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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) DA TURMA RECURSAL DO ESTADO

DA BAHIA

LUDMILA VICTORIA DE SANTANA NASCIMENTO, inscrito no CPF/MF

sob o n. 865.541.695-98, residente e domiciliada na Av. Presidente Costa e Silva, 72,

Nazaré, Salvador-BA, CEP 40050-360, representada por seu advogado, conforme

procuração em anexo, com endereço profissional no Edf. Salvador Prime empresarial, n°

2227, Caminho das Arvores, Salvador-BA, CEP 41.820-770, para onde deverão ser

enviadas as intimações e comunicações de estilo, vem a Vossa Excelência,

respeitosamente, impetrar

MANDADO DE SEGURANÇA c/c PEDIDO LIMINAR

no prazo legal, com base no art. 5º, inciso LXIX, da Constituição Federal e das Leis

Federais 1.533/51 de 31.12.1951 e 4.348/64, contra ato da EXMO. SR. DRA. MICHELLINE

SOARES BITTENCOURT TRINDADE LUZ, Juíza de Direito da 5ª Vara do Sistema do

Juizado Especial de Defesa do Consumidor da Comarca de Salvador, que pode ser

encontrado no Fórum do Imbui, situado na Rua Padre Casimiro Quiroga nº SN, Lt. Rio

das Pedras, Qd 01, Imbuí, Salvador-BA, CEP 41.720-400, pelos argumentos de fato e de

direito que a seguir expõe.

1- DA JUSTIÇA GRATUITA.

Requer o impetrante os benefícios da JUSTIÇA GRATUITA, por ser

hipossuficiente da forma da lei, conforme declara no instrumento procuratório,

não podendo, portanto, arcar com as custas processuais e honorários advocatícios

sem prejuízo do próprio sustento e de sua família.


O acesso à justiça é direito de todos, e quem não tem condições de arcar

com as custas processuais não pode ser privado desse direito, assim preceitua o

principio constitucional da inafastabilidade da jurisdição, art. 5°, inciso XXXV da

CRFB/88 e art. 98 e seguintes do CPC.

2- DA COMPETÊNCIA.

A competência para processar e julgar os mandados de segurança impetrados

contra decisões proferidas por Juízes de Direito vinculadas à VSJE é da Turma Recursal,

nos termos da Sumula 376 do STJ. Vejamos:

Súmula 376. Compete a turma recursal processar e julgar o mandado de

segurança contra ato de juizado especial.

Dessa forma, o presente mandado de segurança é impetrado nesta Colenda

Turma Recursal para a apreciação e julgamento.

3- DOS FATOS.

A impetrante é parte autora de ação de indenização tombada sob o 0171639-

05.2022.8.05.0001, movida em face do BANCO DO BRASIL S.A, tendo como objeto a

reparação de danos morais em razão da inclusão indevida em cadastro de inadimplentes.

A audiência foi agendada para 02/02/2023, conforme evento 4 do PROJUDI

nos autos da demanda n. 0171639-05.2022.8.05.0001. Houve a efetiva realização por

videoconferência conforme evento 25 do PROJUDI nos autos da demanda n. 0171639-

05.2022.8.05.0001.

Após as devidas considerações o MM, juízo da 4° VSJE julgou parcialmente

procedente o pleito autoral, entretanto, a requerente impetrou recurso Inominado, para

tanto, colacionou os documentos necessários para a conceção da assistência judiciaria


gratuita, visto que é pessoa humilde e não possui condições para arcar com as custas

processuais, conforme evento 31 do PROJUDI nos autos da demanda n. 0171639-

05.2022.8.05.0001.

O autor, trouxe como prova, sua carteira de trabalho, demonstrando que está

desempregado.

Demonstrou ainda que jamais declarou imposto de renda, visto que nunca

possuiu renda suficiente para tal. Circunstancias que demonstram claramente sua

incapacidade de arcar com as custas de um recurso.

Apresentou ainda extratos bancários demonstrando sua total impossibilidade de

arcar, sem prejuízo de sua subsistência, quaisquer custas processuais.

Sucede que a autoridade impetrada INDEFERIU o pedido da impetrante.

Vejamos:

“Ante o exposto, as provas juntadas aos autos pela parte autora não
são suficientes para balizar o convencimento desse juízo, a fim de que
fosse deferida a gratuidade da justiça.

Por este motivo, indefiro o pedido de assistência judiciária gratuita.


Concedendo o prazo de 48 horas para que junte DAJES, sob pena de
ser considerado deserto.”

O fundamento foi de que deixou “as provas juntadas aos autos pela parte autora não são

suficientes para balizar o convencimento desse juízo” (decisão em anexo). O impetrante ainda

tentou nova petição (ev. 39), destacando que NÃO TEM EMPREGO, como evidencia a

CTPS juntada naqueles autos, mas o pedido foi igualmente indeferido (ev. 42).

Com a decisão absolutamente teratológica, a Impetrada manteve a imposição da

autora arcar com os custos do recurso, contrariando a um só tempo (i) a coerência da

decisão proferida pela Turma Recursal, instância superior, dias antes em análise idêntica
de fatos e documentos da própria impetrante, bem como, (ii) a Lei 1.060/1950, (iii) o art.

99, §3º do Código de Processo Civil e (iv) a Constituição Federal em seu art. 5º, LXXIV

(“o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de

recursos”).

Diante do exposto, o Autor impetra este mandado de segurança perante esta

Colenda Turma Recursal, para ver sanada a teratologia imposta pela decisão proferida

pelo Juízo da 4ª Vara do Sistema do Juizado Especial de Defesa do Consumidor da

Comarca de Salvador, que lhe negou assistência judiciaria gratuita mesmo ante todo o

lastro probatório trazido ao autos e em contrariedade à mesma análise já realizada dias

antes por Turma Recursal.

4- DO CABIMENTO DO MANDADO DE SEGURANÇA. DECISÃO

TERATOLÓGICA. LIQUIDEZ E CERTEZA DO DIREITO.

O mandado de segurança está previsto na Constituição Federal, art. 5º, inciso

LXIX, estando encartado dentre o rol dos direitos e garantias fundamentais do cidadão

brasileiro. É regulado também pela Lei 12.016/2009.

Conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não

amparado por habeas corpus ou habeas data, sempre que, ilegalmente ou com abuso de

poder, qualquer pessoa física ou jurídica sofrer violação ou houver justo receio de sofrê-

la por parte de autoridade, seja de que categoria for e sejam quais forem as funções que

exerça, conforme art. 1º da Lei 12.016/2009.

Cabe, ainda, Mandado de Segurança contra decisão judicial manifestamente

ilegal ou teratológica ou abuso de poder, conforme decisão proferida no julgamento do

RMS 50.588, da Quinta Turma do STJ (em anexo).


No caso em tela, não cabe habeas corpus, tendo em vista que a questão não se

refere à integridade física da impetrante, mas sim de um ato de ilegalidade praticado em

sede processual.

Ademais, por tratar-se de decisão interlocutória proferida por Magistrado do

Juizado Especial Cível de indeferimento de benefício de gratuidade judiciária, a decisão

não pode ser objeto de recurso judicial com efeito suspensivo, nem de recurso

administrativo com efeito suspensivo, de modo que fica comprovado o respeito ao art.

5o, I e II da Lei 12.016/2009.

No caso concreto, o impetrante pretende resguardar seu direito à percepção do

benefício legal da justiça gratuita, posto que comprovou satisfatoriamente a sua

insuficiência financeira.

Como sabido, o mandado de segurança pressupõe liquidez e certeza do direito.

Para a doutrina majoritária, liquidez e certeza estão intrinsecamente ligadas à questão

probatória – os fatos devem ser comprovados por meio documental ou documentado.

Se o fato narrado for devidamente provado documentalmente, o direito é líquido e

certo. Nas palavras de Celso Ribeiro Bastos:

"Em primeiro lugar, direito líquido e certo é conceito de ordem processual,


que exige a comprovação dos pressupostos fáticos da situação jurídica a
preservar. Consequentemente, direito líquido e certo é conditio sine qua
non do conhecimento do mandado de segurança".

O presente caso é comprovado integralmente pela via documental. Destaque-se

que todos os documentos comprobatórios da hipossuficiência financeira da ora

impetrante anexos a este Mandado de Segurança foram acostados nos autos do

processo “de origem” onde praticado o ato coator de negativa da gratuidade. Vejamos.
Primeiro. Conforme informado nas petições de evs. 31 e 39 do processo n.

0171639-05.2022.8.05.0001 e seus anexos, o impetrante demonstrou e novamente

demonstra a sua insuficiência de recursos anexando a sua carteira de trabalho

evidenciando que não tem emprego, de modo que não tem contracheques a apresentar –

vide CTPS da impetrante.

Segundo. Além disso, junta também comprovante da Receita Federal

informando que não possui declarações de renda.

Terceiro. A colacionou seus extratos bancários dos últimos 90 dias,

demonstrando de forma inequívoca sua total falta de recursos para arcar com despesas

processuais.

Quarto. A impetrante comprovou, como comprova agora mediante documentos

anexos, que é pessoa humilde, residindo de favor em bairro periférico na RUA FONTE

DA BICA DE BAIXO, 284, SÃO CAETANO, SALVADOR, CEP 40391-136.

A decisão negativa da concessão de benefício, neste caso, é teratológica, já que

desafia as previsões legais para deferimento da gratuidade, desconsidera as provas

contundentes.

5- DO PEDIDO LIMINAR.

Como se sabe, a concessão de liminar em sede de mandado de segurança

apresenta-se como uma medida acautelatória subordinada a verificação prévia e

inequívoca do fumus boni iuris e o periculum in mora.

Para concessão da liminar requerida em mandado de segurança, não é necessária

a certeza da procedência do pedido de mérito, mas a razoável probabilidade da verdade


das alegações (fumus boni iuris) do autor e a existência do perigo da demora (periculum

in mora).

A liminar faz-se necessária, pois em caso contrário não há como reparar os danos

causados ao impetrante. A autoridade impetrada indeferiu o pedido de justiça gratuita,

sob o fundamento de não se ter comprovado a condição de hipossuficiência.

A probabilidade da verdade das alegações é verificada com o vasto rol de

documentos que atestam que a impetrante está desempregada.

A existência do perigo da demora é verificada porque a não concessão da

liminar pode implicar na inscrição da autora na dívida ativa, também podendo gerar

execução fiscal em face da Impetrante, a qual não tem condições financeiras de pagar as

custas processuais sem prejuízo do sustento próprio e da sua família.

Pelo exposto, requer seja deferida a medida liminar, pois estão presentes o

fumus boni iuris e o periculum in mora. Assim, a parte impetrante requer que o juízo ao

despachar o recurso inominado, reconheça seu direito à percepção do benefício da

assistência judiciaria gratuita nos autos em que perpetrado o ato coator (processo n.

0171639-05.2022.8.05.0001), eis que comprovada sua hipossuficiência, dispensando a

Impetrante do pagamento das custas processuais decorrentes da apresentação de recurso

inominado.

V. DO PEDIDO

Ante o exposto, requer:

a) seja concedida LIMINARMENTE a segurança invocada , no sentido de

reconhecer o direito da Impetrante à percepção do benefício da assistência


judiciaria gratuita nos autos em que perpetrado o ato coator processo n.

0171639-05.2022.8.05.0001, conforme os termos da fundamentação;

b) A notificação da autoridade coatora, a fim de que no prazo de 10 (dez)

dias, querendo, preste as informações devidas, para que ao final, seja

julgada procedente a ação e concedida a segurança, confirmando a

concessão do benefício da justiça gratuita à impetrante nos autos da ação n.

0171639-05.2022.8.05.0001;

c) A intimação do Ministério Público, a fim de que se manifeste no prazo de

10 (dez) dias, conforme estabelece o art. 12 da Lei 12.016/2009.

Dá-se o valor de R$ 200,00 (duzentos reais) para meros efeitos fiscais.

Termos em que pede deferimento.

Salvador/BA, 08 de março de 2023.

ALBERT GONÇALVES

OAB/BA 68.210

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