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Justiça Federal da 1ª Região

PJe - Processo Judicial Eletrônico

06/11/2023

Número: 1012034-74.2023.4.01.3312
Classe: PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL
Órgão julgador: Vara Federal Cível e Criminal da SSJ de Irecê-BA
Última distribuição : 26/10/2023
Valor da causa: R$ 463.016,28
Assuntos: PASEP, Indenização por Dano Moral, PIS/PASEP, Atualização de Conta
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? SIM
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Procurador/Terceiro vinculado
IBANEZ FERNANDO BASTOS BESSA (AUTOR) DIOGO MAGALHAES FRANCA CARVALHO (ADVOGADO)
BANCO DO BRASIL SA (REU)
UNIÃO FEDERAL (REU)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
18829 26/10/2023 16:23 Petição inicial Petição inicial
26673
EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA VARA FEDERAL DA
SUBSEÇÃO DE IRECÊ/BA

IBANEZ FERNANDO BASTOS BESSA, brasileiro, casado, aposentado, inscrito no CPF/MF n.º
109.061.855-72, portador do documento de identidade RG n.º 20.430.203-07, SSP/BA, data de
emissão 17/05/2019, natural de Barra/BA, data de nascimento 02/11/1952, filho de ELZA
BASTOS BESSA e MANOEL ALVES BESSA, residente e domiciliado à Rua Nilton Silva Teixeira,
nº 14, Polivalente, Xique-Xique, Bahia, CEP 47.400-000, telefone: (74) 99987-9541, por conduto
de seu Advogado, regularmente constituído por meio da Procuração anexa, propor a presente

AÇÃO REVISIONAL DO PASEP c/c DANOS MATERIAIS E MORAIS

em face em face da UNIÃO FEDERAL, pessoa jurídica de direito público, inscrita no CNPJ sob
nº 26.994.558/0001-23, com sede em ST de Industria Gráficas, Quadra, 06, Lote 800, Bairro:
Asa Sul, Brasília/DF, CEP: 70.610-460, e BANCO DO BRASIL S.A, pessoa jurídica de direito
público, inscrita no CNPJ sob nº 00.000.000/0001-91, com sede em Q Saun Quadra 5 LOTE B
Torres I, II e III, S/N, andar 1 A 16 SALA 101 A 1601, Bairro: Asa Norte, Brasília/DF, CEP: 70.040-
912, tel. (61) 3493-9002, pelos fatos e razões a seguir.

I – DA PRIORIDADE DA TRAMITAÇÃO

Primeiramente, requer-se a concessão do benefício processual da prioridade de tramitação


processual, tipificado no art. 1.048, Inciso I, CPC (Lei 13.105/15), que dispõe:

“Terão prioridade de tramitação, em qualquer juízo ou


tribunal, os procedimentos judiciais: I - em que figure como
parte ou interessado pessoa com idade igual ou superior a
60 (sessenta) anos ou portadora de doença grave, assim
compreendida qualquer das enumeradas no art. 6º, inciso
XIV, da Lei no 7.713, de 22 de dezembro de 1988; (...)”.

Consoante ao demonstrado nos documentos pessoais da parte demandante (RG em anexo), esta
é pessoa idosa, fazendo jus, portanto, ao direito da prioridade na tramitação de procedimentos

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judiciais, nos termos do Código de Processo Civil Brasileiro.

II - BENEFÍCIOS DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA

O Requerente atualmente não possui condições de arcar com as despesas processuais, sob
pena de inviabilizar a sua sobrevivência a manutenção de sua família, razão pela qual não
poderia arcar com as despesas processuais.

Para tal benefício o Requerente junta declaração de hipossuficiência e comprovante de renda, os


quais demonstram a inviabilidade de pagamento das custas judicias sem comprometer sua
subsistência, conforme clara redação do Código de Processo Civil de 2015:

Art. 99. O pedido de gratuidade da justiça pode ser


formulado na petição inicial, na contestação, na petição para
ingresso de terceiro no processo ou em recurso.

§ 1o Se superveniente à primeira manifestação da parte na


instância, o pedido poderá ser formulado por petição
simples, nos autos do próprio processo, e não suspenderá
seu curso.

§ 2o O juiz somente poderá indeferir o pedido se houver nos


autos elementos que evidenciem a falta dos pressupostos
legais para a concessão de gratuidade, devendo, antes de
indeferir o pedido, determinar à parte a comprovação do
preenchimento dos referidos pressupostos.

§ 3º Presume-se verdadeira a alegação de insuficiência


deduzida exclusivamente por pessoa natural.

Assim, por simples petição, sem outras provas exigíveis por lei, faz jus o Requerente ao benefício
da gratuidade de justiça:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. JUSTIÇA GRATUITA.


INDEFERIMENTO DA GRATUIDADE PROCESSUAL.
AUSÊNCIA DE FUNDADAS RAZÕES PARA AFASTAR A
BENESSE. CONCESSÃO DO BENEFÍCIO. CABIMENTO.
Presunção relativa que milita em prol da autora que alega
pobreza. Benefício que não pode ser recusado de plano
sem fundadas razões. Ausência de indícios ou provas
de que pode a parte arcar com as custas e despesas
sem prejuízo do próprio sustento e o de sua família.
Recurso provido. (TJ-SP 22234254820178260000 SP
2223425-48.2017.8.26.0000, Relator: Gilberto Leme, Data
de Julgamento: 17/01/2018, 35ª Câmara de Direito Privado,
Data de Publicação: 17/01/2018)

AGRAVO DE INSTRUMENTO. GRATUIDADE DA


JUSTIÇA. CONCESSÃO. Presunção de veracidade da
alegação de insuficiência de recursos, deduzida por
pessoa natural, ante a inexistência de elementos que
evidenciem a falta dos pressupostos legais para a
concessão da gratuidade da justiça. Recurso provido.

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(TJ-SP 22259076620178260000 SP 2225907-
66.2017.8.26.0000, Relator: Roberto Mac Cracken, 22ª
Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 07/12/2017)

A assistência de advogado particular não pode ser parâmetro ao indeferimento do pedido:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. PEDIDO DE GRATUIDADE


DE JUSTIÇA. CONCESSÃO DO BENEFÍCIO.
HIPOSSUFICIÊNCIA. COMPROVAÇÃO DA
INCAPACIDADE FINANCEIRA. REQUISITOS
PRESENTES. 1. Incumbe ao Magistrado aferir os elementos
do caso concreto para conceder o benefício da gratuidade
de justiça aos cidadãos que dele efetivamente necessitem
para acessar o Poder Judiciário, observada a presunção
relativa da declaração de hipossuficiência. 2. Segundo o §
4º do art. 99 do CPC, não há impedimento para a
concessão do benefício de gratuidade de Justiça o fato
de as partes estarem sob a assistência de advogado
particular. 3. O pagamento inicial de valor relevante,
relativo ao contrato de compra e venda objeto da demanda,
não é, por si só, suficiente para comprovar que a parte
possua remuneração elevada ou situação financeira
abastada. 4. No caso dos autos, extrai-se que há dados
capazes de demonstrar que o Agravante, não dispõe, no
momento, de condições de arcar com as despesas do
processo sem desfalcar a sua própria subsistência. 4.
Recurso conhecido e provido. (TJ-DF
07139888520178070000 DF 0713988-85.2017.8.07.0000,
Relator: GISLENE PINHEIRO, 7ª Turma Cível, Data de
Publicação: Publicado no DJE : 29/01/2018)

Assim, considerando a demonstração inequívoca da necessidade do Requerente, tem-se por


comprovada sua miserabilidade, fazendo jus ao benefício.

Por tais razões, com fulcro no artigo 5º, LXXIV da Constituição Federal e pelo artigo 98 do CPC,
requer seja deferida a gratuidade de justiça ao requerente.

III - DOS FATOS

O Requerente foi cadastrado no PASEP (Programa de Formação do Patrimônio do Servidor


Público), em 01/02/1979, sob o nº 1.062.066.969-9.

Ocorre que ao realizar o saque em 14/06/2017, só recebeu o valor equivalente a R$ 1.583,46 (um
mil, quinhentos e oitenta e três reais e quarenta e seis centavos), junto ao Banco do Brasil.

Ou seja, após 38 (trinta e oito) anos, o montante somado totalizou R$ 1.583,46 (um mil,
quinhentos e oitenta e três reais e quarenta e seis centavos)?

Evidentemente que tais cálculos merecem ser revistos, uma vez que se trata de grave prejuízo à
parte hipossuficiente da relação em notório enriquecimento ilícito.

Ou seja, considerando o grande lapso de tempo em que as supracitadas cotas financeiras

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estiveram em posse dos demandados, tudo leva a crer que o Banco do Brasil e a União foram
negligentes e não administraram corretamente o numerário do PASEP da demandante.

Diante da distorção de valores, apresenta planilha de cálculos cujos valores devidamente


corrigidos monetariamente, aplicados juros e honorários advocatícios até 31/10/2023 representa o
montante de R$ 463.016,28 (quatrocentos e sessenta e três mil, dezesseis reais e vinte e
oito centavos), conforme planilha de cálculos anexa.

IV - DA LEGITIMIDADE PASSIVA DA UNIÃO

Inquestionável a legitimidade passiva da União quando cabe a ela a gestão dos valores
referentes ao PIS/PASEP, por meio do Conselho Diretor, vinculado ao Ministério da Fazenda, em
clara redação do art. 7º, do Decreto 4.751/03.

Nesse sentido:

"(...)União Federal gestora do Fundo que financia o


Programa PIS/PASEP, sendo, portanto, dela a legitimidade
passiva para figurar nas ações que versem sobre as
contribuições vertidas ao PIS/PASEP. (...)." (TJRJ,
APELAÇÃO 0139351-24.2016.8.19.0001, Relator(a):
MARCIA FERREIRA ALVARENGA, DÉCIMA SÉTIMA
CÂMARA CÍVEL, Julgado em: 31/01/2018, Publicado em:
06/02/2018)

Com efeito, como o Conselho do Fundo de Participação do PIS/PASEP foi criado como órgão
vinculado ao Ministério da Fazenda e não é dotado de personalidade jurídica própria, deve,
portanto, a União figurar no polo passivo da ação originária, em razão de sua competência para
arrecadação e administração do tributo em questão.

Nesse sentido, o polo passivo, em decorrência da administração é inequívoco, sendo também


hialina a competência da Justiça Federal, conforme já analisado pelos Tribunais Superiores,
como demonstra a Ementa abaixo:

“Decisão: Trata-se de recurso extraordinário em face de


acórdão assim documentado, no que interessa:
CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO CORREÇÃO
MONETÁRIA FUNDO PIS-PASEP (...) 1. Legitimidade da
União Federal para figurar no polo passivo nas ações em
que se pleiteia a correção monetária do PIS-PASEP. (...)”
(STF - RE: 653666 SP, Relator: Min. GILMAR MENDES,
Data de Julgamento: 31/03/2014, Data de Publicação: DJe-
066 DIVULG 02/04/2014 PUBLIC 03/04/2014).

Nos termos do art. 109 da CF:

“Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: I -

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as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa
pública federal forem interessadas na condição de autoras,
rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de
acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à
Justiça do Trabalho; (...)”

Assim, certa é a competência da Justiça Federal, sendo notável que figura como parte sujeita aos
efeitos legais da presente relação a União Federal e o Banco do Brasil S/A.

Portanto, demonstrada a legitimidade da União no presente processo.

V - DA LEGITIMIDADE DO BANCO DO BRASIL

Por força da Lei Complementar 8/70 que, ao instituir o PASEP, outorgou ao Banco do Brasil, em
seus arts. 2º e 5º, a atribuição de administrar e operacionalizar o Programa, sendo responsável
pela gestão dos valores referentes ao PIS/PASEP.

Nesse sentido, é inequívoco que ao gerir tais valores foi diretamente beneficiado pelo proveito
econômico advindo exatamente do uso destes valores. Ou seja, as instituições bancárias são
remuneradas pelo uso e disposição do dinheiro que gere, realizando empréstimos e demais
transações remuneradas pelos correntistas.

Dessa forma, é evidente que ao deixar de repassar atualizações mínimas sofridas pela moeda, a
Instituição Bancária se beneficia do dinheiro do Autor em claro enriquecimento ilícito, devendo,
portanto, compor o polo passivo.

Nesse sentido:

"(...) Apelo do banco réu. Preliminar de ilegitimidade de


parte. Rejeição. O Banco do Brasil é parte legítima para
figurar no polo passivo da relação processual, uma vez
que é sua atribuição o depósito e gestão dos saldos
existentes nas contas vinculadas ao programa PASEP,
nos termos da Lei Complementar nº 8/70. Embora a Lei
Complementar nº 26/75 tenha unificado os programas
PIS/PASEP, a gestão do fundo PASEP continua sendo de
competência exclusiva do Banco do Brasil. (...)" (TJSP;
Apelação 1020556-12.2014.8.26.0100; Relator (a): Carmen
Lucia da Silva; Órgão Julgador: 18ª Câmara de Direito
Privado; Foro Central Cível - 24ª Vara Cível; Data de
Registro: 09/02/2018)

Diante disso, o Banco do Brasil como agente operador do Programa PASEP, possui gerência
procedimental sobre as contas e dever de guarda dos valores repassados, motivo pelo qual se
insere na relação jurídica processual em tela, que questiona justamente aspectos desta
operacionalização, junto com a responsabilidade constitucional da União.

Razões pelas quais, argui pela legitimidade passiva igualmente da Instituição Bancária no

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presente pleito.

VI - DA PRESCRIÇÃO

Em homenagem à segurança jurídica e a estabilidade das relações, o ordenamento jurídico exige


que, uma vez violado o direito de alguma das partes, a pretensão reparatória seja exercida dentro
de um prazo.

Entretanto, em algumas situações, o titular do direito violado não possui a ciência de sua
violação, ou mesmo, não apresenta a condição necessária para identificar e exercer medida
prévia reparadora.

Consoante ao que se comprova nos autos, a requerente tomou conhecimento da má


administração dos valores financeiros do PASEP por parte da União e Banco do Brasil somente
na data em obteve entendimento da violação de seu direito.

Por tratar-se de depósitos mensais e sucessivos, não há que se falar em prescrição, uma vez que
o saque (data em que o Autor teve acesso ao ilícito), ocorreu somente em 14/06/2017.

Ou seja, previamente a esta data, o Autor sequer poderia ter acesso à atualização indevida dos
valores que lhe pertenciam.

Ressalta-se que o prazo prescricional no sistema normativo brasileiro se encontra previsto no


código civil, artigo 205, que assim dispõe: Art. 205. A prescrição ocorre em dez anos, quando a lei
não lhe haja fixado prazo menor.

Além disso, a jurisprudência dominante entende que o prazo prescricional é decenal, vejamos:

APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS


MATERIAIS E MORAIS –PRELIMINAR – PRESCRIÇÃO –
REJEITADA – CORREÇÃO DA ATUALIZAÇÃO DO SALDO
DE CONTA DO PASEP - BANCO DO BRASIL S/A NA
FUNÇÃO DE GESTOR DAS CONTAS DO PASEP –
LEGITIMIDADE PASSIVA – RECURSO PROVIDO. Diante
da ausência de regra específica, o prazo prescricional
para a pretensão de cobrança de atualização monetária
de valores depositados na conta PASEP é de 10 anos,
nos termos do artigo 205, do CC/2002. O Banco do Brasil
S/A é parte legítima para figurar em ação cujo objetivo é
determinar a correção da atualização dos valores de conta
PASEP, mormente quando a alegação é de que a sociedade
de economia mista requerida não cumpriu os critérios de
atualização dos valores estabelecidos pela União, por meio
do Fundo Gestor do Programa. (TJ-MS - AC:
08140456520208120001 MS 0814045-65.2020.8.12.0001,
Relator: Des. Eduardo Machado Rocha, Data de
Julgamento: 18/02/2021, 2ª Câmara Cível, Data de
Publicação: 23/02/2021)

Portanto, considerando que o prazo prescricional adotado é de dez anos contados da tomada de

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ciência do dano, que deverá ser contado a partir do recebimento da documentação com a
descrição dos valores disponíveis da conta do PASEP da parte autora, é evidente que a parte
requerente propôs esta demanda sem haver o decurso deste prazo

Ou seja, mesmo os depósitos realizados previamente permaneceram sob a titularidade do Autor e


pelo período não prescrito deveriam permanecer sofrendo os reajustes e atualizações devidas.
Portanto, cabível o presente pedido.

VII - DA REVISÃO NECESSÁRIA

Os Programas de Integração Social (PIS) e de Formação do Patrimônio do Servidor Público


(PASEP) foram instituídos pela Lei Complementar nº 07/70 e 08/70 e unificados pela Lei
Complementar nº 26/75.

Desta forma, a partir de 1º de julho de 1976, as contribuições recolhidas, quer como PIS, quer
como PASEP, são destinadas ao mesmo Fundo: PIS/PASEP, cujo financiamento incumbe tanto
às pessoas jurídicas de direito privado, como às de direito público, a teor dos arts. 1º e 2º, da Lei
nº 9.715/98.

OBJETIVO DO FUNDO: Proporcionar aos servidores públicos a participação nas receitas das
entidades e órgãos da Administração Pública.

Desta forma, não obstante a autorização constitucional pela utilização do fundo para financiar o
seguro-desemprego e ao abono (Art. 239 CF), referidos valores permanecem de titularidade
do cidadão, que poderia saca-los nas hipóteses legais.

Ou seja, embora legalmente autorizados o uso e proveito do dinheiro de propriedade do


Requerente enquanto depositado em posse da Requerida – Banco do Brasil, não há que se
permitir que estes valores sejam totalmente corroídos pela inflação e percam totalmente o seu
valor pelo decurso do tempo em proveito exclusivo da Requerida – Banco do Brasil.

Trata-se unicamente de resguardar o valor daquilo que pertence ao Requerente, em especial


quando tais valores refletem em ganhos vultuosos em favor da Instituição Financeira que utiliza
exatamente destes valores como fonte de rendimento e financiam obrigações por parte da União.

O Decreto nº 4.751, de 17 de junto de 2003, que dispõe sobre o Fundo PIS-PASEP, tratou de
prever expressamente o direito do detentor da conta o direito aos juros e correção monetária
inerentes ao resultado das aplicações dos recursos.

Art. 3º. Os participantes do Fundo de Participação do PIS e


os beneficiários do Fundo Único do PASEP, conforme
qualificados na legislação pertinente aos respectivos
Programas, passam a ser participantes do PIS-PASEP.

Parágrafo único. Os créditos provenientes da aplicação


da atualização monetária, da incidência de juros, do
resultado líquido adicional das operações realizadas e
de qualquer outro benefício serão feitos exclusivamente

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na conta individual do participante.

Art. 4o No final de cada exercício financeiro, as contas


individuais dos participantes do PIS-PASEP serão
creditadas das quantias correspondentes:

I - à aplicação da atualização monetária sobre os


respectivos saldos credores verificados ao término do
exercício financeiro anterior;
II - à incidência de juros sobre os respectivos saldos
credores atualizados, verificados ao término do exercício
financeiro anterior; e
III - ao resultado líquido adicional das operações
financeiras realizadas, verificado ao término do exercício
financeiro anterior.

Ou seja, por menores que sejam os rendimentos das aplicações realizadas, o montante auferido
ao longo dos anos, jamais poderia alcançar somente R$ 1.583,46 (um mil, quinhentos e oitenta
e três reais e quarenta e seis centavos).

O STJ ao analisar situações semelhantes destaca sobre a importância da devida correção


monetária sobre os valores pertencentes ao contribuinte:

"a correção monetária não representa qualquer acréscimo,


mas simples recomposição do valor da moeda corroído
pelo processo inflacionário." (STJ, REsp nº 1.191.868, 2ª
Turma, Rel. Min. Eliana Calmon, j. 15/06/2010 e p.
22/06/2010).

Sobre o tema, insta consignar relevante precedente que contempla adequada compreensão
sobre o tema:

"O PASEP foi instituído pela Lei Complementar no 8, de 03


de dezembro de 1970, visando proporcionar aos servidores
públicos a participação nas receitas das entidades e órgãos
da Administração Pública. (...) A análise dos dispositivos
acima demonstra que, ainda que alterada a destinação dos
recursos - ora dirigidos ao seguro-desemprego e ao abono,
os valores anteriores permaneceriam de titularidade do
servidor, que poderia saca-lós nas hipóteses legais, entre
elas a transferência para a reserva remunerada. (...) O
Banco do Brasil emitiu extrato (fls. 26/28), afirmando que
quando do saque – 18/03/2013 - o valor atualizado na conta
do PIS-PASEP era de R$ 821,47. Ja a parte autora entende
como devido o montante de R$ 80.760,63 (fls. 44/48).
Neste ponto o Banco do Brasil e parte autora divergem.
(...). Ademais, não e preciso maiores esforços para se
verificar que quase seis anos de recolhimento do
PASEP (1983 a 1988 – fl. 18) somados a quase vinte
anos de rendimento na mencionada conta (outubro/1988
a março/2013) não podem ter como saldo a quantia
irrisória de R$ 821,47. (...). Portanto, o pedido deve ser

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julgado procedente para condenar o Banco do Brasil ao
pagamento R$ 80.760,63." (Processo nº: 0015070-
40.2018.4.02.5107 - SEÇÃO JUDICIÁRIA DO RIO DE
JANEIRO 2ª VARA FEDERAL DE ITABORAÍ – JUIZADO
ESPECIAL. Julgado em 23/05/18)

Trata-se, portanto, de aplicar-se o previsto no Decreto nº 4.751 sob pena de grave ofensa ao
princípio da legalidade em detrimento do contribuinte que vê seu direito ceifado.

A Constituição Federal Brasileira/88, em favor dos servidores participantes, preservou o


patrimônio acumulado em suas respectivas contas individuais do PASEP, inclusive mantendo os
critérios de saque nas situações previstas nas leis específicas, com exceção da retirada por
motivo de casamento, que deixou de ser fato gerador para o levantamento das cotas, nos termos
do §2º, artigo. 239, CF.

Como já mencionado, os valores disponibilizados pelos réus equivalentes aos rendimentos do


PASEP na conta vinculada da parte autora não estão corretos.

Ou seja, enquanto em posse da Administração Pública, o dinheiro do contribuinte não pode


ser CORROÍDO PELO TEMPO, uma vez que a própria Administração Pública utiliza deste
dinheiro para financiar suas obrigações.

Em sua relatoria, o Min. Luiz Fux no RE 870947, elucida a matéria:

"A finalidade básica da correção monetária é preservar o


poder aquisitivo da moeda diante da sua desvalorização
nominal provocada pela inflação. Enquanto instrumento
de troca, a moeda fiduciária que conhecemos hoje só tem
valor na medida em que capaz de ser transformada em bens
e serviços. Ocorre que a inflação, por representar o aumento
persistente e generalizado do nível de preços, distorce, no
tempo, a correspondência entre valores real e nominal (...).
Esse estreito nexo entre correção monetária e inflação
exige, por imperativo de adequação lógica, que os
instrumentos destinados a realizar a primeira sejam capazes
de capturar a segunda. Em outras palavras, índices de
correção monetária devem ser, ao menos em tese, aptos
a refletir a variação de preços de caracteriza o fenômeno
inflacionário, o que somente será possível se
consubstanciarem autênticos índices de preços."

E conclui sobre os efeitos nefastos da não atualização devida, os quais devem ser atualizados
por índices capazes de corrigir a variação inflacionária da moeda.

"A diferença supera os 30% (trinta por cento) e revela os


incentivos perversos gerados pelo art. 1º-F da Lei nº
9.494/97: quanto mais tempo a Fazenda Pública
postergar a quitação de seus débitos, menor será, em
termos reais, o valor da sua dívida, corroída que estará
pela inflação. Nesse contexto, é nítido o estímulo ao uso
especulativo do Poder Judiciário. (...). Ora, se o Estado não

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utiliza a caderneta de poupança como índice de correção
quando tem o objetivo de passar credibilidade ao investidor
ou de atrair contratantes, é porque tem consciência de que o
aludido índice não é adequado a medir a variação de preços
na economia. Por isso, beira a iniquidade permitir utilizá-lo
quando em questão condenações judiciais."

Por tais razões que a todos os valores em posse da Administração Pública, em especial os
depósitos do PIS/PASEP, devem ser devidamente remunerados pelos índices de atualização
devidos, bem como pela incidência de juros, do resultado líquido adicional das operações
realizadas e de qualquer outro benefício aplicável ao referido fundo, nos termos do
parágrafo único do Art. 3º do Decreto nº 4.751, de 17 de junto de 2003.

Em verdade, considerando o grande lapso de tempo em que as cotas do programa estiveram em


posse dos demandados, tudo leva a crer que o Banco do Brasil e a União foram negligentes ou
agiram de forma dolosa em relação aos recursos financeiros da conta vinculada da demandante,
impedindo que a quantia pudesse ser corrigida corretamente ao longo do tempo.

Em razão do exposto, requer-se a condenação dos réus ao pagamento do montante atualizado,


referente as diferenças de valores devidos por força da correção monetária, juros e resultado
líquido do valor depositado na conta do PASEP, consoante a análise financeira e planilha de
cálculo anexa, por medida de direito e justiça.

VIII - DA NECESSIDADE DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

Conforme demonstrado pelos fatos narrados, tem-se a necessidade de inversão do ônus da


prova pela impossibilidade de produção de prova negativa. Ou seja, requer a inversão do ônus da
prova para que os Réus sejam citados para produzir prova suficiente a desconstituir o direito aqui
arguido.

A inversão do ônus da prova é consubstanciada na impossibilidade ou grande dificuldade na


obtenção de prova indispensável para a ampla defesa, sendo amparada pelo princípio da
distribuição dinâmica do ônus da prova implementada pelo Novo Código de Processo Civil:

Art. 373. O ônus da prova incumbe:


I - ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito;
II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo,
modificativo ou extintivo do direito do autor.
§ 1º Nos casos previstos em lei ou diante de
peculiaridades da causa relacionadas à impossibilidade
ou à excessiva dificuldade de cumprir o encargo nos
termos do caput ou à maior facilidade de obtenção da
prova do fato contrário, poderá o juiz atribuir o ônus da
prova de modo diverso, desde que o faça por decisão
fundamentada, caso em que deverá dar à parte a
oportunidade de se desincumbir do ônus que lhe foi

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atribuído.

Trata-se da efetiva aplicação do Princípio da Isonomia, segundo o qual, todos devem ser tratados
de forma igual perante a lei, observados os limites de sua desigualdade, conforme bem delineado
pela doutrina:

"O texto normativo indicou, timidamente, tendência em


adotar a inversão do ônus da prova pela técnica do ônus
dinâmico da prova: terá o ônus de provar aquele que
estiver, no processo, em melhor condição de fazê-lo,
conforme inversão determinada por decisão judicial
fundamentada. (...). Na verdade o direito brasileiro
prescinde dessa exceção, na medida em que existem
situações justificáveis onde a distribuição diversa da
convencional (v.g.CDC 6.º VIII e 38)." (NERY JUNIOR,
Nelson. NERY, Rosa Maria de Andrade. Código de
Processo Civil Comentado. 17ª ed. Editora RT, 2018.
Versão ebook, Art. 373)

Nesse sentido, a jurisprudência orienta a inversão do ônus da prova para viabilizar o acesso à
justiça:

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. DISTRIBUIÇÃO DINÂMICA


DO ÔNUS DA PROVA. PARTE COM MAIOR CONDIÇÃO
DE PRODUÇÃO. (..) DECISÃO FUNDAMENTADA.
POSSIBILIDADE. I ? O § 1º do art. 373 do CPC consagrou
a teoria da distribuição dinâmica do ônus da prova ao
permitir que o juiz altere a distribuição do encargo se
verificar, diante da peculiaridade do caso ou acaso
previsto em lei, a impossibilidade ou excessiva
dificuldade de produção pela parte, desde que o faça por
decisão fundamentada, concedendo à parte contrária a
oportunidade do seu cumprimento. II Negou-se provimento
ao recurso. (TJ-DF 07000112620178070000 0700011-
26.2017.8.07.0000, Relator: JOSÉ DIVINO DE OLIVEIRA,
Publicado no PJe : 02/05/2017 )

Assim, diante da inequívoca e presumida hipossuficiência do Autor, bem como a indisponibilidade


de prova negativa, requer a inversão do ônus da prova.

IX - DOS DANOS MORAIS

Diante disso, o Autor além de lesado, sofreu grave abalo à sua dignidade, pois vítima de ato que
atingiu sua integridade como trabalhador e pai de família.

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Trata-se de dano que independe de prova do abalo, conforme já posicionado na jurisprudência:

INDENIZAÇÃO – Danos materiais e morais – Ocorrência –


Saque indevido em conta da autora vinculada ao
PASEP – Dano material que deve ser ressarcido, com
atualização e juros de mora tal como fixados em primeiro
grau – Dano moral in re ipsa igualmente caracterizado -
Indenização fixada a este título em R$ 10.000,00, nesta
oportunidade – Sentença de parcial procedência
modificada – Recurso provido em parte. (TJSP; Apelação
1000728-18.2015.8.26.0222; Relator (a): Paulo Pastore
Filho; Órgão Julgador: 17ª Câmara de Direito Privado; Foro
de Guariba - 1ª Vara Judicial; Data do Julgamento:
12/03/2018; Data de Registro: 12/03/2018)

Do inteiro teor desta decisão, importante destacar:

"Com efeito, a situação relatada nos autos ultrapassou


em muito o mero aborrecimento do dia-a-dia, atingindo,
de forma grave, o estado de felicidade da apelante, que
fora despojada de quantia considerável. A conduta do
banco, que se deixou enganar em virtude da frouxidão de
seu sistema de segurança e não procedeu à imediata
restituição da quantia indevidamente subtraída, acarretou a
inquietude, o constrangimento e o medo que tal situação cria
no espírito de pessoa que se vê sem seu numerário e sem a
certeza de recuperar aquele valor. (...) Na concepção
moderna da teoria da reparação de danos morais,
prevalece, de início, a orientação de que a
responsabilização do agente se opera por força de simples
violação. Com isso, verificado o evento danoso, surge, ipso
facto, a necessidade de reparação, uma vez presentes os
pressupostos de direito. Dessa ponderação, emergem duas
consequências práticas de extraordinária repercussão em
favor do lesado: “uma, é a dispensa da análise da
subjetividade do agente; outra, a desnecessidade de prova
do prejuízo em concreto” (CARLOS ALBERTO BITTAR, in
“Reparação Civil por Danos Morais”, Editora Revista dos
Tribunais, 1993, p. 202)."

Portanto, evidentemente superado o mero dissabor do dia a dia, tem-se por evidenciado o dano
moral indenizável. Afinal, não apenas deixou o Autor de auferir valor que lhe era direito, mas
igualmente não pode resolver seu problema diretamente com a Ré, obrigando a ingressar com a
presente ação.

O simples envolvimento num processo judicial já envolve desgaste emocional que desborda do
mero aborrecimento do cotidiano, afetando principalmente o tempo útil do Autor, gerando o dano
pelo desvio produtivo.

X - DOS DANOS PELO DESVIO PRODUTIVO

Conforme disposto nos fatos iniciais, o Consumidor teve que desperdiçar seu tempo útil para

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solucionar problemas que foram causados pela empresa Ré que não demonstrou qualquer
intenção na solução do problema, obrigando o ingresso da presente ação.

Este transtorno involuntário é o que a doutrina denomina de DANO PELA PERDA DO TEMPO
ÚTIL, pois afeta diretamente a rotina do consumidor gerando um desvio produtivo involuntário,
que obviamente causam angústia e stress.

Humberto Theodoro Júnior leciona de forma simples e didática sobre o tema, aplicando-se
perfeitamente ao presente caso:

"Entretanto, casos há em que a conduta desidiosa do


fornecedor provoca injusta perda de tempo do
consumidor, para solucionar problema de vício
do produto ou serviço. (...) O fornecedor, desta forma,
desvia o consumidor de suas atividades para “resolver um
problema criado” exclusivamente por aquele. Essa
circunstância, por si só, configura dano indenizável no
campo do dano moral, na medida em que ofende a
dignidade da pessoa humana e outros princípios modernos
da teoria contratual, tais como a boa-fé objetiva e a
função social: (...) É de se convir que o tempo configura
bem jurídico valioso, reconhecido e protegido pelo
ordenamento jurídico, razão pela qual, “a conduta
que irrazoavelmente o viole produzirá uma nova espécie
de dano existencial, qual seja, dano temporal”
justificando a indenização. Esse tempo perdido, destarte,
quando viole um “padrão de razoabilidade suficientemente
assentado na sociedade”, não pode ser enquadrado
noção de mero aborrecimento ou dissabor." (THEODORO
JÚNIOR, Humberto. Direitos do Consumidor. 9ª ed. Editora
Forense, 2017. Versão ebook, pos. 4016)

Bruno Miragem, no mesmo sentido destaca:

"Por outro lado, vem se admitindo crescentemente, a partir


de provocação doutrinária, a concessão de indenização
pelo dano decorrente do sacrifício do tempo do
consumidor em razão de determinado descumprimento
contratual, como ocorre em relação à necessidade de
sucessivos e infrutíferos contatos com o serviço de
atendimento do fornecedor, e outras providências
necessárias à reclamação de vícios no produto ou na
prestação de serviços." (MIRAGEM, Bruno. Curso de Direito
do Consumidor - Editora RT, 2016. versão e-book, 3.2.3.4.1)

Nesse sentido:

"Então, a perda injusta e intolerável do tempo útil do


consumidor provocada por desídia, despreparo,
desatenção ou má-fé (abuso de direito) do fornecedor
de produtos ou serviços deve ser entendida como dano
temporal (modalidade de dano moral) e a conduta que o

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provoca classificada como ato ilícito. Cumpre reiterar que
o ato ilícito deve ser colmatado pela usurpação
do tempo livre, enquanto violação a direito da
personalidade, pelo afastamento do dever de segurança
que deve permear as relações de consumo, pela
ino bse rvâ ncia d a boa -f é obje tiva e seu s dever es
anexos, pelo abuso da função social do contrato (seja na
fase pré-contratual, contratual ou pós-contratual) e, em
último grau, pelo desrespeito ao princípio da dignidade da
pessoa humana." (GASPAR, Alan Monteiro.
Responsabilidade civil pela perda indevida do tempo
útil do consumidor. Revista Síntese: Direito Civil e
Processual Civil, n. 104, nov-dez/2016, p. 62)

A jurisprudência, no mesmo sentido, ancora o posicionamento de que o desvio produtivo


ocasionado pela desídia de uma empresa deve ser indenizada, conforme predomina a
jurisprudência:

RELAÇÃO DE CONSUMO – DIVERGÊNCIA DO PRODUTO


ENTREGUE – OBRIGAÇÃO DE FAZER CONSISTENTE NA
ENTREGA DO PRODUTO EFETIVAMENTE ANUNCIADO
PELA RÉ E ADQUIRIDO PELO CONSUMIDOR –
INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL –
RECONHECIMENTO. (...) Caracterizados restaram os
danos morais alegados pelo Recorrido diante do
"desvio produtivo do consumidor", que se configura
quando este, diante de uma situação de mau
atendimento, é obrigado a desperdiçar o seu tempo útil
e desviar-se de seus afazeres à resolução do problema,
e que gera o direito à reparação civil. E o quantum
arbitrado (R$ 3.000,00), em razão disso, longe está de
afrontar o princípio da razoabilidade, mormente pelo
completo descaso da Ré, a qual insiste em protrair a
solução do problema gerado ao consumidor. 3. Recurso
conhecido e não provido. Sentença mantida por seus
próprios fundamentos, ex vi do art. 46 da Lei nº 9.099/95.
Sucumbente, arcará a parte recorrente com os honorários
advocatícios da parte contrária, que são fixados em 20% do
valor da condenação a título de indenização por danos
morais. (TJSP; Recurso Inominado 0003780-
72.2017.8.26.0156; Relator (a): Renato Siqueira De Pretto;
Órgão Julgador: 1ª Turma Cível e Criminal; Foro de Jundiaí -
4ª. Vara Cível; Data do Julgamento: 12/03/2018; Data de
Registro: 12/03/2018)

Trata-se de notório desvio produtivo caracterizado pela perda do tempo que lhe seria útil ao
descanso, lazer ou de forma produtiva, acaba sendo destinado na solução de problemas de
causas alheias à sua responsabilidade e vontade.

A perda de tempo de vida útil do consumidor, em razão da falha da prestação do serviço não
constitui mero aborrecimento do cotidiano, mas verdadeiro impacto negativo em sua vida,

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devendo ser INDENIZADO.

XI - DO QUANTUM INDENIZATÓRIO

O quantum indenizatório deve ser fixado de modo a não só garantir à parte que o postula a
recomposição do dano em face da lesão experimentada, mas igualmente deve servir de
reprimenda àquele que efetuou a conduta ilícita, como assevera a doutrina:

“Com efeito, a reparação de danos morais exerce função


diversa daquela dos danos materiais. Enquanto estes se
voltam para a recomposição do patrimônio ofendido, por
meio da aplicação da fórmula “danos emergentes e lucros
cessantes” (CC, art. 402), aqueles procuram oferecer
compensação ao lesado, para atenuação do sofrimento
havido. De outra parte, quanto ao lesante, objetiva a
reparação impingir-lhe sanção, a fim de que não volte a
praticar atos lesivos à personalidade de outrem.”
(BITTAR, Carlos Alberto. Reparação Civil por Danos Morais.
4ª ed. Editora Saraiva, 2015. Versão Kindle, p. 5423)

Neste sentido é a lição do Exmo. Des. Cláudio Eduardo Regis de Figueiredo e Silva, ao disciplinar
o tema:

"Importa dizer que o juiz,ao valorar o dano moral,deve


arbitrar uma quantia que, de acordo com o seu prudente
arbítrio,seja compatível com a reprovabilidade da
conduta ilícita, a intensidade e duração do sofrimento
experimentado pela vítima, a capacidade econômica do
causador do dano, as condições sociais do ofendido, e
outras circunstâncias mais que se fizerem presentes"
(Programa de responsabilidade civil. 6. ed., São Paulo:
Malheiros, 2005. p. 116). No mesmo sentido aponta a lição
de Humberto Theodoro Júnior: [...] "os parâmetros para a
estimativa da indenização devem levar em conta os
recursos do ofensor e a situação econômico-social do
ofendido, de modo a não minimizar a sanção a tal ponto que
nada represente para o agente, e não exagerá-la, para que
não se transforme em especulação e enriquecimento
injustificável para a vítima. O bom senso é a regra máxima a
observar por parte dos juízes" (Dano moral. 6. ed., São
Paulo: Editora Juarez de Oliveira, 2009. p. 61).
Complementando tal entendimento, Carlos Alberto Bittar,
elucida que"a indenização por danos morais deve
traduzir-se em montante que represente advertência ao
lesante e à sociedade de que se não se aceita o
comportamento assumido, ou o evento lesivo advindo.
Consubstancia-se, portanto, em importância compatível com
o vulto dos interesses em conflito, refletindo-se, de modo
expresso, no patrimônio do lesante, a fim de que sinta,
efetivamente, a resposta da ordem jurídica aos efeitos do
resultado lesivo produzido. Deve, pois, ser quantia
economicamente significativa, em razão das potencialidades

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do patrimônio do lesante"(Reparação Civil por Danos
Morais, RT, 1993, p. 220). Tutela-se, assim, o direito
viola d o. ( TJSC, Recu rso Ino min ado n . 0302581-
94.2017.8.24.0091, da Capital - Eduardo Luz, rel. Des.
Cláudio Eduardo Regis de Figueiredo e Silva, Primeira
Turma de Recursos - Capital, j. 15-03-2018)

Ou seja, enquanto o papel jurisdicional não fixar condenações que sirvam igualmente ao
desestímulo e inibição de novas práticas lesivas, situações como estas seguirão se repetindo
e tumultuando o judiciário.

Portanto, cabível a indenização por danos morais, E nesse sentido, a indenização por dano moral
deve representar para a vítima uma satisfação capaz de amenizar de alguma forma o abalo
sofrido e de infligir ao causador sanção e alerta para que não volte a repetir o ato, uma vez que
fica evidenciado completo descaso aos transtornos causados.

XII - DOS PEDIDOS

Ante o exposto, requer:

a) A prioridade na tramitação do processo, nos termos do art. 1.048, inc. I do CPC, em razão da
requerente ser pessoa idosa;

b) O deferimento do benefício da Assistência Judiciária Gratuita, pois a parte Autora não tem
condições de arcar com as custas processuais sem o prejuízo de seu sustento e de sua família,
nos termos do Art. 98 do CPC;

c) Diante da inequívoca e presumida hipossuficiência do Autor, bem como a indisponibilidade de


prova negativa, requer a inversão do ônus da prova;

d) A citação das Requeridas, para, querendo, apresentar defesa, dentro do prazo legal, sob pena
de revelia;

e) A total procedência da demanda, para determinar a devida atualização e correção monetária


aplicada ao PIS/PASEP;

f) A condenação da Ré ao pagamento das diferenças devidas, devidamente atualizado;

g) Que os requeridos sejam condenados a pagar a quantia de R$ 463.016,28 (quatrocentos e


sessenta e três mil, dezesseis reais e vinte e oito centavos), em favor da parte demandante,
decorrente do saldo remanescente e correção monetária da Conta PASEP;

h) Requer ainda a condenação dos Réus à título de DANOS MORAIS, valor não inferior a R$
10.000,00 (dez mil reais), considerando as condições das partes, principalmente o potencial
econômico-social da lesante, a gravidade da lesão, sua repercussão e as circunstâncias fáticas;

i) A produção de todas as provas admitidas em direito, em especial a pericial contábil;

j) A condenação das Requeridas as custas e honorários advocatícios de sucumbência, nos

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parâmetros previstos no art. 85, §2º do CPC;

Pede e Espera Deferimento.

Dá-se à causa o valor de R$ 463.016,28 (quatrocentos e sessenta e três mil, dezesseis reais
e vinte e oito centavos), à título fixação de rito processual.

Xique-Xique/BA, 26 de outubro de 2023.

(assinado eletronicamente)

DIOGO MAGALHÃES FRANCA CARVALHO

OAB/BA 37.286

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