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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR

PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO


DO RIO GRANDE DO SUL.

PROCESSO Nº: 5023987-34.2023.8.21.0027

URGENTE RÉU PRESO

DIEGO GOMES BERLATO, brasileiro, solteiro,


Advogado, portador da OAB/RS 95.677, com
endereço profissional informado no rodapé,
vêm, respeitosamente à presença de Vossas
Excelências, com fundamento art. 5º, LXVIII da
Constituição Federal e 647 e 648, I e VI do CPP,
impetrar

HABEAS CORPUS COM PEDIDO LIMINAR

Em favor do Paciente JORGE LUIZ


MENDONCA COLMAN, brasileiro, solteiro,
portador do CPF sob nº 538.853.920-20, RG nº
7038354598, domiciliado em Rua Visconde de
Ferreira Pinto, 997, bairro Itararé, em Santa
Maria/RS, contra ato coator do MM. Juiz da
Juízo da 3ª Vara Criminal da Comarca de Santa
Maria pelos fundamentos, de fato e de direito
que passa a aduzir.

I - DOS FATOS

O paciente foi preso em flagrante delito, no dia, 21


de julho de 2023 por infração, nem sequer em tese caracterizada, ao
disposto nos art. o art. 33, caput, da Lei n.º 11.343/06, e art. art. 16,
parágrafo único, inciso IV, da Lei nº 10.826/2003.

Diego Gomes Berlato – OAB/RS 95.677


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Pois bem, o acusado JORGE, e primário, tem
residência fixa, conforme documentos em anexo. e trabalha como
artesão de gesso, conforme fotos de sua oficina, totalmente destruída
pelas ações dos policiais.

Em eventual condenação, o paciente poderá


cumprir pena em regime diverso do fechado, sendo que preenche os
requisitos para uma condenação mais branda, pois e primário, não
pertence a nenhuma organização criminosa, o que possibilita seu
enquadramento no tráfico privilegiado.

Eis a breve síntese dos fatos!

Data vênia, a defesa entende que não estão


presentes os pressupostos para embasar a manutenção do decreto da
prisão cautelar e que a decisão é carente de fundamentação idônea,
sendo que o Juiz “ a quo” não fundamentou a decisão da conversão da
prisão em domiciliar, em razão da sua idade já avançada (57 anos)
bem como seu estado de saúde precário.

II DOS FUNDAMENTOS QUE JUSTIFICAM O PRESENTE WRIT

DOS REQUISITOS DA PRISÃO PREVENTIVA

Pois bem, Ínclitos Julgadores, não se pode olvidar


da natureza cautelar da prisão preventiva, principalmente após a
entrada em vigor da Constituição Federal de 1988, a qual veio a
instituir, em seu art. 5º, inciso LVII, o princípio da presunção da
inocência, também conhecido como princípio da não-culpabilidade.

Assim, diante da diretriz constitucional, toda prisão


que antecipe a sentença condenatória irrecorrível, sob pena de se
transformar em verdadeira antecipação de pena, deverá buscar
respaldo na sua essencialidade ao processo, seja para assegurar o seu
normal desenvolvimento, impedindo o agente de influenciar na
produção probatória, seja para garantir a sua eficácia, impedindo o
acusado de evadir-se da atuação da justiça.

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Nesse sentigo, podemos concluir, que é
imprescindível para a sua decretação ou manutenção a presença dos
requisitos ou pressupostos de toda medida cautelar, quais sejam, o
fumus boni iuris, que no âmbito processual penal é denominado de
fumus comissi delicti, consistente nos indícios de autoria e na prova da
materialidade da infração, e o periculum in mora, também conhecido
no âmbito criminal como periculum libertatis, representado pela
necessidade ou instrumentalidade da prisão.

No caso em apreço não está presente o fumus


comissi delicti posto que inexistem nos autos elementos concretos de
que o Paciente Jorge era o real coautor ou que até mesmo estava a
praticar os fatos descritos nos fatos do boletim de ocorrência, tendo
em vista sua fragilidade e baseada apenas nos depoimentos dos
policiais, que na verdade, é sabido que é comum a distorção dos fatos
para justificar suas atitudes e ações, o que muitas vezes na realidade
resulta em prisões injustas.

Ademais o Paciente é trabalhador e de forma


alguma necessita de meios ilícitos para o seu sustento, tão pouco resta
presente o periculum libertatis, haja vista que não há nos autos
nenhum elemento concreto no sentido de que o Paciente em liberdade
poderá vir a atrapalhar a produção de provas, evadir-se do distrito da
culpa ou a praticar novos delitos, até porque já é uma pessoa de idade
avançada e mais que isso, já algum tempo tem sua saúde debilitade,
na qual necessita de atenção especial, medicações especiais, bem
como condições de vida que permitam que sua saúde siga estável, o
que no meio em que se encontra, é sabido, que as condições de
vivencia e prestação de assistência médica é extremamente precária.

DA CARÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA PARA O


DECRETO PRISIONAL

Percebe-se que no caso sub judice a decisão que


decretou a prisão do Paciente é carente de fundamentação idônea, haja
vista que foi convertida a prisão em flagrante em preventiva conforme
decisão em anexo, sem sequer serem apontados quaisquer elementos
concretos nesse sentido.

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Ademais os elementos existentes nos autos
demonstram exatamente o contrário, posto que o Paciente faz prova
de ser primário e possuidor de residência fixa e trabalho lícito, ou seja,
podendo a qualquer momento ser encontrado para ser intimado dos
atos processuais.

Não é sem razão recordar que infelizmente se vê


como corriqueira a decretação de prisões sem real necessidade e sem
observância ao mínimo exigido pela Lei, entendendo-se que: “as
invocações relativas à gravidade do delito, ao clamor público e à
garantia da credibilidade da Justiça que, de resto, têm sido repudiadas
pela jurisprudência do STF como motivos idôneos da prisão preventiva.
STF- HC 83782/PI – Rel. Min. SEPÚLVERA PERTENCE.

Notem, Excelências, que inexiste um fato concreto


carreado nos autos do qual se depreenda a afirmativa de que o
paciente estando em liberdade poderá voltar a delinquir, que tentará
se evadir do distrito da culpa ou mesmo que grave é todos crimes de
tráfico de entorpecentes, mas sempre se faz necessário apontar os
motivos que justificam a prisão antes de sentença condenatória
transitada em julgado.

Nenhum outro motivo poderá justificar a


manutenção da prisão, sob pena de se violar o princípio constitucional
da presunção da inocência, por se tratar de nítida antecipação de pena.

No caso em epígrafe, não se vislumbra o requisito


indispensável à imposição de qualquer medida de cautela: o periculum
in mora. Com efeito, Excelências, o Paciente é trabalhador e, ainda,
possui residência fixa, não se justificando a necessidade de sua prisão
preventiva, para garantia da ordem pública ou para assegurar a futura
aplicação da lei penal, podendo a qualquer momento ser encontrado.

Outrossim, não consta tenha ele ameaçado


testemunhas ou tentado, por qualquer forma, influir na prova, não se
justificando, destarte, a necessidade de ser mantido encarcerado por
conveniência da instrução criminal.

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Com relação à garantia da aplicação da lei penal,
este Egrégio Tribunal de Justiça já decidiu que: “O decreto de prisão
preventiva deve ser convincentemente motivado, não sendo
suficientes meras conjecturas de que o réu poderá fugir ou impedir a
ação da justiça. Assim, a fundamentação não pode se basear em
proposições abstratas, como simples ato formal, mas resultar de fatos
concretos” (RT 714/348).

No tocante à conveniência da instrução criminal, o


Supremo Tribunal Federal, decidiu no sentido de não poder o decreto
de prisão preventiva se “basear em meras suposições, cumprindo
apontar fatos concretos, vinculados à atuação do acusado, que
comprovem atitudes contrárias aos interesses da instrução” (RTJ.
73/411).

Deve estar embasada em fatos concretos que


demonstrem a periculosidade do acusado, portanto, não basta para a
manutenção da prisão em flagrante, a mera menção da expressão
“garantia da ordem pública”, é preciso mais, é necessário fundamentar
a decisão em acontecimentos concretos que evidenciem o perigo que
o acusado representa à sociedade, se posto em liberdade, assim, é
importante lembrar que o paciente possui 57 anos, bem como
problemas de saúde.

O critério a ser utilizado não é o da possibilidade,


mas o da probabilidade, de modo que, nem a gravidade do delito, nem
suposto clamor social, por não serem pressupostos para decretação da
prisão preventiva, podem justificar a manutenção da prisão preventiva.

As prisões anteriores ao trânsito em julgado da


sentença condenatória possuem características nitidamente
cautelares, visando assegurar a instrução processual, a aplicabilidade
da lei penal ou a ordem pública, sendo que esta última nada tem a ver
com o clamor público ou com a repercussão social do delito e muito
menos com a credibilidade da Justiça, tais argumentos apenas servem
de justificativa para a decretação de prisões que representam nítidas
punições antecipadas, violando o princípio da presunção de inocência
contido na Magna Carta.

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Em resumo o periculum libertatis deve ser
demonstrado in concreto, de forma que não basta, para a decretação
da prisão preventiva, a MERA MENÇÃO DAS EXPRESSÕES “GARANTIA
DA ORDEM PÚBLICA”, “CONVENIÊNCIA DA INSTRUÇÃO CRIMINAL” E
“APLICAÇÃO DA LEI PENAL”, é preciso mais, é necessário fundamentar
a decisão em acontecimentos concretos que evidenciem o perigo que
o acusado representa à sociedade, ao processo ou aos efeitos de
eventual sentença condenatória, se posto em liberdade. O que não
ocorreu no presente caso.

Nesse sentido já decidiu reiteradamente o STJ

TRÁFICO ILÍCITO DE ENTORPECENTES E ROUBO. PRISÃO


PREVENTIVA (REQUISITOS). DECRETO (FALTA DE
FUNDAMENTAÇÃO). REVOGAÇÃO (CASO). 1. Tratando-se de medida
de exceção, a preventiva há sempre de vir apoiada em bons
elementos de convicção –elementos certos, determinados, concretos
–, sob pena de ser havido o decreto por não-fundamentado. 2. Por
si só, a gravidade dos delitos, bem como a possibilidade de
prejuízo das diligências, não justifica a imposição da prisão
preventiva. O despacho (ou a decisão) que decreta a prisão há de
estar suficientemente fundamentado (Cód. de Pr. Penal, art.
315). 3. Carecendo o ato judicial de suficiente fundamentação, falta-
lhe legalidade; caso, portanto, de constrangimento ilegal. 4. Habeas
corpus deferido. (STJ - 6ª T. - HC 74372/SP - HABEAS CORPUS
2007/0007055-2 - Rel. Ministro NILSON NAVES

Se para a decretação da prisão preventiva são


necessários estar presentes todos estes pressupostos, de igual forma
não pode o Paciente permanecer preso de forma indefinida.

A liberdade do indivíduo é também um relevante


bem juridicamente tutelado pela atual ordem constitucional, portanto
no caso em apreço a decisão que decretou a prisão preventiva do
Paciente é carente de fundamentação idônea, o que por medida de
justiça merece ser revogada por estes Ínclitos julgadores.

DA POSSIBILIDADE DA PRISÃO DOMICILIAR

Preliminarmente, se faz de extrema relevância tecer


alguns comentários sobre a prisão domiciliar, com o fito de melhor
esclarecimento do assunto e devida adequação ao caso em comento.

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Desta forma, resta ressaltar que a prisão domiciliar
encontra fundamento nos arts. 317 e 318 do CPP (com redação dada
pela Lei 12.403/11), o qual explica que o que viria a ser a prisão
domiciliar, conforme a redação do texto legal:

Art. 317. A prisão domiciliar consiste no recolhimento do


indiciado ou acusado em sua residência, só podendo dela
ausentar-se com autorização judicial.

Sobre a prisão domiciliar, explica Renato Brasileiro


Lima (Manual de Processo Penal, 2016) que:

“Levando em consideração certas situações especiais, de


natureza humanitárias, a substituição da pena de prisão
preventiva pela prisão domiciliar visa tornar menos desumana
a segregação cautelar, permitindo que, ao invés de ser recolhido
ao cárcere, ao agente seja imposta a obrigação de permanecer em
sua residência (...).” (pag. 995) Importante ressaltar, ainda, que
segundo o mesmo autor “(...) a prisão domiciliar é considerada
pelo legislador como uma forma de prisão preventiva
domiciliar e não como medida cautelar alternativa à prisão
(...)”. (pag. 995)

Corroborando com tal linha de pensamento, Nestor


Távora (Curso de Direito processual penal, 2016) leciona que a prisão
domiciliar é:

“(...) medida cautelar cerceadora de liberdade prevista


expressamente nos arts. 317 e 318 do Código, e tem lugar toda vez
que a execução da prisão preventiva não seja recomendada em
cadeia pública (para os presos provisórios) ou em prisão especial
(para os acusados que detêm essa prerrogativa por força de lei), em
razão de condições especiais, especialmente relacionadas à
idade e à saúde do agente.” (pag. 940)

Deste modo, é de bom alvitre apontar a


compatibilidade desta modalidade de prisão com o caso em tela, uma
vez que o paciente é extremamente debilitado por doença cardíaca e
renal é um Senhor de idade avançada, necessita tomar medicação
controlada, conforme demonstram os documentos em anexo que

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apontam uso de medicações regularmente há anos. Assim necessita de
cuidados e acompanhamento diários devidos a vários problemas de
saúde, como já teve dois infartos, possui dois stents no coração, além
de possuir ulceras e 50% dos rins comprometidos, ou seja, possui
alguns problemas de saúde que não podem ser ignorados e que com
sua segregação só agrava sua saúde não tendo condições de enfrentar
um cárcere em uma casa penal, nestas condições.

Assim, feita tais considerações, atentando-se para


peculiaridades e necessidades sociais o legislador ordinário consagrou
no texto da Lei de Execuções Penais permissivo legal para situações
análogas à qual o insurgente se encontra, conforme se depreende da
inteligência legal do art. 117, II do mesmo diploma legal, in verbis:

Art. 117. Somente se admitirá o recolhimento do beneficiário


de regime aberto em residência particular quando se tratar de:
II – condenado acometido de doença grave;

É bem verdade que embora a literalidade legislativa


seja no sentido de conferir tais direitos à quem se encontra no regime
aberto, é necessário considerar que tal norma, por ser inquinada e
preenchida de caráter de norma de direitos fundamentais, deve ser
interpretada de forma ampliativa, de modo a melhor se harmonizar
com os princípios da dignidade da pessoa humana, proporcionalidade,
proteção integral à criança e ao adolescente, bem como dos pactos
internacionais que o Brasil é signatário.

Neste sentido, a jurisprudência do Pretório Excelso


é pacífica em reconhecer a aplicação da prisão domiciliar em casos
onde se observa doença grave e ausência de condições de se manter
tratamento adequado no cárcere, conforme se observa das ementas
abaixo

HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. ORGANIZAÇÃO


CRIMINOSA. TRÁFICO E ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO DE
DROGAS. LAVAGEM DE CAPITAIS. PRISÃO PREVENTIVA.
CONDIÇÃO DE SAÚDE DO ACUSADO. EXTREMA DEBILIDADE.
INDISPONIBILIDADE DE ATENDIMENTO MÉDICO
ESPECIALIZADO NA PENITENCIÁRIA EM QUE SE ENCONTRAVA.
RESTABELECIMENTO DA DECISÃO DO MAGISTRADO SINGULAR QUE
HAVIA CONCEDIDO A PRISÃO DOMICILIAR. NECESSIDADE.

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ORDEM DE HABEAS CORPUS CONCEDIDA, EM CONFORMIDADE COM
O PARECER MINISTERIAL. CONFIRMADA A LIMINAR. HABEAS
CORPUS Nº 730935 - RS (2022/0082940-8) DJe/STJ nº 3397 de
23/05/2022.

Habeas corpus. Processual


Penal. Pleito de conversão da prisão preventiva do paciente em
prisão domiciliar humanitária. (CPP, art. 318, inciso II).
Excepcionalidade da medida. Paciente submetido a procedimento
cirúrgico complexo e de grande porte para a extração de um câncer.
Alto risco de saúde e grande possibilidade de desenvolver infecções
no cárcere, o qual foi reconhecido em laudo pericial assinado por
perito do estado. Dignidade da pessoa humana (CF, art. 1º, III).
Preservação da integridade física e moral dos presos
cautelares. Indeclinável dever que a Lei Fundamental da
República impõe ao Poder Público (v.g. RHC nº 94.358/SC,
Segunda Turma, Relator o Ministro Celso de Mello, DJe de 19/3/14).
Demonstração satisfatória da situação extraordinária. Superação do
enunciado da Súmula nº 691 do Supremo Tribunal. Ordem concedida
para converter a custódia preventiva em prisão domiciliar.
Reavaliação, a cada 2 (dois) meses, da necessidade de subsistência
ou não dessa forma de cumprimento da custódia, enquanto perdurar
a necessidade da preventiva decretada (CPP, art. 312), determinação
ao juízo processante. 1. Em princípio, se o caso não é de flagrante
constrangimento ilegal, segundo o enunciado da Súmula nº 691, não
compete ao Supremo Tribunal Federal conhecer de habeas corpus
contra decisão do relator da causa que, em habeas corpus requerido
a Tribunal Superior, indefere liminar. 2. Entretanto, o caso evidencia
hipótese apta a ensejar o afastamento excepcional do referido
enunciado. 3. Consoante dicção do art. 318, inciso II, do Código
de Processo Penal, é admitida a concessão de prisão
domiciliar ao preso preventivo extremamente debilitado por
motivo de doença grave. 4. A jurisprudência da Corte, à luz do
parágrafo único do art. 318 da lei processual em questão, afirma ser
indispensável a demonstração cabal de que o tratamento médico de
que necessita o custodiado não possa ser prestado no local da prisão
ou em estabelecimento hospitalar. Nesse sentido: HC nº 144.556/DF-
AgR, Segunda Turma, DJe de 26/10/17; e HC nº 131.905/BA,
Segunda Turma, DJe de 7/3/16, ambos de minha relatoria. 5. O laudo
pericial juntado aos autos demonstrou satisfatoriamente que o
paciente, com alto risco de saúde, possui expressiva possibilidade de
desenvolver infecções no cárcere, em decorrência de procedimento
cirúrgico complexo e de grande porte para extração de um câncer,
cujo tratamento mostra-se incompatível com o cárcere. 6. Em vista
do princípio da dignidade da pessoa humana (CF, art. 1º, III), revela-
se excessivo e desproporcional aguardar que o paciente, recém
operado de um câncer, alcance o quadro de extrema debilidade em
face das condições prisionais inadequadas. 7. A Corte já se
pronunciou no sentido de que a “preservação da integridade

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física e moral dos presos cautelares e dos condenados em
geral traduz indeclinável dever que a Lei Fundamental da
República impõe ao Poder Público em cláusula que constitui
projeção concretizadora do princípio da essencial dignidade
da pessoa humana, que representa um dos fundamentos
estruturantes do Estado Democrático de Direito (CF, art. 1º, III,
c/c o art. 5º, XLIX)” (RHC nº 94.358/SC, Segunda Turma, Relator o
Ministro Celso de Mello, DJe de 19/3/14). 8. Hipótese extraordinária
autorizadora da medida cautelar excepcional. 9. Ordem concedida
para determinar a conversão da custódia preventiva do paciente em
prisão domiciliar, na forma do art. 318, inciso II, do Código de
Processo Penal, com determinação ao juízo processante para
reavaliar, a cada 2 (dois) meses, a necessidade de subsistência ou
não dessa forma de cumprimento da custódia, enquanto perdurar a
necessidade da preventiva decretada (CPP, art. 312) (HC 153961,
Relator(a): DIAS TOFFOLI, Segunda Turma, julgado em 27/03/2018,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-128 DIVULG 22-05-2020 PUBLIC 25-
05-2020)

Assim, temos que o paciente é um senhor de 57


anos, está em prisão preventiva, já sofreu infartos e tem tendencia a
sofrer mais ainda e diante das condições do presídio em que se
encontra, pois a penitência não possui médicos especialistas apenas
um clínico geral, situação que agrava, e muito sua condição de saúde
que se agravar a cada dia que passa.

E mais que isso, tem solicitado reiteradamente


atendimentos médicos a penitenciária, em que o local não possui
especialista em seus problemas, bem como o Médico Geral na qual
atendeu solicitou exames e atendimento especializados, em que
haverá demora de no mínimo meses, para esta solicitação, de maneira
que em liberdade terá possibilidade maior de correr e dar atenção que
sua saúde merece.

Neste sentido, é imprescindível dizer que durante o


período em que esteve em cárcere já teve diversos atendimentos junta
a enfermaria da penitenciaria, podendo estar gerando danos
irreparáveis, condição esta que só será possível verificar mediante
análise médica especifica e aprofundada, não possuindo a PESM
estrutura para tanto

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Ora, conforme mencionado, a concessão da prisão
domiciliar é possível quando se verifica a impossibilidade de tratamento
médico na casa penal.

Ademais, os problemas de saúde do paciente


persistem, o mesmo continua a ter crises e dores forte no peito,
podendo sofrer um infarte fulminante a qualquer tempo, ter sua saúde
danificada e integridade física comprometida sem que seja tomada
qualquer medida efetiva, que os medicamentos sejam entregues de
modo adequado ou que minimamente o paciente seja levado à
hospitais para realização de exames.

Em decorrência disto, pela precariedade do estado


de saúde do flagrado, da situação prisional que se acha submetido,
quer parecer que há violação a norma constitucional que determina,
ao estado e seus agentes, o respeito efetivo a integridade física da
pessoa sujeita a custódia do Poder Publica (artigo 5, inciso XLIX, da
CF).

Ademais, sabe-se que o inciso II do art. 318 do


Código de Processo Penal admite a substituição da prisão preventiva
por prisão domiciliar, em caso de extrema debilitação por doença
grave, o que, com efeito, como se comprovara.

Diante, disso, considerando, portanto, em suma:

(i) o direito do preso à saúde, que não pode ser anulado


sequer diante da gravidade das condutas perpetradas;
(ii) a persistência de relato de enfermidades
importantes, que persistem desde 21 de julho de 2023, apesar
do tratamento oferecido, causando limitações que afetam a vida
e a dignidade do paciente;
(iii) a indisponibilidade de atendimento médico
especializado, tenho que se justifica a substituição da prisão
preventiva por prisão domiciliar. Comprometendo-se essa
defesa, comprovar nos autos a marcação de consulta com
especialista, acompanhado do endereço do consultório, bem

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como juntar aos autos, a cada atendimento realizado
comprovante da consulta e tratamento realizado, sempre
indicando os respectivos profissionais e endereços.

Ocorre, porém, que a jurisprudência pátria ainda


admite o recolhimento domiciliar em caso de doença grave, quando
comprovada a impossibilidade de atendimento médico dentro da casa
prisional (STJ, HC 380198/DF) e, no caso, em apreço, os documentos
acostados aos autos demonstram que o tratamento adequado não
pode ser oferecido na penitenciária.

Deste modo, percebe-se que a omissão do Estado


enquanto garantidor de direitos fundamentais do beneficiário do
detento tem violado o princípio da humanidade das penas, de forma
que o paciente está tendo que suportar um estado de saúde desumano
no cumprimento de uma prisão cautelar.

Deste modo, resta cristalino o importante papel da


jurisprudência no sentido de consolidar o entendimento de que a prisão
é instituto personalíssimo do direito penal, devendo tal instituto
atender aos seus fins sociais e adequar-se as particularidades de cada
pessoa de modo a atender ao Princípio da Dignidade da Pessoa Humana
e suas vertentes e/ou de modo a tutelar os direitos de pessoas que
possuem dependência daquela cuja pena de prisão recairá.

Assim, posto que a casa penal não possui condições


de realizar o devido acompanhamento do paciente , requer-se que seja
concedido o cumprimento de pena em prisão domiciliar, em razão da
sua doença grave

DA NECESSÁRIA CONCESSÃO DA LIMINAR PARA GARANTIR A


SAÚDE E VIDA DO PACIENTE

A concessão da liminar pretendida pressupõe


existência de dois requisitos basilares: o fumus boni iuris e periculum
in mora. O primeiro pressupõe que os argumentos articulados pela
parte são verossímeis, através dos elementos probatórios acostado; já

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com relação ao segundo diz respeito ao perigo da demora na prestação
jurisdicional desejada, levando-se em consideração tanto a possível
perda do objeto que se pretende tutelar quanto evitar danos
irreparáveis ou de difícil reparação.

No caso em comento, o fumus boni iuris encontra


comprovação cabal por meio dos documentos acostados que
comprovam a condição grave do apenado, bem como a falta de
condições da casa penal de prover-lhe a devida assistência frente a sua
situação.

Por derradeiro, tal requisito se concretiza mais ainda


quando se observa que o agravante já sofreu inúmeros ataques
durante seu cárcere, ainda, através das mídias em anexo, pode-se
verificar sua condição debilitada.

O segundo pressuposto para a concessão da medida


liminar, o periculum in mora, se configura quando a demora na
prestação jurisdicional pode acarretar prejuízo irreparável para tanto à
parte quanto aos seus parentes, que inclusive possui uma filha e uma
neta pequena que dependem exclusivamente de seus cuidados.

No caso apreciado, este requisito encontra-se


patente quando calejadamente demonstramos a necessidade do
paciente ser colocado em prisão domiciliar para garantir sua saúde e
sua vida, haja vista ser acometido de doença grave que vem afetando
seu sistema cardíaco e renal, lhe causando diversos sintomas e
sequelas.

Não obstante, a falta de estruturas da casa penal e


a falta de acompanhamento especializado, podem gerar danos
irreversíveis no agravante, o que deve ser combatido devendo ser
concedida a medida liminar.

DOS PEDIDOS E REQUERIMENTOS

Diante do exposto, requer, de forma liminar a


CONCESSÃO DA ORDEM PARA REVOGAR A PRISÃO PREVENTIVA, ao
paciente JORGE LUIZ MENDONCA COLMAN, em razão de todas os
fundamentos expostos, bem como o decreto de prisão preventiva não estar

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convincentemente motivado, bem como pelo estado de saúde do paciente,
em que não há condições de permanecer detido na Penitenciária onde não há
a devida estrutura para manutenção de sua saúde.

Caso não seja o entendimento de revogação da prisão


preventiva, também de forma liminar, CONCEDA A ORDEM PARA CONVERTER
A PRISÃO PREVENTIVA EM PRISÃO DOMICILIAR, também em razão da sua
idade, bem como sua condição de saúde, já exposta.

Requer seja encaminhado Oficio a Penitenciária Estadual


de Santa Maria/RS, para apresentação do histórico de atendimento do
paciente, bem como outros documentos e informações pertinentes para
comprovar o seu estado de saúde, a fim de comprovar o alegado nesta
petição.

No mérito, seja CONHECIDO o presente Habeas Corpus,


concedendo-se a ordem, sendo o paciente colocado em liberdade.

Santa Maria, 22 de agosto de 2023.

DIEGO GOMES BERLATO SHAIANE DOS ANJOS

OAB/RS 95.677 OAB/ RS 114.527

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