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Descrição
Propósito
Os crimes contra a pessoa inauguram a Parte Especial do Código Penal e possuem grande importância no
ordenamento jurídico penal. Portanto, é fundamental conhecer os tipos penais e suas especificidades
elementares e refletir sobre o papel que ocupam no ordenamento.
Preparação
Antes de iniciar seu estudo, tenha o Código Penal e a Constituição Federal para acompanhar a leitura do
tema.
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Objetivos
Módulo 1
Módulo 2
Identificar as espécies de crimes referentes à periclitação da vida e da saúde, bem como os tipos de
lesão corporal.
Módulo 3
Módulo 4
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Introdução
Neste conteúdo, estudaremos os crimes contra a pessoa. São eles que inauguram a Parte Especial
do Código Penal e são trazidos pelo Título I nos artigos 121 a 154-B. Trata-se de crimes que atingem
diretamente a vida humana, seja em sua integridade física, na sua honra ou em sua liberdade.
O Título “Dos crimes contra a pessoa” é dividido em seis capítulos: 1) Crimes contra a vida; 2) Lesões
Corporais; 3) Periclitação da vida e da saúde; 4) Rixa; 5) Crimes contra a honra; 6) Crimes contra a
liberdade individual, que é separado em quatro seções: 6.1) Crimes contra a liberdade pessoal; 6.2)
Crimes contra a inviolabilidade do domicílio; 6.3) Crimes contra a inviolabilidade de correspondência;
e 6.4) Crimes contra a inviolabilidade dos segredos.
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Primeiras palavras
O Código Penal traz quatro modalidades de crimes contra a vida:
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Homicídio
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Participação em suicídio
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Infanticídio
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Aborto
A maioria dos crimes são previstos apenas na forma dolosa, com exceção do homicídio, que se apresenta
também na forma culposa. Isso se mostra relevante desde já, pois, conforme o artigo 5º, XXXVIII da
Constituição, apenas os crimes dolosos contra a vida são julgados pelo Tribunal do Júri. Ou seja, o
homicídio culposo, diferentemente dos demais crimes contra a vida, será julgado por uma Vara Criminal
Comum.
Por fim, destacamos que os crimes contra a vida são todos de ação penal pública incondicionada, sem
exceção.
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Homicídio
A especialista Renata Saggioro, mestre em Direito, discorre a seguir sobre o homicídio e suas diferentes
figuras. Vamos asssitir!
Aqui, duas ponderações são importantes, a que diz respeito ao momento do início da vida extrauterina e ao
momento da morte. São concepções que variam de acordo com o contexto histórico, cultural, político e
social de cada lugar. Predomina que:
Vida extrauterina
A vida humana extrauterina começa com o parto, marcado pelo início das contrações expulsivas (PRADO,
2019, p. 757).
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Morte
A morte é marcada pelo fim da atividade encefálica, nos termos do art. 3º da lei nº 9.434/1997, que versa
sobre o transplante de órgãos.
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa e o sujeito passivo também, desde que este, obviamente, com vida
(crime comum). Como o crime só se consuma com a morte, estamos diante de um crime material, ou seja,
sua consumação ocorre com o resultado morte. Também é considerado um crime de dano, pois exige a
efetiva lesão do bem jurídico para sua concretização. Admite-se a modalidade tentada (art. 14, II, CP), pois
seu iter criminis pode ser fracionado.
Exemplo
João desferiu um tiro contra José com a intenção de matá-lo, mas em razão da assistência médica
recebida, José sobreviveu.
Quanto à tipicidade subjetiva, estamos diante de um crime doloso, em que o sujeito ativo precisa ter
consciência e vontade de praticar os elementos do tipo, possuindo a intenção de ceifar a vida de outra
pessoa (animus necandi).
O art. 121, §1º prevê o homicídio privilegiado com redução de pena. Este também ocorre com a destruição
da vida extrauterina, porém, o sujeito ativo pratica o crime impelido de relevante valor social ou moral, ou
sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida à injusta provocação da vítima. Estamos diante de uma
causa especial de diminuição de pena, pois não está prevista nas causas de diminuição de pena trazidas na
parte geral.
É de ordem subjetiva.
Violenta emoção
No art. art. 121, §2º e §2º-A, temos as figuras do homicídio qualificado. As qualificadoras trazem novas
elementares para o tipo penal, por isso, são acompanhadas de um novo preceito secundário. No caso do
homicídio, oito grupos de circunstâncias qualificam o crime (incisos I ao VIII) com sanção penal de 12 a 30
anos. Elas estão relacionadas aos meios de execução do crime, aos modos de execução, aos motivos do
agente, aos fins pretendidos ou à qualidade da vítima.
É aquele motivo desprezível, repugnante, tal como a inveja e a ganância. Para o legislador, o
pagamento ou a promessa de recompensa são exemplos dessa motivação, e entende-se,
majoritariamente, que o pagamento deve ter conteúdo econômico.
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Por serem qualificadoras relativas à motivação, a motivação fútil e a torpe não podem ser aplicadas no
mesmo caso.
Insidioso
Cruel
É o que provoca grave e desnecessário sofrimento para a vítima (ROIG, 2011, p. 38).
Perigo comum
É o que coloca em risco um número indeterminado de pessoas, sendo certo que o efetivo dano não precisa
ocorrer para a configuração da qualificadora. A Lei nº 13.964/2019 incluiu o inciso VIII passando a qualificar
o crime de homicídio, o emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido.
Saiba mais
Quanto ao meio de execução cruel, o legislador traz um rol de exemplos não taxativos: emprego de veneno,
explosivo, asfixia, tortura.
Recurso que dificulta ou impossibilita a defesa do ofendido diz respeito ao modo de execução do crime e o
legislador traz alguns exemplos também em rol não taxativo, como a traição, a emboscada e a
dissimulação.
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A prática de homicídio para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime
qualifica o crime pela conexão. Nesses casos, presume-se a existência de dois crimes, não sendo o
homicídio o crime-fim da empreitada delituosa. É o caso, por exemplo, do agente que mata a testemunha de
um crime anterior.
A Lei nº 13.104/2015 trouxe a figura do feminicídio, que é o homicídio praticado contra mulheres pelo
simples fato de serem mulheres. O Brasil possui altas taxas de feminicídio e só em 2020 uma mulher foi
assassinada a cada 6 horas e meia (FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA, 2021).
A Lei nº 13.142/2015 acrescentou a qualificadora nos casos de homicídio de agentes de segurança pública
e penitenciária. Para o legislador, a condição especial da vítima que exerce atividade relacionada à
segurança pública ou é familiar de quem exerce, resulta em maior reprovabilidade da conduta. Lembrando
que é preciso que o fato esteja relacionado à função exercida pela vítima.
O art. 121, §§3º e 5º versam sobre o homicídio culposo, que acontece quando o agente, violando o dever de
cuidado, provoca o resultado morte, embora esta não fosse sua vontade. A finalidade, portanto, é alcançar
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um fim lícito, mas em razão da inobservância do dever de cuidado objetivamente exigível, a cadeia causal
esperada é rompida, consequentemente produzindo o resultado indesejado.
Exemplo
É o caso do agente que, manuseando uma arma de fogo, dispara sem querer e atinge um amigo.
Veja que sua finalidade não é a de praticar o crime, mas, por ter violado o dever de cuidado, responderá pela
modalidade culposa.
O Código prevê hipótese de perdão judicial em seu §5º, ou seja, o juiz pode deixar de aplicar a pena se as
consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne
desnecessária.
No exemplo acima, caso a vítima do homicídio culposo fosse filha do agente, seria plenamente cabível o
perdão judicial.
Homicídio culposo
Nas hipóteses de crimes culposos, o §4º – 1ª parte, a pena é aumentada em 1/3 se o crime resulta de
inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato
socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em
flagrante.
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Homicídio doloso
Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3, se o crime for praticado contra pessoa menor
de 14 ou maior de 60 anos (§4º, 2ª parte).
O §6º prevê um aumento de 1/3 até a metade, se o crime for praticado por milícia privada, sob o
pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio.
O §7º informa que a pena do feminicídio é aumentada de 1/3 até a metade se o crime for praticado:
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Estamos diante de um crime doloso, pois o sujeito ativo deve possuir vontade livre e consciente de
contribuir para o suicídio ou a automutilação de outrem e não há previsão da modalidade culposa. E lembre-
se, o tipo não abrange o induzimento genérico, ele deve ser direcionado.
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa (crime comum) e a conduta deve ser comissiva, isto é, o agente
deve praticar uma ação.
Atenção
O suicídio e a automutilação em si são praticados pela vítima e não pelo sujeito ativo. O sujeito passivo
também pode ser qualquer pessoa, sendo imperativo, contudo, que se trate de pessoa determinada e que
possua capacidade de compreensão.
Diante da inovação legislativa, o art. 122 caput passou a prever um crime formal, ou seja, basta a prática dos
verbos nucleares para a consumação do delito.
O eventual resultado de morte ou lesão grave, tornou-se qualificadora do delito no §1º, como veremos a
seguir.
A tentativa pode se dar de forma indireta, como um bilhete com a instigação que fora extraviado antes do
recebimento.
A pena para a forma simples do tipo penal é de reclusão de 6 meses a 2 anos. Quanto às formas
qualificadas, há duas hipóteses. Se a automutilação ou a tentativa de suicídio resultarem em:
Morte
A pena é de 2 a 6 anos (art. 122, §2º).
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Duplicada
Se o crime for praticado por motivo egoístico, torpe ou fútil; e se a vítima for menor ou tiver
diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência (art. 122, §3º).
Se a conduta for realizada por meio da rede de computadores, de rede social ou transmitida
em tempo real (art. 122, §4º).
Aumentada em metade
Se o agente for líder ou coordenador de grupo ou de rede virtual (art. 122, §5º).
O §6º dispõe que se do suicídio ou da automutilação resultar lesão corporal gravíssima e for
praticada contra menores de 14 anos, ou contra quem não tiver o necessário discernimento para a
prática do ato, por enfermidade ou deficiência mental, ou que, por qualquer outra causa, não pode
oferecer resistência, o agente não irá responder pelo tipo penal do art. 122, mas sim pelo crime
previsto §2º do art. 129, do CP, isto é, lesão corporal qualificada, cuja pena é reclusão de 2 a 8 anos.
Morte expand_more
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O §7º indica que se o resultado morte for produzido contra menor de 14 anos ou contra quem por
enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou
que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência, o agente irá responder pelo tipo penal
de homicídio, previsto no art. 121 anteriormente estudado.
Saiba mais
Estado puerperal é uma perturbação fisiopsíquica, que atenua a magnitude da culpabilidade (PRADO, 2019,
p. 791) e, por isso, implica pena atenuada em comparação à do homicídio, com detenção de 2 a 6 anos. Veja
que o estado puerperal não se confunde com a inimputabilidade do art. 26, CP, em que não há culpabilidade
por completo. O infanticídio é uma espécie de homicídio privilegiado.
Estamos diante de um crime próprio, visto que apenas a mãe pode ser sujeito ativo do crime. Por isso,
entende-se, majoritariamente, pela impossibilidade de concurso de pessoas. O estado puerperal é
circunstância pessoal que não se comunica com terceiros. O sujeito passivo é o recém-nascido, desde que
viável a vida.
O crime é material, pois consuma-se com o resultado morte ou lesão corporal grave, sendo admitida a
tentativa. Além disso, trata-se de um crime doloso, sem previsão da modalidade culposa na legislação.
Apesar de haver discussões sobre o tema, prevalece que a gestação se inicia com a implantação do óvulo
na cavidade uterina (PRADO, 2019 p. 804).
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A gestante é o sujeito ativo do art. 124, que ocorre quando ela provoca ou consente que outra pessoa
provoque o aborto. A pena cominada é de detenção de 1 a 3 anos.
O terceiro também responde criminalmente se provocar aborto sem o consentimento da gestante, com pena
de reclusão de 3 a 10 anos (art. 125). Caso o aborto seja feito com o consentimento dela, a pena será de
reclusão de 1 a 4 anos (art. 126). Neste último caso, o terceiro responde na forma do art. 126 e a gestante
na forma do art. 124, 2a parte.
Se a gestante que consentir o aborto for menor de 14 anos, alienada, ou incapaz, ou ainda, se o
consentimento for obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência, a pena é a do art. 125: reclusão de 3
a 10 anos (art. 126, § único).
O sujeito ativo varia de acordo com o tipo penal, podendo ser tanto a gestante (crime
próprio), quanto qualquer pessoa que provoca o aborto. Quanto ao sujeito passivo, além
da gestante, quando vítima do delito, há quem entenda que o feto possa ser sujeito
passivo (PRADO, 2019, p. 801).
A forma qualificada pelo resultado está prevista no art. 127 e ocorre se, em consequência do aborto ou dos
meios empregados
Atenção
Lembrando que a forma qualificada não abrange a gestante como sujeito ativo. Nesses casos, o resultado
não é provocado de forma intencional (crime preterdoloso). Caso isso ocorra, haverá concurso de crimes
entre o aborto e a lesão ou o homicídio.
Já deu para notar que estamos diante de crimes dolosos (não há previsão de nenhuma hipótese culposa),
em que há vontade e consciência de praticar a interrupção da gestação e a consumação se dá com a morte
do feto. A tentativa é admitida.
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A legislação brasileira apresenta algumas hipóteses em que o aborto não é criminalizado, são as hipóteses
de aborto legal (art. 128):
Saiba mais
Em 2012, no julgamento da ADPF 54, o STF autorizou expressamente a interrupção da gravidez em casos de
anencefalia do feto, ou seja, quando as estruturas cerebrais não são corretamente desenvolvidas,
implicando inviabilidade extrauterina. Trata-se de uma causa excludente de ilicitude não prevista em lei.
Nesses casos, havendo consentimento da gestante, o aborto pode ser realizado.
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Questão 1
Com relação aos crimes contra a pessoa, previstos no Código Penal, é correto afirmar que
A todos os crimes do Capítulo I são julgados pelo Tribunal do Júri, sem exceção.
D o homicídio culposo pode se dar tanto de forma consumada quanto de forma tentada.
E o homicídio não pode ser qualificado pela motivação fútil e torpe simultaneamente.
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Os crimes dolosos contra a vida, previstos no Capítulo I, são todos julgados pelo Tribunal do Júri
conforme mandamento constitucional. A exceção fica nos casos dos crimes culposos, que serão
julgados pela Vara Criminal Comum. Ainda sobre os crimes culposos, sabemos que não admitem
tentativa, pois não há uma ação direcionada a uma finalidade determinada. Para a configuração da
qualificadora do art. 121, VII, é imperioso que o agente aja sabendo da condição especial da vítima.
Questão 2
E O aborto não é considerado crime contra a vida já que feto não é pessoa.
Com a reforma legislativa trazida pela Lei nº 13.968/2019, que trouxe as figuras qualificadas, a
possibilidade de tentativa passou deixou de ser controversa, tendo trazido, ainda, uma graduação de
pena a depender da materialização do resultado. Quanto à causa excludente de ilicitude nos casos de
interrupção de gravidez de feto anencéfalo, trata-se de inovação trazida pelo STF por meio de
mecanismos de interpretação da Constituição que não importam em novas figuras legislativas
necessariamente. Por fim, apesar de haver discussão quanto ao sujeito passivo nos crimes de aborto,
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não se discute que são considerados crimes contra a vida, sendo julgados pelo Tribunal do Júri, nos
termos do § 3º, I, do art. 122, CP.
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Lesão corporal
A especialista Renata Saggioro, mestre em Direito, discorre a seguir sobre a lesão corporal e suas diferentes
figuras. Vamos assistir!
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O que vai diferenciá-las é o resultado que produzirão, que são apresentados nos seus incisos. Perceba que a
lesão leve tem caráter residual, isto é, caso a conduta não se amolde a nenhuma das outras previsões, o
caput prevalecerá.
Atenção
Cuidado para não confundir a lesão leve com a contravenção penal do art. 21 da Lei de Contravenções
Penais, denominada vias de fato, que ocorre quando há o emprego de violência, porém, não com objetivo de
lesionar. O tapa no rosto é o exemplo mais comum.
Em razão da gradação das lesões, penas distintas foram atribuídas pelo legislador:
Lesão leve
A pena cominada é de detenção de 3 meses a 1 ano.
Lesão grave
A pena é de reclusão de 1 a 5 anos.
Lesão gravíssima
A pena é de reclusão de 2 a 8 anos.
Aqui, os sujeitos ativo e passivo podem ser qualquer pessoa (crime comum). São crimes materiais e, como
já sabemos, só se consumam com o resultado, admitindo também a forma tentada.
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Lembramos que nem toda lesão corporal é criminalizada, tendo em vista que em alguns casos o exercício
regular do direito (art. 23, III, CP) afasta a incidência do crime.
Exemplo
As lesões que decorrem de intervenção estética e da prática de esportes, como o boxe.
O §3º traz uma hipótese de crime preterdoloso, isto é, há dolo no antecedente mas não no resultado
produzido. A morte decorrente da lesão não foi produzida voluntariamente pelo agente e ele tampouco
assumiu o risco de produzi-la. Caso assim o fosse, estaríamos diante de um crime de homicídio. Portanto,
em razão da menor reprovabilidade da conduta, a pena cominada é de reclusão de 4 a 12 anos, sendo certo
que qualquer pessoa pode ser sujeito ativo ou passivo.
O §4º traz a hipótese de lesão corporal privilegiada com as circunstâncias idênticas ao do homicídio
privilegiado e, consequentemente, com diminuição de pena. Além disso, o legislador dispõe que a pena de
reclusão, nesses casos, pode ser substituída por multa, desde que as lesões não sejam graves (§5º, I). Essa
substituição de pena vale para casos de lesões recíprocas (§5º, II).
A modalidade culposa é admitida no §6º e para ela, assim como no homicídio culposo, é autorizada a
concessão do perdão judicial (§8º). Os §§7º e 12 preveem causas de aumento de pena.
Agora, vamos destacar as lesões corporais envolvendo a violência doméstica em que o legislador entendeu
se tratar de condutas com maior reprovabilidade, uma vez que o agente se vale das relações domésticas
presentes ou pretéritas para perpetrar a ação danosa.
Relações domésticas podem ser entendidas como aquelas que se “travam entre os membros de uma
mesma família, frequentadores habituais da casa, amigos, empregados domésticos, a coabitação é um
estado de fato, pelo qual duas ou mais pessoas convivem no mesmo lugar; a hospitalidade é a coabitação
temporária, mediante consentimento tácito ou expresso do hospedeiro” (PRADO, 2019, p. 849-850).
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Importante registrar que a recente Lei nº 14.188/2021 alterou a dinâmica das lesões corporais em contexto
doméstico. Vejamos:
Se a lesão for praticada contra a mulher, por razões da condição do sexo feminino, estamos diante da
conduta prevista no §13 do art. 129, com pena de reclusão de 1 a 4 anos.
Nos demais casos (ex.: vítima homem), a conduta continua sendo tipificada no §9º do art. 129, com pena
de 3 meses a 3 anos.
Esses dois parágrafos trazem novos preceitos secundários e, por isso, são considerados qualificadoras da
lesão corporal.
Atenção
O §13 não pune apenas as lesões praticadas no âmbito doméstico, mas também em razão da condição do
sexo feminino, e isso não necessariamente vai se dar no contexto doméstico.
Se a mulher for lesionada no contexto doméstico em situação que não diz respeito à sua condição de
mulher, aplica-se o §9º. É o caso, por exemplo, de duas irmãs que moram juntas e brigam por questões de
herança. Mas se a lesão contra a mulher ocorrer (estando no contexto doméstico ou não) pela questão de
gênero, aplica-se o §13.
Se a lesão for grave, gravíssima ou seguida de morte (§10), ou a vítima for pessoa com
deficiência (§11), a pena será aumentada em 1/3 se praticados no contexto doméstico.
Sobre as ações penais, as lesões leves e culposas são julgadas pelo rito dos Juizados Especiais Criminais,
nos termos da Lei nº 9.099/1995. Os crimes de violência doméstica e familiar contra a mulher são julgados
nos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher (art. 14, da Lei nº 11.340/2006), mas caso
eles ainda não estejam estruturados, o julgamento se dará em Vara Criminal Comum. Conforme a Súmula
536, do STJ, não são cabíveis, nestes casos, (violência doméstica contra mulheres) a suspensão condicional
do processo e a transação penal.
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Quanto à natureza da ação penal, ela será pública condicionada à representação nos casos de lesão leve,
culposa e de violência doméstica.
Neste último caso (violência doméstica), se praticados contra mulher, a ação será pública incondicionada
(SUM 542, STJ), bem como nos casos restantes.
Em que pese haver críticas contra a existência de crimes de perigo abstrato, entende-se, majoritariamente,
que basta a exposição a contágio de moléstia venérea para a consumação do crime. O núcleo do tipo é o
verbo expor, sendo a forma tanto por relações sexuais quanto por atos libidinosos.
Saiba mais
Moléstia venérea é um elemento normativo extrajurídico do tipo, já que a lei penal não define exatamente no
que consiste. Sífilis, cancro mole são alguns exemplos. Mas não se esqueça de que a norma penal tem
interpretação restritiva em respeito ao princípio da legalidade. A AIDS não é considerada moléstia venérea
para os fins deste crime.
O sujeito ativo aqui é qualquer pessoa contaminada com moléstia venérea, homem ou mulher (crime
comum). O sujeito passivo também, desde que, evidentemente, já não esteja contaminado pela moléstia, o
que configuraria crime impossível (art. 17, CP), ou que consinta com o ato, sabendo da moléstia. O exercício
da prostituição não afasta a possibilidade de ser vítima desse crime.
Dolo direto
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O agente sabe que está contaminado, vez que consciente e voluntariamente cria o perigo de contágio.
Dolo eventual
O agente deveria saber que está contaminado.
Estamos diante de um crime instantâneo que se consuma no ato sexual, sendo certo que
o contágio efetivo vai influir na quantidade de pena, mas não na consumação. E a
tentativa é admitida.
Caso o agente tenha a intenção de contaminar seu parceiro, estaremos diante da modalidade qualificada,
com pena de reclusão de 1 a 4 anos e multa (§1º) e o dolo passará a ser de dano e não mais de perigo.
O crime do caput possui menor potencial ofensivo e é julgado nos Juizados Especiais Criminais. O crime
qualificado é julgado na Vara Criminal Comum. E ambos só se procedem mediante representação (§2º).
O crime do art. 131 tem como núcleo do tipo praticar ato capaz de produzir contágio. E repare que o
elemento subjetivo do tipo abrange, necessariamente, a finalidade de transmissão de moléstia grave. O dolo
consiste, portanto, em transmitir a moléstia. Por isso, estamos diante de um crime formal (não se exige o
resultado contaminação) com dolo de dano e não dano de perigo, embora o legislador tenha erroneamente
assim o caracterizado.
Moléstia grave, como a venérea, também é elemento normativo extrajurídico do tipo e quem as define é o
saber das ciências médicas.
Exemplo
Podemos citar AIDS, febre amarela, lepra, difteria, cólera, sarampo, e demais doenças transmissíveis por
contágio.
O crime é comum, já que qualquer pessoa pode ser sujeito ativo e passivo. E a mesma observação sobre
crime impossível feita acima vale aqui também, isto é, se a vítima já está contaminada, a conduta é atípica
por impropriedade absoluta do meio.
Por fim, destacamos que a ação penal é incondicionada. E como a pena cominada é de reclusão de 1 a 4
anos e multa, o julgamento é feito pela Vara Criminal Comum.
O art. 132 traz previsão expressa de um crime subsidiário, pois se o fato constituir crime mais grave, haverá
subsunção a outro tipo penal. O núcleo do tipo penal é o verbo expor, que pode ser realizado tanto de forma
positiva (ação comissiva) quanto de forma negativa (ação omissiva).
Também temos aqui um crime comum, em que qualquer pessoa pode ser sujeito ativo ou passivo, sendo
certo, porém, que a vítima (ou mais de uma) deve ser pessoa certa e determinada. Se assim não o for, o
agente incidirá no crime de perigo comum previsto no art. 250 e seguintes do CP.
Quanto ao elemento subjetivo, note que o dolo é de perigo e que consiste na vontade do agente de expor a
vida ou a saúde de outra pessoa. Ele pode ser:
Direto
Vontade dirigida à produção do perigo.
Eventual
O agente é indiferente à produção do perigo.
A pena cominada é de detenção de 3 meses a 1 ano, desde que o fato não seja punível de forma mais grave.
Além disso, há previsão de uma causa especial de aumento no § único, nos casos em que o perigo é
produzido em decorrência do transporte de pessoas para a prestação de serviços em estabelecimentos de
qualquer natureza, em desacordo com as normas legais. Para todos esses casos, a ação penal é pública
incondicionada e julgada nos Juizados Especiais Criminais.
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22/03/2023, 07:32 Crimes contra a pessoa
O bem jurídico protegido aqui é a vida e a saúde daqueles que não podem se defender do perigo causado
pelo abandono.
Para configuração do crime é necessário que se prove que o abandono deixou a vítima
em situação de perigo efetivo.
Sujeito ativo só pode ser aquele que tem uma relação especial de custódia ou autoridade para com o sujeito
passivo, por isso, trata-se de um crime próprio. Entenda que essa relação jurídica entre sujeitos ativo e
passivo pode ser oriunda de preceitos da lei, de contrato ou até mesmo de certos fatos lícitos e ilícitos, não
sendo exigido que a incapacidade seja aquela do Direito Civil. Mas a inexistência desse vínculo pode
implicar o delito de omissão de socorro do art. 135, como veremos a seguir.
O crime se consuma instantaneamente com produção do perigo concreto à vida ou à saúde, ainda que nada
ocorra efetivamente com a vítima. E isso pode se dar tanto de forma positiva (crime comissivo) quanto de
forma negativa (crime omissivo). De toda forma, a pena é de detenção de 6 meses a 3 anos.
Quanto ao elemento subjetivo, o dolo pode ser tanto direto quanto eventual, e a forma culposa não é
admitida por lei. A tentativa, por outro lado, é admitida.
Os §§1º e 2º trazem figuras típicas qualificadas e ambos são crimes preterdolosos. Aqui, a pena será de
reclusão de 1 a 5 anos se resultar lesão corporal grave, e de 4 a 12 anos se resultar a morte. Já no §3º,
observe que temos três causas de aumento.
Todas essas modalidades são de ação penal incondicionada e julgadas pela Vara Criminal Comum.
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O art. 134 prevê uma espécie privilegiada de abandono em razão da motivação do sujeito ativo. Isso porque,
embora o núcleo do tipo sejam abandonar e expor, a finalidade de ocultar desonra própria veio insculpida no
tipo penal.
É, portanto, um delito especial próprio, pois apenas a mãe que concebeu a criança extra matrimonium ou o
pai adulterino ou incestuoso que podem ser sujeitos ativos do crime. O sujeito passivo, obviamente, é o
recém-nascido, cuja vida e saúde são protegidas pelo bem jurídico tutelado.
Direto
Eventual
O delito pode se dar tanto de forma positiva (crime comissivo) quanto de forma negativa (crime omissivo),
com pena cominada de detenção de 6 meses a 2 anos. Também é admitida a tentativa.
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Como no crime anterior, os §§1º e 2º trazem figuras típicas qualificadas pelo resultado (ambos são crimes
preterdolosos). A pena será de detenção de 1 a 3 anos se resultar lesão corporal grave e de 2 a 6 anos se
resultar a morte, lembrando que, nesses casos, a lesão e a morte são produzidas a título de culpa.
Por fim, a ação penal será pública incondicionada para todas as figuras típicas. Mas o crime do caput será
julgado nos Juizados Especiais Criminais, por ser de menor potencial ofensivo, enquanto as espécies
qualificadas na Vara Criminal Comum.
Como nos demais crimes deste capítulo, a previsão do art. 135 visa proteger a vida e a saúde humana,
sobretudo da pessoa necessitada de auxílio. Como a omissão de socorro se funda no dever de
solidariedade, o núcleo do tipo é deixar de prestar (assistência).
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa (crime comum), mas conforme as circunstâncias, poderá se
configurar o abandono de incapaz, anteriormente visto (art. 133), ou até mesmo abandono material (art.
244). O sujeito passivo é aquele que se encontra nas situações descritas no tipo penal.
Atenção
Se várias pessoas não prestam assistência, todas respondem pelo art. 135; entretanto, se ao menos uma
delas assistir à vítima, não há que se falar em crime. Além disso, a atuação só é exigida se não causar risco
pessoal.
Estamos diante de um crime omissivo próprio (há somente a omissão de um dever de agir), em que o crime
se consuma no momento da omissão. E como podemos perceber, o dolo aqui é o de perigo, que o sujeito
ativo deve conhecer. A tentativa não é admitida, pois é incompatível com o crime omissivo.
Veja que novamente temos uma modalidade de crime preterdoloso, em que só há dolo na omissão, e o
resultado é obtido a título de culpa, seja a lesão grave ou a morte.
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A ação penal é pública incondicionada para todos os casos e o julgamento realizado pelos Juizados
Especiais Criminais.
O sujeito ativo aqui pode ser qualquer pessoa (crime comum), desde que responda pelos interesses dos
estabelecimentos médicos. O sujeito passivo é aquele que necessita de atendimento.
O elemento subjetivo é o dolo, consistente na consciência e vontade de exigir pagamento como condição
para prestação do atendimento médico-hospitalar em situação emergencial e o delito se consuma com a
simples exigência de pagamento (crime de mera atividade). A tentativa, apesar de difícil configuração no
caso concreto, é admitida.
Os crimes são julgados pelos Juizados Especiais Criminais e a ação penal é pública incondicionada.
Chegamos ao último crime deste módulo, o crime de maus-tratos. Aqui, também se protege a vida e a
saúde, tendo como núcleo do tipo o verbo expor (a perigo).
O sujeito ativo só pode ser quem tenha pessoa sob autoridade, guarda ou vigilância (crime próprio),
enquanto o sujeito passivo é quem esteja submetido a ela. Mas atenção, o tipo exige uma finalidade
específica, isto é, a exposição a perigo tem por finalidade educação, ensino, tratamento ou custódia e isso
pode ser executado de diferentes formas, trazidas na parte final do tipo.
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Maus-tratos é um crime doloso (direto ou eventual), em que o agente produz com consciência e vontade o
perigo para obter a finalidade específica. A consumação se dá, portanto, com a exposição ao perigo, e a
conduta pode ser tanto positiva (comissiva) quanto negativa (omissiva). A modalidade tentada é admitida e
a pena atribuída é de 2 meses a 1 ano, ou multa.
Atenção
Se a intimidação ou o castigo importarem em intenso sofrimento, o crime é o de tortura (art. 1º, I, Lei nº
9.455/1997).
Se a criança ou adolescente forem submetidos a vexame ou constrangimento por quem lhe tem autoridade,
incidirá nas penas do art. 232 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
A ação penal é pública incondicionada para todos os casos, mas a conduta do caput é julgada pelos
Juizados Especiais Criminais e pelas demais pelas Varas Criminais Comuns.
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Questão 1
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A questão narra um crime qualificado pelo resultado (crime preterdoloso), ou seja, o agente possui dolo
na lesão corporal, porém, não tinha consciência e vontade de praticar o aborto na gestante, que se dá
na forma culposa. O Código Penal traz essa figura expressamente no art. 129, § 2º, V.
Questão 2
(Analista Jurídico do Ministério Público – SP / 2018) A respeito dos crimes contra a periclitação da
vida e da saúde, previstos no Código Penal, é correto afirmar que
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O crime de abandono de incapaz não exige que a relação entre os sujeitos ativo e passivo seja familiar.
O crime de contágio de moléstia grave não se dá apenas por relações sexuais, apesar de também ser
possível. Apenas o perigo de contágio venéreo que ocorre pela via sexual. Já o crime do art. 135-a não
restringe o sujeito ativo apenas ao médico, sendo certo que qualquer pessoa que responda pelo
estabelecimento médico-hospitalar pode ser também sujeito ativo (ex.: recepcionista). A omissão de
socorro abrange duas possibilidades de forma alternativa, ou seja, se o agente não prestou assistência,
mas pediu socorro, o crime não se configura.
Rixa é um crime que também visa proteger o bem jurídico da vida e da saúde humana e consiste na
participação em briga entre mais de duas pessoas, envolvendo vias de fato recíprocas de forma
desorganizada (ROIG, 2011, p. 76). Ou seja, é preciso que ao menos três pessoas participem (crime
plurissubjetivo), excluindo, evidentemente, aquela que entra para separar os contendores.
O núcleo do tipo é participar e, para fins do artigo, pouco importa o momento em que o agente ingressou na
rixa, se desde o início ou não. Além disso, estamos diante de um crime comum, já que os sujeitos ativo e
passivo podem ser qualquer pessoa. Mas perceba a peculiaridade desse tipo penal, pois os participantes
são sujeitos ativo e passivo ao mesmo tempo.
E o inimputável? expand_more
Ele é contabilizado para fins de enquadramento da rixa, mas não é considerado sujeito ativo, pois sua
culpabilidade é excluída (arts. 26 e 27, CP).
A rixa se consuma com a prática do embate violento que causa perigo de dano, não
havendo previsão da modalidade culposa. A tentativa só é admitida na rixa combinada
(ex proposito), e não na rixa de improviso (ex improviso).
O § único traz para nós a figura qualificada pelo resultado (crime preterdoloso), em caso de lesão grave ou
morte.
Atenção
O agente só responde pela modalidade qualificada se tiver ingressado na rixa antes do resultado ocorrer.
A ação penal nesses casos é pública incondicionada e tanto o fato típico do caput quanto do § único são
julgados pelo rito dos Juizados Especiais Criminais, por serem infrações de menor potencial ofensivo.
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Crimes contra a honra
Vejamos agora os crimes contra a honra e suas espécies. Com a palavra, a especialista Renata Saggioro,
mestre em Direito. Vamos lá!
Objetiva
É a reputação do indivíduo dentro de sua comunidade.
Subjetiva
Diz respeito ao decoro, ao sentimento de dignidade próprio.
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Calúnia
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Difamação
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Injúria
Já adiantamos que a calúnia e a difamação vão atingir a honra objetiva da pessoa, e a injúria atingirá a
subjetiva.
A calúnia consiste na falsa imputação de fato definido como crime, isto é, atribui-se falsamente a terceiro a
prática de um delito.
Atenção
Em homenagem ao princípio da legalidade, o crime não se configura se a imputação falsa for de
contravenção penal, tampouco uma imputação genérica.
Observe que o núcleo do tipo são caluniar e imputar, e os sujeitos ativo e passivo podem ser qualquer
pessoa (crime comum). A lei penal também pune aquele que, sabendo ser falsa a imputação, mesmo assim
a propaga (§1º).
Destacamos que o crime é comisso e admitido na modalidade dolosa (dolo direto ou eventual).
Como atinge a honra objetiva, o crime se consuma apenas se a falsa imputação chegar
ao conhecimento de um terceiro que não a vítima.
Por isso, é um crime formal, pois não se exige o efetivo dano à reputação do ofendido. A tentativa só é
admitida na forma escrita, visto que não há como tentar caluniar alguém oralmente.
O §2º dispõe ser punível a calúnia contra mortos, mas neste caso, o sujeito passivo não é o morto, e sim
seus familiares. O §3º, por sua vez, admite a exceção da verdade, isto é, se o acusado apresentar prova de
que diz a verdade, ele não responderá pela calúnia. Os incisos I, II, e III, no entanto, dispõem hipóteses em
que a exceptio veritatis não será aceita.
O crime de calúnia será julgado pelo rito dos Juizados Especiais Criminais.
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Diferentemente da calúnia, difamar significa imputar fato ofensivo (e não crime) à reputação da vítima, de
forma a atingir sua honra objetiva. O núcleo do tipo é o verbo imputar e os sujeitos ativo e passivo podem
ser qualquer pessoa (crime comum).
Trata-se de crime comissivo que só admite a modalidade dolosa cuja finalidade é ofender outra pessoa e
que se consuma quando a imputação ofensiva chega ao conhecimento de terceiro, que não a vítima.
É também um crime formal, pois basta que a ofensa seja feita, isto é, não importa, para fins de consumação,
que a honra tenha sido efetivamente atingida. Mas lembre-se, é preciso que a imputação seja feita de forma
séria (animus diffamandi), sendo certo que a intenção de brincar (animus jocandi) não é punível.
Só se admite a tentativa na forma escrita e, ao contrário dela, não há previsão de crime para a difamação de
mortos. Quanto à exceção da verdade (§ único), a regra geral é não ser cabível nos casos de difamação,
salvo se o ofendido for funcionário público e a ofensa for relativa ao exercício de suas funções.
A injúria consiste na atribuição de qualidade negativa ou imputação de um fato genérico, ofensivo à honra
subjetiva. Difere da difamação em que se atribui um fato ofensivo.
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Difamação
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Injúria
“João é um pilantra.”
Trata-se de um crime comissivo doloso, cuja finalidade do agente é ofender a honra subjetiva da vítima,
sendo certo que basta que o próprio ofendido tome ciência da ofensa para que o delito ocorra (formal).
Também estamos diante de um crime comum, visto que os sujeitos ativo e passivo podem ser qualquer
pessoa. E como nos demais crimes contra a honra, a tentativa só é admitida na forma escrita.
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O §1º admite duas hipóteses de perdão judicial. Os §§2º e 3º trazem modalidades de injúria qualificada.
Vejamos:
Injúria real
No §2º temos a injúria real e que poderá absorver a contravenção de vias de fato (é o caso, por exemplo, de
alguém que dá um tapa no rosto de alguém com a finalidade de humilhação).
Injúria discriminatória
No §3º temos a injúria discriminatória, relativa à utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião
ou origem.
Atenção
Atentemos a duas figuras comumente confundidas: a injúria racial e o racismo.
O crime de racismo (art. 20, Lei nº 7.7716/1989) tem uma pregação genérica contra determinada raça etnia,
religião ou origem, ou seja, são ofensas que atingem a toda uma coletividade, um número indeterminado de
pessoas. No caso da injúria racial, a intenção é de ofender, especificamente, a honra de alguém determinado
(ROIG, 2011, p. 84).
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Traz causas de aumento Traz hipóteses de exclusão do Prevê a retratação nos casos
relacionadas ao sujeito crime de injúria e difamação de calúnia e difamação (não
passivo (incisos I, II e IV), ao (não abrange a calúnia). abrange a injúria).
modo de execução (inciso III
e §2º) e ao meio de execução
(§1º).
Destacamos também que, em razão dos crimes contra a honra se darem de forma livre, é possível que a
vítima peça explicações em juízo, no intuito de melhor compreender determinadas ambiguidades e
esclarecer o ocorrido (art. 144).
A ação penal para todos os crimes contra a honra será privada, procedida assim, mediante queixa, e julgada
pelos Juizados Especiais Criminais.
1. A injúria real que resulta lesão corporal (ação penal pública incondicionada);
2. Quando o ofendido for o Presidente da República ou chefe de governo estrangeiro (mediante requisição
do Ministro da Justiça);
3. Quando o ofendido for funcionário público ou se tratar de injúria qualificada do §3º (mediante
representação).
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Questão 1
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No crime de rixa, o concurso de agentes é necessário, por isso, ele é plurissubsistente. Além disso, a
posição dos contendores não precisa ser definida, pois as agressões são generalizadas. A lei não previu
a modalidade culposa e o inimputável, apesar de não culpável, pode ser contabilizado para fins de
atingir o mínimo de três pessoas exigido. Pois não há fim especial de agir e tampouco se exige a
existência de lesões para incidência do caput, do art. 137, CP.
Questão 2
A difamação e a injúria são crimes contra a honra, sendo que a injúria atinge a honra
A
objetiva da vítima, e a difamação, a honra subjetiva.
Nos crimes contra a honra, a retratação do ofensor somente é possível nos crimes de
B
calúnia e difamação.
Maria, proprietária de um supermercado, sabendo que seu próprio filho praticara furto
C em seu estabelecimento, atribuiu ao empregado José tal responsabilidade, dizendo ser
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Imputar falsamente fato criminoso a outra pessoa configura crime de calúnia. A retratação, cabível
apenas nos crimes de calúnia e difamação, se anterior à sentença, isenta o acusado de pena. E a
exceção da verdade não é cabível para injúria.
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Crimes contra a liberdade pessoal
Vejamos agora as diversas espécies de crimes contra a liberdade pessoal. Com a palavra, a especialista
Renata Saggioro, mestre em Direito. Vamos lá!
O crime consiste em obrigar alguém a não fazer o que a lei permite ou fazer o que ela não manda, por meio
do emprego de violência, grave ameaça ou redução da capacidade de resistência. Trata-se de um crime que
é para ser lido em conjunto com o art. 5º, II, CF, pois sabemos que o indivíduo pode fazer tudo o que a lei não
proíbe expressamente. Por isso, o núcleo do tipo é o verbo constranger e abrange diversas condutas
diferentes.
Sujeitos ativo e passivo podem ser qualquer pessoa (crime comum). Atente-se, contudo, que se o agente for
funcionário público, vai incidir o art. 322, CP ou art. 4º, b, da Lei nº 4.898/1965 (abuso de autoridade).
A ação penal é pública incondicionada e seu processo e julgamento são realizados nos Juizados Especiais
Criminais.
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O núcleo do tipo é o verbo ameaçar, que pode se dar por diferentes meios e, para configuração do crime, não
se exige que a vítima de fato tenha se sentido ameaçada.
Atente-se que na ameaça se promete um mal injusto. A promessa de ajuizamento de ação, por exemplo, não
é ameaça, pois a conduta é lícita.
Diferentemente do constrangimento ilegal, a ameaça aqui é um fim em si mesmo e não meio para
constranger a vítima.
Sujeitos ativo e passivo podem ser qualquer pessoa (crime comum), mas o ofendido deve possuir
entendimento da ameaça. Temos aqui um crime doloso e a consumação se dá no momento em que a
vítima toma conhecimento da ameaça (crime formal). A tentativa é admitida.
Procede-se mediante representação (§ único) e é julgado pelo rito dos Juizados Especiais Criminais.
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O sujeito ativo é qualquer pessoa e o sujeito passivo também (crime comum). Todavia, o legislador previu
causas de aumento a depender da qualidade da vítima (§1º, I e II). A pena também aumenta se praticado em
concurso de pessoas ou com emprego de arma (§1º, III). As penas relativas à violência também são
aplicadas, indicando o cúmulo material obrigatório (§2º).
A pena é de reclusão de 6 meses a 2 anos e multa, sendo, portanto, uma infração de menor potencial
ofensivo, julgada e processada nos Juizados Especiais Criminais. No entanto, só se procede mediante
representação (§3º).
Aqui outra figura típica trazida pela recente Lei nº 14.188/2021, responsável também pela nova modalidade
de lesão corporal qualificada (art. 129, §3º, CP) já estudada no módulo 2.
O art. 147-B passou a prever, assim, o crime de violência psicológica contra a mulher, cuja descrição já
existia no art. 7º, II, da Lei nº 11.340/2006, mas sem o tipo penal correspondente. O legislador, portanto, quis
proteger a liberdade psíquica da mulher.
Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, mas o sujeito passivo necessariamente deve ser a mulher,
abrangendo, evidentemente, as mulheres transexuais, ainda que sem cirurgia de redesignação sexual.
O crime é doloso, porém, a consciência e vontade são exigidas nas condutas de ameaça, constrangimento,
humilhação etc., sendo irrelevante o desígnio de causar dano emocional.
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Trata-se de crime material, pois, para sua consumação, é exigido o dano emocional. E,
apesar de ser possível a modalidade tentada, esta é de difícil configuração.
A pena cominada é de reclusão de 6 meses a 2 anos e multa, se a conduta não constituir crime mais grave.
A ação penal é incondicionada e será julgada nos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a
Mulher, lembrando que, em sua ausência, nas Varas Criminais Comuns (Súmulas 536, 542 e 588, STJ).
Sujeitos ativo e passivo podem ser qualquer pessoa (crime comum) e só existe a modalidade dolosa. Além
disso, estamos diante de um crime material, em que é preciso a restrição de liberdade para a consumação
do crime, admitindo, inclusive, a modalidade tentada.
A pena do caput é de reclusão de 1 a 3 anos. Já os §§1º e 2º trazem figuras típicas qualificadas com novos
preceitos secundários (reclusão de 2 a 5 anos e reclusão de 2 a 8 anos, respectivamente). Para todas as
hipóteses, a ação penal será incondicionada e tramitará pelo rito dos Juizados Especiais Criminais.
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O crime é comum, pois os sujeitos ativo e passivo podem ser qualquer pessoa e o crime só tem previsão em
sua forma dolosa. Assim como o crime anterior, é classificado como permanente, pois sua consumação se
protrai no tempo e é também material, pois se dá quando a condição análoga à de escravo se materializa.
Por isso, admite tentativa.
Trata-se de crimes de ação penal pública incondicionada com processo e julgamento pelas Varas Criminais
Comuns.
Também visando proteger a liberdade e a dignidade humana, o crime do art. 149-a visa coibir a objetificação
de um ser humano por outro. Para tanto, traz diversos comportamentos no caput (tipo misto alternativo) que
se aplicam às situações descritas nos cinco incisos.
Como podemos verificar, os sujeitos ativo e passivo podem ser qualquer pessoa e só há previsão para a
modalidade dolosa (direto ou eventual). A consumação se dá no momento efetivo de tráfico, sem a
exigência da produção dos resultados dos incisos. Sendo assim, estamos diante de um crime formal em
que se admite a tentativa.
Trata-se de ação penal incondicionada. O processo e o julgamento são feitos nas Varas Criminais Comuns.
O tipo penal protege a liberdade individual, em especial a tranquilidade doméstica e a paz íntima, sendo o
núcleo do tipo os verbos entrar ou permanecer.
Atenção
Da leitura do art. 150, note que o consentimento do morador afasta a tipicidade da conduta. Mas uma
observação importante: estamos diante de um crime subsidiário, isto é, se ele for elementar de outro crime
(por exemplo, furto), será absorvido.
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, já o sujeito passivo é o morador. Isso significa que a entrada e
permanência em residências desabitadas não caracterizam o crime.
Perceba que quanto ao elemento subjetivo, o legislador apenas previu a modalidade dolosa (dolo direto ou
eventual) e para fins de consumação, basta a entrada ou a permanência do agente no domicílio alheio
(crime de mera conduta), admitindo, portanto, a tentativa.
A ação penal é pública incondicionada e o processo e julgamento feitos pelos Juizados Especiais Criminais.
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O tipo penal traz três espécies de crime (caput; §1º, I; e §1º, II, III, IV), e visa proteger a liberdade individual
sob o aspecto da liberdade de manifestação do pensamento (PRADO, 2019, p. 1034). O tipo penal do caput,
contudo, foi revogado pelo art. 40 da Lei nº 6.538/1978.
O núcleo do tipo para todos os crimes é o verbo devassar e a definição de correspondência vem trazida no
art. 47 da Lei nº 6.538/1978.
A doutrina se divide sobre a possibilidade de ser considerada para fins do art. 151 (ROIG, 2011, p. 96;
PRADO, 2019, p. 1036).
Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, com exceção, evidentemente, do remetente e do destinatário, que
são os sujeitos passivos do crime. Quanto ao elemento subjetivo, só há previsão legal de crime doloso e
este se consuma quando o agente toma conhecimento do conteúdo da correspondência, por isso, é um
crime de mera atividade e que admite tentativa.
Os crimes do caput e §1º são de competência dos Juizados Especiais Criminais e os demais das Varas
Criminais Comuns.
Por fim, a ação penal é condicionada à representação em todos os casos, salvo nos casos do art., §1º, IV, e
do §3º.
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O tipo penal visa proteger a intimidade (art. 5º, X, CF), mais precisamente, o segredo cuja divulgação pode
causar dano a outrem. O núcleo consiste no verbo divulgar, isto é, tornar público, o que exige,
necessariamente, que seja divulgado a um número indeterminado de pessoas.
O sujeito ativo é aquele que detém a correspondência confidencial ou seu destinatário, por isso, é um delito
próprio. O sujeito passivo é a pessoa sujeita ao dano com a divulgação do segredo.
O legislador só previu a modalidade dolosa e sendo um crime de mera conduta, basta a divulgação, ou seja,
não é necessária a materialização de efetivo dano. Admite-se, assim, a tentativa.
A conduta do caput tem pena cominada de detenção de 1 a 6 meses ou multa, e a ação penal é pública
condicionada à representação (§1º). Já o §1º-a prevê a figura qualificada, sendo certo que se houver
prejuízo para a Administração Pública, a ação penal será incondicionada.
Lembre-se de que a conduta do caput é julgada pelos Juizados Especiais Criminais e a modalidade
qualificada pela Vara Criminal, podendo ser tanto estadual quanto federal.
O crime do art. 154 visa proteger os segredos que são obtidos em razão de atividade profissional em
homenagem à confiança para seu exercício.
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O sujeito ativo é aquele que tem conhecimento do segredo, em razão de sua atuação (crime próprio) e o
sujeito passivo aquele que pode sofrer algum dano com sua divulgação.
O crime só é previsto na modalidade dolosa e se consuma com a divulgação (crime formal), sendo admitida
a forma tentada.
A ação é pública condicionada à representação (§ único), com processo e julgamento feitos pelos Juizados
Especiais Criminais.
O núcleo do tipo consiste em invadir dispositivo informático de uso alheio e o bem jurídico tutelado é a
privacidade alheia.
Sujeitos ativo e passivo podem ser qualquer pessoa (crime comum) e só é admitida a modalidade dolosa,
com consumação no momento da invasão.
O §1º traz uma forma equiparada, e os §§2º e 5º, as causas de aumento. Já o §3º é a forma qualificada que
pode ter a pena aumentada na hipótese do §4º.
Do art. 154-b extrai-se que a ação se procede mediante representação, mas será pública incondicionada se
os crimes forem praticados contra a administração pública direta ou indireta de qualquer Poder da União,
dos estados, do Distrito Federal ou dos municípios, ou contra empresas concessionárias de serviços
públicos.
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Questão 1
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(Delegado de Polícia/SP – 2018) No que concerne ao crime de constrangimento ilegal (CP, art. 146), é
correto afirmar que
tipifica-se o crime, apenas, pela ação violenta, não havendo previsão legal para punição
A
por mera grave ameaça.
tipifica o crime a coação exercida para impedir suicídio, o que se explica pelo fato de o
C
suicídio não ser penalmente relevante.
consuma-se quando a vítima, sem norma legal que a obrigue a tanto, faz ou deixa de
E
fazer, cedendo à determinação do agente.
O crime do art. 146 consiste no ato de constranger alguém a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o
que ela não manda. Lembre-se de que a lei não prevê a modalidade qualificada para esse crime e a
grave ameaça também pode ser o meio de exercício do constrangimento.
Questão 2
(Agente de Polícia Civil/AC – 2017) O delito de sequestro ou cárcere privado é classificado como crime
A continuado e de perigo.
B permanente e de dano.
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C permanente e de perigo.
D continuada e de dano.
E habitual e de perigo.
Sequestro e cárcere privado são um crime permanente e de dano. Permanente, pois a consumação se
protrai no tempo; de dano, pois há uma efetiva lesão ao bem jurídico que, no caso, se trata da liberdade
individual de locomoção. O crime continuado corresponde ao concurso de crimes em que o agente
pratica dois ou mais crimes da mesma espécie, mediante duas ou mais condutas, os quais, pelas
condições de tempo, lugar, modo de execução e outras, podem ser tidos uns como continuação dos
outros. O crime habitual consiste na prática reiterada e uniforme de vários atos que revelam um
criminoso estilo de vida do agente.
Considerações finais
Como podemos perceber, trata-se de crimes bastante diversos entre si e com diversas inovações
legislativas que vão sendo somadas à redação original do Código Penal, datado de 1940.
O estudo da Parte Especial do Código Penal não deve ser separada do estudo da Parte Geral, pois é de lá
que tiraremos as ferramentas para sua aplicação. Sabemos que o direito penal promove forte intervenção
na esfera individual e, por isso, demanda aplicação cautelosa e individualizada. Não podemos nunca
esquecer que o que está em jogo é a liberdade e, em última análise, a dignidade humana.
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headset
Podcast
Para encerrar, a especialista Renata Saggioro trata de forma sintética dos crimes contra a pessoa. Vamos
ouvir!
Referências
PRADO, L. R. Curso de Direito Penal Brasileiro. 17. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019.
ROIG, R. D. E. Direito Penal 2: parte especial. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA. Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Ano 15, 2021.
Consultado na internet em: 13 out. 2021.
Explore +
Para se aprofundar sobre o tema do feminicídio e os limites da criminalização de condutas como forma de
enfrentar a violência de gênero, leia o artigo O feminicídio nas fronteiras da América Latina: um consenso?,
de Aline Passos, publicado na revista Ecopolítica, n. 12, mai-ago, p. 70-92, em 2015.
Para uma reflexão sobre o tema do aborto, leia a Pesquisa nacional de aborto 2016, de Debora Diniz,
Marcelo Medeiros e Alberto Madeiro, publicada na revista Ciência e Saúde Coletiva, v. 22, n. 2, p. 653-660,
em fevereiro de 2017.
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Sobre um debate mais aprofundado a respeito dos crimes contra a honra, leia o livro Crimes contra a honra,
de Frederico Abrahão de Oliveira, publicado pela Livraria do Advogado, edição de 1994.
Para pensar a respeito do crime de homicídio, ouça o podcast Praia dos Ossos, disponível em vários
aplicativos de áudio.
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