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DIREITO PENAL ESPECIAL E LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE1

PROF. ALEX RIBEIRO CABRAL

AULA 01 – HOMICÍDIO SIMPLES E PRIVILEGIADO

I – DOS CRIMES CONTRA A PESSOA

O Código Penal inicia a sua parte especial com o Título I (Crimes contra a
pessoa), subdividindo-o a partir de então em capítulos, sendo o primeiro deles intitulado
Dos Crimes contra a Vida.

Importante lembrar que o nosso Código Penal é de 1940, sendo dividido em


parte geral e parte especial.

A parte geral do CP (Art. 1º ao Art. 120) trata de questões gerais a todos os


crimes e foi reformulada totalmente pela Lei 7.209/1984.

A parte especial, em sua grande parte, no entanto é do Código original, muito


embora, por óbvio, muitas alterações tenham ocorrido desde então, seja para
aumento/diminuição de pena de determinados crimes ou inclusão de novos crimes (ex.:
arts. 154-A e 216-B) ou, ainda, para abolição de certos tipos penais (ex.: adultério – art.
240).

A partir do artigo 121 iniciamos a parte especial, que vai até o artigo 361, com
os crimes propriamente ditos, isto é, as condutas humanas previstas como tais.

I.i DOS CRIMES CONTRA A VIDA

1. Informações Gerais

1
Elaborado com base, precipuamente, nas obras: 1. GRECO, Rogério. Código Penal Comentado; 2. CAPEZ,
Fernando. Curso de Direito Penal; 3. GONÇALVEZ, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte
Especial; 4. SANCHES, Rogerio. Manual de Direito Penal: volume único. 5.ROQUE, Fabio. Direito Penal Didático:
parte especial.
1.1 Tipos Penais: dos artigos 121 a 128 estão previstos os crimes contra a
vida: Art. 121 – Homicídio; Art. 122 – Induzimento, Auxílio ou Instigação ao Suicídio
ou à Automutilação; Art. 123 – Infanticídio; Artigos 124 a 128 – Aborto: autoaborto
(art. 124); aborto praticado por terceiro sem consentimento da gestante (art. 125) e aborto
praticado por terceiro com consentimento da gestante (art. 126) e formas qualificadas).

1.2 Competência para julgamento: os crimes dolosos contra a vida serão


de competência exclusiva do Tribunal do Júri (art. 5º, XXXVIII, d, CF/88 e art. 74, §1º,
CPP).

Os crimes conexos aos dolosos contra a vida também serão julgados pelo
Tribunal do Júri (art. 78, I, CPP).

Crime culposo contra a vida não é encaminhado ao Tribunal do Júri, a


não ser que seja o crime culposo contra a vida conexo a crime doloso contra a vida, o que
se trata de situação excepcionalíssima. (Ex.: agente que mata dolosamente a vítima em
chamada “queima de arquivo”, pois a vítima era a única pessoa que sabia que o agente tinha
cometido um homicídio culposo e ameaçou delatar o agente. Nesse caso, temos uma
conexão entre crime doloso e crime culposo contra a vida, tal como está disposto no artigo
76, II, do Código de Processo Penal (“se houver umas [infrações penais] praticadas para
facilitar ou ocultar outras ou para conseguir impunidade ou vantagem em relação a qualquer
delas”).

1.3 Crimes contra a vida dolosos e culposos

No artigo 18, II, parágrafo único, CP há regra sobre a excepcionalidade da


modalidade culposa dos crimes em geral, de modo a registrar que só há crime na
modalidade culposa quando a lei o disser expressamente.

O único crime contra a vida que tem modalidade culposa é o homicídio, pois
a lei não previu modalidade culposa nos outros crimes contra a vida.
1.4 Latrocínio (art. 157, §3º, II), Estupro Qualificado pela Morte (art.
213, §2º), Tortura Qualificada pela Morte (art. 1º, §3º, Lei 9455/97), Lesão Corporal
Seguida de Morte (Art. 129, §3º, CP) - Preterdoloso

Os crimes acima listados, bem como outros qualificados pelo resultado


morte, não são considerados crimes dolosos contra a vida, pois atingem, inicialmente,
outros bens jurídicos.

1.5 Genocídio

Não está previsto como crime contra a vida. Logo, a priori, não será
encaminhado o agente ao Tribunal do Júri.

Importante registrar que o crime de genocídio está previsto no art. 1º, alíneas
a a e, da Lei 2.889/1956, lá existindo previsão de eliminação de vidas humanas, mas
também outras formas de prática de genocídio2.
.
Eventualmente, portanto, pode sim ser praticado o crime de genocídio
através da morte de pessoas; mas tal não ocorre necessariamente, como visto na nota de
rodapé desta página.

Deixa-se, claro, portanto, que vindo o agente a praticar o genocídio através


da eliminação de vidas humanas, estará em concurso formal de crimes, respondendo por
homicídio e genocídio ao mesmo tempo, sendo julgado pelo Tribunal do Júri, haja vista a
conexão explicada no item 1.2 (art. 78, I, CPP).

2
Art. 1º Quem, com a intenção de destruir, no todo ou em parte, grupo nacional, étnico, racial ou religioso,
como tal: (Vide Lei nº 7.960, de 1989)
a) matar membros do grupo;
b) causar lesão grave à integridade física ou mental de membros do grupo;
c) submeter intencionalmente o grupo a condições de existência capazes de ocasionar-lhe a destruição
física total ou parcial;
d) adotar medidas destinadas a impedir os nascimentos no seio do grupo;
e) efetuar a transferência forçada de crianças do grupo para outro grupo;
Caso, no entanto, o genocídio não seja praticado por meio de eliminação da
vida humana, o agente não irá a Júri Popular, sendo julgado por juiz togado.

2. Homicídio

Homicídio é a eliminação da vida de alguém levada a efeito por outrem.


(Bittencourt, Cezar Roberto).

O bem jurídico tutelado, por óbvio, é a vida (extrauterina), a qual tem,


inclusive, proteção constitucional (art. 5º, caput e inciso XLVII, a (“não haverá pena de
morte, salvo em caso de guerra declarada [...]).

Adotando-se uma gradação pela gravidade da conduta, temos a classificação


em homicídio simples (art. 121, caput), homicídio privilegiado (art. 121, §1º) e homicídio
qualificado (art. 121, §2º).

Três, portanto, são as modalidades dolosas do crime: simples, privilegiado


e qualificado.

Ainda podemos falar em homicídio culposo, que pode ser de duas


modalidades, uma prevista no artigo 121, §3º do CP e outra relacionada ao homicídio
culposo na direção de veículo automotor, previsto no artigo 302 do Código de Trânsito
Brasileiro.

2.1 Sujeitos ativo e passivo.

Sujeito ativo: qualquer pessoa. Crime comum.


Sujeito passivo direto/eventual: qualquer pessoa (com vida).
Sujeito passivo indireto/constante: Estado.

* E em relação à eliminação da vida do feto?


O aborto é considerado a eliminação da vida intrauterina. Por outro lado, o
homicídio seria a destruição da vida extrauterina.
De todo modo, atualmente, entende-se que o limite imposto para diferenciar
o crime de aborto do crime de homicídio é o início do parto.
Em se tratando de destruição da vida do feto antes do início do parto, o crime
será o de aborto. Iniciado o parto (rompimento do saco amniótico) e havendo conduta do
agente que atente contra a vida do feto, já se pode falar em homicídio consumado ou
tentado, conforme o caso, afinal nessa ocasião o dolo do agente não está mais direcionado
à interrupção da gravidez, mas sim dirigido a matar alguém que já está no processo de
nascimento. 3

2.2 Elemento Subjetivo

O CP prevê a existência de homicídio doloso e culposo.

Dolo é a vontade e a consciência de realizar os elementos constantes do


tipo penal, ou seja, praticar o verbo do tipo de forma consciente e com vontade de produzir
o resultado. Em se tratando de homicídio é a vontade e a consciência de matar alguém. O
animus necandi ou animus occidendi.

Vejamos o que diz o Código Penal sobre o crime doloso:

Art. 18 - Diz-se o crime:


Crime doloso
I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu
o risco de produzi-lo

2.2.1 Dolo Direto

No dolo direto o agente quer o resultado direcionado a partir de sua ação,


isto é, o agente pretende eliminar vida humana de outrem e adota, de forma direta, conduta

3
[...]. 4. Iniciado o trabalho de parto, não há falar mais em aborto, mas em homicídio ou infanticídio, conforme o
caso, pois não se mostra necessário que o nascituro tenha respirado para configurar o crime de homicídio,
notadamente quando existem nos autos outros elementos para demonstrar a vida do ser nascente, razão pela qual
não se vislumbra a existência do alegado constrangimento ilegal que justifique o encerramento prematuro da
persecução penal. (HC 228.998/MG – STJ).
hábil para tal (disparo de arma de fogo, asfixia, facadas, emprego de veneno etc). Nesse tipo
de dolo existe vontade livre e consciente de eliminar a vida humana alheia.

2.2.2 Dolo Eventual

Em relação ao dolo eventual, o agente não quer diretamente a realização do


tipo penal, mas o aceita como possível ou até provável, assumindo o risco da produção do
resultado. O agente prevê que o resultado morte pode ocorrer oriundo de sua conduta, mas
aceita tal risco.

Ex.: indivíduo que, a despeito de não ter a intenção de matar, dirige veículo
em alta velocidade na via pública ultrapassando todos os sinais vermelhos, até que em dado
cruzamento vem a atingir e matar ocupante de carro que estava, regularmente, a atravessar
o sinal verde.

Ex.2: policial denunciado porque em razão do barulho de uma festa próxima


à sua casa, foi até o local e fez disparos com arma de fogo, com o objetivo de dispersar as
pessoas que se reuniam ali. Uma delas foi atingida e morreu.

2.2.3 Culpa

Na conduta culposa dá-se uma ação voluntária dirigida a uma finalidade lícita,
mas em virtude de quebra de dever de cuidado, advém um resultado ilícito, não perseguido,
em relação ao qual não houve assunção de risco.

Há culpa quando o agente não prevê o que era previsível, isto é, age de modo
imprudente, negligente ou imperito diante de situação que, na visão do homem médio,
careceria de maior cuidado. O agente não adota cautela que a situação exigiria, ocasionando
lesão ao direito de outrem em virtude da ausência do dever de cuidado.

Ex.: médico que opera paciente sem a observância de regra técnica quanto à
intubação e acaba causando lesão e morte ao paciente.
Obs.: em se tratando de homicídio culposo na direção de veículo automotor,
aplica-se o artigo 302, do Código de Trânsito Brasileiro (Lei 9503/97).

2.3 Consumação e Tentativa

2.3.1 Consumação

Evidentemente, o homicídio consuma-se no momento da morte da vítima


decorrente da conduta dolosa do agente.

De suma importância a existência de laudo de necropsia, de modo a que haja


afirmação técnica feita por legista sobre a morte da vítima e suas causas.

* Morte encefálica: para o legislador pátrio (Lei 9434/97 – art. 3º), nos casos
em que há morte encefálica, considera-se o quadro irreversível e permite-se que seja
considerada morta a pessoa:

Art. 3º A retirada post mortem de tecidos, órgãos ou


partes do corpo humano destinados a transplante ou tratamento
deverá ser precedida de diagnóstico de morte encefálica, constatada
e registrada por dois médicos não participantes das equipes de
remoção e transplante, mediante a utilização de critérios clínicos e
tecnológicos definidos por resolução do Conselho Federal de
Medicina.

Nas hipóteses em que o corpo desapareceu, será possível atestar a


materialidade por prova testemunhal (art. 167, CPP).

2.3.2 Tentativa

São necessários três fatores para que se verifique a ocorrência de tentativa:


A) prova inequívoca de que o agente queria matar a vítima: importante
observar a presença de dolo do agente. Na tentativa de homicídio, o agente quer matar a
vítima, mas falha em seu intento. Na lesão corporal, a intenção é ferir e não matar a vítima.
Diante da dificuldade prática de diferenciação entre uma hipótese e outra,
imprescindível verificar o tipo de arma utilizada, eventual ameaça prévia de morte,
quantidade de golpes realizados e local em que a vítima foi atingida.

B) que tenha se dado o início da fase de execução do crime: esse fator


é importante diante do previsto pelo artigo 14, II, do Código Penal:

Tentativa

Art. 14. Diz-se o crime:

[...]

II - tentado, quando, iniciada a execução, não se


consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente.

Nessa linha de raciocínio, atos meramente preparatórios (compra de arma,


preparação de alimento com veneno para futura entrega à vítima) não são puníveis.
Necessário ato de execução (apertar o gatilho da arma, entregar o alimento envenenado)
para que haja, ao menos tentativa, a qual será configurada se o resultado pretendido pelo
agente não for atingido por motivo alheio à sua vontade.

C) que o resultado morte não tenha ocorrido por circunstâncias alheias


à vontade do agente:

Se houver o ato de execução, mas a vítima sobreviver por causas alheias à


vontade do agente, teremos configurada a tentativa. Ex.: vítima atira na vítima, que
consegue se proteger atrás de um carro; vítima que sofre facadas, mas é imediatamente
socorrida por terceiros; vítima que não sabe nadar e é jogada ao mar, dolosamente, pelo
agente, mas vem a ser salva por tripulantes da embarcação.
2.4 Desistência Voluntária – Art. 15, CP

Na desistência voluntária, já iniciada a execução do crime, o agente tem a


possibilidade de prosseguir na ação criminosa para consumá-lo, mas se omite, deixando,
voluntariamente, de dar sequência à conduta voltada a eliminar a vida da vítima. Ex.: agente
atira na vítima com intenção de causar a sua morte. Porém, atinge, tão somente, o braço da
vítima. Ainda tendo outros projéteis em seu revólver e podendo utilizá-los para consumar
o crime, o agente, por livre e espontânea vontade, desiste de prosseguir. Tem-se, portanto,
a desistência voluntária e o agente responderá pelos atos praticados. No exemplo acima, o
agente responderá por lesão corporal (art. 129, CP). Se o tiro não tivesse atingido a vítima,
responderia pelo artigo 132 do CP.

2.5 Arrependimento Eficaz – Art. 15, CP

No arrependimento eficaz, o agente pratica uma nova ação, de modo


voluntário, voltada a debelar a ação criminosa anterior. Ex.: agente entrega bolo com
veneno para a vítima. Assim que a vítima ingere o bolo, passa mal, mas o agente se
arrepende e socorre a vítima, na qual é feita lavagem gástrica. Tem-se, portanto, o
arrependimento eficaz e o agente responderá pelos atos praticados. No caso acima,
responderá por lesão corporal.

3. Homicídio Simples - Previsão Art. 121, caput, CP

Antes de entramos na primeira modalidade de homicídio a ser estudada,


observemos o seguinte esquema:

Homicídio Simples Homicídio Qualificado


Art. 121, caput Art. 121, §2º

Majorantes Homicídio Privilegiado


Art. 121, §§4º e 5º Art. 121, §1º

Art.
Homicídio Culposo Perdão Judicial
Art. 121, §3º Art. 121, §5º

Majorante do Culposo
Art. 121, §4º

Feminicídio (Hipótese de Hom.


Condição de Sexo Feminino
Qualificado)
Art. 121, §2º-A
Art. 121, §2º, VI

Majorantes do Feminicídio
Art. 121, §7º

Homicídio Contra Menor de 14 Anos Majorantes do Homicídio Contra Menor


Art. 121, §2º, IX de 14 anos
Art. 121, §2º-B

Pois bem, iniciando, pois pelo homicídio simples, temos a simples redação
do artigo 121 do CP:

Art. 121. Matar alguém: (preceito primário – descrição da conduta)


Pena - reclusão, de seis a vinte anos. (preceito secundário – previsão de
sanção).

A depender da motivação do agente, do modo de execução, do meio


empregado ou por conexão, o homicídio pode ser qualificado (ex.: motivo fútil ou torpe;
com emprego de foto ou veneno; mediante emboscada; para assegurar a impunidade de
outro crime).

Pode, ainda, ser o homicídio privilegiado, a depender de motivo de relevante


valor social ou moral.
Por exclusão, não havendo enquadramento nas hipóteses de crime
qualificado ou privilegiado, o homicídio será simples.

4. Homicídio Privilegiado - Previsão Art. 121, §1º, CP

O denominado homicídio privilegiado, em verdade, é, tão somente, um crime


de homicídio com causa de diminuição de pena (minorante), isto porque nos crimes
privilegiados e qualificados em geral há diminuição ou aumento da pena mínima e máxima
fixada em abstrato para o tipo penal, mas não é isso que ocorre com o homicídio
privilegiado, o qual, segundo o §1º do artigo 121 tem, apenas, uma causa de diminuição de
pena (de 1/6 a 1/3), mantendo abstratamente a sanção mínima e máxima do artigo 121,
caput (6 a 20 anos).

4.1 Hipóteses de Homicídio Privilegiado

Três são as hipóteses de homicídio privilegiado.

4.1.1 Relevante Valor Social

Tal hipótese está relacionada aos motivos do agente para a prática do crime,
fazendo-o, hipoteticamente, pelo bem da coletividade. A doutrina, em geral, traz como
exemplo a conduta do agente que mata o traidor da nação, ou seja, a vítima é pessoa que
agiu diretamente contra os interesses da pátria, entregando, por exemplo, segredos militares
a país inimigo.

4.1.2 Relevante Valor Moral

Em tal caso, temos que o agente que é motivado por sentimentos pessoais
que são objeto de aprovação da sociedade, como piedade, compaixão, revanche contra ato
repugnante. Ex.: eutanásia (agente mata a vítima, sendo a vítima pessoa que está em estado
terminal, estando a sofrer em virtude de doença agressiva). A doutrina também traz como
exemplo o do pai que, por vingança, mata o estuprador da filha ou esposa, sendo certo que
para que se verifique essa hipótese não é necessário que a morte seja ocasionada logo após
o estupro. Se o homicídio é praticado logo após o estupro, pode ser invocada a terceira
hipótese de homicídio privilegiado ou até legítima defesa a depender do caso.

4.1.3 Sob O Domínio De Violenta Emoção, Logo Em Seguida A


Injusta Provocação Da Vítima

Importante observar que o indivíduo esteja sob o domínio de violenta


emoção, ou seja, a pessoa que está “fora de si” em virtude da situação fática.

Deve se dar o ato logo depois de injusta provocação da vítima. A reação deve
ser imediata ao conhecimento da injusta provocação.

Ex.: pessoa que sofre bullying, por meio de palavras ou agressões, vindo a
reagir e causar a morte do agressor.

Obs.1: diferença entre legítima defesa e homicídio privilegiado

Em primeiro lugar, cabe dizer que a legítima defesa, cujos requisitos estão
dispostos no artigo 25 do CP (Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando
moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito
seu ou de outrem) exige mais do que a mera provocação, mencionando a lei a necessidade
de injusta AGRESSÃO, que deve ser repelida pelo meio necessário.

Ex.: injusta provocação → jogar bebida no rosto; dar tapa no rosto;


empurrão; xingamentos voltados a menosprezar o indivíduo.

Ex.: injusta agressão → tentar atingir a pessoa com faca; apontar arma na
direção do indivíduo.

Ademais, a legítima defesa exige que a agressão seja atual ou iminente. No


caso em que a pessoa pratica injusta agressão contra o agente, atingindo-o com pauladas,
mas cessa a conduta e vai embora, vindo o agente a pegar uma faca e partir no encalço do
agressor para matá-lo, não teremos a legítima defesa, mas sim o homicídio privilegiado
consumado ou tentado, a depender do desfecho da situação.

Obs.2: não mais é possível a utilização da tese conhecida como


legítima defesa da honra no Tribunal do Júri para os casos em que o homem mata a
mulher que o traiu, haja vista que sequer se trata de legítima defesa, bem como porque
atenta contra o princípio da dignidade da pessoa humana, da proteção à vida e da igualdade
de gênero. ADPF 779.

Contudo, em relação à tese de homicídio privilegiado com base em domínio


de violenta emoção após a traição, não há interpretação fixada sobre o tema, existindo
aqueles que defendem que deve ser proibida tal tese seguindo a lógica da decisão da ADPF
779 e existindo outros que entendem que o homicídio privilegiado com embasamento na
mencionada motivação não foi objeto de debate específico no STF, podendo, portanto,
ainda ser utilizada essa alegação, pelo menos, para justificar o privilégio, até porque o ato
de adultério configura injusta provocação da vítima.

Obs.3: Diferença entre a presente causa de privilégio e a atenuante de


influência de violenta emoção, prevista no artigo 65, III, C, do CP (Art. 65 - São
circunstâncias que sempre atenuam a pena: [...]. III. Ter o agente: [...]. c) cometido o crime
sob coação a que podia resistir, ou em cumprimento de ordem de autoridade superior, ou sob
a influência de violenta emoção, provocada por ato injusto da vítima).

No homicídio privilegiado temos os requisitos: DOMÍNIO de VIOLENTA


EMOÇÃO, LOGO EM SEGUIDA A INJUSTA PROVOCAÇÃO DA VÍTIMA.

Na atenuante acima mencionada, que é cabível para quaisquer crimes, temos


requisitos diferentes, tendo o legislador optado por exigir tão somente: INFLUÊNCIA de
violenta emoção e não DOMÍNIO de violenta emoção, sendo necessário, ainda, ato injusto
da vítima, sendo certo, ainda, que para a aplicação da atenuante, a lei não previu que o crime
seja logo em seguida à injusta provocação, podendo ser aplicada a atenuante mesmo que o
crime tenha se dado em razoável tempo após o ato injusto do ofendido.

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