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AO JUÍZO DA VARA ÚNICA DA COMARCA DE OLHO D’ÁGUA DAS CUNHÃS/MA

Mandado de segurança nº 0800265-97.2020.8.10.0103


Apelante: MUNICÍPIO DE OLHO D’ÁGUA DAS CUNHÃS
Apelada: ANA FLAVIA SOUSA DOS SANTOS

MUNICÍPIO DE OLHO D’ÁGUA DAS CUNHÃS, pessoa jurídica de direito


público interno, vem, por seu procurador, com fundamento na norma do art. 14,
caput, da lei n° 12.016/2012 e art. 1.009, caput, e seguintes do Código de Processo
Civil, interpor RECURSO DE APELAÇÃO contra a v. sentença proferida por esse r. Juízo,
que concedeu a segurança pretendida, nos termos da minuta anexa.
Assim, requer seja recebido o presente apelo, bem como intimada a parte
Recorrida para, querendo, apresentar contrarrazões, determinando-se, em seguida, a
subida dos autos ao egrégio Tribunal de Justiça do Maranhão, independentemente de
juízo de admissibilidade, nos termos do art. 1.010, §3º, do CPC, para que outra decisão
seja proferida, reformando a sentença recorrida.

Pede deferimento.
Olho d’Água das Cunhãs/MA, 13 de julho de 2020.

(assinado eletronicamente)
JOÃO TEIXEIRA DOS SANTOS
Advogado, OAB/MA 3.904
RAZÕES DE RECURSO DE APELAÇÃO

EGRÉGIA CORTE,
NOBRE RELATOR:

I – PREVENÇÃO
I.1 - Prevenção e competência do eminente Desembargador Raimundo José Barros
de Sousa. Prevenção reconhecida por Sua Excelência e ratificada por julgamento
colegiado da respeitável 5º Câmara Cível.

Tramitaram na respeitável Comarca de Olho d’Água das Cunhãs diversos


mandados de segurança com a mesma causa de pedir e mesmo pedido.
Os processos decorrem da edição do decreto municipal n° 05 de 2020, que
determinou a suspensão do concurso público regido pelo edital n°01/2018,
considerando a existência de graves indícios de irregularidades no certame, fatos
inclusive investigados pelo Ministério Público e pela Polícia Civil.
Em um desses processos, o mandado de segurança n° 0800141-
17.2020.8.10.0103, impetrado por Antonio Evandro de Morais Mesquita e outros, o r.
Juízo a quo indeferiu o pedido de tutela de urgência.
Contra essa decisão, os Impetrantes interpuseram o primeiro agravo de
instrumento versando sobre o tema, o agravo de instrumento n° 0803030-
59.2020.8.10.0000, distribuído à Relatoria do eminente Desembargador Raimundo
José Barros de Sousa.
Por essa razão, nos termos do art. 242 do RITJMA 1, o Excelentíssimo
Desembargador tornou-se prevento para análise de todos os recursos
subsequentes, considerando que os processos são conexos, pois possuem mesma
causa de pedir e pedidos idênticos.

1
Art. 242. O primeiro recurso protocolado no tribunal tornará prevento o relator para eventual recurso
subsequente interposto no mesmo processo ou em processo conexo, assim como a distribuição de
habeas corpus e do pedido de atribuição de efeito suspensivo a recurso; e na distribuição do inquérito,
bem como na realizada para efeito da concessão de fiança ou de decretação de prisão temporária ou
preventiva ou de qualquer diligência anterior à denúncia ou queixa, prevenirá a ação penal.
A prevenção, suscitada nos recursos subsequentes, já foi reconhecida
diversas vezes por Sua Excelência, Desembargador Raimundo José Barros de
Sousa, integrante da 5º Câmara Cível, a título de exemplo mencionam-se os
agravos de instrumento n° 0804385-07.2020.8.10.0000; 0804399-
88.2020.8.10.0000 e 0804402-43.2020.8.10.0000.
Reconhecendo a prevenção de sua Relatoria, o eminente
Desembargador assim asseverou:
“Na definição do próprio Canelutti[1], “são lides conexas aquelas cuja
decisão requer a solução de questões comuns ou, em outras palavras,
de questões idênticas. É a identidade das questões, não a identidade
parcial dos elementos da lide, que determina ou constitui a conexão”.

In casu, aplica-se o disposto no artigo nº. 243, do RITJMA, in verbis:


Art. 243. A distribuição de recurso, habeas corpus ou mandado de
segurança contra decisão judicial de primeiro grau torna prevento o
relator para incidentes posteriores e para todos os demais recursos e
novos habeas corpus e mandados de segurança contra atos praticados
no mesmo processo de origem, na fase de conhecimento ou de
cumprimento de sentença ou na execução, ou em processos conexos,
nos termos do art. 930, parágrafo único, do Código de Processo Civil.
(Redação dada pela Resolução nº 67/2019)
Ultrapassada a análise de competência desta Relatoria, observo estar
presentes os pressupostos intrínsecos e extrínsecos de
admissibilidade, razão pela qual recebo o presente Agravo de
Instrumento.”.

Ademais, em julgamento colegiado de agravo interno no agravo de


instrumento n° 0803030-59.2020.8.10.0000, a 5ª Câmara Cível, ratificou a
prevenção, e o eminente Desembargador Raimundo Barros asseverou que
“justifico a tramitação normal, em meu gabinete, de todos os processos afetos à
matéria.”
Com efeito, requer-se seja reconhecida a prevenção, com a remessa
dos autos ao Relator competente, sob pena de violação da garantia fundamental
do juiz natural (art. 5º, XXXVII e LIII da Constituição Federal), bem como ao art.
930, parágrafo único, do Código de Processo Civil e art. 242 do RITJMA.
II - TEMPESTIVIDADE

Houve intimação da sentença no dia 25/06/2020, de modo que o prazo


recursal iniciou em 26/06/2020 e, considerando o prazo de 30 dias úteis para interpor
recurso de apelação (art.183, caput, do CPC), o prazo findará em 06/08/2020,
conforme consta no expediente eletrônico do PJE.
Com efeito, é manifestamente tempestiva a interposição do recurso.

III – EXPOSIÇÃO

Trata-se na origem de Mandado de Segurança impetrado sob o


fundamento de que haveria vício de legalidade no decreto municipal que suspendeu os
efeitos do concurso público em que teria sido “aprovado” e tomou posse.
Pleiteou-se, então, a concessão de medida liminar objetivando a
reintegração a cargo público. O r. Juízo de base, indeferiu o pedido de liminar de
reintegração, sob o fundamento de que a administração pública possui o poder de
autotutela (súmula 473 do STF) e que não há se falar em direito líquido e certo até que
sejam concluídas as investigações sobre possíveis fraudes no concurso.
Instado, o Município ingressou no feito, nos termos da norma do art. 7°, II,
da lei n° 12.016/2009, e apresentou manifestação informando que o concurso público
para provimento de cargos regido pelo edital nº01/2018 foi marcado por diversos e
graves indícios de fraudes, de modo que desde o seu início vem sendo investigado
pelo Ministério Público e pela Polícia Civil, em inquérito civil e policial,
respectivamente.
Asseverou, ainda, ser fato incontroverso que as nomeações foram
efetivadas entre a decisão do col. Superior Tribunal de Justiça afastando o antigo
gestor e o cumprimento dessa decisão pelo e. Tribunal de Justiça do Maranhão.
Aduziu que a atual administração editou o Decreto nº05-A de 2020, que
determinou a instauração de processo administrativo para apurar de maneira
incisiva as irregularidades do concurso. E que o primeiro ato da nova comissão
designada foi justamente o de solicitar informações ao Ministério Público e à Polícia
Civil, que investigam o certame desde 2018 e muito têm a colaborar com a apuração
da verdade real.
Indicou que com o avançar das apurações, e no momento adequado,
evidentemente será oportunizada a ampla defesa e o contraditório aos “aprovados”
para, querendo, apresentarem defesa e requererem as provas que entenderem
pertinentes.
Pontuou que é impossível apurar a legalidade do concurso com muito
mais de uma centena de servidores dentro da administração púbica de um município
pequeno, interessados na manutenção do concurso e dispondo de informações
privilegiadas, com incrível potencial de frustrar as apurações.
Acrescentou que – conforme aferível em simples pesquisa no site de busca
“Google” -, a banca Fundação Vale do Piauí (FUNVAPI), que atuou como organizadora
do certame, possui diversas acusações de fraudes em concursos públicos, e há
inclusive várias decisões judiciais suspendendo os concursos que organizou.
Na fundamentação jurídica, sustentou, em síntese, que a hipótese é de
autotutela administrativa, e que não houve prejuízo ao contraditório ou ampla
defesa, que nesse caso é meramente diferido, e nesse sentido acostou precedentes de
Tribunais de Justiça Estaduais, inclusive desse egrégio Tribunal de Justiça do
Maranhão.
Igualmente instado, o Ministério Público do Maranhão apresentou
parecer opinando pela DENEGAÇÃO DA SEGURANÇA, asseverando que:
“Como dito anteriormente, o ato coator que fundamenta a presente
impetração é o ato de decretar a suspensão de concurso público, pela
própria Administração Municipal que vislumbrou irregularidades, até que
houvesse juízo definitivo das investigações a respeito.
Nota-se, no entanto, que apesar da alegação de que o ato feriu princípios
administrativos elencados no art. 37 da Constituição Federal, nada há nos
autos provando a ocorrência do ato tido pelo impetrante como coator, pois
como exposto ao decreto, este foi suspenso, até que houvesse laudo
definitivo a respeito da legalidade ou não do certame.
Apesar de o impetrante sustentar a ilegalidade do decreto, em razão da
violação aos princípios constitucionais da administração, não se observa
nenhuma prova contundente a esse respeito, de modo que somente isso
implicaria a extinção do processo, sem resolução do mérito, nos termos a
Lei n. 12.016/2009.
Desse modo, a insuficiência dos documentos anexados para a
comprovação dos fundamentos infirmados na exordial torna o ponto de
vista a ser exarado no caso meramente especulatório, o que não cabe
nesta via mandamental, que exige, conforme dito anteriormente, a
comprovação imediata do direito líquido e certo defendido.” (grifos
nossos)

Após, os autos seguiram conclusos para sentença. Não obstante todos os


fundamentos suscitados pelo Município e pelo Ministério Público, o r. Juízo a quo
proferiu sentença reconhecendo que:
“[...]
Não desconheço que desde o nascedouro, pairam dúvidas acerca da
lisura desse certame, tendo ocorrido nas diversas sucessões na gestão do
Município de Olho d’Água das Cunhãs – MA, diversas decisões, ora
anulando atos, ora revogando as anulações.
No entanto, sequer houve procedimento prévio que permitisse ao servidor
prejudicado se manifestar. E agindo assim, a autoridade foi contra
remansosa jurisprudência.
[...]
As garantias processuais têm um custo e ainda que se acredite que
manter a remuneração de um servidor que, eventualmente poderá ser
afastado de forma definitiva no futuro, seja um grande ônus, esse é o
preço que devemos pagar para não abrirmos mão do Estado Democrático
de Direito.”

Apesar disso, julgando o mérito, CONCEDEU A SEGURANÇA e determinou


que a parte Impetrante fosse “reconduzido(a) ao cargo ao qual tenha sido empossado
originalmente, com percepção integral dos vencimentos, inclusive em relação aos dias
em que esteve afastado(a), o que se trata de mera decorrência lógica oriunda desta
decisão.”.
É, pois, contra essa v. sentença que se insurge o município por meio do
presente recurso de apelação.

IV – CONTEXTUALIZAÇÃO

Para melhor entendimento do caso, mostra-se necessário um relato


pormenorizado dos fatos.
O concurso público para provimento de cargos regido pelo edital nº
01/2018 foi marcado por diversos e graves indícios de fraudes, de modo que desde o
seu início vem sendo investigado pelo Ministério Público e pela Polícia Civil, em
inquérito civil e policial, respectivamente.
Ressalte-se: as investigações iniciaram antes das nomeações, e ainda não
foram concluídas.
Diversos foram os mandados de segurança impetrados e em algumas das
decisões liminares o Juízo de base relembrou o contexto fático da efetivação das
nomeações pelo antigo gestor. Pede-se vênia para transcrever trechos da decisão
proferida pelo Juízo a quo:
“É sabido que durante todo o ano de 2019 houve simultâneas mudanças
na condução da gestão do Município de Olho d’Água das Cunhãs – MA,
em virtude de decisões do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão e do
Superior Tribunal de Justiça.
Com a narrada sucessão na gestão, diversos atos foram expedidos pelos
gestores em exercício, uns suspendendo a marcha do certame (para
aprofundar a investigação sobre a lisura do procedimento – quando a
vice-prefeita e atual gestora estava no comando) e outros para dar
continuidade ao certame, inclusive com homologação e nomeação de
aprovados (decisões do prefeito afastado).
[...]
Note-se que a decisão que afastou o prefeito Rodrigo Oliveira foi tomada
pelo Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão em decorrência do
cumprimento de acórdão proferido pelo Superior Tribunal de Justiça que
não acolheu recurso do antigo mandatário em face de decisão do TJMA
que recebeu denúncia em processo criminal e o afastou das funções.
Ressalte-se que essa decisão foi proferida no final de dezembro de 2019.
Ou seja, as nomeações em tela foram efetivadas entre a decisão do STJ
determinando o afastamento e seu devido cumprimento pelo Tribunal de
Justiça do Estado do Maranhão.
Não posso afirmar ou reconhecer que tais nomeações tenham sido eivadas
de alguma nulidade, circunstância que só poderá ser analisada após a
formação do contraditório, com a prestação das informações pela
autoridade coatora.
No entanto, não tenho como, neste momento, desconsiderar tal
circunstância fática. Ora, é notório que o antigo gestor, sabedor que seria
afastado de suas funções, nomeou e convocou para assumir os cargos
diversos aprovados em concurso no qual havia por parte da atual gestora,
dúvidas acerca da lisura.”.

O que reiterou na sentença recorrida, estabelecendo que:

“Não desconheço que desde o nascedouro, pairam dúvidas acerca da


lisura desse certame, tendo ocorrido nas diversas sucessões na gestão do
Município de Olho d’Água das Cunhãs – MA, diversas decisões, ora
anulando atos, ora revogando as anulações.”

É uma relevante síntese do contexto das nomeações. A atual


Administração Municipal sempre pugnou pela investigação do certame. O antigo
gestor, por sua vez, sempre deu continuidade ao certame, apesar dos graves indícios
de fraude – investigados pelo Ministério Público e pela Polícia Civil.

O mais grave: as nomeações foram efetivadas entre a decisão do col.


Superior Tribunal de Justiça afastando o antigo gestor e o cumprimento dessa
decisão por esse e. TJ/MA.
É evidente que o antigo gestor, ciente de que seria afastado tão logo a
decisão fosse cumprida, apressou-se a homologar o certame – ignorando
completamente os graves indícios de fraude – e efetivando a nomeação dos
“aprovados”.
Antes disso, tentando transparecer que o concurso era legítimo,
determinou a instauração de um “processo administrativo disciplinar” e designou uma
comissão composta por três servidores para verificação das possíveis irregularidades.
A comissão, que deveria apurar a legalidade do certame, ignorou todos os
graves indícios de ilegalidades e incumbiu-se de produzir dois tipos de provas: i) ouvir
o proprietário da empresa responsável pela aplicação das provas; e ii) ouvir alguns dos
candidatos que realizaram a prova e foram “aprovados”.
Por mais inusitado que possa parecer, o relatório final da comissão está
baseado única e exclusivamente nesses dois elementos: oitiva do proprietário da
empresa que aplicou as provas e de alguns candidatos “aprovados”.
As oitivas de pessoas diretamente interessadas na manutenção do certame
não podem ser admitidas como meio de prova de coisa alguma, muito menos de que
não houve irregularidades.
A comissão nem sequer solicitou informações ao Ministério Público e à
Polícia Civil, que à época já investigavam o mencionado concurso público.
Em suma, não se apurou absolutamente nada.
Por essas razões, de fortes indícios de fraude, a atual Administração
Municipal determinou, pelo Decreto nº05 de 2020, a suspensão do concurso e, por
consequência, das portarias de nomeação.
Em seguida, pelo Decreto nº05-A de 2020, tornou sem efeito o
mencionado relatório final da comissão e determinou a instauração de processo
administrativo para apurar de maneira incisiva as irregularidades do concurso.
O primeiro ato da nova comissão designada foi justamente o de solicitar
informações ao Ministério Público e à Polícia Civil, que investigam o certame desde
2018 e muito têm a colaborar com a apuração da verdade real.
Com o avançar das apurações, e no momento adequado, evidentemente
será oportunizada a ampla defesa e o contraditório aos “aprovados” para, querendo,
apresentarem defesa e requererem as provas que entenderem pertinentes.
Importante ressaltar que a atual administração não decretou a anulação
do concurso e NEM A EXONERAÇÃO DE NENHUM SERVIDOR, mas apenas a
suspensão das nomeações, que, no momento, é medida de rigor, para que seja
possível proceder à efetiva apuração dos graves indícios de irregularidades do
certame. É certo que não será possível realizar a apuração com diversos servidores
interessados na manutenção do certame atuando no serviço público municipal, com
notório potencial de dificultar as apurações.
Finalizando, é medida que se impõe levar ao conhecimento dessa d.
Relatoria que – conforme aferível em simples pesquisa no site de busca “Google” -, a
banca Fundação Vale do Piauí (FUNVAPI), que atuou como organizadora do certame,
possui diversas acusações de fraudes em concursos públicos, e há inclusive várias
decisões judiciais suspendendo os concursos que organizou.
Essa é uma síntese do contexto fático. Passa-se às razões de reforma da
sentença recorrida.

V – RAZÕES PARA REFORMA DA DECISÃO RECORRIDA

V.1 – Indevida equiparação de suspensão de nomeação à demissão/exoneração de


servidor público. Exoneração e demissão que pressupõem a vacância do cargo
público. Ausência de vacância no caso concreto. Mera suspensão da nomeação que é
imprescindível para apuração dos graves indícios de fraude no concurso público.
Investigações que iniciaram antes das nomeações. Inaplicabilidade das súmulas 20 e
21 do Supremo Tribunal Federal. Possibilidade de suspensão das nomeações antes
da conclusão do processo administrativo. Orientação jurisprudencial.

A sentença está integralmente fundada na premissa de que a suspensão


das nomeações seria equiparável à demissão/exoneração de servidor público, e que
não teria sido observado o contraditório e a ampla defesa, o que violaria as súmulas 20
e 21 do Supremo Tribunal Federal.
Esse fundamento foi exposto na sentença com os seguintes termos:
“Ainda que a administração não fale expressamente que exonerou os
servidores recém empossados, de fato foi o que ocorreu, já que os mesmos
ficaram privados de exercerem o seu labor e de receberem suas
remunerações.
[...]
Ressalto que, mesmo no exercício do seu poder-dever de autotutela, não
poderia a Administração Pública desligar os servidores do serviço público
municipal de forma sumária, como ocorreu em Olho d’Água das Cunhãs.”
A conclusão, isto é, de que se exige prévio processo administrativo para
eventual exoneração/demissão de servidor público é perfeita. No entanto, a premissa
fática do caso concreto está equivocada, porquanto não houve demissão/ exoneração
ou “desligamento” da parte Apelada e nem ato administrativo assemelhado!
No caso concreto, como consta expressamente no decreto impugnado,
houve mera suspensão das nomeações, enquanto não finalizado o processo
administrativo, no qual solicitada a cópia integral das investigações do Ministério
Público e da Polícia Civil, que foram iniciadas antes das nomeações.
Esse ato administrativo – de suspensão das nomeações -, não pode ser
equiparado à exoneração/demissão de servidor público, por total ausência de
semelhança.
A exoneração e a demissão pressupõem a vacância do cargo público, nos
termos da norma do art. 33, I, II, da lei 8.112/90. Ou seja, a exoneração e a demissão
possuem caráter de definitividade.
No caso concreto, não houve vacância do cargo, nem há qualquer
disposição sobre ocupação dos cargos no decreto! O cargo continua ocupado, mas a
nomeação está temporariamente suspensa para apuração de graves indícios de
fraude.
Por essa relevante razão, manifestamente inadequada a equiparação da
suspensão de nomeação (provisória e temporária) com a exoneração/demissão de
servidor público (com vacância do cargo e definitiva).
O enunciado das súmulas 20 e 21 do Supremo Tribunal Federal –
publicadas no ano de 1963 -, são inaplicáveis à hipótese, pois disciplinam demissão e
exoneração de servidor público, o que não ocorreu.
Não há qualquer razão para utilizar as referidas súmulas à hipótese de
suspensão de nomeação, tampouco em casos como o dos autos: de possibilidade de
anulação do concurso público. Veja-se que eventual comprovação de fraude, após o
processo administrativo e o contraditório e a ampla defesa, ensejarão a anulação do
concurso, e os fraudadores evidentemente serão destituídos do cargo público, mas
isso em nada se confunde com exoneração ou demissão.
Nesse ponto, vale ressaltar que a orientação do col. Superior Tribunal de
Justiça é no sentido de que é necessário prévio processo administrativo para
anulação do concurso público após a posse. Observe-se que não é necessário prévio
processo administrativo “disciplinar” (PAD), justamente porque não se trata de
exoneração ou demissão por ato praticado no exercício do cargo, mas eventual
destituição do cargo por fraude no próprio concurso público, ato pretérito ao efetivo
exercício do cargo.
Diga-se, ainda, que é imprescindível o prévio processo administrativo para
a efetiva anulação do concurso, mas não é necessário que o processo administrativo
já esteja concluído para que se proceda à mera suspensão das nomeações,
notadamente quando a suspensão tem por escopo concluir o processo administrativo.
É juridicamente possível e moralmente recomendável a suspensão das
nomeações e mesmo o afastamento dos cargos enquanto se concluem as
investigações acerca da lisura do certame.
O tema já foi diversas vezes apreciado por Tribunais de Justiça Estaduais,
que são uníssonos ao chancelar a suspensão das nomeações e consequente
afastamento dos cargos, o que se passa a demonstrar.
Ao negar seguimento a REsp, a Presidência do e. Tribunal de Justiça do Rio
Grande do Sul, em caso análogo ao dos autos, bem asseverou o seguinte:
“Relativamente ao afastamento dos cargos sem remuneração, não merece acolhida o
argumento de que os favorecidos pela fraude ficarão sem emprego. Deve preocupar,
sim, a situação das vítimas, que se prepararam e disputaram de forma limpa e
honesta, e, agora, veem seus empregos usurpados pelos fraudadores. Ainda, há
lembrar a irrepetibilidade dos pagamentos que vêm sendo feitos, e que os
candidatos que disputaram de forma limpa e honesta, podem no futuro, demandar
indenização, caso em que o prejuízo ao erário será duplo. Ainda mais, não se mostra
adequado afastar do cargo sem prejuízo da remuneração, uma vez que, então, há
recebimento sem a devida contraprestação do trabalho.”. (Recurso Especial, Nº
70076643378, Primeira Vice-Presidência, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Maria
Isabel de Azevedo Souza, Julgado em: 20-08-2018)
É exatamente isso: a preocupação deve ser com as eventuais vítimas, que
se preparam e disputaram o concurso de forma limpa e honesta, tendo que conviver
com a usurpação de seus cargos por eventuais fraudadores.
A propósito, havendo indícios de irregularidades no certame, impõe-se à
Administração o dever de apuração. Nesse sentido, orientação desse e. Tribunal de
Justiça do Maranhão:
AGRAVO DE INSTRUMENTO. MANDADO DE SEGURANÇA. CONCURSO
PÚBLICO. SUSPENSÃO DA CONVOCAÇÃO POR DECRETO MUNICIPAL.
INDÍCIOS DE IRREGULARIDADES NO CERTAME.
[...]
II - Constatada que a homologação do certame teria ocorrido nos três
meses que antecederam o pleito eleitoral de 2012 até a posse dos eleitos,
ofendendo o disposto no inciso V do art. 73 da Lei nº 9.504/97, bem como
a possibilidade de fraude no concurso público, impõe-se à Administração
o dever de apurar a prática de qualquer ato nele praticado que contrarie
a legalidade, a moralidade, a isonomia e o interesse público, o que
justifica, a suspensão das nomeações, de modo a não assegurar o direito
líquido e certo vindicado pelo agravado.
(TJ-MA - AI: 0054832016 MA 0001026-24.2016.8.10.0000, Relator: JORGE
RACHID MUBÁRACK MALUF, Data de Julgamento: 14/04/2016, PRIMEIRA
CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 18/04/2016)

Nesse julgado, o voto do Des. Relator – aprovado à unanimidade –,


asseverou, ainda, o seguinte:

“[...] ocorrendo até mesmo a participação do Ministério Público Estadual


na apuração da higidez do certame, impõe-se à Administração o dever de
verificar a prática de qualquer ato nele praticado que contrarie a
legalidade, a moralidade, a isonomia e o interesse público, o que justifica
a suspensão das nomeações, de modo a não assegurar o direito líquido e
certo vindicado pelo agravado.
Vale destacar, que tal exigibilidade, não configura arbitrariedade, ao
contrário, reveste-se de absoluta legitimidade, nos termos do que dispõe
as Súmulas nº s 346 e 473 do Supremo Tribunal Federal.”
O fundamento do e. Desembargador, portanto, amolda-se com precisão ao
caso concreto: o Ministério Público Estadual está apurando a higidez do certame, o
que obriga a Administração o dever de verificar a prática de atos que contrariem a
legalidade, moralidade, impessoalidade, isonomia e interesse público.
Volvendo-se ao caso concreto, importante relembrar que o Decreto nº 05
de 2020 não dispôs sobre a anulação do concurso público ou exoneração/demissão
de servidores. O que houve, e está consignado expressamente no Decreto, sem
margem para dúvidas, foi a mera suspensão de seus efeitos, incluindo as nomeações,
enquanto são apurados os graves indícios de fraude.
Logo, o fundamento de que houve exoneração/demissão de servidor sem
prévio processo administrativo – o que violaria a ampla defesa e o contraditório – não
pode subsistir, na medida em que suspensão não se confunde com exoneração.
O Decreto, portanto, não é inconstitucional, tampouco ilegal. Ao
meramente suspender o concurso, e as nomeações, e determinar a instauração de
processo administrativo para apuração dos indícios de fraude, não houve qualquer
violação à ampla defesa e ao contraditório.
Com o avançar das apurações, após instruído o processo administrativo,
será oportunizada a ampla defesa e o contraditório aos interessados para, querendo,
apresentarem suas razões defensivas e requererem as provas que entenderem
pertinentes.
O momento é de apuração minuciosa dos fatos, sendo certo que em fase
de investigação o contraditório é diferido ou postergado para o momento oportuno,
sem que isso configure violação à ampla defesa e ao contraditório.
É necessário que fique claro: o Decreto impugnado não anulou o concurso
e nem exonerou qualquer servidor público, mas apenas e tão somente suspendeu os
efeitos das nomeações, incluindo a do Agravante, apenas enquanto as fraudes são
apuradas de forma séria e transparente.
Eventualmente, acaso confirmadas as fraudes em sede de processo
administrativo, que igualmente estão sendo apuradas pelo Ministério Público e pela
Polícia Civil, a análise de anulação do concurso será precedida de oportunidade para
que os interessados apresentem suas razões defensivas e produzam as provas
pertinentes.
Não há qualquer vício de legalidade! O que há, como demonstrado, é a
intenção de que se apure profundamente a lisura do certame, com o fito de
resguardar os interesses do ente municipal, sobretudo porque o interesse público
sobrepõe-se ao privado, e o interesse público, sem qualquer dúvida, é o de que se
apure as irregularidades do concurso.
Impõe destacar que a orientação jurisprudencial é no sentido de que,
enquanto perduram as investigações, “o periculum in mora deve militar em favor da
sociedade local, não se podendo permitir que, ante tal cenário de evidências,
candidatos beneficiados sejam nomeados ou mantidos nos cargos para que, anos
depois, venha a ser restabelecida a legalidade e a moralidade administrativa se
então cabalmente demonstrada a fraude.”. (TJ-RS - AI: 70077476323 RS, Relator:
Eduardo Uhlein, Data de Julgamento: 19/09/2018, Quarta Câmara Cível, Data de
Publicação: Diário da Justiça do dia 08/10/2018)
Isto é, enquanto não findam as investigações, realizadas pelo Município
mediante processo administrativo, pelo Ministério Público mediante inquérito civil e
pela Polícia Civil mediante inquérito policial, há verdadeiro in dubio pro societate.
Efetivamente, não se pode permitir que candidatos beneficiados sejam
mantidos nos cargos para que, anos depois, venha a ser restabelecida a legalidade e
a moralidade administrativa.
A sentença recorrida fulmina a apuração dos indícios de fraude. É
evidente que será impossível apurar a legalidade do concurso com muito mais de
uma centena de servidores dentro da administração púbica de um município
pequeno, interessados na manutenção do concurso e dispondo de informações
privilegiadas, com incrível potencial de frustrar as apurações.
É isso que não se pode admitir – até sob o prisma moral -, o impedimento
das apurações e a perpetuação de um concurso possivelmente fraudulento. É tudo o
que a Constituição pretendeu evitar ao tornar obrigatório o concurso público.
Todos esses fundamentos, que demonstram a ausência de violação ao
contraditório e à ampla defesa, a inaplicabilidade do enunciado das súmulas 20 e 21 do
Supremo Tribunal Federal, e a possibilidade de suspensão das nomeações enquanto há
apuração dos indícios de fraude no concurso público, impõem a reforma da sentença
para denegar a segurança, sob pena de violação à norma do art. 33, I, II, da lei
8.112/90.

V.2. Autotutela administrativa. Aplicabilidade do enunciado das súmulas 346 e 473


do Supremo Tribunal Federal. Nomeações estabelecidas entre a decisão do col. STJ
afastando do antigo prefeito e o cumprimento da decisão pelo e. TJ/MA. Ausência de
direito líquido e certo. Processo administrativo instaurado e em andamento.

O Decreto cujos efeitos foram afastados pela sentença recorrida, nada


mais fez do que exteriorizar o consagrado princípio da autotutela administrativa. Ao
se deparar com graves indícios de fraude no concurso público em questão, a atual
Administração Municipal determinou sua imediata suspensão e investigação, via
processo administrativo, de todos os indícios.
Esse princípio possui previsão expressa em duas súmulas do col. Supremo
Tribunal Federal, a nº 346, que estabelece que “A Administração Pública pode declarar
a nulidade dos seus próprios atos”. E a nº 473, que estabelece que “A Administração
pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornam ilegais,
porque deles não se originam direitos; ou revoga-los, por motivo de conveniência ou
oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a
apreciação judicial.”.
Nesse sentido, o decreto municipal que sobrestou os efeitos do concurso
público visa à proteção do patrimônio público e foi editado como dever de ofício do
administrador e em perfeita consonância com os princípios constitucionais da
administração pública delineados no art. 37 da CRFB/88:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes


da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos
princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência e, também, ao seguinte:

Ao verificar os sérios indícios de fraude no andamento do certame, na


nomeação, posse e, também, mediante a incerteza da efetiva prestação do serviço
pelos supostos servidores municipais, não poderia a Administração Municipal se omitir
perante a necessidade de esclarecimentos dos fatos.
Rememore-se que a atual Administração Municipal desde sempre
defendeu investigação aprofundada sobre a lisura do procedimento, ao contrário do
antigo gestor (afastado judicialmente), que geriu o concurso e, após decisão do col.
STJ determinando seu afastamento, homologou e nomeou os candidatos
“aprovados”, ignorando por completo os graves indícios de fraude.
Não é demais reiterar que – conforme aferível em simples pesquisa no site
de busca “Google” - a banca Fundação Vale do Piauí (FUNVAPI), que atuou como
organizadora do certame, possui diversas acusações de fraudes em concursos
públicos, e há inclusive várias decisões judiciais suspendendo os concursos que
organizou.
Diga-se que as investigações do Ministério Público e da Polícia Civil
iniciaram muito antes da nomeação e não há direito líquido e certo dos candidatos,
mesmo que nomeados, enquanto não finalizarem as investigações.
Não se pode olvidar que estamos no pós-positivismo, e a moral não está
dissociada do direito. Assim, além de amplamente demonstrada a legalidade do ato
administrativo, tem-se que a manutenção das suspensões, incluindo a parte Apelante,
é moralmente recomendada, sob pena de indevida usurpação de cargo público, em
evidente benefício pela própria torpeza.
Nesse contexto, também pelas razões acima postas, impõe-se a reforma da
sentença recorrida, para denegar a segurança, sob pena de violação à norma do art.
37, caput, da CRFB/88, e dos enunciados das súmulas 346 e 473 do Supremo Tribunal
Federal.

V.3 – Violação à orientação dessa douta Relatoria. Pretensão de pagamento de


remuneração pretérita supostamente devida. Inadequação da via eleita. Mandado
de segurança que não pode ter efeitos patrimoniais anteriores à impetração.
Súmulas 269 e 271 do Supremo Tribunal Federal. Orientação do col. Superior
Tribunal de Justiça e do e. Tribunal de Justiça do Maranhão. Discussão sobre a
efetiva prestação de serviço. Demanda que exige dilação probatória.

Sobre a pretensão de pagamento pela remuneração do serviço


supostamente prestado ao município, o Juízo a quo afastou a aplicabilidade das
súmulas 269 e 271 do Supremo Tribunal Federal, nos seguintes termos:
“Frise-se, ainda, que o pagamento dos vencimentos e demais vantagens
devidos ao impetrante é mera consequência lógica da suspensão do ato
ilegal de afastamento praticado, não se aplicando, in casu, as súmulas 269
e 271 do STF.
Aliás, o Superior Tribunal de Justiça já afastou a incidência das referidas
súmulas quando o mandado de segurança foi impetrado contra ato que
suprimiu verbas remuneratórias, inclusive em virtude de demissão.”

Nesse ponto, a sentença é contrária à orientação dessa douta Relatoria,


que recentemente, nos autos do agravo de instrumento n° 0807180-
83.2020.8.10.0000, decidiu que:
“Em que pese reconhecer a preocupação social do magistrado à situação
fática delineada em sua decisão, entendo que o Mandado de Segurança
não pode ser utilizado como substitutivo de ação de cobrança, violando
assim enunciado de Súmulas e jurisprudência pacificadas no âmbito do
Supremo Tribunal Federal, in verbis:
Súmula 269. O mandado de segurança não é substitutivo de ação de
cobrança.
Súmula 271. Concessão de mandado de segurança não produz efeitos
patrimoniais em relação a período pretérito, os quais devem ser
reclamados administrativamente ou pela via judicial própria.
(...) 1. Embora o Supremo Tribunal Federal haja reconhecido o direito
líquido e certo dos impetrantes quanto à percepção da Gratificação de
Atividade de Segurança (GAS), instituída pelo art. 15 da Lei 11.415/2006, a
ordem judicial aqui proferida não alcança pagamentos referentes a
parcelas anteriores ao ajuizamento da ação, "os quais devem ser
reclamados administrativamente ou pela via judicial própria" (Súmulas n.
269 e 271 do STF).[MS 26.740 ED, rel. min. Ayres Britto, 2ª T, j. 7-2-2012,
DJE 36 de 22-2-2012.]
Ressalto que, conforme jurisprudência do Tribunal consubstanciada nas
súmulas 269 e 271, o mandado de segurança não se presta aos fins de ação
de cobrança, de forma que a concessão da segurança não produz efeitos
patrimoniais em relação ao período anterior à impetração. [MS 27.565, rel.
min. Gilmar Mendes, 2ª T, j. 18-10-2011, DJE 221 de 22-11-2011.]”

E é exatamente isso. A via do mandado de segurança não admite a


produção de efeitos patrimoniais em relação à período pretérito à impetração, não
podendo ser utilizado como substitutivo de ação de cobrança, nos termos dos
enunciados das súmulas 269 e 271 do Supremo Tribunal Federal.
Como não poderia deixar de ser, essa é a orientação do col. Superior
Tribunal de Justiça:
PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. MANDADO DE SEGURANÇA.
SERVIDOR PÚBLICO. VANTAGENS REMUNERATÓRIAS. EFEITOS
PATRIMONIAIS. TERMO INICIAL. DATA DA IMPETRAÇÃO.
1. Conforme a orientação da Corte Especial do STJ, estabelecida no
julgamento dos EREsp 1.087.232/ES, os efeitos patrimoniais da decisão
concessiva da segurança não podem atingir período anterior ao do
ajuizamento do mandamus. 2. Prejuízo pretérito deve ser reclamado em
outra via, judicial ou administrativa. 3. Recurso especial a que se dá
provimento. (REsp 1508106/MT, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEGUNDA
TURMA, julgado em 19/09/2017, DJe 25/09/2017).

Por essa razão, a via eleita é inadequada para a satisfação da pretensão da


parte Impetrante, ora Apelada, nos termos de enunciados sumulares do col. STF,
orientação do col. STJ e desse e. Tribunal de Justiça do Maranhão.
Não bastasse isso, que já seria suficiente para reforma da sentença e
denegação da ordem, não há dados concretos que demonstrem que a parte Apelada
tenha efetivamente prestado serviços ao Município, apesar de ter recebido portaria de
nomeação.
Impõe asseverar que houve inúmeras portarias de nomeação expedidas
logo após o col. STJ confirmar a decisão do e. TJ/MA de afastar o Prefeito, o que
demonstra que tais atos tiveram unicamente o intuito de causar embaraços à
administração que o sucederia. Há, diante destas circunstâncias fáticas, fundada
dúvida quanto à efetiva prestação dos serviços pela parte Impetrante, ora Apelada,
razão porque está havendo apuração de tal circunstância.
A simples folha de ponto, cuja idoneidade está sendo apurada
internamente, não prova de forma categórica que a parte Impetrante, ora Apelada,
tenha prestado serviços ao município. Sendo assim, é forçoso reconhecer que o
mandado de segurança carece de prova pré-constituída.
Com efeito, sobressai evidente que o direito pretendido pela parte
Impetrante nesta via mandamental é controvertido e torna indispensável a dilação
probatória, o que é inviável na via estreita do mandado de segurança, consoante
entendimento sedimentado no col. STJ, in verbis:
PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA. DIREITO LÍQUIDO E CERTO.
PROVA PRÉ-CONSTITUÍDA. AUSÊNCIA. DILAÇÃO PROBATÓRIA.
IMPOSSIBILIDADE.
1. A ação mandamental não admite dilação probatória, exigindo prova
pré-constituída apta a demonstrar, de plano, o direito alegado.
[...]
(AgInt no MS 24.840/DF, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA, PRIMEIRA SEÇÃO,
julgado em 11/03/2020, DJe 27/03/2020)

Nesse contexto, tendo em vista a notória impossibilidade formal de


concessão da ordem, por notória inadequação da via eleita, impõe-se a reforma da
sentença para denegação da segurança, sob pena violação das súmulas 269 e 271 do
Supremo Tribunal Federal.

VI – CONCLUSÃO

Ante o exposto, inicialmente requer seja reconhecida a prevenção, com a


remessa dos autos ao Relator competente, sob pena de violação da garantia
fundamental do juiz natural (art. 5º, XXXVII e LIII da Constituição Federal), bem como
ao art. 930, parágrafo único, do Código de Processo Civil e art. 242 do RITJMA;
No mérito, considerando a ausência de violação ao contraditório e à ampla
defesa, a inaplicabilidade do enunciado das súmulas 20 e 21 do Supremo Tribunal
Federal, a possibilidade de suspensão das nomeações enquanto há apuração dos
indícios de fraude no concurso público, a autotutela administrativa, e as súmulas 346 e
473 do Supremo Tribunal Federal, requer seja integralmente reformada a sentença,
denegando-se a segurança;
Subsidiariamente, requer seja reformada parcialmente para afastar a
condenação ao “pagamento dos vencimentos e demais vantagens” anteriores à
impetração, sob pena violação das súmulas 269 e 271 do Supremo Tribunal Federal.

Pede deferimento.

Olho d’Água das Cunhãs/MA, 13 de julho de 2020.

(assinado eletronicamente)
JOÃO TEIXEIRA DOS SANTOS
Advogado, OAB/MA 3.904

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