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Poder Judiciário do Estado de Minas Gerais

PJe - Processo Judicial Eletrônico

05/09/2022

Número: 5002360-03.2022.8.13.0327
Classe: [CRIMINAL] AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE
Órgão julgador: Vara Criminal, da Infância e da Juventude e de Precatórias Cíveis e Criminais da
Comarca de Itambacuri
Última distribuição : 17/08/2022
Assuntos: Prisão em flagrante
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Advogados
PCMG - POLICIA CIVIL DE MINAS GERAIS (AUTORIDADE)
WILLIAM MARTINS PEREIRA ROCHA AVILA
(FLAGRANTEADO(A))

Outros participantes
Ministério Público - MPMG (FISCAL DA LEI)
Documentos
Id. Data da Assinatura Documento Tipo
9592176138 30/08/2022 15:33 PJE - 5002360-03 - PEDIDO DE HC - William Petição
Martins Avila
Dra. Joicilane Esteves de Matos
OAB/MG 176.071

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE


DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS.

URGENTE
REU PRESO
COMARCA-VARA: Vara Criminal, da Infância e da Juventude e de Precatórias
Cíveis da Comarca de Itambacuri/MG
PROCESSO NÚMERO: 5002360-03.2022.8.13.0327

Joicilane Esteves de Matos, brasileira, advogada, inscrita junto à OAB/MG sob o


número 176.071, com endereço eletrônico joicilane.adv@gmail.com, procuração anexa,
com endereço profissional a avenida Dr. Júlio Rodrigues, 180, sala 2, no bairro
Marajoara, na cidade de Teófilo Otoni, MG, vem respeitosamente perante esse Egrégio
Tribunal, com fulcro no artigo art. 5º, inciso LXVIII, da Constituição Federal de 1988
e artigos 647 e 648, ambos do Código de Processo Penal, impetrar o presente:

HABEAS CORPUS LIBERATÓRIO COM PEDIDO DE


CONCESSÃO DE LIMINAR

WILLIAM MARTINS PEREIRA ROCHA AVILA, brasileiro, portador do RG MG-


22.31.00.19 e CPF sob nº 159.145.306-28 residente e domiciliado à rua Vespasiano
Paiva, 128, cidade de Jampruca/MG. Atualmente recolhido na Unidade Prisional da
comarca de Itambacuri, contra ato do MM. Senhor Juiz de Direito da Vara Criminal,
da Infância e da Juventude e de Precatórias Cíveis da Comarca de Itambacuri/MG, ora
apontado como Autoridade Coatora, objetivando a Liberdade Provisória, pelos
motivos de fato e de direito a seguir delineados:

1. DA SÍNTESE DOS FATOS

Av. Dr. Júllio Rodrigues, 180-A, sala 2, Marajoara. Tel.: (033)35227653/988541126/984295019


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Cumpre-se, salientar, ter sido o paciente, em 16 de agosto de 2022, preso e


posteriormente autuado em flagrante tendo, por conseguinte, seus direitos suprimidos,
uma vez que não existem motivos que justifiquem a manutenção da segregação cautelar
do paciente.
Consta em histórico de boletim de ocorrência, que a policia militar teria
recebido uma informação de que o paciente estaria na cidade de Frei Inocêncio
traficando. Dessa forma, foi montada uma operação para realizar a abordagem do
mesmo.
Ato contínuo, após a abordagem os militares teriam em tese, identificado os
dois indivíduos na motocicleta, sendo um deles o paciente. Ademais, consta no B.O que
os suspeitos ao avistarem a polícia arremessaram uma sacola contendo entorpecentes.
Dessa forma, o material foi apreendido e os mesmos foram conduzidos a
delegacia, onde foi lavrado o APFD.
Posteriormente, em audiência de custódia o MM. Juiz de primeiro grau
indeferiu a liberdade provisória, consequentemente, convertendo a prisão em flagrante
em prisão preventiva, pelo argumento genérico que seria para garantia de ordem
pública.
Isto posto, Excelências, é descabido a mantença da prisão preventiva do
paciente, que se encontra a disposição da justiça na Unidade Prisional, pois não subsiste
os motivos aos quais deu causa. Essas são algumas considerações necessárias à
elucidação fática.

2. DA FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA

Nobres julgadores, o paciente está sendo acusado, em tese, ter incorrido na


sanção prevista art. 33 da Lei 11343/06, em que o Juiz “a quo” a decretou a prisão
preventiva sob o argumento da garantia a ordem pública, em sua decisão utilizou-se
como um dos fundamentos a expressiva quantidade da droga apreendida.
Ocorre, Nobres Julgadores, que a Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça
decidiu que, conquanto seja expressiva a quantidade da droga apreendida em poder do
agente, o perigo do estado de sua liberdade não pode ser mensurado, tão somente, com

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lastro na abundância dos entorpecentes, em especial quando se afiguram frágeis os


elementos trazidos nos autos para fins de justificar o risco de renitência delitiva,
acrescida pela comprovada primariedade do réu. Vejamos a decisão:

RECURSO EM HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE ENTORPECENTES. PRISÃO


PREVENTIVA. GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. MOTIVAÇÃO INIDÔNEA.
DESPROPORCIONALIDADE DA CONSTRIÇÃO. CRIME PRATICADO SEM
VIOLÊNCIA OU SEM GRAVE AMEAÇA. RECOMENDAÇÃO N. 62/2020 DO
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. APLICAÇÃO DE MEDIDAS
CAUTELARES DIVERSAS DA PRISÃO (ART. 319 DO CPP). POSSIBILIDADE.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENCIADO.
1 . A prisão preventiva constitui medida excepcional ao princípio da não culpabilidade,
cabível mediante decisão devidamente fundamentada e com base em dados concretos,
quando evidenciada a existência de circunstâncias que demonstrem a necessidade da
medida extrema nos termos do art. 312 e seguintes do Código de Processo Penal.
2. Embora as instâncias ordinárias tenham mencionado a quantidade de droga
apreendida (156,9 kg de maconha), elas não apontaram nenhuma circunstância
concreta que pudesse evidenciar que o recorrente integre de forma relevante
organização criminosa ou a necessidade da custódia cautelar para o resguardo da
ordem pública, da ordem econômica, para a conveniência da instrução processual
ou para assegurar a aplicação da lei penal, nos moldes do que preconiza o art. 312
do Código de Processo Penal.
3. Existem medidas alternativas à prisão que melhor se adequam à situação do
recorrente, uma vez que o crime imputado não foi cometido com violência ou com
grave ameaça à pessoa.
4. Recurso em habeas corpus provido, inclusive observada a Recomendação CNJ n.
62/2020, para substituir a prisão preventiva imposta ao recorrente pelas medidas
cautelares previstas no art. 319, I, II, IV e V, do Código de Processo Penal, salvo prisão
por outro motivo e sem prejuízo da aplicação, ou não, de outras medidas alternativas à
prisão, fundamentadamente. Liminar confirmada. (RHC 126.001/SP, Rel. Ministro
SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 07/12/2020, DJe
16/12/2020)

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AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS


CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS. PRISÃO PREVENTIVA DESPROPORCIONAL.
QUANTIDADE DE ENTORPECENTE NÃO É ELEMENTO, POR SI SÓ, PARA
FINS DE PRESUMIR-SE O RISCO DE RENITÊNCIA DELITIVA. DECISÃO
MANTIDA. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO.
1. Para ser compatível com o Estado Democrático de Direito – o qual se ocupa de
proteger tanto a liberdade quanto a segurança e a paz públicas – e com a presunção de
não culpabilidade, é necessário que a decretação e a manutenção da prisão cautelar se
revistam de caráter excepcional e provisório. A par disso, a decisão judicial deve ser
suficientemente motivada, mediante análise da concreta necessidade da cautela, nos
termos dos arts. 282, I e II c/c o art. 312 do CPP.
2. Conquanto seja expressiva a quantidade da res apreendida em poder do agente,
a meu ver, o perigo do estado de sua liberdade não pode ser mensurado, tão
somente, com lastro na abundância dos entorpecentes, em especial quando se
afiguram frágeis os elementos trazidos nos autos para fins de justificar o risco de
renitência delitiva e acrescida pela comprovada primariedade do réu.
3. A imposição das medidas cautelares diversas da prisão preventiva, consoante as
diretrizes do art. 319 do Código de Processo Penal, se adequa ao acautelamento da
ordem pública. (AgRg no RHC n. 161.828/AL, relator Rogerio Schietti Cruz, Sexta
Turma, DJe de 19/5/2022.)

Também foi citado pelo Magistrado que o agente é tido em meio policial como
um daqueles que controla o tráfico de entorpecentes daquela região. No entanto,
sabemos que isto não é fundamento para essa medida tão extrema, tendo em vista que
pela FAC e CAC do paciente não há sequer registro anterior, constatando-se que a
prisão atual é única registrada, sendo assim, não é possível aferir uma habitualidade
delitiva da suposta conduta do paciente, tampouco, qualquer tipo de chefia ou controle
sobre o tráfico.
Ademais, o paciente possui residência fixa, ocupação lícita, família constituída,
réu primário, portador de bons antecedentes, e como visto foi um caso isolado em sua
vida, pois nunca se envolveu com algum tipo ilícito. Dessa forma, a fundamentação

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usada pelo Magistrado não pode justificar a prisão preventiva quando é aplicável outra
medida cautelar alternativa, sendo evidente que as providências menos gravosas seriam
suficientes para a manutenção da ordem pública e resguardo do bom andamento do
processo.
Quanto ao tráfico de drogas, fundamentos vagos, aproveitáveis em qualquer
outro processo, como o de que se trata de delito ligado à insegurança, repúdio social ou
o de que se trata de crime que causa temor, não são idôneos para justificar a decretação
de prisão preventiva, porque nada dizem acerca da real periculosidade do agente.
Em vista da natureza excepcional da prisão preventiva, somente se verifica a
possibilidade da sua imposição quando evidenciado, de forma fundamentada e com base
em dados concretos, o preenchimento dos pressupostos e requisitos previstos no
art. 312 do Código de Processo Penal CPP.
Para sua decretação, necessário se faz a presença de três requisitos: fumaça do
cometimento do crime (a materialidade e indício de autoria) + perigo na liberdade do
agente (um dos fundamentos trazidos na parte final no artigo 312) + cabimento
(hipóteses descritas no artigo 313).
No que diz respeito ao segundo requisito, a fundamentação deverá ser
demonstrada que a liberdade do agente colocará em risco a efetividade do processo, o
periculum libertatis. Para fundamentar, deverá o magistrado trazer elementos concretos
presente nos autos, que façam demonstrar que a liberdade do paciente trará prejuízo
para o tramitar processual, o que não ocorreu. E com a devida vênia, o paciente nem
sequer pode se locomover devido o grave estado de saúde, anda de muleta e ficaria em
casa para receber os devidos cuidados, em nada prejudicará a instrução.
O terceiro e último requisito é o previsto no artigo 313 do CPP, que são as
hipóteses de cabimento da prisão preventiva. Caso não esteja enquadrado em nenhuma
das hipóteses ali presentes, não há que se falar em prisão preventiva, mesmo que os
outros dois requisitos estejam presentes. Portanto, percebe-se que a ausência de
qualquer um dos requisitos fará com que a prisão preventiva não possa ser decretada, ou
deverá ser objeto de impugnação.
Ademais, a Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça decidiu que a prisão
preventiva não deve ser amparada na mera gravidade abstrata do delito, e elementos
inerentes aos tipos penais não devem conduzir a um juízo adequado acerca da

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periculosidade do agente. A periculosidade não presume e deve ser, bem como a


necessidade da segregação, demonstrada por fatos. Não bastam as alegações de
gravidade do delito para manutenção da ordem pública, cujo conceito admite hipóteses
ilimitadas.
Sendo assim, a prisão preventiva é a ultima ratio e reservada para hipótese de
inadequação de outras medidas. Mostra legítima e compatível com a presunção de
inocência somente se adotada mediante decisão suficientemente motivada, em caráter
excepcional, e desde que considerados os elementos concretos extraídos dos autos, a
adequação à gravidade do delito e as circunstâncias pessoais dos supostos autores.
Todo decreto prisional antes do trânsito em julgado da sentença condenatória
deve ser calcado em fatos e circunstâncias do caso concreto que se enquadrem em um
dos requisitos e hipóteses previstos, respectivamente, nos artigos 312 e 313 do Código
de Processo Penal.
Sendo assim, até a ministra do STJ, Laurita Vaz, concedeu ordem de HC para
substituir por medidas cautelares a preventiva de homem preso por tráfico de drogas. A
ministra considerou que decisões anteriores apontaram gravidade abstrata do crime, sem
justificar em que medida a liberdade do paciente poderia comprometer a ordem pública
ou econômica. Vejamos um trecho da decisão:
"As instâncias ordinárias ressaltaram a gravidade abstrata do crime de tráfico
de drogas, enfatizando a possibilidade de o Réu reiterar na prática delitiva,
sem esclarecer concretamente o porquê, deixando, assim, de justificar
concreta e adequadamente em que medida a liberdade do Paciente poderia
comprometer a ordem pública ou econômica."
Ademais, de acordo com o desembargador, Jesuíno Rissato, da 5ª Turma do
Superior Tribunal de Justiça, a prisão preventiva enquanto medida de natureza cautelar,
não pode ser utilizada como instrumento de punição antecipada do indiciado ou réu,
nem permite complementação de sua fundamentação pelas instâncias superiores.
Vejamos um trecho do Habeas Corpus concedido por ele:
"Assim sendo, não havendo clara e concreta fundamentação, as razões
levadas a efeito pelo juízo, em relação ao agravante primário, não autorizam
a manutenção da prisão cautelar imposta", afirmou.

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Sendo assim, com a devida vênia, não há presente nenhum dos fundamentos
que ensejam prisão preventiva, uma vez não há qualquer registro de que o acusado
cause algum óbice à conveniência da instrução criminal, muito menos teve alguma
fundamentação plausível para a decretação desta. Senão vejamos o que preconiza as
fartíssimas jurisprudências a respeito da matéria:

HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. TRÁFICO ILÍCITO DE DROGAS.


PRISÃO PREVENTIVA. MEDIDA EXCEPCIONAL. GRAVIDADE ABSTRATA
DO DELITO. QUANTIDADE NÃO EXPRESSIVA DE SUBSTÂNCIA
ENTORPECENTE. FUNDAMENTAÇÃO INIDÔNEA. LIMINAR DEFERIDA.
ORDEM DE HABEAS CORPUS CONCEDIDA. 1. A jurisprudência desta Corte
Superior não admite que a prisão preventiva seja amparada na mera gravidade
abstrata do delito, por entender que elementos inerentes aos tipos penais,
apartados daquilo que se extrai da concretude dos casos, não conduzem a um juízo
adequado acerca da periculosidade do agente. 2. Quanto ao tráfico de drogas,
fundamentos vagos, aproveitáveis em qualquer outro processo, como o de que se
trata de delito ligado à desestabilização de relações familiares ou o de que se trata
de crime que causa temor, insegurança e repúdio social, não são idôneos para
justificar a decretação de prisão preventiva, porque nada dizem acerca da real
periculosidade do agente. 3. Na espécie, além de considerações genéricas inerentes
ao próprio tipo penal do tráfico de drogas, o decreto de prisão preventiva apontou
como fundamento para se inferir o risco à ordem pública apenas a quantidade da
substância entorpecente apreendida, que, no caso concreto, não é elevada o
suficiente para autorizar, por si só, a prisão processual. 4. Ordem de habeas corpus
concedida para, confirmando a liminar anteriormente deferida, determinar a soltura do
Paciente, se por outro motivo não estiver preso, advertindo-o da necessidade de
permanecer no distrito da culpa e atender aos chamamentos judiciais, sem prejuízo de
nova decretação de prisão provisória por fato superveniente, a demonstrar a necessidade
da medida, ou da fixação de medidas cautelares alternativas (art. 319 do Código
de Processo Penal), desde que de forma fundamentada. (HC 616.535/SP, Rel. Ministra
LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em 01/12/2020, DJe 16/12/2020)

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RECURSO ESPECIAL. TRÁFICO DE DROGAS. PRISÃO PREVENTIVA.


CONCESSÃO DA ORDEM EM HABEAS CORPUS NA ORIGEM.
FUNDAMENTAÇÃO ABSTRATA. REVOGAÇÃO DA CUSTÓDIA. FIXAÇÃO DE
MEDIDAS CAUTELARES. VIOLAÇÃO AO ART. 312 DO CPP. NÃO
OCORRÊNCIA. 1. A fundamentação com base na gravidade abstrata do delito,
sem a indicação de motivação concreta para a custódia, com a utilização de
conceitos jurídicos indeterminados e de circunstâncias já elementares do delito,
além de presunções e conjecturas, não é suficiente para justificar a decretação da
prisão preventiva. 2. Ainda que a decisão tenha se referido à quantidade de drogas
apreendida e às circunstâncias do delito, o fez apenas como indicativo de
materialidade delitiva, em parágrafo distante, referente aos requisitos da prisão
em flagrante, não havendo indicação da gravidade concreta do delito em relação
aos riscos justificadores da prisão preventiva, o que evidencia a ausência de
fundamentos para a medida extrema. (REsp 1861350/RS, Rel. Ministro NEFI
CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 25/08/2020, DJe 04/09/2020).

Ante exposto, Excelências, e com as recentes mudanças ocorridas no Código


de Processo Penal, especialmente no que pertine à legalidade da segregação preventiva,
no caso em apreço, necessário se faz a concessão da liberdade provisória, isso devido a
Lei 13.964/2019 que conferiu nova redação ao art. 312, §2° do CPP, acrescentando aos
requisitos exigidos para a decretação da medida extrema, a demonstração de indícios
suficientes de perigo concreto gerado pelo estado de liberdade do imputado. Depreende-
se do artigo que as modificações ocorridas no diploma legal, deixam, sem dúvidas, a
medida cautelar da prisão preventiva para casos de maior gravidade, cujas
circunstâncias sejam indicativas de maior risco à efetividade do processo ou de
reiteração criminosa, devendo, a priori, ser evitada, tendo lugar apenas quando
inadequadas ou descumpridas outras medidas cautelares impostas.
A prisão cautelar é medida excepcional, regida pelo princípio da necessidade,
mediante a demonstração do fumus boni iurise do periculum in mora, porquanto
restringe o estado de liberdade de uma pessoa, que ainda não foi julgada e tem a seu
favor a presunção constitucional da inocência, nos termos do art. 5º da Constituição
Federal.

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A Lei 12.403 de 2011 introduziu alterações favoráveis no sentido de que a


liberdade seja a regra e a prisão uma exceção, assim como, alterou o artigo 319 e seus
incisos do CPP, no sentido de que na medida do possível seja concedida a liberdade
provisória vinculada às obrigações ali descritas. Dessa forma, torna-se ilegal a custódia
cautelar, pois a prisão deve ser a “ultima ratio” da !extrema ratio”.
A previsão dos artigos 316 e 319 do CPP é clara quanto a possibilidade de sua
revogação, bem como do caráter excepcional da prisão preventiva. Esses dois
dispositivos legais deixam claro que a prisão preventiva é medida subsidiária e não pode
ser decretada ou convertida sem que antes tenha sido imposta uma medida cautelar
alternativa e, ainda em último caso.
Nesse sentido o professor Luiz Flávio Gomes: “A prisão preventiva não é
apenas a ultima ratio. Ela é a extrema ratio da ultima ratio. A regra é a liberdade; a
exceção são as cautelares restritivas da liberdade (art. 319, CPP); dentre elas, vem por
último, a prisão, por expressa previsão legal.”
Também, no mesmo raciocínio o Doutrinador Julio Fabbrini Mirabete, em seu
Código de Processo Penal: “Como, em princípio, ninguém deve ser recolhido à prisão
senão após a sentença condenatória transitada em julgado, procura-se estabelecer
institutos e medidas que assegurem o desenvolvimento regular do processo com a
presença do acusado sem sacrifício de sua liberdade, deixando a custódia provisória
apenas para as hipóteses de absoluta necessidade.”
Assim, verifica-se a concessão da liberdade do paciente, pois o direito à
liberdade é garantia fundamental, é um bem jurídico tutelado pelo próprio Direito Penal,
não podendo ser lanceado senão em virtude de motivo relevante.
Dessa forma, entende-se, pois, o impetrante, que inexiste justa causa, para a
manutenção da prisão cautelar, devendo, por inexorável ser acolhido o presente pedido
de habeas corpus, restabelecendo-se o ius libertatis, ao paciente, o qual amarga,
injustificável e indevida restrição em sua liberdade.

3. DO CABIMENTO DO HABEAS CORPUS

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O Habeas Corpus impetrado tem como escopo a prevalência do Direito do


paciente, que, no caso em tela não está sendo reconhecido sem que haja uma
justificativa aplausível ou alicerçada para tal, é destinado a garantir a proteção da
liberdade de locomoção dos cidadãos, em casos de atos abusivos do Estado.
A carta Magna é bem clara em seu art. 5º LIV, ao dispor que: “ninguém será
privado da sua liberdade ou dos seus bens sem o devido processo legal.” Também, no
inciso LVII, “ninguém será considerado culpado antes do trânsito em julgado de
sentença penal condenatória”.
Já nos termos do art. 5º, LXVII:
“LXVIII - conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém
sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em
sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de
poder.”

Ora Excelência, o paciente possui residência fixa, sem qualquer indícios de que
atrapalhará as investigações ou se locomoverá para local incerto, portanto, sem justa
causa para a mantença da prisão preventiva, só se pode presumir que se trata de coação
ilegal.
Neste mesmo entendimento, há de se invocar o instituído no art. 282, par. 6º e
art. 319 do CPP:
Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título deverão
ser aplicadas observando-se a:
(...)
§ 6o A prisão preventiva será determinada quando não for
cabível a sua substituição por outra medida cautelar.
Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão:
I - comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas
condições fixadas pelo juiz, para informar e justificar
atividades;
II - proibição de acesso ou frequência a determinados lugares
quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o
indiciado ou acusado permanecer distante desses locais para
evitar o risco de novas infrações;
III - proibição de manter contato com pessoa determinada
quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o
indiciado ou acusado dela permanecer distante;

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Dra. Joicilane Esteves de Matos
OAB/MG 176.071

IV - proibição de ausentar-se da Comarca quando a


permanência seja conveniente ou necessária para a
investigação ou instrução;
V - recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de
folga quando o investigado ou acusado tenha residência e
trabalho fixos;
VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade
de natureza econômica ou financeira quando houver justo
receio de sua utilização para a prática de infrações penais;
VII - internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes
praticados com violência ou grave ameaça, quando os peritos
concluírem ser inimputável ou semi-imputável e houver risco
de reiteração;
VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o
comparecimento a atos do processo, evitar a obstrução do seu
andamento ou em caso de resistência injustificada à ordem
judicial
IX - monitoração eletrônica.

4. DO PEDIDO DE LIMINAR

A leitura, por si só, da decisão que decretou a prisão preventiva do paciente,


demonstra na singeleza de sua redação a sua fragilidade legal e factual.
A liminar é pleiteada em caráter de urgência, pois o paciente foi preso em 16
de agosto de 2022, e não lhe foi revogado a sua prisão preventiva e nem lhe concedido a
liberdade provisória com as medidas cautelares diversas da prisão, sendo a liminar um
meio usado para assegurar a celeridade aos remédios constitucionais, evitando coação
ilegal ou impedindo a ocorrência desta.
O “fumus boni iuris” está presente na medida em que a existência de opções
diversas da prisão preventiva pode ser aplicada a esse caso concreto. Presente também
está o “periculum in mora”, onde certamente a manutenção da prisão preventiva além
de perpetuar a coação ilegal trará enormes prejuízos ao paciente, sejam eles de ordem
moral ou psicológica.
A ilegalidade da prisão se patenteia pela ausência de algum dos requisitos da
prisão preventiva, além de ser originária de decisão sem fundamento. O endereço do

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Dra. Joicilane Esteves de Matos
OAB/MG 176.071

Paciente é certo e conhecido, mencionado no preâmbulo desta impetração, não havendo


nada a indicar que o Paciente irá furtar-se à aplicação da lei penal.
A liminar buscada tem apoio no texto de inúmeras regras, inclusive do texto
constitucional, quando revela, sobretudo, a ausência completa de fundamentação na
decisão em enfoque. Por tais fundamentos, uma vez presentes a fumaça do bom direito e
o perigo na demora, requer seja LIMINARMENTE garantido ao Paciente a sua
liberdade de locomoção, sobretudo quando inexistem elementos a justificar a
manutenção do encarceramento.
Com efeito, encontram-se atendidos todos os requisitos da medida liminar,
onde, por tal motivo, pleiteia-se a expedição do competente alvará de soltura, ou,
sucessivamente, seja concedido ao paciente o direito à Liberdade provisória.

5. DO PEDIDO

Ante o exposto, requer que o Egrégio Tribunal de Justiça conceda,


LIMINARMENTE, a “ORDEM DE HABEAS CORPUS”, para que seja colocado em
liberdade, mediante imposição às medidas cautelares diversas da prisão, com a imediata
expedição de ALVARÁ DE SOLTURA em favor do paciente, aguardando em liberdade
para que possa responder ulteriores termos do processo.

Nestes termos,

Pede deferimento.

Teófilo Otoni, 26 de agosto de 2022.

Joicilane Esteves de Matos

OAB/MG 176.071

Lívia Ribeiro Alves de Souza

OAB/MG 215.065

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