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PRINCIPAIS VIAS
DO METABOLISMO
E PROCESSOS
BIOENERGÉTICOS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar
o conteúdo apresentado.
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149
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A TRILHA DA
UNIDADE 3!
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150
UNIDADE 3 TÓPICO 1 —
INTRODUÇÃO À BIOENERGÉTICA E AO
METABOLISMO
1 INTRODUÇÃO
As células desempenham as funções da vida através de várias reações
químicas. A bioenergética é o estudo do fluxo de energia através dos sistemas vivos,
especificamente no nível celular. Ele examina as reações químicas que ocorrem dentro
das células, incluindo aquelas que consomem ou geram energia, que são coletivamente
chamadas de metabolismo.
151
As vias catabólicas liberam energia química na forma de ATP, NADH, NADPH e FADH2.
Esses transportadores de energia são usados em vias anabólicas para converter
precursores pequenos em macromoléculas celulares
152
químicos responsáveis por
essas mudanças. Analisa as diferentes formas de energia
que as células vivas usam como energia química, energia térmica e energia luminosa,
e como elas são transformadas em outras formas de energia, como o ATP, que a célula
pode usar como moeda energética para realizar suas funções.
153
À medida que a energia metabólica é gasta para realizar o trabalho celular, o grau
de desordem do sistema “mais” o do meio externo (expresso quantitativamente
como entropia) cresce à medida que a energia potencial das moléculas nutrientes
complexas decresce. (a) Organismos vivos extraem energia do seu meio; (b) convertem
parte dela em formas de energia utilizáveis para produzir trabalho; (c) devolvem parte
da energia ao meio na forma de calor; e (d) liberam, como produto, moléculas que
são menos organizadas do que o combustível de partida, aumentando a entropia
do universo. Um efeito de todas estas transformações é (e) o aumento da ordem
(aleatoriedade diminuída) do sistema na forma de macromoléculas complexas.
• A energia livre de Gibbs (G) é uma medida da energia disponível para realizar trabalho.
A partir desse parâmetro as reações podem ser classificadas como exergônicas se
ela libera energia livre, resultando em uma mudança negativa na energia livre (ΔG
< 0). Por outro lado, uma reação endergônica é aquela em que o sistema adquire
energia livre, resultando em uma variação positiva na energia livre (ΔG > 0).
• Entalpia (H) é a medida do conteúdo de calor do sistema reagente. Reflete o número
e o tipo de ligações químicas nos reagentes e produtos. As reações são classificadas
como exotérmicas (ΔH < 0) ou endotérmicas (ΔH > 0) com base na liberação ou
absorção de calor, respectivamente.
• Entropia (S) é uma medida da desordem ou aleatoriedade de um sistema. Uma reação
prossegue com ganho de entropia quando os produtos são menos complexos e
mais desordenados que os reagentes.
154
de desordem (medido pela entropia, S). A força motriz líquida de uma reação é a variação na
energia livre de Gibbs, ou ∆G, que é o resultado destes dois fatores: ∆G = ∆H - T∆S.
A ∆G de um sistema que ocorre durante uma reação pode ser medida sob
qualquer conjunto de condições. No entanto, se os dados forem coletados em condições
padrão de pH 7, temperatura a 25º Celsius e pressão de 1 atmosfera, o resultado é a
variação de energia livre padrão aparente, ∆G°', que é usado para prever se a reação é
espontânea ou não. Essa ∆G'° é um valor constante que é calculado usando a constante
de equilíbrio (K'eq) da reação usando a equação ∆G'°= -RT ln K'eq, onde R é o constante
do gás e T é a temperatura em Kelvin.
155
metabolismo. Esta troca constante de materiais e energia também requer uma entrada
constante de energia, pois a célula deve trabalhar para manter sua própria organização
e contrariar a tendência natural de equilíbrio e entropia. Ou seja, os organismos vivos
estão em uma batalha constante contra o equilíbrio e a entropia.
156
Figura 3 – O trifosfato de adenosina (ATP) fornece energia
NH2
N
C N
O- O- O- HC
C CH
-O P O P O P O CH2 N N
O
O O O
H H
H H
OH OH
P P P Adenosina (Trifosfato de adenosina, ATP)
O-
O
Fosfato inorgânico (Pi)
OH O-
O O
Fosfato inorgânico (PPi)
157
Figura 4 – Acoplamento energético em processos químicos e mecânicos
(a) Exemplo mecânico
ΔG > 0 ΔG < 0
Trabalho Perda de
realizado ao energia
levantar o potencial
objeto de
posição
Endergônico Exergônico
Reação 2:
ATP ADP + Pi Reação 3:
Glicose + ATP
Glicose-6-fosfato + ADP
Energia livre, G
Reação 1:
Glicose + Pi
Glicose-6-fosfato
ΔG2 ΔG3
ΔG1
ΔG3 = ΔG1 + ΔG2
Reação coordenada
Os autotróficos, como plantas e algas, podem usar dióxido de carbono como sua
única fonte de carbono. Os heterotróficos, como animais e a maioria dos microrganismos,
devem obter carbono de compostos orgânicos mais complexos, como a glicose.
Os autótrofos são autossuficientes, enquanto os heterótrofos dependem de outros
organismos para obter nutrientes. Autotróficos e heterótrofos vivem juntos em um ciclo
interdependente no qual os autótrofos produzem compostos orgânicos e oxigênio por
meio da fotossíntese e os heterótrofos consomem esses compostos e liberam dióxido
de carbono. Esse ciclo é impulsionado pela energia solar e carbono, oxigênio e água são
constantemente reciclados entre os dois grupos (Figura 5).
159
Figura 5 – Ciclo do dióxido de carbono e do oxigênio entre o domínio autotrófico (fotossintético) e o
heterotrófico na biosfera
O fluxo de massa por esse ciclo é enorme; 4 x 1011 toneladas de carbono são
recicladas anualmente na biosfera.
160
Os processos catabólicos são exergônicos, que são reações que liberam energia.
A energia liberada é usada para alimentar os processos celulares e uma parte dela é
conservada na forma de ATP e transportadores de elétrons reduzidos (NADH, NADPH
e FADH2), enquanto o restante é perdido como calor. O catabolismo também permite
que os nutrientes sejam convertidos em monômeros necessários para a biossíntese
de moléculas complexas. É um processo convergente, onde uma grande variedade de
moléculas é transformada em poucos produtos.
161
Figura 6 – Três tipos de vias metabólicas não lineares
(a) Convergente, catabólica, (b) divergente, anabólica, e (c) cíclica. Em (c), um dos
compostos de partida (no caso, o oxaloacetato) é regenerado e reingressa na via.
O acetato, um intermediário metabólico chave, é o produto da degradação de uma
variedade de combustíveis (a), serve de precursor de um grande número de produtos
(b) e é consumido na via catabólica conhecida como o ciclo do ácido cítrico (c).
162
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:
163
AUTOATIVIDADE
1 A termodinâmica estuda as relações entre a energia, o trabalho e a entropia de um
sistema. Dentro dessa área existem três leis conhecidas como leis da termodinâmica.
Assinale a alterativa CORRETA da lei da termodinâmica que afirma que a energia não
pode ser criada nem destruída.
2 A variação de energia livre de Gibbs, ∆G, de um sistema que ocorre durante uma
reação é utilizada para prever se uma reação será espontânea ou não. Assinale a
alternativa CORRETA do valor de ∆G para um sistema está em equilíbrio.
a) ( ) ∆G = 0
b) ( ) ∆G = 1
c) ( ) ∆G = -1
d) ( ) ∆G = ∆G’0
3 A bioquímica é a área da biologia que estuda as reações químicas que ocorrem nas
células, incluindo o metabolismo celular. Esses processos podem ser divididos em
duas categorias principais. Assinale a alternativa CORRETA que apresenta o termo que
descreve o processo celular de quebrar moléculas grandes em moléculas menores.
a) ( ) Anabolismo.
b) ( ) Catabolismo.
c) ( ) Catálise.
d) ( ) Absorção.
164
UNIDADE 3 TÓPICO 2 -
METABOLISMO DE LIPÍDIOS,
AMINOÁCIDOS E NUCLEOTÍDEOS
1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, no Tema de aprendizagem 2, abordaremos o metabolismo de lipídios,
aminoácidos e nucleotídeos que fazem parte dos processos metabólicos responsáveis
pela biossíntese, degradação e transporte dessas moléculas para manutenção da vida.
165
Através da degradação ou beta-oxidação de ácidos graxos, o corpo gera a
energia necessária para realizar suas funções. Esse processo ocorre principalmente nas
mitocôndrias das células e resulta na produção de acetil-CoA, NADH e FADH2. Essas
moléculas serão usadas para gerar ATP no ciclo de Krebs e no processo de fosforilação
oxidativa que serão discutidas em detalhes no tema de aprendizagem 3.
166
Quando os hormônios sinalizam necessidade de energia, os triacilgliceróis
armazenados no tecido adiposo são mobilizados. Os níveis baixos de glicose ativam os
hormônios glucagon (ou outros sinais, ativam a adrenalina), que se liga ao seu receptor
na membrana do adipócito e estimula a ação de segundos mensageiros para abrir as
gotículas de lipídios e ativar as lipases hormônio-sensível nos adipócitos, resultando na
hidrólise de ácidos graxos livres e glicerol.
167
A digestão e a absorção dos lipídeos da dieta ocorrem no intestino delgado, e os
ácidos graxos liberados dos triacilgliceróis são empacotados e distribuídos para os
músculos e o tecido adiposo. Os oito passos são discutidos no texto.
168
Figura 8 – Entrada de ácido graxo na mitocôndria pelo transportador acil-carnitina/carnitina
169
Figura 9 – A via da β-oxidação
170
Esse FADH reduzido vai entrar na cadeia respiratória, e os elétrons passam para
O2 com produção de ATP.
2. A etapa (2) é a hidratação, específica para configuração trans, para desfazer a dupla
ligação e produzir um estereoisômero L-β-Hidroxiacil-CoA.
3. Na etapa (3), é a oxidação, formando o β-cetoacil-CoA. Essa reação é catalisada
pela enzima β-hidroxiacil-CoA desidrogenase, reduzindo o NAD+. Essa enzima é
específica para o isômero L.
O R-acil resultante, com menos 2C a cada ciclo, fará mais ciclos de β-oxidação
até ser totalmente convertido em Acetil-CoA.
• NADH, FADH2 para a fosforilação oxidativa (que serão utilizados para formar 2.5 ATP,
e 1.5ATP respectivamente).
• 1Acetil-CoA para o ciclo de Krebs, onde é completamente oxidado a CO2, originando
3NADH e FADH para a fosforilação oxidativa e GTP.
Figura 10 – Produção de ATP durante a oxidação de uma molécula de palmitoil-CoA em CO2 e H2O
171
Succinato-desidrogenase 8 FADH2 12
Malato-desidrogenase 8 NADH 20
Total 108
*Esses cálculos pressupõem que a fosforilação oxidativa mitocondrial produz 1,5 ATP por FADH, oxidado e
2,5 ATP por NADH oxidado.
'O GTP produzido diretamente nesse passo produz ATP na reação catalisada pela nucleosídeo-difosfato-
quinase (p. 526).
Fonte: Nelson & Cox (2014, p.673)
Os ácidos graxos insaturados, com uma ou mais duplas ligações, são a maioria
dos ácidos graxos no organismo, e suas ligações estão na configuração cis, logo não
podem receber a hidratação na etapa (2) da β-oxidação.
Para ácidos graxos poli-insaturados com mais de uma ligação dupla, como
o linoleoil-CoA (∆9, ∆12), a primeira etapa é similar aos monoinsaturados, e a enzima
isomerase converte a configuração cis para trans, formando um intermediário que
reentra no ciclo da β-oxidação. Na segunda dupla ligação, uma enzima redutase
converte um intermediário que possui a dupla ligação trans-∆2-cis-∆4 para trans-∆3
oxidando o NAPH. A seguir, uma segunda enzima isomerase converte o intermediário
com dupla ligação trans-∆3 em trans-∆2, e esse reentra o ciclo da β-oxidação.
172
2.3 CETOGÊNESE
Nos mamíferos, o acetil-CoA formado no fígado durante a β-oxidação
pode entrar no ciclo de Krebs ou ser convertido a corpos cetônicos (o acetoacetato,
β-hidroxibutirato e acetona). A formação dos corpos cetônicos ocorre na matriz da
mitocôndria. A enzima tiolase catalisa a condensação de 2 moléculas de acetil-CoA. E,
reações seguintes das demais enzimas geram o acetoacetato, que produz acetona e
β-hidroxibutirato. A acetona é exalada, e os demais corpos cetônicos são exportados
para os tecidos, onde são convertidos em acetil-CoA e oxidados para fornecer energia,
principalmente em condições de jejum (Figura 11).
173
2.4 BIOSSÍNTESE DE ÁCIDOS GRAXOS SATURADOS
Os ácidos graxos são os principais componentes do triacilgliceróis para o
armazenamento de energia e dos fosfolipídios de membrana. O fígado é o principal
órgão responsável pela síntese de ácidos graxos que acontece na mitocôndria. O
processo é endergônico e redutor, usando ATP como fonte de energia metabólica e
NADPH como agente redutor.
174
Figura 12 – Lançadeira para a transferência de grupos acetil da mitocôndria para o citosol
Nas células fotossintéticas dos vegetais, a síntese de ácidos graxos não ocorre
no citosol, mas no estroma dos cloroplastos. Nas plantas, o malato pode ser convertido
a piruvato e entrar na mitocôndria, e o NADPH citosólico é reduzido.
175
A biossíntese e degradação do ácidos-graxos ocorrem por vias diferentes, por
diferentes enzimas, e em compartimentos diferentes. A biossíntese ocorre no citosol e
a degradação na mitocôndria.
176
Figura 13 – Adição de dois carbonos a uma cadeia acil graxo em crescimento: uma sequência de quatro
etapas
Cada grupo malonila e acetila (ou acilas maiores) é ativado por um tioéster que
os une à ácido graxo--sintase, um sistema multienzimático descrito no texto. 1 A
condensação de um grupo acila ativado (um grupo acetil da acetil-CoA é o primeiro
grupo acila) e dois carbonos derivados da malonil-CoA, com a eliminação de CO2do
grupo malonila, alonga a cadeia acila em dois carbonos. O mecanismo da primeira
etapa dessa reação está mostrado para ilustrar o papel da descarboxilação em
facilitar a condensação. O produto b-cetônico dessa condensação é, então, reduzido
em três etapas seguintes praticamente idênticas às reações de β-oxidação, mas na
sequência inversa; 2 o grupo b-cetônico é reduzido a um álcool, 3 a eliminação de
H2O cria uma ligação dupla, e 4 a ligação dupla é reduzida, formando o grupo acil
graxo saturado correspondente.
177
O resultado é uma cadeia saturada de 4C, finalizando o primeiro ciclo. Para iniciar
o próximo ciclo, o domínio ACP é deslocado e liberado para receber mais um malonil-CoA
e assim dando continuidade ao ciclo para alongar a cadeira em 2C e liberando CO2, para
formar 6C e, em seguida, 8C, e assim por diante. O produto final é o palmitado de 16C.
Essa equação pode ser dividida em duas equações menores, primeiro, o ATP é
necessário para ligar o CO2 à acetil-CoA para formar as sete moléculas de malonil-CoA:
Nos mamíferos, certos tipos de ácidos graxos chamados ácidos graxos poli-
insaturados de cadeia longa (chamados de PUFA) são criados a partir de ácidos graxos
essenciais que são obtidos através da dieta. Esses PUFAs são formados através de uma
série de reações de dessaturação (adição de uma ligação dupla entre dois átomos de
carbono) e alongamento (adição de dois átomos de carbono).
178
ácido α-linolênico (ômega 3), respectivamente. Esses ácidos graxos poli-insaturados
essenciais são os precursores de outros lipídios importantes, como o araquidonato
(20:4), EPA (20:5) e DHA (22:6). Esses lipídios têm muitas funções biológicas importantes,
incluindo no desenvolvimento e a função do cérebro e na manutenção da saúde
cardiovascular (Figura 14).
179
2.6 BIOSSÍNTESE DE TRIACILGLICERÕIS E
GLICEROFOSFOLIPÍDEOS
Os triacilgliceróis são formados a partir do acil-CoA graxo (ativado) e glicerol-
3-fosfato em diversas etapas biossintéticas. O glicerol-3-fosfato é produzido na via da
gliceroneogênese a partir de di-hidroxiacetona-fosfato derivado do piruvato.
180
• A etapa (3) é a polimerização dos isoprenos para formar o esqualeno linear. E
consome NADPH.
• A etapa (4) é a ciclização do esqualeno, consumindo NADPH para formar uma
estrutura de anéis para produção do colesterol, que são 4 anéis fundidos.
A bile é um fluido produzido pelo fígado que contém ácidos biliares e seus
sais. Os ácidos biliares são derivados do colesterol, mas possuem um número maior de
grupos hidroxila. A bile é armazenada na vesícula biliar e liberada no intestino delgado
quando necessário. Os sais biliares são moléculas anfipáticas, pois possuem regiões
hidrofóbicas e hidrofílicas. Eles agem como um detergente, quebrando os agregados de
gordura em gotículas menores chamadas micelas, mais acessíveis à ação de enzimas
pancreáticas chamadas lipases que quebram os triacilgliceróis.
2.8 LIPOPROTEÍNAS
O colesterol, seus ésteres e outros lipídios são insolúveis em água e, portanto,
são transportados pelas lipoproteínas plasmáticas.
182
Figura 16 – Lipoproteínas
183
O transporte reverso de colesterol, ou seja, o excesso de colesterol no sangue
e nos tecidos extra-hepáticos é transportado de volta para o fígado pela HDL. O HDL
possui uma enzima que esterifica o colesterol, tornando-o mais insolúvel e inacessível
dentro da partícula de HDL, diferente do colesterol transportado pela LDL. O HDL alto no
sangue indica um bom metabolismo de reabsorção do colesterol.
184
Os lipídeos são transportados na corrente sanguínea como lipoproteínas,
existentes em diversas formas variantes, cada uma com diferentes funções e com
composições lipídica e proteica distintas, portanto, com densidades diferentes. As
etapas numeradas estão descritas no texto. Na via exógena (setas azuis), os lipídeos
da dieta são empacotados em quilomícrons; a maior parte do seu conteúdo em
triacilgliceróis é liberada pela lipase lipoproteica nos tecidos adiposo e muscular,
durante o transporte ao longo dos capilares. Os quilomícrons remanescentes
(contendo na maior parte pro-teínas e colesterol) são captados pelo fígado. Os sais
biliares produzidos no fígado auxiliam na dispersão das gorduras da dieta e são,
então, reabsorvidos na via êntero-hepática (setas verdes). Na via endógena (setas
vermelhas), os lipídeos sintetizados ou empacotados no fígado são distribuídos aos
tecidos periféricos pela VLDL. A extração dos lipídeos da VLDL (acompanhada pela
perda de parte das apolipoproteínas) converte, gradualmente, parte da VLDL em LDL,
que transporta o colesterol para os tecidos extra-hepáticos ou de volta para o fígado. O
fígado capta LDL, remanescentes de VLDL (chamadas de lipoproteínas de densidade
intermediária, ou IDLs) e os remanescentes de quilomícrons por endocitose mediada
por receptor. O excesso de colesterol nos tecidos extra-hepáticos é transportado
de volta ao fígado como HDL pelo transporte reverso do colesterol (setas roxas). C
representa colesterol; EC representa ésteres de colesterila.
185
Quando a dieta disponibiliza uma fonte imediata de carboidratos como combustível,
a β-oxidação dos ácidos graxos é desnecessária, sendo, portanto, desativada. Duas
enzimas são essenciais na coordenação do metabolismo dos ácidos graxos: a acetil-
-CoA-carboxilase (ACC), primeira enzima na síntese dos ácidos graxos, e a carnitina-
--aciltransferase I, que limita o transporte de ácidos graxos para dentro da ma-
triz mitocondrial para a β-oxidação. A ingestão de uma refeição rica em carboidratos
aumenta o nível de glicose no sangue e, portanto, 1 ativa a liberação de insulina. 2 A
proteína-fosfatase dependente de insulina desfosforila a ACC, ativando-a. 3 A ACC
catalisa a formação de malonil-CoA (o primeiro intermediário da síntese de ácidos
graxos), e 4 o malonil-CoA inibe a carnitina-aciltransferase I, impedindo assim a en-
trada de ácidos graxos na matriz mitocondrial. Quando baixam os níveis de glicose
no sangue, entre as refeições, 5 a liberação de glucagon ativa a proteína-cinase de-
pendente de cAMP (PKA), que 6 fosforila e inativa a ACC. Com a baixa concentração
de malonil-CoA, a inibição da entrada de ácidos graxos na mitocôndria é aliviada,
e 7 os ácidos graxos entram na matriz mitocondrial e 8 tornam-se o principal com-
bustível. Como o glucagon também ativa a mobilização de ácidos graxos no tecido
adiposo, um suprimento de ácidos graxos começa a chegar ao sangue.
186
Figura 19 – A regulação da formação de colesterol equilibra a sua síntese com a captação a partir da
alimentação e o estado energético
3 METABOLISMO DE AMINOÁCIDOS
Os aminoácidos são os monômeros constituintes das proteínas e desempenham
papéis importantes em vários processos fisiológicos do corpo. O metabolismo dos
aminoácidos é um processo complexo que envolve vários mecanismos, incluindo
digestão de proteínas, transporte, desaminação, excreção de nitrogênio e ciclo da ureia
e síntese.
187
restante do esqueleto de carbono é convertido em outras moléculas ou utilizados para
a produção de energia, seja por serem convertidos em glicose ou por serem utilizados
no ciclo de Krebs para produzir energia na forma de ATP.
Uma vez que as proteínas atingem o estômago, a acidez do suco gástrico (pH
1,0 a 2,5) desempenha um papel tanto na morte de células e bactérias estranhas quanto
na desnaturação das proteínas, tornando suas ligações peptídicas mais vulneráveis à
hidrólise enzimática. A principal enzima protease do estomago é a pepsina, que inicia
o processo de quebra das proteínas em cadeias peptídicas menores. As proteínas par-
cialmente digeridas chegam ao intestino delgado, e são degradadas por um grupo de
proteases chamadas tripsina, quimiotripsina e carboxipeptidases. Essas enzimas que-
bram as ligações peptídicas entre os aminoácidos, liberando os aminoácidos individuais.
188
3.2 TRANSAMINAÇÃO E DESAMINAÇÃO
O catabolismo da maioria dos L-aminoácidos ocorre principalmente no fígado.
Este processo envolve a eliminação do grupo amina, também conhecido como
desaminação, bem como a excreção do grupo amina para o ciclo da ureia e conversão
do esqueleto de carbono em compostos intermediários que podem ser utilizados para
diversas vias metabólicas e por isso chamados de intermediários anfibólicos.
189
O grupo amino NH3+ (amônia) se converte em NH4+ (íon amônio) em pH fisiológico.
Alguns aminoácidos são desaminados por reações especiais. Mas também convergem
para formar NH4+ e glutamato.
A amônia livre produzida nos tecidos, incluindo o cérebro, a NH4+ livre, combina-
se com glutamato pela ação da enzima glutamina-sintase, com consumo de ATP,
formando a L-glutamina. Essa glutamina serve como fonte de grupo amino para a
biossíntese e como transportadora de amônia para o fígado ou rins. É uma forma de
transporte não tóxico para amônia que esta normalmente presente no sangue em
concentrações muito maiores que os demais aminoácidos. Nos tecidos alvos, a enzima
glutaminase converte glutamina em glutamato e amônia.
190
Figura 21 – O ciclo da glicose-alanina
191
A maior parte dos animais terrestre secreta amônia na forma de ureia, os répteis
e aves, na forma de ácido úrico, e os peixes excretam amônia livre, que é diluída na
água do ambiente. As plantas quase nunca utilizam aminoácidos para obter energia,
e geralmente reciclam todos os grupos aminos, não fazendo a excreção nitrogenada.
O ciclo da ureia acontece no fígado e envolve cinco etapas que ocorrem nas
mitocôndrias e no citosol.
192
Na regulação, a primeira enzima do ciclo da ureia, a carbamoil-fosfato-sintetase
I, é alostérica e estimulada pelo N-acetilglutamato, sintetizado a partir de condensação
de acetil-CoA e glutamato pela enzima N-acetilglutamato sintase, que, por sua vez,
é ativada pela arginina. A concentração desses intermediários é determinante para a
ativação dessas enzimas.
A expressão gênica a longo prazo regula a síntese das enzimas do ciclo da ureia
e da carbamoil-fosfato-sintetase I em condições dependentes da dieta.
Esses dois ciclos interconectados têm sido denominados “bicicleta de Krebs”. As vias
que unem o ciclo do ácido cítrico ao ciclo da ureia são conhecidas como lançadeira
do aspartato-arginino-succinato; elas unem efetivamente os destinos dos grupos
amino e dos esqueletos de carbono dos aminoácidos. As interconexões são bastante
elaboradas. Por exemplo, algumas enzimas do ciclo do ácido cítrico, como a fumarase
e a malato--desidrogenase, apresentam isoenzimas citosólicas e mitocondriais. O
fumarato produzido no citosol, seja no ciclo da ureia, na biossíntese de purinas ou
em outros processos, pode ser convertido em malato citosólico, utilizado no citosol
ou transportado para a mitocôndria para entrar no ciclo do ácido cítrico. Esses
processos são ainda interligados com a lançadeira do malato-aspartato, conjunto
193
de reações que traz equivalentes redutores para a mitocôndria (ver também Figura
19-31). Esses diferentes ciclos ou processos contam com um número limitado de
transportadores na membrana mitocondrial interna.
Diversas doenças humanas graves são causadas por defeitos genéticos nas
enzimas do catabolismo dos aminoácidos. A fenilcetonúria é uma doença genética com
deficiência na enzima fenilalanina hidroxilase, a primeira enzima do metabolismo da
fenilalanina para ser convertida em tirosina. A deficiência desta enzima causa o acúmulo
de fenilalanina no sangue ou nos tecidos, causando toxidade e retardo mental no cérebro.
O teste do pezinho diagnostica a doença, e o tratamento é a restrição da fenilalanina.
194
Os aminoácidos são classificados em três grupos: aminoácidos não essenciais;
aminoácidos essenciais; e, aminoácidos condicionais.
195
Figura 23 – Visão geral da biossíntese de aminoácidos
196
4 METABOLISMO DE NUCLEOTÍDEOS
Os nucleotídeos purina e pirimidina são os constituintes dos ácidos nucléicos,
servindo como substratos para a biossíntese de DNA e RNA. São também utilizados
como moeda de energia na forma de ATP e GTP, e atuam como derivados de coenzimas
como NAD, NADP e FAD. Além disso, derivados cíclicos de nucleotídeos de purina,
como cAMP e cGMP, desempenham um papel na regulação do metabolismo. Sem os
nucleotídeos, processos importantes como a biossíntese de proteínas, a replicação do
material genético e a divisão celular não seriam possíveis.
197
Figura 24 – Origem dos átomos no anel das purinas
198
Os nucleotídeos de timina estão presentes nas bases do DNA e são derivados de
dCDP e dUMP. O folato, da vitamina B, desempenha um papel importante na biossíntese
de nucleotídeos, especialmente na conversão de dCDP em dTDP. A forma ativa do
folato, tetra-hidrofolato de metileno é necessária como cofator nessa reação e atua
como doadora de grupo metil na formação de nucleotídeos de timina. Uma deficiência
de folato pode levar a uma diminuição na produção de nucleotídeos de timina e na
síntese de DNA, o que pode causar vários problemas de saúde.
199
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:
• Os ácidos graxos são oxidados por meio de uma série de reações conhecidas como
β-oxidação para fornecer energia para a célula.
200
AUTOATIVIDADE
1 Quando fazemos dieta para emagrecer, os triglicerídeos do nosso tecido adiposo são
degradados em ácidos graxos que são liberados no sangue e transportados ligados
a uma proteína e levados para os tecidos alvos. Dentro das células, os ácidos graxos
são transportados para as mitocôndrias por um tipo de transporte específico. Assinale
a alternativa CORRETA que descreva a proteína e transporte envolvido no processo
de mobilização de gorduras no corpo humano.
a) ( ) Albumina e carnitina.
b) ( ) Albumina e colesterol.
c) ( ) Lipoproteínas e carnitina.
d) ( ) Albumina e Lipoproteínas.
a) ( ) Redução da lipólise.
b) ( ) Aumento da cetogênese.
c) ( ) Gliconeogênese reduzida.
d) ( ) Proteólise reduzida.
201
5 O metotrexato inibe a diidrofolato redutase, uma enzima responsável pela conversão
do diidrofolato em tetraidrofolato, e tem sido usado na quimioterapia do câncer,
incluindo o tratamento da leucemia. Como ele inibe as células cancerígenas?
202
UNIDADE 3 TÓPICO 3 -
METABOLISMO DE CARBOIDRATOS E
BIOENERGÉTICA
203
A glicose que não foi utilizada no processo da respiração celular é armazenada
na forma de glicogênio. Por outro lado, quando os estoques de glicogênio se esgotam,
a glicose pode ser sintetizada pelo próprio corpo para manter os níveis de glicose no
sangue e prover energia para o funcionamento das células.
Figura 25 – Catabolismo de proteínas, gorduras e carboidratos durante os três estágios da respiração celular
204
FADH2 convergem para uma cadeia de transportadores de elétrons mitocondrial (ou,
em bactérias, ligados à membrana plasmática) – a cadeia respiratória – reduzindo, no
final, O2 a H2O. Esse fluxo de elétrons impele a produção de ATP.
2 GLICÓLISE
A glicose é o principal combustível da maioria das nossas células. As vias
alimentadoras para o fornecimento da glicose são os estoques de glicogênio, e, a
partir da dieta, provém principalmente de dissacarídeos, como sacarose e lactose, ou
polissacarídeos, como o amido, que são hidrolisados por enzimas digestivas e a glicose
distribuída para o todo o corpo pela corrente sanguínea.
205
Figura 26 – As duas fases da glicólise
1. A fosforilação da glicose faz com que ela permaneça na célula para ser metabolizada.
Todas as cinases requerem um íon divalente como o Mg2+, que atrai e forma
complexo com o ATP. A hexocinase passa por um ajuste induzido ao ligar-se com o
substrato e muda sua conformação, catalisando a transferência do grupo fosforil do ATP
para a glicose. Essa é uma enzima que sofre regulação.
207
4. Clivagem da ligação C-C da frutose-1,6-bisfosfato em 2 isômeros trioses-fosfatos
interconversíveis. A enzima aldolase catalisa a condensação aldólica inversa
resultando na formação de uma cetose – di-hidroxi-acetona-fosfato e uma aldose
– gliceraldeído-3-fosfato; e
5. Interconvenção, realizada pela enzima triose-fosfato isomerase, pois apenas
aldoses seguiram na segunda etapa da via glicolítica.
A soma desses dois processos fornece a variação da energia livre padrão total
da glicólise (∆Gs’º) onde, ∆Gs’º = ∆G1’º + ∆G2’º = - 146 kJ/mol + 61 kJ/mol, resultando em
- 85 kJ/mol.
208
Essas equações mostram que sob condições padrão, a glicólise é um processo
essencialmente irreversível, o que significa que a conversão de glicose em piruvato não
é facilmente reversível.
209
O piruvato também serve como precursor em muitas reações anabólicas, não
mostradas aqui.
2.3 FERMENTAÇÃO
A fermentação é o termo geral para a degradação anaeróbica da glicose ou
outros nutrientes orgânicos para obtenção de energia.
210
Cooperação metabólica entre o músculo esquelético e o fígado: o ciclo de Cori
Músculos extremamente ativos usam o glicogê-nio como fonte de energia, gerando
lactato via glicólise. Durante a recupera-ção, parte deste lactato é transportada
para o fígado e convertida em glicose via gliconeogênese. Esta glicose é liberada
no sangue e retorna ao músculo para repor seus estoques de glicogênio. A via total
(glicose S lactato S gli-cose) constitui o ciclo de Cori.
211
Figura 29 – Fermentações etanólicas: fabricando cerveja e produzindo biocombustíveis
3 GLICONEOGÊNESE
A gliconeogênese é a síntese de glicose, um processo com alto custo energético,
porém essencial para manter as concentrações de glicose no sangue, quando
necessário. Essa via compartilha 7 etapas na direção oposta da glicólise, contornando
as 3 reações irreversíveis (Figura 30). Em animais as duas vias ocorrem principalmente
no citosol.
212
Figura 30 – Vias opostas da glicólise e da gliconeogênese em fígado de rato
213
1. O primeiro contorno envolve uma sequência de reações com enzimas da mitocôndria
e do citosol. Na mitocôndria, o piruvato de 3C é convertido a oxaloacetato de
4C. O carbono é proveniente do bicarbonato e adicionado pela enzima piruvato-
carboxilase mitocondrial com consumo de ATP e requer a coenzima biotina.
No citosol, oxaloacetato perde o carbono, recebendo transferência de fosforil do
GTP para produzir uma ligação fosfoenol formando a PEP de 3C pela ação da PEP-
carboxicinase. Essas etapas sofrem regulação.
2Piruvato + 4ATP + 2NADH + 2H+ + 4H2O à Glicose + 4ADP + 2GDP + 6Pi + 2NAD+
214
Figura 31 – Vias alternativas da transformação do piruvato em fosfoenolpiruvato
215
e, em menor quantidade, para que os átomos de ferro da hemoglobina se mantenham
na forma reduzida.
A glicose penetra nas hemácias por difusão facilitada mediada pelo transportador
de glicose (GLUT1), sendo convertida em glicose-6-fosfato pela enzima hexocinase,
e segue principalmente a via glicolítica, para a produção de ATP. O produto da via
glicolítica, o lactato, é reciclado no ciclo de Cori, que devolve a glicose.
A sequência de reações dessa via pode ser dividida em duas fases (Figura 32):
• A segunda fase não oxidativa, reversível, compreende etapas não oxidativas com
rearranjo dos esqueletos de carbono, que convertem pentoses-fosfato a glicose-6-
fosfato, e reinicia o ciclo.
216
O NADPH produzido pela via das pentoses-fosfato será utilizado para produzir
a glutationa, que participa do sistema de antioxidantes da célula e assim evitar o dano
oxidativo.
5 METABOLISMO DO GLICOGÊNIO
No organismo, o excesso de glicose é convertido em formas poliméricas de
armazenamento; o glicogênio, em vertebrados; e o amido, nas plantas. Em vertebrados, o
glicogênio é encontrado principalmente no fígado, para manter a glicemia no sangue nas
primeiras horas de jejum, e no músculo esquelético, onde fornece fonte local de energia
rápida. Nesses tecidos, o glicogênio é armazenado no citosol na forma de grânulos,
onde estão presentes também as enzimas responsáveis pela sua metabolização.
A síntese de glicogênio utiliza como precursor uma forma ativada da glicose, que
são os nucleotídeos de açúcar ou UDP-glicose. Para formar a UDP-glicose, a glicose-
1-fosfato é unida por ligação éster de fosfato a um nucleotídeo uridina trifosfato (UTP)
liberando PPi, pela reação da enzima UDP-glicose pirofosforilase.
218
-OH do aminoácido (Tyr) da proteína glicogenina. Em seguida, a glicogenina forma um
complexo com a enzima glicogênio-sintase, adicionando UDP-glicose para formar um
molde de 8 unidades. Após finalizado o molde, a enzima glicogênio-sintase dissocia-se
da glicogenina e prossegue estendendo a cadeia.
219
Figura 34 – Estrutura da partícula de glicogênio
220
Figura 35 – Degradação do glicogênio próximo a um ponto de ramificação (α1à6)
221
No citosol do fígado, a glicose-6-fosfato pode ser transportada para o retículo
endoplasmático, onde sofre a ação glicose-6-fosfatase, transformando-se em glicose
+ Pi. Essa glicose livre será transportada para os capilares para chegar aos tecidos que
a requerem como combustível.
As mitocôndrias são formadas por duas membranas, a externa, que é mais lisa e
mais permeável, e a membrana interna, com invaginações (cristas), essa é impermeável
à maioria das moléculas e íons que precisam de transportadores específicos para
atravessar a membrana.
222
Figura 36 – Reação geral catalisada pelo complexo da piruvato-desidrogenase
223
6. O succinato é oxidado formando o fumarato com uma dupla ligação. Essa reação
é reversível catalisada pela enzima succinato-desidrogenase e o FAD é reduzido
a FADH2. Essa enzima forma o complexo II da membrana interna mitocondrial,
diferentemente das demais enzimas do ciclo de Krebs que estão livres na matriz
mitocondrial.
7. A hidratação do fumarato forma o malato. Essa é uma reação reversível catalisada
pela enzima fumarase, com rompimento da dupla ligação por uma molécula de H2O
e introdução do grupo –OH.
8. A última etapa é a oxidação do –OH do malato formando o oxaloacetato com redução
de NAD+ a NADH pela ação da enzima malato-desidrogenase.
Ao final, para cada acetil-CoA que entra no ciclo, 2CO2 saem do ciclo, redução
de 3NAD+ e FAD para 3NADH e FADH, produção de GTP que pode ser convertido a ATP,
e o oxaloacetado é reciclado (Figura 37). A reação global para o ciclo de Krebs pode ser
resumida como:
A cada rodada do ciclo do ácido cítrico, três moléculas de NADH, uma de FADH2,
uma de GTP (ATP) e duas de CO2 são liberadas em reações de des-carboxilação
oxidativa. Aqui, e em algumas das figuras seguintes, todas as reações do ciclo
estão representadas como se elas ocorressem em apenas uma direção, lembre-se,
entretanto, que a maioria das reações são reversíveis.
224
O NADH e FADH vão abastecer a fosforilação oxidativa, levando a formação de
um grande número de ATP.
O ciclo de Krebs também produz várias moléculas intermediárias que são usadas
em outras vias metabólicas. Esses compostos podem atuar como precursores para
a biossíntese de outras moléculas, como ácidos graxos, esteróis, aminoácidos, bases
nitrogenadas, porfirina, heme e glicose. Este processo é conhecido como via anfibólica,
porque participa de processos catabólicos e anabólicos.
7 REGULAÇÃO
As vias metabólicas do metabolismo de carboidratos são reguladas para
funcionar junto de forma econômica. As reações irreversíveis são geralmente os alvos de
regulação hormonal e alostérica. Na modulação alostérica, a interação com o modulador
ocorre em sítio diferente de onde ocorre a catálise.
225
Figura 38 – Regulação das vias que produzem ATP
226
o uso de ATP e a formação de ADP, AMP e Pi aumentam. A interligação da glicólise
e do ciclo do ácido cítrico pelo citrato, o qual inibe a glicólise, suplementa a ação do
sistema de nucleotídeos da adenina. Além disto, níveis aumentados de NADH e de
acetil-CoA também inibem a oxidação de piruvato a acetil-CoA, e uma alta razão
[NADH]/[NAD1] inibe as reações das desidrogenases do ciclo do ácido cítrico.
227
Além disso, os hormônios podem ativar a expressão de fatores de transcrição.
Esses fatores, agem no núcleo regulando a expressão de genes que codificam para as
enzimas da via glicolítica e da gliconeogênese.
228
a-fosfatase (também conhecida como fosfoproteína-fosfatase 1, PP1). A fosforilase b
pode ser reconvertida (reativada) em fosforilase a pela ação da fosforilase-b-cinase.
(Ver também a Figura 6-42 sobre a regulação da glicogênio-fosforilase.).
A forma ativa “a” é desfosforilada pela fosfatases (PP1) para a forma “b”. Essa
fosfatase é estimulada pela insulina e inibida pelo glucagon ou adrenalina.
229
7.4 REGULAÇÃO DO CICLO DE KREBS
O ciclo de Krebs recebe regulação de efetores alostéricos e modificações
covalentes garantindo um estado de equilíbrio para a célula. As enzimas alvos de
regulação são as que catalisam as reações irreversíveis fortemente exergônicas, como
as do complexo da piruvato desidrogenase, a enzima citrato-sintase, a enzima isocitrato
desidrogenase e o complexo a-cetoglutarato-desidrogenase (Figura 41).
230
Figura 41 – Anatomia bioquímica de uma mitocôndria
(a) A membrana externa tem poros que a tornam permeável a pequenas moléculas e
íons, mas não a proteínas. As convoluções (cristas) da membrana interna fornecem
uma grande área de superfície. A membrana interna de uma única mitocôndria do
fígado pode ter mais de 10.000 conjuntos de sistemas de transferência de elétrons
(cadeias respiratórias) e de moléculas de ATP-sintase distribuídos na superfície da
membrana. (b) As mitocôndrias do músculo cardíaco, que têm cristas mais profusas
e, assim, uma área muito maior de membrana interna, contêm mais de três vezes o
número de conjuntos de sistemas de transferência de elétrons que as (c) mitocôndrias
do fígado. As mitocôndrias dos músculos e do fígado têm tamanho aproximado ao
de uma bactéria 2 1 a 2 mm de comprimento. As mitocôndrias de invertebrados, de
plantas e de microrganismos eucariotos são semelhantes àquelas aqui mostradas,
mas com variações muito maiores no tamanho, na forma e no grau de convoluções
da membrana interna.
231
Na membrana interna da mitocôndria estão alojados os complexos (I, II, III, IV)
da cadeia respiratória, a coenzima Q (ou ubiquinona) e a ATP sintase, que realizam a
fosforilação oxidativa. Cada complexo é constituído por diversas subunidades proteicas
associadas a grupos prostéticos diferentes como a heme, o cobre, e centros Fe-S
(Figura 42). A presença desses metais é importante para permitir as reações de óxido-
redução. A coenzima Q é um componente móvel com propriedades hidrofóbicas, que se
difunde facilmente na bicamada lipídica da membrana mitocondrial.
Esses complexos I, II, III e IV, na cadeia respiratória, são ordenados por ordem crescente
de potencial redox. O potencial de óxido-redução (Eo), ou potencial redox, é a afinidade de uma
molécula por elétrons (em Volts), é uma medida da capacidade de uma molécula de aceitar
ou doar elétrons. A mudança no potencial redox, ou ∆Eo, está inversamente relacionada à
mudança na energia livre, o ∆Go. A transferência de elétrons do NADH para o O2 na cadeia
respiratória é exergônica, ou seja, libera energia, possui ∆Eo>1, resultando em ∆Go (- 220 kJ/
mol) negativo. Isso devido ao alto potencial redox do O2, que permite que ele aceite elétrons
facilmente. A energia livre liberada dessas reações é capturada para bombear prótons,
resultando em um gradiente eletroquímico utilizado para produzir ATP pela ATP sintase.
232
• Transferência exergônica de elétrons, em que oxida o NADH mitocondrial e transfere
elétrons através de complexos Fe-S e FMN para Q, que assume a forma reduzida,
QH2; e
• Transferência endergônica de 4 prótons (H+) para o espaço intermembrana, que dá
início à primeira etapa na formação do gradiente de prótons.
233
a favor do gradiente eletroquímico e com liberação de energia. Esse retorno de prótons
ocorre pelo canal do complexo da ATP-sintase, e a energia proveniente da força próton-
motriz permite o processo endergônico para gerar e liberar o ATP.
234
os prótons só podem retornar à matriz através de canais específicos de prótons (Fo).
A força próton-motriz que direciona os prótons de volta para a matriz proporciona a
energia para a síntese de ATP, catalisada pelo complexo F1, associado ao Fo.
A ATP sintase é a principal fonte de ATP das células. Possui dois complexos F0 e
F1 divididos em subunidades. F0 é a porção incluída na membrana com o rotor e o canal
de passagem de prótons. F1 é a porção que se estende para a matriz da mitocôndria e que
sintetiza ATP (Figura 44). O mecanismo de síntese de ATP pode ser divido em 3 etapas:
235
Figura 44 – Demonstração experimental da rotação de Fo e de Ƴ
236
Figura 45 – Adenina-nucleotídeo e fosfato-translocases
237
das propriedades da ATP sintase de gerar ATP. Alguns organismos podem ter uma
ATP sintase um pouco mais eficiente, o que resultaria em uma proporção maior de ATP
produzida por NADH e FADH2.
Figura 46 – Estequiometria da redução de coenzimas e formação de ATP na oxidação aeróbia da glicose via
glicólise, reação do complexo da piruvato-desidrogenase, ciclo do ácido cítrico e fosforilação oxidativa
Número de ATP ou
Número de ATP formados
Reação coenzimas reduzidas
no final do processo*
diretamente formados
Glicose à glicose-6-fosfato -1 ATP -1
Frutose-6-fosfato à frutose-
-1 ATP -1
1,6-bifosfato
2 Gliceraldeído-3-fosfato à
2 NADH 3 ou 5'
2 1,3-bifosfoglicerato
2 1,3-Bifosfoglicerato à
2 ATP 2
23-fosfoglicerato
2 Fosfoenolpiruvato à
2 ATP 2
2 piruvato
2 Piruvato à 2 acetil-CoA 2 NADH 5
2 Isocitrato à
2 NADH 5
2 a-cetoglutarato
2 a-Cetoglutarato à
2 NADH 5
2 succinil-CoA
2 Suecinil-CoA à 2 succinato A ATP (ou 2 GTP) 2
2 Succinato à 2 fumarato 2 FADH2 3
2 Malato à 2 oxaloacetato 2 NADH 5
Total 30-32
*Calculado como 2,5 ATP por NADH e 1,5 ATP por FADH. Um valor negativo Indica consumo.
* O número formado é 3 ou 5, dependendo do mecanismo utilizado para a transferência de equivalentes de
NADH do citosol para a matriz mitocondrial; ver Figuras 19-30 e 19-31.
Fonte: Nelson & Cox (2014, p.649)
238
acionando os sistemas de enzimas antioxidantes como a superóxido-dismutase (SOD) e
a glutationa-peroxidase (GPx). A GPx atua oxidando a glutationa, que é então regenerada
pela glutationa redutase, utilizando o NADPH.
NOTA
239
O metabolismo como malha tridimensional. Uma típica célula eucariótica tem a capacidade
de produzir cerca de 30.000 proteínas diferentes, que catalisam milhares de reações
diferentes envolvendo muitas centenas de metabólitos, muitos deles compartilhados por
mais de uma “via”. Nesta imagem resumida e muito simplificada das vias metabólicas, cada
ponto representa um composto intermediário e cada linha de conexão representa uma
reação enzimática.
DICA
Consulte no banco de dados KEGG PATHWAY com mapa interativo do
metabolismo: https://bit.ly/42AJTxt
240
LEITURA
COMPLEMENTAR
De onde menos se espera
Atletas de elite que têm um gênero específico de bactérias no intestino
apresentam recuperação muscular mais acelerada e, consequentemente,
melhor desempenho.
Franklin Rumjanek
Instituto de Bioquímica Médica
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Revista Ciência Hoje
241
Para explicar esse fenômeno, é preciso antes descrever rapidamente um pouco
o que acontece no metabolismo. Um exercício como a maratona implica a contração
muscular repetitiva durante um período relativamente longo. Para que a contração
ocorra, o músculo usa a glicose como combustível. O metabolismo rápido da glicose se
faz por intermédio de um processo chamado de glicólise anaeróbica, que compreende
uma série de reações químicas que acontecem na ausência de oxigênio. Essas reações
geram adenosina trifosfato (ATP), composto importante para a contração muscular.
Quem provoca essa sensação é o lactato, que nada mais é do que um ácido.
Ao se acumular, esse ácido acaba produzindo uma acidez local, responsável por essa
sensação de fadiga. Durante o descanso, o lactato sai do músculo e entra na corrente
sanguínea e, também, nos intestinos, de onde acaba sendo excretado ou, então,
utilizado em outras vias metabólicas.
Fonte: Coluna AlternativaMENTE. De onde menos se espera. 2019. Disponível em: https://cienciahoje.
org.br/artigo/de-onde-menos-se-espera/. Acesso em: 16 mar. 2023.
242
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:
• A formação de radicais livres pela mitocôndria pode causar danos oxidativos para a
célula, e sua neutralização é realizada pelos sistemas antioxidantes.
243
AUTOATIVIDADE
1 A glicólise está presente no primeiro estágio da respiração celular e é um processo
crucial que transforma a glicose em piruvato com a produção de energia. Sobre a
glicólise, assinale a alternativa INCORRETA:
( ) NADH e FADH2.
( ) Acetil CoA e NADH.
( ) ATP e NADH.
( ) ATP E GTP.
a) ( ) V – F – F – F.
b) ( ) V – F – V – F.
c) ( ) V – V – F – F.
a) ( ) Ativa o complexo.
b) ( ) Inibe o complexo.
c) ( ) Não tem efeito sobre o complexo.
d) ( ) Ajuda a transferir elétrons para o complexo.
244
4 A glicólise é um processo metabólico que ocorre nas células e que degrada a glicose
em duas moléculas de ácido pirúvico. Esse processo pode ser classificado em duas
formas de degradação: a glicólise aeróbica ou glicólise anaeróbica chamada de
fermentação. Explique o que é fermentação e qual é o seu papel na produção de
álcool e pão?
245
REFERÊNCIAS
BERG, J. M.; STRYER, LU. Bioquímica. 7 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 2014.
FERRIER, D. Bioquímica ilustrada. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2019.
RODWELL, V. W. et al. Bioquímica ilustrada de Harper. 31. ed. Porto Alegre: AMGH,
2021.
246