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I.

DOS FATOS:
Narra a Denú ncia que no dia XX o ACUSADO teria “perdido a cabeça” e desferido
um soco na orelha de seu irmã o, suposta vítima. Ainda segundo a peça acusató ria,
tal atitude se deu em razã o de nã o ter gostado de uma brincadeira feita no interior
de um veículo, tendo os fatos sido presenciados pela mã e de ambos.
Por este motivo o Ministério Pú blico imputa ao ACUSADO a pratica do crime
capitulado no artigo 129, § 9º do Có digo Penal.
II. DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS
Em que pese os esforços do Ministério Pú blico, a agressã o sofrida pela suposta
vítima nã o está enquadrada como violência doméstica tratando-sede mera lide
familiar envolvendo irmã os.
Segundo narrou a suposta vítima em sede policial, fl., estavam a caminho da casa
de uma tia no Balneá rio quando a mã e de ambos fez uma piada e por nã o ter
gostado da piada, seu irmã o, ora ACUSADO, lhe deu um soco na orelha.
A suposta vítima, conforme currículo disponível na internet, a época era estudante
de Direito, aliado a este belo currículo, a suposta vítima em pá gina de perfilpú blico
na rede social Facebook demonstra notá vel conhecimento sobre política dentre
outros, restando claro tratar-se de pessoa culta, viajada, etc.
Na outra ponta temos o ACUSADO, que em 2012 ingressou no curso de bioquímica,
tendo abandonado o curso por sofrer de DEPRESSÃ O tendo laudo técnico acostado
à fl. .
Sendo assim, inexiste violência de gênero, hipossuficiência da vítima ou
coabitaçã o,nã o sendo caso a autorizar a aplicaçã o extensiva da legislaçã o especial
criada para proteger mulheres em situaçã o de vulnerabilidade.
O artigo 5º da Lei Maria da Penha afirma que “configura violência doméstica e
familiar contra mulher qualquer açã o ou omissã o, baseada ‘no gênero’ que lhe
cause morte, lesã o, sofrimento físico, sexual ou psicoló gico e dano moral ou
patrimonial.” Portanto, depreende-se na norma que a referida Lei tem por objetivo
a prá tica de agressõ es perpetradas contra as mulheres dentro do ambiente
doméstico, escudadas na ideia repugnante da inferioridade do gênero feminino em
relaçã o ao masculino. In casu, a suposta agressã o ocorreu durante uma discussã o
entre irmã os que sequer residiam na mesma casa na época dos fatos, estando
juntos tã o somente em ocasiã o de Natal, nã o estando configuradas vulnerabilidade
e a hipossuficiência da suposta vítima, se amoldando o caso em comento à s regras
existentes na legislaçã o penal comum.
Neste sentido, colaciono os seguintes julgados:
APELAÇÃ O DEFENSIVA. DELITO DE AMEAÇA PRATICADA POR IRMÃ O.
INDEFERIMENTO DE MEDIDAS PROTETIVAS COM EXTINÇÃ O DO FEITO. PLEITO
PARA PROSSEGUIMENTO DA AÇÃ O. RECONHECIMENTO DA INCIDÊ NCIA DA LEI
11.343/06. IMPROCEDÊ NCIA. Vítima que teria sido ameaçada e empurrada por
seu irmã o no quintal em que ambos residem, que requereu medidas protetivas de
urgência. Magistrada de piso que acertadamente indeferiu o pleito ao argumento
de nã o se tratar de caso sob o manto da Lei Maria da Penha , extinguindo o feito
por inadequaçã o da via eleita. Medidas protetivas de urgência descritas no artigo
22 da Lei 11.343/06 que possuem natureza cautelar e de urgência. Tais medidas
devem ser aplicadas necessariamente em casos que envolvam violência de gênero
contra as mulheres dentro do ambiente doméstico, escudadas na ideia repugnante
da inferioridade do gênero feminino em relaçã o ao masculino. Suposta agressã o
que ocorreu durante uma discussã o entre irmã os que residem no mesmo quintal
deixado por herança. Conduta que foi perpetrada por um homem contra uma
mulher da mesma família, mas nã o há como identificar, no caso, a violência de
gênero, eis que nã o foram observadas a vulnerabilidade e a hipossuficiência da
suposta vítima, se amoldando o caso em testilha à s regras existentes na legislaçã o
penal comum. Porém, entendendo que a demanda entre as partes nã o evidencia a
subjugaçã o de gênero a incidir a Lei Maria da Penha, correta a decisã o que
extinguiu o feito por inadequaçã o da via eleita. RECURSO CONHECIDO E
DESPROVIDO. SENTENÇA QUE SE MANTÉ M NA ÍNTEGRA. (TJRJ - Acó rdã o
Apelaçã o 0005925-27.2018.8.19.0006, Relator (a): Des. Paulo Sérgio Rangel do
Nascimento, data de julgamento: 22/11/2018, data de publicaçã o: 22/11/2018, 3ª
Câ mara Criminal)
CONFLITO DE JURISDIÇÃ O. DECLÍNIO DE COMPETÊ NCIA SOB O ARGUMENTO DE
QUE A HIPÓ TESE DE AGRESSÃ O PRATICADA PELO IRMÃ O ATRAIRIA A
INCIDÊ NCIA DA LEI Nº 11.340/2006. ENTENDIMENTO CONTRÁ RIO DO JUÍZO
SUSCITANTE. ACOLHIMENTO. No caso, embora o suposto delito tenha ocorrido em
contexto familiar e doméstico, agressã o física entre irmã o e irmã , inexiste a
motivaçã o da elementar violência de gênero, apta a atrair a incidência da Lei nº
11.340/06. A circunstâ ncia de a vítima ser do sexo feminino e a desavença ter
ocorrido no â mbito familiar, por si só , nã o determinam a ocorrência de violência
doméstica baseada no gênero. Para que a vítima esteja protegida sob a égide da Lei
nº 11.340/06, é necessá rio que a conduta do agressor seja impulsionada por uma
relaçã o de AP Nº 0005925-27.2018.8.19.0006 Pá gina 5 dominaçã o contra pessoa
do sexo feminino, em razã o de sua condiçã o de submissã o, vulnerabilidade ou
hipossuficiência, decorrentes do fato de ser mulher, verdadeiras hipó teses de
violência de gênero. Precedentes. PROCEDÊ NCIA DO PRESENTE CONFLITO

NEGATIVO DE JURISDIÇÃ O.” (0053375-18.2017.8.19.0000 - CONFLITO DE


JURISDIÇÃ O - Des (a). JOAQUIM DOMINGOS DE ALMEIDA NETO - Julgamento:
10/10/2017 – SÉ TIMA CÂ MARA CRIMINAL) APELAÇÃ O CRIMINAL. VIOLÊ NCIA
DOMÉ STICA. LESÃ O CORPORAL. RECURSO DEFENSIVO. ALEGAÇÃ O DE
INCOMPETÊ NCIA DO JUIZADO DA VIOLÊ NCIA DOMÉ STICA E FAMILIAR CONTRA A
MULHER. AGRESSÃ O DE IRMÃ O CONTRA IRMÃ . ACOLHIMENTO. 1. In casu, o
apelante foi condenado como incurso no tipo penal descrito no artigo 129, § 9º do
Có digo Penal, à pena de 4 meses de detençã o no regime aberto, pois segundo peça
acusató ria, teria desferido um soco no rosto da vítima, que é sua irmã . 2. A Lei
11.360/2006 foi criada a fim de possibilitar abordagem especializada aos casos de
violência de gênero. Trata-se de açã o afirmativa em favor da mulher vítima de
violência doméstica e familiar, buscando restabelecer a igualdade material entre os
gêneros. A Convençã o Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência
contra a Mulher, conhecida como Convençã o de Belém do Pará , ratificada pelo
Brasil em 27.11.1995, define a violência de gênero como ofensa à dignidade
humana e manifestaçã o das relaçõ es de poder historicamente desiguais entre
mulheres e homens.
3. O caso dos autos distingue-se frontalmente daqueles em que a violência é
praticada em funçã o do gênero e, portanto, refoge ao escopo da Lei Maria da
Penha. Anarrativa constante da denú ncia desvela com clareza que a alegada
agressã o perpetrada pelo irmã o contra a irmã , embora praticados no â mbito
doméstico e inseridos num contexto de uma relaçã o familiar, teriam ocorrido nã o
por ser a vítima uma mulher, mas sim em razã o de um desentendimento familiar.
4. A competência do Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher é
ratione materiae, e, portanto, absoluta, devendo ser acolhida a alegaçã o de
incompetência, com a anulaçã o dos atos processuais desde o recebimento da
denú ncia e a remessa ao juízo competente, qual seja, o Juizado Especial Criminal.
Provimento do recurso.” (0003970-85.2014.8.19.0010 – APELAÇÃ O - Des (a).
SUIMEI MEIRA CAVALIERI - Julgamento: 17/05/2016 - TERCEIRA CÂ MARA
CRIMINAL)

Sendo assim, considerando que a presente açã o penal nasceu morta, seja pela falta
de pressuposto processual e condiçõ es da açã o; Seja pela Prescriçã o, eis que na
forma simples, considerando que os fatos se deram em 25 de dezembro de 2014,
operou-se a prescriçã o da pretensã o punitiva estatal em 25 de dezembro de 2017-
mais de um ano antes do oferecimento da Denú ncia; Seja pela inimputabilidade do
Réu, que restará demonstrada no decorrer da instruçã o, conforme laudo já
constante dos autos à fl ; Requer a rejeiçã o da Denú ncia, nos termos do artigo 395
do CPP, especialmente porque nã o se tratam os fatos ventilados nestes autos de
Violência Doméstica. Neste sentido: “É possível ao Juiz reconsiderar a decisã o de
recebimento da denú ncia, para rejeitá -la, quando acolhe matéria suscitada na
resposta preliminar defensiva relativamente à s hipó teses previstas nos incisos do
art. 395 do Có digo de Processo Penal” (STJ, Quinta Turma, AgRg no Resp
1.291.039/ES 2011/0263983-6, Relator ministro Marco Aurélio Bellizze, julgado
em 24/9/13).
“O recebimento da denú ncia nã o impede que, apó s o oferecimento da resposta do
acusado (arts. 396 e 396-A do Có digo de Processo Penal), o Juízo reconsidere a
decisã o prolatada e, se for o caso, impeça o prosseguimento da açã o penal” (STJ,
Quinta Turma, HC 294.518/TO, relator ministro Felix Fischer, julgado em 2/6/15).
III. CONCLUSÃ O
Diante do exposto e dos direitos acima alegados, é a presente para requerer:
Preliminarmente, que seja deferido o pedido de rejeiçã o da denú ncia, com fulcro
no artigo 395, II, do Có digo de Processo Penal.
Subsidiariamente, a desclassificaçã o do crime de lesã o corporal qualificada
(disposto no art. 129, § 9º do Có digo Penal) para o de lesã o corporal (art. 129,
caput do Có digo Penal). E consequentemente, reconhecimento de Prescriçã o da
Pretensã o Punitiva Estatal, conforme artigos 107, IV e 109, VI ambos do Có digo
Penal.
Entretanto, pelo Princípio da Eventualidade, caso Vossa Excelência entenda de
forma diversa, requer seja intimada e ouvida a testemunha/informante abaixo
arrolada.
Termos em que,
Respeitosamente,
Pede e espera deferimento.
LOCAL DATA.

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