39,8 6,0
Saramunete - 20,0
Camarões 27,6 7,6
Agulha 23,6 6,4
Cioba 18,7
Arioco - 12,2
Lagosta vermelha 15,9 5,9
Sapuruna - 15,7
Lagosta Verde - 6,8
Cavala 13,7
Arioco - 12,2
Sirigado 10,2
Dourado 9,1
Guaiuba 8,8
Garajuba 8,0 12,1
Bagre 7,4
Serra 7,0 6,3
Albacora 6,6
Tainha 5,2
Camurim 4,8
Arabaiana 4,7
Budião 4,1 7,5
Dentão 4,1
Capítulo 3 - 197
guaiuba, foram muito importantes na produção de Ipojuca, suas capturas foram baixas
no Cabo.
A produção de camarões e lagosta vermelha foi importante em ambos os municípios,
porém a lagosta verde foi um recurso pesqueiro significativo somente em Cabo.
Das 29 espécies que compõem a maior parcela de produção na área de abrangência
do Empreendimento, 26 são consideradas estuarinas e 3, o dourado, a lagosta e a
albacora ocupam nichos marinhos. Além destas espécies, o ESTATPESCA registra
ainda a participação em menor escala de outras espécies comuns em estuários, entre
elas: sauna, pescada, sapuruna, biquara, pargo mulato, carapeba, cação, bonito,
aracimbora e xaréu.
A produção de peixes em Ipojuca e Cabo como decerto a dos demais estuários é
sustentada pelas condições oferecidas pelos manguezais que abrigam as espécies em
alguma fase do seu desenvolvimento ontológico ou em todas elas quando se trata das
espécies residentes. Segundo o Boletim da Estatística da Pesca Marítima e Estuarina
do Nordeste do Brasil, em 2006 (CEPENE) a frota cadastrada nos dois municípios de
interesse, Ipojuca e Cabo esteve representada conforme quadro a seguir.
Capítulo 3 - 198
Contudo, nas visitas efetuadas, e especificamente durante a baixa-mar, foram
observados catadores de mariscos (marisqueiros) em bancos de areia localizados na
Baía de SUAPE, nas proximidades da Ilha de Cocaia, o que indica que a exploração
desse ambiente ainda sustenta uma parcela da população local. Os moluscos de
importância comercial que são capturados, segundo os pescadores-catadores, são:
unha-de-velho, sururu, marisco-pedra e ostra.
Da mesma maneira não há registro da produção de brachiuros (caranguejo, aratu, siri)
que são coletados no manguezal e abastecem bares e restaurantes locais numa escala
razoável.
Aparece, no entanto, a produção de camarões Xiphopenaeus kroyeri (camarão sete-
barbas), Litopenaeus schmitti (camarão branco) e Farfantepenaeus subtilis (camarão
rosa), alcançando 27,6 t e de lagosta vermelha com 21,1 t, obtidas em Ipojuca, no mar
de fora. A lagosta verde também teve uma produção significativa em SUAPE (6,8 t).
Estes têm maior valor de venda na época de pesca proibida, daí o maior controle sobre
a produção. Os camarões vêm de fundos de lama sob influência estuarina, são
capturados com embarcações com maiores recursos e autonomia que os brachiuros ou
outros recursos pesqueiros.
As lagostas são buscadas em fundos de cascalhos e rochosos igualmente com barcos
melhor equipados capazes de conduzir covos ou mergulhadores com seus
equipamentos.
Capítulo 3 - 199
para análise da composição das capturas e identificação das espécies
ocorrentes;
Reconhecimento das espécies fornecidas pelos pescadores, a partir de dados
secundários oriundos da UFPE, UFRPE, CEPENE e outras instituições locais e
regionais de pesquisa e desenvolvimento;
A partir da produção individual dos pescadores parceiros, associada ao número
total de pescadores existentes, avaliar a produção pesqueira na AID.
A metodologia inicialmente prevista e acima descrita não pode ser aplicada na integra
como inicialmente pretendido, em função das dificuldades de obtenção de dados
representativos do número de pescadores que regularmente trabalham no estuário, ao
igual que seus hábitos de pesca. Da mesma forma, a produção individual dos
pescadores não pode ser aferida com precisão fase à dificuldade de obter os dados de
tempo de pescaria e metodologia utiliza, além de em muitos casos, terem verificado
produções individuais muito baixas.
Contudo, estes fatos também são resultados da pesquisa e serão valiosos para efeitos
de levantamentos futuros porventura realizados. Enquanto isso, os levantamentos
efetuados e descritos na seqüência fornecem uma visão geral da situação atual da
pesca no estuário do Massangana.
Capítulo 3 - 200
47 pescadores para SUAPE e entorno da Ilha de Tatuoca é um pequeno
contingente, mesmo considerando que boa parte não vive exclusivamente da
pesca dedicando-se a outras atividades como agricultura e turismo. A verdade é
que a movimentação nas praias e nas águas e as informações colhidas junto
aos pescadores locais indicam que o contingente pode ser menor. Essa
possibilidade é reforçada pelo fato de que o defeso da lagosta protege apenas
14 pescadores em todo o Município do Cabo.
Quando se pretende quantificar os pescadores pelo tipo de atividade que cada um
exerce, o número se dilui mais encontrando-se: marisqueiro, caranguejeiro,
camaroneiro, pescador, etc. Cada uma destas atividades tem suas nuanças quanto ao
modo de operação, em relação ao tipo do local de trabalho, ou ainda quanto ao recurso
natural explorado. Uns operam no mar de dentro, outros no mar de fora, outros no
mangue, outros em bancos de areia no interior da baía. Uns trabalham em função da
maré e outros trabalham a qualquer hora no mar de fora e assim por diante. Isso torna
muito difícil o enquadramento destas praias num sistema de estatística de grande
escala. Em assim sendo e não havendo estudos pontuais sobre a pesca desta área,
procurou-se aqui estabelecer as suas características gerais a fim de aferir na medida
do possível a importância da atividade para as comunidades que dela dependem.
Neste sentido e visando detectar eventuais mudanças na estrutura da pesca local e no
seu potencial, foram realizadas visitas à Praia de SUAPE, incursões sobre o Rio
Massangana, acompanhamento de jornadas de pesca, entrevistas a experientes
pescadores atuais e aposentados, a lideranças locais dos pescadores e a
representantes de atividades correlacionadas como bugreiros e agricultores.
A produção local, como mencionado anteriormente, apóia-se nas capturas de moluscos
(ostra, sururu, mariscão e marisquinho), de crustáceos (caranguejos, siris, aratus,
guaiamu) e de peixes (tainha e agulha basicamente), sendo que as pesquisas
desenvolvida pela equipe resultaram no seguinte perfil da pesca local.
3.5.9.2 Marisquinho
O catador do marisquinho opera nos bancos de areia que se põem à descoberto nas
baixa-mares (Foto 3.30).
O esforço de captura direcionado para este e os demais moluscos é pequeno não se
conseguindo listar 15 chefes (líderes de grupos de 3 ou quatro pessoas geralmente de
uma mesma família) operando nos bancos da área de SUAPE. Nesta faina utilizam
canoa, balde, puçá e gálea. Com base nas operações de catadores acompanhadas
pela equipe do EIA, nos meses de abril/maio, estimou-se a produtividade atual da
forma seguinte:
3.5.9.3 Mariscão
O mariscão também chamado de lambreta, sendo um molusco de maior valor de venda
no mercado local. Em uma jornada de trabalho pode-se obter 10 litros de mariscão que
é vendido inteiro a R$4,00 (quatro reais) e R$5,00 (cinco reais) o litro. O litro local é a
metade da cuia de queijo do reino.
Capítulo 3 - 202
3.5.9.4 Sururu
É coletado na lama na baixa-mar, no interior do mangue. A produção observada
correspondeu a uma jornada de 4 horas (das 9h às 13h), de duas pessoas e rendeu
20,0 quilos brutos que resultou em 2,0kg de carne que foram vendidos a R$13,00
(treze reais) o quilo. A atividade depende dos pedidos dos clientes, pois se não há a
quem entregar imediatamente, perde-se o produto.
3.5.9.5 Caranguejo
Praticamente só pescam caranguejo na área de SUAPE durante as “andadas” do
crustáceo. São poucas as pessoas que penetram o mangue para tirar caranguejos nos
buracos onde se abrigam. Em áreas isoladas da região encontram-se pessoas
dedicadas a esse affair. É o caso de Tiriri de Dentro, comunidade ao lado do “Mangue
da Diamar” no qual algumas pessoas dedicam-se à tira não apenas de caranguejos,
mas também de guaiamuns, siris, sururus. Pesca-se também com “laço” que é um saco
desfiado que emaranha o caranguejo ao sair do buraco. Antigo pescador descreve que
antigamente se pescava caranguejos onde agora está o Porto de SUAPE e em Cocaia.
Hoje a pesca é praticamente só no Tiriri, na Ilha Mercês ao lado do porto. A jornada de
pesca vai da quarta até a sexta-feira ou sábado, quando levam as “cordas” para a feira
do Cabo no mercado público. A produção nas segundas e terças-feiras não consegue
compradores correndo o risco de ser perdida. Neste ano já ocorreram três andadas de
caranguejos. Na primeira andada o entrevistado capturou 110 caranguejos em jornada
de seis horas, na segunda andada 90-100 caranguejos sempre no Mangue da Diamar.
O mangue do Rio Massangana possibilita a pesca de mariscão, caranguejo, aratu, siri
e guaiamum.
3.5.9.6 Siris
O siri é capturado na maré vazante com gancho que é uma forquilha obtida de galhos
de embiriba ou de mangue canoé. Também se usam covos iscados com tripa de peixe
ou com caranguejo morto. Às vezes o pescador percorre três manguezais para
conseguir uma baixa captura representada por 3-5 exemplares. Quando a produção é
boa consegue-se 30 siris e nesta época vêm pessoas do Cabo pescar siri e
caranguejo, levando na volta até dois sacos dos crustáceos no quadro das bicicletas.
3.5.9.7 Guaiamuns
Abrigam-se em buracos cavados na parte alta do mangue, no limite com a terra firme.
São capturados com armadilhas denominadas “ratoeiras” em vista da semelhança do
funcionamento com as verdadeiras ratoeiras. Preferem a Ilha de Cocaia para captura
de guaiamus quando uma pessoa conduz 20-30 ratoeiras pegando 20-30 guaiamuns.
3.5.9.8 Ostras
Os ostreiros trabalham no mangue. Aí as partes inferiores dos caules das árvores
emergem nas baixa-mares permitindo o descolamento das ostras com auxilio de facões
(Foto 3.31).
Capítulo 3 - 203
Ostra de mangue (Crassostrea rhyzophorae) na zona supralitoral, nas raízes de
Foto 3.31 –
mangue.
3.5.9.9 Peixes
As principais espécies variam segundo o local de pesca e o apetrecho empregado:
No Rio Massangana usa-se rede de emalhe (Foto 3.32), com a qual se pesca uma
grande variedade de espécies: camurim (robalo, Centropomus spp.), arraias, bagres,
carapeba (Diapterus spp.), caranha (Lutjanus griseus), carapitanga (Lutjanus spp.),
baúna (dentão jovem, Lutjanus jocu), sauna (tainha jovem, Mugil spp.), mero
(Epinephelus itaiara, é devolvido à água, está proibida sua captura por estar em
perigo).
Empregam rede de seda (gill net) com malhas de 20-30 mm, que eles mesmos fazem a
mão. São redes de 18 a 40 metros de comprimento e 2 metros de altura, usam redes
Capítulo 3 - 204
continuas alcançando até 700 metros de comprimento, segundo o local de pesca.
Pescam 8 pescadores juntos, todos vão de canôa a remo. A pescaria dura 24 horas
obtendo produções de 40-50 kg em cada saída de espécies misturadas, sendo
realizadas 3 pescarias por semana.
Também ocorre este tipo de pescaria realizada por pescadores individuais da Ilha de
Tatuoca, obtendo produções de 10-15 kg por pessoa em 24 horas de pesca. A
produção, neste caso, é maior, pois os pescadores mais experientes realizam duas
coletas, uma às 10 pm e outra ao retirar o apetrecho para obter uma melhor qualidade
da carne.
Capítulo 3 - 205
capturas vendem-se em barzinhos da Praia de SUAPE, na feira de Cabo o Gaibu ou na
peixaria de Neném na Praia de SUAPE. A produção varia entre 50-200 kg/saída.
(a) Pesca com tarrafa em jangada no canal de navegação de Tatuoca. (b) Pesca
Foto 3.33 – de tainha com covo (armadilha) na Baía de SUAPE e mar de fora. (c) Tarrafa
secando-se no porão da casa.
Capítulo 3 - 206
(a) Arraia pintada de 38 cm de comprimento e 60 cm de envergadura. (b)
Cambuba de 20 a 27 cm de comprimento. (c) Peixe gato de 29 cm de
Foto 3.34 – comprimento. (d) Dentão de 24 cm de comprimento. (e) Carapeba de 30 cm de
comprimento (f) Carapau de 15 cm de comprimento. (g) Salema de 33 cm de
comprimento.
Capítulo 3 - 208
A anomalia morfológica típica da valva direita das ostras, provocada pelo
estanho orgânico na ostra-de-mangue Crassostrea rhizophorae resulta um
importante elemento de monitoramento e controle da presença de
contaminantes químicos derivados de tintas das embarcações.
(MULTICONSULTORIA, 2004)
Abundância de gastrópodes pouco tolerantes a poluição da família
Columbellidae no Complexo Estuarino de SUAPE, indica uma boa qualidade
ambiental (FERNANDES et. al. 1995). Se a abundância diminui, reflexa
indiretamente uma modificação nas condições ambientais.
Espécies bioacumuladoras são indicadores adequados para metais pesados,
agrotóxicos e hidrocarbonetos aromáticos. Espécies filtradoras como
Crassostrea rhizophorae podem indicar as condições de contaminação da
coluna d´água e as detritívoras, como o marisquinho A. brasiliana e o
gastrópodo P. morio, podem evidenciar a contaminação do sedimento.
(MULTICONSULTORIA, 2004)
Espécies de peixes bentônicos de mobilidade reduzida, como Achirus declives e
Citharichthys spilopterus, pois além do contato branquial com a água e dérmico
com o substrato, também ingerem organismos bentônicos detritívoros e assim
acumulam facilmente os contaminantes, desde que a rota dietária, por solubilizar
os contaminantes, é considerada a mais importante fonte de toxidade,
informando sobre a trajetória na cadeia trófica. A contaminação química produz
sintomas de alterações visíveis, como as morfológicas (olhos, nadadeiras,
deformações esqueléticas) e o aparecimento de lesões típicas na epiderme,
facilitando assim a detecção da contaminação. (MULTICONSULTORIA, 2004)
O ouriço do mar (Equinometra lucunter), por apresentar um hábito
essencialmente sedentário, se torna importante elemento bioindicador (MELO et.
al. 2003). Os teores de lipídios (colesterol e triglicerídeos), proteínas,
carboidratos e DNA podem servir como indicadores da qualidade de alimento
presentes numa área.
Capítulo 3 - 209
3.6 DIAGNÓSTICO SOCIOECONÔMICO NAS ÁREAS DE INFLUÊNCIA DO EMPREENDIMENTO
6
GOVERNO DE PERNAMBUCO. Projeto Todos por Pernambuco. Plano Plurianual – PPA 2008/2011.
Disponível no endereço:
http://www2.portaltransparencia.pe.gov.br/c/portal/layout?p_l_id=PUB.1020.53#. Acesso em 6/7/2009.
7
GOVERNO DE PERNAMBUCO. Plano Território Estratégico de SUAPE – Diretrizes para uma
ocupação sustentável. Disponível no endereço:
http://www.portais.pe.gov.br/c/portal/layout?p_l_id=PUB.1557.187. Consulta em 10/4/2010.
Capítulo 3 - 210
Ainda com base na primeira delimitação dos espaços abrangidos pela referida política
de desenvolvimento estadual, destacam-se algumas características do Território
SUAPE8:
Área – 1.774.07 km2 (1,8% de Pernambuco);
População Total 2007 – 1.011.276 habitantes (12% de Pernambuco);
Taxa de urbanização 2007 – 94,3%
Densidade demográfica 2007– 570 habitantes por km2 (PE - 86 hab/Km2);
PIB (Produto Interno Bruto) – R$ 9.833,1 milhões, o que representa 23,3% do
PIB de Pernambuco e 36,7% da Região Metropolitana. (2003);
PIB per capta 2005 - R$ 10.791 (PE: R$ 5.931);
Atividades econômicas predominantes – agropecuária, turismo e indústria da
transformação;
Déficit habitacional – 40.000 (2006);
Incremento potencial de 100 mil empregos em decorrência dos recentes
investimentos no setor industrial.
Rio
Discriminação Cabo Ipojuca Escada Jaboatão Moreno Sirinhaém Ribeirão
Formoso
Taxa de urbanização
88,31 69,06 82,66 98,00 87,84 53,00 79,32 61,42
(%)
Densidade
364,25 105,27 172,38 2.598,43 270,09 96,13 134,57 87,67
demográfica
8
Idem.
9
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Censo Demográfico 1991;
Censo Demográfico 2000; Contagem de População 2007; Cid@des; Estimativas de População.
Informações disponíveis no endereço http://www.ibge.gov.br/home/.
Capítulo 3 - 211
QUADRO 3.25 – Indicadores demográficos – 2007.
Rio
Discriminação Cabo Ipojuca Escada Jaboatão Moreno Sirinhaém Ribeirão
Formoso
(hab/km2)
Taxa anual de
crescimento
0,97 2,5 0,64 2,04 1,07 1,47 -1 0,19
demográfico
1
(2000/2007)
Média de moradores
4,13 3,92 3,71 3,87 3,63 4,24 3,76 4,17
por domicílio
Estimativa da
população para 171.583 75.512 62.604 687.688 55.659 38.610 39.317 21.815
2009
Fonte: IBGE e Agência CONDEPE/FIDEM
Notas: (1) População ajustada de 01.04.2007 para 01.08.2007, para que a taxa de crescimento da população no período 2000 a
2007, tivesse o mesmo mês de referência; (2) Os dados relativos a Jaboatão dos Guararapes têm como referências estimativas
elaboradas pelo IBGE, sendo que a média de moradores é de 2000, já que a Contagem de População de 2007 foi realizada
apenas nos municípios com menos de 100.000 habitantes.
Capítulo 3 - 212
Resultados da última contagem de população realizada nos municípios da AII onde
ocorrerá a maior parte dos impactos esperados do Empreendimento, Cabo de Santo
Agostinho e Ipojuca, mostram distribuições da população por idade relativamente
semelhantes, indicando uma elevada concentração de pessoas na faixa de idade de 20
a 29 anos, com uma inflexão na curva na faixa de 30 a 39 anos de idade e voltando a
ascender no grupo de idade de 40 a 49 anos. As informações sobre idade constituem a
base para o planejamento e execução de políticas públicas na área de educação e
saúde.
Com relação à variável sexo, verifica-se um equilíbrio na distribuição da população de
ambos os municípios mencionados (49% de homens e 51% de mulheres).
Capítulo 3 - 213
Do EIA-RIMA do Contorno Rodoviário do Cabo de Santo Agostinho (2010) 10 ,
transcreve-se o seguinte trecho que retrata, de maneira sintética, algumas
peculiaridades da economia local, ao qual se somam a Quadro 3.26 e a Figura 3.32
que tratam, exatamente, dos estabelecimentos e empregos formalmente reconhecidos
pelo Ministério do Trabalho e Emprego:
Nos últimos anos, foram realizados grandes investimentos, a exemplo da
Refinaria, do Estaleiro e do Pólo Poliéster, empreendimentos que, sem
dúvida, constituem fatores de dinamização econômica de toda a região que,
atualmente, conforma o Território Estratégico de SUAPE, em particular os
municípios do Cabo e Ipojuca. Essa dinâmica recente reverbera, direta e
indiretamente, sobre a economia, servindo de estímulo à instalação de novos
negócios, capazes de atender à demanda crescente por bens e serviços.
São inegáveis, ainda, os impactos de vários matizes, ocorridos no passado
e, também, no momento atual e no futuro, que possuem desdobramentos em
todo o tecido social, interferindo no modo de vida das pessoas do lugar e da
região.
No que diz respeito às atividades de comércio e serviços, é preciso ressaltar
singularidades decorrentes da expansão de alguns segmentos: (i) a
instalação de empresas voltadas ao atendimento da demanda de SUAPE; (ii)
a diversificação dos bens oferecidos e dos produtos, tendo em vista a
expansão das atividades turísticas no município (novos hotéis e pousadas,
resorts, residências de veraneio, realização de passeios e eventos, etc.); (iii)
crescimento das cidades e construção de novos hábitos de consumo entre
os habitantes do município; (iv) a condição de cidade-pólo em relação aos
municípios da Zona da Mata sul de Pernambuco, fato que contribui para o
aumento da oferta de serviços, por exemplo, na área de saúde e educação,
inclusive profissionalizante.
Quando se consideram os percentuais referentes à composição setorial do valor
adicionado bruto (VAB) nos municípios do Cabo de Santo Agostinho e Ipojuca,
constata-se a expressiva participação dos setores de serviços e industrial. Atualmente,
a agropecuária tem uma participação reduzida na composição do PIB dos municípios
estudados.
Com relação a Ipojuca, a participação do setor industrial apresentou um visível
crescimento no período entre 2003 e 2007, como atestam dados compilados pela
agência de planejamento do Estado de Pernambuco. Em 2003, a indústria contribuía
com 15,96 do PIB, passando a 32,70 em 2007. O Estudo de Impacto Ambiental do
Contorno Rodoviário do Cabo de Santo Agostinho (2010) ressalta algumas
singularidades do processo de crescimento dos setores de comércio e serviços no
Cabo de Santo Agostinho, mas que também são pertinentes no tocante a Ipojuca,
como se observa nos pontos a seguir relacionadas:
(i)a instalação de empresas voltadas ao atendimento da demanda de
SUAPE; (ii) a diversificação dos bens e dos produtos oferecidos, tendo em
vista a expansão das atividades turísticas no município (novos hotéis e
10
MORAES & ALBUQUERQUE ADVOGADOS E CONSULTORES. Estudo de Impacto Ambiental do
Contorno Rodoviário do Cabo de Santo Agostinho, 2010.
Capítulo 3 - 214
pousadas, resorts, residências de veraneio, realização de passeios e
eventos, etc.); (iii) crescimento das cidades e construção de novos hábitos
de consumo entre os habitantes do município; (iv) a condição de cidade-pólo
em relação aos municípios da Zona da Mata sul de Pernambuco, fato que
contribui para o aumento da oferta de serviços, por exemplo, na área de
saúde e educação, inclusive profissionalizante.
Capítulo 3 - 215
Figura 3.32 – Proporção de estabelecimentos e empregados por setor da economia.
3.6.2.4 Educação
O Termo de Referência que norteia a elaboração do presente diagnóstico relaciona um
conjunto de variáveis a serem examinadas no item que aborda o tema educação. No
tocante às referidas exigências, faz-se necessário fazer algumas considerações: (a) os
dados disponíveis quanto ao nível de escolaridade da população, inclusive os
11
Proporção de pobres (P0) - proporção dos indivíduos com renda familiar per capita inferior a 50% do
salário mínimo numa determinada data. De modo geral, a renda constitui o principal indicador da
condição de pobreza, muito embora alguns índices recorram a formas de mensuração mais complexas
e, por conseqüência, de maior consistência.
Capítulo 3 - 216
agrupados por sexo e faixa etária, estão bastante defasados, já que resultam do Censo
Demográfico de 2000; (b) um novo Censo encontra-se em andamento, mas os seus
resultados só deverão estar disponíveis, em nível de município, no próximo ano12.
No entanto, visando atender à recomendação acima mencionada, foram sistematizadas
informações, ressalvando-se que um quadro mais preciso e atual dessa realidade
dependeria da disponibilidade de dados ou de pesquisa direta sobre o assunto, tarefa
que extrapola o escopo do presente trabalho.
O Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil condensa informações acercada
proporção de pessoas que, por ocasião dos Censos Demográficos de 1991 e 2000,
haviam ingressado e estavam frequentando unidades de ensino instaladas em Ipojuca
e no Cabo de Santo Agostinho, como é possível visualizar no Figura 3.33 a seguir.
Observa-se, por exemplo, que à época já se mostrava elevado o percentual de
crianças de 7 a 14 anos de idade frequentando unidades de ensino fundamental, ainda
que em Ipojuca fossem registrados números inferiores aos do Cabo de Santo
Agostinho. No tocante ao segundo grau, pode-se constatar que, em 2000, havia uma
proporção reduzida de adolescentes de 15 a 17 anos de idade matriculados, muito
embora tenham ocorrido pequenos avanços quando se observam os dados referentes
a 1991. As informações assinaladas apontam que essa tendência decrescente torna-se
ainda mais acentuada em relação ao ensino superior, onde a proporção de jovens e
adultos matriculados era bastante reduzida, sendo inferior a 1% do total da população
do município.
A Quadro 3.27, adiante apresentada, aborda os números relativos à alfabetização da
população residente nos municípios da AII, com idade de 5 anos ou mais, incluindo a
variável sexo.Nota-se, de imediato, a linha decrescente da taxa de alfabetização,
quando se focaliza a distribuição por grupos de idade. Nesse sentido, os dados
específicos sobre a população adulta confirmam, justamente, o baixo nível de
escolaridade das pessoas com mais de 25 anos de idade, como se deduz do Quadro
3.28. Essa tabela confirma, ainda, o baixo nível de acesso ao ensino superior,
registrando-se percentuais abaixo dos obtidos em nível nacional.
De acordo com o prescrito na Lei 9.394, de 20/12/1996, que estabelece as diretrizes e
bases da educação nacional, a educação básica abrange o nível fundamental, com 9
anos de duração, e o nível médio, correspondendo a 3 anos de curso. Afora a
educação básica obrigatória, vêm sendo realizadas ações como o Programa Brasil
Alfabetizado (PBA), voltado para a alfabetização de jovens, adultos e idosos,no intuito
de superar as deficiências identificadas, e o programa Brasil Profissionalizado com o
objetivo de fortalecer as redes estaduais de educação profissional e tecnológica.
Outro elemento para análise do nível de escolaridade da população é fornecido pelos
dados relativos ao número de anos de estudo por faixa de idade, utilizando-se aqui as
faixas etárias definidas pelo IBGE nas tabelas resultantes do Censo Demográfico de
2000 – Dados da Amostra. Em função do presente diagnóstico, foram sistematizadas
as informações atinentes aos municípios do Cabo de Santo Agostinho e Ipojuca,
conforme ilustra a Quadro 3.29, à frente apresentada. Mais uma vez evidencia-se o
declínio da porcentagem de pessoas de sete anos e mais em relação à quantidade de
12
Até o momento, o IBGE divulgou apenas os dados preliminares referentes ao total da população
residente nos municípios. Ver, a respeito, www.ibge.gov.br
Capítulo 3 - 217
anos de estudo. Em outras palavras, à medida que cresce a idade, diminui o número
de anos de estudo, devendo-se destacar o fato de que para se completar o ensino
fundamental são necessários nove anos de frequência regular a uma escola.
Capítulo 3 - 218
População residente de 5 anos ou mais de idade por sexo, alfabetização
Quadro 3.27 –
e grupos de idade.
40 a 44
3.239 6% 3.550 7% 6.789 6% 911 5% 881 5% 1.792 5%
anos
45 a 49
2.654 5% 2.562 5% 5.216 5% 673 4% 637 4% 1.310 4%
anos
50 a 54
1.925 4% 1.815 3% 3.740 4% 490 3% 434 2% 924 3%
anos
55 a 59
1.245 2% 1.168 2% 2.413 2% 345 2% 308 2% 653 2%
anos
60 a 64
934 2% 896 2% 1.830 2% 306 2% 264 1% 570 2%
anos
65 a 69
570 1% 566 1% 1.136 1% 198 1% 140 1% 338 1%
anos
70 a 74
429 1% 353 1% 782 1% 126 1% 104 1% 230 1%
anos
75 a 79
219 0% 210 0% 429 0% 65 0% 51 0% 116 0%
anos
80 anos
192 0% 164 0% 356 0% 53 0% 50 0% 103 0%
ou mais
Total 51.315 100% 53.962 100% 105.277 100% 16.660 100% 17.926 100% 34.586 100%
f
Capítulo 3 - 219
Pessoas de 7 anos ou mais de idade, por sexo e por número de anos de estudo
Quadro 3.29 –
(%).
Grupos de anos de estudo/Municípios
Sem instrução
Grupos de 15 anos ou
e menos de 1 1 a 3 anos 4 a 7 anos 8 a 10 anos 11 a 14 anos
idade/Sexo mais
ano
Cabo Ipojuca Cabo Ipojuca Cabo Ipojuca Cabo Ipojuca Cabo Ipojuca Cabo Ipojuca
7 a 9 anos
Homens 1,56 3,03 1,83 1,29 0,01 0,02 - - - - - -
Mulheres 1,38 2,43 1,91 1,94 0,01 - - - - - - -
10 a 14
anos
Homens 0,45 1,3 2,4 3,38 3,03 1,98 - - - - - -
Mulheres 0,29 0,68 2,06 3,21 3,37 2,75 0,07 - - - - -
15 anos
Homens 0,06 0,15 0,2 0,46 0,65 0,73 0,62 0,05 - - - -
Mulheres 0,04 0,07 0,14 0,3 0,29 1,03 0,39 0,23 - - - -
16 e 17
anos
Homens 0,11 0,25 0,33 0,73 1,01 1,62 0,94 0,4 0,04 0,02 - -
Mulheres 0,07 0,11 0,22 0,55 0,89 1,49 1,16 0,56 0,07 - - -
18 e 19
anos
Homens 0,12 0,19 0,3 0,66 0,8 1,13 0,79 0,67 0,44 0,08 - -
Mulheres 0,07 0,17 0,21 0,36 0,7 1,09 0,82 0,63 0,63 0,19 - -
20 a 24
anos
Homens 0,32 0,96 0,2 1,35 1,7 2,18 1,18 1,11 1,41 0,65 0,09 0,02
Mulheres 0,73 0,51 0,55 1,21 1,55 2,01 1,19 1,32 1,84 1,29 0,15 0,04
25 a 29
anos
Homens 0,33 0,92 0,66 1,39 1,54 1,49 0,81 0,61 1,04 0,62 0,22 0,02
Mulheres 0,23 0,91 0,56 1,04 1,49 1,81 0,84 0,6 1,32 0,96 0,32 0,06
30 a 34
anos
Homens 0,37 0,98 0,66 1,39 1,42 1,18 0,73 0,26 0,88 0,46 0,25 0,02
Mulheres 0,29 0,74 0,61 1,24 1,42 1,29 0,75 0,45 1,09 0,65 0,33 0,1
35 a 39
anos
Homens 0,37 0,71 0,65 1,04 1,29 0,95 0,63 0,29 0,8 0,4 0,29 0,08
Capítulo 3 - 220
Pessoas de 7 anos ou mais de idade, por sexo e por número de anos de estudo
Quadro 3.29 –
(%).
Mulheres 0,32 0,64 0,64 1 1,34 1,12 0,65 0,3 0,96 0,49 0,35 0,1
40 a 49
anos
Homens 0,72 1,09 1,14 1,77 2,05 1,18 0,84 0,37 1,04 0,37 0,52 0,1
Mulheres 0,76 1,23 1,21 1,51 2,13 1,37 0,85 0,45 1,21 0,35 0,57 0,13
50 a 59
anos
Homens 0,77 1,1 0,93 1,15 1,24 0,6 0,36 0,12 0,43 0,14 0,32 0,05
Mulheres 0,94 1,61 1,04 0,88 1,29 0,7 0,37 0,13 0,49 0,13 0,27 0,05
60 a 69
anos
Homens 0,7 1,14 0,66 0,56 0,71 0,34 0,17 0,09 0,18 0,05 0,13 0,02
Mulheres 0,94 1,31 0,75 0,64 0,8 0,25 0,18 0,08 0,21 0,07 0,09 -
70 anos ou
mais
Homens 0,74 0,92 0,45 0,34 0,41 0,15 0,09 - 0,09 - 0,07 -
Mulheres 1,04 1,11 0,53 0,23 0,57 0,13 0,13 - 0,13 - 0,04 -
Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000- Dados da Amostra.
Capítulo 3 - 221
Número de escolas por dependência administrativa,
Quadro 3.30 –
segundo o tipo de ensino (2006).
Educação profissional em
- - - - -
nível técnico
Educação especial 2 - 1 1 -
Ipojuca
Creche 14 - - 3 11
Pré-escolar 74 - - 63 11
Ensino fundamental 100 - 7 75 18
Ensino médio 8 - 6 - 2
Supletivo 30 - 4 26 -
Educação profissional em
- - - - -
nível técnico
Educação especial 3 - 1 2 -
Nota: como os dados são de 2006, a unidade de ensino federal ainda não estava
contemplada.
Fonte: Agência Condepe-Fidem; BDE.
13
O Censo Escolar constitui um “instrumento de coleta de informações da educação básica, que
abrange as suas diferentes etapas e modalidades: ensino regular (educação Infantil e ensinos
fundamental e médio), educação especial e educação de jovens e adultos (EJA). O Censo Escolar coleta
dados sobre estabelecimentos, matrículas, funções docentes, movimento e rendimento escolar”.
Informações disponíveis no endereço: http://www.inep.gov.br/basica/censo/default.asp. Consulta em
11/4/2010.
Capítulo 3 - 222
O ensino público profissional (nível técnico) é oferecido em uma unidade do no
município de Ipojuca, com 617 alunos matriculados em 2009, segundo dados do Censo
Escolar realizado pelo INEP.
O Governo Federal desenvolve, igualmente, Programa de Educação de Jovens e
Adultos – EJA através das redes estadual e municipal de ensino, atendendo pessoas
em situação de defasagem idade-série. Do total de 111.280 matrículas realizadas em
2008, no Cabo, 12.132 eram alunos inseridos no EJA. Em Ipojuca, das 49.252
matrículas, 7.034 eram vinculadas ao citado programa governamental, o que
demonstra um esforço do poder público em superar as deficiências identificadas em
relação ao nível educacional da população.
14
Cf. http://ipojuca.ifpe.edu.br/conteudo.php?cat=20&sub=3. Consulta em 13/4/2010.
Capítulo 3 - 223
Microempresas.
Empresas de construção civil.
Escritórios de projetos (consultores)
Empresas de representações, vendas e assistência técnica.
Empreiteiras de serviços elétricos.
Indústria em geral (metalúrgica, tintas, produtos químicos, gás, cimento,
alimentos, bebidas).
Construção civil.
Indústrias de petróleo e gás.
Construção e reparação de embarcações e estruturas flutuantes.
Transportes.
Limpeza urbana.
Porto.
Mineração.
Refrigeração.
Hospitais, casa de saúde, laboratórios, etc.
Centros de pesquisas, universidades e escolas.
Empresas de telecomunicações.
Empresas de distribuição de energia.
Fundações, clubes e associações.
Bancos e instituições financeiras.
Secretarias e departamentos do Ministério do Trabalho.
Agroindústria e outras.
15
Cf. http://www.suape.pe.gov.br/atrativos_responsabilidade_social.asp . Consulta realizada em
13/4/2009.
16
Idem.
17
JORNAL DO COMÉRCIO, 13/4/2010, Caderno Economia, p.4.
18
Idem.
Capítulo 3 - 225
Municípios do Cabo de Santo Agostinho e de Ipojuca, colocando à disposição mais
duas mil vagas.
Ainda com relação ao ensino profissionalizante, cabe destacar as ações desenvolvidas
pelo SEST/ SENAT 19 e pelo SENAI 20 , algumas das quais em parceria com outros
órgãos, como apontado anteriormente.
Quanto ao ensino superior, há as Faculdades que funcionam nos Municípios do Cabo
de Santo Agostinho e Ipojuca, com as áreas de concentração a seguir discriminadas:
Faculdade de Ipojuca – FAJOLCA: bacharelado em Ciências Contábeis, Administração
e Pedagogia e cursos superiores de menor duração: gastronomia, gestão ambiental,
gestão de pessoas, hotelaria, logística empresarial, redes de computadores,
secretariado executivo, sistemas de informação. A faculdade oferece, também, cursos
de inglês e de informática para a comunidade.
Faculdade de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas do Cabo de Santo Agostinho –
FACHUCA: bacharelado em administração, licenciatura em história e em comércio e
administração.
Por outro lado, a proximidade em relação ao Recife e demais municípios da Região
Metropolitana abre um leque de oportunidades considerável no que diz respeito ao
ensino superior, tanto nas Universidades Públicas, como nas Particulares, já estando
em curso parcerias visando à formação de profissionais para atender à demanda das
empresas instaladas ou em processo de instalação em SUAPE.
Da análise dos vários aspectos envolvidos na questão educacional, observa-se que
ainda existe um enorme desafio no sentido da superação das enormes deficiências que
vêm sendo apontadas em relação à qualificação profissional da força de trabalho local,
sobretudo depois da instalação de grandes projetos, como a Refinaria Abreu e Lima e o
Estaleiro Atlântico Sul. A dificuldade para preencher o quadro de funcionários com a
mão de obra local remete ao despreparo associado a um modelo de ensino que não
tem se mostrado eficiente ma transmissão e consolidação de conhecimentos básicos.
19
Cf. www.sestsenat.org.br
20
Cf. www.senai.br
Capítulo 3 - 226
com investimentos da ordem de R$ 55 milhões, referente a gastos com estrutura física
e equipamentos. Na área privada, cabe mencionar o novo Hospital da Unimed.
21
JORNAL DO COMÉRCIO, 19/4/2010, Caderno Economia, p.6.
Capítulo 3 - 227
2009, encontra-se em funcionamento uma unidade de atendimento provisória. Dentre
os serviços atualmente oferecidos, podem ser destacados: exames exigidos pelas
empresas nos processos admissional e demissionário. Com a nova unidade planejada,
além dos serviços de saúde (exames clínicos e laboratoriais, raio-X, consultório
odontológico etc.), o SESI projeta a criação de espaço voltado à educação, com
biblioteca e laboratório de informática, cursos de línguas, palestras sobre saúde, meio
ambiente e segurança.
22
PIRES ADVOGADOS E CONSULTORES. Estudo de Impacto Ambiental, EIA/RIMA. Unidade
Industrial para a produção de Ácido Tereftálico Purificado, PTA. Recife, 2005.
Capítulo 3 - 229
da sociedade (mães, mulheres, negros, jovens etc.); Mobilizações sociais
em torno de lutas circunstanciais/imediata.
Nas últimas duas décadas, assiste-se a um processo de reestruturação das prefeituras,
no contexto da descentralização administrativas preconizadas na Constituição de 1988,
o que levou à formação de canais de participação da população e à criação dos
Conselhos Municipais. Tanto no Cabo de Santo Agostinho, como em Ipojuca, esse
padrão de organização social acontece com diferenciações inerentes às características
locais.
No âmbito do Complexo Industrial Portuário de SUAPE, foram constituídas
Associações com objetivos específicos, reunindo moradores e/ou produtores rurais.
Com relação à Área de Influência Direta, AID, destaca-se a presença da Associação
dos Moradores da Ilha de Tatuoca, que representa os moradores do local, defendendo
o acesso à moradia, desde que haverá necessidade de remanejamento das famílias ali
residentes, em função das diretrizes do Plano Diretor de SUAPE.
A Empresa SUAPE tem mantido negociações com os moradores da Ilha, intermediadas
pela Associação, cujo presidente é apontado como reconhecida tanto pela instituição,
como pelos representados. Persiste, contudo, alguns pontos de conflito, associados ao
processo de reassentamento ainda indefinido quanto aos prazos da mudança
necessária. Há um local escolhido e apresentado à membros da comunidade para a
construção de uma agrovila, para onde serão transferidas as 48 famílias que residem
no local. Parte delas habita onze (11) edificações de baixo padrão construtivo,
localizadas do lado sudeste da ilha, próximas ao mar.
Alguns moradores do referido local, conhecido como Pontal da Ticirana, como o Sr.
Severino Cassiano da Silva, proprietário do Bar do Bio, são refratários à proposta de
relocação, reafirmando, enfaticamente, a intenção de lutar para permanecer no local,
sob a alegação de que não teriam condições de se recompor economicamente em
outro lugar, além dos laços afetivos com aquele trecho de praia.
Ainda na AID, há a Associação da Praia de SUAPE e a Colônia de Pesca do Cabo
(Gaibu) que vêm empreendendo ações, no sentido de denunciar as más condições de
pesca, em decorrência da recente dragagem realizada pela Empresa SUAPE. Durante
a pesquisa de campo, moradores da Ilha de Tatuoca também formularam reclamações
com relação à “água suja” e ao “depósito de lama” no banco de areia, fatos que têm
acarretado prejuízos para as marisqueiras e os pescadores que trabalham no estuário.
23
Trecho transcrito, na íntegra, do documento: MORAES & ALBUQUERQUE ADVOGADOS E
CONSULTORES. Estudo de Impacto Ambiental do Contorno Rodoviário do Cabo de Santo
Agostinho, 2010, havendo-se alterado apenas a numeração da Tabela citada.
Capítulo 3 - 230
distribuídos em 22 engenhos localizados no continente e em terras situadas nas Ilhas
de Cocaia, Barreiros, Martins e Tatuoca. O citado levantamento de dados foi de grande
importância para construção de um perfil dessa população, bem como para
dimensionar as formas de uso e de ocupação das terras que haviam sido
desapropriadas visando à instalação do Porto de SUAPE. Em 2003, foi realizada uma
nova pesquisa com o objetivo de atualizar as informações obtidas anteriormente. O
produto desse trabalho revelou, de imediato, o aumento da população residente,
havendo-se, então, computado um total de 9.146 habitantes.
O Estudo de Impacto Ambiental, EIA/RIMA. Unidade Industrial para a produção de
Ácido Tereftálico Purificado, PTA apresentado, condensou as informações relativas
aos dois momentos pesquisados pela Empresa SUAPE/GEAP, permitindo assim traçar
um quadro geral desta população, o qual se descreve na sequência:
1. O número de habitantes teve um aumento percentual de 4%, quando se
comparam os dados referentes ao período 1996/97-2003/04.
2. Em relação ao contingente de moradores registrado em 1996/97, os dados
relativos à 2003/04 mostram que o aumento da população foi mais elevado nas
áreas correspondentes aos antigos engenhos Rosário, Conceição Velha, Utinga
de Cima, Massangana, Colônia, Jurissaca e Serraria. Merece especial destaque
o fato de, no Engenho Rosário, esse crescimento populacional ter assumido
proporções realmente impressionantes, já que o número de habitantes pulou de
64 para 359 pessoas, em pouco mais de cinco anos.
3. Nota-se, igualmente, que o adensamento populacional ocorreu, com maior
intensidade, em engenhos situados em áreas que, segundo o Zoneamento de
SUAPE, correspondem a Zonas de Preservação Ecológica, ZPEC, como é o
caso dos Engenhos Rosário, Conceição Velha, Utinga de Cima e Jurissaca.
4. Nos Engenhos localizados em Zona Industrial, ZI (Serraria e Colônia), e na Zona
Central Administrativa, ZCA (Massangana), houve um crescimento em termos
percentuais menos acelerado, mas mesmo assim bastante significativo.
5. No Engenho Tiriri, Ilha dos Martins e Engenho do Meio o número de habitantes
aumentou em mais de 14%, enquanto nos Engenhos Algodoais e Pirajá esse
crescimento foi menor (6% e 4% respectivamente).
6. Por outro lado, em alguns locais ocorreu uma diminuição do número de
habitantes, a exemplo dos seguintes engenhos: Boa Vista (-77%), Conceição
Nova (-76%), Penderama (-35%). Na Ilha de Tatuoca, houve um decréscimo de
23% em relação à população residente em 1996, e na Ilha de Cocaia atualmente
não há mais nenhum morador, havendo-se retirado os 173 que havia em 1996
(Cf. Pires Advogados e Consultores, 2003).
Capítulo 3 - 231
habitantes e 35 ocupações, sendo esta diminuição decorrente de um processo de
indenização e liberação de alguns espaços da Ilha, com vistas à consolidação dos usos
previstos no Zoneamento do CIPS.
Com a instalação de novos empreendimentos na Ilha de Tatuoca, a exemplo do
Estaleiro Atlântico Sul, e a definição daqueles espaços como área de funcionamento de
um Cluster Naval, foi realizado um novo levantamento de dados, no intuito de indenizar
as posses e benfeitorias existentes, assim como dimensionar e desenhar o projeto de
reassentamento do conjunto de famílias ali residentes.
Segundo informações da Diretoria de Gestão Fundiária e Patrimônio/Empresa SUAPE,
atualmente, 48 famílias residem em Tatuoca, o que perfaz um total aproximado de 185
pessoas. Há pessoas que declararam morar na área há mais de setenta anos, ainda
que haja ocupações mais recentes. Cerca de 80% das casas são de taipa, enquanto os
20% restantes correspondem a edificações de madeira.
A ocupação humana na Ilha de Tatuoca se concentra em dois setores:
1. No entorno da Escola (Foto 3.35) onde se concentra a maior quantidade de
imóveis, alguns dos quais têm uso misto, na medida em que, além de
funcionarem como residências, abrigam atividades de comércio de alimentos e
bebidas.
Capítulo 3 - 232
Destaca-se o bar de “Seu Bio” e que fica aberto nos finais de semana, sobretudo
no verão. Segundo o proprietário, o movimento “está muito fraco”, em virtude da
proibição do acesso de carros através do Estaleiro Atlântico Sul e da poluição da
água, em razão da dragagem que vem sendo realizada nas proximidades.
Afirma ele que a água está suja e a praia/banco de areia, “croa”, cheia de lama.
Assim, as condições da água, consideradas inadequadas para banho, têm
desestimulado a ida de turistas que, antes, através de embarcações, chegavam
ao local, situação que tem acarretado prejuízos financeiros ao bar.
São reduzidas as áreas com explorações agrícolas, com a maior parte da população
vivendo da pesca, hoje praticada em menor escala, por conta dos parcos resultados
que vem alcançando depois da dragagem. Lembrou um pescador entrevistado que, no
terreno onde hoje está o Estaleiro Atlântico Sul, havia um local conhecido como Poça
do Sal, espécie de lagoa que, quando secava, retinha muitos peixes, além de
possibilitar a retirada de muitos sacos de sal. Segundo ele, depois da supressão do
mangue, ficou bastante prejudicada a pesca de siri açu, caranguejos, aratu ou sururu.
Como subproduto da pesca do marisco, os pescadores juntavam as cascas que eram
vendidas para decoração ou para uso em construções.
Atualmente, alguns moradores de Tatuoca trabalham em empresas instaladas no
CIPS, embora a absorção desses trabalhadores encontre obstáculos devido ao baixo
nível de qualificação da mão de obra. Na composição da renda dessas famílias, vale
ressaltar a importância de programas do Governo, como o Bolsa Família.
Traços gerais da comunidade de Tatuoca encontram-se no Estudo de Impacto
Ambiental do Estaleiro Atlântico Sul, segundo o qual as pessoas do lugar:
vivem da pesca e da coleta de frutos (manga, caju, mangaba, coco) para
comercialização na cidade do Cabo de Santo Agostinho e de Ipojuca,
Capítulo 3 - 233
núcleos com os quais mantêm estreita relação social e econômica. São
poucos os roçados uma vez que a excessiva presença de formiga de roça
impede essa atividade. Os domicílios são dispersos guardando certa
distância uns dos outros. A ilha dispõe de uma única escola, mantida pelo
município, cuja única professora, Maria José Andrade, aí leciona há 24 anos.
A Escola Municipal Santo André dispõe de uma sala de aula, oferecendo
educação fundamental de 1ª. a 4ª. Série em sistema multiserial.(...) O
município oferece capacitação pedagógica regularmente e a administração
de SUAPE sempre a convida para cursos e palestras “o que é muito bom
porque agente aprende novidades”, como afirma Maria José. (...) Os
melhores equipamentos da escola, refrigerador a gás, fogão, televisão foram
doados pela Empresa Odebrecht quando esteve executando obras em
SUAPE. Ainda foi esta empresa que, com apoio da CHESF, colocou a placa
e a bateria para energia solar e construiu um poço (doou os materiais e os
moradores entraram com a mão de obra) uma caixa d’água (...).
De modo geral, predominam os domicílios de baixo padrão construtivo, em especial os
que ficam mais próximos à praia, com paredes em madeira, como se observa nas
fotografias a seguir. As casas contam com fornecimento de energia elétrica, o que
possibilitou a aquisição de bens como televisores, geladeiras e freezer.
Capítulo 3 - 234
possível chegar às referidas casas passando-se por dentro do terreno do Estaleiro,
situação que tem prejudicado, de acordo com entrevistados, os alunos que freqüentam
a escola. Diante disso, os moradores das onze casas junto à praia têm recorrido, com
maior freqüência, ao transporte através de embarcações de pequeno porte, com
destino à Praia de SUAPE, onde fazem compras visando o abastecimento doméstico e,
também, para buscar água no Hotel, ou ainda, para, de lá, seguirem para cidades ou
municípios da região.
Em praticamente todas as residências, vêem-se tonéis destinados à captação da água
da chuva (Foto 3.38), tendo afirmado pessoas entrevistadas na ilha que a qualidade da
água das cacimbas ali existentes não são adequada para consumo humano. Afirmou
uma mulher entrevistada que “a água ficou escura e meio salgada... não presta”.
O Hotel Vila Galé, anteriormente Blue Tree Park, fez um cadastro de moradores da
área, aos quais é fornecida água e o direito de passagem através do terreno daquele
equipamento turístico.
Capítulo 3 - 235
Foto 3.39 – Tipologias habitacionais existentes na Ilha de Tatuoca.
Capítulo 3 - 236
3.6.4 Uso do Solo na AID
Capítulo 3 - 237
pelo crescimento do movimento turístico, que segue, em alguns momentos, por sobre
remanescentes ambientais.
Essa situação tende a se intensificar. Com a implantação de projetos estruturadores
como a Refinaria Abreu e Lima, Moinho Bunge, Pólo Petroquímico e o Estaleiro
Atlântico Sul, nova fase de crescimento é vivenciada e outra ainda está por vir, quando
ocorrer a implantação dos estaleiros que estão projetados (Quadro 3.25), entre eles o
Estaleiro PROMAR, objeto deste EIAC. Situação esta que faz demandar maiores
cuidados ambientais em face da proximidade de áreas urbanas e projetos turísticos de
importância ao longo do litoral sul.
Neste, na zona rural, a monocultura da cana-de-açúcar é predominante. No espaço
urbano, o loteamento tem sido a forma de apropriação do solo. Na área de SUAPE a
regulação é feita pelo zoneamento do Plano Diretor existente, no qual está assegurada
a preservação ambiental para algumas das zonas (ZPEC e áreas na ZAF), agora
ratificada, embora preliminarmente, pela definição do novo Plano Diretor (ZPA, que
corresponde a antiga ZPEC) para o CIPS (Figura 3.34).
Fonte: Governo do Estado, SUAPE, Planave S.A e Projetec. Plano Diretor de SUAPE. SUAPE, julho de 2009
O CIPS, portanto, tem seu zoneamento e estrutura viária definidos em Plano Diretor
próprio, atualmente em fase de requalificação e adequação. Nesse novo Plano não
houve grandes modificações, como foi dito anteriormente, no entanto, ainda
comparando com o plano atual, através do PDZ (Plano de Desenvolvimento e
Zoneamento), já aprovado, a ZIP (Zona Industrial Portuária) passa por radical alteração
Capítulo 3 - 238
com a criação de um Cluster Naval, com layout definido e previsto sua conclusão até
2030.
Essa proposta (PDZ, 2010) altera toda a forma do território da Ilha de Tatuoca e
proximidades, envolvendo mudanças no fluxo da água e supressão de grande
extensão de manguezais ainda existentes. Essa mudança do conjunto de ilhas do
estuário dos Rios Massangana e Tatuoca foi um dos pontos principais tratados e
analisados no EIA/RIMA de 2000, conforme será analisado no item 4.2 do Capítulo 4.
O uso do solo no entorno da ADA onde prima o zoneamento oficial do CIPS, considera
ainda a compatibilidade com os Planos Diretores dos Municípios de Ipojuca e Cabo de
Santo Agostinho. Nesse sentido, o Plano Diretor elaborado para o Município do Cabo
(Figura 3.35) considera a presença do Complexo como área a ser regulada por Plano
Diretor específico, não intervindo na área, SUAPE, é tido como área especial,
requerendo tratamento específico de acordo com sua destinação. No de Ipojuca, a área
referente a SUAPE fica definida com áreas com uso e limitações que se coadunam
com o Plano Diretor do CIPS, como pode ser constatado nos trechos das cartas
elaboradas pelos mencionados municípios, como se seguem.
Capítulo 3 - 239
3.6.4.2 Segmentos industrial e turístico: possíveis conflitos
Toda a região que compõe a AII, ao longo de sua história tem se caracterizado pelo
uso intensivo da agricultura da cana-de-açúcar, predominando, ainda nos dias atuais,
na zona rural do Estado. A monocultura da cana, portanto, tem sido o uso do solo
predominante, alavancando o crescimento econômico, mas, também, graves seqüelas
sociais e ambientais, com dinâmica peculiar, a saber.
A partir dos anos 60, no ritmo da então industrialização acelerada, a extensa ocupação
de terras para o plantio da cana começou a dar lugar a outras atividades, a exemplo do
Distrito Industrial do Cabo e, posteriormente, na década de 70, com a delimitação de
áreas rurais desapropriadas dos Municípios do Cabo e de Ipojuca, para implantação do
CIPS. As atividades industriais atraíram, naturalmente, mão de obra específica. Esta
seguiu fixando-se nas proximidades, associando-se ao fluxo turístico que afluía à
região atraída pela beleza da paisagem do entorno, que conta com um extenso litoral
de praias e ecossistemas naturais e elementos do patrimônio histórico cultural. Assim,
ao uso industrial uniram-se o turístico e o residencial, de primeira ou segunda moradia.
Esse uso teve seu crescimento intensificado pela abertura de loteamentos, que com
maior intensidade ocupou os municípios periféricos, principalmente o Cabo e, em
menor escala, Ipojuca, voltando-se para atender à demanda por moradia de finais de
semana, para lazer, e dos trabalhadores da indústria, do turismo e dos serviços que
seguiam, precariamente, o crescimento da região.
Na última década a atividade industrial tem sido intensificada como caminho para o
desenvolvimento a partir de maciços investimentos, federal e estadual. Estes através
de incentivos voltaram-se à infraestrutura, buscando a melhoria de acessos ao Porto de
SUAPE, favorecendo a implantação de equipamentos de serviços (hotéis, pousadas,
resorts, shopping Center e restaurantes) na região, principalmente nas áreas lindeiras
às principais vias de acesso, PE-60 e BR-101, com vistas ao atendimento à demanda
crescente na região.
Paralelamente, o setor industrial e o turístico, nessa região, têm contribuído fortemente
para a economia do Estado, sendo que o turismo vem se constituindo pelos
importantes roteiros, com repercussão nacional e, por vezes, internacional em função
da paisagem local e regional. Essas atividades, contudo, merecem especial atenção do
ponto de vista do desenvolvimento sustentável, uma vez que impactam fortemente o
ambiente da região, com importantes ecossistemas já bastante degradados e
ameaçados tanto pela monocultura da cana-de-açúcar, quanto pela implantação de
áreas voltadas à indústria e, mais recentemente na história, pelo turismo, em alguns
momentos, predatório. À cultura da cana-de-açúcar, responsável pela quase total
destruição da Mata Atlântica, que outrora ocupava toda essa região, persistem
pequenos fragmentos de mata, nos topos íngremes dos morros, impróprios para o
cultivo, no entanto, ainda predominante no uso do solo da região, adentrando em todos
os espaços, até mesmo em áreas internas do Complexo.
No CIPS, na área na qual se pretende erguer o Estaleiro PROMAR, em análise,
existem elementos da paisagem natural, expressando a beleza do lugar, e construídos,
marcando o nível de interferência já existente na área, que coexistem nos dias atuais.
Na medida em que cresce o Porto de SUAPE diminuem as áreas de manguezais,
tratadas como reservas de território para expansão de área a ser construída no CIPS.
No ano 2000, com o EIA/RIMA realizado, já era evocado o princípio de precaução para
Capítulo 3 - 240
que áreas de manguezais fossem liberadas da supressão, até que houvesse, de fato,
necessidade de utilização, sem nenhuma alternativa locacional para empreendimentos
ou qualquer tipo de ambiente construído. Neste mesmo período, quando da melhoria e
adequação do porto, envolvendo construção de cais, houve substancial redução nas
áreas de manguezais, não tendo sido, no entanto, acompanhada de compensação
ambiental, como exigido pelo referido EIA/RIMA.
Finalmente, ressalta-se que o crescimento acelerado do Porto de SUAPE, como um
pólo industrial portuário, precisa ser acompanhado por uma estrutura ambiental
adequada que o atenda e que priorize, também, compensações e projetos básicos
ambientais, de modo a buscar minimizar, quando possível, mas sempre compensar os
danos causados não só no presente, mas também no futuro. Desse modo, os impactos
ambientais oriundos da implantação desse novo Empreendimento, deverão ser
acompanhados de determinação das respectivas medidas compensatórias,
principalmente nos casos de eliminação de importantes áreas de manguezais e
medidas de segurança aos danos ambientais.
Capítulo 3 - 241
3.7.2 A Arqueologia na AII após o EIA de 2000
Capítulo 3 - 242
espessuras variadas. Nas ocorrências históricas o material arqueológico corresponde a
fragmentos de cerâmica histórica, louça colonial, louça recente, telhas, tijolos ou
mesmo ruínas e edificações onde se podem pesquisar as técnicas construtivas.
Capítulo 3 - 243
As fotos a seguir mostram exemplos do tipo de vestígios que vem sendo encontrados
no CIPS e sua Área de Influência.
Foto 3.40 – Exemplos da tipologia de vestígios que vem sendo encontrados no CIPS e na AII.
Capítulo 3 - 244
Quadro 3.37 – OCORRÊNCIAS HISTÓRICAS IDENTIFICADAS NA AII.
Capítulo 3 - 245
Foto 3.41 – (a) Ruínas do Convento Carmelita (b) Ruínas da Capela Velha na Vila Nazaré.
Capítulo 3 - 246
3.7.3.3 Ilha de Cocaia
A ilha denominada atualmente como Ilha de Cocaia (Foto 3.43a), na verdade uma
formação de três ilhas cortadas por mangue denominadas de Oiteiro Alto Ilha do
Cachorro e Ilha do Francês, que se somam a Tatuoca e a da Cana, formando um
arquipélago cortado por mangues. A verdadeira Ilha de Cocaia era situada onde hoje
está a TECON. O antigo proprietário desse aglomerado era o senhor de Engenho
Sebastião Cabral que foi responsável pelo plantio de coqueiros no Oiteiro Alto.
Durante os trabalhos de prospecção arqueológica realizados no mês de março de
2010, por esta equipe foram identificadas muitas estruturas de casas, vestígios de casa
de farinha (Foto 3.43b), ruínas de uma olaria (Foto 3.43c), restos de pisos, tijoleiras
(Foto 3.43d), áreas com restos alimentares e fragmentos de louça, cachimbo e
cerâmica histórica.
Capítulo 3 - 247
Nessa ilha hoje denominada de Cocaia, na época dos holandeses foi construída uma
fortaleza para completar a defesa da costa junto com o Forte do Pontal e a Fortaleza
de Nazaré. A ilha de Cocaia tem um grande potencial arquitetônico pela intensa
ocupação nos diversos períodos da colonização portuguesa e na invasão holandesa.
Nesse sentido, destaca-se que nas pesquisas e consultas realizadas junto ao IPHAN,
foi identificada a existência do processo n° 875-T- 73 do IPHAN, tendente a efetuar o
tombamento do “Conjunto de Áreas da Baía de SUAPE e do Cabo de Santo
Agostinho”, em cujo perímetro se inclui a porção norte da Ilha de Cocaia e parte leste
da Ilha de Tatuoca, abrangendo uma porção da área do Empreendimento.
Capítulo 3 - 248