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Periclitação: perigo, situações que expõem a vida e a saúde de outras pessoas a risco.
CÓDIGO PENAL
Art. 130. Expor alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer ato libidinoso, a contágio de
moléstia venérea, de que sabe ou deve saber que está contaminado:
Obs.: Trata-se de um crime de perigo abstrato (não exige efetiva lesão ao bem jurídico)
porque a consumação desse crime é de crime formal (quando o agente expõe
a vítima por meio de relações sexuais ou outro ato libidinoso, ainda que não seja
transferida a moléstia venérea). Se o agente sabe – ou deveria saber – que possui
moléstia venérea, e mantém relações sexuais ou pratica ato libidinoso com a vítima
sem informá-la (omite o fato dela), ainda que a intenção dele não seja transmitir a
doença, ele responde pelo crime. Se a vítima contrai a doença, é mero exaurimento
do crime, não será diferencial na consumação. Esse crime também é de mão pró-
pria – a execução não pode ser delegada a terceiro, tem que partir da própria pes-
soa. Além disso, esse crime não admite modalidade culposa (só se fala em dolo),
e a tentativa é cabível (se o agente quis manter relação sexual, mas não consegue
por razões alheias à sua vontade, como dificuldade de ereção, ou alguém impede o
acontecimento).
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DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL
Crimes Contra Pessoa – Da Periclitação da Vida e da Saúde – Art. 130 a 136
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Obs.: No caso do disposto no § 1º, trata-se de crime com dolo de dano – há intenção de
transmitir a doença.
AIDS
Se o agente tem AIDS, sabe disso e mantém relações sexuais com a vítima, que acaba
contraindo AIDS também. O agente não tinha a intenção, mas omitiu o fato.
Correntes Situação
Criticada. A AIDS pode ser transmitida por diversas formas e
não somente por atos sexuais. Logo, não se trata de doença
1ª) Configura crime de perigo de contá- venérea (para fins legais). Essa corrente, apesar de defendida
gio venéreo (art. 130, CP) por uma pequena parcela, já foi extremamente criticada e a
hipótese já foi afastada pelo STF, STJ e diversos doutrinado-
res.
No HC 98.712/RJ, Primeira Turma, STF, o relator Min. Marco
Aurélio, entendeu que a intenção da transmissão da AIDS
2ª) Configura crime de perigo de contá-
configura o artigo 131 do CP. Foi acompanhado por Dias
gio de moléstia grave (art. 131, CP)
Toffoli (existem algumas posições isoladas no STF, mas não
há entendimento pacificado dessa corrente).
3ª) Configura lesão corporal gravíssima Foi o entendimento do STJ no HC 160982/DF (5ª Turma do
pela enfermidade incurável (art. 129, STJ, em 17/05/2012). Não se trata de moléstia grave, mas
§2º, II, CP) sim incurável.
Doutrinadores, como Nucci, Capez, Rogério Greco, Masson
4ª) Homicídio ou tentativa de homicídio entendem que se trata de homicídio, quando a intenção do
(art. 121, CP) agente for de matar a vítima. Entretanto, STJ e STF já afasta-
ram esse entendimento.
ATENÇÃO
AIDS não é uma enfermidade venérea, não se aplica o art. 130 do CP.
10m
ANOTAÇÕES
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Art. 131. Praticar, com o fim de transmitir a outrem moléstia grave de que está contaminado, ato
capaz de produzir o contágio:
Pena – reclusão, de um a quatro anos, e multa.
Obs.: A moléstia venérea pode vir a ser considerada moléstia grave, e nesse caso incide
o art. 131 do CP. Os requisitos para isso são ser uma moléstia venérea grave, que
não tenha sido transmitida por ato sexual. Trata-se de crime próprio (só pode
ser praticado por aquele que detém a moléstia grave). Só cabe dolo direto. É crime
formal (consuma-se com a prática do ato capaz de produzir o contágio, ainda que a
vítima não contraia a moléstia).
ATENÇÃO
Art. 130. Perigo de contágio venéreo;
Art. 131. Perigo de contágio de moléstia grave.
Se o dolo do agente é dirigido a causar:
1) Lesão corporal leve: arts. 130 e 131 – a lesão corporal leve tem pena mais branda.
2) Lesão corporal grave/gravíssima: os arts. 130 e 131 serão absorvidos, considerados
crimes-meio.
3) Lesão corporal seguida de morte: os arts. 130 e 131 serão absorvidos, considerados
crimes-meio.
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Obs.: Ex.: boias-frias transportados em pau de arara. As normas legais citadas no parágra-
fo único estão previstas no CTB.
15m
Obs.: “Se o fato não constitui crime mais grave” = subsidiariedade expressa da lei (se hou-
ver um crime mais grave que coloque a vida de alguém em risco, aplica-se o crime
mais grave. Ex.: disparo de arma de fogo em local habitado simplesmente por dis-
parar. A vida de outras pessoas é colocada em risco, pode haver bala perdida. Não
responde pelo art. 132, e sim pelo art. 15 da Lei n. 10.826/2003, prevista no Estatuto
do Desarmamento).
ABANDONO DE INCAPAZ
Art. 133. Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guarda, vigilância ou autoridade, e, por
qualquer motivo, incapaz de defender-se dos riscos resultantes do abandono:
Pena – detenção, de seis meses a três anos.
Obs.: Crime de perigo concreto. Abandonar é uma separação física (largar uma pessoa
à sua própria sorte). O “incapaz” do crime é diferente da incapacidade civil ou da
menoridade penal. É incapaz qualquer pessoa que não consegue se defender dos
riscos resultantes do abandono. Na maioria das vezes é cometido contra crianças
ou idosos, mas o incapaz é aquele que não consegue se defender dos riscos que
são consequência do abandono: ex.: dois caçadores saem para caçar em uma mon-
tanha repleta de ursos. Durante a caça, eles brigam e um deles deixa o outro para
trás. Entretanto, somente um deles tem arma de fogo, tanto para caçar quanto para
se defender, e é justamente esse que vai embora. O parceiro de caça fica abando-
nado à sua própria sorte, sem arma para se defender e sem bússola para conseguir
retornar. Passado um tempo, um urso tenta atacá-lo e ele foge. Esse é um exemplo
de abandono de incapaz: mesmo que o caçador tenha conseguido fugir do urso, ele
foi abandonado pelo outro caçador. Se o urso conseguisse atacar, gerando lesões
corporais graves, gravíssimas ou morte, o crime é de abandono de incapaz, porém
com qualificadoras.
20m
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§ 2º Se resulta a morte:
Pena – reclusão, de quatro a doze anos.
AUMENTO DE PENA
Obs.: Se o abandono de incapaz ocorre em local tão ermo que não há possibilidade de sal-
vamento, trata-se de homicídio ou tentativa de homicídio. Ex.: se alguém abandona
uma criança em uma ilha deserta ou no alto de uma montanha, de forma que ela não
tenha condições de ser encontrada ou sair de lá.
Obs.: Rol exaustivo, não admite analogia in malam partem no Direito Penal.
Obs.: A desonra própria refere-se à honra de natureza sexual. Ex.: uma jovem que abando-
na o filho porque quer ocultar que perdeu a virgindade, ou o homem ou mulher que
quer esconder um filho fruto de adultério. Em tese, uma prostitua não pode cometer
esse crime. Duas situações a serem consideradas: mãe que abandona o filho porque
não se considera apta para criá-lo ou situação de pobreza extrema. Nesses casos,
não é ocultação de desonra, e sim art. 133 (abandono de incapaz; não é desonra
sexual). Outra situação: um homem que foi traído pela esposa, que engravidou do
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OMISSÃO DE SOCORRO
Art. 135. Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança aban-
donada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente peri-
go; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública:
Obs.: O agente tem duas opções: prestar assistência, desde que não haja risco, ou pedir
socorro imediato à autoridade se houver risco. O risco pessoal citado pelo artigo é o
risco à vida da pessoa que vai prestar ajuda. Se houver risco patrimonial ou de qual-
quer outro tipo que não represente risco à vida, não há que se falar em impedimento,
deve-se prestar socorro.
30m
Situações específicas:
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• Diversos agentes que deixam de prestar socorro: ex.: 20 pessoas deixando de pres-
tar socorro vendo um acidente – as 20 vão responder por omissão. Se dessas 20,
somente 1 prestar auxílio, as outras 19 não respondem por crime algum (ou todos res-
pondem ou ninguém responde).
• Situações de risco vão além de acidentes: criança abandonada, criança extraviada,
pessoa inválida ou ferida.
• Morte instantânea – crime impossível (absoluta impropriedade do objeto): ainda que
as pessoas que viram o acidente e poderiam prestar socorro não o façam, elas não
respondem por omissão – o morto não precisa ter socorro prestado a ele.
• É cabível a tentativa? Não.
35m
CTB, art. 304. Deixar o condutor do veículo, na ocasião do acidente, de prestar imediato socorro
à vítima, ou, não podendo fazê-lo diretamente, por justa causa, deixar de solicitar auxílio da auto-
ridade pública:
Penas – detenção, de seis meses a um ano, ou multa, se o fato não constituir elemento de crime
mais grave.
Obs.: Esse artigo se aplica à pessoa envolvida no trânsito. Se uma pessoa chega de carro
logo atrás do acidente, presenciando-o, e não presta auxílio, essa pessoa responde
pelo art. 135 (não estava envolvida no acidente).
Parágrafo único. Incide nas penas previstas neste artigo o condutor do veículo, ainda que a sua
omissão seja suprida por terceiros ou que se trate de vítima com morte instantânea ou com feri-
mentos leves.
Art. 135-A. Exigir cheque-caução, nota promissória ou qualquer garantia, bem como o preenchi-
mento prévio de formulários administrativos, como condição para o atendimento médico-hospitalar
emergencial:
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Obs.: Diante de emergência, o hospital não pode exigir garantias de pagamento. Se a pes-
soa for atendida e não pagar, o hospital pode ir atrás do valor do tratamento feito à
vítima por meio de ação de cobrança ou execução. Entretanto, o hospital não pode
exigir como condição para fazer o atendimento médico emergencial uma garantia
financeira. O bem jurídico da vida é maior do que o bem patrimonial. Esse crime só
ocorre em hospitais particulares. Se o administrador do hospital disser aos funcioná-
rios que quem atender pessoas, mesmo que em situação emergencial, sem cobrar
garantia financeira, será demitido, os atendentes com medo da demissão exigirão a
garantia financeira. Nesse caso, o administrador responde pelo art. 135-A por autoria
mediata e o atendente está acobertado por exclusão de culpabilidade (inexigibilidade
de conduta diversa), não respondendo por crime algum.
MAUS-TRATOS
Art. 136. Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou vigilância,
para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de alimentação ou cui-
dados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de
meios de correção ou disciplina:
Obs.: Crime de perigo completo, tipo misto alternativo (responde por crime único).
Obs.: As hipóteses dos §§ 1º e 2º são as preterdolosas.
40m
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Exercício regular do
Tortura (art. 1º, II, da Lei n.
direito (art. 23 do Maus tratos (art. 136 do CP)
9.455/1997)
CP)
A Lei da Palmada (Lei n. 13.010/2014) Constitui crime de tortura: II – sub-
modificou o ECA e determinou que crian- meter alguém, sob sua guarda,
ças e adolescentes têm o direito de ser poder ou autoridade, com emprego
Direito de correção e educados e cuidados sem o uso de cas- de violência ou grave ameaça,
disciplina tigo físico. Em regra, incide o art. 136 do a intenso sofrimento físico ou
CP. Entretanto, se a criança ou adoles- mental, como forma de aplicar cas-
cente for submetido a vexame ou cons- tigo pessoal ou medida de caráter
trangimento – art. 232 do ECA. preventivo.
�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a aula
preparada e ministrada pelo professor Érico Palazzo.
A presente degravação tem como objetivo auxiliar no acompanhamento e na revisão do conteúdo
ministrado na videoaula. Não recomendamos a substituição do estudo em vídeo pela leitura exclu-
siva deste material.
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