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3. Energética da
célula
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A vida pode ser encarada como um fluxo contínuo de energia, canalizada
pelos organismos vivos, para as suas diversas atividades biológicas
(crescimento, reprodução, resposta a estímulos, etc.).
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perda de electrão (oxidação)
A + B A* + B*
substrato
Enzima 1
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O conjunto das reações químicas caraterísticas dos processos biológicos é
designado por metabolismo (grego: metabole, mudança). As reações
metabólicas em que existe armazenamento de energia pela síntese ou
transformação de ligações químicas são denominadas reações anabólicas
ou anabolismo. As reações que levam à libertação de energia por
degradação de compostos orgânicos noutros mais simples são
denominadas reações catabólicas ou catabolismo.
Enzima
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Quadro III.2 - ATP: a “moeda” energética da célula
N N
O O O
-
O P O P O P O CH2
O
- - -
O O O
OH OH
7 kcal 7 kcal
utilizadas libertadas
ADP+ Pi
O ATP pode ser sintetizado via fosforilação a nível de substrato (secção 3.2.1.) ou
fosforilação oxidativa (secção 3.2.4).
3
Cálculo da variação da
energia livre de Gibbs (G) na
reação
C6H12O6+6O2 6CO2+6H2O
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Na ausência de oxigénio (condições anaeróbias), a glucose é geralmente
degradada incompletamente por processos de fermentação (pouco
eficientes do ponto de vista energético), em que o aceitador do átomo de
hidrogénio é um composto endógeno e orgânico. Alguns organismos (ex.
bactérias) são capazes de degradar a glucose completamente, na ausência
de oxigénio, por um processo de respiração anaeróbia, utilizando enxofre,
nitrato ou outros compostos como aceitadores finais de eletrões. Em
qualquer destes processos metabólicos, a fase inicial de oxidação da
glucose (em condições anaeróbias) é feita via glicólise.
3.2.1 Glicólise
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Algumas moléculas possuem
A glicólise é uma via metabólica de produção de energia praticamente ligações fosfato de elevada
universal em todos os sistemas biológicos e possivelmente uma das energia, semelhantes às do
ATP. A energia desta ligação
primeiras a ter emergido, em termos evolutivos (Fig. 3.3). A glicólise é pode ser transferida enzimati-
constituída por uma sequência de 10 reações químicas, que convertem camente, por fosforilação a
nível de substrato, para o ADP
uma molécula de glucose (seis átomos de carbono ou C6) em duas e formar uma molécula de
moléculas de piruvato (C3). Neste processo são utilizadas 2 moléculas de ATP.
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CITOPLASMA Glucose
C6
ATP
ADP
composto P
C6
ATP
ADP
composto di P
C6
Glicólise
2 x triose P
C3
2 H2O + 2 Pi 2 NAD+
2 NADH
2 x triose di P
C3
2 ADP
2 ATP
2 x triose P
2 ADP C3
2 ATP 2 H2O
2 x Piruvato
C3
MITOCÔNDRIA 2 x Piruvato
C3
2 NAD+
2 NADH
Oxidação de
piruvato a acetil-CoA
CoA 2 CO2
2 x Acetil-CoA
C2
Ciclo de
Krebs
Figura 3.3 – Esquema das etapas inicias de oxidação da glucose pela respiração celular:
glicólise (degradação da glucose a piruvato) e oxidação de piruvato a
acetil-CoA. Legenda: (P) grupo fosfato; (Pi) fosfato inorgânico.
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3.2.2 Oxidação do piruvato
Em condições aeróbias, a etapa seguinte no processo de geração de
energia a partir da glucose é a conversão do piruvato a acetil-CoA (C2), na
matriz da mitocôndria (Fig. 3.3). Nesta reação dá-se ainda a libertação de
uma molécula de dióxido de carbono (reação de descarboxilação) e a
formação de uma molécula de NADH, por cada molécula de piruvato.
acetil-CoA
(C2)
NADH C4 C6
NAD+ NAD+
H2 O NADH
FADH2
FAD+
C5 CO2
GTP C4
GTP GDP+Pi
GDP+Pi
NADH NAD
+
CO2 ADP+Pi ATP
Figura 3.4 – Esquema das reações do ciclo de Krebs. Na matriz mitocondrial, o acetil-
CoA condensa-se com uma molécula em C4 formando uma molécula em C6
(ácido cítrico). Duas descarboxilações sucessivas regeneram a molécula em
C4, fechando o ciclo. O esquema representado no canto inferior direito
indica a formação de 1 molécula de ATP a partir do GTP gerado no ciclo de
Krebs.
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3.2.4 Cadeia respiratória
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O transporte de eletrões de elevado nível energético ao longo da cadeia
transportadora de eletrões, associado ao bombeamento de protões da
matriz mitocondrial para o espaço intermembranar, induz a formação de
um gradiente químico (de protões) e eléctrico (a matriz adquire uma carga
mais negativa do que o espaço intermembranar). Este gradiente protónico
e eléctrico constitui a força motriz para os protões re-atravessarem a
membrana para a matriz mitocondrial, através dos complexos proteicos
ATPases, processo em que há síntese de ATP (de ADP+Pi; Fig.3.5).
Como a formação química de ATP é induzida por uma força de difusão
semelhante à osmose, este processo é chamado quimiosmose.
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A fermentação ocorre em células procariotas bem como em eucariotas, e é
o processo responsável pela produção do vinho (fermentação alcoólica por
leveduras) ou pelas dores musculares após um exercício prolongado
(fermentação láctica nas células musculares).
Glicólise
Piruvato
CO2
NADH Figura 3.6 – O que acontece ao
NAD+ piruvato, resultante da glicólise? O
acetaldeído piruvato é reduzido a etanol (após
NADH uma descarboxilação) ou ácido
NAD+ láctico, respectivamente, nos
processos de fermentação alcoólica
Etanol Ácido láctico ou fermentação láctica.
3.3 Fotossíntese
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espetro visível corresponde a um determinado comprimento de onda no
espetro electromagnético, sendo violeta a cor de menor comprimento de
onda e vermelho a cor de maior comprimento de onda.
Comprimento de onda
0,001 nm 1 nm 10 nm 1000 nm 0,01 cm 1 cm 1m 100 m
AzVi
et
ul ol
Raios X Luz UV
a
nj ar
ra m
a el
La A
ho o
er
m
el
V
3.3.2. Pigmentos
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ação de um pigmento descreve a eficiência com que os comprimentos de
onda absorvidos são utilizados no início do processo fotossintético.
13
Esquema da molécula de A clorofila13 é o pigmento fotossintético de maior eficiência na captação
clorofila: clorofila a: R= -CH3
clorofila b: R=-COH da energia luminosa. É uma molécula complexa que apresenta várias
CH2 modificações químicas dependendo dos organismos em que se encontra.
CH H R
C2 H5 Todos os organismos fotossintéticos têm clorofila a, que absorve energia
anel de porfirina
H3 C
N N apenas nos comprimentos de onda azul e vermelho, e pouca nos
H Mg H
N N
comprimentos de onda intermédios. Os pigmentos acessórios aumentam a
H 3C CH 3
H
eficiência da fotossíntese, ao absorverem fotões de energia a
H 2C H comprimentos de onda em que a clorofila a não absorve; estes actuam
H O
CH 2
COOCH 3 como antenas que canalizam a energia absorvida para os centros de reação
anel de
COOC 20 H3 9 ciclopentanona
(ver secção 3.3.3.1). Entre os pigmentos acessórios incluem-se a clorofila
fitol
b (também c, d e e em algumas algas e protistas), xantofilas, carotenóides
O anel de porfirina é a parte e ficobilinas.
da molécula onde se dá a
absorção de luz.
GLUCOSE
LUZ 2 NADPH
4 e- +4 H+ + O2 ½ C6H12O6
O2
CO2
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Nas plantas, as reações de luz decorrem nos grana (singular: granum;
membranas fotossintéticas) e as reações às escuras ocorrem no estroma
dos cloroplastos.
Pigmentos
Figura 3.9 – Esquema da reação inicial das reações de luz da fotossíntese. Transferência
de energia entre os pigmentos antena do fotossistema até ao centro de
reação e libertação de eletrão (e-) para um aceitador primário de eletrões.
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de reação são designados por P700 (absorve energia a 700 nm) e P680
(absorve energia a 680 nm), respectivamente. A reação inicia-se quando a
energia é absorvida pela molécula de P680, que sequentemente liberta um
eletrão, ficando oxidada. O centro de reação P680 volta ao estado reduzido
ao retirar um eletrão à molécula de água. A cisão da água leva à libertação
de oxigénio.
aceitador
primário Fd
NADPH
NADP+
aceitador NADP+
2e- reductase
Nível de energia de eletrões
primário H+
2e-
PQ
fotão
Cit b
com PC
2e- P700
fotão plex
P680
H20
2H+ + ½ 02
Direcção do fluxo de eletrões (e-)
Figura 3.10 – Fotofosforilação acíclica. A excitação do fotossistema II provoca a
libertação de um eletrão de P680 que vai sucessivamente reduzir
plastoquinona (PQ), um citocromo b (cit b), e plastocianina (PC), e P700,
percurso ao longo do qual vai perdendo energia. O eletrão entretanto
perdido por P700 é utilizado na redução da ferredoxina (Fd) e
seguidamente do NADP+ a NADPH.
O2 H + H+ NADP+
H+
Tilacóide H+
(interior) H+
H+
Figura 3.11 – Esquema da
fotofosforilação acíclica, na
ATPase
membrana membrana dos tilacóides. A seta
tilacoidal H+
ADP ( ) indica o percurso dos eletrões.
ATP Estroma
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A fotofosforilação cíclica verifica-se em alguns organismos eucariotas ou
bactérias primitivas quando há a necessidade de produzir ATP, mas não de
NADPH. Neste caso, apenas o fotossistema I se encontra funcional e o
eletrão libertado pela molécula P700 é recirculado de volta à mesma
molécula, daí a denominação de fotofosforilação cíclica (Fig. 3.12). Nesta,
não há libertação de oxigénio.
e-
aceitador
H+
Nível de energia de eletrões
primário
Fd
cit bf
Figura 3.12 – Fosforilação cíclica. A
e- excitação do fotossistema I provoca a
e-
fotão libertação de um eletrão de P700 que vai
sucessivamente reduzir ferredoxina (Fd),
um citocromo bf (cit bf) e retorna à molécula
P700
de P700, percurso ao longo do qual vai
perdendo energia.
Direcção do fluxo de eletrões (e-)
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3 CO2 ESTROMA DO
CLOROPLASTO
Figura 3.13 – Esquema do ciclo de Calvin. Por cada três moléculas de CO 2 que entram o
ciclo, uma molécula de PGAL (C3) é produzida. A energia necessária ao
processo (ATP e NADPH) é produzida nas reações de luz. As 3 fases do
ciclo estão indicadas pelos algarismos (1, 2, 3).
2x Fosfoglicerato
+ CO2 C3
Ribulose 1,5
bisfosfato
C5
+ O2
1x Fosfoglicerato 1x Glicolato
C3
+ C2
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Em climas quentes (tropicais e desérticos), as plantas desenvolveram
metabolismos de fixação de carbono que rodeiam este problema,
aumentando a concentração de CO2, relativamente ao O2, no local de
acção da RuBisCo.
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Questões de aprendizagem
3.6 - Qual poderá ser a vantagem de uma planta ter muitas moléculas de
pigmentos, mas apenas um centro de reação, em cada fotossistema?
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