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Direito Penal IV - Prof Orlando Faccini Neto | 2021/1 - ERE

Victória Álvares

Direito Penal IV

CRIMES EM ESPÉCIE

1. Crimes contra a vida


A vida é um bem jurídico que é pressuposto para a fruição para os demais
interesses, haja vista que sem ela o sujeito não cogita de patrimônio, liberdade.
A primeira geração dos direitos fundamentais foram compreendidos com a não
intervenção do Estado.
A segunda geração dos direitos fundamentais passa a cobrar atuação estatal
(direitos econômicos, sociais, culturais).
Percebeu-se que os particulares também violam os direitos fundamentais de outras
pessoas, de modo que os direitos fundamentais também devem ser protegidos pelo Estado
no âmbito da relação entre particulares. Sendo assim, os bens jurídicos penais têm
uma fundamentação de caráter constitucional. A ausência do direito penal implica
a violação dos direitos fundamentais.
Proibição de insuficiência: critério de avaliação de constitucionalidade dessa
proteção penal, que se assegurar-se insuficiente será inconstitucional. Ex: se viesse lei
dizendo que a pena do homicídio seria de 01 a 05 anos, observando o CP se constataria
insuficiência, sendo que o STF poderia declará-la inconstitucional por meio do controle de
constitucionalidade.
Não há direito fundamental que seja absoluto. Exemplo de “relativização” do direito
à vida: legítima defesa. Comete-se ato ilícito mas não antijurídico, não havendo crime.
A vida enquanto bem jurídico é protegida em várias fases: na própria vida
intrauterina (aborto), “logo” após o parto (infanticídio), durante a vida (homicídio).
Os crimes dolosos contra a vida são julgados pelo júri, que é um conjunto de 7
pessoas da comunidade que dirá se o réu é culpado. O processo penal segue normalmente,
mas se for doloso contra a vida, o juiz manda o réu a júri ou não.

a. HOMICÍDIO
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Episódio muito traumático na vida das famílias, fora as consequências óbvias para a
própria vítima, que perde o direito de viver uma série de experiências, uma trajetória
própria. Decisão egoísta de quando o outro deve deixar de viver.
O homicídio é um crime material (crime que exige resultado para a sua
consumação). O tipo penal descreve conduta e resultado, exigindo a produção do
resultado. É considerado crime comum, haja vista que crime próprio pressupõe uma
condição especial do sujeito ativo (como corrupção passiva). Crime de forma livre, pois
se pode praticar de várias formas (afogamento, tiro, envenenamento). Crime
instantâneo, que se consuma no momento definido do tempo. Crime de dano, pois
implica em lesão ao interesse tutelado pela norma. Crime que admite a tentativa
(crime não se consuma por vontade alheia ao agente; quanto mais perto da consumação,
menos se reduz a pena). Crime comissivo, que se consuma mediante um agir positivo,
um fazer; no entanto, pode acontecer do homicídio ser praticado por omissão, nos casos
em que o omitente tem o dever normativo de atuar (crime comissivo por omissão/crime
omissivo impuro/crime omissivo impróprio).
- Lei 9.434/97: constitui morte, para o efeito de transplante de órgãos, a interrupção
das funções encefálicas/cerebrais.
- Se alguém tenta matar alguém e essa pessoa fica em coma, ela responde por
tentativa de homicídio. Caso a pessoa posteriormente morra, há várias implicações
processuais.
O art. 121 considera o dolo, mesmo que o tipo penal também possibilite o
homicídio culposo. Há o dolo direto, em que há intenção de matar, e o dolo eventual,
em que se assume o risco de causar a morte (ex: engenheiro que projeta prédio que cai e
morrem várias pessoas, pessoa que vai atirar em maçã na cabeça de alguém, mas acerta
ela)
Objeto material -> pessoa ou coisa sobre a qual recai a conduta criminosa: pessoa
vitimada.
Objeto jurídico -> interesse protegido pela norma: vida humana.

HOMICÍDIO PRIVILEGIADO

Causa de redução de pena (minorantes/majorantes) não é a mesma coisa que


circunstâncias atenuantes:
● Nas atenuantes/agravantes, a legislação não define um patamar de diminuição e
aumento, quem decide é o juiz. Nos casos de aumento e diminuição, está previsto o
quantum.
● As atenuantes e agravantes estão previstas exclusivamente na parte geral do CP.
Nos casos de aumento/diminuição, há previsão na parte geral e na parte especial.
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● As atenuantes e agravantes estão na 2ª fase da dosimetria. Já os casos de
aumento/diminuição estão na 3ª fase.

Relevante valor social: algo que repercute “positivamente” no seio da sociedade.


Situações de lealdade, quando se mata alguém que de alguma maneira atuou contra a
coletividade, interesse das pessoas. Exemplo: alguém que mata um “traidor da pátria” ou
um defensor das causas mais repugnantes.
Relevante valor moral: sentimento de ordem pessoal, individual. Uma desonra.
Exemplo: uma moça diz para o pai que sofreu um sequestro e foi agredida, então o pai
mata o assaltante/estuprador.
Há quem defenda que os casos de eutanásia se enquadram aqui, como homicídio
por piedade.
Ortotanásia: deixar de prolongar artificialmente a vida.
Eutanásia: realizam-se condutas que causam efetivamente a morte.
Suicídio assistido: se dá quando alguém ajuda outrem a tirar a própria vida.
Sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta
provocação da vítima: domínio significa completa influência da violenta emoção, logo
em seguida, sentido de imediato. Situação em que alguém é humilhado e fica transtornado.
Na forma do art. 30 CP, o privilégio não se comunica ao partícipe: se alguém me
ajuda a matar alguém, e ela não tem o relevante valor social que eu tenho, este não se
comunica para ela. As circunstâncias e as condições de caráter pessoal não se
comunicam.

HOMICÍDIO QUALIFICADO

É considerado crime hediondo. As circunstâncias são objetivas ou subjetivas.


OBJETIVAS:
Com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio
insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum: meio cruel, causando
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intenso sofrimento. Perigo comum, como quando coloca-se uma bomba no carro de
alguém, estando ele em via pública.
À traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso
que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido: crime que pressupõe
confiança entre o executor e a vítima; amarrar a vítima antes de matá-la; 10 pessoas
matando um.
Para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de
outro crime: matar a testemunha de um outro delito que cometeu, por exemplo.

SUBJETIVAS:
Mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe:
matador contratado para executar uma pessoa, mediante pagamento ou promessa
qualquer de retorno.
Motivo torpe: motivo repulsivo, vil, que sinaliza especial perversidade do agente,
como aquelas situações que dizem respeito à disputa de território em tráfico de drogas.
Vingança pode ser motivo torpe, mas é preciso ter cuidado, como quando alguém decepa o
braço de alguém e esse alguém se vinga matando-o (isso pode ser tanto qualificadora como
privilegiadora).
Motivo fútil: motivo banal, pequeno. Exemplo: matei ele pois me devia R$ 2,00.

Pode o homicídio ser ao mesmo tempo privilegiado e qualificado? Pode, quando as


qualificadoras são objetivas, pois o privilégio é sempre subjetivo. Se não, seria ilógico. E
nesses casos, a jurisprudência é uníssona ao dizer que crime de homicídio qualificado
privilegiado não é considerado hediondo.

Feminicídio
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Forma de homicídio qualificado que ocorre quando o crime é praticado contra a
mulher, por razões da condição do sexo feminino, que envolve situações de violência
doméstica e familiar ou menosprezo à mulher. Nem toda morte de mulher enseja
homicídio.
A pena do feminicídio é mais grave do que a do homicídio simples na medida em
que o sujeito que o pratica está demonstrando com a sua prática uma espécie de visão de
mundo com a qual não podemos compactuar. Visão definida como uma espécie de
superioridade masculina, algo como subalternidade da mulher, que no fundo é tratada
como objeto, cuja destruição fica à livre vontade do sujeito. Visão de mundo que se
expressa na conduta.
Por que uma mulher que mata o marido não recebe o mesmo tratamento? O
princípio da igualdade pressupõe o tratamento dos iguais como iguais e dos desiguais
como desiguais. Nesse sentido, o histórico da violência contra a mulher sempre se
apresentou tendo a mulher em posição de desfavorecimento. Assim, a proteção penal
conferida à mulher deve ser mais densa, abrangente do que a conferida ao homem.

HOMICÍDIO CULPOSO

Trata-se de tipo penal aberto. São praticados de três formas: imprudência (agir
descumprindo o dever de cuidado, fazer o que não se deve), negligência (deixar de fazer
aquilo que o cuidado exigia) e imperícia (diz respeito ao exercício mal realizado de uma
conduta profissional, relacionado a conhecimentos específicos).
Exemplos: sujeito que deixa a arma em cima da mesa e o filho pega e atira, ou está
limpando a arma e sem querer atira, sujeito que deixa o veneno em algum lugar e alguém o
toma.
Homicídio culposo na direção está previsto na parte especial, tem outra pena.
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§ 5º: perdão judicial, como no caso do pai matar culposamente seu filho, limpando a
arma. É como se sua pena já fossem as consequências de sua própria atitude. Ou se está
dirigindo o carro, bate, o carona morre e o motorista fica tetraplégico.

b. SUICÍDIO

Induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio são julgados pelo tribunal do juri. Já


à automutilação, entretanto, deixou de ser crime doloso contra a vida, configurando-se
como crime de lesão corporal, sendo a competência do juiz singular.
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Este tipo penal não se concretiza quando há uma invocação genérica, e
não direcionada a uma vítima específica (ou a um grupo específico), alusiva ao suicídio ou
atomutilação. Por exemplo, um livro que trate dessas temáticas, ou um sujeito em praça
pública, não se configura.
INDUZIR: Fazer nascer uma ideia, colocar na cabeça de alguém algo que não havia.
INSTIGAÇÃO: Amplificação de algo que já havia, incentivo. Sendo forma de
participação moral, não material, assim como a indução.
AUXÍLIO: Auxílio material para o fato, entregando o remédio, arma usados no
suicídio.

● Referência à “brincadeiras” de internet existentes principalmente em


algumas faixas etárias.

É um crime comum, qualquer pessoa pode realizá-lo. É crime formal, pois sua
prática não exige resultado, isto é, mesmo que a pessoa não se suicide, quem praticou
responde pelo crime. É crime comissivo, exigindo um atuar. É crime de forma livre,
podendo ser praticado por meio palavras, gestos incentivadores, cartas, etc.
Em alguns países a participação no suicídio não é punida, como por exemplo na
Alemanha. O suicídio não é um ato criminoso (nem no Brasil), então como iremos punir a
participação nele? Para eles é uma questão puramente normativa e dogmática, não moral.
Isto é, essa punição deriva da teoria do concurso de agentes, em que a participação é
sempre acessória do fato principal. Se o fato principal não é criminoso, não há como a
participação ser.

c. INFANTICÍDIO

Foi uma opção legislativa criar um tipo penal específico, e não como um tipo penal
qualificado de homicídio.
“Homicídio” cometido pela mãe contra seu filho nascente ou recém nascido, sob a
influência do estado puerperal.
Antes do parto: aborto.
Durante o parto ou logo após: infanticídio.
Depois do “logo após”: homicídio.
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Crime próprio, pois exige uma qualidade especial do sujeito ativo. Crime
material, pois exige resultado (morte do filho), e admite tentativa.
Estado puerperal alude a uma espécie de desajuste, conturbação em nível
psicológico, que se apresenta para algumas mulheres em consequência do parto. Pode ser
um misto de aspectos biológicos (hormonais, por exemplo) e emocionais (o novo que se
apresenta). Não exige prova pericial para que seja afirmado. É quase como afirmar que
se a mulher mata o filho durante o parto ou logo após, será configurado o
estado puerperal.
Esse estado, em alguns casos, pode se estender por alguns dias, de modo que ainda
se configuraria infanticídio.
Participação ou coautoria: Se a mãe comete com a ajuda do pai, ele responde por
qual crime? A doutrina diz que também por infanticídio, por força do artigo 30 do CP, por
ser elementar do tipo penal o fato de ser mãe uma dos autores.
Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo
quando elementares do crime.

d. ABORTO

Aborto é a cessação da gravidez, cujo o início se dá com a nidação


(alojamento do zigoto no útero materno), antes do seu termo normal.
A referência à nidação é o marco temporal para o início da vida. Sem essa
referência, a pílula do dia seguinte poderia ser considerada aborto, por exemplo.

CRIMINALIZAÇÃO X DESCRIMINALIZAÇÃO DO ABORTO


Nos EUA, o aborto é descriminalizado, e a tendência é essa na Europa.
Há condições e prazos para o aborto, normalmente. A mulher comparece a um local,
em que é orientada.
Será que o direito penal deve repreender, punir, a mulher que passou por alguma
circunstância muito difícil para ela, que a levou ao aborto, levando-a após ao presídio?
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De acordo com a redação do art. 128, não se pune o médico. No entanto, se a mulher
é estuprada e compra um remédio para abortar, em princípio será culpabilizada.
ADPF 54: STF define que não se pune a interrupção da gravidez quando o
feto for anencéfalo. Considera-se amplificar um sofrimento da mulher prendê-la por
isso.
No caso do nosso CP, não se estabelece nem um marco temporal para a realização
dos abortos permitidos. Então, a rigor, poderia se realizar em qualquer momento.
Entretanto, as normas situadas no âmbito da medicina desaconselham, pois há maior risco
para a mãe e também a condição de sofrimento no geral, até para o feto, é maior. Assim,
precisaríamos de uma regulação legislativa mais madura.

No caso do aborto, há uma exceção pluralística à teoria monística. Isto é, há penas e


crimes diferenciados a depender de quem se trata.
Se a mulher consente com a realização do aborto, responde pelo art. 124, ao passo
que quem realizar nela responde pelo art 126. É crime preterdoloso.
Se a mulher está grávida e de uma agressão resulta o aborto, o agressor responde
pelo art. 125. É crime culposo.
Se a mulher grávida é morta, é uma hipótese de concurso formal (mediante um
único agir, o sujeito pratica dois crimes) entre homicídio e aborto sem o consentimento da
gestante.

e. LESÃO CORPORAL
A referência à saúde no tipo penal é relevante para casos por exemplo relacionados
à contaminação por alguma doença. Não é integridade corporal apenas por aquilo que é
visível.
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No cometimento de homicídios, também se comete a lesão corporal. Porém, se
responde apenas pelo crime mais grave em razão do princípio da consunção. A lesão é
um “caminho” para o homicídio.

É um crime comum, crime material, crime de forma livre, crime


comissivo, crime de dano (no sentido da classificação, pois há lesão ao bem jurídico).
No caso da lesão corporal leve, a ação penal é condicionada à representação da
vítima, ou seja, condicionada a sua manifestação de vontade.
A autolesão é impunível. Contudo, na hipótese prevista no art. 171, § 2º, inciso I, em
que um indivíduo usa da autolesão para conseguir algum tipo de seguro, como uma espécie
de fraude, estelionato.
● Essa ofensa à saúde corporal de outrem em alguns casos ocorre com consentimento.
Nesses casos, não é crime de lesão corporal, e a doutrina dá três possíveis
explicações teóricas para essa justificativa:
○ Princípio da adequação social, isto é, essas condutas são aceitas na sociedade
então não são criminalizadas. Essa é uma justificativa ruim.
○ Espécie de exercício regular de direito: é uma das causas excludentes da
antijuridicidade ou ilicitude.
○ Teoria da imputação objetiva: não é criado risco proibido ao bem
jurídico, então não há imputação objetiva. Se estou praticando boxe, estou
dentro das regras.
● Por exemplo: alargadores, piercings, tatuagens, esportes de lutas, certas práticas
sexuais que geram algum tipo de lesão, como sadomasoquismo.
A lesão corporal leve é competência do JeCrim.

A LESÃO CORPORAL GRAVE exige perícia após os 30 dias referidos no artigo.


Não necessariamente as atividades são relacionadas ao trabalho, mas sim habituais, isto
é, pode ser uma criança que deixa de brincar, um músico que deixa de tocar violão, entre
outros.
Também será grave se houver risco de vida, debilidade permanente, aceleração do
parto.

A LESÃO CORPORAL GRAVÍSSIMA (§2°) exige que a incapacidade seja


permanente para o trabalho; enfermidade incurável (há doutrina que considere a
contaminação voluntária de HIV); perda ou inutilização do membro, sentido ou função;
deformidade permanente; aborto.
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A LESÃO CORPORAL SEGUIDA DE MORTE (§3°) é crime preterdoloso,


ou seja, o dolo do autor está direcionado à lesão corporal, porém, disso decorre a morte da
vítima (não intencionada), de culpa. É dolo na conduta e culpa no resultado.
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Na LESÃO CORPORAL CULPOSA pouco importa a intensidade da lesão. Se o
pé foi machucado ou amputado, tudo é culposo. Quanto mais grave, mais alta a pena,
claro. A lesão corporal culposa é competência do JeCrim.

Nos casos de violência doméstica, a ação penal é pública incondicionada. Mesmo


que a vítima não queira ou não tenha interesse em processar o agressor, o MP deve agir
(Súmula 542 STJ).

f. CRIMES DE PERIGO
Nos crimes de dano efetivamente há uma lesão do bem jurídico. Nos crimes de
perigo há uma probabilidade de dano ao bem jurídico.
CRIMES DE PERIGO CONCRETO: Aqueles em que se exige a prova da
probabilidade do dano/perigo. Ex: crime de dirigir sem carteira, precisa provar que estava
fazendo manobras perigosas, furando sinaleiras etc.
CRIMES DE PERIGO ABSTRATO: A probabilidade de dano é presumida, não é
necessário provar que houve risco real no caso concreto. Ex: direção alcoolizado.
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CRIME DE PERIGO INDIVIDUAL: Exposição de número determinado/
definido de pessoas ao perigo.
CRIME DE PERIGO COLETIVO: Exposição de número indeterminado/
indefinido de pessoas ao perigo. A coletividade é ameaçada.

Dolo eventual também cabe: “de que sabe ou deve saber”.


Crime formal, pois não se exige a contaminação, basta a exposição ao risco. Se o
sujeito queria contaminar a vítima, é lesão corporal.
Somente se procede mediante representação penal.
O legislador não define o que é moléstia grave. Há autores que consideram um tipo
penal em branco.

Iminente é o que está por vir.


Crime de perigo concreto, pois exige a exposição efetiva a perigo.
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Crime próprio, pois exige uma especial qualidade do sujeito ativo, isto é, ter a
guarda, vigilância ou a autoridade do incapaz. Há pessoas que tem o dever de cuidar de
outras.

Desonra própria: ocultar gravidez antes do casamento. Se a mãe abandonar o filho


não para ocultar desonra própria, cabe o art. 133.
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Crimes omissivos podem ser:
Puros ou próprios: a própria conduta é o deixar de fazer, se omitir.
Impuros/impróprios/comissivos por omissão: aqueles cujo núcleo do tipo é
um fazer/agir, mas podem ser praticados em situações específicas, quando quem se omite
tem o dever legal de evitar o resultado. Ex: mãe que deixa de alimentar o filho, que morre;
professor de natação que não faz nada quando o aluno se afoga.
Assim, nos crimes de omissão de socorro, o que há é um dever genérico e amplo de
solidariedade, não um dever legal.
É crime de perigo abstrato, pois a própria situação de perigo já configura
omissão de socorro.
O momento consumativo da omissão de socorro se dará na “perda da última
chance”: quando a última chance do sujeito de prestar assistência tiver sido perdida.
No caso da omissão do condutor à vítima de trânsito, a pena é outra, prevista no art.
304 do CTB.

É um tipo misto alternativo, quando o CP descreve várias condutas, e se o


sujeito pratica uma só ou várias delas, comete o mesmo crime. É um crime próprio, pois
exige uma qualidade especial do autor, é crime de perigo concreto, pois exige a
exposição a perigo. Crime de forma vinculada, pois as formas de execução estão
determinadas no tipo penal.
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Exige um particular elemento subjetivo: finalidade específica de correção ou
disciplina.

A rixa é um crime plurisubjetivo, pois o tipo penal exige a presença de várias


pessoas. Se consiste em briga de um grupo contra outro. Como por exemplo, torcidas de
futebol, grupos políticos.

2. Crimes contra a honra


Honra é o bem jurídico tutelado.
Honra é o patrimônio moral da pessoa, consistindo em sua
respeitabilidade e conceito social (honra objetiva), e naquilo que a pessoa
pensa de si própria (honra subjetiva).
Discussão metajurídica: é mesmo adequada a proteção penal da honra? Afinal, o
Direito Penal deve ser a ultima ratio do sistema, de modo que ações na área cível poderiam
dar conta dessa problemática.
A honra tem proteção constitucional no art. 5º, inciso X, da CF.
No passado, a violação à honra das pessoas era respondida com agressão. Sempre
houve desejo de proteção da honra. A história da honra no nosso ordenamento demonstra
como os bens jurídicos contêm uma valoração decorrente do universo cultural em que
estamos inseridos.
Calúnia e difamação atentam contra a honra objetiva, enquanto a injúria
diz respeito à honra subjetiva.

a. CALÚNIA
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Nesse sentido, destaca-se que a imputação deve ser falsa e deve aludir a um crime
(contravenção penal não consubstancia calúnia, mas será difamação).
Fora isso, diz respeito a fatos, não a adjetivações. Por exemplo, “genocida”,
“estelionatário” não é calúnia.
Exemplo: “João matou Carlos ontem.” Se for mentira, é calúnia.
Pessoas jurídicas podem ser vítimas de calúnia.
É punível a calúnia contra os mortos, em razão da proteção de suas imagens.
Animus injuriandi vel diffamandi: a intenção de ofender.
A calúnia se consuma quando chega a conhecimento de terceiro.

Quando alguém é acusado de calúnia, um dos modos de se defender pode ser por
meio da chamada EXCEÇÃO DA VERDADE. É meio de defesa indireto (direto seria
dizer “é mentira, eu não falei isso que fulano está dizendo”), em que o acusado tenta provar
o que ele disse sobre a suposta vítima. Isto é, se ciclano falou que fulano roubou algo,
tenta-se provar que ele roubou mesmo.
Obs: é comum haver queixas-crime por calúnia no meio político. Nesse caso, se
houver exceção da verdade contra alguém que tem foro privilegiado, esta terá de ser
julgada pelo órgão competente para julgar aquela pessoa. Aqui a exceção da verdade surge
como algo prejudicial (que tem de ser resolvido antes do julgamento principal), então o
tribunal superior antes vai analisá-la, e depois o processo principal volta para a primeira
instância.
Quando não poderei entrar com a exceção da verdade?
● Quando a pessoa que caluniei já foi absolvida pelo fato que a imputei. Ex: digo que
fulano roubou algo sendo que ele já foi absolvido desse crime.
● Se a pessoa for alguém elencada no art. 141.
● Se não tiver havido condenação da pessoa nos casos de crimes de ação penal
privada.

b. DIFAMAÇÃO
Imputação de um fato ofensivo à reputação. Logo, esse fato não é crime, e ainda,
pouco importa se esse fato é falso ou não. Basta que ele desacredite publicamente a vítima.
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Victória Álvares

Exemplo: alguém presencia uma traição e sai contando para todos.


No caso de pessoas públicas, é mais complicado enquadrar situações como
difamação.
Também podem ser vítimas pessoas jurídicas e também se consuma quando o fato
chega a terceiros.

Como desimporta a verdade ou falsidade do que é imputado, em regra, na


difamação não cabe a exceção da verdade, salvo se o ofendido é funcionário
público. Isso porque há uma espécie de interesse da administração pública quanto à
comprovação de que o fato é falso.

c. INJÚRIA

Insulto ou ofensa à dignidade, ao amor próprio, ao decoro, à compostura, à


autoimagem. Afeta-se a autoestima da vítima. Sendo assim, a falsidade não é elemento da
injúria, não importa se é verdadeiro ou não, basta que seja essa ofensa pessoal referida.
É o xingamento, que nos entristece e nos rebaixa.
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Victória Álvares
Exemplo: ofender alguém por ser muito alto, muito gordo, por ter problemas
físicos…
Pode ser cometida oralmente, por escrito, por um desenho, virtualmente, ou
pela chamada injúria real, que diz respeito a gestos ou ações físicas (exemplo: jogar
excremento na cabeça de alguém).
Há casos de dispensa de pena, previstos no § 1º. Retorsão imediata: resposta
imediata, como no trânsito alguém ser xingado e xingar de volta automaticamente.
Injúria racial, étnica etc é mais gravosa. Injúria racial é crime contra uma pessoa ou
mais específicas, já o racismo é contra uma generalidade de pessoas.
Não há exceção da verdade, pois pouco importa se é verdade ou não.

§ 1º: Há pessoas que ganham dinheiro para prejudicar a imagem de outras.


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Victória Álvares
II: liberdade de expressão. Podemos ser críticos, mas há um limite.

Retratação não cabe para injúria.


Art. 144: a pessoa é notificada para, se quiser, prestar esclarecimentos. A partir
deles, decide-se se vou decidir entrar com ação penal ou não. Juiz não julga nada antes.
Nos crimes contra a honra, em regra, a ação penal é privada. Não é o Ministério
Público que oferece denúncia, mas sim o ofendido que apresenta peça processual chamada
queixa-crime, será querelante (autor) X querelado (réu). Exceção é quando há lesão
corporal, e também nos casos do parágrafo único (injúria racial, mediante representação,
por exemplo).
Todos os crimes contra a honra possuem penas máximas inferiores a 02 anos, de
modo que se configuram como crimes de menor potencial ofensivo, sendo julgados
pelo Juizado Especial Criminal.

3. Crimes contra a liberdade individual

a. CONSTRANGIMENTO ILEGAL
É crime subsidiário, pois há crimes mais graves que se apresentam e afastam o
constrangimento ilegal.
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Victória Álvares
Demanda intervenção física e prenúncio de um mal sério (grave ameaça).
Basicamente é o crime de obrigar alguém a fazer algo que o outro não quer
fazer.
Crime comum (pode ser praticado por qualquer pessoa), crime de forma livre,
crime material (pois exige resultado), crime comissivo.
Exemplo: alguém aponta uma arma dizendo “dá três pulinhos” ou diz para ficar
parado 5h, se não vai agredi-lo. Não pode ser obrigado a fazer algo ilegal nem impedido de
fazer o que a lei permite (caminhar, se mexer). Violação à liberdade individual.

Se o ato de constrangimento ilegal tem por objetivo impedir o suicídio de


alguém, afasta-se o constrangimento ilegal.
No caso de o paciente chegar em estado muito grave no hospital, inconsciente, de
modo que a amputação de um membro ou a transfusão de sangue são decisivos para ele
sobreviver, a intervenção médica não é constrangimento ilegal. Entretanto, esse inciso é
discutível na medida em que é possível o paciente estar em estado grave,
consciente, e não consentir com a intervenção que salvará sua vida (exemplo:
testemunha de Jeová não aceita transfusão de sangue).
● Qual seria a posição correta a adotar o médico? Vale a reflexão, pois trata-se
de respeitar crenças pessoais e a liberdade individual do outro. Há pacientes
com câncer que optam por não se tratar, no caso de alguém que precisa de
uma amputação para sobreviver, esta não poderia fazer o mesmo?

b. AMEAÇA
Prenúncio de um mal grave à outrem. Alude a um fato futuro. Para perfectibilizar-se
deve ser verossímil (ex: “vou te mandar para a lua” não é).
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Aparece muito em relações familiares e de vizinhança, nesse sentido, é necessária
representação.

c. SEQUESTRO E CÁRCERE PRIVADO


Esse crime é estritamente contra a liberdade individual, não entra o aspecto
patrimonial. Quando no âmbito do crime de sequestro surge o pedido de dinheiro para
resgate, é o crime do art. 159 (extorsão mediante sequestro).

Sequestrar é reter ou tolher a liberdade de alguém.


Cárcere privado é encerrar a pessoa em um lugar fechado.
São crimes permanentes, pois a consumação se prorroga no tempo. Importa
para a contagem da prescrição, para a aplicação da lei penal no tempo (se surgir uma lei
mais grave no tempo da consumação do crime, ela se aplica).

d. REDUÇÃO A CONDIÇÃO ANÁLOGA À DE ESCRAVO


A competência é da Justiça Federal, pois afeta a liberdade das pessoas, mas
afeta igualmente a organização do trabalho.
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Victória Álvares
O que ocorre principalmente na zona rural, de alguém trabalhar apenas para ganhar
a comida do dia, é considerado condição análoga à de escravo.

e. TRÁFICO DE PESSOAS
Acontece muito para levar pessoas para outras localidades a fim de serem
exploradas, como no caso de prostituição.

4. Crimes contra as inviolabilidades

a. VIOLAÇÃO DE DOMICÍLIO
O domicílio é protegido constitucionalmente:
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Victória Álvares

Há hipóteses de ingresso no domicílio alheio:


● Flagrante delito;
● Desastre;
● Prestação de socorro;
● Por determinação judicial, durante o dia.

Destaca-se que o domicílio não está restrito à casa.

Crime de mera conduta (o só ingresso ou permanência já gera o crime).


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Victória Álvares
Em determinadas situações esse crime é consumido, como quando entra-se numa
casa para roubá-la ou para estuprar alguém. A violação de domicílio é meio para a prática
de outro crime, ficando a violação absorvida pela conduta mais grave.

b. VIOLAÇÃO DE CORRESPONDÊNCIA

A jurisprudência brasileira consagrou que a abertura de correspondência de


presidiários não configura violação, por questões de segurança.

c. VIOLAÇÃO DO SEGREDO PROFISSIONAL

Existem profissões que, exercidas, tornam o exercente portador de conhecimentos


cujo acesso não é dado ao público. Exemplo: terapeuta, padre que ouve confissões.
Crime próprio, pois depende da qualidade especial do sujeito. Ação condicionada
à representação.

d. INVASÃO DE DISPOSITIVO INFORMÁTICO

Crime incluído recentemente.


Seria o equivalente a ataques cibernéticos.
Surge a discussão da aplicação da lei penal no espaço, pois às vezes os hackers são,
por exemplo, russos, que aplicam o ataque no Brasil.
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Victória Álvares

5. Crimes contra o patrimônio


Bem jurídico constitucional, pois trata da propriedade.
O ordenamento jurídico é criticado por alguns na medida em que
alegam que a propriedade, patrimônio individual, é mais protegido que em
determinadas infrações que atentam contra interesses coletivos, como a
sonegação fiscal ou a corrupção.
Exemplo: no caso de um roubo de bicicleta, se o acusado a devolve ANTES DA
DENÚNCIA, terá meramente a possibilidade de redução de pena por arrependimento
posterior. Porém, em sonegação fiscal, se o sujeito sonegar mil ou 100 milhões de
impostos, a qualquer tempo que ele pague o valor do tributo devido, com as multas
correlatas, a sua punibilidade é extinta.
Nesse sentido, alguns autores mencionam que há um etiquetamento do direito
penal brasileiro, haja vista que as pessoas que praticam crimes contra o patrimônio são as
pessoas mais humildes.

IMUNIDADES NO ÂMBITO DOS CRIMES PATRIMONIAIS:


Benefícios de natureza penal decorrentes de alguma condição ou circunstância
particular. Trata-se de uma excusa absolutória, ou causa pessoal de isenção de pena.
Surgem por razões de política criminal. Previstas nos art. 181, 182 e 183 do CP.
IMUNIDADE PENAL ABSOLUTA: aludem aos cônjuges, ascendentes e aos
descendentes. Ex: filho drogado subtrai da mãe algo.
IMUNIDADE PENAL RELATIVA: mediante representação, alude ao cônjuge
desquitado ou judicialmente separado; de irmão, legítimo ou ilegítimo; de tio ou sobrinho,
com quem o agente coabita.
A ação não exige representação e o sujeito não fica isento em caso de: crime de
roubo ou extorsão, em relação ao estranho que participa do crime, praticado contra pessoa
de 60 anos ou mais.

a. FURTO
Subtrair é desapossar. O sujeito passivo é quem detenha a posse ou propriedade,
ainda que ilegítima.
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Victória Álvares

O furto se consuma quando a coisa sai da esfera de disponibilidade da


vítima, não podendo usar, gozar, desfrutar da coisa. Não se exige a posse mansa e pacífica
do autor do delito.
Exemplo: se um funcionário esconde uma jóia dentro da própria casa do patrão,
para levar para casa depois, já se considera o furto consumado. Isto pois a jóia já sai da
esfera de disponibilidade da vítima.
O dolo deve cobrir todo o tipo penal.
Há casos que o autor age em erro. Exemplo: ao ir embora de uma festa, uma moça
pega uma bolsa achando que era a sua, mas não é. Como consequência, afasta-se a
tipicidade dolosa, então verificarão se o erro é escusável (desculpável) ou não; assim, se há
previsão culposa, responde por ela; se não há previsão culposa, exclui-se a tipicidade por
ausência de dolo.
FURTO DE USO: atípico. Subtração temporária, por um período determinado e
curto, de algo que o sujeito apenas usará. Exemplo: pegar uma bicicleta na rua, usar, e
colocar no mesmo lugar depois.
FURTO DE BAGATELA: atípico, quando o furto do objeto é irrelevante,
insignificante, pois de pequeno valor. Contudo, não há estabelecimento exato de o que
seria uma bagatela, de modo que há espaço para discricionariedade. Necessário atentar às
condições da vítima, pois em determinados casos aquilo que seria insignificante, para
algumas pessoas não é. Necessário atentar para o valor sentimental das coisas, importando
o interesse da vítima.
Furto famélico: indivíduo que furta para se alimentar. O estado de necessidade
exclui a antijuridicidade.
O artigo equipara à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra coisa que tenha
valor econômico, como “gatos” de energia.

FURTO PRIVILEGIADO
§ 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode
substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar
somente a pena de multa.
Se o sujeito não for reincidente, ainda que com mal antecedentes.
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Victória Álvares
FURTO QUALIFICADO
I - Há alguns obstáculos que pertencem à própria coisa. Hoje em dia entende-se
que tanto no caso de quebra de vidro do carro para furto de objeto em seu interior, quanto
no caso da quebra para furto do veículo, o criminoso responde por furto qualificado, em
razão da destruição de obstáculo.
II - Não se pressupõe abuso de confiança em qualquer relação
patrão-funcionário. Se o funcionário recém entrou no emprego, não há confiança,
diferentemente daqueles em que a pessoa é funcionária há algum tempo,desfrutando dessa
relação de confiança.
Fraude é engano. Exemplo: em uma festa, você entrega a chave do carro para o
suposto guardador, que não é de verdade, e ele furta o veículo.
Escalada: esforço incomum. Pular um muro.
Destreza: espécie de habilidade especial, como passar por buraco estreito.

§ 6º: Abigeato.
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Victória Álvares

b. ROUBO
Possui particularidades que distinguem esse crime do furto, quais sejam a grave
ameaça (prenúncio de um mal, que não implica numa intervenção física direta), a
violência (que incide sobre a integridade corporal da vítima) ou qualquer outro meio
que reduza a possibilidade de resistência da vítima (por exemplo, dopar alguém;
violência indireta).

Crime complexo (os elementos do tipo penal, individualmente considerados, por


si só já revelam outras figuras criminosas, assim, são afetados vários bens jurídicos),
portanto, a jurisprudência entende que para o crime de roubo não cabe o princípio da
insignificância.
A rigor, se diz que a consumação do roubo se dá com a inversão da posse do bem,
mediante violência ou grave ameaça, ainda que não se exerça sobre o bem a posse mansa e
passiva (nesse sentido, veja-se a Súmula 582 do STJ).
Roubo próprio: do caput, em que a violência ou grave ameaça são empregadas
para a subtração da coisa.
Roubo impróprio: do § 1º, em que a violência ou grave ameaça são posteriores
(logo depois) à subtração da coisa, para assegurar a impunidade do crime ou a posse dos
bens. Acontece com frequência em roubo a residências.
CAUSAS DE AUMENTO DE PENA (ROUBO MAJORADO)
Direito Penal IV - Prof Orlando Faccini Neto | 2021/1 - ERE
Victória Álvares
Difere-se de qualificadora, que por sua vez altera as balizas da pena, a pena mínima
e máxima. Quando há aumento de fração é causa de aumento de pena,
majoração.

O legislador optou pelo emprego de nomenclatura que restringe os instrumentos


passíveis de consideração para majoração, ao especificar arma de fogo ou arma branca, não
entrando objetos diversos como por exemplo uma garrafa de vidro.

Existem duas vertentes para a questão do emprego da arma de fogo: atualmente, a


maioria leva em conta o critério objetivo, ao considerar que a potencialidade vulnerante da
arma é decisiva para o enquadramento no inciso I. Assim, é necessário que a arma
seja de verdade, de modo que o uso de arma de brinquedo (simulacro) se enquadra no
caput.
Caso a arma não tenha sido apreendida para ser periciada, a jurisprudência entende
que, em a vítima relatando o uso de arma de fogo no assalto, incide a majorante.
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Victória Álvares
§ 3º LATROCÍNIO
Roubo qualificado pelo resultado morte ou lesões graves. Mesmo havendo
dolo contra a morte, por se tratar de crime patrimonial, não é julgado pelo júri.
Crime preterdoloso, de modo que basta a culpa quanto ao resultado morte,
embora possa ser doloso também.
Só é latrocínio quando a morte advém da violência, e não da grave ameaça.
Exemplo: se a pessoa se assusta com o assalto e tem um infarto, não é latrocínio.
● Roubo e homicídio consumado: não há dúvida, latrocínio consumado.
● Subtração patrimonial consumada, mas morte não: latrocínio tentado.
● Subtração patrimonial e homicídio não consumados: latrocínio tentado.
● Subtração patrimonial não consumada, mas morte consumada: latrocínio
consumado (Súmula 610 STJ).

c. EXTORSÃO

Crime complexo. Crime formal (se satisfaz com a mera conduta).


Distingue-se no roubo na medida em que exige uma participação ativa da vítima
fazendo algo ou tolerando que se faça algo. A vantagem econômica depende disso, ao passo
que no roubo a conduta da vítima não é determinante.
É comum o crime de roubo em concurso com o de extorsão, exemplo: o assaltante
obriga a vítima a dar senha do cartão no Banco e rouba ela ou assaltante obriga a vítima a
dirigir até uma agência bancária para roubá-la.
§ 3º: Sequestro relâmpago. Extorsão qualificada.

O sequestro não envolve pagamento, enquanto a extorsão mediante sequestro


é aquela em que pedem dinheiro pelo resgate. Crime formal.
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Victória Álvares
Uma das penas mínimas mais altas do CP, se não a mais, segundo o Prof.

d. DANO
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Victória Álvares

Pena de detenção: inicia-se apenas no regime aberto ou semiaberto.


A competência é do JECrim, pois a pena máxima não passa de 2 anos. Possibilidade
de composição civil, ou transação penal.
No caso do crime de dano, não há previsão da modalidade culposa, só sendo
punido a título de dolo. Nesse sentido, o dano culposo não é crime, mas é um
ilícito extrapenal, havendo a reparação no campo da responsabilidade civil.
Destruir: arruinar, eliminar.
Inutilizar: tornar imprestável.
Deteriorar: estragar ou corromper algo parcialmente.
Crime comum (pode ser praticado por qualquer pessoa). Crime material (exige
produção do resultado para sua consumação). Crime comissivo.
Dano como post factum impunível: quando o dano é cometido posteriormente ao
desapossamento da coisa. Exemplo: sujeito rouba uma bicicleta e depois de dias a quebra,
ou um carro. Não há dupla punição. Concurso aparente de normas.
Conforme o art. 167, nas hipóteses do dano simples (caput), do inciso IV e do art.
164, só se procede mediante queixa.

DANO QUALIFICADO
Já não é mais da competência do JECrim.
Prejuízo considerável: critério jurisprudencial.
Vandalismo em patrimônio público entra aqui. Em alguns casos, rebelião em
presídio também.
Frequente discussão sobre pichação, em tese possível falar em dano.
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Victória Álvares
e. APROPRIAÇÃO INDÉBITA
O sujeito detém licitamente a coisa, mas por não devolvê-la comete o
crime. Exemplo: alugar um livro da biblioteca e não devolver.

Espécie de abuso de confiança, justamente por isso, o elemento subjetivo dolo


tem uma particularidade consistente no ânimo de inverter a posse (animus rem sibi
habendi), que deve surgir no momento da apropriação. Isso é diferente da hipótese do dolo
de apropriação anterior à posse da própria coisa (quando vou na biblioteca objetivando
não devolver o livro), caso em que seria estelionato.
No caso de apropriação indébita previdenciária é da Justiça Federal.

f. ESTELIONATO
Direito Penal IV - Prof Orlando Faccini Neto | 2021/1 - ERE
Victória Álvares
Origem na palavra estélio, que significa lagarto que apresenta partes mutáveis e
cambiantes, que muda conforme o ambiente que está (camufla).
Crime instantâneo, mas em algumas vezes pode ser permanente, como
nas hipóteses de pagamento de prestações ou no estelionato previdenciário (exemplo de
quando alguém obtém vantagem previdenciária forjando situação de doença/para se
aposentar).
Artifício é astúcia, esperteza.
Ardil é armadilha, cilada, construção de situação que não corresponde ao real.
A capacidade de criar-se novos meios de fraude é inesgotável, por isso a lei deixa
abertura.
Súmula 17 STJ: a falsidade documental é absorvida pelo estelionato
quando a sua potencialidade lesiva se esgota no próprio estelionato. Exemplo:
uso de cheque com assinatura falsificada, em que a falsidade do documento não é utilizada
para a prática de outros crimes.
● Golpe do bilhete premiado.
● Determinados trabalhos espirituais. Exemplo da pessoa que é convencida a
queimar o seu dinheiro mas na hora da queima tem seu saco de dinheiro trocado
por de papel sem que perceba.
Torpeza bilateral: quando vítima e acusado estão mal intencionados, ou na seara
da ilegalidade. Em geral, aceita-se que não há estelionato. Exemplo: fulano compra
maconha de ciclano, mas quando vai abrir o pacote é mato. Ou a contratação de um falso
matador.
A reparação do dano não afasta o estelionato depois da sua consumação. Serve
meramente para uma redução de pena, não excluindo a imputação do delito.
ESTELIONATO PRIVILEGIADO: § 1º

Necessidade de representação advinda do Pacote Anticrime (bastante


discutido atualmente a questão da retroatividade dessa mudança):

g. RECEPTAÇÃO
Espécie de crime sucessivo, pois necessariamente vem depois de outro crime
patrimonial. Crime de formulação típica alternativa, ou seja, há vários verbos no
tipo penal, mas se o sujeito realizar mais de um, ele responde por apenas um crime.
Direito Penal IV - Prof Orlando Faccini Neto | 2021/1 - ERE
Victória Álvares
Para a configuração da receptação não é necessário que o crime anterior tenha sido
julgado e que alguém tenha sido condenado.
Mesmo que o autor do furto/roubo seja menor de idade, há a receptação (art. 108
CP). O autor do crime patrimonial não responde pela receptação.

Elemento subjetivo: dolo direto. O sujeito tem de saber que a coisa é produto
de crime.
O dinheiro recebido pela venda do produto do crime é proveito do crime, não objeto
da receptação.
RECEPTAÇÃO QUALIFICADA
Crime próprio, exige a qualidade especial do autor, de ser comerciante ou
industrial.
Mesmo que seja comércio irregular ou clandestino, há equiparação à atividade
comercial.

RECEPTAÇÃO CULPOSA
Dever de analisar as características e circunstâncias da venda para saber se a coisa é
produto do crime ou não.
Competência do JECrim.
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Victória Álvares

6. Crimes contra a dignidade sexual


Art. 225: ação penal pública incondicionada.

a. ESTUPRO
Em 2009, em razão de uma CPI, houve a unificação no mesmo tipo penal do crime
de estupro e de atentado violento ao pudor. Isso fez com que muitos presos fossem soltos.
Hoje o entendimento majoritário é de que em caso de estupro com sexo vaginal e
anal, conta apenas como um crime.
Direito Penal IV - Prof Orlando Faccini Neto | 2021/1 - ERE
Victória Álvares
Conjunção carnal: introdução do pênis na vagina.
Comporta tentativa. A depender da situação, o estupro terá se consumado já com os
atos inicialmente cometidos.
Não se há de cobrar da vítima um grau de resistência que a torne heroína. Ela não
tem qualquer responsabilidade.
Não é indispensável o exame de corpo de delito, mesmo pois o agressor pode
constrangê-la a realizar o ato por vontade própria.
Trata-se de crime em que a produção probatória é muito escassa. Comumente é a
palavra da vítima X do réu.
§ 2º: morte preterdolosa. Quando a vítima morre em decorrência de lesões do
estupro. É diferente de estuprar e depois matar, que seria a prática de dois crimes.

b. VIOLAÇÃO SEXUAL MEDIANTE FRAUDE


Espécie de “estelionato sexual”, em que o sujeito se faz de artifício ou ardil para
manter relação sexual com a vítima. Exemplo do mito do “anfitrião”.

c. IMPORTUNAÇÃO SEXUAL

d. ASSÉDIO SEXUAL
Se exige uma posição de superioridade e ascendência. Se o sujeito pode
demitir ou prejudicar, entra nesse tipo penal.
Direito Penal IV - Prof Orlando Faccini Neto | 2021/1 - ERE
Victória Álvares

e. ESTUPRO DE VULNERÁVEL
Hoje já se entende que a vulnerabilidade é presumida.
Erro de tipo: falsa interpretação da realidade justificada pelas circunstâncias no
concernente à idade da vítima, ele não é responsabilizado. Exemplo: se a vítima diz ter
mais de 14 anos ou a situação fizer o autor ter bastante convicção disso.
Nesse caso, exclui-se o dolo. Se o erro for escusável ou desculpável, o sujeito não
responde por nada. Se não for escusável ou desculpável, o sujeito responde pela
modalidade culposa. No entanto, para estupro não há modalidade culposa.
Em situações em que a vulnerabilidade se dá pela idade, é mais fácil a análise. Mas
há casos em que se alega erro de tipo pela vítima não conseguir oferecer resistência em
razão da ingestão de álcool ou drogas (quando o autor acha que a vítima estava bem).
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Victória Álvares

f. LENOCÍNIO
Prestação de apoio e incentivo a vida voluptuosa de outra pessoa dela tirando
proveito. É a conduta do cafetão, que se aproveita da prostituição alheia.
A prostituição não é crime, mas a sua exploração é.
Art. 227 e 228.

7. Crimes contra a incolumidade pública

Incolumidade pública no sentido de segurança geral da comunidade.


7.1. Crimes de perigo comum

a. INCÊNDIO
Crime de perigo concreto, de modo que se exige comprovação do perigo.
Perigo de incêndio não é crime, mas o perigo causado pelo incêndio é.
Sujeito ativo pode ser qualquer um e o sujeito passivo é a coletividade. É o que
alguns autores chamam de crime vago, não sendo necessário especificar o sujeito
passivo.
O elemento subjetivo é o dolo de perigo, que é a vontade de gerar um risco não
tolerado a terceiros.
Direito Penal IV - Prof Orlando Faccini Neto | 2021/1 - ERE
Victória Álvares
Crime formal, portanto, não exige dano para consumar-se, basta a situação de
perigo.
Art. 173 CPP: exige prova pericial para comprovar o incêndio.

Incêndio com resultado morte é crime preterdoloso.


Porém, no caso de querer matar alguém com o uso de fogo é homicídio qualificado.
A distinção está no elemento subjetivo.
Na hipótese de tentar matar alguém com fogo mas causar incêndio, há concurso
formal de homicídio qualificado e o crime de perigo comum do incêndio.
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Victória Álvares

7.2. Crimes contra a saúde pública

a. FALSIFICAÇÃO, CORRUPÇÃO, ADULTERAÇÃO OU ALTERAÇÃO


DE SUBSTÂNCIA OU PRODUTOS ALIMENTÍCIOS

Corromper é estragar.
Adulterar é deformar.
Falsificar é reproduzir por imitação.
Alterar é modificar.
Tipo penal alternativo/crime de formulação típica alternativa, de modo
que se o sujeito realizar vários dos verbos do tipo responde apenas por um crime.

b. FALSIFICAÇÃO, CORRUPÇÃO, ADULTERAÇÃO OU ALTERAÇÃO


DE PRODUTO DESTINADO A FINS TERAPÊUTICOS OU
MEDICINAIS
Direito Penal IV - Prof Orlando Faccini Neto | 2021/1 - ERE
Victória Álvares

Tipo penal criado no contexto de muitas falsificações de anticoncepcional.


Muita discussão a respeito do equívoco do legislador ao determinar uma pena tão
elevada, de modo que há precedentes da aplicação da pena do crime de tráfico ou uma
segunda alternativa, preponderante, da repristinação da pena anteriormente cominada ao
artigo.

c. EXERCÍCIO ILEGAL DA MEDICINA, ARTE DENTÁRIA OU


FARMACÊUTICA
Direito Penal IV - Prof Orlando Faccini Neto | 2021/1 - ERE
Victória Álvares

Crime habitual, de modo que somente se consuma se o agente perseverar no


cometimento do crime, como algo habitual.

d. CHARLATANISMO

Nesse caso, mesmo um médico de verdade pode responder por esse delito. Em
regra, o sujeito sabe que o meio que está propondo não possui eficácia. Diz-se que o
charlatão é o estelionatário da medicina.

e. CURANDEIRISMO

Exige o exercício, a perseveração, da conduta. O curandeiro crê que o que está


indicando pode ajudar o doente.
Dificuldade de conciliar a incriminação do curandeirismo com liberdade religiosa.

7.3. Crimes contra a paz pública

a. INCITAÇÃO AO CRIME
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Victória Álvares

É necessário que haja a incitação a um crime específico. Ex: “vamos quebrar aquela
loja”, crime de dano.
Diferente é a incitação feita a uma pessoa só, específica, caso em que se o crime
ocorre, a pessoa é partícipe, na forma do art. 29 do CP.

b. APOLOGIA DE CRIME OU CRIMINOSO

Apologia é louvor, elogio, defesa.


Necessário confrontar esse artigo com a ideia da liberdade de expressão.

c. ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA

Crime formal, não necessitando a consumação do crime.


Não se exige que todos os agentes sejam imputáveis.
Crime permanente, tendo sua consumação prorrogada no tempo.
Organização criminosa não é a mesma coisa, e começa em quatro pessoas,
exige estabilidade e somente se apresenta quando se direciona à prática de certos crimes.
Seu conceito está na Lei 12.850:
§ 1º Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou
mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de
tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente,
vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas
penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter
transnacional.
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Victória Álvares
d. CONSTITUIÇÃO DE MILÍCIA PRIVADA

8. Crimes contra a fé pública


A fé pública é um sentimento de confiança que se extrai de documentos, papéis,
títulos, e mesmo a moeda. Bem jurídico coletivo, se tratando de interesse coletivo.
É considerado crime até mesmo possuir aparatos e instrumentos
tendentes à falsificação, sendo punido independentemente da concretização da
falsificação em si, o que mostra a relevância do bem jurídico, na medida em que é
protegido em variadas projeções.

a. FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PÚBLICO


Documento é o suporte físico tendente a registrar ou materializar um ato ou fato
transeunte, ou seja, passageiro.
Documento público é aquele emitido pelo Estado ou por órgãos estatais.
Falsificar é reproduzir, imitar ou contrafazer.
Alterar é modificar.
O artigo alude à falsidade material, concernente à forma do documento, à parte
física.
Essas falsidades são aferíveis necessariamente por meio de perícia.
A jurisprudência é uniforme no sentido de afastar a responsabilidade penal nas
hipóteses de falsificações grosseiras. Trata-se de crime impossível, por ineficácia do meio,
haja vista que não há capacidade de iludir um homem médio.
Quando o falso se exaure no estelionato, sem maior potencialidade
lesiva, é por este absorvido. Princípio da consunção.
Igualmente, se quem utilizar documento falso for a mesma pessoa que falsificou,
haverá apenas a responsabilização por um crime, havendo absorção.
Direito Penal IV - Prof Orlando Faccini Neto | 2021/1 - ERE
Victória Álvares

b. FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PARTICULAR


Documento particular é aquele não público, não reconhecido como público.

c. FALSIFICAÇÃO IDEOLÓGICA
A falsidade material recai sobre a forma, aspecto físico do documento. Ao passo que
a falsidade ideológica diz respeito ao conteúdo intelectual do documento.
Não exige e nem há como realizar perícia.
Omitir é deixar de inserir ou não mencionar.
Direito Penal IV - Prof Orlando Faccini Neto | 2021/1 - ERE
Victória Álvares
Inserir é colocar ou introduzir.
Fazer inserir é proporcionar que se introduza.
O elemento subjetivo é o dolo.

d. FALSIFICAÇÃO DE ATESTADO MÉDICO

e. USO DE DOCUMENTO FALSO


Crime de pena remetida/crime de tipo remetido: tanto o preceito primário,
quanto o preceito secundário remetem a outros crimes.
É preciso saber que o documento é falso, caso contrário, é erro de tipo. Mas não
vinga o argumento de que o sujeito não sabia da falsidade em situações que deveria saber.
O encontro casual do documento não revela o crime, apenas a apresentação dele
quando requerido.

f. FALSA IDENTIDADE
Crime comum com foragidos da justiça.
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Victória Álvares
Súmula 502 STJ: A conduta de atribuir-se falsa identidade perante autoridade
policial é típica, ainda que em alegada autodefesa.

9. Crimes contra a administração pública / crimes funcionais


Administração pública é a atividade funcional do Estado e dos demais entes
públicos. Bem jurídico tutelado é o bom funcionamento da administração e capacidade do
Estado de prestar serviços. Afetam mais severamente as pessoas hipossuficientes, que
dependem mais do Estado.
Funcionário público (art. 327 CP): Considera-se funcionário público, para os efeitos
penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou
função pública.
Crimes funcionais próprios são aqueles em que a exclusão da condição
funcional, ou da elementar relativa ao fato do sujeito ser funcionário público, gera a
atipicidade da conduta. Exemplo: corrupção passiva.
Crimes funcionais próprios são aqueles em que a exclusão da condição
funcional, ou da elementar relativa ao fato do sujeito ser funcionário público, não gera a
atipicidade da conduta. Exemplo: peculato.
Concurso de agentes nos crimes funcionais: pode o particular responder por crimes
funcionais? Sim, quando houver coautoria ou participação, por decorrência do art. 30 do
CP. Isto é, no caso o participante deve ter ciência da condição de funcionário público do
comparsa. Caso contrário, será o caso da exceção pluralística à teoria monista do concurso
de agentes (cada um responderá por um crime).
O princípio da insignificância é inaplicável a esses crimes.

a. PECULATO
Crimes funcionais são como se fossem a soma de outros crimes mais a condição
funcional.
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Victória Álvares
Aqui, o apropriar-se assemelha-se à apropriação indébita, mas a violação do
dever funcional agrava o delito e justifica a pena maior.
● Peculato apropriação
● Peculato desvio
● Peculato furto / peculato impróprio: § 1º
● Peculato culposo: é quase como uma participação culposa em crime
doloso.

b. CONCUSSÃO
Exigir no sentido de ordenar, no sentido impositivo. Difere de solicitar (como é na
corrupção). Não é espécie de acerto, mas sim imposição. É a “extorsão realizada por
funcionário público”.
Crime formal, ou seja, o tipo penal descreve conduta e resultado, e consuma-se
apenas com a prática da conduta.
A vantagem deve necessariamente possuir conteúdo econômico/de valor? A
jurisprudência aparentemente entende que não. No caso de vantagem sexual ou
comportamental, ainda se aplica.
Flagrante é quando o crime está acontecendo ou acabou de ocorrer. No ensejo da
entrega da vantagem exigida, não tem-se o crime sendo cometido, mas sim o exaurimento
do crime, que não autoriza a prisão em flagrante.
Exemplo: juiz de direito exige que o réu lhe dê uma caixa de cerveja, se não ele “vai
ver o que vai acontecer”.
Direito Penal IV - Prof Orlando Faccini Neto | 2021/1 - ERE
Victória Álvares

c. CORRUPÇÃO PASSIVA
Com o passar do tempo, uma certa elite empresarial, política e econômica passou a
inserir-se no direito penal muito em razão desse crime.
Funcionário público responde a esse crime. Não necessariamente surge a
bilateralidade da corrupção ativa e passiva, caso o funcionário não aceite.
Para a prática deste delito, não se exige que o funcionário direcione-se à
prática do chamado ato de ofício (aquele inerente às atribuições do
funcionário). Portanto, é corrupção passiva a chamada compra de boas relações.
Exemplo: particular que entrega ao juiz uma caixa de vinhos, “a nada”. Caso o funcionário
aceite, tem-se a corrupção passiva, mas não a ativa, pois esta exige ato de ofício como
elemento típico.
Crime formal.
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Victória Álvares
d. PREVARICAÇÃO
Não cumprimento das obrigações de ofício, movido o agente por interesse ou
sentimento pessoal. Não é algo externo.
Disposição afetiva, não econômica.
Crime de menor potencial ofensivo.

10. Crimes praticados por particulares contra a administração


Crimes comuns.

a. RESISTÊNCIA

Menor potencial ofensivo, exceto na hipótese do §1º.


Opor-se: colocar um obstáculo, confrontar, dar combate.
Se o ato do agente for ilegítimo/ilegal, a ação do particular será legítima defesa, ou
este estará no exercício regular do seu direito.
Exige violência ou ameaça que se volte contra o agente. Exemplo: se a
pessoa fica irritada com a sua prisão e chuta a viatura policial, não é resistência, mas é
dano qualificado.
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Victória Álvares
Não há resistência contra ato de particular. Qualquer do povo pode prender um
criminoso em flagrante delito, mas a reação do criminoso contra esse ato não é resistência.
Ultrapassar uma barreira policial não é por si só crime de resistência. Precisa haver
violência ou ameaça.

b. DESOBEDIÊNCIA

A ordem não pode ser genérica. Tem de ser direta à pessoa.


Se uma testemunha não comparece a uma audiência de processo criminal, ela
responde pelo crime de desobediência; se for de processo cível, é infração cível (multa ou
condução coercitiva).

c. DESACATO

Desprezar, faltar com respeito, humilhar, xingar…


Pode se dar com o agente no exercício de sua profissão, ou em razão de sua
profissão (mesmo com o agente de férias, por exemplo).
O advogado pode cometer desacato no exercício de suas funções? Foi para o STF, e
entendeu-se que sim, afastando-se a imunidade profissional prevista no Estatuto da OAB.
Controvérsia da criminalização do desacato, por possivelmente restringir a livre
manifestação do pensamento dos particulares frente aos atos dos agentes públicos. STF
entendeu como constitucional, questão resolvida.

d. CORRUPÇÃO ATIVA
Crime formal, portanto, não exige resultado. Não é necessário que o funcionário
público aceite.
Só ocorre quando o oferecimento de vantagem é direcionado à prática
de um ato de ofício do funcionário. Exemplo: se alguém dá dinheiro a um estagiário
para que ele dê x sentença em um processo, o estagiário responde por corrupção passiva,
mas a pessoa não responde por corrupção ativa, dado que prolatar a sentença é ato de
ofício do juiz, não do estagiário.
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Victória Álvares
Vantagens posteriores ao ato não são crimes. Exemplo: funcionário público concede
alvará que a pessoa queria. A pessoa fica feliz e lhe dá uma caixa de vinhos. Não é
corrupção ativa, mas pode gerar improbidade administrativa (não é crime, mas há
sanções).
Discussão doutrinária sobre as situações em que o funcionário público solicita a
vantagem, tendo iniciativa. Discussão acerca dos verbos contidos no tipo penal, visto que
não consta o verbo “dar”. Alguns dizem que ele está contido no “oferecer”, outros que há a
participação do particular no crime de corrupção passiva do agente.

e. DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA

Soma-se a calúnia com a falsa comunicação de crime.


Requer para mais do que uma calúnia, haja infração contra a administração da
justiça, levando as esferas investigativas à adoção de diligências.
Na delação premiada, há crime específico para aquele que delata alguém
falsamente.

f. COMUNICAÇÃO FALSA DE CRIME OU DE CONTRAVENÇÃO


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g. AUTO-ACUSAÇÃO FALSA

h. FALSO TESTEMUNHO OU FALSA PERÍCIA

Crime próprio, crime de mão própria (exige ser cometido pela própria
testemunha).
O fato falso deve ser juridicamente relevante enquanto prova. Exemplo: mentir que
estava chovendo.
A falsidade é mensurável mediante um critério subjetivo: importa a sintonia para
com o que o agente efetivamente captou e compreendeu. Exemplo: se fulano realmente
matou ciclano, mas o depoente estava em casa na ocasião e não viu nada, não pode narrar
isso no testemunho.
Não há crime de falso testemunho para aqueles que não possuem o compromisso de
dizer a verdade, como o pai, a mãe do réu, conforme o CPC.
Há quem diga que não há prisão em flagrante, pois o sujeito ainda pode se retratar,
conforme o §2º.
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Victória Álvares
i. EXERCÍCIO ARBITRÁRIO DAS PRÓPRIAS RAZÕES

Se não houver violência, somente se procede mediante queixa. Se houver, as penas


se somam.

j. FAVORECIMENTO PESSOAL

k. FAVORECIMENTO REAL

DICAS DE FILMES: Menina de Ouro, Um mar adentro, O Escafandro e A Borboleta.


(eutanásia)
Filme Doutor Morte.
Filme O Segredo dos Seus Olhos

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