● Seção 2.3: Bioenergética: função do ATP. Oxidação
biológica. Cadeia respiratória e fosforilação oxidativa. Vias das pentoses-fosfato e outras vias do metabolismo das hexoses. Nesta seção, daremos continuidade ao estudo das vias metabólicas, abordaremos os componentes e o mecanismo de funcionamento da cadeia respiratória e veremos como os elétrons gerados em várias reações oxidativas de diferentes vias metabólicas são utilizados para a produção de energia na cadeia respiratória pelo processo de fosforilação oxidativa.
Inicialmente, vamos estudar a bioenergética, que
aborda a transferência e a utilização da energia pelas células.
Antes de nos aprofundarmos nesse conceito, vamos
definir energia.
Você, provavelmente, tem uma noção do conceito de
energia. Por exemplo: os equipamentos eletrônicos dependem da energia elétrica para o seu funcionamento, mas também podemos citar a luz, o calor, a correnteza de um rio e tantos outros exemplos.
O que acabamos de citar são as diferentes
manifestações da energia, mas a verdade é que definir energia é muito difícil, sendo bem mais fácil identificar as suas manifestações, como energia elétrica, energia luminosa, energia térmica, energia cinética, energia potencial etc. Mas como precisamos de uma definição, geralmente, associamos ela a conceitos físicos, então, a energia pode ser definida como a capacidade de realizar trabalho durante uma reação química ou fenômeno físico, ou seja, a energia é capaz de deslocar algo ou se opor às forças contrárias.
Por exemplo: a energia tem a capacidade de organizar
a matéria, deslocando as moléculas para organizá-las em células, que, posteriormente, podem ser deslocadas para a organização de sistemas biológicos cada vez mais complexos, como tecidos, órgãos, até chegar a um organismo. Além disso, a energia é necessária para a manutenção da composição dos meios intracelular e extracelular, a movimentação do sistema biológico (flagelo e cílios, no caso da movimentação de células, e um sistema proteico que permite a contração de fibras musculares para a movimentação de um corpo), as vias de biossíntese (ou anabólicas), o movimento de moléculas e íons por meio da membrana plasmática e tantas outras funções biológicas.
A manutenção da vida depende da capacidade da célula
em transformar uma forma de energia em outra. Essas transformações de energia que acompanham as reações químicas do sistema biológico (célula ou organismo) são estudadas pela bioenergética e são condicionadas às leis da termodinâmica.
Inicialmente, vamos definir alguns conceitos
importantes da termodinâmica.
O sistema é o nosso objeto de estudo, podendo ser um
tubo de ensaio com uma determinada reação química ou uma célula; já e o que está ao redor do sistema e não pertence a ele, chamamos de entorno ou vizinhança.
O universo, por sua vez, é o conjunto formado pelo
sistema e pela vizinhança ou entorno. O sistema pode ser classificado em aberto (troca energia e matéria com o entorno), fechado (só troca energia com o entorno) e isolado (não troca nada com o entorno).
As células são exemplos de sistemas abertos, pois
trocam energia e substâncias com o meio circundante.
Os conceitos de trabalho e energia já foram abordados
anteriormente no texto, então, faltou definirmos calor, que é a energia em movimento devido à diferença de temperatura entre dois meios. Outros parâmetros importantes para a termodinâmica são: energia interna, entalpia, entropia e variação de energia livre (ou de Gibbs).
A energia interna (U) corresponde ao conteúdo total de
energia do sistema, ou seja, a soma das energias cinética e potencial das moléculas constituintes do sistema. A entalpia (H) é o parâmetro que mede a quantidade de energia de um sistema que pode ser transformada em calor à pressão constante.
Já a variação de entalpia, ou seja, a diferença entre as
entalpias final e inicial de um sistema, reflete a energia liberada e absorvida de um sistema em pressão constante.
A depender do valor da variação de entalpia, podemos
classificar as reações químicas e os fenômenos físicos em exotérmicos e endotérmicos. Em um processo exotérmico, a variação de entalpia do sistema é negativa, pois o sistema transfere energia na forma de calor para o entorno, enquanto em um processo endotérmico, a variação de entalpia do sistema é positiva, pois recebe energia do entorno na forma de calor. Precisamos diferenciar dois processos importantes: a transformação física e a transformação química (também chamada de reação química).
Na transformação física, as moléculas continuam
intactas, o que altera é a relação entre elas, isto é, as ligações intermoleculares e a liberdade de movimentação das moléculas.
Como exemplo, temos o gelo (forma sólida), a água
(forma líquida) e o vapor de água (forma gasosa).
Todas essas formas são constituídas pela mesma
molécula, então, o que muda? Apenas a relação entre as moléculas de água.
Já na transformação química ou reação química, as
moléculas iniciais, chamadas de reagentes, são transformadas em novas moléculas, diferentes das iniciais, chamadas de produtos.
Por exemplo: a queima da madeira, uma reação
química chamada de combustão.
Nesse exemplo, a madeira, constituída por moléculas
orgânicas (presença do átomo de carbono), ao reagir com o gás oxigênio (02) origina o gás carbônico (C02), então, nessa reação química, temos os reagentes carbono e gás oxigênio e o produto gás carbônico. Estrutura do ATP e a reação de hidrólise do ATP para liberar energia Um homem adulto com cerca de 70 kg necessita de, pelo menos, 2000 quilocalorias por dia para a manutenção das suas funções orgânicas.
Em termos energéticos, essa quantidade de energia
corresponde a 83 kg de ATP, porém as pessoas dispõem de apenas 250 gramas de ATP a qualquer momento, e isso mostra que a nossa capacidade de regenerar o ATP tem que ser bem elevada.
Cada molécula de ATP é regenerada cerca de 300 vezes
por dia, e a principal fonte de regeneração de ATP é a fosforilação oxidativa que ocorre na mitocôndria. As reações de oxirredução (ou redox) estão presentes em muitas vias metabólicas, em espe- cial as relacionadas com a produção de energia.
Na oxidação, ocorre perda de elétrons, ou seja, há
aumento do valor do número de oxidação; já na redução, há ganho de elétrons, ou seja, há a diminuição do valor do número de oxidação.
O número de oxidação está relacionado à carga elétrica,
real ou parcial, dos átomos constituintes das moléculas reagentes. Oxidante é a molécula que provoca oxidação de outra molécula e sofre redução; redutor é a molécula que provoca redução de outra molécula e sofre oxidação.
Nas reações de oxirredução, temos a transferência de
elétrons do redutor para o oxidante; por exemplo: na descarboxilação oxidativa do piruvato, o que resulta na formação de acetil-CoA, o piruvato é o redutor, pois perde elétrons e os transfere para o NAD+, que age como oxidante. Apesar de o termo oxidação remeter ao gás oxigênio, muitas reações de oxidação ocorrem sem a participação dessa molécula.
O conjunto das reações de oxirredução que
ocorrem nos sistemas biológicos é denominado de oxidação biológica. Equação resumida da respiração celular e o processo redox da mesma A energia presente na glicose, nos ácidos graxos e nos aminoácidos é liberada aos poucos, em várias etapas, cada uma catalisada por uma enzima específica.
Nessas etapas, a energia dessas fontes energéticas
pode ser transferida diretamente para o ADP por meio da sua fosforilação, originando o ATP.
A outra possibilidade é a transferência de elétrons
dessas fontes energéticas para os carreadores de elétrons NAD (nicotinamida adenina dinucleotídeo) e FAD (flavina adenina dinucleotídeo), e esses elétrons serão, posteriormente, transferidos para a cadeia respiratória ou cadeia de transporte de elétrons, onde serão utilizados para o processo de fosforilação oxidativa. As oxidações da glicose, dos ácidos graxos e aminoácidos e a fosforilação do ADP para formar ATP estão acoplados por um gradiente de prótons, por meio da membrana interna da mitocôndria.
A seguir, veremos como ocorre esse acoplamento de
reações na cadeia respiratória. Representação dos componentes e do mecanismo de funcionamento da cadeia respiratória Representação das reações químicas envolvidas na redução do gás oxigênio (O2) à molécula de água A via das pentoses-fosfato é um conjunto de reações químicas que ocorre no citosol e cujo substrato inicial é a glicose-6-fosfato e o produto final é a ribose-5-fosfato. Esquema representativo da via das pentoses-fosfato Existem vias metabólicas que envolvem outras hexoses, como a galactose e a frutose.
No caso da frutose, esse monossacarídeo é
substrato para glicólise, especialmente no fígado.
Uma dieta rica em frutose pode desencadear um
aumento da taxa de glicólise no fígado, resultando em aumento da taxa de síntese de ácidos graxos devido à maior disponibilidade de di-hidroxiacetona, um intermediário da glicólise. Com maior produção hepática de ácidos graxos, há maior secreção de VLDL, o que resulta em hipertrigliceridemia (maior concentração plasmática de triacilgliceróis ou triglicérides).