Você está na página 1de 12

Habeas Corpus Criminal Nº 1.0000.23.

181750-3/000

<CABBCAADDAABCCBDCAABDAACBBABCCBBCCAAADDABACCB>
EMENTA: HABEAS CORPUS – HOMICÍDIO TENTADO – REVOGAÇÃO DA
PRISÃO PREVENTIVA – POSSIBILIDADE – MEDIDAS CAUTELARES
DIVERSAS DA PRISÃO – SUFICIÊNCIA E ADEQUAÇÃO. É descabida a prisão
cautelar quando inexistir demonstração objetiva do perigo gerado pelo
estado de liberdade do paciente, que é primário e não ostenta
antecedentes, sendo adequada a imposição de medidas cautelares
diversas da prisão.
V.V. Indícios de que o paciente teria tentado matar o seu companheiro,
mediante golpes de faca, após uma discussão sobre o término da relação,
não tendo alcançado o intento por circunstâncias alheias à sua vontade.
Indicativos de que também teria tentado atingir a mãe do ofendido com
uma faca e lhe dado uma cabeçada. Notícias de que as ameaças do
agente para a vítima já haviam começado há mais ou menos seis meses.
Não comprovou residência fixa. Acautelamento que se faz necessário para
garantia da ordem pública e da aplicação da lei penal, para obstar a saga
criminosa, acalmar os ânimos, e até mesmo para garantir a celeridade de
futura instrução processual, bem como a efetiva colheita de provas.

HABEAS CORPUS CRIMINAL Nº 1.0000.23.181750-3/000 - COMARCA DE RIBEIRÃO DAS NEVES - PACIENTE(S): MAGNO
HUMBERTO DOS SANTOS RODRIGUES - AUTORID COATORA: JUIZ DE DIREITO DA 1ª VARA CRIMINAL E DO TRIBUNALDO
JÚRI DE RIBEIRÃO DAS NEVES

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 8ª CÂMARA CRIMINAL do


Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata
dos julgamentos, em CONCEDER PARCIALMENTE A ORDEM.
VENCIDO O 2º VOGAL.

DES. HENRIQUE ABI-ACKEL TORRES


RELATOR

Fl. 1/12
Habeas Corpus Criminal Nº 1.0000.23.181750-3/000

DES. HENRIQUE ABI-ACKEL TORRES (RELATOR)

Trata-se de habeas corpus, com pedido liminar, impetrado por


Francio Túlio Silva Leite, inscrito na OAB/MG sob o nº 197.851, e Ricardo
Luiz Leopoldino, inscrito na OAB/MG sob o nº 153.336, em favor de
MAGNO HUMBERTO DOS SANTOS RODRIGUES, preso
preventivamente no bojo do expediente em que se apura seu suposto
envolvimento no crime previsto no art. 121, caput, c/c art. 14, II, do Código
Penal (CP), apontando-se como autoridade coatora a ilustre Juíza de
Direito da 1ª Vara Criminal e do Tribunal do Júri da Comarca de Ribeirão
das Neves/MG.
Os impetrantes sustentam, em síntese, a ausência dos requisitos
autorizadores da segregação cautelar.
Nesses termos, requerem a revogação da prisão preventiva, ainda
que com a imposição de medidas cautelares previstas no art. 319 do
Código de Processo Penal (CPP).
A inicial (ordem nº 01) veio instruída com documentos (ordem nº
02/04).
O pedido liminar foi indeferido (ordem nº 05).
A autoridade apontada como coatora prestou informações (ordem
nº 06).
Instada a se manifestar, a douta Procuradoria-Geral de Justiça
opina pela denegação da ordem de habeas corpus (ordem nº 07).
É o breve relatório.

ADMISSIBILIDADE
Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do writ.

MÉRITO

Fl. 2/12
Habeas Corpus Criminal Nº 1.0000.23.181750-3/000

Os impetrantes almejam a revogação da prisão preventiva imposta


ao paciente, ainda que cumulada com as medidas cautelares diversas da
segregação.
Após analisar detidamente os autos, entendo que a ordem deve
ser parcialmente concedida.
Consta dos autos que o paciente foi preso em flagrante no dia
14/06/2023, em decorrência da suposta prática do crime de homicídio
tentado, tipificados pelos art. 121, caput, c/c art. 14, II, do Código Penal
(CP).
Acerca das circunstâncias dos fatos em apuração, extrai-se do
APFD que:
“[...] ao chegarem no local dos fatos a guarnição se
deparou com a vítima João Paulo com sangramento e
uma toalha amarrada na região abdominal; QUE João
Paulo relatou ter sido alvejado com uma faca pelo seu
companheiro Magno Humberto, com o qual mantem
união estável de 11 (Onze) meses; QUE João Paulo
relatou que foi atingido pelo seu companheiro com 2
(duas) facadas na região abdominal após uma discussão
sobre o termino da relação; QUE João Paulo ainda
relatou que as brigas e ameaças por parte do
companheiro são constantes; QUE a vítima João Paulo
se encontrava consciente e recebeu atendimento médico
no Hospital Municipal São Judas Tadeu em ribeirão das
neves sob ficha nº1051921; QUE João Paulo se encontra
sob observação medica, motivo pelo qual não pode
comparecer a unidade policial; QUE no local dos fatos a
guarnição se deparou com Maria de Lourdes que é mãe
da vítima; QUE Maria relatou que durante a manhã de
hoje presenciou uma discussão entre seu filho e o
companheiro dele; QUE segundo Maria de Lourdes, a
discussão progrediu para lesões corporais, o que fez
com que Maria tivesse que intervir para evitar maiores
lesões; QUE Maria relatou que conseguiu tomar a faca
do autor após 2 (dois) golpes contra a vítima; QUE Maria
foi atingida pelo autor com uma “cabeçada na face”,
conforme se expressa; QUE Maria recebeu atendimento
médico sob ficha nº1051944 e recebeu liberação medica
para prestar esclarecimentos na unidade policial; QUE
Maria relatou que sua intervenção foi fundamental para

Fl. 3/12
Habeas Corpus Criminal Nº 1.0000.23.181750-3/000

evitar em um possível óbito [...]”. (ID 9836459482; autos


originários nº 5015321-36.2023.8.13.0231; PJe).

Em decorrência de tais fatos e após manifestação do Ministério


Público, a autoridade apontada como coatora converteu a prisão em
flagrante do paciente em preventiva, asseverando que:
“[...] Em primeiro lugar, impõe-se analisar se no caso
concreto há provas do fumus delicti e do periculum
libertatis.
O primeiro pressuposto assenta-se na demonstração
preliminar da existência do crime e na dos indícios
suficientes de sua autoria, os quais restaram atendidos
através do presente auto de prisão em flagrante delito,
notadamente nas suas peças consubstanciadas nos
depoimentos do condutor, testemunhas, boletim de
ocorrência e auto de apreensão.
Assim, restou-se, sumariamente, demonstrada a
existência do fato noticiado (homicídio), bem como o
apontamento de sua causa ao autuado.
Nesta fase não se exige prova plena, bastam meros
indícios que demonstrem a probabilidade do autuado ter
sido o autor do fato delituoso, o que restou pronta e
satisfatoriamente atendido.
Dispensam-se elementos probatórios uníssonos e
concludentes sobre a certeza da autoria, cujas matérias
são afetas ao próprio mérito da questão, a serem
apreciadas quando da entrega da prestação jurisdicional
final.
Além desses requisitos básicos, devem estar presentes,
outrossim, os fundamentos ensejadores da custódia
preventiva, fincados no segundo pressuposto, atinente ao
periculum libertatis: garantia da ordem pública ou ordem
econômica; conveniência da instrução criminal; e/ou
asseguração da aplicação da lei penal (art. 312 do CPP).
No caso concreto, a fotografia inicial materializada nos
autos revelou que o autuado teria, em tese, praticado
crime doloso contra a vida da vítima, desferindo-lhe dois
golpes de faca, e ainda proferido ameaças de morte e
também agredido a genitora do ofendido, com diversas
cabeçadas.
Extrai-se que o autuado já vinha tendo desentendimentos
com a vítima e lhe proferindo ameaças há 6 meses, o
que teria acirrado na data do fato, oportunidade em que,
a princípio, teria não só atingido a vítima com facadas,
como também tentou enforcá-la.

Fl. 4/12
Habeas Corpus Criminal Nº 1.0000.23.181750-3/000

Dessa forma, o contexto fático subjacente ao caso


concreto revelou acentuada periculosidade das condutas
do autuado, sinalizando desmedida e desproporcional
violência em face da vítima golpeada.
O cenário narrado indica maior risco do autuado e abalo
da ordem pública. Com efeito, impõe-se a decretação da
prisão para garantia da ordem pública (art. 312 do CPP).
É necessário conter novas condutas delituosas de forma
mais enérgica e severa, para estancar o rompimento da
ordem pública, freando eventuais novas ações.
Em liberdade, há fortes indícios de que o autuado
continuará a delinquir, o que deve ser coibido, por causar
intranquilidade ao meio social, com rompimento da tão
almejada paz pública, o que atrai a incidência do art.
282, inciso I, parte final, do CPP.
O caso debatido também atrai a necessidade de garantir
a conveniência da instrução criminal. Restou apurado
que a vítima do homicídio já vinha sendo ameaçada há
aproximadamente 6 meses e que as ameaças também
foram dirigidas à sua genitora, presente na cena do
crime.
É necessário assegurar a lisura da prova, para evitar
prejuízo da busca da verdade e esclarecimento dos
fatos, os quais devem ser apurados de forma isenta, sem
mácula e vícios.
Impõe-se garantir a idoneidade da prova, para que ela
seja produzida de forma plena e livre de qualquer
interferência que vise atacar a busca do real
esclarecimento dos fatos, evitando-se, assim, que o
autuado cause embaraço a finalização da apuração
delituosa.
Lado outro, o tipo penal do crime de homicídio possui
pena máxima em abstrato superior a quatro anos (art.
313, inciso I, do CPP) e estabelece pena privativa de
liberdade (art. 283, §1º, CPP).
No caso não é cabível a substituição da decretação da
prisão por outras medidas dentre as enumeradas no art.
319 do CPP, por serem inócuas, tornando frustrada a
ordem pública e a própria conveniência da instrução
criminal.
Deve-se repoisar que há relatos de que há seis meses o
autuado já vinha ameaçando a vítima e que a genitora
dela ao tempo todo tentou retirar a faca das mãos dele.
Dessa forma, há nítido risco de que, se solto, o autuado
inclusive, em tese, poderia finalizar a vontade de
consumar o crime que lhe foi atribuído. Tampouco incide
a hipótese do art. 317 do CPP.

Fl. 5/12
Habeas Corpus Criminal Nº 1.0000.23.181750-3/000

Não passa despercebido deste Juízo que a prisão


preventiva é medida de extrema exceção, face ao
princípio do estado de inocência fundado na Constituição
da República Federativa do Brasil (art. 5º, inciso LVII, da
CR/88), do qual decorre a vedação, em regra, da
proibição de execução antecipada da pena. Entretanto,
tal exceção deve imperar na hipótese, em preservação
da ordem pública e da conveniência da instrução
criminal.
As condições pessoais do autuado atinentes à
primariedade, bons antecedentes, residência fixa e
ocupação lícita não são suficientes para afastar o
cárcere preventivo, notadamente no caso debatido em
que estão presentes dois motivos que amparam a
aplicação da cautelar da prisão: ordem pública e
conveniência da instrução criminal, ao contrário do
alegado pela Defesa [...]” (ID 9837529850; autos
originários; PJe).

Posteriormente, no dia 07/07/2023, a ilustre Magistrada indeferiu


pedido de revogação da prisão preventiva (ID 9858511953; autos
originários; PJe).
Pois bem.
No tocante à adequação da segregação cautelar, verifica-se que o
delito imputado ao paciente é doloso e punível com pena privativa de
liberdade máxima superior a 04 (quatro) anos, restando adimplido,
portanto, o disposto no art. 313, I, do CPP.
Cumpre ressaltar a possibilidade de conjugação da prisão cautelar
com o princípio da presunção de inocência, já que a própria Constituição
da República (CRFB/88), em seu art. 5º, LXI, prevê o cabimento deste
tipo de custódia, desde que preservada a característica da
excepcionalidade e quando subordinada à necessidade concreta, real,
efetiva e justificada.
A prova da materialidade e os indícios de autoria, requisitos
insertos no caput do art. 312 do CPP, encontram-se consubstanciados
pelos elementos informativos angariados até então, notadamente nos
seguintes documentos: auto de apreensão (ID 9836459493; autos

Fl. 6/12
Habeas Corpus Criminal Nº 1.0000.23.181750-3/000

originários; PJe), boletim de ocorrência (ID 9836459486; autos originários;


PJe), auto de prisão em flagrante delito (ID 9836459482; autos originários;
PJe) e exame corporal (ID 9836459480; autos originários; PJe).
Contudo, com a devida vênia à ilustre Juíza de Direito que
converteu a prisão em flagrante do paciente em preventiva, entendo que a
imprescindibilidade da segregação cautelar de Magno Humberto não
restou demonstrada.
Sabe-se que a segregação preventiva deve sustentar-se, com
clareza, nos requisitos de cautelaridade previstos no art. 312 do CPP, ou
seja, quando houver prova da materialidade, indícios suficientes de
autoria e demonstração objetiva do perigo gerado pelo estado de
liberdade.
Ainda, há que se observar, à inteligência do disposto no art. 282,
§6º, do CPP, que a custódia preventiva somente será determinada
quando incabível sua substituição por medidas cautelares diversas, à
observância do art. 319 do mesmo diploma legal.
Com efeito, se as circunstâncias em que o delito foi perpetrado e
as condições pessoais do paciente não evidenciarem de forma concreta
a necessidade da prisão preventiva, extrema ratio em matéria penal, a
liberdade se impõe, ainda que submetida a outras providências
cautelares menos gravosas.
Ademais, consoante entendimento jurisprudencial do colendo
Superior Tribunal de Justiça, a gravidade abstratamente cominada ao
delito não é fundamento suficiente para autorizar a imposição da prisão
preventiva (STJ - AgInt no RHC 144.405, Rel.(a): Min.(a) Reynaldo
Soares da Fonseca, QUINTA TURMA, julgamento em 13/04/2021,
publicação da súmula em 19/04/2021).
No caso, verifica-se do relatório de registros policiais (ID
9836459490; autos originários; PJe) e certidão de antecedentes criminais
(ID 9836470164; autos originários; PJe) que Magno Humberto é primário

Fl. 7/12
Habeas Corpus Criminal Nº 1.0000.23.181750-3/000

e não possui maus antecedentes, circunstâncias que corroboram com a


desnecessidade de sua segregação cautelar, pelo menos neste
momento.
De mais a mais, não há qualquer indicativo de que a liberdade do
paciente possa implicar em turbação da produção probatória, tampouco
em probabilidade de fuga, que não podem ser inferidas pelo julgador, em
observância ao princípio da presunção de não culpabilidade.
Em audiência de custódia (PJe-mídias), Magno Humberto se
comprometeu a não se aproximar das vítimas, sendo certo que não há
elementos concretos nos autos de que, em liberdade, ele irá atentar
novamente contra a vida dos ofendidos, sendo, por ora, suficiente a
imposição de medidas cautelares diversas da prisão.
Em resumo: não há elementos aptos a demonstrar, objetivamente,
o perigo gerado pelo estado de liberdade do paciente, nem elevada
potencialidade lesiva de sua conduta, a justificar a imposição da prisão
preventiva.
Nesse sentido, já se manifestou esta colenda 8ª Câmara Criminal:
EMENTA: HABEAS CORPUS - TENTATIVA DE
HOMICÍDIO - PRISÃO PREVENTIVA - REVOGAÇÃO -
NECESSIDADE - PERICULUM LIBERTATIS NÃO
EVIDENCIADO - CONDIÇÕES PESSOAIS
FAVORÁVEIS - MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS -
SUBSTITUIÇÃO - POSSIBILIDADE - ADEQUAÇÃO E
SUFICIÊNCIA - ORDEM PARCIALMENTE CONCEDIDA.
1. A prisão preventiva é medida excepcional, sendo
reservada aos casos em que restar evidente o periculum
libertatis do indivíduo. 2. Não havendo elementos
concretos que justifiquem a imposição da medida
extrema, sobretudo levando-se em consideração as
condições pessoais favoráveis do paciente, a aplicação
de medidas cautelares alternativas à prisão se mostra
adequada, proporcional e suficiente. (TJMG - Habeas
Corpus Criminal 1.0000.23.067324-6/000, Relator(a):
Des.(a) Maurício Pinto Ferreira , 8ª CÂMARA CRIMINAL,
julgamento em 20/04/2023, publicação da súmula em
20/04/2023)

EMENTA: "HABEAS CORPUS" - HOMICÍDIO

Fl. 8/12
Habeas Corpus Criminal Nº 1.0000.23.181750-3/000

QUALIFICADO TENTADO E FURTO QUALIFICADO -


REVOGAÇÃO DA SEGREGAÇÃO CAUTELAR -
NECESSIDADE - DIREITO DE RECORRER EM
LIBERDADE - POSSIBILIDADE - MEDIDAS
CAUTELARES DIVERSAS DA PRISÃO - SUFICIÊNCIA
E ADEQUAÇÃO.
- É descabida a prisão cautelar, quando inexistir
demonstração objetiva do perigo gerado pelo estado de
liberdade do paciente, que é primário e respondeu a todo
o processo em liberdade, tendo sido esta, inclusive, sido
mantida em sentença de pronúncia.
- As medidas cautelares diversas da prisão são
adequadas e suficientes, quando, além das condições
pessoais do agente serem favoráveis, as circunstâncias
do suposto crime não ultrapassarem a gravidade inerente
ao tipo penal. (TJMG - Habeas Corpus Criminal
1.0000.23.097992-4/000, Relator(a): Des.(a) Âmalin Aziz
Sant'Ana , 8ª CÂMARA CRIMINAL, julgamento em
18/05/2023, publicação da súmula em 19/05/2023)

Portanto, em observância à excepcionalidade da segregação


cautelar, tendo em vista as peculiaridades do caso concreto e as
condições pessoais favoráveis do paciente, entendo que a aplicação de
medidas cautelares diversas da prisão é providência suficiente e
adequada para aplicação da lei penal e para o bom andamento da
investigação e de eventual instrução criminal, nos termos do art. 282 do
CPP.

DISPOSITIVO
Diante do exposto, CONCEDO PARCIALMENTE A ORDEM, para
revogar a prisão preventiva de Magno Humberto dos Santos Rodrigues,
mediante a imposição de medidas cautelares diversas da prisão, com
fulcro no art. 319 do CPP, consistentes em:
a – Compromisso de comparecimento a todos os atos do
processo (art. 310, §1º, do CPP);
b – Comparecimento periódico em juízo para informar e justificar
atividades (art. 319, I, do CPP);

Fl. 9/12
Habeas Corpus Criminal Nº 1.0000.23.181750-3/000

c – Proibição de frequentar bares, boates e festas (art. 319, II, do


CPP);
d – Proibição de manter contatou ou se aproximar da vítima e
testemunhas (art. 319, III, do CPP);
e – Proibição de se ausentar da Comarca sem autorização judicial
(art. 319, VI, do CPP); e
f – Monitoração eletrônica (art. 319, IX, do CPP).
Faculto à autoridade judicial apontada como coatora, se entender
necessário, a fixação de outras condições.
Caso meu entendimento seja acompanhado pelos meus
eminentes Pares, comunique-se, com urgência, a autoridade coatora
sobre o teor deste acórdão, determinando que seja expedido o
competente alvará de soltura clausulado, mediante a assinatura de
termo de compromisso de comparecimento a todos os atos processuais
e de cumprimento das medidas cautelares diversas da prisão, advertindo
a paciente que o descumprimento de quaisquer delas poderá, nos termos
do art. 282, §4º, do CPP, ensejar a decretação de nova prisão preventiva.
Sem custas.
É como voto.

DESA. ÂMALIN AZIZ SANT'ANA

De acordo com o Relator.

DES. DIRCEU WALACE BARONI

Peço vênia ao eminente Des. Relator para divergir de seu voto.


Isso porque, analisando os documentos carreados aos autos,
entendo que a prisão preventiva deve ser mantida, ante a presença de
seus pressupostos, requisitos e fundamentos autorizadores.

Fl. 10/12
Habeas Corpus Criminal Nº 1.0000.23.181750-3/000

Consta que o paciente Magno, supostamente, mediante golpes de


faca, teria tentado matar o seu companheiro, após uma discussão sobre o
término da relação, não tendo alcançado o intento por circunstâncias
alheias à sua vontade (intervenção da mãe da vítima).
Ressalte-se relato do condutor do flagrante (acesso através do PJE)
de que o ofendido teria afirmado aos militares que as brigas e ameaças por
parte de Magno são constantes.
Em seu depoimento prestado na depol (acesso através do PJE), a
genitora do ofendido afirmou que o paciente também tentou atingi-la com
uma faca e lhe deu uma cabeçada.
Nesse contexto, não se pode olvidar a gravidade concreta do
crime imputado ao paciente, evidenciada pelo modus operandi
supostamente empregado por ele – a revelar periculosidade.
Há de se considerar, ainda, relato da mãe da vítima de que as
ameaças do paciente para seu filho já haviam começado há mais ou menos
seis meses.
Data venia, a segregação cautelar se mostra necessária para
garantia da ordem pública e da aplicação da lei penal, para obstar a saga
criminosa, acalmar os ânimos, evitando o desdobramento em
consequências mais gravosas (como a efetiva retaliação da vítima e da
mãe dela, por exemplo), e até mesmo para assegurar a celeridade de
futura instrução processual, bem como a boa colheita de provas – sendo
certo que a autoridade apontada como coatora está mais próxima dos
fatos e possui mais subsídios à análise de eventual revogação da
preventiva.
É de se destacar, outrossim, que, conforme jurisprudência firmada,
condições de natureza pessoal favoráveis ao paciente (como o fato de ser
primário e de ter ocupação lícita) não são suficientes para autorizar a
concessão da liberdade provisória, quando presentes outros elementos
que recomendam a manutenção da custódia cautelar, como no presente
caso.

Fl. 11/12
Habeas Corpus Criminal Nº 1.0000.23.181750-3/000

Soma-se que Magno não comprovou residência fixa (o documento


juntado aos autos não está em nome dele – fl. 14 do doc. único), mais um
motivo para a preventiva.
Em face do exposto, com a devida vênia ao Des. Relator, DENEGO
A ORDEM impetrada.
Sem custas.
É como voto.

SÚMULA: "CONCEDERAM PARCIALMENTE A ORDEM, VENCIDO O 2º


VOGAL"

Fl. 12/12

Você também pode gostar