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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA

COMARCA DE PRESIDENTE EPITÁCIO SP.

Processo n°:1005609-56.2023.8.26.0481

PEDRO ROSA FILHO, já qualificado nos autos no processo de


AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER POR COBRANÇA INDEVIDA C/C DANOS
MORAIS, que promove em face , Banco BMG S/A através de sua advogada, vem mui
respeitosamente à presença de Vossa Excelência, apresentar MANIFESTAÇÃO SOBRE A
CONTESTAÇÃO, pelos fato e fundamento a seguir expostos:

DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA

Em defesa, o réu impugna indevidamente a concessão da gratuidade de justiça, visto


que o Autor atualmente aposentado, tendo sob sua responsabilidade a manutenção de sua
família, composta por , razão pela qual não poderia arcar com as despesas processuais.

Para tal benefício o Requerente juntou declaração de hipossuficiência e comprovante


de renda, os quais demonstram a inviabilidade de pagamento das custas judicias sem
comprometer sua subsistência, conforme clara redação do Código de Processo Civil de 2015:

Art. 99. O pedido de gratuidade da justiça pode ser formulado na petição inicial, na
contestação, na petição para ingresso de terceiro no processo ou em recurso.
§ 1º - Se superveniente à primeira manifestação da parte na instância, o pedido
poderá ser formulado por petição simples, nos autos do próprio processo, e não
suspenderá seu curso.

§ 2º O juiz somente poderá indeferir o pedido se houver nos autos elementos que
evidenciem a falta dos pressupostos legais para a concessão de gratuidade, devendo,
antes de indeferir o pedido, determinar à parte a comprovação do preenchimento dos
referidos pressupostos.

§ 3º - Presume-se verdadeira a alegação de insuficiência deduzida exclusivamente


por pessoa natural.

Assim, caberia ao impugnante a prova, não bastando a mera alegação de capacidade


financeira para revogar o benefício da gratuidade de justiça, conforme precedentes sobre o
tema:

CIVIL E PROCESSO CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. CUMPRIMENTO


DE SENTENÇA. PEDIDO DE REVOGAÇÃO DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA.
REITERAÇÃO DE FATOS JÁ CONHECIDOS E APRECIADOS PELO JUÍZO
EM CONTESTAÇÃO E SENTENÇA. AUSÊNCIA DE FATO NOVO HÁBIL A
DEMONSTRAR ALTERAÇÃO DA SITUAÇÃO DE HIPOSSUFICIÊNCIA QUE
ENSEJARA A CONCESSÃO. DECISÃO MANTIDA. AGRAVO DE
INSTRUMENTO DESPROVIDO. 1. Nos termos do art. 100, do Código de
Processo Civil, após ser concedida a benesse da gratuidade judiciária, o ônus de
provar que a parte beneficiada não faz jus ao benefício é de quem tem interesse na
revogação. Assim, é ônus da parte adversa comprovar que a situação econômico-
financeira do requerente da gratuidade de justiça lhe permitiriam arcar com os
encargos processuais. 2. Na impugnação à justiça gratuita, a mera alegação de que o
beneficiário não faz jus à benesse, desprovida de prova, não é capaz de afastar sua
concessão. 3. Tendo em vista a ausência de comprovação, pelo agravante, da
capacidade financeira da agravada, deve ser mantida a decisão que lhe deferiu os
benefícios da gratuidade de justiça. 4. Agravo de instrumento desprovido. (TJDFT,
Acórdão n.1293380, 07010996020208079000, Relator(a): ALFEU MACHADO, 6ª
Turma Cível, Julgado em: 14/10/2020, Publicado em: 04/11/2020, #77460872)

IMPUGNAÇÃO À JUSTIÇA GRATUITA CONCEDIDA À AUTORA -


INEXISTÊNCIA OU DESAPARECIMENTO DOS REQUISITOS - FALTA DE
COMPROVAÇÃO - RECURSO PROVIDO. A impugnação à concessão da
assistência judiciária gratuita deve vir acompanhada de elementos probatórios que
demonstrem a inexistência ou o desaparecimento dos requisitos para a concessão do
referido benefício assistencial. Ausentes provas que contrariem a condição de
necessitado, deve ser mantido o benefício assistencial deferido. Recurso conhecido e
provido (TJMS. Agravo de Instrumento n. 1400866-18.2020.8.12.0000, Glória de
Dourados, 3ª Câmara Cível, Relator (a): Des. Dorival Renato Pavan, j: 10/07/2020,
p: 15/07/2020, #87460872)

A assistência de advogado particular não pode ser parâmetro ao indeferimento do


pedido:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. PEDIDO DE GRATUIDADE DE JUSTIÇA.


CONCESSÃO DO BENEFÍCIO. HIPOSSUFICIÊNCIA. COMPROVAÇÃO DA
INCAPACIDADE FINANCEIRA. REQUISITOS PRESENTES. 1. Incumbe ao
Magistrado aferir os elementos do caso concreto para conceder o benefício da
gratuidade de justiça aos cidadãos que dele efetivamente necessitem para acessar o
Poder Judiciário, observada a presunção relativa da declaração de hipossuficiência.
2. Segundo o § 4º do art. 99 do CPC, não há impedimento para a concessão do
benefício de gratuidade de Justiça o fato de as partes estarem sob a assistência de
advogado particular. 3. O pagamento inicial de valor relevante, relativo ao contrato
de compra e venda objeto da demanda, não é, por si só, suficiente para comprovar
que a parte possua remuneração elevada ou situação financeira abastada. 4. No caso
dos autos, extrai-se que há dados capazes de demonstrar que o Agravante, não
dispõe, no momento, de condições de arcar com as despesas do processo sem
desfalcar a sua própria subsistência. 4. Recurso conhecido e provido. (TJ-DF
07139888520178070000 DF 0713988-85.2017.8.07.0000, Relator: GISLENE
PINHEIRO, 7ª Turma Cível, Data de Publicação: Publicado no DJE : 29/01/2018,
#37460872)

Cabe destacar que a lei não exige atestada miserabilidade do requerente, sendo
suficiente a "insuficiência de recursos para pagar as custas, despesas processuais e honorários
advocatícios"(Art. 98, CPC/15), conforme destaca a doutrina:

"Não se exige miserabilidade, nem estado de necessidade, nem tampouco se fala em


renda familiar ou faturamento máximos. É possível que uma pessoa natural, mesmo
com bom renda mensal, seja merecedora do benefício, e que também o seja aquela
sujeito que é proprietário de bens imóveis, mas não dispõe de liquidez. A gratuidade
judiciária é um dos mecanismos de viabilização do acesso à justiça; não se pode
exigir que, para ter acesso à justiça, o sujeito tenha que comprometer
significativamente sua renda, ou tenha que se desfazer de seus bens, liquidando-os
para angariar recursos e custear o processo." (DIDIER JR. Fredie. OLIVEIRA,
Rafael Alexandria de. Benefício da Justiça Gratuita. 6ª ed. Editora JusPodivm, 2016.
p. 60)

Por tais razões, com fulcro no artigo 5º, LXXIV da Constituição Federal e pelo artigo
98 do CPC, requer seja deferida a gratuidade de justiça ao requerente.

Assim, considerando a demonstração inequívoca da necessidade do requerente, faz jus


ao benefício.

DA INEXISTÊNCIA DE INÉPCIA DA INICIAL

Considera-se inepta a petição inicial somente quando houver objetivamente o


enquadramento em algum dos incisos previstos no Art. 330 do CPC/15, o que não ocorre no
presente caso.

No presente caso, o Contestante alega a ausência de comprovante de residência , o que


não se mostra motivo suficiente a configurar inépcia da inicial.

Afinal, uma breve exposição exigida na inicial é suficiente para demonstrar o direito
do Autor, conforme precedentes sobre o tema:

APELO DESPROVIDO. DO APELO INTERPOSTO POR ROBERTO E OUTROS


- Preliminar de Inépcia da Inicial: Não há falar em inépcia da petição inicial,
porquanto a parte autora formulou seus requerimentos e delimitou adequadamente
suas pretensões, não havendo, portanto, falar em inépcia. - (...) - Da preliminar de
carência da ação: não há falar em carência de ação em vista da inexistência de
aditivo contratual que contemplasse a substituição dos títulos representativos da
dívida, porquanto a dívida está consubstanciada no contrato, e não, nas notas
promissórias, que no caso tão somente guarnecem o contrato, como indício de
dívida. - Da inocorrência de novação: o simples fracionamento de cinco notas
promissórias de R$ 300 MIL (TJRS, Apelação 70078616489, Relator(a): Gelson
Rolim Stocker, Décima Sétima Câmara Cível, Julgado em: 13/12/2018, Publicado
em: 24/01/2019)

Ou seja, a inépcia é cabível exclusivamente nos casos em que for inviável a concepção
do direito pleiteado. Nesse sentido dispõe renomada doutrina sobre a matéria:
"A petição inicial é inepta quando lhe faltar pedido ou causa de pedir, quando o
pedido for genérico fora das hipóteses legais, da narração dos fatos não decorrer
logicamente a conclusão e quando contiver pedidos incompatíveis entre si. Só se
deve decretar inepta a petição inicial quando for ininteligível e incompreensível
(STJ, 1.ª Turma, REsp 640.371/SC, rel. Min. José Delgado, j. 28.09.2004, DJ
08.11.2004, p. 184). Se dela consta o pedido e a causa de pedir, ainda que o primeiro
formulado de maneira pouco técnica e a segunda exposta com dificuldade, não há
que se falar em inépcia da petição inicial." (MARINONI, Luiz Guilherme.
ARENHART, Sérgio Cruz. MITIDIERO, Daniel. Novo Código de Processo Civil
comentado. 3ª ed. Revista dos Tribunais, 2017. Vers. ebook. Art. 330)

Afinal, qualquer invalidade processual, só pode prejudicar o andamento da ação


quando efetivamente causar um prejuízo à ampla defesa, o que não ocorre no presente caso.

DO EXCESSO DE FORMALISMO - INSTRUMENTALIDADE DAS FORMAS

Somente se pode anular um ato quando manifestamente prejudicial às partes e ao


processo, quando diante de total inviabilidade do seu aproveitamento, conforme leciona a
doutrina sobre o tema, "não há invalidade sem prejuízo":

"A invalidade processual é sanção que somente pode ser aplicada se houver a
conjugação do defeito do ato processual (pouco importa a gravidade do defeito) com
a existência de prejuízo. (...) Há prejuízo sempre que o defeito impedir que o ato
atinja a sua finalidade. Mas não basta afirmar a violação a uma norma constitucional
para que o prejuízo se presuma. O prejuízo, decorrente do desrespeito a uma norma,
deverá ser demonstrado caso a caso." (DIDIER JR, Fredie. Curso Processual Civil.
Vol. 1. 19ª ed. Editora JusPodivm, 2017. p. 457)

O Novo CPC positivou expressamente o princípio da instrumentalidade das formas ao


dispor:

Art. 277. Quando a lei prescrever determinada forma, o juiz considerará válido o ato
se, realizado de outro modo, lhe alcançar a finalidade.

Art. 282. (...) § 1º O ato não será repetido nem sua falta será suprida quando não
prejudicar a parte.
Art. 283.O erro de forma do processo acarreta unicamente a anulação dos atos que
não possam ser aproveitados, devendo ser praticados os que forem necessários a fim
de se observarem as prescrições legais.

Parágrafo único. Dar-se-á o aproveitamento dos atos praticados desde que não
resulte prejuízo à defesa de qualquer parte.

Trata-se de dar efetividade a atos diversos com a mesma finalidade, o que a doutrina
denomina de PRINCÍPIO DA INSTRUMENTALIDADE DAS FORMAS:

"O princípio da instrumentalidade das formas, também chamado pela doutrina de


princípio da finalidade, tem por objetivo conservar os atos processuais praticados de
forma diversa da prescrita na lei, mas que atingiram sua finalidade e produziram os
efeitos processuais previstos na lei. Tal princípio se assenta no fato de o processo
não ser um fim em si mesmo, mas um instrumento de realização da justiça."
(SCHIAVI, Mauro. Manual de Direito Processual do Trabalho. 13ª ed. Ed. LTR,
2018. p. 509)

A manutenção de decisão que nega tal princípio configura formalismo excessivo,


afastando-se da FINALIDADE pretendida pela lei, em grave afronta ao princípio da
RAZOABILIDADE e PROPORCIONALIDADE, conforme destaca a doutrina:

"Os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, que se inter-relacionam,


cuidam da necessidade de o administrador aplicar medidas adequadas aos objetivos
a serem alcançados. De fato, os efeitos e consequências do ato administrativo
adotado devem ser proporcionais ao fim visado pela Administração, sem trazer
prejuízo desnecessário aos direitos dos indivíduos envolvidos e à coletividade."
(SOUSA, Alice Ribeiro de. Processo Administrativo do concurso público.
JHMIZUNO. p. 74)

Trata-se da efetividade do princípio da cooperação processual, segundo o qual, sendo


possível sanar o defeito, não deve ser anulado ou impedir o processo em vista à celeridade e
economicidade processual.

Dessa forma, considerando que a petição inicial está bem instruída , deve ter
seguimento e total procedência.

DA NECESSÁRIA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA


Por tratar-se de matéria que envolve um idoso e uma empresa
multinacional , é indispensável o acesso aos documentos que somente o banco pode oferecer .
Todavia, trata-se de prova de difícil obtenção, pois o banco é uma empresa multinacional que
tem todo poderio tecnológico em suas mãos ao contrário do Autor , inviabilizando o amplo
acesso ao judiciário por parte do Autor.

A inversão do ônus da prova é consubstanciada na impossibilidade ou


grande dificuldade na obtenção de prova indispensável para a ampla defesa, sendo amparada
pelo princípio da distribuição dinâmica do ônus da prova implementada pelo Novo Código de
Processo Civil:

Art. 373. O ônus da prova incumbe:

I - ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito;

II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do


direito do autor.

§ 1º Nos casos previstos em lei ou diante de peculiaridades da causa relacionadas à


impossibilidade ou à excessiva dificuldade de cumprir o encargo nos termos do
caput ou à maior facilidade de obtenção da prova do fato contrário, poderá o juiz
atribuir o ônus da prova de modo diverso, desde que o faça por decisão
fundamentada, caso em que deverá dar à parte a oportunidade de se desincumbir do
ônus que lhe foi atribuído.

Trata-se da efetiva aplicação do Princípio da Isonomia, segundo o


qual, todos devem ser tratados de forma igual perante a lei, observados os limites de sua
desigualdade, conforme bem delineado pela doutrina:

"O texto normativo indicou, timidamente, tendência em adotar a inversão do ônus da


prova pela técnica do ônus dinâmico da prova: terá o ônus de provar aquele que
estiver, no processo, em melhor condição de fazê-lo, conforme inversão determinada
por decisão judicial fundamentada. (...). Na verdade o direito brasileiro prescinde
dessa exceção, na medida em que existem situações justificáveis onde a distribuição
diversa da convencional (v.g.CDC 6.º VIII e 38)." (NERY JUNIOR, Nelson. NERY,
Rosa Maria de Andrade. Código de Processo Civil Comentado. 17ª ed. Editora RT,
2018. Versão ebook, Art. 373)

"De outro lado, o ônus da prova pode ser atribuído de maneira dinâmica, a partir do
caso concreto pelo juiz da causa, a fim de atender à paridade de armas entre os
litigantes e às especificidades do direito material afirmado em juízo, tal como ocorre
na previsão do art. 373, § 1.º, CPC. (...) À vista de determinados casos concretos,
pode se afigurar insuficiente, para promover o direito fundamental à tutela
jurisdicional adequada e efetiva, uma regulação fixa do ônus da prova, em que se
reparte prévia, abstrata e aprioristicamente o encargo de provar. Em semelhantes
situações, tem o órgão jurisdicional, atento à circunstância de o direito fundamental
ao processo justo implicar direito fundamental à prova, dinamizar o ônus da prova,
atribuindo-o a quem se encontre em melhores condições de provar." (MITIDIERO,
Daniel. ARENHART, Sérgio Cruz. MARINONI, Luiz Guilherme. Novo Código de
Processo Civil Comentado - Ed. RT, 2017. e-book, Art. 373)

Nesse sentido, a jurisprudência orienta a inversão do ônus da prova


para viabilizar o acesso à justiça:

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA


VULNERABILIDADE E HIPOSSUFICIÊNCIA TÉCNICA DISTRIBUIÇÃO
DINÂMICA DO ÔNUS DA PROVA INVERSÃO - POSSIBILIDADE RECURSO
IMPROVIDO. 1 - O Superior Tribunal de Justiça tem mitigado os rigores da teoria
finalista nas hipóteses em que a parte, embora não se enquadre no conceito de
destinatário final, se apresenta em situação de vulnerabilidade, legitimando sua
proteção. 2 É possível a inversão do ônus da prova para facilitar a defesa dos
agravados em Juízo, vez que, conforme narrado na petição inicial, as requeridas é
que possuem a documentação relativa aos reparos realizados no caminhão
acidentado, capazes de demonstrar se não era caso de perda total, bem como a
possível existência de nexo causal entre os serviços realizados e os defeitos
posteriores, sendo evidente a sua vulnerabilidade e hipossuficiência técnica
relativamente à instrução probatória. 3 - Não se pode ignorar que, em certos casos, a
produção de provas vai além da capacidade da parte, devendo ser aplicada a teoria
da distribuição dinâmica das provas, em interpretação sistemática do Código de
Defesa do Consumidor (art. 6º, VIII) e da Constituição Federal, segundo a qual esse
ônus recai sobre quem tiver melhores condições de produzir a prova, conforme as
circunstâncias fáticas de cada caso, tudo nos termos de consolidado entendimento do
Superior Tribunal de Justiça. 4 - Recurso conhecido e desprovido. (TJ-ES - AI:
00125779120188080030, Relator: MANOEL ALVES RABELO, Data de
Julgamento: 06/05/2019, QUARTA CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação:
14/05/2019, #87460872)
Assim, diante da inequívoca e presumida hipossuficiência, uma vez
que disputa a lide com uma empresa de grande porte, indisponível concessão do direito à
inversão do ônus da prova, com a determinação ao réu que apresente.

DA COBRANÇA INDEVIDA - REPETIÇÃO DE INDÉBITO.

O réu, ao impor cobranças abusivas, responde pelo débitos indevidos realizados na


conta do autor .

Desta forma, o réu deverá ressarcir ao autor os valores descontados em dobro e


eventuais descontos futuros, nos termos do parágrafo único do artigo 42 da Lei 8078/90,
verbis:

Art. 42. (...) Parágrafo único. O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito
à repetição de indébito, por valor igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido
de correção monetária e juros legais, salvo hipótese de engano justificável.

Entendimento predominante nos Tribunais:

APELAÇÃO CÍVEL - REPETIÇÃO DO INDÉBITO - CARTÃO DE CRÉDITO -


ANUIDADE - COBRANÇA INDEVIDA. O consumidor cobrado em quantia
indevida tem direito à repetição do indébito, por valor igual ao dobro do que pagou
em excesso, acrescido de atualização monetária e juros, salvo hipótese de engano
justificável. Inteligência do parágrafo único, do artigo 42, do CDC. (TJ-MG - AC:
10394120102683001 MG, Relator: Marcos Henrique Caldeira Brant, Data de
Julgamento: 03/05/2017, Câmaras Cíveis / 16ª CÂMARA CÍVEL, Data de
Publicação: 12/05/2017, #47460872)

Portanto, inequívoca a responsabilidade e dever da instituição financeira no


pagamento em dobro dos valores indevidamente descontados conforme memória de cálculo
que junta em anexo.

DO DIREITO À INFORMAÇÃO

O Art. 52 do Código de Defesa do Consumidor é muito claro ao dispor:


Art. 52. No fornecimento de produtos ou serviços que envolva outorga de crédito ou
concessão de financiamento ao consumidor, o fornecedor deverá, entre outros
requisitos, informá-lo prévia e adequadamente sobre:

I - preço do produto ou serviço em moeda corrente nacional;

II - montante dos juros de mora e da taxa efetiva anual de juros;

III - acréscimos legalmente previstos;

IV - número e periodicidade das prestações;

V - soma total a pagar, com e sem financiamento.

§ 1° As multas de mora decorrentes do inadimplemento de obrigações no seu termo


não poderão ser superiores a dois por cento do valor da prestação.(Redação dada
pela Lei nº 9.298, de 1º.8.1996)

A legislação que trata da Cédula de Crédito Bancário (Lei 10.931/2004) admite a


cobrança de juros capitalizados mensalmente, mas desde que expressamente pactuados no
contrato:

Art. 28 - A Cédula de Crédito Bancário é título executivo extrajudicial e representa


dívida em dinheiro, certa, líquida e exigível, seja pela soma nela indicada, seja pelo
saldo devedor demonstrado em planilha de cálculo, ou nos extratos da conta
corrente, elaborados conforme previsto no § 2º.

§ 1º - Na Cédula de Crédito Bancário poderão ser pactuados:

(...)

§ 2º - Sempre que necessário, a apuração do valor exato da obrigação, ou de seu


saldo devedor, representado pela Cédula de Crédito Bancário, será feita pelo credor,
por meio de planilha de cálculo e, quando for o caso, de extrato emitido pela
instituição financeira, em favor da qual a Cédula de Crédito Bancário foi
originalmente emitida, documentos esses que integrarão a Cédula, observado que:

I - os cálculos realizados deverão evidenciar de modo claro, preciso e de fácil


entendimento e compreensão, o valor principal da dívida, seus encargos e despesas
contratuais devidos, a parcela de juros e os critérios de sua incidência, a parcela de
atualização monetária ou cambial, a parcela correspondente a multas e demais
penalidades contratuais, as despesas de cobrança e de honorários advocatícios
devidos até a data do cálculo e, por fim, o valor total da dívida;
Assim, diante da inexistência de prévia e clara informação sobre os juros incidentes,
ilegal a sua aplicação.

Em consequência do exposto, constata-se que várias cláusulas são abusivas, portanto


nulas.

Ante o exposto, requer não sejam admitidas as preliminares aventadas na contestação


com o consequente acolhimento de todos os pedidos elencados na inicial.

Termos em que,

P. deferimento.

Presidente Epitácio/SP, 26/02/2024.

Fábia Martina De Mello Zuqui

OAB/SP. 274.958

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