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EXCELENTÍSSIMO JUIZ PLANTONISTA DA CENTRAL DE RECEPÇÃO DE

FLAGRANTES DE BELO HORIZONTE

AUTOS N° 5000082-65.2022.8.13.0024
AUTUADO: PEDRO AUGUSTO DE JESUS

Trata-se de APF lavrado em face do autuado Pedro Augusto de Jesus,


em razão da suposta prática do fato descrito no art. 121, do Código Penal.

Narra os autos de prisão em flagrante que o autuado teria agredido a


vítima Maria Aparecida Lopes, o que resultou em sua morte. Nenhuma
testemunha foi ouvida sobre os fatos perante a autoridade policial. Apurou-se
que as partes não tinham relacionamento pretérito e vitima e autuado são
usuários de droga e álcool. O autuado exerceu o direito ao silêncio perante a
autoridade policia, após alta hospitalar.

Os elementos informativos são bastante frágeis, salientando-se que,


consta nos autos apenas as declarações do condutor do flagrante e de uma
testemunha policial militar. Não há nos autos outra prova que confirme a
autoria da prática delitiva.

Portanto, é prematura a afirmação no sentido de que o delito de homicídio


tenha realmente sido praticado pelo autuado, fato que demonstra a
necessidade de diligências policiais para melhor esclarecimento do caso.
Portanto, requer a Defesa o relaxamento da prisão.

Registre-se, ainda, que, nos termos do art. 312 do Código de Processo


Penal, a prisão preventiva poderá ser decretada se, além da presença de prova
da existência do crime e indícios suficientes de autoria, houver risco para a

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ordem pública, ordem econômica, aplicação da lei penal, conveniência da
instrução criminal e/ou aplicação da lei penal.

Vale dizer que tais riscos deverão ser sempre fundamentados no caso
concreto, conforme preceitua o art. 93, IX, da Constituição da República. Nesse
sentido leciona Fernando da Costa Tourinho Filho:

Cabe ao Juiz, em cada caso concreto, analisar os autos e


perquirir se existem provas atinentes a qualquer uma
daquelas circunstâncias. De nada vale seu
convencimento pessoal. De nada vale a mera presunção.
Se a Constituição proclama a 'presunção de Inocência do
réu ainda não definitivamente condenado’ como pode o
Juiz presumir que ele vai fugir que vai prejudicar a
instrução, que vai cometer noves infrações? Como pode o
Juiz estabelecer presunção contrária ao réu se a Lei
Maior proclama lhe a presunção de Inocência? Dizer o
Juiz 'decreto a prisão por conveniência da instrução', ou
'para assegurar a aplicação da lei' ou 'para garantia da
ordem pública', diz magnificamente Tomaghi, é a mais
rematada expressão da prepotência, do arbítrio e da
opressão (Manual de Processo Penal (prisão e liberdade),
Freitas Bastos, 1963, V. 2, p. 619). Ê preciso haja nos
autos prova que leve o Magistrado a tais afirmações.
(Código de Processo Penal Comentado, Vol 1; Ed.
Saraiva, 3a. ed, p. 542/543).

Segundo a jurisprudência consolidada do Supremo Tribunal Federal, para


que o decreto de prisão cautelar (assim como sua manutenção) seja idôneo, é
necessário que o ato judicial constritivo da liberdade traga,
fundamentadamente, elementos concretos aptos a justificar tal medida. Nesse

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sentido: HC n° 98.673/SP, Segunda Turma, Relatora a Ministra Eilen Gracie,
DJe de 29/10/09; HC n“ 99.043/PE, Segunda Turma, Relator o Ministro Gilmar
Mendes, DJe de 9/9/10; e HC n" 100.184/MG, Primeira Turma, Relator o
Ministro Ayres Britto, DJe de 1°/10/10, entre outros.

No presente caso, os autos de Inquérito noticiam a prática de delito de


homicídio consumado. Em que pese à gravidade dos fatos narrados, é firme o
entendimento jurisprudencial no sentido de que a gravidade em abstrato do
delito não dá lastro à decretação ou à manutenção da prisão processual.
Prisões cautelares só podem ser determinadas com fundamentação concreta,
demonstrando a presença dos requisitos previstos no art. 312 do Código de
Processo Penal, e não com base na mera gravidade abstrata do delito ou com
afirmações vagas de que a medida seria necessária para garantir a ordem
pública. Nesse sentido, a Jurisprudência do STJ:

HABEAS CORPUS. PRISÃO PREVENTIVA. HOMICÍDIO


QUALIFICADO E OCULTAÇÃO DE CADÁVER. WRIT
IMPETRADO CONTRA DECISÃO MONOCRÁTICA DO
RELATOR, QUE INDEFERIU O PEDIDO LIMINAR NO
MANDAMUS ORIGINÁRIO. GARANTIA DA ORDEM
PÚBLICA E CONVENIÊNCIA DA INSTRUÇÃO
CRIMINAL. FUNDAMENTAÇÃO. GRAVIDADE
ABSTRATA. IMPOSSIBILIDADE. PRECEDENTES.
LIMINAR DEFERIDA. PARECER MINISTERIAL PELA
DENEGAÇÃO DA ORDEM. CONTRANGIMENTO
ILEGAL EVIDENCIADO. ORDEM CONCEDIDA. 1. No
caso, a despeito de apresentar prova da existência do
delito e indício suficiente de autoria, o decreto preventivo
não apontou elementos concretos de receio de perigo
gerado pelo estado de liberdade do imputado à ordem
pública ou à conveniência da instrução criminal,

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carecendo, assim, de fundamento apto a consubstanciar a
prisão. Precedentes. 2. Isso, porque a jurisprudência do
Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de
Justiça já proclamou que as invocações relativas à
gravidade do delito, ao clamor público e à garantia da
credibilidade da Justiça não são motivos idôneos da
prisão preventiva, a não ser que estejam apoiados em
fatos concretos (HC n. 281.226/SP, relator para acórdão
Ministro Moura Ribeiro, Quinta Turma, DJe 15/5/2014). 3.
Ademais, o fundamento de conveniência da instrução
criminal, pelo temor das vítimas sofrerem represálias caso
prestem depoimento, desassociado de notícia de
ameaças a vítimas ou testemunhas, não é valido. 4.
Ordem concedida, confirmando a medida liminar, para
revogar a prisão preventiva imposta ao paciente nos
Autos n. 0000139-60.2019.80.5.0069, da Vara Criminal da
comarca de Correntina/BA, facultando-se ao Magistrado
singular determinar o cumprimento de medidas cautelares
alternativas à prisão.

(STJ - HC: 536995 BA 2019/0295699-6, Relator: Ministro


SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, Data de Julgamento:
09/02/2021, T6 - SEXTA TURMA, Data de Publicação:
DJe 18/02/2021)

Observa-se, ainda, que o autuado é primário e não ostenta registros


criminais, além de possuir residência declarada. No mais, neste momento de
cognição sumária, é insuficiente, diante das circunstâncias narradas, apenas as
declarações de dois policiais militares para fundamentar uma medida tão
gravosa como a prisão cautelar.

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Por todo o exposto, a Defensoria Pública manifesta-se pela liberdade
provisória com a consequente expedição de alvará de soltura em favor de
Pedro Augusto de Jesus.

Não sendo este o entendimento de Vossa Excelência, requer a aplicação


de medidas cautelares que não impliquem na prisão, em razão da
excepcionalidade da prisão cautelar.

Pede deferimento.

Belo Horizonte, 03 de janeiro de 2022.

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