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5. Evolução
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Introdução
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Austrália; muitos foram banidos por outros mamíferos placentários
importados de outros continentes pela mão do homem.
Saber mais:
http://curlygirl.no.sapo.pt/evolucao.htm O terceiro argumento são as “transições” frequentemente encontradas no
registo fóssil (fósseis de transição). As transições conservadas em bom
estado não são comuns – e não o devem ser, de acordo com o nosso
4
Fóssil de Transição. Em conceito de evolução4. O maxilar inferior dos répteis é constituído por
Paleontologia dá-se o nome de
forma ou fóssil de transição a vários ossos, enquanto o dos mamíferos tem apenas um. Os ossos do
um organismo conhecido maxilar dos mamíferos são reduzidos, passo a passo, nos antepassados dos
apenas do registo fóssil que
combina características dos mamíferos, até que se convertem em finas apófises situadas na parte
seus descendentes e
antecessores evolutivos. posterior do maxilar. O martelo e a bigorna do ouvido dos mamíferos são
descendentes dessas apófises (Fig. 5.1). Como é que se realiza uma
transição deste tipo? Sem dúvida que um osso ou está inteiramente no
maxilar ou está inteiramente no ouvido. Não obstante, os paleontólogos
descobriram duas linhagens de transição nos terapsídeos (ou chamados
répteis-mamíferos) com uma articulação mandibular dupla – uma, mais
antiga composta pelos ossos quadrado e articular (que cedo se
transformam no martelo e na bigorna), e a outra, formada pelos ossos
escamoso e dental (tal como nos mamíferos modernos). Por outro lado,
que forma melhor de transição poderíamos encontrar do que a do humano
mais antigo, Australopithecus afarensis, com o seu palato de símio, a sua
postura erecta de humano e uma capacidade craniana superior a qualquer
símio do mesmo tamanho corporal, mas mil centímetros cúbicos inferior à
nossa?
ouvido médio
tambor estribo ouvido interno tambor ouvido médio
ouvido interno
estribo
Incus
Som Som
Malleus
100
5.1 Argumentos a favor da Evolução
A distribuição geográfica dos seres vivos, fruto das mudanças que a Terra
experimentou ao longo dos tempos geológicos, só faz sentido num
contexto geohistórico de Evolução.
De acordo com a Teoria Celular, todos os seres vivos são constituídos por
células. O facto de existir uma certa uniformidade nos processos e
mecanismos celulares dos seres dos vários reinos constitui um forte
argumento a favor da Evolução.
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i. entre os compostos químicos orgânicos (ex: no número e sequência de
nucleótidos de DNA e no número, sequência e tipo de aminoácidos das
proteínas);
Saber mais:
Antes de Darwin vários cientistas desenvolveram sistemas de pensamento
http://anthro.palomar.edu/evolve/evolve_2.htm Evolutivo. Contudo, atribui-se a Charles Darwin a fundação da sua teoria
http://www.cientic.com/tema_evol_pp2.html
http://www.literature.org/authors/darwin-charles/ sobre como a Evolução ocorreu através da Seleção Natural. No entanto, e
como o próprio Darwin reconhece (no prefácio histórico acrescentado às
edições mais tardias de A Origem das Espécies), outros dois autores o
precederam na formulação do princípio da evolução por seleção natural.
Durante a viagem à volta do Mundo, a bordo do HMS Beagle, Darwin leu
o livro de Charles Lyell, Principles of Geology, onde o autor apresentava a
ideia de que a Terra, ao longo da sua história, esteve sujeita a constantes
modificações produzidas pela ação de forças naturais. Darwin também
estudou atentamente a obra apresentada por Thomas Malthus sobre o
modo de crescimento das populações face aos recursos alimentares.
Decorridos cerca de vinte anos após a regresso de Darwin a Inglaterra, e
ainda sem ter publicado os seus resultados, recebeu uma carta do
naturalista Alfred Russel Wallace que propunha a seleção natural como
mecanismo importante para a formação das espécies.
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sucessivamente. Se a hereditariedade fosse exata, as modificações
evolutivas acabariam por diminuir e parar; a Evolução contínua exige que
a hereditariedade seja inexata e que, consequentemente de tempos a
tempos surjam novas variantes. Não se trata de uma teoria da Evolução
plenamente previsível, pois o curso da evolução também dependerá do
reportório de variação que surgir. É de prever, no entanto, que os
organismos que evoluíram por seleção natural tenham órgãos que os
ajudem a sobreviver e reproduzir-se, isto é, que tenham “partes”
funcionais i.e. com “funções”.
A
A
C
A
A
A
Figura 5.2 – Hereditariedade e
A
Variação. O significado da
B
hereditariedade consiste em que,
B quando a multiplicação se verifica,
B o semelhante dá origem ao
B semelhante: A dá origem a A e B a
B B. A variação exige que esta regra
B seja quebrada de vez em quando,
B como quando A dá origem a C.
103
5.3 O que aciona a Evolução?
104
Três características da Evolução concorrem para lhe darem grande
potencial criativo. A primeira é a vasta matriz de mutações, incluindo
substituições de pares de nucleótidos, troca das posições dos genes nos
cromossomas, alterações do número dos cromossomas e transferência de
fragmentos de cromossomas (todas as populações estão sujeitas a uma
“chuva” contínua de novos tipos genéticos). Uma segunda fonte de
criatividade evolutiva é a velocidade a que a Seleção Natural pode atuar.
A seleção natural não precisa do tempo geológico, que se estende por
milhares ou milhões de anos, para transformar uma espécie, como é o caso
13
da expressão fenotípica da condição heterozigótica13. A terceira O indivíduo heterozigótico
para um dado fenótipo possui
característica consiste na aptidão que a Seleção Natural possui para reunir dois alelos diferentes no gene
novas estruturas e processos fisiológicos, incluindo novos padrões de dos dois cromossomas
homólogos. Em contraste, o
comportamento, sem outra matriz ou força subjacente que não seja a da homozigótico possui duas
cópias do mesmo alelo no
própria Seleção Natural (cuja ação atua sobre mutações aleatórias). gene dos dois cromossomas
homólogos (ver Capítulo 4).
A Seleção Natural é a fonte da Diversidade Biológica. As diferenças de Quando o fitness biológico
dos heterozigóticos, em
alelos que surgem entre indivíduos, em todos genes e os cromossomas que comparação com os
homozigóticos, leva a um
transportam, juntamente com as diferenças de número e estrutura dos aumento relativamente rápido
próprios cromossomas, constituem variação genética. É através desta das frequências génicas isto
traduz-se numa vantagem
variação genética que se originam novas espécies, dando origem às seletiva.
barreiras reprodutivas hereditárias que separam as “velhas” espécies.
Existem, assim, dois níveis básicos na diversidade da vida: a variação
genética no interior de uma espécie e as diferenças genéticas entre as
espécies.
105
descrita como alteração da frequência de alelos) que ocorre geralmente
num curto “espaço” de gerações, dentro de uma espécie ou população.
Em contraste, a macroevolução é uma alteração genética mais complexa e
profunda do que a microevolução, que ocorre ao nível de espécie ou acima
de espécie, geralmente ao longo de milhares de anos. A macroevolução
pode ser vista como um somatório de longos períodos de microevolução.
Deste modo, os dois processos são similares do ponto de vista qualitativo,
mas distintos do ponto de vista qualitativo. O fator tempo não é
necessariamente distintivo dos dois processos evolucionários, podendo a
macroevolução ocorrer numa única ou em poucas gerações, situação que é
comum em plantas.
106
A macroevolução está na origem de grupos taxonómicos superiores14 à 14
Grupos Taxonómicos, ver
Capítulo 6.
espécie. A origem dos mamíferos a partir dos seus ancestrais reptilianos é
um exemplo de macroevolução. De um modo genérico a macroevolução é
a história da evolução revelada nos fósseis (os registos fósseis
documentam a macroevolução). O fracionamento de uma só espécie de
ave numa vasta matriz de espécies (por radiação adaptativa), desde as aves
canoras às semelhantes a tentilhões, é macroevolução.
107
5.5 A Variação genética constitui o substrato para a Seleção
Natural
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dimensões menores nos períodos interglaciares, e aumentaram durante os
períodos glaciares. A seleção diversificadora ocorre quando as condições
ambientais são tais que favorecem os extremos da variação fenotípica;
aumenta a variação do fenótipo e a população divide-se em dois grupos
distintos. Suponha uma hipotética população de coelhos, cuja cor de
pelagem varia entre branco e preto; se essa população ocorrer numa zona
com rochas brancas e pretas, os extremos de variação do fenótipo serão
favorecidos, contra os intermédios, cinzentos, que mais dificilmente se
esconderão dos seus predadores. Essa população poderia evoluir de forma
diversificadora. Este tipo de seleção pode resultar numa situação de
polimorfismo balanceado.
População original
Frequência de
de indivíduos
109
5.6 Radiação adaptativa e convergência evolutiva
110
O conceito de especiação geográfica considera que é o isolamento
espacial que causa a fragmentação do fundo genético, atuando os fatores
ecológicos após o isolamento geográfico das populações. A especiação
geográfica pode ser definida nos animais com reprodução sexuada como a
formação de uma nova espécie quando uma população, que está isolada
geograficamente das outras da sua espécie progenitora, adquire durante
este período de isolamento caracteres que promovem ou garantem o
isolamento reprodutor após a remoção das barreiras externas.
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populações transformaram-se em espécies distintas porque estão
reprodutivamente isoladas quando se encontram em condições naturais.
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Tabela 5. 3 – Mecanismos de isolamento18
18
Cada espécie é um sistema
Mecanismos Mecanismos que impedem a formação de genético delicadamente inte-
grado, que foi selecionado
Pré-zigóticos zigotos através de muitas gerações
para se adaptar a um nicho
Isolamento geográfico e de A espécie ocorre em áreas diferentes. definido no seu meio. Os
mecanismos de isolamento
habitats (isolamento espacial) impedem a desarmonia deste
sistema genético protegendo a
Isolamento ecológico O isolamento ecológico (diversificação de habitats sua integridade.
e nichos) pode conduzir a isolamento reprodutor e,
consequentemente, a especiação.
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Indivíduos de diferentes espécies
Isolamento de habitat
Isolamento temporal
Isolamento comportamental
PRÉ-ZIGÓTICAS
Cruzamento
BARREIRAS
Isolamento mecânico
Isolamento gamético
Fertilização
BARREIRAS PÓS-ZIGÓTICAS
Descendência Fértil
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A grande diversidade biológica requer longos intervalos de tempo
geológico e a acumulação de grandes reservatórios de genes únicos. Os
ecossistemas mais ricos construem-se lentamente, ao longo de milhões de
anos. Acresce também que, devido exclusivamente ao acaso, algumas
espécies novas são forçadas a deslocar-se para novas zonas de adaptação,
para ampliarem os limites da diversidade.
Darwin afirmava que a seleção natural é a força motriz que faz com que
sobrevivam apenas os indivíduos mais aptos e com caraterísticas melhor
adaptadas ao seu meio, transformando as espécies e criando a diversidade
biológica. Darwin acreditava também que este era um processo gradual, em que
a história de cada espécie se escrevia passando por inúmeras espécies
intermédias. O fato de o registo fóssil não nos revelar todas essas espécies
intermédias era um acaso a que nos deveríamos resignar; defendia Darwin: "O
registo geológico é extremamente imperfeito e este ato explicará em larga
medida porque não encontramos intermináveis variedades ligando entre si
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todas as formas de vida, extintas ou existentes. Aquele que rejeitar estas ideias
sobre a natureza do registo geológico rejeitará certamente toda a minha
teoria".
A equipa de Irwin seguiu uma pista já antiga, que indiciava que, em torno do
grande planalto tibetano, uma pequena ave canora que é comum por toda a Ásia
– chamada, em português, felosa-verde ou, segundo a sua designação científica,
Phylloscopus trochiloides - podia ser uma experiência de especiação em curso.
Irwin decidiu aprofundar o estudo e partiu numa viagem, que o levou à Rússia,
à Quirguízia, à Índia, ao Nepal, à China e à Suécia. Nestes locais, fez gravações
do canto das aves, que deu a ouvir a aves de outras zonas, e recolheu amostras
de sangue para depois fazer análises genéticas.
Este anel une-se na Sibéria Central, onde coexistem duas espécies que não se
cruzam. Irwin refere que isto cria um paradoxo: há dois tipos de aves que
podem ser considerados como duas espécies diferentes e uma só ao mesmo
tempo. Estes fenómenos são muito raros, mas são valiosos porque mostram
todos os passos intermédios que ocorrem durante a divergência de uma espécie,
até se transformar numa outra.
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também mais longos e complexos, mas tem uma estrutura diferente.
Poucos biólogos duvidam de que isto seja parte da verdade, mas será toda
a verdade? Uma limitação consiste em que certas modificações evolutivas
ocorrerem por acaso, sem Seleção Natural. Uma outra refere-se à maneira
como a seleção atua, particularmente ao objeto da seleção: devemos
pensar nos genes, nos organismos ou nas populações como sendo as
entidades que sobrevivem e se reproduzem e sobre as quais atua a seleção?
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exemplo, a curvatura na parte posterior da coluna vertebral dos seres
humanos, responsável por tantas dores nas costas, existe porque os nossos
antepassados eram quadrúpedes e só recentemente começámos a andar na
posição erecta. Além disso, parece ser uma caraterística geral da evolução
que as novas funções sejam desempenhadas por órgãos que surgem, não
de novo, mas como modificações de órgãos preexistentes. Os planos
básicos do corpo dos diferentes filos representam estruturas que adaptaram
alguma forma ancestral a um modo de vida particular, e que desde então
se modificaram a fim de servirem diferentes funções. Porque motivo então
foi o plano básico preservado quando os hábitos e modos de vida se
alteraram? Na evolução as estruturas são conservadoras porque as
modificações têm de ser feitas passo a passo, sendo cada passo um
melhoramento em relação ao precedente. Um tal tipo de modificação não
permite reestruturações radicais.
Questões de aprendizagem
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