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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ ELEITORAL DA 22ª

ZONA ELEITORAL DA COMARCA DE SINOP – ESTADO DE MATO


GROSSO.

Processo n.º 128-85.2013.6.11.0022 – Notícia Crime.

Agenor Bormann, já devidamente qualificado nos autos


em epígrafe, por intermédio de seus advogados que esta subscrevem, com endereço
profissional no timbre, vem, com o devido e costumeiro respeito e acatamento, perante
Vossa Excelência, apresentar:

CONTRARRAZÕES

ao Recurso em Sentido Estrito de fls. 72/79-v, interposto pelo Ministério Público


do Estado de Mato Grosso, consoante razões anexas, as quais, vencidas as
formalidades de praxe, requer sejam enviadas ao egrégio Tribunal Regional Eleitoral,
momento em que espera seja negado provimento do respectivo RESE.

Termos em que,

Pede e espera pelo deferimento.

Sinop, 28 de Outubro de 2013.

JOYCE C. M. A. HEEMANN JIANCARLO LEOBET


Advogada OAB/MT 8.726 Advogado OAB/MT 10.718

RUI HEEMANN JUNIOR ALCIR FERNANDO CESA


Advogado OAB/MT 15.326 Advogado OAB/MT 17.596

CONTRARRAZÕES RECURSAIS.

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Recorrente: Ministério Público do Estado de
Mato Grosso;

Contrarrazoante: Agenor Bormann.

EGRÉGIO TRIBUNAL
COLENDA CÂMARA
EMÉRITOS JULGADORES

O r. recurso interposto pelo órgão Ministerial se consubstancia basicamente na


alegação de que a douta e sábia decisão judicial de fl. 65, que rejeitou a denúncia
oferecida, deve ser reformada, todavia, perscruta-se de forma inequívoca o acerto da
decisão singela, por estar em total assonância com as provas dos autos, bem como com
a legislação eleitoral vigente.

I. DA BREVE SÍNTESE PROCESSUAL.

Na data de 02/10/2013, o Ministério Público do Estado


de Mato Grosso ofereceu denúncia em desfavor de Tiago de Oliveira Gomes, Moacir Luiz
Giacomelli, Edson Bormann dos Santos e Agenor Bormann, ora Contrarrazoante.

Aduz o membro Ministerial que a pessoa de Tiago de


Oliveira Gomes haveria solicitado e recebido vantagem pecuniária para que votasse nos

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candidatos, à época, Moacir Luiz Giacomelli – majoritária, e Edson Bormann – proporcional,
sendo que o Contrarrazoante haveria agido como coautor da suposta prática criminosa, dando-
lhes todos como incursos na prática descrita no art. 299 do Código Eleitoral.

Às fls. 04/60 aportou aos autos o inteiro teor do Inquérito


Policial registrado sob o n.º 0018/2013, tombado pela Delegacia de Polícia Federal de
Sinop/MT.

Por conseguinte, em decisão de fl. 65, o eminente


Magistrado singelo rejeitou a denúncia oferecida pelo Ministério Público do Estado de Mato
Grosso, nos seguintes termos, ipsis litteris:

“(...) Analisando os fatos narrados na denúncia, constata-


se tratar dos mesmos já apurados nos autos da Ação de
Investigação Judicial Eleitoral nº 84279.2012.6.11.0022,
cujos pedidos foram julgados improcedentes em 30.4.2013
(fls. 51/58).
Destarte, o procedimento instrutório da AIJE, previsto no
artigo 22 da LC 64/90 é amplo e permite ao juízo análise
aprofundada dos fatos e circunstâncias, de modo a formar
o seu convencimento. Uma vez julgada a AIJE, não cabe
reanálise dos fatos pelo mesmo juízo, ainda que em sede de
ação penal, sob o risco de julgamentos paradoxais e
injustos.
Com estas razões, em observância ao disposto nos artigos
395, III, do CPP e 358, III, do CE, rejeito a denúncia
oferecida pelo Ministério Público Eleitoral em 02.10.2013
(fls. 02/03). (...)

4
Para tanto, frente à decisão emanada pelo juízo de piso, o
Ministério Público do Estado de Mato Grosso interpôs o Recurso em Sentido Estrito em tela,
buscando a reforma da respectiva decisão para o regular prosseguimento da Ação Penal,
alegando, em breve síntese, que:

a. Há independências entre as instâncias penal, civil e


administrativa, o que não foi observado pela decisão de
piso de fl. 65, haja vista que a improcedência da AIJE
ajuizada para apuração dos mesmos fatos não
vincularia o juízo na apreciação da ilicitude penal dos
fatos;

b. Não foi observado, quando do decisum de fl. 65, o


princípio do in dubio pro societate, pois “pode-se
verificar com clareza nos autos que, com base em
fortes indícios da consumação do crime imputado aos
denunciados, o Ministério Público ajuizou ação penal
com o intuito de deflagrar a instrução criminal”1.

Não obstante, não merecem guarida as alegações efetuadas


pelo Ministério Público do Estado de Mato Grosso no bojo das Razões Recursais, haja vista
que a decisão singela não merece qualquer reforma, consoante demonstrar-se-á amplamente
nas Contrarrazões a seguir declinadas.

II. DA FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA.

Trecho constante à fl. 78 do Recurso em Sentido Estrito em tela.


1

5
2.1 DA INDEPENDÊNCIA ENTRE AS INSTÂNCIAS.

Consoante se depreende das Razões Recursais delineadas pelo


Ministério Público Eleitoral, a decisão de piso haveria por ter desrespeitado o princípio da
independência das instâncias, pois utilizou de argumentos relacionados a uma ação que possui
caráter cível-eleitoral como modo de rejeitar a denúncia oferecida, impossibilitando o regular
processamento da Ação Penal.

Inobstante as alegações do ilustre membro Ministerial, temos que não


merecem guarida.

A decisão singela merece ser mantida, haja vista que em consonância


com as provas constantes dos autos, revelando-se também em estrita observância dos
princípios que norteiam o Ordenamento Jurídico Pátrio.

Certamente e consagrado como princípio geral de Direito, deve o


Julgador, por intermédio de sua decisão, expressar os motivos que o levaram a emitir
determinado posicionamento acerca do conteúdo ventilado em determinada causa, meio com o
qual confere a fundamentação necessária para a validade do ato.

Neste passo, o juízo de cognição exercido pelo Magistrado não está


adstrito propriamente dito somente nas questões arguidas pelas partes, sendo plenamente
possível a consideração de demais elementos que formam o convencimento do julgador, sem
que haja desrespeito à qualquer orientação norteadora do Ordenamento Jurídico.

Tem-se, portanto, que a “cognição é a técnica utilizada pelo juiz


para, através da consideração, análise e valoração das alegações e provas produzidas pelas
partes, formar juízos de valor acerca das questões suscitadas no processo, a fim de decidi-
las”2.
CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil. Rio de Janeiro: Lúmen Iuris: 2009, p. 263.
2

6
Nos respectivos termos, não há de se perder de vista que o
convencimento do julgador é livre e pode ser feito de maneira independente, desde que a
decisão revele-se devidamente motivada. Neste ponto, por intermédio do princípio do livre
convencimento, “Também conhecido como o princípio da livre convicção motivada, tem-se
que o magistrado forma o seu convencimento livremente (...)”3 , atendendo, por conseguinte, a
finalidade da legislação no seu todo, emitindo através do decisum a cognição inerente à causa
posta a seu crivo. É teor do art. 131, previsto no Diploma Processual Civil, in verbis:

“Art. 131.  O juiz apreciará livremente a prova, atendendo aos fatos


e circunstâncias constantes dos autos, ainda que não alegados pelas
partes; mas deverá indicar, na sentença, os motivos que Ihe
formaram o convencimento.”

Com efeito, nota-se que o dispositivo que regula a norma processual


civil atribui ao julgador a possibilidade de análise dos autos de uma maneira ampla, modo com
o qual formará livremente seu convencimento e emitirá seu posicionamento por meio da
decisão fundamentada nos motivos que o levaram a decidir de tal forma.

In casu, denota-se que os requisitos insertos no Código Processual


Civil foram devidamente atendidos pelo magistrado de piso.

A decisão que rejeitou a denúncia em desfavor do ora


Contrarrazoante merece prosperar em todos os seus termos, haja vista que o juízo de valor
emitido pelo Magistrado singelo está devidamente fundamentado no sentido da inexistência de
provas nos autos capazes de convencer acerca do delineado na denúncia oferecida pelo
membro ministerial.

PORTANOVA, Rui. Princípios do Processo Civil. 3 ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1999.
3

7
Veja que a decisão traduz precipuamente as provas constantes dos
autos, haja vista a inexistência, mesmo que superficial, da conduta narrada na peça
confeccionada pelo Ministério Público do Estado de Mato Grosso.

É certo que o Magistrado de piso emitiu seu juízo de valor


considerando todo o conjunto probatório existente dos autos, expondo fundamentadamente o
seu posicionamento acerca da inexistência de elementos que levem a crer sobre prática da
conduta atribuída aos denunciados.

Ora, o posicionamento adotado pelo juízo a quo revelou-se em


pleno acordo com os indícios existentes dos autos, sendo que foi possível concluir pela
existência de um conjunto probatório extremamente frágil, eivado de ilações solitárias
que não corroboram com a conduta delineada quando do oferecimento da denúncia pelo
órgão Ministerial.

A alegação do Ministério Público Eleitoral está restrita à suposta


inobservância do princípio da independência das instâncias, porém a decisão proferida pelo
Juízo a quo não perfaz tal inobservância, pois levou em conta todos os elementos constantes
dos autos, sobretudo o Inquérito Policial acostado às fls. 04/60, que demonstra a insuficiência
de provas para eventual configuração da conduta delineada na denúncia supostamente
praticada pelos denunciados.

Com efeito, o decisum exarado possui a devida fundamentação, bem


como está em consonância com o princípio do livre convencimento do julgador, que não está
condicionado tão somente às questões suscitadas pelas partes, podendo decidir a questão por
outro norte, sem que ofenda quaisquer dos demais princípios inerentes ao Ordenamento
Jurídico.

Neste sentido é o entendimento jurisprudencial do Tribunal Regional


Eleitoral do Estado de Mato Grosso, in verbis:

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“RECURSO ELEITORAL - PRESTAÇÃO DE CONTAS DE
CAMPANHA - CONTAS DESAPROVADAS - ALEGAÇÃO DE NÃO
APRECIAÇÃO DAS JUSTIFICATIVAS PELO MAGISTRADO -
NÃO CARACTERIZAÇÃO - PRINCÍPIO DO
CONVENCIMENTO MOTIVADO - SENTENÇA SUCINTA MAS
SUFICIENTEMENTE FUNDAMENTADA - PRELIMINAR
AFASTADA - OMISSÃO DA 1ª PARCIAL - 2ª PARCIAL E
PRESTAÇÃO FINAL DE CONTAS FORA DO PRAZO - ERRO
QUANTO À MARCA DO VEÍCULO NO INSTRUMENTO DE
CESSÃO DE USO - EQUÍVOCO JUSTIFICADO -
IRREGULARIDADE DO CPF DE DOADOR - PROVIDÊNCIAS A
CARGO DE TERCEIRO - ERRO FORMAL - NOVA
IMPROPRIEDADE APONTADA EM SEDE DE CONTRARRAZÕES
- INOVAÇÃO RECURSAL - AFRONTA AOS PRINCÍPIOS DO
CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA - RECURSO PROVIDO
PARCIALMENTE. 1. Não se exige do magistrado análise
minuciosa de todas as teses defensivas invocadas pela parte. 2. O
exercício da atividade jurisdicional encontra-se instruído pelo
princípio do livre convencimento motivado, pelo qual, a partir do
caso concreto que lhe é dado conhecer, e após a apresentação de
provas e argumentos dispostos pelas partes nos momentos
processuais respectivos, tem o juiz liberdade para decidir acerca de
seu conteúdo da forma que considerar mais adequada - conforme
seu convencimento - e dentro dos limites impostos pela lei,
fundamentando sua decisão nos elementos contidos nos autos que
lhe ensejam a convicção acerca do direito aplicável ao caso. 3.
Não acolhimento da preliminar suscitada. 4. A ausência de
prestação de contas parciais, por si só, não tem o condão de ensejar
a reprovação das contas do candidato. 5. A entrega de prestação de
contas parcial e final fora do prazo não é capaz de macular as
contas. Trata-se de falhas meramente formais. 6. O equívoco na
descrição da marca de veículo próprio usado na campanha eleitoral
não constitui vício insanável e grave, se consta dos autos de
prestação de contas, desde o início, o respectivo termo de cessão de
uso, com valor atribuído à operação condizente com valores de
mercado, tendo o candidato comprovado posteriormente a
propriedade de veículo com mesma placa e ano de fabricação já
informados no aludido instrumento de cessão de uso. 7. A
regularização perante o Cadastro de Pessoa Física (CPF) de doador
de campanha elide falha anteriormente atribuível ao candidato,
relativa à licitude e transparência da origem dos recursos
arrecadados. 8. Falhas não graves e de pouca monta no processo
de prestação de contas, constitutivas de erros meramente formais,

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que não comprometem a análise da lisura, da transparência e da
confiabilidade da origem e aplicação dos recursos aplicados na
campanha, não ensejam a reprovação das contas, sendo de se dar
provimento parcial ao recurso, para o fim de aprová-las com
ressalvas.4

Assim, considerando todo o exposto, notoriamente não há, data


venia, como corroborar as alegações realizadas pelo ilustre representante do Ministério
Público Eleitoral, haja vista que a cognição inserta na decisão de piso pelo juízo a quo levou
em conta todo o conjunto probatório existente nos autos.

Portanto, deve a decisão proferida pelo magistrado de piso ser


mantida na sua integralidade, pois inexistem motivos para sua reforma.
2.2. DO PRINCÍPIO DO IN DUBIO PRO SOCIETATE.

No que se refere às alegações Ministeriais a respeito da aplicação do


princípio acima descrito, no caso em tela não há como ser admitido, em razão da expressa
ausência de justa causa para a instauração da Ação Penal a que pretende o Ministério Público.

Denota-se por todo o conjunto probatório existente nos autos que não
ficou demonstrado sequer indícios de autoria e materialidade dos denunciados para com a
conduta delineada na peça acusatória, perfazendo, pois, na impossibilidade do recebimento da
denúncia.

Veja que mesmo as provas colhidas na fase administrativa apontam


pela inexistência do suposto ilícito eleitoral, haja vista que não existem elementos suficientes
para o regular prosseguimento da Ação Penal.

Por sua vez, o órgão Ministerial argumenta pela existência de um


conjunto probatório mais do que suficiente para o embasamento da Ação Penal ofertada,
4
BRASIL. Tribunal Regional Eleitoral do Estado de Mato Grosso. Recurso Eleitoral n.º 1049, Acordão n.º 20780
de 10.11.2011. Rel. Gerson Ferreira Paes. DEJE, 24.11.2011.

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entendendo que o denunciado Tiago de Oliveira Gomes haveria confessado a prática delineada
na denúncia, bem como que existem arquivos de áudio que corroboram suas alegações.

Inobstante, data venia, é certo que não há elementos suficientes para


o recebimento da denúncia quanto ao ora Contrarrazoante.

Consoante se depreende dos autos, o depoimento prestado pelo


denunciado Tiago de Oliveira Gomes perante a Delegacia de Polícia Federal de Sinop/MT,
não possui o condão de comprovar a prática da conduta descrita no art. 299 do Código
Eleitoral com relação ao ora Contrarrazoante.

Não há quaisquer indícios de envolvimento do Contrarrazoante com a


suposta prática que lhe atribuiu o Ministério Público quando do oferecimento da denúncia,
haja vista tratar-se o depoimento de mera ilação sem qualquer respaldo fático capaz de
convencer acerca da materialidade e tampouco da autoria do suposto delito eleitoral.

Importante mencionar que a conduta descrita no art. 299 do CE,


atribuída aos denunciados, é oriunda da Ação de Investigação Judicial Eleitoral n.º
84279.2012.6.11.0022, movida pelos candidatos da Coligação Vera Pode Mais em desfavor
de Moacir Luiz Giacomelli e Edson Bormann dos Santos, quais faziam parte da Coligação
Vera em Boas Mãos. Ou seja, a respectiva AIJE foi proposta por uma Coligação que figurou
como adversária da Coligação dos denunciados no pleito eleitoral de 2012.

O que se denota é que a AIJE acima descrita foi movida com a


finalidade de prejudicar os candidatos Moacir Luiz Giacomelli e Edson Bormann dos Santos,
todavia, acertadamente aquela foi julgada totalmente improcedente pelo Juízo de piso, em
razão da inexistência de provas do alegado.

Não há de se perder de vista que as provas acostadas aos autos da


AIJE retromencionada são as mesmas constantes destes autos, e assim, não há como concluir

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de maneira diversa daquela já exarada, mormente no caso em tela, em que sequer há indícios
de autoria e materialidade como sustentáculo da Ação Penal.

Conforme se depreende destes autos às fls. 8/8-v, nota-se que o IP


que originou o oferecimento da denúncia contra o Contrarrazoante é baseado tão somente no
depoimento isolado de uma testemunha, que compareceu ao Ministério Público na presença do
patrono da Coligação Vera Pode Mais, adversária da Coligação dos denunciados Moacir Luiz
Giacomelli e Edson Bormann dos Santos.

Assim, é evidente que além de ser a única suposta prova constante do


IP, não possui o condão de demonstrar a prática do crime eleitoral discriminado na denúncia
ofertada, haja vista que é certa a parcialidade da declaração prestada ao Ministério Público na
presença do advogado da Coligação adversária dos candidatos denunciados.

Ademais, na data de 04/12/2012, o denunciado Moacir Luiz


Giacomelli propôs Ação de Investigação Judicial Eleitoral n.º 83320.2012.611.0022, contra os
candidatos da Coligação Vera Pode Mais, buscando responsabilizá-los pela prática de
captação ilícita de sufrágio.

Por sua vez, a AIJE n.º 84279.2012.611.0022 (qual possui a mesma


fundamentação utilizada para o oferecimento da denúncia nestes autos) movida em 18/12/2012
pelos candidatos da Coligação Vera Pode Mais em desfavor de dois dos ora denunciados,
trata-se de mera resposta à AIJE interposta por Mocir Luiz Giacomelli.

Assim, mesmo que considerada a existência de provas nos autos – o


que admite-se meramente para fins argumentativos –, não há como afastar a sua parcialidade,
haja vista que foram utilizadas tão somente com conteúdo eleitoreiro por adversários
políticos, não podendo servir de base para eventual condenação criminal e sequer para
fundamentar o recebimento da denúncia oferecida, sobretudo no caso em tela, em que

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houve o acompanhamento do patrono da Coligação adversária na confecção da
declaração prestada por Tiago de Oliveira Gomes.

Neste passo, levando em consideração todo o conjunto probatório


constante dos autos, é possível perceber a evidente ausência de materialidade e indícios de
autoria da conduta delineada na denúncia oferecida pelo ilustre membro Ministerial.

Ensina o eminente doutrinador Fernando da Costa Tourinho, in


verbis:

“Para que seja possível o exercício do direito da ação penal, é


indispensável haja nos autos do inquérito, nas peças de informação
ou na representação, elementos sérios idôneos, a mostrar que
houve uma infração penal, e indícios mais ou menos razoáveis, de
que seu autor foi a pessoa apontada no procedimento informativo
ou nos elementos de convicção”5

Neste passo, é evidente que não existem motivos para o recebimento


da denúncia nestes autos, pois a inexistência de justa causa para a instauração da Ação Penal é
patente.

Neste sentido leciona Júlio Fabrini Mirabete, ipsis litteris:

“Em qualquer hipótese, porém, é necessário que a denúncia venha


arrimada em elementos que comprovem a materialidade do crime e
em indícios de sua autoria, sob pena de ficar reconhecida a
ausência de justa causa para a ação penal. (...)”6

Frise-se que não há qualquer elemento nos autos capaz de


correlacionar o Contrarrazoante com a prática inserta no art. 299 do Código Eleitoral, e mais,
já é preexistente uma decisão de improcedência a respeito da mesma argumentação lançada na
denúncia oferecida pelo órgão Ministerial.
TOURINHO, Fernando da Costa. Processual Penal. Jovili/SP, 1978, vol. 1, p. 440.
5

MIRABETE, Júlio Fabrini. Juizados Especiais Criminais. São Paulo: Atlas, p. 95.
6

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Por conseguinte, não há como concluir pela existência da conduta
que tenta imputar o Ministério Público ao ora Contrarrazoante, haja vista tratar-se o conjunto
probatório preexistente dos autos plenamente frágil e vacilante, não se podendo sequer aferir
acerca da materialidade do suposto ilícito.

Neste ponto, não se pode concluir de maneira diversa da decisão


exarada pelo juízo singelo que rejeitou a denúncia ofertada pelo membro Ministerial, pois não
existem elementos capazes de formar o convencimento a respeito da materialidade, bem como
da autoria da suposta conduta praticada.

Por sua vez, no que tange à gravação trazida aos autos, conforme bem
exposto na perícia realizada em sede de Inquérito Policial, sequer é possível delimitar quem
são seus interlocutores.

Ademais, bem como por via reflexa, não existe qualquer trecho que
comprove a suposta prática delineada no art. 299, do Código Eleitoral, haja vista que tratar-se
de mera conversa isolada, sendo, pois, evidente a ausência da necessária justa causa para a
instauração da Ação Penal.

Além do que, conforme demonstrar-se-á amplamente abaixo, a


gravação acostada é prova ilícita, nos termos jurisprudenciais mais acertados a respeito do
tema.

Com efeito, não se pode concluir pela existência da conduta que


delineou o Ministério Público na denúncia ofertada em desfavor do Contrarrazoante, posto que
não há qualquer elemento probante que leve à materialidade do suposto ilícito, tampouco que
demonstre a autoria.

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Desta forma, reconhecida a ausência de provas constantes dos autos,
eis que não evidenciam a prática do ato ilícito, tampouco a participação do Contrarrazoante,
não há que se falar em justa causa fundamentadora da Ação Penal.

Corroborando a inteligência supra, conforme ensinamento do Douto


Professor Miguel Reale, em seu livro “Lições Preliminares de Direito”, impõe-se os Princípios
Gerais do Direito, quais são alicerces do ordenamento jurídico, como exemplos citamos:

“ Falar e não provar é o mesmo que não falar”7

Assim sendo, a falta de provas acerca da materialidade e autoria do


supsoto delito impõe a rejeição da denúncia, tudo nos termos do art. 395, III, do Diploma
Processual Penal, verbis:

“Art. 395.  A denúncia ou queixa será rejeitada quando:

I - for manifestamente inepta; 

II - faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da


ação penal; ou

III - faltar justa causa para o exercício da ação penal.”

Este também é o posicionamento do egrégio Tribunal Regional


Eleitoral do Estado de Mato Grosso, qual adimite até mesmo a reconsideração da decisão que
recebera a denúncia, quando da ausência de materialidade e indícios de autoria:

RECEBIMENTO DA DENÚNCIA - AUSÊNCIA DE SUPORTE


PROBATÓRIO E DE JUSTA CAUSA - FALTA DE INTERESSE DE
AGIR - MATÉRIA DE CARÁTER PÚBLICO - POSSIBILIDADE DE
RECONSIDERAÇÃO PELO PRÓPRIO JUIZ - DECISÃO
MANTIDA. Na ausência de uma das condições da ação penal e da

7
REALE, Miguel. Lições Preliminares de Direito. 27ª ed. São Paulo: Saraiva, 2003

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justa causa, é possível a reconsideração do recebimento da
denúncia pelo próprio juiz.8

Portanto, em razão da expressa ausência de justa causa para a


instauração da Ação Penal, não merece reparos a decisão singela que rejeitou a denúncia
oferida pelo Ministério Público do Estado de Mato Grosso.

2.1 DA ILICITUDE DA GRAVAÇÃO ACOSTADA AOS AUTOS.

Não obstante todo o exposto, a prova – gravação – acostada aos autos


está eivada, ainda, de ilicitude, senão vejamos.

Nos termos doutrinários e jurisprudenciais, a prova é o meio hábil


para a comprovação da veracidade do alegado, de modo a embasar a pretensão daquele que a
apresenta perante o judiciário, permitindo-lhe a profunda análise da situação relatada.

Em outras palavras, conceitua-se:

“A prova judiciária tem como objeto os fatos deduzidos pelas partes


em juízo. Sua finalidade é a formação da convicção em torno dos
mesmos fatos.”9

Nos referidos termos, a prova será produzida nos autos a fim do


convencimento efetivo do Magistrado do contexto alegado pelas partes, contudo, deverão ser
observados os critérios específicos de validade para que seja possível sua utilização no
processo.

8
BRASIL. Tribunal Regional Eleitoral do Estado de Mato Grosso. Recurso Eleitoral n.º 804, Acordão 14488 de
07.08.2003. Rel. Juracy Persiani. DJE, 19.08.2003.
9
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, ed. 47, Rio de Janeiro: Forense, 2007, p.
473.

16
Desta feita, diante das normas constitucionalmente asseguradas,
temos que a nossa Carta Magna de 1988 é clara e taxativa quanto à vedação da utilização de
provas obtidas por meio ilícito, impondo-se sua nulidade.

É o texto constitucional, in verbis:

“Art. 5.º (...)


LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios
ilícitos;”

Como se vê, o respeito à Constituição da República deve ser irrestrito


e concreto, sendo inadmissível, no processo, a utilização de provas obtidas ilicitamente.

Conforme se observa, a mídia – CD (Compact Disc) constante dos


autos, traz em seu conteúdo uma suposta gravação ambiental que teria sido realizada em uma
reunião partidária que, em tese, corroboraria com a narração constante da denúncia oferecida
pelo Ministério Público.

Depreende-se da análise da mídia que a gravação foi realizada sem o


conhecimento de qualquer dos interlocutores, vez que o indivíduo se infiltrou no local e
procedeu à gravação da conversa que ali ocorria.

Verifica-se que a gravação realizada trata-se de uma interceptação


ambiental, mormente por não haver provas nos autos que comprovem quem foi o autor da
respectiva, e, além disso, não é possível identificar efetivamente quem são os participantes da
referida interceptação.

A quebra do sigilo quando da realização de interceptações ambientais


somente é possível se autorizada judicialmente, fato que não ocorreu no caso em tela.

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A gravação ambiental colacionada aos autos revela-se totalmente
ilícita, tendo em vista que nenhum dos interlocutores possuía ciência de que estavam sendo
gravados.

Salienta-se que não há nos autos qualquer comprovação da autoria da


gravação realizada, tampouco no conteúdo da mídia, tornando-se impossível a verificação da
identidade daquele que a realizou, impondo-se, desta maneira, o reconhecimento de sua
ilicitude. Nestes termos está a jurisprudência de nossos tribunais pátrios, “in verbis”:

“RECURSO ELEITORAL - AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO


JUDICIAL ELEITORAL - PROVA - GRAVAÇÃO AMBIENTAL
- AUTOR - NÃO IDENTIFICADO - PROVA CLANDESTINA E
ILÍCITA - RECURSO PROVIDO. Não havendo nos autos como
comprovar o autor da gravação ambiental, sendo a mesma
manejada por terceiro alheios a conversa, a prova é clandestina e
ilícita nos termos da repercussão geral do Supremo Tribunal
Federal10

E ainda:

“RECURSO ELEITORAL - AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO


JUDICIAL - CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO - GRAVAÇÃO
AMBIENTAL - AUSÊNCIA DE AUTORIZAÇÃO JUDICIAL -
PROVA ILÍCITA - MATÉRIA ELEITORAL - RECURSO
DESPROVIDO.1. Não é lícita a prova consistente em gravação
ambiental realizada sem autorização judicial.2. Ausente prova
consistente de captação ilícita de sufrágio (artigo 41-A da Lei nº
9.504/97), impõe-se a improcedência da Ação de Investigação
Judicial.41-A9.5043. Recurso desprovido.11

Destarte, há expressa violação dos ditames constitucionais acerca da


inviolabilidade à intimidade quando da realização da gravação não autorizada pelos
interlocutores, tampouco pela justiça.
10
BRASIL. Tribunal Regional Eleitoral do Estado de Mato Grosso. Recurso Eleitoral n.º 1303. Rel. Samir
Hammoud. DEJE, 03.05.2010.
11
BRASIL. Tribunal Regional Eleitoral do Paraná. Recurso Eleitoral n.º 44521. Rel. Rogério Coelho. DEJE,
20.11.2012.

18
Assim, diante da impossibilidade da identificação do autor da
gravação ambiental realizada, considerando ainda a ausência de qualquer prova nos autos da
autoria, não se pode olvidar a ilicitude da prova acostada aos autos.

Portanto, também por este motivo, não há que se falar em reparos da


decisão singela que rejeitou a denúncia ofertada pelo órgão Ministerial, haja vista que as
provas constantes dos autos não são capazes de conferir a possibilidade de aferição acerca da
autoria e materialidade do delito inserto no art. 299 do Código Eleitoral, sobretudo a gravação
em tela, que é ilícita por natureza.

III. DOS PEDIDOS.

Postas tais considerações, requer o recebimento das presentes Contrarrazões,


levando-as a efeito para que seja IMPROVIDO o Recurso em Sentido Estrito, ora
contrarrazoado, interposto pelo Ministério Público do Estado de Mato Grosso,
mantendo intacta a decisão proferida pelo Juízo singelo que rejeitou a denuncia
oferecida pelo órgão Ministerial.

Termos em que,
pede e espera deferimento.

Sinop/MT, 28 de outubro de 2013.

19
JOYCE C. M. A. HEEMANN JIANCARLO LEOBET
Advogada OAB/MT 8.726 Advogado OAB/MT 10.718

RUI HEEMANN JUNIOR ALCIR FERNANDO CESA


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