Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
AS MACROMOLÉCULAS E
SUAS FUNÇÕES
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de
reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
59
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 2!
Acesse o
QR Code abaixo:
60
UNIDADE 2 TÓPICO 1 —
ESTRUTURA E FUNÇÃO DAS PROTEÍNAS
1 INTRODUÇÃO
As grandes estruturas moleculares (ou supramoleculares) necessárias para a
vida, são constituídas a partir de moléculas orgânicas chamadas de macromoléculas
biológicas. Existem quatro classes principais de macromoléculas biológicas: as proteínas,
os carboidratos, os lipídios e os ácidos nucléicos.
61
As organelas e outras estruturas relativamente grandes das células são feitas de
complexos supramoleculares, que, por sua vez, são feitos de moléculas menores e
de subunidades moleculares menores. Por exemplo, o núcleo desta célula de planta
contém cromatina, complexo supramolecular que consiste em DNA e proteínas
(histonas). O DNA é feito de subunidades monoméricas simples (nucleotídeos), assim
como as proteínas (aminoácidos).
Número aproximado de
Porcentagem do
espécies moleculares
peso total de célula
diferentes
Água 70 1
Proteínas 15 3.000
Ácidos nucleicos
DNA 1 1-4
RNA 6 > 3.000
Polissacarídeos 3 10
Lipídeos 2 20
Subunidades monoméricas e
2 500
intermediárias
Íons inorgânicos 1 20
Fonte: Nelson & Cox (2014, p.15)
62
2 AMINOÁCIDOS, PEPTÍDEOS E PROTEÍNAS
As proteínas, tanto as de bactérias, como as achadas nos seres humanos, são
constituídas principalmente pelos mesmos grupos de 20 tipos de aminoácidos. Porém,
as diferentes combinações e arranjos de aminoácidos dão origem à vasta diversidade
de proteínas encontradas em organismos vivos.
63
Figura 4 – Formas não iônicas e zwitteriônicas de aminoácidos
64
pode ser calculado pela média dos valores de pKa e pKb, sendo pI = (pKa + pKb) /2. Por
exemplo, a glicina tem pI = (2,35 + 9,60/2) = 5,97.
65
Figura 5 – Os 20 aminoácidos comuns de proteínas
66
ser consumidos na dieta, porque o corpo humano não possui as vias metabólicas
necessárias para sintetizar esses aminoácidos. São os aminoácidos metionina, lisina,
leucina, isoleucina, triptofano, valina, treonina, fenilalanina e histidina.
A figura apresenta o grupo a-amino de um aminoácido (com grupo R2) atua como
nucleófilo para deslocar o grupo hidroxila de outro aminoácido (com grupo R1),
formando uma ligação peptídica (sombreada). Os grupos amino são bons nucleófilos,
mas o grupo hidroxila é um grupo de saída fraco e não prontamente deslocado. No
pH fisiológico, a reação mostrada aqui não ocorre em grau apreciável.
67
No laboratório, o reagente de biureto contendo sulfato de cobre (II) (CuSO4)
é comumente usado para a determinação de concentração de proteínas, em ensaio
colorimétrico. Os íons de Cu2+ provenientes do CuSO4, formam um complexo com as
ligações peptídicas presentes na amostra, desenvolvendo uma coloração violeta.
68
A estrutura primária consiste na sequência de aminoácidos, começando pela
extremidade N- terminal e terminando com a extremidade C- terminal. Essa sequência
primária reflete a sequência do gene da qual a proteína foi codificada, ou seja, é a forma
através da qual a informação genética é expressa.
Cada proteína possui uma sequência de aminoácidos que é única, porém não
é sempre fixa, o que confere uma característica polimórfica às proteínas, de forma que
pequenas variações na sequência podem não alterar sua função.
A figura apresenta em (a) Cada ligação peptídica tem algum caráter de ligação du-
pla devido à ressonância, e não pode girar. Embora o átomo de N em uma ligação
peptídica seja sempre representado com uma carga positiva parcial, considerações
cuidadosas dos orbitais de ligação e dos mecanismos quânticos indicam que o N
tem uma carga líquida neutra ou levemente negativa. (b) Três ligações separam os
69
carbonos a consecutivos em uma cadeia polipeptídica. As ligações N-Cα e Cα-C po-
dem girar, sendo descritas pelos ângulos diedros designados f e c, respectivamente.
A ligação peptídica C¬N não está livre para rotação. Outras ligações simples do es-
queleto também podem estar rotacionalmente obstruídas, dependendo do tamanho
e da carga dos grupos R.
70
Figura 9 – (esquerda) Modelos de hélice α, mostrando os diferentes aspectos de sua estrutura
A estrutura terciária também pode ser estabilizada por ligação covalente, como
a ponte dissulfeto (S-S), que é formada por reação de oxidação entre dois resíduos de
cisteína (Figura 10)
72
4 CLASSIFICAÇÃO DAS PROTEINAS E FUNÇÃO
As proteínas podem ser classificadas de acordo com as funções que realizam
(Tabela 2).
Classe Exemplo
Enzimas – função catalítica Tripsina
Transportadoras Hemoglobina
Contrácteis Actina e miosina
Defesa Anticorpos
Reguladoras Hormônios como a insulina
Estruturais Colágeno
Fonte: a autora.
Fibrosas Globulares
Cadeias polipeptídicas arranjadas de for- Cadeias polipeptídicas que se organizam
ma alongada. em esferas.
São geralmente insolúveis, pela quantida-
São geralmente solúveis.
de de aminoácidos hidrofóbicos.
Desempenham papéis estruturais, confe- Desempenham várias funções dinâmicas
rindo força e flexibilidade. na célula.
Exemplos: enzimas, proteínas de defesa,
Exemplo: o colágeno, α-queratina.
reguladoras e transportadoras.
Fonte: a autora.
O colágeno são proteínas que conferem resistência. São encontradas nos tecidos
conectivos, tendões e cartilagens. Na estrutura quaternária, as cadeias polipeptídicas
se contorcem entre si, formando cadeias em α. A vitamina C é necessária para a
hidroxilação dos aminoácidos no colágeno e a falta dessa vitamina causa o escorbuto, a
degeneração do tecido conectivo.
A α-queratina é uma proteína que ocorre nos mamíferos, nos cabelos, unhas
e chifres. Possui estrutura quaternária complexa formada pela associação lateral de
cadeias α-hélices, formando longos filamentos. A formação de pontes de dissulfeto
entre as cadeias confere grande resistência às fibras de α-queratina.
73
A mioglobina e hemoglobina são exemplos de proteínas globulares. Possuem
um grupo heme (com o ferro) na sua estrutura que faz ligações com o O2 nas células
musculares e nas hemácias.
Além disso, as proteínas podem ser classificadas com base em sua origem, por
exemplo, se são produzidas por bactérias, plantas ou animais.
• A temperatura, pois o calor age nas interações fracas como ponte de hidrogênio.
No entanto, algumas proteínas de arquibactérias evoluíram para funcionar em
temperaturas de 100oC.
• O pH, que pode alterar a carga líquida das proteínas, causando repulsão eletrostática
e rompendo ligações.
• Os solventes orgânicos, como o álcool e a acetona, que promovem alterações nas
ligações hidrofóbicas.
• Os detergentes e solutos, como a ureia, que possuem baixo peso molecular e afetam
a estabilidade das proteínas em solução aquosa.
• Agentes redutores, que desfazem ligações dissulfeto (S-S).
74
As proteínas são moléculas flexíveis e dinâmicas que interagem com outras
moléculas. Os ligantes são moléculas que fazem ligações reversíveis com uma proteína
no sítio de ligação ou sítio ativo (em enzimas). Essa interação está acoplada a uma
mudança conformacional na proteína denominada encaixe induzido. Essa ligação
reversível pode ser descrita por uma constante de associação (Ka) ou uma constante de
dissociação (Kd).
75
A curva sigmoide de ligação pode ser vista como uma curva híbrida que reflete a
transição de um estado de baixa afinidade para um de alta afinidade. Devido a sua li-
gação cooperativa, evidenciada por uma curva sigmoide, a hemoglobina é mais sen-
sível às pequenas diferenças na concentração de O2 entre os tecidos e os pulmões,
o que lhe permite se ligar ao oxigênio nos pulmões (onde a pO2 é alta) e liberá-lo nos
tecidos (onde a pO2 é baixa).
5 ENZIMAS E CATÁLISE
As enzimas são catalisadores biológicos, assim são capazes de acelerar as
reações químicas na célula por um fator de 105 a 107. As enzimas funcionam diminuindo a
energia de ativação necessária para que uma reação ocorra, o que permite que a reação
ocorra de forma mais rápida e eficiente. Essa função é essencial nos sistemas vivos,
pois muitas reações na célula ocorreriam muito lentamente sem a ajuda de enzimas. Em
alguns casos, a reação seria tão lenta que seria efetivamente impossível de acontecer.
A maioria das enzimas são proteínas, porém um pequeno grupo de RNA realiza
atividade catalítica, como a ribozima, envolvida na síntese de proteínas, catalisando
reações peptídicas. As enzimas são classificadas de acordo com o tipo de reação que
catalisam (Tabela 4).
76
Com exceção de algumas das enzimas, como pepsina, renina e tripsina, a maioria
dos nomes das enzimas terminam em "ase". A nomenclatura de enzimas indica o substrato
sobre o qual a enzima atuou e qual o tipo de reação foi catalisada. Por exemplo, a enzima
fosfatase é uma hidrolase que catalisa a hidrólise de ésteres de fosfato.
A enzima quimotripsina, com o substrato ligado (PBD ID 7GCH). Alguns dos resíduos-
-chave do sítio ativo aparecem como uma mancha vermelha na superfície da enzima
77
5.1 FUNÇÃO DOS CATALISADORES ENZIMÁTICOS
Um catalisador pode ajudar a reação a atingir o equilíbrio mais rapidamente,
mas não pode alterar a constante de equilíbrio ou o estado de equilíbrio da reação. Na
reação de conversão SP, a função do catalisador é acelerar a conversão de S para P (e
de P para S), porém, sem alterar a proporção entre reagentes e produtos encontrados no
final da reação e assim mantem o equilíbrio (K´eq) da reação que é K´eq=[P]/[S].
No entanto, mesmo para as reações espontâneas (ΔG < 0), algumas reações
não alcançam o equilíbrio, pois existe uma barreira energética entre a transformação
dos reagentes a produtos. Essa barreira possui uma energia de ativação ou ΔG‡. Os
catalisadores aceleram a velocidade da reação por diminuírem a energia de ativação.
Sendo assim, ΔG‡ mais baixa significa uma reação mais rápida.
A reação S⇌P (com ou sem enzima) pode ser descrita por um diagrama de
coordenada da reação que representa a variação de energia durante a reação (Figura 13).
78
Figura 13 – Diagrama da coordenada da reação comparando uma reação catalisada por enzima com uma
não catalisada
O mecanismo de ação das enzimas pode variar. Uma vez que o substrato está
ligado à enzima, alguns grupos catalíticos específicos contribuem para a catálise no
complexo ES, ajudando no rompimento ou formações de ligações:
79
• A catálise ácido-base refere-se à transferência de prótons mediada por certos
aminoácidos e não água.
• A catálise covalente forma ligação covalente transitória, onde alguns grupos
funcionais ou coenzimas servem como agentes nucleofílicos.
• A catálise por íons metálicos realiza interação iônica entre metais ligados a enzimas
e substrato.
Ao longo de todo o processo, a enzima pode estar livre (E) ou formando o complexo,
ligada ao substrato (ES). Aumentando a concentração de substrato, teremos um momento
em que 50% da enzima estará livre e 50% na forma de complexo ES. Nesse momento de
50%, podemos também concluir que temos metade da 𝑉má𝑥 acontecendo nessa reação.
80
A [S] detectada a uma velocidade de reação igual a metade de 𝑉má𝑥 é chamada
de constante de Michaelis-Menten, 𝐾𝑚 onde 𝐾𝑚 = 𝑉má𝑥/2.
Este gráfico mostra os parâmetros cinéticos que definem os limites da curva em [S]
elevada e baixa. Em baixa [S], Km>>[S], e o termo [S] no denominador na equação de
Michaelis-Menten se torna desprezível. A equação fica simplificada a V0 = Vmáx[S]/
Km, e V0 apresenta uma dependência linear de [S], como observado aqui. Em alta
[S], quando [S] >>Km, o termo Km, denominador na equação de Michaelis--Menten,
torna-se desprezível, e a equação fica simplificada a V0 = Vmáx, o que é consistente
com o platô observado em [S] elevada. A equação de Michaelis-Menten é, portanto,
consistente com a dependência observada de V0 por [S], e a forma da curva é defi-
nida pelos termos Vmáx/Km em baixa [S] e Vmáx em alta [S].
81
Uma enzima teórica catalisa a reação S⇌P. A enzima está presente em uma
concentração suficiente para catalisar a reação a uma velocidade máxima, Vmáx,
de 1 mM/min. A constante de Michaelis, Km (explicada no texto), é 0,5 mM. Estão
mostradas as curvas de progressão da reação para as concentrações abaixo,
exatamente no Km e acima dele. A velocidade de uma reação catalisada por uma
enzima diminui à medida que o substrato é convertido em produto. A tangente de
cada curva, no tempo zero, define a velocidade inicial, V0, de cada uma das reações.
Essa reação pode ser simplificada quando 𝑉𝑜 =𝑉má𝑥/2, de forma que 𝐾𝑚 = [𝑆],
ou seja, 𝐾𝑚 é numericamente igual à concentração do substrato e fornece uma medida
de [𝑆], para que ocorra uma catálise significativa. Essa equação é denominada cinética
do estado estacionário, na qual a concentração de ES e dos intermediários permanecem
constantes ao longo do tempo.
A enzima quando saturada é descrita pela constante Kcat, que define o número
de renovação ou número máximo de moléculas de substratos convertidos em produto
por segundo.
82
Outros fatores, além da concentração do substrato podem influenciar a atividade
enzimática como a temperatura e o pH. Isso porque as enzimas dependem de pH ótimo
no qual a atividade catalítica seja máxima, sendo que atividade catalítica decresce em
pH maior ou menor. O aumento da temperatura pode favorecer a velocidade das reações
químicas. No entanto, algumas proteínas podem sofrer desnaturação e, assim, acarretar
alteração na sua função.
83
Figura 16 – O gráfico duplo-recíproco possibilita uma maneira fácil de determinar se o inibidor de uma
enzima é competitivo, incompetitivo ou misto
84
Algumas enzimas são sintetizadas na forma de precursores inativos, chamados
zimogênios, que serão transformados em enzima em outro local.
85
Figura 17 – A produção da vitamina D3 e o metabolismo
86
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:
87
AUTOATIVIDADE
1 As macromoléculas são fundamentais para o funcionamento de todos os seres
vivos, desempenhando papéis importantes em processos como armazenamento de
energia, estrutura celular e transporte de informações. Sobre as macromoléculas,
assinale a alternativa INCORRETA:
3 As vitaminas são moléculas essenciais para o nosso organismo. Várias doenças são
causadas por deficiência de vitaminas. O raquitismo é uma doença associadas a
carência de de determinada vitamina. Acerca dessa vitamina, assinale a alternativa
CORRETA:
a) ( ) D.
b) ( ) E.
c) ( ) A.
d) ( ) B.
88
4 Os aminoácidos são as unidades básicas das proteínas. Os aminoácidos essenciais
não são sintetizados pelo organismo, como a isoleucina, leucina, valina, fenilalanina,
metionina, treonina, triptofano, lisina e histidina. Enquanto os aminoácidos não
essenciais podem ser sintetizados pelo organismo, a partir de outros precursores.
São os aminoácidos alanina, ácido aspártico, asparagina, ácido glutâmico e a serina.
Descreva a estrutura geral de um α-aminoácido e como eles se diferem?
5 As reações químicas que ocorrem nos seres vivos são catalisadas por enzimas. As
enzimas aumentam a velocidade dessas reações, tornando-as mais eficientes e
permitindo que os processos biológicos aconteçam rapidamente. Uma das variáveis
que afeta a velocidade de uma reação enzimática é a concentração do substrato.
Em um experimento a concentração do substrato X (denominado Sx), é baixa. O que
acontece com a velocidade da reação catalisada por enzima se a concentração de Sx
for aumentada?
89
90
UNIDADE 2 TÓPICO 2 -
ESTRUTURA E FUNÇÃO DE
CARBOIDRATOS E LIPÍDIOS
1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, no Tema de aprendizagem 2, abordaremos duas importantes
macromoléculas, que participam no fornecimento de energia da maioria dos animais e
plantas, os carboidratos e lipídios.
2 CARBOIDRATOS
Os carboidratos como o açúcar e o amido são a principal fonte para a produção
de energia na maioria das células não fotossintéticas. A fórmula empírica do carboidrato é
Cn(H2O)n, em que, para cada carbono, há uma água. Logo o termo “carbono hidratado”. O
n na fórmula representa um determinado número, no mínimo, os carboidratos são de 3C.
2.1 MONOSSACARÍDEOS
Os monossacarídeos (chamados de “oses” açucares simples) são sólidos
incolores, cristalinos, solúveis em água e com sabor adocicado. São constituídos por
uma única unidade de aldeído (C=O, grupo carbonil na extremidade, com C ligado ao
hidrogênio) ou cetona (grupo carbonil entre carbonos), e que apresentam pelo menos
dois grupos hidroxilas.
91
Os açúcares que possuem aldeído são chamados de aldoses, e os que tem
função cetona são chamados de cetoses. O mais simples são as trioses de 3 carbonos,
como os gliceraldeídos (aldotrioses) e di-hidroxicetonas (cetotrioses). As demais
classificações são de tetroses de 4C, pentoses de 5C, hexoses de 6C e heptoses de 7C.
(a) Duas trioses, uma aldose e uma cetose. O grupo carbonil em cada molécula está
sombreado. (b) Duas hexoses comuns. (c) As pentoses componentes de ácidos
nucleicos. A D-ribose é um componente do ácido ribonucleico (RNA) e a 2-desóxi-
D-ribose é um componente do ácido desoxirribonucleico (DNA).
A maioria dos açúcares possuem pelo menos um centro quiral com um carbono
assimétrico ligado a quatro átomos ou grupos diferentes, permitindo que existam
formas isoméricas opticamente ativas. Sendo assim, os açúcares podem apresentar 2
estereoisômeros possíveis, L e D, sendo enantiômeros, ou seja, são imagens especulares
(é a imagem no espelho) e não são sobrepostas (Figura 19).
92
Por convenção, L e D referem-se à configuração similar ao gliceraldeído,
sendo L grupo -OH na esquerda, e D grupo -OH na direita do carbono assimétrico. As
estruturas D e L não são interconversíveis e, portanto, são biologicamente diferentes.
Em organismos, as hexoses são isômeros D, porém alguns açúcares também ocorrem
na forma L (lembrando que as proteínas são isômeros L).
93
Figura 20 – Convenção-chave
94
Figura 21 – Formação das duas formas cíclicas da D-glicose
A reação entre o grupo aldeído em C-1 e o grupo hidroxila em C-5 forma uma ligação
hemiacetal, produzindo um dos dois estereoisômeros, os anômeros a e b, que
diferem apenas na estereoquímica do carbono hemiacetal. Esta reação é reversível.
A interconversão dos anômeros a e b é chamada de mutarrotação. (direita) Piranoses
e furanoses. As formas piranose da D-glicose e as formas furanose da D-frutose
estão mostradas aqui como fórmulas em perspectiva de Haworth. Os limites do
anel mais próximos ao leitor são representados por linhas mais grossas. Os grupos
hidroxila abaixo do plano do anel nestas perspectivas de Haworth apareceriam à
direita em uma projeção de Fischer (compare com a Figura 7-6). Pirano e furano
estão mostrados para comparações.
Os açúcares como a glicose podem agir como redutores, logo são moléculas
reativas. Os átomos do carbono anomérico (C1 nas aldoses e C2 nas cetoses) são
capazes de reduzir agentes oxidantes contendo íons metálicos (como Cu2+).
95
com substituições no grupo hidroxila. A glicosamina, por exemplo, está substituída pelo
grupo amino chamado de aminoaçúcares.
96
mutarrotação interconverte as formas a e b do hemiacetal, as ligações nesta posição
algumas vezes são representadas por linhas onduladas, conforme mostrado aqui,
para indicar que a estrutura pode ser tanto α quanto β.
2.3 POLISSACARÍDEOS
A maioria dos carboidratos encontrados na natureza ocorre como polissacarídeos
(polímeros de muitos monossacarídeos) de alta massa molecular, chamados de
glicanos. Os polissacarídeos possuem diversas funções, atuando no armazenamento,
na fonte de intermediários de energia; na estrutura de ácidos nucleicos; na estrutura da
parede celular; e na interação célula-célula.
97
Figura 23 – Homo e heteropolissacarídeos
98
Fonte: Nelson & Cox (2014, p.256)
99
3 GLICOCONJUGADOS
Os glicoconjugados são moléculas em que o carboidrato está ligado a uma
proteína (os proteoglicanos ou glicoproteínas) ou a um lipídio (os glicolipídios).
Figura 25 – Glicoconjugados
100
Muitos proteoglicanos podem se ligar a uma única molécula de ácido hialurônico
e formar os agregados proteoglicano. Esses agregados ficam entrelaçados com as
proteínas fibrosas de matriz – como o colágeno, a elastina e a fibronectina – e garantem
força elasticidade à matriz extracelular (Figura 25).
101
Os glicolipídios são carboidratos ligados aos lipídios. Os glicoesfingolipídios são
componentes da membrana plasmática, com uma “cabeça” de carboidrato que serve
como ponto de interação. Os grupos sanguíneos ABO são exemplos de glicolipídios que
diferem entre si na cabeça de monossacarídeo.
Figura 27 – Função das interações lectina-ligante durante a movimentação de leucócitos para um sítio de
infecção ou ferimento
102
4 LIPÍDIOS
Os lipídios são compostos químicos com a propriedade comum de solubilidade
em solventes orgânicos (como clorofórmio e o metano) e são insolúveis em água. A pa-
lavra lipos significa “gordura” no grego. Os lipídios possuem diversas funções biológicas
como moléculas de reserva, como vitaminas lipossolúveis, exercem papel de hormônios
e são os constituintes das membranas celulares. Eles podem ocorrer como moléculas
híbridas como os glicolipídios (carboidratos + lipídios) e lipoproteínas (lipídios + proteínas).
103
Figura 28 – O empacotamento de ácidos graxos em agregados estáveis
4.2 TRIGLICERÍDEOS
Os ácidos graxos são comumente esterificados ao grupo hidroxila do glicerol
(chamados de ésteres de glicerol) e podem formar os monoacilgliceróis, diacilgliceróis e
triacilgliceróis (ou triglicerídeos) (Figura 28).
104
Figura 29 – O glicerol e um triacilglicerol
O triacilglicerol misto mostrado aqui tem três ácidos graxos diferentes ligados à
cadeia do glicerol. Quando o glicerol apresenta ácidos graxos diferentes em C-1 e
C-3, o C-2 é um centro quiral. (direita) Depósitos de gordura nas células. (a) Secção
transversal de tecido adiposo branco de humanos. Cada célula contém uma gotícula
de gordura (branco) tão grande que espreme o núcleo (corado em vermelho) contra
a membrana plasmática. (b) Secção transversal de uma célula de cotilédone de
uma semente da planta Arabidopsis. As estruturas grandes e escuras são corpos
proteicos, que estão rodeados por gordura de armazenamento nos corpos oleosos,
de coloração clara.
As ceras, como nas colmeias, são formadas por ésteres de ácido graxo de
cadeia longa com álcoois de cadeia curta. Sua temperatura de fusão é maior que os
triacilgliceróis (Figura 29).
105
Figura 30 – Cera biológica
Figura 31 – Colesterol
107
Figura 32 – Alguns tipos comuns de lipídeos de armazenamento e de membrana
108
glicerofosfolipídeos, galactolipídeos e sulfolipídeos, os grupos alquilas são ácidos
graxos em ligação éster. Os esfingolipídeos contêm um único ácido graxo em
ligação amida com o esqueleto de esfingosina. Os lipídeos de membrana de
arqueias são variáveis; aqueles representados aqui têm duas cadeias alquilas muito
longas e ramificadas, cada extremidade em ligação éter com a porção glicerol. Nos
fosfolipídeos, o grupo cabeça polar está unido por meio de ligação fosfodiéster,
enquanto os glicolipídeos têm uma ligação glicosídica direta entre o açúcar do grupo
cabeça e o esqueleto de glicerol.
109
protegidas da interação com a água. (c) Quando a bicamada bidimensional se dobra
sobre ela mesma, ela forma uma bicamada fechada, uma vesícula oca tridimensional
(lipossomo) envolvendo uma cavidade aquosa.
a) No estado ordenado líquido (Lo), os grupos polares das cabeças são arranjados
uniformemente na superfície, e as cadeias acila quase não apresentam movimento,
estando agrupadas em uma geometria regular. (b) No estado líquido desordenado
(Ld), ou estado fluido, cadeias acila sofrem muito mais movimentação térmica e não
apresentam organização regular. O estado dos lipídeos em membranas biológicas é
mantido entre esses extremos.
111
As proteínas periféricas estão associadas à superfície de uma membrana celular
por meio de vários tipos de interações não covalentes, como pontes de hidrogênio ou
ligações iônicas. Essas proteínas podem ser extraídas da membrana por tratamento
com ureia ou soluções salinas concentradas, que podem interromper as interações
não covalentes que mantêm a proteína na membrana. As proteínas periféricas são
tipicamente solúveis em água, como por exemplo a o citocromo c, que desempenha um
papel fundamental na cadeia de transporte de elétrons.
112
Figura 36 – Diferenças entre canais e transportadores
A glicose que entra nos eritrócitos é um exemplo de difusão facilitada. (Figura 36)
O seu transportador, o GLUT1, é uma proteína integral que passa por duas conformações
para mover a glicose a favor do seu gradiente de concentração, que é normalmente para
dentro da célula. A glicose que entra na célula é rapidamente metabolizada, mantendo-
se baixas suas concentrações intracelulares.
113
Figura 37 – Modelo de transporte de glicose para dentro do eritrócito pelo GLUT1
114
Figura 38 – Dois tipos de transporte ativo
(a) No transporte ativo primário, a energia liberada pela hidrólise de ATP impulsiona
o movimento de soluto (S1) contra o gradiente eletroquímico. (b) No transporte ativo
secundário, o gradiente de um íon X (S1) (geralmente Na1) se estabelece por transporte
ativo primário. O movimento de X (S1) a favor de seu gradiente eletroquímico provê
agora energia para impulsionar o cotransporte de um segundo soluto (S2) contra
seu gradiente eletroquímico.
115
Figura 39 – Papel da Na+ e K+. ATPase em células animais
116
Figura 40 – Aquaporina
117
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:
• Os ácidos graxos com apenas ligações simples são conhecidos como ácidos graxos
saturados. Os ácidos graxos insaturados podem ter uma ou mais ligações duplas na
cadeia de hidrocarbonetos.
118
• As células são envoltas por uma membrana celular, a bicamada lipídica composta
principalmente de fosfolipídios, glicolipídios e colesterol. As proteínas são também
importante componentes das membranas biológicas.
119
AUTOATIVIDADE
1 As macromoléculas que desempenham uma série de funções no organismo e podem
ser classificados de acordo com sua estrutura, tamanho e composição. A celulose e o
amido são exemplos de um tipo de molécula. Acerca desse tipo, assinale a alternativa
CORRETA:
a) ( ) Monossacarídeos.
b) ( ) Homopolissacarídeos.
c) ( ) Lipídios.
d) ( ) Dissacarídeos.
e) ( ) Heteropolissacarídeos.
a) ( ) Fosfolipídios.
b) ( ) Glicolipídios.
c) ( ) Colesterol.
d) ( ) Todas as alternativas.
3 Os ácidos graxos são constituídos tanto por um grupo polar, da cabeça – COOH, como
apolar, da cadeia hidrocarboneto alifática. Os ácidos graxos são considerados um
determinado tipo de molécula. Acerca desse tipo, assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Hidrofílicas.
b) ( ) Anfipáticas.
c) ( ) Hidrofóbicas.
d) ( ) Anfifílicas.
A B
120
5 Os ácidos graxos são uma classe importante de lipídios que desempenham uma
ampla gama de funções em organismos vivos. Os ácidos graxos podem ser saturados
ou insaturados devido a presença de ligações duplas. O ponto de fusão de um
composto é a temperatura na qual ele passa de estado sólido para líquido. Por que os
ácidos graxos insaturados têm pontos de fusão mais baixos do que os ácidos graxos
saturados?
121
122
UNIDADE 2 TÓPICO 3 -
AS MACROMOLÉCULAS DA INFORMAÇÃO
GENÉTICA
1 INTRODUÇÃO
Os ácidos nucleicos são as macromoléculas mais importantes para a continuidade
da vida. No Tema de Aprendizagem 3, abordaremos uma visão geral da estrutura dos
nucleotídeos, dos ácidos nucleicos DNA e RNA e da transmissão do material genético.
2.1 NUCLEOTÍDEOS
Cada nucleotídeo apresenta 3 componentes característicos (Figura 40): (1) A
Base nitrogenada, pirimidina ou purina; (2) Uma pentose, monossacarídeos aldeídos;
e (3) Um grupo fosfato.
O DNA é estável em condições alcalinas, pois não possui o grupo hidroxila do C2’.
Por outro lado, o 2’-OH do RNA atua como grupamento nucleofílico intramolar, sendo
mais suscetível à hidrólise em condições alcalinas.
As bases pirimidinas são moléculas planas com um único anel que contém o
nitrogênio. São as citosinas (C), timinas (T) e uracilas (U). As bases purinas possuem 2
anéis. Um anel pirimidina fundido a um anel imidazólico, formando a adenina (A) e na
guanina (G) (Figura 41).
124
A ocorrência das bases difere no DNA e no RNA. As bases formam pares
definidos por Watson e Crick de maneira que A é sempre pareado com T, e G é sempre
pareada com C na estrutura do DNA. Enquanto na estrutura do RNA, A é pareado com
U e G com C, principalmente.
As bases podem ser vistas como grupos laterais ligadas ao esqueleto central. As
extremidades da cadeia nos carbonos 5’ e 3’ não apresentam nucleotídeo.
125
Em um ácido nucleico, a sequência de nucleotídeos é representada de forma
simplificada por uma sequência de letras, com cada letra representando uma base
nitrogenada específica. Por exemplo, a sequência se 5'-ATG-3' representa a sequência
que se inicia com a extremidade 5' e termina na extremidade 3' e as bases nitrogenadas
nos nucleotídeos estão nessa ordem: adenina (A), timina (T) e guanina (G).
A estrutura secundária do DNA refere-se à maneira pela qual duas fitas de DNA
estão enroladas em torno do mesmo eixo para formar uma dupla hélice de orientação
à direita com o esqueleto do lado de fora. O modelo de dupla hélice foi proposto por
Watson e Crick em 1953. (Figura 42)
127
As duplas fitas podem ser separadas e sintetizadas em novas fitas
complementares, sendo que cada fita funciona como molde na replicação do DNA. No
laboratório, o DNA pode ser desenrolado e separado em condições de aquecimento ou
em pHs extremos.
129
A sequência de bases do RNA é complementar à sequência de codificação
do DNA do qual foi copiada. Relembrando que no RNA, a base U ocupa o lugar da
base T. Logo, uma fita de DNA com a sequência AATTGCGCAA, a sequência do RNA
complementar será UUAACGCGUU.
130
desta forma devido à estrutura secundária no sítio ativo que parece a cabeça de
um martelo), obtida de certos vírus de plantas (obtida de PDB ID 1MME). Ribozimas,
ou enzimas de RNA, catalisam uma variedade de reações, principalmente do
metabolismo de RNA e na síntese proteica. As estruturas tridimensionais complexas
desses RNAs refletem a complexidade inerente na catálise, como descrito para
enzimas proteicas no Capítulo 6. (c) Segmento de mRNA conhecido como íntron,
de um protozoário ciliado Te -trahymena thermophila (obtido do PDB ID 1GRZ). Esse
íntron (uma ribozima) catalisa sua própria excisão do meio dos éxons em uma cadeia
de mRNA.
3.1 REPLICAÇÃO
A replicação do DNA é o processo pelo qual as células fazem cópias de seu DNA
antes de se dividirem. Isso garante que cada uma das células filhas receba um conjunto
completo de instruções genéticas.
A replicação do DNA é sintetizada pela DNA polimerase (ou DNA pol). (Figura 45)
Esta polimerase sintetiza as novas fitas adicionando os desoxiribonucleotídeos (dNTP)
às fitas molde, seguindo as regras de pareamento de bases (A com T e C com G).
À medida que a polimerase se move ao longo das fitas molde, ela sintetiza as
novas fitas na direção 5'3', adicionando nucleotídeos um a um, com a liberação do
pirofosfato inorgânico (PPi). O 3´OH livre é ponto no qual o DNA é alongado.
131
Figura 46 – Alongamento da cadeia de DNA
132
apropriado na fita-molde. O produto da reação tem uma nova hidroxila 3’ livre,
permitindo a adição de outro nucleotídeo. O par de bases recentemente formado
migra para deixar o sítio ativo disponível para o próximo par a ser formado. (c) O
núcleo da maioria das polimerases tem um formato semelhante ao de uma mão
humana que envolve o sítio ativo. A estrutura mostrada é a DNA-polimerase I de
Thermus aquaticus, ligada ao DNA (PDB ID 4KTQ). (d) Uma interpretação do desenho
da estrutura da DNA-polimerase mostra as partes de inserção e pós-inserção no
sítio ativo. O sítio de inserção é onde ocorre a adição de nucleotídeos, e o sítio de
pós-inserção é o local para onde o par de bases recentemente formado migra depois
que aparece.
Como as fitas são antiparalelas, uma fita líder é sintetizada continuamente 5'3',
enquanto a outra terá uma síntese descontínua ou retardada, formando fragmentos de
novas fitas chamados de Okasaki (Figura 46).
133
Os organismos possuem propriedades básicas para replicação do DNA:
• A replicação é semiconservativa, de forma que cada fita mãe de DNA funciona como
molde para a síntese de novas fitas filhas. Assim, cada dupla hélice recém-formada
contém uma fita nova e uma fita velha.
• A replicação começa em uma região específica, a origem, que são regiões ricas em
AT, que desnaturam em temperaturas mais baixas por terem apenas duas pontes
de hidrogênio.
134
No laboratório, a aplicação resultante do conhecimento dos mecanismos de
replicação do DNA é utilizada em técnicas como a de reação em cadeia polimerase
(PCR) e a do sequenciamento de DNA, que abriram novas perspectivas de manipulação
do genoma e novos métodos de diagnóstico.
3.2 TRANSCRIÇÃO
O gene é o segmento de uma molécula de DNA que contém as informações
necessárias para a síntese de um produto com função biológica. A transcrição converte
a informação genética de um gene em um filamento de RNA.
135
• RNA polimerase I, transcreve genes de rRNA (conhecidos como 5.8S, 28S e 18S).
• RNA polimerase II, transcreve genes que codificam para pre-mRNA.
• RNA polimerase III, transcreve outros RNAs, como o tRNA.
136
Figura 48 – Início da transcrição e alongamento pela RNA-polimerase da E. coli.
137
NOTA
O tamanho das macromoléculas é dado em termos de massa molecular (ou peso molecular)
e é tipicamente expresso em dalton (Da ou D), sendo que 1000 D = 1 kilodalton (kD).
A massa molecular das proteínas depende do número e tipo de aminoácidos que elas
contêm. As proteínas podem variar em tamanho, desde pequenas moléculas com massas
moleculares de alguns milhares de daltons até grandes moléculas com massas moleculares
de vários milhões de daltons.
A massa molecular dos carboidratos depende de seu tamanho e complexidade. Açúcares
simples, como a glicose, têm uma massa molecular de cerca de 180 Da, enquanto
carboidratos maiores, como amido e celulose, têm massas moleculares que podem variar
de vários milhares a vários milhões de daltons.
A massa molecular dos lipídios depende do tipo e número de cadeias de ácidos graxos que
eles contêm. Lipídios simples, como ácidos graxos, têm massas moleculares que variam de
200 a 400 Da, enquanto lipídios mais complexos, como triacilgliceróis (gorduras)
e fosfolipídios, têm massas moleculares que podem variar de vários milhares a
várias centenas de milhares de daltons.
A massa molecular dos ácidos nucleicos depende do comprimento de suas
cadeias poliméricas. O DNA e o RNA são compostos de nucleotídeos e sua
massa molecular depende do número dos nucleotídeos que ele contém.
Por exemplo, a massa molecular de uma molécula de DNA com um
comprimento de 10.000 nucleotídeos tem de cerca de 300.000 Da.
DICA
www.labxchange.org
www.celuladidatica.ufpr.br/membrana-biologicas.php
https://www.instagram.com/descomplica_doutoras
https://learn.genetics.utah.edu/content/labs/
www.projeto-biologico.arizona.edu/default.html
138
LEITURA
COMPLEMENTAR
É o DNA!
HÁ 60 ANOS ERA DESCRITA A PRIMEIRA FORTE EVIDÊNCIA DA RELAÇÃO ENTRE
ÁCIDO NUCLÉICO E HEREDITARIEDADE
Tal associação era tão surpreendente para a época que, embora ficasse clara
na experiência, recebeu pouco destaque no título do trabalho de Avery e colegas:
‘Estudos sobre a natureza química da substância indutora de transformação de tipos
de Pneumococcus’. A informação mais importante estava no subtítulo – ‘Indução de
transformação por uma fração de ácido desoxirribonucléico isolada de Pneumococcus
tipo III’ –, mas este certamente só chamaria a atenção de especialistas da área.
Qual a razão para tamanho cuidado? A composição química dos ácidos nucléicos
e das proteínas já era conhecida. Sabia-se que os primeiros eram longas moléculas
formadas por apenas quatro tipos de unidades básicas, o que as tornava quimicamente
muito monótonas, sobretudo porque estava em voga a teoria de que o DNA seria uma
longa seqüência de ‘blocos’ idênticos, cada um reunindo quatro diferentes nucleotídeos
(moléculas constituídas de um açúcar específico que se liga a uma base nitrogenada
e a um grupo fosfato). Em contrapartida, sabia-se que as proteínas eram polímeros
formados por 20 aminoácidos diferentes. Assim, apresentavam uma diversidade de
estrutura muito maior, e por isso eram as moléculas mais cotadas como as responsáveis
primárias pela grande diversidade genética dos seres vivos, embora em 1897 o zoólogo
norte-americano Edmund B. Wilson (1856-1939) já tivesse sugerido que esse papel
cabia a um ácido nucléico. Mas o que Avery, MacLeod e McCarty de fato fizeram?
139
Para entender isso, é importante conhecer o experimento precursor, de Fre-
derick Griffith. O microbiólogo trabalhava, no Laboratório de Patologia do Ministério
da Saúde britânico, com pneumococos (nome comum da bactéria Streptococcus
pneumoniae, então conhecida como Pneumococcus, que causa pneumonia), já
classificados anteriormente em diversos tipos. Essa classificação se baseava nas
respostas a anticorpos presentes em soros, que distinguiam o mucopolissacarídeo
(constituinte da cápsula que envolve certas bactérias) específico de cada tipo de
pneumococo. Quando cultivados em placas de petri, em laboratório, os pneumo-
cocos que sintetizam suas cápsulas geram colônias ‘lisas’. A injeção subcutânea
de cultura líquida desses pneumococos em camundongos causa a sua morte. No
entanto, o cultivo in vitro permite também o surgimento de colônias ‘rugosas’, cujas
bactérias perderam a capacidade de sintetizar mucopolissacarídeo (e, portanto, não
têm cápsulas). As mutantes rugosas não podiam mais ser classificadas com os soros
e, além disso, perdiam a virulência: camundongos inoculados com elas permane-
ciam vivos, ao contrário do que ocorria se fossem inoculados com pneumococos
lisos. Griffith mostrou que quando bactérias lisas do tipo III mortas (pela aplicação
de calor) eram misturadas com bactérias rugosas derivadas do tipo II, e depois essa
suspensão mista era inoculada em camundongos, estes morriam, e os pneumoco-
cos vivos recuperados dos corpos eram do tipo III (Figura 1).
140
Figura 1. Pneumococos selvagens do tipo III (que produzem colônias lisas), quando inoculados em camun-
dongos, os matam (A), e pneumococos do tipo II mutantes (que produzem colônias rugosas) perdem a
virulência (B). Em sua experiência, Griffith mostrou que, quando a mistura de pneumococos lisos do tipo
III mortos pelo calor (não virulentos) com bactérias rugosas vivas (C) é injetada nos camundongos, estes
morrem (D), e bactérias selvagens do tipo III são recuperadas de seu organismo. Esse resultado indica que
houve uma transformação das bactérias rugosas pela ação de algum ‘princípio transformante’ contido na
suspensão com bactérias mortas.
O cientista concluiu que uma substância liberada pelas bactérias mortas fazia
com que as bactérias não virulentas mudassem de tipo e voltassem a ser capazes de
matar os camundongos. Ele chamou essa substância de ‘princípio transformante’, e
chamou o processo de transformação, como é conhecido até hoje. Posteriormente, a
transformação de pneumococos foi obtida in vitro – e não apenas em camundongos
(in vivo) – e observada em outros organismos, sendo relacionada a uma alteração de
características genéticas produzida por recombinação de genes.
141
Figura 2. Na experiência de Avery e colegas, foi usada uma fração purificada e não virulenta (A) do extrato
de pneumococos lisos do tipo III, virulentos. Essa fração, rica em DNA, mantinha a capacidade de promo-
ver transformação (B) quando tratada com enzimas que destroem proteínas (proteases), mas perdia essa
propriedade (C) quando tratada com enzimas que degradam DNA (DNAses). Isso revelou que o DNA era o
responsável pela transformação das bactérias – ou seja, era o portador das características genéticas
142
que degradam DNA (Figura 2). Esses resultados indicavam que a natureza química do
‘princípio transformante’ era DNA. Cientes de que essa conclusão não seria aceita com
facilidade, os autores foram cautelosos na discussão do trabalho, onde escreveram:
“No atual estado de conhecimento, qualquer interpretação do mecanismo envolvido
na transformação tem que ser puramente teórica.” Apesar da cautela, defenderam
que o DNA tinha uma participação não apenas estruturalmente importante, mas
funcionalmente ativa na determinação das atividades bioquímicas e nas características
específicas dos pneumococos.
143
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:
• O DNA é formado por duas fitas e possui uma estrutura secundária de dupla hélice
onde as bases são complementares e antiparalelas.
• Na replicação do DNA, cada fita do DNA original serve como modelo para a síntese
de uma fita complementar.
• Três tipos de RNA são formados durante a transcrição: mRNA, rRNA e tRNA.
144
AUTOATIVIDADE
1 O DNA (ácido desoxirribonucleico) e as proteínas são duas importantes macromoléculas
da célula. O DNA é responsável pelo armazenamento e transmissão da informação
genética, enquanto as proteínas são importantes para várias funções biológicas,
incluindo de estrutura celular, a regulação metabólica e a realização de reações
químicas. Ambos o DNA e as proteínas são compostos de elementos químicos, no
entanto, alguns elementos são encontrados somente em um dos compostos, e não
na outra. Acerca dos elementos que são encontrados no DNA, mas não nas proteínas,
assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Carbono
b) ( ) Nitrogênio
c) ( ) Oxigênio
d) ( ) Fósforo
e) ( ) Enxofre
a) ( ) 40 A, 50 G, 60 C e 44 T
b) ( ) 50 A, 47 G, 50 C e 47 T
c) ( ) 45 A, 45 G, 52 C e 52 T
d) ( ) 42 A, 52 G, 52 C e 42 T
a) ( ) Citosina.
b) ( ) Timina.
c) ( ) Uracila.
d) ( ) Guanina.
145
4 Uma fita molde de gene de DNA tem a sequência 5′‑ATGAGCGACTTTGCGGGATTA‑3′.
Qual é a sequência de nucleotídeos complementar no DNA e qual a sequência do
RNA que será formada a partir desse molde?
146
REFERÊNCIAS
BERG, J. M.; STRYER, LU. Bioquímica. 7 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 2014.
FERRIER, D. Bioquímica ilustrada. 7 ed. Porto Alegre: Artmed, 2019.
RODWELL, V. W. et al. Bioquímica ilustrada de Harper. 31. ed. Porto Alegre: AMGH,
2021.
147
148