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7. Ecologia
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Este último capítulo seguirá a linha condutora dos anteriores. O Tema
Integrador continua a ser a Evolução. Basicamente, toda a ecologia é
evolutiva.
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ou ecologia bentónica2, ecologia planctónica3 e ecologia nectónica4)
reflecte necessidades científicas distintas (de objecto ou de método). A
genética ecológica, ecologia fisiológica e ecoclimatologia reflectem outro
aspecto que é a da interpenetração disciplinar.
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O mundo físico e biótico está Os ecossistemas possuem uma certa “disciplina” na sua estrutura e
subdividido em nichos, quer
dizer, em oportunidades, em funcionamento. Uma comunidade pode ser definida como um conjunto de
posições funcionais a populações que, numa determinada área, interatuam, constituindo um todo
preencher na comunidade, em
espaços no habitat a ocupar, funcional em íntima união com o habitat ou biótopo que lhe dá suporte e
em recursos a explorar. Nicho
poderá entender-se como a significado. Neste conjunto de populações que coexistem no tempo e no
fracção dos factores físicos e espaço cada população tem o seu modo peculiar de utilizar os recursos,
biológicos do ambiente à qual
uma espécie está adaptada, interatua com um certo número de factores do meio (abióticos e bióticos) e
que ela utiliza, fracção que,
em princípio, será diferente
tem necessidades próprias. Doutro modo cada população (ou unidade
para cada espécie, o que organísmica) é caraterizada pelas adaptações que resultam da interação de
oferece a vantagem de evitar
ou quebrar a competição. O factores genéticos e de factores selectores do ambiente (com valor
nicho ecológico é uma ecológico). Este aproveitamento diferencial do ambiente resulta na
descrição pluridimensional do
ambiente no seu conjunto e do definição de nicho ecológico5. O desenvolvimento das comunidades é o
modo de vida de um
organismo. Na descrição de resultado da complexa interação de números e tipos de organismos que
nicho entram factores físicos, respondem a mudanças ambientais, muitas das quais são provocadas pelas
como temperatura e
humidade; factores biológicos, próprias populações em desenvolvimento.
como natureza e quantidade
de recursos alimentares e
número de predadores, e
factores etológicos do próprio
organismo, como organização
social, tipos de movimentos e 7.2 Adaptação
ciclos de actividade diários e
estacionais.
Propriedade verdadeiramente fundamental dos seres vivos, a adaptação
traduz uma relação de ajustamento e continuidade da sua parte às
condições do ambiente. A adaptação é um fenómeno real. É uma situação
e um processo. Significa, em termos simples, que os seres vivos tendem a
ajustar-se às condições do ambiente em que vivem. A principal tarefa para
a teoria da evolução é a de explicar a adaptação dos organismos. A
adaptação é uma caraterística global do organismo, é a sua própria
organização em transação equilibrada com o ambiente. A adaptação é,
assim, a expressão de um equilíbrio espácio-temporal transitório
conseguido por seleção natural.
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Ontogenia Sucessão de
estados de desenvolvimento, O estudo da adaptação pode fazer-se do ponto de vista da filogénese ou da
diferenciação e crescimento
por que passa um organismo, ontogenia6. As estratégias ontogenéticas constituem uma parte importante
é o conjunto das suas das adaptações. Estratégia é o modo como uma população responde
transformações embrionárias e
pós-embrionárias desde a fase adaptativamente a uma situação particular, adaptação genética obtida por
de ovo até atingir a forma
definitiva. seleção natural. Em termos de investimento reprodutivo e sobrevivência,
os organismos estão sujeitos a dois tipos de seleção natural, designados
por r e K, dependentes o primeiro da taxa intrínseca de crescimento de
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uma população, e o segundo da capacidade biótica do ambiente. A
importância relativa de um e de outro depende das caraterísticas do
ambiente às quais os organismos responderam desenvolvendo uma de
duas estratégias reprodutoras, r ou k (Tabela 7.1). Sabe-se hoje que existe
uma gama de condições entre dois extremos de uma escala r-k.
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Tabela 7.1 - Estratégias adaptativas em consequência da seleção r e k.
Duração da vida Curta (em regra inferior a um ano) Longa (em regra mais de um ano)
Mortalidade Alta (muitas vezes catastrófica, acidental, Baixa (em regra mais selectiva,
independente da densidade) dependente da densidade)
Seleção favorece (1) Reprodução uma só vez na vida do (1) Reprodução repetida na vida do
indivíduo (semelparidade), indivíduo (iteroparidade),
(2) Precocidade da reprodução, (2) Reprodução tardia,
(3) Ontogenias rápidas, (3) Ontogenias lentas,
(4) Elevada taxa de crescimento, (4) Taxa de crescimento lenta,
(5) Propágulos reprodutivos (ovos ou (5) Ovos ricos de vitelo; protecção dos
sementes) pequenos, pobres de reservas; fraca gâmetas; viviparidade; estruturas
ou nula protecção da progénie, complicadas da reprodução e da
ontogenia (anexos e outros órgãos
(6) Descendentes numerosos, de pequenas
transitórios); protecção orgânica e
dimensões e fraco peso corporal.
comportamental da progénie,
(6) Menor número de descendentes, de
maior tamanho e mais peso corporal.
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Tabela 7.2 – Tipos de interações ecológicas
EFEITOS NO ORGANISMO 2
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abióticos (temperatura, humidade, radiação solar, pH, salinidade, etc.)
(nicho multidimensional ou fundamental).
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7.5 Predação e Competição
Competição pode ser entendida como o processo pelo qual as formas mais
estáveis tendem a substituir formas menos estáveis, e que vários
organismos têm diferentes graus de utilização dos recursos do ambiente,
de onde resultam substituições e deslocações de alguns deles. A seleção
natural deve talvez favorecer a quebra de competitividade, fazendo que
cada espécie tenha o seu nicho. Duas espécies não podem coexistir
indefinidamente na mesma localidade se têm exigências ecológicas
idênticas.
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7.6 Parasitismo e Evolução
associado ao seu hospedeiro exclusivo, que sem ele não terá existência.
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estados intermediários, as soluções malogradas, e as adaptações
insuficientes. As espécies que subsistiram são o termo de sucessivas
especiações em grande número de hospedeiros, e não parece difícil admitir
que isto se tenha realizado pela ação de processos de mutação e seleção.
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MUTUALISMO ENDOPARASITISMO
OBRIGATÓRIO
MUTUALISMO
ECTOPARASITISMO
FACULTATIVO
COMENSALISMO
MONOFAGIA
VIDA LIVRE
7.7 Co-Evolução
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Para a teoria simbiótica, se é da natureza dos seres vivos reunir recursos, e
fundirem-se ou associarem-se sempre que possível, temos aí um novo
meio de progressivo enriquecimento e complexificação dos organismos. A
simbiose seria uma forma de parassexualidade: a reunião e fusão de
indivíduos distintos. A simbiose deverá ter tido origem num período
substancial de co-evolução.
Uma das manifestações mais curiosas das relações dos organismos com o
ambiente é a sua “imitação” do ambiente imediato habitual, sendo também
o comprovativo da ação da seleção natural e da sua função na génese de
adaptações. Entre as manifestações mais interessantes, podem mencionar-
se as colorações adaptativas, os disfarces, as imitações de outras espécies,
etc. Por exemplo a imitação, ou mimetismo, é protectora porque o
predador confunde os indivíduos sápidos e apetecidos com os indivíduos
repugnantes ou nocivos, facto que aumenta as probabilidades de
sobrevivência dos primeiros. A seleção natural, por favorecer a
reprodução daqueles indivíduos que possuem alguma vantagem nesse
sentido, tende a acentuar as caraterísticas que conferem mimetismo. Estes
fenómenos de mimetismo traduzem também processos de coevolução.
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população, de uma espécie ou de uma comunidade de espécies, é o seu
ajustamento transitório (nas dimensões do tempo geológico) a um dado
ambiente através das gerações, a sua permanência no espaço e no tempo
nesse ambiente, com eficaz aproveitamento dos recursos da área habitada.
A adaptação é, assim, a expressão de um equilíbrio espácio-temporal
organismo e ambiente. A evolução resulta de uma ruptura desse equilíbrio
dinâmico organismo e ambiente. Um ambiente estável mantém o tipo
médio da espécie: o seu papel é conservador, elimina os tipos anómalos
para o ambiente em questão. O ambiente funciona de “filtro”, que só deixa
passar estatisticamente os organismos mais viáveis, aqueles cujos
genótipos obtêm a mais ampla realização no ambiente. Quando o ambiente
se transforma (ou quando os organismos invadem novos ambientes), o seu
papel de agente evolutivo traduz-se no acrescentar à ação conservadora a
ação inovadora. A “filtragem” separa agora os genótipos mais favoráveis,
as combinações hereditárias individuais mais eficazes no aproveitamento
do novo ambiente, com maior sobrevivência nele. Com o tempo, com o
predomínio dos genótipos com maior valor de sobrevivência, resulta uma
nova espécie, se acaso a modificação foi suficientemente profunda para
determinar o isolamento sexual (da população), podendo, assim, ao abrigo
de cruzamentos com outras espécies, entrar em nova linha de divergência
evolutiva. O papel do ambiente é decisivo; ele é o agente principal da
seleção. A seleção é um processo da Natureza, pelo qual o ambiente
determina uma reprodução não-ao-acaso dos genótipos presentes. É um
processo de reprodução diferencial, como resposta à ação do ambiente. Os
ambientes são na sua interação com os organismos, os estimulantes da
evolução dos organismos.
Questões de aprendizagem
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