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MARCIA VALERIA DE C.

PAIVA
ADVOGADA

EXMO. SR. DR. DESEMBARGADOR 2º VICE-PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE


JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

MARCIA VALERIA DE CARVALHO PAIVA, brasileira, divorciada,


advogada regularmente inscrita na Ordem dos Advogados do Brasil, seccional do Rio de Janeiro,
sob o nº 72.661, com escritório localizado na Rua Francisco Sá, nº 23, grupo 1202, Copacabana,
nesta cidade, com fundamento no art. 5 º, inciso LXVIII da Constituição Federal, vem, com muito
respeito e acatamento, impetrar a presente ordem de

HABEAS CORPUS, COM PEDIDO DE LIMINAR

E, desde já, requer a dispensa das informações do processo, por estar o mesmo
instruído com as mesmas.

Em favor de ANDRÉ DE SOUZA


FERREIRA, brasileiro,casado, autônomo, prestador de serviços na empresa
“DISTRIBUIDORA DE ÁGUA SIRWALL LTDA”, localizada na Travessa Esperança, nº 21, loja
B, Rocinha, com residência fixa localizada na Travessa Flores, Bairro Barcelos, nº 153, Rocinha,
Rio de Janeiro, RJ, foragido, na forma dos artigos 647 e seguintes do Código de Processo Penal
brasileiro, contra possível ato coator doMM. Juiz de Direito da 3ª Vara Criminal da Comarca da
Capital, nos autos do Processo nº 0432839-88.2012.8.19.0001, com base nos elementos de fato e
de direito que passa a expor:

I – PRELIMINARMENTE

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Neste primeiro momento, importante ressaltar decisão do Superior Tribunal


de Justiça, de lavra da Ministra Maria Thereza de Assis:

“É certo que a ação de habeas corpusnão comporta fase


probatória. Todavia, isso não significa que não se possa
examinar a prova pré-constituída que instrui a petição
inicial. Ao contrário, há casos em que uma análise
detalhada faz-se necessária para que se possa aferir a
legalidade ou ilegalidade da coação processual.”
(HABEAS CORPUS nº 59071/RS).

Em conformidade com esta decisão, espera que esta Colenda Turma analise e avalie a atual
situação do Paciente, levando em consideração também, alguns pontos pertinentes à colheita de
prova que fora pré-constituída e segue em anexo da presente inicial.

II– BREVE RELATÓRIO DOS FATOS

A prisão do paciente foi decretadano ano de 2012. No dia 03 (três) do mês de junho do ano de 2013
foi decretada a suspensão do processo, de acordo com o artigo 366 do CPP. Esta defesa entrou nos
autos no dia 18(dezoito) do mês de julho do ano de 2018. No dia 26 (vinte e seis) do mês de junho
do ano de 2018 teve sua primeira AIJ, onde não compareceu nenhuma testemunha do processo,
salientando serem em número de 5(cinco). No dia 28 (vinte e oito) do mês de novembro do ano de
2018 teve a continuação da AIJ, desta vez compareceu uma única testemunha, quer seja MARCELO
HENRIQUE MACHADO ALVES, policial militar que à época dos fatos, servia no batalhão do
choque, sendo responsável por várias incursões na Comunidade da Rocinha e declarou nunca ter
ouvido falar do paciente em questão.

Data VêniaEXªsSrs Desembargadores, uma pessoa acusada de fazer parte do tráfico da Comunidade
da Rocinha deveria ao menos ser conhecido, nem que fosse por nome, de um policial militar, que à
época dos fatos servia no Batalhão do Choque. Foram enviados os mandados de intimação para as
demais testemunhas, quer sejam, José Carlos, Rafael Santos, Nilson Oliveira e Rodrigo Pacheco,
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sendo que todas foram negativas. A defesa requereunovamente a revogação de prisão do acusado,
sendo negada novamente e marcada a continuação da AIJ para o dia 05 (cinco) do mês de fevereiro
do ano de 2020. Entende esta defesa que o paciente pode ser solto e aguardar a continuação de sua
audiênciaem liberdade, pois sabemos que a Justiça se encontra assoberbada e com certeza isso
demorará mais do que o suportável.

III – DA DESNECESSIDADE DA PRISÃO CAUTELAR DO


PACIENTE

No caso ora em análise, esta defesa entende não merecer prosperar a


prisão do Paciente, sendo imperiosa sua imediata revogação, até mesmo em sede de tutela de
urgência, uma vez que cabível o pedido in limine neste remédio heroico protetivo do direito.

É claro que tal decisão de indeferimento do pedido de revogação da


prisão preventiva, configura clara coação ilegal, por inaplicável a medida neste presente caso.

“Deve ser demonstrado em concreto o periculum libertatis do Acusado,


caso contrário, a reprovabilidade do fato e o consequente clamor público não constituem
motivos idôneos à prisão preventiva”, conforme entendimento já sedimentado pelo Supremo
Tribunal Federal (RT 770/511), o que não verificamos no caso em tela.

Como podemos perceber, após a decisão de indeferimento de sua prisão


preventiva, a qual o Douto Juiz em seu despacho, declarou que... “nada de novo foi trazido aos
autos...” Data VêniaEXªS, nada de novo como? Nenhuma testemunha comparece desde o ano de
2018, teremos que aguardar ad eternum o comparecimento das mesmas?

Ao nosso sentir, se torna evidenciado uma decisão genérica que não

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pode ser aceita por esta Corte, sendo decisões assim, rechaçadas pelo Supremo Tribunal
Federal.

No caso dos autos, não há qualquer embasamento para tais conjecturas,


uma vez que o Paciente é primário, com bons antecedentes, trabalhador, com residência fixa e
família,tudo comprovado nos autos.

Assim, quando não resta demonstrada a necessidade de


encarceramento doPaciente, seja para garantir a ordem pública, sejaa certeza visual do crime ante
o flagrante, seja para assegurar a aplicação da lei penal ou por conveniência da instrução criminal, a
prisão preventiva demonstra-se inaplicável e caracterizadora de constrangimento ilegal,
principalmente se o Paciente possui residência fixa, emprego e é primário, conforme se depreende
do artigo 5º, inciso LVII da Constituição Federal eartigos 311 e 312 do Código de Processo Penal.

Como é de conhecimento da Justiça, a liberdade é tida como regra neste


Estado Democrático de Direito e a restrição aela é exceção, que, aliás, deve ser excepcionalíssima.
Ninguém é culpadoenquanto não transitar em julgado a sentença penal condenatória, ou seja, ainda
que condenado por sentença judicial, o Acusado continuará presumidamente inocente até que se
encerrem todas as possibilidades para o exercício de seu direito à ampla defesa.

A razão para esta afirmação é muito simples, e possui esteio no art. 5º,
LVII: pelo princípio da presunção de inocência, erigido ao status de garantia individual do cidadão
por força do texto fundamental, enquanto a decisão estiver passível de recurso, o afastamento do
acusado do convívio social só se justifica quando necessário para a regular prestação jurisdicional.

Desse modo, sem o trânsito em julgado, qualquer restrição à liberdade terá


finalidade meramente cautelar. A lei define as hipóteses para essa exceção e a Constituição Federal
nega validade ao que o Juiz decidir sem fundamentação.
O pressuposto de toda decisão é a motivação, logo não pode haver
fundamentação sem motivação. Ambas só poderão servir gerando na decisão a eficácia
pretendida pelo Juiz se amalgamadas com suficientes razões (RT 725/521-2).

A liberdade é a regra na Carta de 1988. Istoé indiscutível.


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Ao nosso sentir, não se pode admitir que a "garantia da ordempública",


conceito de fluidez imensa, seja motivo para o indeferimento do pedido de liberdade provisória.

Estará sendo observado o princípio da taxatividade? Esta restrição ao


direito de liberdade é legítima diante das garantias constitucionais mencionadas? Respostas a estas
indagações que legitimariam o referido instituto certamente não estão sendo fundamentadas a
contento. Não há como defender, a nosso sentir, a constitucionalidade desta modalidade deprisão,
entendendo não ser legítima e aprovável.

Diante de tudo que foi exposto, ao nosso sentir, espera estar comprovada a
total desnecessidade da manutenção da prisão do Paciente neste Falido Sistema, podendo esperar seu
julgamento perante o Conselho de Sentença do Tribunal de Júriem liberdade, retornando aos seus
afazeres, sua família e a sociedade.

IV – DO FLAGRANTE EXCESSO DE PRAZO

De acordo com a Jurisprudência:

PROC:RHC 18694 PA 2005/0195294-1

RELATOR: MIN. LAURITA VAZ / 5ª TURMA

RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. HOMICÍDIO QUALIFICADO E


FORMAÇÃO DE QUADRILHA. PRISÃO EM FLAGRANTE. PLEITO DE LIBERDADE PROVISÓRIA.
REITERAÇÃO DE PEDIDO. EXCESSO DE PRAZO. SUPERVENIÊNCIA DA SENTENÇA DE
PRONÚNCIA. CUSTÓDIA CAUTELAR CUMPRIDA HÁ MAIS DE QUATRO ANOS, SEM PREVISÃO DE
DATA DO JULGAMENTO PELO TRIBUNAL DO JÚRI. CONSTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENCIADO.
PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE.
A legalidade da decisão que indeferiu a liberdade provisória já foi objeto do
HABEAS CORPUS PROCESSO ADMINISTRATIVO foi negado à unanimidade pela Quinta Turma
do Superior Tribunal de Justiça, consubstanciando-se o presente recurso, nessa
parte, em mera reiteração de pedido.

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2. A teor da Súmula nº 21 desta Corte, "Pronunciado o réu, fica superada a


alegação do constrangimento ilegal da prisão por excesso de prazo na instrução".
Tal entendimento, porém, deve ser mitigado, visando atender ao princípio da
razoabilidade, uma vez que não pode o réu permanecer preso cautelarmente, de
forma indefinida, no aguardo do julgamento do mérito.
3. Evidenciado o reclamado constrangimento ilegal, à vista do excesso de prazo
no julgamento do pronuciado, ferindo, pois, o princípio da razoabilidade, bem
como o direito inerente à dignidade humana.
4. Em que pese a sentença de pronúncia, o Recorrente está preso cautelarmente
há mais de quatro anos, não existindo razão plausível para justificar o atraso no
julgamento pelo Tribunal do Júri, que não possui, sequer, data de realização
prevista.
5. Recurso parcialmente conhecido e, nessa parte, provido para determinar a
expedição de alvará de soltura em favor do ora Paciente, se por outro motivo não
estiver preso, para que possa aguardar o seu julgamento em liberdade.

Sendo clara a ilegalidade da manutenção da prisão preventiva, cumpre por


fim destacar o excesso de prazo no processo criminal deste Paciente, já que o mesmo se encontra
com prisão decretada desde o ano de 2012 e se fomos considerar somente após o término da
suspensão do processo, de acordo com o artigo 366 do CPP, desde o mês de julho do ano de 2018,
sendo claro mais este fundamento concreto para o deferimento de revogação de sua prisão
preventiva.

A Emenda Constitucional n.º 45/2004 inseriu o princípio da razoável


duração do processo dentro das garantias fundamentais asseguradas a cada indivíduo, nos termos art.
5.º, inciso LXXVIII, da Constituição Federal de 1988.

O atraso é completamente desmedido, violando, assim, o princípio da


tempestividade do processo ou da razoabilidade dos prazosprocessuais, bem como o direito
inerente à dignidade humana, devendo o Paciente ser colocado em liberdade.

A crueldade assola o Paciente neste caso, razão pela qual


espera neste momento a primeira Justiça com a expedição imediata do Alvará de
Soltura na Liminar conforme autorização dos elementos necessários por tudo o que foi
descrito nas páginas anteriores e demais páginas desta inicial.

V - DOS ELEMENTOS AUTORIZADORES PARA O DEFERIMENTO DA TUTELA DE

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URGÊNCIA

O primeiro dos elementos abordados no presente remédio heróico é, sem


qualquer sombra de dúvida, a verdadeira razão pela qual foi elaborada a tese das medidas liminares.
O periculun in mora constitui-se na provável ocorrência de dano caso o provimento jurisdicional
não seja dado imediatamente.

In casu, é evidente que o perigo na demora da prestação jurisdicional pode


acarretar ao Paciente prejuízo irreversível e imensurável, em virtude de uma prisão se encontra
submetido às agruras do sistema carcerário, alvo de intensos debates, para solução dos incontáveis
problemas que o assolam.

O segundo elemento indispensável para a concessão de medida liminar é o


fumus boni juris, ou como parte da doutrina prefere chamar “fumaça do bom direito”. No caso ora
apresentado a Vossas Excelências se revela cristalino este elemento, mas para tanto, vale
analisarmos perfunctoriamente as lições de magistério doutrinário.

Através de uma análise superficial dos motivos de direito alegados pela


parte em sua exordial, o Magistrado deve conceder a medida liminar.

No caso em tela é evidente a existência da fumaça do bom direito, na medida em que a prisão
processual do Paciente se revela absolutamente despicienda por falta de provas de um dos elementos
fáticos da primeira parte do art. 312 do Código de Processo Penal, bem como a inexistência de
fumus comissi delicti na hipótese, em especial após a colheita da instrução processual pela douta
autoridade apontada como coatora.

Destarte, tendo em vista a nítida presença dos elementos autorizadores da concessão de medida
liminar, o Paciente, por sua procuradora, requer a presente cautela emergencial, para que a violação
inaceitável ao seu direito constitucional seja interrompida.

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VI - DO PEDIDO

Diante de todo conteúdo de fato e de direito que fora trazido ao


conhecimento dos Ilustres Desembargadores que compõem esta Colenda Câmara Criminal do
Augusto Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, conhecido por todo o País pelas
concepções de vanguarda expressas em cada uma das decisões proferidas nos inúmeros processos
que são submetidos a julgamento, o Paciente, por intermédio de sua procuradora, que essa
subscreve, certa da cristalinidade do direito apresentado, respeitosamente requer:

1) SejaDEFERIDA A MEDIDA LIMINAR EM HABEAS CORPUS, com a


consequente expedição de ALVARÁ DE SOLTURA, para que seja franqueado ao
Paciente o direito de aguardar ao julgamento deste remédio constitucional em
liberdade, uma vez que estão presentes ambos os elementos autorizadores para o
deferimento da tutela de urgência.

2) No mérito, seja ratificada a decisão liminar,caso seja deferida, com a consequente


CONCESSÃO DA ORDEM DE HABEAS CORPUS para revogar a prisão preventiva
imposta ao Paciente, pela ausência de qualquer elemento do art. 312 do Código de Processo
Penal, por ser oPaciente primário, de bons antecedentes, possuidor de residência fixa
emprego e família e por último, pelo nítido excesso de prazo, conforme demonstrado
no presente writ, por ser de lídima Justiça!

P. e E. deferimento,

Rio de Janeiro, 14 de outubro de 2019.

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OAB/RJ nº 72661

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