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EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ DO JUIZADO DE

VIOLENCIA DOMESTICA E ESPECIAL ADJUNTO CRIMINAL DA COMARCA DE


ANGRA DOS REIS – ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Carta Magna: Art. 5º“Todos são iguais perante a lei, sem


distinção de qualquer natureza (...). Inciso I: “homens e
mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos
desta Constituição; (...)” grifo nosso.

Processo n.º 0010698-51.2023.8.19.0003

HENRIQUE CORREA DOS SANTOS, devidamente qualificado nos autos acima


mencionados que lhe promove a Justiça Pública, por seu advogado adiante firmado, vem,
respeitosamente, perante Vossa Excelência, na forma dos arts. 396 e 396-A do Código de
Processo Penal, apresentar sua RESPOSTA A ACUSAÇÃO, protestando pela improcedência
da acusação que lhe é feita na peça inicial, c/c CONTESTAÇÃO ÀS MEDIDAS PROTETIVAS
DE URGÊNCIA com fundamento no artigo 802, do CPC, apresentando as causas e
circunstâncias que justificam o descabimento da medida, para o que aduz as seguintes
razões:

I - DO INQUÉRITO POLICIAL
O Inquérito Policial é uma peça meramente informativa, presidida como assim foi,
somente pela autoridade policial. Daí, não se vislumbrara hipótese de se ter
ISOLADAMENTE e unicamente como meio de prova para se levar o réu a uma condenação,
se assim o fosse estaríamos atropelando o princípio constitucional da AMPLA DEFESA, DA
PRESUNÇÂO DA INOCÊNCIA, DO CONTRADITÓRIO e do DEVIDO PROCESSO LEGAL, haja
visto que no Inquérito Policial, por ser peça meramente informativa, geralmente é
presidida somente pela autoridade policial.
As informações servem para iniciar uma Ação Penal, porém não são suficientes
para o decreto condenatório, pois é na instrução processual diante de um juiz imparcial e
reconhecidas todas as garantias constitucionais acima levantadas que se busca a
culpabilidade ou não do réu.
E nessa peça meramente informativa a suposta vítima distorceu a realidade fática,
sustentando mentiras, que levou Vossa Excelência a deferir medidas protetivas.
Em nenhum momento a “vítima” apresentou à Autoridade Policial provas
suficientes das palavras ameaçadoras. Igualmente, em nenhum momento a “vítima”
apresentou testemunha dos fatos narrados.
Portanto, não há elementos mínimos para a explosão de processo penal em
desfavor do acusado. Devendo ser ABSOLVIDO SUMARIAMENTE, pelos argumentos que a
seguir exporemos:

2. DA REAL VERSÃO DO AUTOR DO FATO


2.1. Que, apesar das medidas cautelares de urgência, promovida pela suposta
vítima, deseja o acusado descortinar as inverdades assacadas contra si na Delegacia de
Policia Especializada;

3. DA ALEGAÇÃO DE AMEAÇA VAGA, ÂNIMOS EXALTADOS


3.1. O crime de ameaça imputado ao acusado por ter dirigido o supostamente
palavras ameaçadoras em face da sua ex namorada que motivou essa desavença, não
merece prosperar, haja vista a ausência do animus freddo, o que exclui o tipo penal;
EMENTA: APELAÇÃO CRIMINAL - RECURSO DA DEFESA - ART. 129
DO CP - CONDENÇÃO MANTIDA - PRIVILÉGIO -
DESCARACTERIZAÇÃO DA INJUSTA PROVOCAÇÃO DA VÍITMA -
AMEAÇA - ATIPICIDADE - DOLO - DESCARACTERIZAÇÃO -
CONTEXTO FÁTICO DE EMBRIAGUEZ E IRA - ABSOLVIÇÃO -
NECESSIDADE. V.V. AMEAÇA. ABSOLVIÇÃO. INVIABILIDADE.
Considerando que, em regra, ameaças são feitas no calor dos
acontecimentos, o animus freddo é prescindível para a
configuração do tipo do art. 147 do Código Penal. (TJ-MG - APR:
00060727520158130216 Diamantina, Relator: Des.(a) Alexandre
Victor de Carvalho, Data de Julgamento: 29/10/2019, 5ª CÂMARA
CRIMINAL, Data de Publicação: 04/11/2019).

3.2. Não restou patentemente demonstrado a potencialidade intimidativa que é


condição obrigatória para a tipificação do crime de ameaça, portanto deve ser afastada a
sua configuração;
APELAÇÃO CRIMINAL. ART. 147, CP. AMEAÇA. CONDENAÇÃO NA
ORIGEM. IRRESIGNAÇÃO DA DEFESA. DOLO ESPECÍFICO NÃO
COMPROVADO. ABSOLVIÇÃO POR INSUFICIÊNCIA DE PROVAS.
CABIMENTO. PROVA FRÁGIL. DÚVIDA RAZOÁVEL QUE MILITA EM
FAVOR DO ACUSADO. PRINCÍPIO DO IN DUBIO PRO REO.
INCONSISTÊNCIAS NOS RELATOS TESTEMUNHAIS. TESTEMUNHAS
QUE INCLUSIVE SÃO ESPOSA E MÃE DA VÍTIMA. AUSÊNCIA DE
PROVA DA OCORRÊNCIA DO CRIME. ANIMUS FREDDO NÃO
COMPROVADO. ABSOLVIÇÃO QUE SE IMPÕE. RECURSO
CONHECIDO E PROVIDO A FIM DE ABSOLVER O ACUSADO, COM
FULCRO NO ART. 386, II, DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. (TJ-SC -
APR: 50000538820208240085, Relator: Davidson Jahn Mello, Data
de Julgamento: 05/05/2022, Primeira Turma Recursal -
Florianópolis (Capital).

4. DA MAL INTERPRETADA INJURIA


4.1. É cediço que no crime contra a honra é necessário, obviamente, que o
indivíduo tenha a intenção de ofender, magoar, atacar a honra da pessoa ofendida.
Não basta que as palavras proferidas sejam capazes de ofender. Acima de tudo, é
necessário que elas sejam ditas com essa finalidade. A falta de propósito ofensivo
afasta a prática de crime contra a honra.

Por isso, em discussões acaloradas, é comum que os participantes profiram


injúrias a esmo, sem controle e com a intenção de desabafar. Arrependem-se do que foi
dito, tão logo se acalmam, o que está a evidenciar a falta de intenção de ofender”.

Em melhores termos: muitas vezes, em uma discussão, o objetivo de quem


profere insultos é apenas colocar a raiva para fora, exteriorizar um descontentamento.
No máximo, há uma finalidade de vencer a discussão, de se sentir superior; o que não se
confunde com o "querer" manchar a honra alheia.

A injúria proferida no calor da discussão não caracteriza o crime previsto no


art. 140, § 3º, do Código Penal (injúria racial), pois ausente o elemento subjetivo
específico do tipo, qual seja, magoar e ofender.

(TJDF, Acórdão 842545, 20130910205924APR, Relator: ROBERVAL


CASEMIRO BELINATI, 2ª TURMA CRIMINAL, data de julgamento:
18/12/2014, publicado no DJE: 9/1/2015).

Para a configuração dos delitos de calúnia, difamação e injúria é necessária a


presença do dolo específico, ou seja, a vontade [...] de ofender a honra da vítima”. Por
isso, “sendo as palavras ofensivas proferidas no calor de uma discussão, impossível se
extrair daí a vontade consciente de caluniar, difamar ou injuriar alguém.

(TJMG, Apelação Criminal 1.0408.08.018353-1/001, Rel. Des.(a)


Eduardo Machado, 5ª CÂMARA CRIMINAL, julgamento em
31/01/2012, publicação dasumulaa em 13/02/2012. No mesmo
sentido: “Ofensas à honra proferidas no seio de acirrada discussão
são desprovidas do dolo específico exigido para as condutas típicas
de injuriar, caluniar e difamar, que por isso se tornam atípicas.
Assim, a absolvição é medida que se impõe”. (TJMG, Apelação
Criminal 1.0378.08.026454-2/001, Rel. Des.(a) Flávio Leite, 1ª
CÂMARA CRIMINAL, julgamento em 01/03/2011, publicação da
sumula em 01/04/2011).
4.2. Não há que se falar em agressão física pretérita, já que não há registro ou
provas de tal agressão.

5. DO LOCAL ONDE RESIDEM E TRABALHAM – CONDIÇÕES ESPECIAIS


5.1. O autor do suposto fato e a vitima residem e trabalham na Ilha Grande – Vila
do Abraão. Nesse sentido cabe ressaltar que devido à peculiaridade do local, a
possibilidade de se “esbarrar” é de quase 100% (cem por cento), duas ou mais vezes no
dia.
5.2. O autor trabalha com transporte de ilhéus e turistas no taxi boat e a vitima
trabalha em uma farmácia.

6. DOS CONTATOS FEITOS PELA VITIMA


6.1. Cabe ressaltar que não deve prosperar a medida protetiva, tendo em vista que
a própria vitima, ou seja, quem pediu a medida protetiva fica ligando para o autor e
mandando mensagens.

7. DA CONCLUSÃO
Postas tais considerações e por entendê-las prevalecentes sobre as razões que
ensejaram a inicial acusatória e as Medidas Protetivas de Urgência em desfavor do senhor
HENRIQUE CORREA DOS SANTOS e confiante no discernimento afinado e no justo
descortino de Vossa Excelência, a defesa requer, alternativamente:
7.1. Seja recebida a presente resposta à acusação para que surta os seus efeitos
legais, inclusive quanto à possível absolvição sumária do acusado lastreada nas teses
aventadas acima;
7.2. A imediata REVOGAÇÃO das Medidas Protetivas de Urgência em desfavor do
senhor HENRIQUE CORREA DOS SANTOS, considerando que a vitima esta entrando em
contato por diversas vezes com o autor do fato;
7.3. Como já exposto, as condutas praticadas pelo acusado não constituem crime.
Considerando as doutrinas e jurisprudências os fatos narrados são atípicos, e por isso,
deve o acusado, com fundamento no art. 397, inciso III, do CPP, ser absolvido
sumariamente, fazendo cessar a completa injustiça que vem suportando; e Vossa
Excelência o fará, extinguindo esse tormentoso processo, como forma da mais LEGÍTIMA
JUSTIÇA!

Nestes termos, pede deferimento.

Angra dos Reis, 24 de janeiro 2024

Antonio José Ferreira Junior


ADVOGADO - OAB/RJ nº 179703

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