EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___ª VARA
CRIMINAL DA COMARCA DE __________________ - UF.
Processo nº __________________.
________________________, devidamente qualificado nos autos
supra numerados, que lhe move a Justiça Pública, por seu advogado infra- assinado (doc. 01), vem respeitosamente perante Vossa Excelência apresentar:
RESPOSTA À ACUSAÇÃO, com fulcro no art. 396 e
seguintes do CPP,
trazendo para Vossa Excelência as causas e circunstâncias
que justificam o descabimento da persecução penal, conforme abaixo explanado:
I – DA ACUSAÇÃO
O réu foi acusado, denunciado e encontra-se processado por
este e. juízo em virtude de fatos que, no entendimento do Ministério Público, subsumem-se à norma penal do art. 147 c/c art. 71, todos do Código Penal. Segundo se recolhe da peça acusatória, o acusado no dia __/__/__, por volta das __ hs, na (endereço), o denunciado teria ameaçado, por palavra, de causar mal injusto e grave à vítima ___________________.
Eis o resumo dos fatos.
II - DA RESPOSTA À ACUSAÇÃO
DO CRIME DE AMEAÇA - Ausência de Dolo Específico
Conforme corroborado, através das afirmações das
testemunhas de acusação e vítimas, que o Acusado encontrava-se decomposto e com aparência de ter usado algum tipo de substância estupefaciente, conforme narração versada nos fatos alegados.
Também é incontestável que ambas as partes se conhecem e
que já haviam feito diversos negócios ANTERIORMENTE, conforme se verifica dos depoimentos colhidos no bojo desses autos.
III - DA FRAGILIDADE DAS PROVAS
O crime tipificado no art. 147 do Código Penal exige para sua
caracterização, o Elemento Subjetivo, que, conforme magistério de JULIO FABBRINI MIRABETE, “é a vontade de praticar o ato, com o intuito de intimidar a vítima." (Código Penal Interpretado, 2ª ed. atual, São Paulo, Ed. Atlas, 2001, p. 954).
O denunciado declarou no inquérito policial, que ele e a
vítima são conhecidos, posto que já haviam efetuado outros negócios anteriormente e ainda que:
1) É proprietário de uma fruteira onde o Sr. __________ havia
lhe encomendado algumas frutas e verduras;
2) Que passados cerca de ___ dias após a encomenda
retornou ao estabelecimento tentando cancelar a aquisição que já estava pronta para entrega;
3) Alega que o irmão da vítima testemunha nesses autos o
teria atentado intimidá-lo e assim solicitou a vítima que fosse ao seu estabelecimento para resolverem a negociação;
4) Que ao chegarem em sua fruteira foi agredido fisicamente
pelo irmão da vítima ______________ além de ter ouvido diversas ofensas; 5) Alega ainda que _______________ (suposta vítima) do lado de fora do estabelecimento gritava que iria fechar o estabelecimento do denunciado;
6) Alega ainda que a suposta vítima ______________ o procurou
e se desculpou do ocorrido e prometeu-lhe pagar o que lhe deve;
7) Alega ainda que a suposta vítima o procurou em outro
momento propondo retirar a queixa-crime, origem deste mal afamado processo.
A ameaça, enquanto crime punível, deve ser capaz de
intimidar a vítima, o que não ocorreu nesses autos, posto que se tratava de uma discussão JÁ ANTERIORMENTE iniciada com ameaças do irmão da vítima no estabelecimento do réu e que consequentemente teve seu PROSSEGUIMENTO em um segundo momento, onde culminou em seu clímax com ataques verbais de ambos os lados.
Assim vemos:
A ameaça deve provir de ânimo calmo e refletido. (STF, RTJ
O crime de ameaça exige dolo especifico de infundir medo;
não configura a proferida em momento de ira. (TAMG, RC 1.288, j. 28.3.85, TACrSP, Julgados 81/863; RT 603/365; Julgados 70/335; Julgados.
O que se verifica, no caso em tela, é que houve um
acirramento de ânimos entre as partes e que culminaram nos desentendimentos que levaram a malfadada discussão com palavreados ofensivos de ambos os lados, inclusive com ameaças de __________ afirmando que iria tomar providencias para fechar o empreendimento do denunciado.
Assim, a situação carece de provas robustas e concretas que
tenha ocorrido animus no sentido de se exercer a suposta ameaça, o que no caso não se pode ser constatada.
Nucci, ao lecionar sobre o elemento subjetivo da ameaça
explica que: "uma discussão, quando os ânimos estão alterados, é possível que as pessoas troquem ameaças sem qualquer concretude, isto é, são palavras lançadas a esmo, como forma de desabafo ou bravata, que não correspondem à vontade de preencher o tipo penal. Por isso, ainda que não se exija do agente estar calmo e tranquilo, para que o crime possa se configurar, também não se pode considerar uma intimidação penalmente relevante qualquer afronta comumente utilizada em contendas. Não se pode invocar uma regra teórica absoluta nesses casos, dependendo da sensibilidade do juiz ou do promotor do caso concreto". (Guilherme de Souza Nucci - Código Penal Comentado. 8ª edição. São Paulo: RT, 2008).
Ademais, havendo dúvida a respeito do animus do
denunciado e inexistindo qualquer outro indício incriminador de sua conduta naquele dia dos fatos, a questão só pode ser resolvida em favor deste.
Vejamos:
APELAÇÃO - CRIME DE AMEAÇA - art. 147 DO CPB - INDÍCIOS
FRÁGEIS - PRINCÍPIO "IN DUBIO PRO REO" - ABSOLVIÇÃO MANTIDA. - É de se aplicar o princípio 'in dubio pro reo' se os indícios são frágeis e amparados apenas em conjectura acerca do envolvimento do réu na prática de crime. (TJ-MG - APR: 10525130076645001 MG, Relator: Catta Preta, Data de Julgamento: 03/12/2015, Câmaras Criminais / 2ª CÂMARA CRIMINAL, Data de Publicação: 14/12/2015)
PENAL. PROCESSO PENAL. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. CRIME
DE AMEAÇA. AUSÊNCIA DE PROVAS SEGURAS. DÚVIDA RAZOÁVEL. PRINCÍPIO IN DUBIO PRO REO. ABSOLVIÇÃO MANTIDA. 1. Se a vítima não se recorda da supostas ameaças proferidas, e o depoimento da testemunha presencial é genérico, sem descrever a dinâmica do fato, é de ser mantida a absolvição do acusado. 2. Havendo dúvida razoável, torna-se imperativa a aplicação, em face da presunção constitucional de não-culpabilidade, do princípio in dubio pro reo. 3. Não há como afirmar que as declarações judiciais da ofendida estão ligadas a algum tipo de dependência em relação ao denunciado, não podendo meros indícios ensejar um juízo positivo de certeza, absolutamente indispensável sob a ótica jurídico-criminal para um decreto condenatório. 4. Recurso ministerial conhecido e desprovido. (TJ-DF - APR: 20140610000343, Relator: JESUINO RISSATO, Data de Julgamento: 28/01/2016, 3ª Turma Criminal, Data de Publicação: Publicado no DJE : 03/02/2016 . Pág.: 87)
Igualmente a conduta é atípica quando se trata de mera
discussão entre as partes, vejamos:
APELAÇÃO CRIMINAL. AMEAÇA. PRELIMINAR. NULIDADE DA
SENTENÇA. AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO. REJEIÇÃO. MÉRITO. ABSOLVIÇÃO. ATIPICIDADE DA CONDUTA. MERA DISCUSSÃO. IMPOSSIBILIDADE. AUSÊNCIA DE PROVAS. INOCORRÊNCIA. CRIME OCORRIDO NO ÂMBITO FAMILIAR. PALAVRA DA VÍTIMA. RELEVÂNCIA. APELO IMPROVIDO. UNÂNIME. 1. Na hipótese, não há generalidade ou, ainda, ausência de fundamentação na decisão combatida, tendo o juízo a quo procedido de forma exaustiva em justificar o seu convencimento, tendo por base, exclusivamente, o caderno probatório colhido durante a instrução, não havendo o que venha a anular o édito em questão. De igual modo, o fato do recorrente trazer uma sentença em que o mesmo já havia sido condenado pelo mesmo crime em situações distintas não induz dizer que o novo édito foi baseado no anterior, face às peculiaridades de cada caso. Ao apresentar as razões de seu convencimento, a magistrada entendeu por condenar o apelante, com base nos depoimentos das testemunhas e vítima. Ademais, a sentença apresenta seus requisitos essenciais: relatório, fundamentos de fato e de direito e dispositivo, não merecendo qualquer reparo nesse sentido. Preliminar rejeitada. 2. O que difere a ameaça proferida de uma simples discussão acalorada são as circunstâncias em que ela é proferida e ainda o dolo especifico do agente em fazê-la. O simples fato de o acusado estar acometido de uma grande emoção não é capaz, por si só, de lhe retirar o elemento subjetivo do tipo, pois, essa situação não afasta sua responsabilidade penal por seus atos, além de que não foi demonstrado que sua capacidade de entender o caráter ilícito de sua conduta e de com ela se coadunar teria sido alterada, ou ainda, que poderia ter sido evitada. Outrossim, verifica-se que não se trata de uma mera discussão em que os ânimos das partes se exaltaram, mas sim de severa ameaça feita pelo agente por conta da situação de saúde do seu genitor, o qual, no entender do réu, estaria naquela situação por culpa exclusiva da vítima, o que demonstra de forma concreta o animus do agente para a prática delitiva. 3. O crime de ameaça é um delito formal, vez que independe da ocorrência de resultado naturalístico para se consumar e se aperfeiçoa quando o mal injusto e grave chegar ao conhecimento da vítima, com condições de lhe causar efetivo temor de que algo nocivo irá lhe acontecer. 4. In casu, o acervo probatório se mostrou suficientemente seguro em demonstrar que a conduta do apelante se amolda ao delito de ameaça, na medida em que o fato narrado pela vítima se apresenta como meio idôneo, concreto e seguro de intimidação, hábil a configurar o ilícito do art. 147, do Código Penal. 5. Em crimes ocorridos no âmbito familiar, a palavra da vítima adquire especial relevo probatório, pois tais delitos não são praticados na presença de terceiros, configurando-se como um meio probante mais concreto para a elucidação dos fatos, sobretudo quando esse depoimento for seguro, detalhado e consistente na descrição da conduta criminosa, como na espécie. 6. Recurso improvido. (TJ- PA - APL: 201330168788 PA, Relator: BRIGIDA GONCALVES DOS SANTOS, Data de Julgamento: 01/08/2014, 3ª CÂMARA CRIMINAL ISOLADA, Data de Publicação: 06/08/2014)
AMEAÇA - ÂNIMO EXALTADO - IDONEIDADE DA OFENSA -
DOLO ESPECÍFICO – PROVAS – PENAL - CRIME DE AMEAÇA - ÂNIMO EXALTADO - AUSÊNCIA DE IDONEIDADE DA OFENSA E DO DOLO ESPECÍFICO DE INFUNDIR TEMOR À VÍTIMA - PROVAS CONTRADITÓRIAS E INSUFICIENTES - DESPROVIMENTO DO RECURSO. Em razão do ânimo exaltado do agressor e da ausência de idoneidade da ofensa por ele proferida e, ainda, CONSIDERANDO QUE NÃO HOUVE DOLO ESPECÍFICO DE INFUNDIR TEMOR À VÍTIMA E QUE AS PROVAS SÃO CONTRADITÓRIAS, TORNA-SE IMPERIOSO A PREVALÊNCIA DA DECISÃO ABSOLUTÓRIA. (2ª Turma Recursal de Betim - Autos nº 83010-9/06 - Rel. Gilson Soares Lemes). Boletim nº 93.
AMEAÇA - MERA DISCUSSÃO – PROVAS - CRIME DE AMEAÇA
- MERA DISCUSSÃO ENTRE OS ENVOLVIDOS - INSUFICIÊNCIA DE PROVAS – NÃO PROVIMENTO AO RECURSO. Em razão de ausência de provas para comprovar a ameaça e, ainda, considerando que entre as partes houve apenas discussão, não se lembrando a vítima do tipo de ameaça que teria sofrido, torna-se imperioso a prevalência da decisão absolutória. (2ª Turma Recursal de Betim - Rec. nº 91528-0 - Rel. Juiz Gilson Soares Lemes). Boletim nº 94.
Destarte, ausente nos autos prova do dolo específico do réu e
em obediência ao princípio do in dubio pro reo, impositiva a absolvição do ora Acusado.
IV - DA CONCLUSÃO E DO PEDIDO FINAL
Conforme considerações tecidas em linhas volvidas, e por
entendê-las prevalecentes sobre as razões que justificaram o pedido de condenação despendido pelo ilustre órgão do Ministério Público, confiante no discernimento afinado e no justo descortino de Vossa Excelência, a defesa requer a ABSOLVIÇÃO do denunciado, forte no art. 386, VI, do CPP.
Por fim, superadas as teses supra, acaso condenado, requer
seja substituída a condenação por penas restritivas de direito, visto que o acusado preenche os requisitos dispostos no art. 44 e incisos do CP, tendo direito subjetivo à Substituição da Pena Corporal por ventura aplicada por uma ou mais Penas Restritivas de Direito, por se tratar de medida da mais salutar e indispensável JUSTIÇA!