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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

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Nº 25.625/CS

HABEAS CORPUS N. 131.924 – SÃO PAULO


IMPETRANTE: RICARDO CARNEIRO CARDOSO DA COSTA
PACIENTE: ADRIANO APARECIDO AUGUSTO

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IMPETRADO: RELATOR DO HC Nº 320.145 DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA
RELATOR: MINISTRO MARCO AURÉLIO

PENAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS


IMPETRADO CONTRA DECISÃO MONOCRÁTICA QUE
JULGOU PREJUDICADO O WRIT ORIGINÁRIO.
INEXISTÊNCIA DE DECISÃO ILEGAL. SITUAÇÃO
EXCEPCIONAL NÃO CARACTERIZADA.
INCOMPETÊNCIA DESSA CORTE. NÃO
CONHECIMENTO. HOMICÍDIO QUALIFICADO,
PROVOCAÇÃO DE ABORTO E OCULTAÇÃO DE
CADÁVER. PREVENTIVA. DECISÃO DE PRONÚNCIA
QUE NÃO PERMITIU O RECURSO EM LIBERDADE.
PRESENÇA DOS REQUISITOS AUTORIZADORES DA
PRISÃO CAUTELAR. AMEAÇA À ORDEM PÚBLICA.
GRAVIDADE CONCRETA DO DELITO.
PERICULOSIDADE EVIDENCIADA PELO MODUS
OPERANDI. EXCESSO DE PRAZO. RAZOABILIDADE QUE
SE IMPÕE. AUSÊNCIA DE DESÍDIA DO JUDICIÁRIO.
CONTRIBUIÇÃO DA DEFESA. CONSTRANGIMENTO
ILEGAL NÃO CONFIGURADO. PARECER PELO NÃO
CONHECIMENTO DO PEDIDO E, NO MÉRITO, PELA
DENEGAÇÃO DA ORDEM.

1. O paciente Adriano Aparecido Augusto foi denunciado pela prática


dos crimes tipificados nos artigos 121, § 2º, incisos IV e V (homicídio
qualificado pela utilização de recurso que dificulte a defesa da vítima e para
assegurar a impunidade de outro crime), 125 (provocar aborto) e 211
(destruição e ocultação de cadáver), todos do Código Penal.

2. O Juízo da 1ª Vara Criminal da Comarca de Assis/SP converteu a


prisão temporária do paciente, ocorrida em 22 de novembro de 2012, em
preventiva, aos seguintes fundamentos:
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“Trata-se de representação da d. Autoridade Policial pela conversão da
prisão temporária dos investigados ADRIANO APARECIDO AUGUSTO,
CRISTIANO APARECIDO AUGUSTO, JAIRO ALVES SAMPAIO E ABÍLIO
EDUARDO FERNANDES TEIXEIRA, em PRISÃO PREVENTIVA,
supostamente envolvidos na prática dos delitos homicídio e posterior

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esquartejamento e ocultação de cadáver.
O i. Promotor de Justiça manifestou-se favoravelmente ao pedido da prisão
preventiva, nos termos do artigo 312 do Código de Processo Penal, como
garantia da ordem pública, por conveniência da instrução criminal e como
forma de assegurar a aplicação da lei penal (fl. 771/772).
É o relatório.
Inicialmente, cumpre ressaltar que aos acusados é imputado crime de
extrema gravidade, que por si só já demonstra a periculosidade dos
indiciados.
Desta forma, encontram-se presentes os requisitos que autorizam a
decretação da prisão preventiva, porque se soltos, poderiam vir a intimidar
testemunhas, influenciar a prova, visando a aplicação da lei penal.
Assim, para garantia da ordem pública, conveniência da instrução criminal
e para assegurar a aplicação da lei penal, converto a prisão temporária dos
indiciados ADRIANO APARECIDO AUGUSTO, CRISTIANO APARECIDO
AUGUSTO, JAIRO ALVES SAMPAIO, e ABÍLIO EDUARDO FERNANDES
TEIXEIRA em PRISÃO PREVENTIVA e o faço com fundamento nos artigos
311 e seguintes do Código de Processo Penal, expedindo-se mandado de
prisão e encaminhando aos órgãos competentes.”

3. Em 31 de julho de 2013 sobreveio decisão de pronúncia que manteve


a prisão preventiva do paciente nos seguintes termos:

“Não se concede o direito dos corréus ADRIANO APARECIDO


AUGUSTO, CRISTIANO APARECIDO AUGUSTO, JAIRO ALVES
SAMPAIO e ABiLIO EDUARDO FERNANDES TEIXEIRA recorrerem em
liberdade, a fim de se assegurar a ordem pública. Ademais, tal benefício é
incompatível com a repercussão social e a periculosidade inerente ao delito
imputado aos referidos acusados, recomendando-os na prisão em que se
encontram.”

4. A defesa impetrou habeas corpus perante o Tribunal de Justiça do


Estado de São Paulo, que manteve a prisão preventiva. Em seguida,
impetrou-se habeas corpus no Superior Tribunal de Justiça (HC n.
320.145/SP), que foi denegado pelo Ministro Relator por decisão
monocrática.
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5. No presente mandamus alega-se novamente a ausência de
fundamentos válidos na decisão que decretou a preventiva e na sentença de
pronúncia para a manutenção da custódia cautelar do paciente. Assevera

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ainda que a prisão cautelar está fundamentada apenas na gravidade
abstrata do delito e na presunção de intimidação das testemunhas. Salienta
ainda as condições pessoais favoráveis do paciente.

6. Afirma que “não há indícios evidentes de que o Paciente teria


concorrido com a prática dos crimes a ele imputado” e que “o Ministério
Público avaliou de forma desequilibrada as provas colhidas pela autoridade
policial, e denunciou o Paciente com base em depoimentos contraditórios,
argumentos sem comprovação fática e elementos irrelevantes”.

7. Destaca também o excesso de prazo na formação da culpa, eis que o


paciente está preso há mais de três anos. Pede, ao final, a revogação da
prisão preventiva, permitindo ao paciente responder ao processo criminal
em liberdade.

8. Preliminarmente, impõe-se a extinção do feito sem julgamento do


mérito, dada a inadmissibilidade de habeas corpus impetrado contra decisão
monocrática proferida no âmbito do STJ. A jurisprudência dessa Corte
firmou-se no sentido de que apenas o acórdão de Corte Superior pode ser
submetido à sua apreciação1, sob pena de supressão de instância e
desrespeito às regras constitucionais de competência.

1 “(...) O habeas corpus é incabível quando endereçado em face de decisão monocrática que
nega seguimento ao writ, sem a interposição de agravo regimental. 4. A competência desta
Corte para a apreciação de habeas corpus contra ato do Superior Tribunal de Justiça
(CRFB, artigo 102, inciso I, alínea “i”) somente se inaugura com a prolação de decisão do
colegiado, salvo as hipóteses de exceção à Súmula nº 691 do STF, sendo descabida a
flexibilização desta norma, máxime por tratar-se de matéria de direito estrito, que não pode
ser ampliada via interpretação para alcançar autoridades – no caso, membros de Tribunais
Superiores – cujos atos não estão submetidos à apreciação do Supremo. (...) 7. Ordem de
habeas corpus extinta por inadequação da via eleita.” - grifos nossos (HC 112422, Rel. Min. Luiz
Fux, Primeira Turma, julgado em 13/08/2013, DJe-167 DIVULG 26/08/2013 PUBLIC 27/08/2013).
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9. Além disso, a decisão monocrática que denegou o HC n. 320.145/SP
não analisou o pedido de revogação da preventiva em razão da deficiência

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na instrução do feito (ausência de cópia do decreto prisional). É pacífica a
jurisprudência no sentido de que, não estando o pedido de habeas corpus
devidamente instruído, a deficiência compromete a sua viabilidade,
impedindo que se verifique a caracterização do alegado constrangimento.

10. Nesse sentido: “A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal não


admite o conhecimento de habeas corpus quando os autos não foram
instruídos com as peças necessárias à confirmação da efetiva ocorrência do
constrangimento ilegal” (STF. HC 91.755/MG, Rel. Cármen Lúcia, Primeira
Turma, DJe 23/11/2007).

11. Destacou-se ainda que a impossibilidade de analise da “alegação de


que as testemunhas foram forjadas e que inexistem provas da participação
do paciente no crime” porque “a estreita via do habeas corpus não permite
dilação probatória, sendo necessária para a concessão da ordem a patente
demonstração da ilegalidade, o que não se afigura presente neste caso, já
que a constatação de tal fato exigiria, invariavelmente, o reexame detido das
provas”.

12. Por outro lado, não se vislumbra ilegalidade na decisão do Superior


Tribunal de Justiça, pois essa Corte já se manifestou por diversas vezes
sobre a impossibilidade de se permitir que o réu, preso preventivamente
durante toda a instrução criminal, aguarde em liberdade o julgamento pelo
Tribunal do Júri, se mantidos os motivos da segregação cautelar.

13. Assim sendo, considerando a validade do motivos que ensejaram a


denegação do HC n. 320.145/SP, é totalmente improcedente o pedido de
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conhecimento das questões originariamente pelo Supremo Tribunal Federal,
sob pena de indevida supressão de instância.

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14. No mérito, não há situação de constrangimento ilegal que autorize a
concessão de habeas corpus de ofício.

15. Não há dúvida de que a duração da custódia por mais de três anos
sem que se tenha realizado o julgamento pelo Tribunal do Júri, não é a
situação ideal. No entanto, o caso apresenta peculiaridades que autorizam a
permanência da custódia, invocando-se, para tanto, o princípio da
razoabilidade.

16. Como bem ressaltou a decisão do Superior Tribunal de Justiça, o


feito tem regular movimentação, não havendo desídia do Poder Judiciário na
sua condução:

“Com relação ao excesso de prazo, tem-se que a prisão temporária do réu


foi decretada em 8/11/2012, prorrogada em 12/12/2012 e convertida em
preventiva em 11/1/2013. A denúncia foi ofertada em 21/1/2013 e em
22/2/2013 o juízo ratificou o recebimento e designou audiência de instrução e
julgamento, que foi realizada em duas partes, a primeira em 20/5/2013 e a
segunda em 22/5/2013. Em 31/7/2013, foi proferida sentença de pronúncia, a
partir da qual foi interposto recurso em sentido estrito pela defesa. Tendo em
vista a desistência dos advogados em patrocinar os interesses dos réus, os
autos foram devolvidos pelo TJSP, em 1º/12/2014, ao juízo monocrático para
se proceder a intimação dos réus para constituírem novo defensor. Foram
expedidos mandados e cartas precatórias para essa finalidade. Após a
realização da diligência, os autos foram recebidos pelo relator em 1º/6/2015 e
lá estão conclusos desde então.
A jurisprudência desta Corte é firme no sentido de que o prazo para a
conclusão da instrução criminal não tem as características de fatalidade e de
improrrogabilidade, fazendo-se imprescindível raciocinar com o juízo de
razoabilidade para definir o excesso de prazo, não se ponderando a mera
soma aritmética dos prazos para os atos processuais.
Tendo em vista o desenrolar do processo, não se mostra evidenciado o
alegado excesso de prazo. Isso porque, a partir das informações prestadas e
junto ao próprio andamento processual do feito, dessume-se que não houve
desídia ou inércia estatal em sua condução, visto que os atos processuais
foram praticados regularmente e observando-se sempre o seu desencadear
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normal.
Ademais, o fato de a ação penal contar com réus presos em comarcas
diversas daquela em que tramita o feito, exigindo, assim, a expedição de
cartas precatórias, bem como a pluralidade de acusados e o fato de os
advogados terem desistido de patrocinar os interesses dos réus,

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desencadeando a realização de inúmeros atos instrutórios, tornam razoável o
elastério do prazo para a finalização da instrução frente a tais circunstâncias
excepcionais.”

17. Ademais, a demora na formação da culpa também é atribuível à


defesa que interpôs diversos pedidos infundados.

18. Diante dessas informações, constata-se que o feito principal tem


regular trâmite, não se podendo falar em “situação anômala que
compromete a efetividade do processo” ou “desprezo estatal pela liberdade
do cidadão” (HC 85237/DF, Rel. Min. Celso de Mello, Tribunal Pleno, DJ
29/04/2005). Ao contrário, o parâmetro da razoabilidade autoriza e legitima a
manutenção da prisão do paciente e demais corréus.

19. Quanto a prisão do paciente, parece ao Ministério Público que,


considerando a gravidade dos fatos objeto da acusação, afigura-se
temerária a concessão da liberdade apenas com fundamento no excesso de
prazo.

20. De fato, a prisão preventiva está fundamentada na gravidade em


concreto da conduta, especialmente pelo modo de execução do delito,
conforme se depreende da leitura da denúncia:

“(...) Assim, os denunciados nutriam raiva de Sílvia, especialmente os


irmãos CRISTIANO "Quezão" e ADRIANO "Shrek". Para vingarem-se dela em
razão de tais fatos e para impedir que ela noticiasse a Polícia a conduta
criminosa deles e, assim, permitir que continuassem cometendo de modo
impune e lucrativo o tráfico de drogas, os denunciados decidiram matar a
ofendida.
Para tanto, CRISTIANO e ADRIANO cooptaram JAIRO "Niquinha" e
ABÍLIO e a pessoa ainda não identificada, a quem expuseram o propósito de
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matar Sílvia e os motivos do delito. Todos concordes, na noite de 8 para 9 de
março de 2008, usando provavelmente o automóvel VW Santana preto que
depois viria a ser apreendido na posse de CRISTIANO "Quezão", esse e os
denunciados ADRIANO "Shrek" e ABÍLIO rumaram para a casa da ofendida.
Ali, ADRIANO e ABÍLIO entraram na casa dela, tiraram dali os filhos dela e os

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entregaram para a mulher que ainda não foi identificada, que ocupava outro
carro, de cor clara, possivelmente branca, e que removeu dali as crianças. Em
seguida CRISTIANO e ABÍLIO entraram na casa e, com emprego de força
física arrebataram Sílvia, sendo certo que testemunhas presenciaram
quando taparam sua boca e usaram possivelmente algodão para calá-la.
Colocaram então, a ofendida no carro de CRISTIANO e a levaram para
lugar ignorado onde, com o auxílio de JAIRO, mataram-na e, ao mesmo
tempo, como ela estava grávida, fato que era do conhecimento dos
denunciados, provocaram o abortamento do feto.
Depois, com o fito de ocultarem os crimes que tinham cometido e
livrarem-se do cadáver da ofendida, os denunciados esquartejaram-na.
Segmentaram cabeça, membros e tronco, usando equipamentos
apropriados e empregando conhecimento técnico posto que as secções
foram feitas nas articulações, sem destruição dos ossos - fl. 33.
Esquartejado o cadáver, os denunciados, sempre agindo conforme a
combinação de vontades que os movia desde deliberação homicida,
acondicionaram as partes em sacos plásticos ocultaram-nas em lugar
não apurado, certamente em alguma geladeira ou freezer, a fim de
poderem posteriormente e aos poucos descartá-las, sem levantar
suspeita.
Cerca de 40 (quarenta) ou 50 (cinqüenta) dias depois, os
denunciados, sempre agindo conforme a prévia combinação de
vontades que os vinculava desde quando deliberaram pela morte da
ofendida, passaram a desfazer-se do cadáver que haviam esquartejado.
Assim, num período de dias, passaram a abandonar os sacos plásticos
que continham as partes do cadáver de Sílvia e do feto, espalhando-os e
diversos pontos, na zona urbana e em pastos nas proximidades.
Assim, em 30 de abril de 2008, policiais militares atendendo notícia
anônima, encontraram na R. José Paes Maldonado, nas proximidades do
"lixão" existente nas cercanias da antiga sede do "Lagu Praia Club", o quadril
e as coxas do cadáver da ofendida, assim como as roupas. Distante cerca de
100 m (cem metros) dali, encontrou-se um chumaço de cabelo. Confira-se o
boletim de ocorrência a fls. 3, as fotografias a fls. 54/59 e o laudo com
fotografias a fls. 352/357.
Em 3 de maio de 2008, policiais militares encontraram no final da R. Luiz
Chizolini, perto da via férrea, no meio do entulho, outras partes do cadáver da
ofendida, inclusive o crânio da ofendida, ainda com cabelo, e ossos do feto.
Confira-se o boletim de ocorrência a fls. 4, as fotografias a fls. 62/66 e o laudo
com fotografias a fl. 358/361.
Afinal, em 18 de maio de 2008, policiais militares foram acionados pela
testemunha Vanderlei, que noticiava ter encontrado partes de um cadáver em
um pasto existente na R. Arlindo de Gênova. A os milicianos encontraram
partes dos membros do cadáver Confira-se boletim de ocorrência a fls. 48/49
e o laudo com fotografias a fls. 89/100.
Havia notícia do desaparecimento de Sílvia e, com a localização de partes
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de um cadáver feminino e do feto, essas foram submetidas a exames
periciais, notadamente a de investigação de características genéticas, tendo-
se apurado que aquele cadáver encontrado esquartejado era o da ofendida,
assim como que eram do filho que ela esperava, sendo pai a testemunha
Paulo César, os ossos do feto encontrados junto com parte do corpo em

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decomposição.
Confira-se ao lauta a fls. 101/112, complementado a fls. 176/185 e a fls.
198/206.
Apreenderam-se objetos na casa do denunciado ADRIANO em 12/9/2008 -
fls. 189 nos quais havia vestígios compatíveis com sangue, revelados pelo
emprego da substância denominada Luminol - fls. 233/235 -, mas em
quantidade insuficiente para afirmar que se tratava de sangue humano - fls.
236/243.
Também na residência do pai de CRISTIANO e ADRIANO foram
apreendidos, em dezembro de 2009, um serrote e um ar de serra – fls. 218 - e
na casa de ABÍLIO foi apreendida uma serra de fabricação caseira - fls. 219.
Tais ferramentas foram submetidas a perícia apurando-se que a região
denticulada da serra de fabricação caseira esta impregnada de substância de
aparência similar a tecidos ósseos e ainda apresentava hemácias, células
epiteliais, por vezes anucleadas, alguns linfócitos, monócitos e
polimorfonucleares neutrólltos no ferro trefilado que servia de empunhadura
da serra - foto a fls. 250. Também foram encontradas várias hemácias,
linfócitos, monócitos e células epiteliais em sua maioria anucleadas na lâmina
da serra. Não se conseguiu demonstrar, todavia, a que tipo de tecido
pertenciam tais células. Confira-se a fl. 246/251.
Meses depois do desaparecimento de Sílvia, a amásia de ADRIANO, Keila,
foi presa em flagrante na posse de narcóticos, que, segundo as notícias
anônimas, pertenciam ao casal, confirmando informação de que um dos
motivos que lavaram os denunciados à prática crime foi o fato de Sílvia ter
ameaçado noticiar à Polícia a conduta criminosa de ADRIANO. Confira-se a
fls. 365/388.
ADRIANO, ABÍLIO, JAIRO e CRISTIANO foram reconhecidos como sendo
as pessoas que arrebataram Sílvia na última vez em que ela foi vista com vida
- fls. 394 e 653/656.
Há notícia, ainda, de que uma jaqueta preta, courotan, encontrada junto
com partes do cadáver, pertencia CRISTIANO - fl. 395. Tal peça de fato foi
encontrada com partes do corpo, em 30/4/2008, constou do relatório do laudo
a fls. 51 e pode ser vista na fotografia a fls. 55, foto da parte de baixo da
página.
Os denunciados perpetraram os crimes de homicídio e aborto para
assegurar a vantagem e o impunidade de crimes de trafico drogas a que
se dedicavam, posto que seu propósito era eliminar a ameaça que Sílvia
representava, dizendo que avisaria a Polícia sobre o tráfico que
realizavam.
Agiram os denunciados de modo a dificultar a defesa da ofendida, posto
que a atacaram de surpresa, arrebatando-a de casa em momento em que não
podia esperar e impondo-lhe a superioridade numérica e de força física
representada pelo fato de serem quatro homens. Quando a mataram, Sílvia
não tinha nenhuma chance de defesa.
Não foram encontradas todas as partes do cadáver de Sílvia, de sorte
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que não se conseguiu apurar a causa específica da morte.
Também a circunstância de os denunciados terem removido Sílvia para
lugar ignorado e ali matá-la sem a presença de testemunhas impede a
descrição pormenorizada de cada um na ação criminosa”. - Grifou-se.

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21. Tais fatos demonstram a ousadia e a extrema periculosidade do
paciente e demais corréus, bem como sua incapacidade de convívio em
sociedade. O crime foi executado de forma brutal, sendo a vítima, grávida,
amordaçada, morta e esquartejada. As partes do cadáver da mulher e do
feto foram guardadas numa geladeira ou freezer, sendo descartadas aos
poucos em locais distintos, para dificultar a localização e identificação.

22. O caso revela um complexo feixe de circunstâncias que, aliadas aos


requisitos do art. 312 do CPP, fundamentam (e sobretudo impõem) a prisão
cautelar do paciente e demais denunciados, em especial a gravidade
concreta do crime praticado, demonstrada pelo modus operandi e pelos
motivos do crime (manter a “impunidade de crimes de trafico drogas a que
se dedicavam”).

23. Em sintonia, destaca-se da jurisprudência dessa Corte que, "quando


da maneira de execução do delito sobressair a extrema periculosidade do
agente, abre-se ao decreto de prisão a possibilidade de estabelecer um
vínculo funcional entre o modus operandi do suposto crime e a garantia da
ordem pública" (HC 97.688 - 1.ª Turma do STF - Rel. Min. Carlos Ayres - j.
27/10/2009 - DJe de 27/11/2009).

24. Nesse mesmo sentido:

“HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL. PROCESSO PENAL. ROUBO


MAJORADO. ALEGAÇÃO DE AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO
CAUTELAR IDÔNEA DA DECISÃO QUE DECRETOU A PRISÃO
PREVENTIVA. IMPROCEDÊNCIA. ORDEM DENEGADA. 1 . Existem
fundamentos autônomos e suficientes para a manutenção da prisão do
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Paciente: a garantia da ordem pública em razão da periculosidade
evidenciada pelo modus operandi e do risco concreto de que o Paciente
venha a cometer novo delito. 2. Apesar de sucinta, a decisão está fundada
em elementos concretos devidamente comprovados nos autos. 3. Ordem
denegada.” (HC 109744, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA, Segunda Turma, julgado

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em 11/09/2012, DJe-187 DIVULG 21-09-2012 PUBLIC 24-09-2012).

“Recurso ordinário em habeas corpus. 2. Homicídio e tentativa de homicídio.


3. Prisão preventiva. Necessidade da segregação cautelar para garantir a
ordem pública. Gravidade demonstrada pelo modus operandi. Periculosidade
concreta do acusado. 4. Fundamentação idônea que recomenda a medida
constritiva. Ausência de constrangimento ilegal. 5. Recurso a que se nega
provimento.” (RHC 118016, Rel. Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma,
julgado em 03/09/2013, DJe-187 DIVULG 23-09-2013 PUBLIC 24-09-2013).

“HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO QUALIFICADO E CRIMES CONEXOS.


PRISÃO PREVENTIVA. GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. REITERAÇÃO
DELITIVA. INCOMUM CRUELDADE DOS MEIOS EMPREGADOS CONTRA
A VÍTIMA. ORDEM DENEGADA. (...) Não há que se falar em inidoneidade do
decreto de prisão, se este embasa a custódia cautelar a partir do contexto
empírico da causa. Contexto revelador da incomum gravidade da conduta
protagonizada pela paciente, caracterizada pela exacerbação de meios e a
partir de motivo torpe. A evidenciar, portanto, periculosidade envolta em
atmosfera de concreta probabilidade de sua reiteração. Precedentes. (...)” (HC
94330, Rel. Min. AYRES BRITTO, Segunda Turma, julgado em 20/03/2012,
DJe-078 DIVULG 20-04-2012 PUBLIC 23-04-2012).

25. Há notícia ainda de que o paciente e demais corréus, “por si ou por


terceiros por ordem deles”, tentaram interferir na produção de provas e inti-
midaram testemunhas, “a fim de que não deponham, mantendo a impunida-
de dos delitos, que até aqui durara quase cinco anos” (fls. 133 dos autos
eletrônicos, trecho extraído da manifestação favorável da Promotoria de
Justiça para a decretação da prisão preventiva).

26. Assim sendo, a prisão dos pacientes também é necessária para a


garantia da instrução criminal, com o fim de proteger a integridade d os
testemunhos na sessão do Júri. Neste sentido:

"HABEAS CORPUS. PROCESSO PENAL. INDEFERIMENTO DE LIMINAR


MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

MPF/PGR Nº 25.625/CS 11

http://www.transparencia.mpf.mp.br/atuacao-funcional/consulta-judicial-e-extrajudicial informando o código 3F6CAA53.131AC4C9.6F1AE455.25465AA0


PELO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. SÚMULA 691/STF. HOMICÍDIO
TRIPLAMENTE QUALIFICADO. ARTIGO 121, § 2º, INCISOS I, II E IV.
PRISÃO PREVENTIVA. GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. CONVENIÊNCIA
DA INSTRUÇÃO CRIMINAL. APLICAÇÃO DA LEI PENAL. DECISÃO
FUNDAMENTADA. EXCESSO DE PRAZO NA FORMAÇÃO DA CULPA NÃO

Documento assinado via Token digitalmente por CLAUDIA SAMPAIO MARQUES, em 22/09/2016 16:21. Para verificar a assinatura acesse
CONFIGURADO. 1. Não se conhece de habeas corpus impetrado contra
indeferimento de liminar por Relator em habeas corpus requerido a Tribunal
Superior. Súmula 691. Óbice superável apenas em hipótese de teratologia. 2.
Prisão preventiva decretada em razão do risco à ordem pública, da
conveniência da instrução criminal e da aplicação da lei penal, pois as
circunstâncias concretas dos autos indicam a periculosidade do agente,
a ameaça às testemunhas e a 'efetiva intenção e capacidade de se
esquivar, por meios ilícitos, da atuação estatal'. Precedentes. 3. A
razoável duração do processo não pode ser considerada de maneira isolada e
descontextualizada das peculiaridades do caso concreto. 4. Habeas corpus
extinto sem resolução do mérito." – grifou-se (HC nº 127.621/CE, Relª. Min.
Rosa Weber, DJe de 16/9/2015).

27. Por fim, é inviável a incidência de medidas cautelares diversas da pri-


são quando, além de haver motivação apta a justificar a segregação caute-
lar, as referidas medidas não se mostrarem adequadas e suficientes diante
da gravidade concreta do delito pelo qual foram denunciados o paciente e
demais corréus.

28. Ante o exposto, o Ministério Público Federal manifesta-se pelo não


conhecimento do habeas corpus e, no mérito, pela denegação da ordem,
cassando-se a liminar anteriormente deferida, inclusive em relação aos
corréus Cristiano Aparecido Augusto, Jairo Alves Sampaio e Abílio Eduardo
Fernandes Teixeira.

Brasília, 22 de setembro de 2016

CLÁUDIA SAMPAIO MARQUES


Subprocuradora-Geral da República

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