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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE RONDÔNIA

2ª PROCURADORIA DE JUSTIÇA
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PARECER Nº 9464/2022
AUTOS N° 0807701-24.2022.8.22.0000 – 1ª CÂMARA CRIMINAL
HABEAS CORPUS – VILHENA/RO
PACIENTE - IDAMAR ROSSACI
IMPETRANTE - JEFFERSON SILVA DE BRITO (OAB/RO 2.952)
JUIZ DE DIREITO DA 1ª VARA CRIMINAL DA
IMPETRADO -
COMARCA DE VILHENA/RO
RELATOR - DESEMBARGADOR JOSÉ JORGE RIBEIRO DA LUZ

Eminente Relator,
Colenda Câmara Criminal:

Trata-se de Habeas Corpus, impetrado por Jefferson Silva de Brito


(OAB/RO 2.952), em favor de IDAMAR ROSSACI, apontando como
autoridade coatora o Juízo de Direito da 1ª Vara Criminal da Comarca de
Vilhena/RO.

No presente writ, o impetrante requer a concessão da possibilidade


do paciente, que se encontra foragido, participar do plenário do Tribunal de
Júri por videoconferência, bem como postula a conversão da prisão
preventiva por outras medidas cautelares.

Juntou documentos.

O pedido de liminar foi indeferido, ocasião em que foram


solicitadas as informações da autoridade apontada como coatora, que as
prestou.

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Por derradeiro, vieram os autos a esta Procuradoria de Justiça para


análise e parecer.

Em síntese, o breve relato.

ADMISSIBILIDADE

Quanto as formalidades legais, presentes estão os pressupostos


objetivos e subjetivos necessários ao conhecimento do writ.

MÉRITO

A despeito das argumentações do impetrante, não vislumbramos a


presença de motivos a caracterizarem o constrangimento ilegal mencionado.

Depreende-se dos autos que autoridade policial representou pela


prisão preventiva do paciente em 01.02.2016, pela prática dos fatos apurados
no presente processo, de modo que, no dia seguinte, o juízo deferiu o pedido.

Em ato contínuo, o Ministério Público ofertou denúncia em


desfavor do paciente, a qual pedimos vênia para transcrever:

Consta do incluso Inquérito Policial que no dia 01/02/2016, por volta da


01h12min, na Rua Elias José da Silva, em Chupinguaia/RO, o denunciado
IDAMIR ROSSACI matou Edson Alves de Oliveira, mediante golpes de faca,
conforme fazem prova o laudo de exame em local de ação violenta de fls.
54/56, o registro de ocorrência de comunicação de morte de fl. 39, o prontuário
de atendimento médico de fls. 61/82 e o laudo de exame tanatoscópico de fls.
91/92.
Conforme apurado, IDAMIR compareceu ao local supracitado e começou a
bater violentamente na janela da residência, alegando que queria ver seu filho.
Sua ex-companheira Ana Paula mostrou-lhe a criança pela janela, porém o
denunciado começou a insistir que queria levar o menino com ele. Em razão
disso, Ana Paula deixou o filho sair e fechou novamente a porta.
Ato contínuo, o imputado arrombou a porta da residência e foi em direção a
vítima, armado com uma faca. Em seguida, o denunciado IDAMIR passou a
desferir diversos golpes de faca contra Edson, deixando-o caído ao chão com
múltiplas perfurações pelo corpo. Logo após, o imputado evadiu-se do local.
Verificou-se que as facadas desferidas pelo denunciado levaram a vítima a
óbito dois dias após os fatos, conforme registro de ocorrência de comunicação
de morte de fl. 39, prontuário de atendimento médico de fls. 61/82 e o laudo de
exame tanatoscópico de fls. 91/92.
Depreende-se, ainda, que o denunciado perpetrou o crime em questão por
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motivo torpe, pautado no abjeto sentimento de posse que tinha para com sua
ex-companheira, que à época convivia em união estável com a vítima.

Ocorre que mesmo após a decretação da prisão preventiva,


recebimento da denúncia e da pronúncia do paciente, este se encontra
foragido, com a sessão do plenário do júri designada para dia 02.09.2022.

Assim, não obstante as razões lançadas pelo impetrante, entendo


que, neste momento, não há como acolher a pretensão almejada, pois ao
contrário do alegado na exordial, a custódia cautelar do paciente ainda se
mostra necessária.

Além disso, resta clarividente a presença de, pelo menos, três dos
requisitos autorizadores da prisão cautelar, nos termos do artigo 312, do
Código de Processo Penal, quais sejam: garantia da ordem pública, por
conveniência da instrução criminal e para assegurar a aplicação da Lei penal,
devendo, portanto, ser mantido o decreto cautelar, eis que as circunstâncias do
caso demonstraram a periculosidade do paciente e a gravidade in concreto do
crime, consubstanciada no modus operandi da execução.

Nesse sentido:

Habeas Corpus. Homicídio qualificado. Motivo fútil. Prisão cautelar. Garantia da


ordem pública. Periculosidade concreta do paciente. Medidas cautelares. Insuficiência.
Decisão fundamentada. Inexistência de ilegalidade. Eventuais condições pessoais
favoráveis. Irrelevância. 1. Para a prisão preventiva, conquanto medida de
exceção, presente a fumaça da prática de um fato punível, ou seja, o fumus
commissi delicti, que é a comprovação da existência de um crime e indícios de sua
autoria, é desnecessária, sobretudo no limiar da ação penal, conclusão exaustiva,
bastando a simples probabilidade de sua ocorrência. 2. Está fundamentada a
decisão que decreta a prisão preventiva indicando a existência da materialidade e
dos indícios de autoria e apontando, de forma concreta, os elementos extraídos da
situação fática que levaram o magistrado a concluir pela necessidade da prisão. 3.
Mantém-se a prisão da paciente que demonstra periculosidade incompatível com
a liberdade revelada pelo modus operandi com que, a priori, praticou o delito,
sendo insuficiente a aplicação de medidas cautelares alternativas. 4. Eventuais
condições pessoais favoráveis, por si sós, não são suficientes para autorizar a
concessão de liberdade provisória se presentes os motivos ensejadores do decreto
de prisão preventiva. 5. Ordem denegada. (Habeas Corpus, Processo nº 0006462-
57.2018.822.0000, Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia, 2ª Câmara Criminal,
Relator(a) do Acórdão: Des. Miguel Monico Neto, Data de julgamento: 28/11/2018 –
n.n.); e

Habeas corpus. Homicídio. Prisão Preventiva. Requisitos presentes. Gravidade


concreta do delito. Periculosidade do agente. Necessidade de garantia da aplicação da
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lei penal. Condições pessoais. Irrelevância. Ordem denegada. 1. Se a conduta do


agente – seja pela gravidade concreta da ação, seja pelo próprio modo de
execução do crime – revelar inequívoca periculosidade, imperiosa a manutenção
da prisão para a garantia da ordem pública, sendo despiciendo qualquer outro
elemento ou fator externo àquela atividade. (Precedentes. HC 416126/RJ). 2. O
Superior Tribunal de Justiça, em orientação uníssona, entende que persistindo os
requisitos autorizadores da segregação cautelar (art. 312, CPP), é despiciendo o
paciente possuir condições pessoais favoráveis. Precedentes. (Habeas Corpus,
Processo nº 0006274-64.2018.822.0000, Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia,
1ª Câmara Criminal, Relator(a) do Acórdão: Des. Daniel Ribeiro Lagos, Data de
julgamento: 22/11/2018 – n.n.).

Ademais, eventuais condições pessoais favoráveis, por si só, não


afastam a possibilidade de prisão preventiva, uma vez que o paciente está
sendo processado por crime doloso punido com pena privativa de liberdade
máxima superior a 4 (quatro) anos, respeitando o disposto no artigo 313,
inciso I, do Código de Processo Penal.

Da mesma maneira, não cabe, no caso dos autos, a aplicação de


medidas cautelares diversas da prisão, uma vez que se mostram, igualmente,
insuficientes.

Com relação a possibilidade da participação do paciente do plenário


do Tribunal de Júri por videoconferência, a doutrina explica que há
incompatibilidade entre os institutos, razão pela qual não é possível a
realização do pleito do impetrante.

“Videoconferência e Tribunal do Júri: são incompatíveis. A Lei 11.900/2009


autorizou o uso da videoconferência em interrogatórios realizados na fase de
instrução perante juiz togado, tanto assim que indicou as modalidades de
audiências que suportam a utilização dessa tecnológica (arts. 400, 411 e 531,
CPP). Em caso algum, permitiu-se a operacionalização da instrução no plenário
do Tribunal do Júri por meio de videoconferência, o que seria, de fato, medida
abusiva. Os princípios da oralidade, imediatidade e identidade física do juiz,
aplicados fielmente no Tribunal Popular, não se compatibilizam com esse
instrumento tecnológico. Os jurados são leigos e precisam do contato direto
entre eles e todos os depoentes, inclusive o réu, se desejar ser interrogado.
Transformar o plenário do júri num “programa de televisão”, valendo-se da
videoconferência para ouvir testemunhas e réu, sem qualquer contato entre
julgadores leigos e as peças principais do processo[...]”1

No mais, no mesmo sentido é a jurisprudência do Superior Tribunal


de Justiça, vejamos:
1 NUCCI. Guilherme de Souza. Código de Processo Penal Comentado. Rio de Janeiro: Forense, 2014.
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PRISÃO PREVENTIVA. FUNDAMENTOS. ELEMENTOS CONCRETOS.


LATROCÍNIO CONSUMADO. ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA. EXCESSO
DE PRAZO. INEXISTÊNCIA. NULIDADE. PRETENSÃO AO
INTERROGATÓRIO VIRTUAL. INAPLICABILIDADE DO ART. 220
DO CPP. ORDEM DENEGADA. 1. O Tribunal estadual, transcrevendo toda a
cronologia dos atos processuais, afastou qualquer desídia do julgador na
condução do feito, considerando, ainda, justificada a determinação de
redesignação de audiências. Os fundamentos da determinação de prisão já
foram exaustivamente examinados em outros habeas corpus impetrados e
distribuídos a esta C. 13ª Câmara de Direito Criminal (HC 2105207-
56.2020.8.26.0000, 2079157-90.2020.8.26.0000 e 2009225-
15.2020.8.26.0000), destacada a gravidade concreta do crime supostamente
praticado, latrocínio consumado e organização criminosa. 2. Não cabe a
pretensão de realizar o interrogatório de forma virtual. Situação do
paciente, foragido por considerável período, que não se amolda ao disposto
no art. 220 do CPP. 3. Habeas corpus denegado. (HC n. 640.770/SP, relator
Ministro Sebastião Reis Júnior, Sexta Turma, julgado em 15/6/2021, DJe de
21/6/2021) (Grifo nosso

Por fim, importante destacar três circunstâncias que reforçam a


impossibilidade do paciente participar do julgamento por videoconferência.

O primeiro já fora bem apontado na decisão que denegou a liminar,


no sentido de que “não se está negando a possibilidade de o acusado ser
interrogado perante o Tribunal do Júri, podendo este comparecer
presencialmente para o ato solene.”

Já o segundo é que a decisão do Supremo Tribunal Federal (HC


214.916) foi realizada monocraticamente, em sede liminar, não havendo
vinculação ou decisão colegiada da citada corte sobre a matéria.

Por fim, o terceiro é que os precedentes supraditos dizem respeito a


instrução criminal, porém, o rito do tribunal de júri é formado por duas fases
distintas, de modo que a segunda delas, denominada judicium causae é suis
generis e distinta de uma instrução ordinária.

CONCLUSÃO

Assim, in casu, esta Procuradoria de Justiça se manifesta pelo


conhecimento do writ e, no mérito, pela denegação da ordem.

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Porto Velho, 24 de agosto de 2022.

FRANCISCO ESMONE TEIXEIRA


Procurador de Justiça

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