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COMARCA DE CAMPOGRANDE/MS
Autos nº 0004673-28.2020.8.12.0001
MARCIO RICARDO COUTINHO, já qualificado nos autos epígrafes que lhe move a
Justiça Pública, vem, respeitosamente, por seu advogado que esta subscreve, dentro do prazo
legal, interpor
RECURSO DE APELAÇÃO
Com fulcro no artigo 593, inciso I do Código de Processo Penal, por não se conformar
com a r. sentença.
Termos em que,
Pede deferimento.
Advogado
OAB n.______
RAZÕES DE APELAÇÃO
EGRÉGIO TRIBUNAL
COLENDA CÂMARA
Em que pese o notável saber jurídico da Excelentíssima Juiz a quo, não agiu com o
costumeiro acerto ao prolatar a sua r. decisão ora apelada, impondo-se a reforma da
respeitável decisão pelos motivos de fato e de direito a seguir exposto:
I. DOS FATOS
Trata-se de ação penal movida pelo órgão do Ministério Público Estadual, pelo suposto
cometimento da infração descrita no artigo 312 do Código Penal (peculato).
A denúncia foi oferecida inicialmente pelo Ministério Público Federal perante a 5ª Vara
Federal da 1ª Subseção Judiciária do Estado de Mato Grosso do Sul, onde veio a ser recebida
em 01/04/2016. Houve a citação do apelante de maneira pessoal, e este, juntamente com a
outra ré, apresentaram resposta à acusação.
O Juízo da Justiça Federal do Estado de Mato Grosso do Sul, por intermédio da decisão pelo
reconhecimento da incompetência absoluta do juízo federal para o julgamento do feito, devido
a ausência de interesse da União, determinando a remessa dos autos à Justiça Estadual para o
seu processamento e julgamento.
Houve pedido de ratificação pelo Ministério Público Estadual de todos os atos probatórios e
decisões proferidas pelo juízo federal, requerendo, por fim, a procedência dos pedidos
insculpidos na exordial acusatória. Em razão disto, a defesa veio a se manifestar desacordando
da fundamentação utilizada pelo parquet, vindo a requer nova adequação na tipificação do
crime supostamente praticado.
Após, veio a ser proferida a sentença pelo juízo a quo, agora competente, ratificando os atos
da instrução já praticados, sobrevindo a sentença a qual condenou o ora apelante, às penas de
1 ano e 4 meses de reclusão e 13 dias-multa, em regime aberto, com substituição da pena
privativa de liberdade por duas penas restritivas de direitos, pela suposta prática do crime do
art. 168, § 1º, III, do Código Penal.
II. DO DIREITO
Em razão deste lapso temporal, é preciso que seja aplicado o disposto no artigo 111 do
Código Penal, que possui a seguinte redação:
Verifica-se, portanto, que o apelante faz jus a declaração da extinção da sua punibilidade
pela prescrição da pretensão punitiva em abstrato, nos termos do artigo 107, inciso IV do
Código Penal, que determina:
Ademais, ainda sobre tal fato da ocorrência da prescrição, é imperioso expor que se trata de
matéria de ordem pública e que, nos termos do artigo 61 do Código de Processo Penal, pode
ser reconhecida em qualquer momento, segundo a seguinte redação:
Desta forma, cabendo ao Egrégio Tribunal, fazer a análise desta, para, em decorrência do
alegado, e como medida de melhor justiça, decretar extinta a punibilidade do apelante pela via
da prescrição da pretensão punitiva em abstrato.
Quanto ao mérito, tem-se que o Ministério Público assevera que a Nota Fiscal nº 20, datada
de 25/02/2013, tendo como prestador de serviços a pessoa jurídica “MARCELO AMARAL DA
SILVA, CNPJ 12.429.969/0001-61, e como tomador de serviços a Fundação Carmem Prudente
de Mato Grosso do Sul (mantenedora do HCAA) foi emitida sem que os serviços nela
apontados houvessem sido prestados, apenas para possibilitar a emissão de um cheque de
R$10.000,00 para pagá-la.
O que se sustenta é que o acusado MARCIO em conluio com BETINA, emitiram uma Nota
Fiscal para conferir aparência de legalidade ao saque e desvio de dinheiro da Fundação Carmen
Prudente / HCAA.
Para respaldar suas alegações, a acusação menciona ter o próprio prestador de serviços
reconhecido ter efetuado o saque de R$10.000,00 do cheque da Fundação e devolvido para o
acusado.
Quanto a tais fatos, relembra-se, o apelante, ter sido solicitado a MARCELO AMARAL DA
SILVA a emissão da nota fiscal aventada nos autos. Remonta-se ainda, que foi informado a este
último, que a Nota Fiscal era necessária “para cobrir um furo” na Fundação, e que o dinheiro
sacado pelo profissional veio a ser devolvido.
O sr. Marcelo e seu irmão Luís realizavam todas as pinturas necessárias no prédio do
Hospital do Câncer. Ocorre que, tendo o referido profissional realizado diversos pequenos
trabalhos no Hospital, recebeu vários pequenos pagamentos ao longo dos meses em que
foram prestados os serviços.
Os valores saíram do banco UNIPRIME que era a conta em que eram recebidos os valores
das doações, recebimentos de particulares e outros convênios, conforme afirmado de maneira
igual pelo apelante e pela outra denunciada.
A justificativa utilizada pelos acusados de que o valor do cheque sacado por MARCELO era
para cobrir o furo do caixa, é latente e condiz com o caderno probatório. Caso houvesse
realmente interesse dos acusados em desviar verba do hospital, presunção utilizada apenas a
título de argumentação, não o seria através de saque bancário, já que referida movimentação
deixaria rastro, e os valores entregues através de doação em dinheiro não.
Justamente por já ter recebido os valores em ocasiões diversas, sem fornecer Notas Fiscais,
é que o prestador de serviços devolveu o dinheiro à Fundação. O profissional já havia recebido
pelos trabalhos realizados, e a Fundação precisava justificar os valores repassados a ele.
É necessário expor que o apelante tesoureiro à época dos fatos, recorda-se de possuir uma
relação dos fornecedores que emitiam boletos, mas não de todos os prestadores de serviços.
Ademais, caso fosse necessário comprovar que o Sr. MARCELO era prestador de serviços do
hospital, bastaria que se efetuasse uma análise na contabilidade (balanço) anual do Hospital,
onde se descreve, quanto, e para quem foi paga qualquer quantia pela Fundação. O próprio
depoimento daquele é indubitável neste sentido, não restando dúvidas de que prestava
serviços no hospital, conforme o termo deste que consta dos autos.
Embora sustente o Ministério Público que o requerido desviou dinheiro público em proveito
da outra denunciada, alegando-se que o apelante detinha conhecimento de tanto e pode ser
considerado culpado das acusações que pesam que ele, a verdade é que, além dos valores
sacados não serem de origem pública, foi realizada a regularização pelos diversos pequenos
pagamentos efetuados sem emissão de Nota Fiscal pelo prestador Sr. MARCELO.
Sendo, o dinheiro sacado pelo profissiona, revertido novamente para a Fundação, dentro da
mesma semana em que houve o saque, que poderá ser constatado pelo extrato de depósitos
efetuados na conta do HCAA e FCP perante a UNIPRIME e CAIXA ECONÔMICA.
Desta forma, evidencia-se que não há qualquer ato ilegal a ser punido no fato acima
exposto, de maneira que não há ilicitude que deve ser sancionada, visto a ausência de justa
causa da ação penal.
Em decorrência disto, pugna-se pela reforma total da r. sentença no sentido de absolver o
réu nos termos do artigo 386, inciso III do Código de Processo, visto que o fato não constitui
infração penal.
III. DO PEDIDO
Antes ao exposto, requer seja conhecido e provido presente recurso para que:
Termos em que,
Pede deferimento.
Advogado
OAB n.______