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EXCELENTÍSSIMA SENHORA DOUTORA JUÍZA DE DIREITO DA 4ª VARA CRIMINAL RESIDUAL DA

COMARCA DE CAMPOGRANDE/MS

Autos nº 0004673-28.2020.8.12.0001

MARCIO RICARDO COUTINHO, já qualificado nos autos epígrafes que lhe move a
Justiça Pública, vem, respeitosamente, por seu advogado que esta subscreve, dentro do prazo
legal, interpor

RECURSO DE APELAÇÃO

Com fulcro no artigo 593, inciso I do Código de Processo Penal, por não se conformar
com a r. sentença.

Requer seja recebido e processado o presente recurso, sendo devidamente


encaminhado ao Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso do Sul.

Termos em que,
Pede deferimento.

Campo Grande/MS, 19 de junho de 2023.

Advogado
OAB n.______
RAZÕES DE APELAÇÃO

Apelante: MARCIO RICARDO COUTINHO;

Apelado: Justiça Pública.

EGRÉGIO TRIBUNAL

COLENDA CÂMARA

DOUTRA PROCURADORIA DE JUSTIÇA

Em que pese o notável saber jurídico da Excelentíssima Juiz a quo, não agiu com o
costumeiro acerto ao prolatar a sua r. decisão ora apelada, impondo-se a reforma da
respeitável decisão pelos motivos de fato e de direito a seguir exposto:

I. DOS FATOS

Trata-se de ação penal movida pelo órgão do Ministério Público Estadual, pelo suposto
cometimento da infração descrita no artigo 312 do Código Penal (peculato).

A denúncia foi oferecida inicialmente pelo Ministério Público Federal perante a 5ª Vara
Federal da 1ª Subseção Judiciária do Estado de Mato Grosso do Sul, onde veio a ser recebida
em 01/04/2016. Houve a citação do apelante de maneira pessoal, e este, juntamente com a
outra ré, apresentaram resposta à acusação.

Realizada e encerrada a instrução processual, com oitiva de testemunhas arroladas pela


acusação, e interrogatórios dos réus, as partes apresentaram suas alegações finais sob a forma
de memorias escritos, nos termos do artigo 403, parágrafo 3º do Código de Processo Penal.

O Juízo da Justiça Federal do Estado de Mato Grosso do Sul, por intermédio da decisão pelo
reconhecimento da incompetência absoluta do juízo federal para o julgamento do feito, devido
a ausência de interesse da União, determinando a remessa dos autos à Justiça Estadual para o
seu processamento e julgamento.

Esta decisão se deu em razão de que o Tribunal de Contas da União, no Acordão n.


1686/2017, ao analisar a entrada de recurso públicos provenientes do SUS nos cofres da
fundação Carmen Prudente e a aplicação destes, concluiu pela inexistência de prejuízo à União
Federal. O Parquet veio a interpôs recurso em sentido estrito, no entanto, o Tribunal Regional
Federal da 3ª Região negou provimento ao recurso, mantendo o declínio de competência.

Com o remetimento dos autos ao juízo competente, em razão da incompetência absoluta


anteriormente reconhecida, o mesmo foi distribuído para a 4ª Vara Criminal sob nº. 0004673-
28.2020.8.12.0001.

Houve pedido de ratificação pelo Ministério Público Estadual de todos os atos probatórios e
decisões proferidas pelo juízo federal, requerendo, por fim, a procedência dos pedidos
insculpidos na exordial acusatória. Em razão disto, a defesa veio a se manifestar desacordando
da fundamentação utilizada pelo parquet, vindo a requer nova adequação na tipificação do
crime supostamente praticado.

Após, veio a ser proferida a sentença pelo juízo a quo, agora competente, ratificando os atos
da instrução já praticados, sobrevindo a sentença a qual condenou o ora apelante, às penas de
1 ano e 4 meses de reclusão e 13 dias-multa, em regime aberto, com substituição da pena
privativa de liberdade por duas penas restritivas de direitos, pela suposta prática do crime do
art. 168, § 1º, III, do Código Penal.

II. DO DIREITO

Em sede de preliminar, necessário expor a ocorrência da extinção da punibilidade pela via


da prescrição da pretensão punitiva.

Como consta do apurado na dilação probatória, o ora apelante, enquanto tesoureiro do


HCAA, entregou a MARCELO AMARAL DA SILVA um cheque de R$10.000,00, datado de
26.02.2013, emitido pela Fundação Carmem Prudente (FCC), mantenedora do HCAA.

Isto é, a consumação do delito veio a acontecer no ato da expedição do cheque


mencionado no dia 26/02/2013, que fora depositado no mesmo dia quando o Ministério
Público Federal afirmou que o apelante juntamente com a outra denunciada “desviou em
proveito próprio R$10.000,00(dez mil reais) do Hospital do Câncer Alfredo Abrão (HCAA)”.
Sendo, a denúncia, recebida pelo juízo competente no 26/04/2021.

Em razão deste lapso temporal, é preciso que seja aplicado o disposto no artigo 111 do
Código Penal, que possui a seguinte redação:

Art. 111, CP. A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença


final, começa a correr:

I - do dia em que o crime se consumou;

De igual maneira, é mister a verificação do descrito no artigo 109 do mesmo diploma


legal:

Art. 109, CP. A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença


final, salvo o disposto no § 1º do art. 110 deste Código, regula-se pelo
máximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime,
verificando-se:

IV - em oito anos, se o máximo da pena é superior a dois anos e não


excede a quatro;
Como dito antes, o apelante veio a ser condenado às penas 1 ano e 4 meses de reclusão e
13 dias-multa. Além disso, considera-se para fins de interrupção do prazo prescricional a
denúncia recebida pelo juízo competente na data de 26 de abril de 2021, conforme
entendimento jurisprudencial dos Tribunais Superiores, tendo em vista que o recebimento da
denúncia por juízo absolutamente incompetente é ato nulo e, por isso, não interrompe a
prescrição.

Verifica-se, portanto, que o apelante faz jus a declaração da extinção da sua punibilidade
pela prescrição da pretensão punitiva em abstrato, nos termos do artigo 107, inciso IV do
Código Penal, que determina:

Art. 107, CP. Extingue-se a punibilidade:

IV - pela prescrição, decadência ou perempção;

Posto que entre a consumação do crime (26/02/2013) e o recebimento da denúncia pelo


juízo competente (26/04/2021) passaram-se 8 anos e 2 meses, aplicável, portanto, a
determinação do artigo 109, inciso IV do Código Penal.

Ademais, ainda sobre tal fato da ocorrência da prescrição, é imperioso expor que se trata de
matéria de ordem pública e que, nos termos do artigo 61 do Código de Processo Penal, pode
ser reconhecida em qualquer momento, segundo a seguinte redação:

Art. 61, CPP. Em qualquer fase do processo, o juiz, se reconhecer


extinta a punibilidade, deverá declará-lo de ofício.

Desta forma, cabendo ao Egrégio Tribunal, fazer a análise desta, para, em decorrência do
alegado, e como medida de melhor justiça, decretar extinta a punibilidade do apelante pela via
da prescrição da pretensão punitiva em abstrato.

Quanto ao mérito, tem-se que o Ministério Público assevera que a Nota Fiscal nº 20, datada
de 25/02/2013, tendo como prestador de serviços a pessoa jurídica “MARCELO AMARAL DA
SILVA, CNPJ 12.429.969/0001-61, e como tomador de serviços a Fundação Carmem Prudente
de Mato Grosso do Sul (mantenedora do HCAA) foi emitida sem que os serviços nela
apontados houvessem sido prestados, apenas para possibilitar a emissão de um cheque de
R$10.000,00 para pagá-la.

O que se sustenta é que o acusado MARCIO em conluio com BETINA, emitiram uma Nota
Fiscal para conferir aparência de legalidade ao saque e desvio de dinheiro da Fundação Carmen
Prudente / HCAA.

Para respaldar suas alegações, a acusação menciona ter o próprio prestador de serviços
reconhecido ter efetuado o saque de R$10.000,00 do cheque da Fundação e devolvido para o
acusado.

Quanto a tais fatos, relembra-se, o apelante, ter sido solicitado a MARCELO AMARAL DA
SILVA a emissão da nota fiscal aventada nos autos. Remonta-se ainda, que foi informado a este
último, que a Nota Fiscal era necessária “para cobrir um furo” na Fundação, e que o dinheiro
sacado pelo profissional veio a ser devolvido.

O sr. Marcelo e seu irmão Luís realizavam todas as pinturas necessárias no prédio do
Hospital do Câncer. Ocorre que, tendo o referido profissional realizado diversos pequenos
trabalhos no Hospital, recebeu vários pequenos pagamentos ao longo dos meses em que
foram prestados os serviços.

Tais pagamentos, demandavam justificação perante a contabilidade, razão pela qual a


requerida BETINA solicitou-lhe a emissão de Nota Fiscal. Ou seja, justamente para cobrir o furo
deixado pelos pagamentos realizados sem emissão de notas fiscais. A Nota Fiscal de
R$10.000,00, portanto, foi emitida visando justificar no caixa da Fundação a saída dos diversos
pequenos pagamentos realizados ao Sr. Marcelo.

Os valores saíram do banco UNIPRIME que era a conta em que eram recebidos os valores
das doações, recebimentos de particulares e outros convênios, conforme afirmado de maneira
igual pelo apelante e pela outra denunciada.

A justificativa utilizada pelos acusados de que o valor do cheque sacado por MARCELO era
para cobrir o furo do caixa, é latente e condiz com o caderno probatório. Caso houvesse
realmente interesse dos acusados em desviar verba do hospital, presunção utilizada apenas a
título de argumentação, não o seria através de saque bancário, já que referida movimentação
deixaria rastro, e os valores entregues através de doação em dinheiro não.

Justamente por já ter recebido os valores em ocasiões diversas, sem fornecer Notas Fiscais,
é que o prestador de serviços devolveu o dinheiro à Fundação. O profissional já havia recebido
pelos trabalhos realizados, e a Fundação precisava justificar os valores repassados a ele.

É necessário expor que o apelante tesoureiro à época dos fatos, recorda-se de possuir uma
relação dos fornecedores que emitiam boletos, mas não de todos os prestadores de serviços.

Ademais, caso fosse necessário comprovar que o Sr. MARCELO era prestador de serviços do
hospital, bastaria que se efetuasse uma análise na contabilidade (balanço) anual do Hospital,
onde se descreve, quanto, e para quem foi paga qualquer quantia pela Fundação. O próprio
depoimento daquele é indubitável neste sentido, não restando dúvidas de que prestava
serviços no hospital, conforme o termo deste que consta dos autos.

Embora sustente o Ministério Público que o requerido desviou dinheiro público em proveito
da outra denunciada, alegando-se que o apelante detinha conhecimento de tanto e pode ser
considerado culpado das acusações que pesam que ele, a verdade é que, além dos valores
sacados não serem de origem pública, foi realizada a regularização pelos diversos pequenos
pagamentos efetuados sem emissão de Nota Fiscal pelo prestador Sr. MARCELO.

Sendo, o dinheiro sacado pelo profissiona, revertido novamente para a Fundação, dentro da
mesma semana em que houve o saque, que poderá ser constatado pelo extrato de depósitos
efetuados na conta do HCAA e FCP perante a UNIPRIME e CAIXA ECONÔMICA.

Desta forma, evidencia-se que não há qualquer ato ilegal a ser punido no fato acima
exposto, de maneira que não há ilicitude que deve ser sancionada, visto a ausência de justa
causa da ação penal.
Em decorrência disto, pugna-se pela reforma total da r. sentença no sentido de absolver o
réu nos termos do artigo 386, inciso III do Código de Processo, visto que o fato não constitui
infração penal.

III. DO PEDIDO

Antes ao exposto, requer seja conhecido e provido presente recurso para que:

a) Seja reconhecida a extinção da punibilidade pela via da prescrição da pretensão


punitiva em abstrato, nos termos do artigo 107, inciso IV do Código Penal;
b) Seja reformada a r. sentença do juízo a quo no sentido de absolver o apelante, nos
termos do artigo 386, inciso III do Código de Processo Penal.

Termos em que,

Pede deferimento.

Campo Grande/MS, 19 de junho de 2023.

Advogado

OAB n.______

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