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A EXCELENTÍSSIMA SENHORA DOUTORA JUÍZA DE DIREITO DA 4ª

VARA CÍVEL DO FORO REGIONAL I - SANTANA DA COMARCA DE SÃO


PAULO.

Processo nº 1015804-22.2022.8.26.0001

DELFINA MARIANA MONTEIRO GONÇALVES, do lar, inscrita


no CPF 212.883.858-46, residente e domiciliada a Rua Bom Jesus da Cachoeira, 390 –
Pq. Edu Chaves, São Paulo/SP, neste ato representada por sua advogada e corré na
presente demanda CRISTIANE DE LIMA MONTEIRO GONÇALVES, advogada,
inscrita no CPF sob nº 295.923.028-04, RG nº 28.567.532-1, residente e domiciliado na
Rua Eli, 674, Vila Maria, na Cidade de São Paulo, vem à presença de Vossa Excelência,
apresentar sua

CONTESTAÇÃO

Em face da Ação de Perdas e Danos movida por Samuel José da Silva


EPP, dizendo e requerendo o que segue.

I - BREVE SÍNTESE

A Contestante impugna todos os fatos articulados na inicial o que se


contrapõem com os termos desta contestação, esperando a IMPROCEDÊNCIA DA
AÇÃO PROPOSTA, pelos seguintes motivos.

Trata-se de Ação de Perdas e Danos a qual narra o Autor que a corré


CRISTIANE DE LIMA MONTEIRO GONÇALVES deixou o veículo para realização
de reparos no câmbio de seu veículo Spacefox 2011/2012, Placa: EWO-4463.

Que após aprovação do orçamento e realização dos reparos a corré foi

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comunicada para retirada do veículo. Que após inúmeras tentativas de contato o veículo
não foi retirado da oficina.

Ocorre que, diferentemente do que foi narrado na inicial, a corré deixou o


veículo na oficina em 17/08/2021, após uma pane no sistema de câmbio do veículo. Na
mesma data foi encaminhado pela oficina um orçamento via WhatsApp que totalizava o
valor dos reparos em R$ 4.740,00 (quatro mil setecentos e quarenta reais), conforme
Documento 1 acostado aos autos.

Em 25/08/2021, foi encaminhada mensagem pela oficina, informando


que havia sido constatado que duas válvulas do câmbio não estavam funcionando e que
o orçamento passaria para R$ 5.200,00 (cinco mil e duzentos reais). A Corré autorizou o
novo orçamento, porém informou que não poderia arcar com nenhum outro custo
adicional, vez que não disporia de recursos caso houvesse qualquer outra alteração no
orçamento, conforme pode-se comprovar através do Documento 2.

Em 27/08/2021, o mecânico Jefferson enviou mensagem de voz via


WhatsApp para Corré, informando que o câmbio do veículo, motivo pelo qual o veículo
foi encaminhado a oficina e único reparo autorizado a ser realizado, havia sido
solucionado. Todavia, eles estavam fazendo reparos na fiação, vez que não poderiam
entregar o veículo da maneira que se encontrava. Além disso, ressaltou o mecânico que
não iria alterar o custo do último orçamento aprovado.

Em 31/08/2021, a Corré entrou em contato com o mecânico Jefferson,


também via WhatsApp e ele informou que iria conversar com o mecânico responsável
pelo conserto e entraria em contato posteriormente, para informar a respeito do
andamento do reparo do veículo.

No dia 01/09/2021, a oficina encaminhou mensagem informando que o


veículo teria ficado pronto. No entanto, ao chegar na oficina a Corré foi noticiada que
apesar do veículo estar funcionando estava apresentando falhas e que por segurança
seria necessário desmontar o veículo novamente para verificar se a montagem havia
sido feita de forma correta.

No dia 16/09/2021, a oficina entrou em contato com a Corré por

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mensagem de voz. O mecânico Jefferson informou que o veículo havia ficado pronto,
porém o módulo do carro havia queimado e o orçamento seria alterado para R$ 6.200,00
(seis mil e duzentos reais). Imediatamente a Corré informou que não havia autorizado o
conserto e que não iria arcar com este valor, já que conforme anteriormente informado
não dispunha de recursos para tal. (Documento 3).

O mecânico Jefferson informou que iria verificar com o responsável pela


oficina o que poderia ser feito, já que o serviço não foi autorizado e não havia
possibilidade da Corré efetuar o pagamento de um valor diferente do avençado entre as
partes.

Em 08/11/2021, a Corré entrou em contato com a oficina para verificar a


possibilidade de parcelamento do valor, para que fosse então efetuado o pagamento do
valor devido e o veículo liberado. No entanto, foi informada pela Sra. Juliana que para
parcelamento do valor seria acrescido 15% + taxas sobre o valor total, o que tornou
inviável o pagamento já que o valor saltaria de R$ 5.200,00 (cinco mil e duzentos reais),
conforme orçamento aprovado somado ao valor de R$ 1.000,00 (hum mil reais),
referente ao reparo não autorizado, para o montante de R$ 7.406,00 (sete mil
quatrocentos e seis reais). (Documento 4).

Ao notificar a oficina que o valor a ser cobrado estava divergente do


valor aprovado, a Corré fez um acordo com a Sra. Juliana, representante da oficina, para
que fosse pago o valor de R$ 4.500,00 (quatro mil e quinhentos reais), que seria
parcelado através do cartão de crédito, quando enviado pela oficina o link de
pagamento. No entanto, quando do envio do link ele apresentava erro o que
impossibilitou a efetivação do pagamento, conforme comprova-se através do
Documento 5.

II – TEMPESTIVIDADE

Nos termos do Artigo 335 do CPC, considerando que a intimação para


responder a presente ação ocorreu em 01/06/2022, conforme A.R. juntado aos autos,
tem-se por tempestiva a presente contestação, devendo ser acolhida.

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Cabe destacar que conforme publicado no Diário da Justiça Eletrônico
houve suspensão de prazos notificado através do Comunicado Conjunto nº 321/2022
(Processo nº 2021/63346) do dia 08/06/2022 ao dia 15/06/2022, conforme Documentos
6 e 7.

III- DAS PRELIMINARES

1. DA ILEGITIMIDADE PASSIVA

A legitimidade de parte ou legitimidade para a causa se refere ao


aspecto subjetivo da relação jurídica processual, ou seja, trata-se do pólo ativo e
passivo da ação.

O Código de Processo Civil, no artigo 17, dispõe que “Para postular


em juízo é necessário ter interesse e legitimidade.” A relação jurídica processual deve
ser composta pelas mesmas partes que compõem a relação jurídica de direito material
que originou a lide. Sendo assim, autor e réu devem ter uma relação jurídica de direito
material que os una para que sejam partes legítimas para integrarem a relação jurídica
processual.

Entende-se, que afirmar que alguém não é parte legítima, significa dizer
que ou o autor não tem a pretensão de direito material que deduz em juízo ou que o
réu não integra a relação jurídica de direito material invocada pelo autor como
supedâneo da sua pretensão.

No caso dos autos, a autora ingressou com a presente ação contra a Ré


DELFINA MARIANA MONTEIRO GONÇALVES, atribuindo a este a
responsabilidade pelo pagamento da quantia de R$ 5.200,00 (cinco mil e duzentos
reais), a título de dano material, decorrente do conserto do veículo Spacefox.

Todavia, Excelência, a Ré Delfina não é parte legítima para figurar o


pólo passivo da demanda. Isso porque, conforme afirmado pela própria autora, o
veículo foi enviado para oficina pela Sra. Cristiane de Lima Monteiro Gonçalves, que
detinha a posse do veículo. Portanto, o veículo não é mais de propriedade da Ré,

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uma vez que perfectibilizada a TRADIÇÃO, que é a forma de transferência de
propriedade e posse de bens móveis, nos termos do artigo 1.267, do Código Civil.

Cabe esclarecer que o veículo pertencia ao filho da Ré Delfina Mariana


Monteiro Gonçalves, que por sua vez era casado com a Corré Cristiane. No entanto,
na ocasião do divórcio do casal, o veículo ficou em posse dessa.

Não se vislumbra nenhum inadimplemento por parte da Sra. Delfina


Mariana Monteiro Gonçalves, mas sim pela Sra. Cristiane de Lima Monteiro
Gonçalves novo proprietário e possuidor do veículo. Tanto isso é verdade que a autora
afirma na exordial que, o contrato firmado para conserto do veículo e todas as
negociações foram realizadas com a Sra. Cristiane, não possuindo a Sra. Delfina mais
nenhuma responsabilidade com relação ao veículo.

Dessa forma, Excelência, é inconteste que a Ré Delfina Mariana


Monteiro Gonçalves É PARTE ILEGÍTIMA para figurar o pólo passivo da ação.

Em atenção ao contido no artigo 339, caput, do Código de Processo


Civil, a Ré indica que o verdadeiro sujeito passivo da relação jurídica noticiada
é Cristiane de Lima Monteiro Gonçalves, já qualificada nos autos.

Pelo exposto, requer o ACOLHIMENTO DA PRELIMINAR DE


ILEGITIMIDADE PASSIVA, com fulcro no artigo 337, XI, do Código de Processo
Civil, excluindo a Ré Delfina Mariana Monteiro Gonçalves do polo passivo da
ação.

2. DA NULIDADE DE CITAÇÃO

Conforme previsão do artigo 238, do Código de Processo Civil, a


citação é o ato pelo qual são convocados o réu, o executado ou o interessado para
integrar a relação processual, indispensável para a validade do processo. No mesmo
sentido é a doutrina de Marinoni, Arenhardt e Mitidiero[1]:

“A citação é indispensável para a validade do processo e


representa uma condição para concessão da tutela jurisdicional,
ressalvadas as hipóteses em que o processo é extinto sem afetação
negativa da esfera jurídica do demandado (indeferimento da
petição inicial e improcedência liminar). Não se trata de requisito
de existência do processo. O processo existe sem a citação:

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apenas não é válido, acaso desenvolva-se em prejuízo do réu sem
a sua participação”.

Ainda, o artigo 242, do Código de Processo Civil, dispõe que A


CITAÇÃO SERÁ PESSOAL, podendo, no entanto, ser feita na pessoa do
representante legal ou do procurador do réu, do executado ou do interessado. Trata-se
de matéria de ordem pública, que pode ser alegada em qualquer fase de jurisdição, não
ocorrendo a preclusão, conforme leciona Arruda Alvim [2] ao tecer comentários sobre
o tema:
O processo sem citação (ou com citação nula somada à
revelia), é juridicamente inexistente em relação ao réu,
enquanto situação jurídica apta a produzir ou gerar
sentença de mérito (salvo os casos de improcedência liminar
do pedido – art. 332 do CPC/2015). Antes a essencialidade
da citação para o desenvolvimento do processo, não há
preclusão para a arguição da sua falta ou de sua nulidade,
desde que o processo tenha corrido à revelia. Pode tal vício
ser alegado inclusive em impugnação ao cumprimento da
sentença proferida no processo viciado, ou até mesmo por
simples petição, ou, se houver interesse jurídico, em ação
própria (ação declaratória de inexistência).

No caso dos autos, verifica-se a NULIDADE DA CITAÇÃO da Corré,


tendo em vista que, conforme o aviso de recebimento acostado na fl. 30 dos autos,
ele FOI ASSINADO POR PESSOA DIVERSA, em dissonância a previsão do
artigo 242, do Código de Processo Civil.

Vale ressaltar que conforme conversa via WhatsApp com a oficina


mecânica (Documento 8) a Corré, Cristiane, informou seu endereço para fins de
cadastro e que, portanto, a empresa autora tinha conhecimento do local a ser
informado para que a Corré tivesse conhecimento da demanda, vez que o endereço
informado é residência da ex-sogra a qual não tem qualquer tipo de relacionamento.

Dessa forma, requer o RECONHECIMENTO DA NULIDADE DA


CITAÇÃO, nos termos do artigo 337, I, do Código de Processo Civil, devendo os
autos retornarem ao cômputo do prazo para oferecimento de contestação, tornando
sem efeito todos os atos posteriores.

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III- DOS DANOS MATERIAIS

Narra o Autor que teria sofrido inúmeros prejuízos com o alegado, visto
que o veículo não foi retirado da oficina. Ocorre que tal pedido não merece prosperar
por inúmeros motivos.

O Autor argumenta tratar-se de responsabilidade da Ré e Corré os danos


relatados, quando na verdade trata-se de um fato ocorrido exclusivamente causado pela
oficina que realizou serviços sem a expressa autorização do cliente.

Portanto, manifestamente improcedentes os pedidos ventilados na inicial


por tratar-se de responsabilidade exclusiva do Autor da ação a ocorrência dos referidos
prejuízos.

Nesse sentido são os precedentes sobre o tema:

ACIDENTE DE TRÂNSITO - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR


DANOS MATERIAIS - IMPROCEDÊNCIA - ALEGAÇÃO DE
NULIDADE DA SENTENÇA POR CONTRADIÇÃO LÓGICA -
INADMISSIBILIDADE - RESPONSABILIDADE DO AUTOR
PELO ACIDENTE QUE RESTOU EVIDENTE NOS AUTOS -
VEÍCULO CONDUZIDO PELO REQUERENTE QUE
EFETUOU MANOBRA DE CONVERSÃO EM MÃO DE
DIREÇÃO CONTRÁRIA, CAUSANDO O ABALROAMENTO
COM O VEÍCULO DO RÉU - SENTENÇA MANTIDA. Apelação
improvida. (TJSP; Apelação Cível 1000696-91.2015.8.26.0584;
Relator (a): Jayme Queiroz Lopes; Órgão Julgador: 36ª Câmara
de Direito Privado; Foro de São Pedro - 2ª Vara; Data do
Julgamento: 18/12/2018; Data de Registro: 18/12/2018)
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Portanto, tratando-se de sua exclusiva responsabilidade, não há que se


pleitear qualquer indenização, por manifestamente incabível.

IV - DO MÉRITO

Ressalte-se que a relação jurídica estabelecida entre as partes é de


consumo, impondo-se sua análise dentro do microssistema protetivo instituído pela
Lei nº 8.078/90, sobretudo quanto à vulnerabilidade material e hipossuficiência
processual do consumidor. Somada a verossimilhança das alegações trazidas pelo
autor, principalmente pelos documentos juntados, não sobrevém maiores incertezas
quanto à inversão do ônus da prova, nos termos do art. 6º, VIII, do Código de Defesa
do Consumidor.

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Ainda bem evidenciada é a prática comercial abusiva por parte da
empresa autora, violando o art. 39, inciso VI, do CDC, pela cobrança de serviços sem
clara anuência e ciência do consumidor, pois o dispositivo prevê que é dever do
estabelecimento informar ao potencial comercial todas as informações acerca da
venda do serviço prestado e produtos, de forma que o cliente compreenda os custos.
Senão, vejamos:

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:


III - a informação adequada e clara sobre os diferentes
produtos e serviços, com especificação correta de
quantidade, características, composição, qualidade, tributos
incidentes e preço, bem como sobre os riscos que
apresentem;

Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços,


dentre outras práticas abusivas:
VI - executar serviços sem a prévia elaboração de
orçamento e autorização expressa do consumidor,
ressalvadas as decorrentes de práticas anteriores entre as
partes;

Art. 40. O fornecedor de serviço será obrigado a entregar ao


consumidor orçamento prévio discriminando o valor da
mão-de-obra, dos materiais e equipamentos a serem
empregados, as condições de pagamento, bem como as datas
de início e término dos serviços.

A análise da conversa entre a Corré e a Autora juntada aos autos,


inclusive o orçamento autorizado, aliada às regras legais aplicáveis, permitem concluir
que, de fato, foram executados serviços não autorizados, muito além do valor do
pedido inicial do cliente.

A ausência de autorização do cliente e sua clara discordância com a


postura da empresa, uma vez que tentou, inclusive, resolver administrativamente tal
situação na empresa, permitem reconhecer a falha de prestação de serviço.

Ao agir sem prévia autorização consciente do cliente, a autora assumiu


o risco e, pela natureza dos serviços, já incorporados ao veículo, impõe-se a cobrança

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do valor informado no orçamento inicial, devendo assim ser excluída a cobrança do
serviço executado sem a autorização do cliente.

Desta forma, resta provado que a Corré não deu causa ao prejuízo
alegado e que não existe nenhum indício de Perdas e Danos, visto que a empresa
autora além de realizar serviço sem autorização não mostrou interesse em negociar os
valores em aberto para que o veículo fosse retirado da oficina.

Diante do exposto, requer a TOTAL IMPROCEDÊNCIA dos pedidos


declinados na ação.

V- DOS PEDIDOS

Diante de todo o exposto, em sede de CONTESTAÇÃO, requer:

I- Preliminarmente, seja reconhecida a ilegitimidade passiva da Ré


DELFINA MARIANA MONTEIRO GONÇALVES, com
extinção do feito em relação a ela, sem resolução do mérito com
base no artigo 485, VI, do CPC;

II- Preliminarmente, seja reconhecida a nulidade de citação em


relação a Ré CRISTIANE DE LIMA MONTEIRO
GONÇALVES, com retorno do processo ao cômputo do prazo
para defesa tornando sem efeito, todos os atos posteriores.

III- A TOTAL IMPROCEDÊNCIA da presente demanda, com a


condenação do Autor ao pagamento de honorários advocatícios
nos parâmetros previstos no art. 85, §2º do CPC;

IV- Provar o alegado por todos os meios de prova previstos em lei,


especialmente pelos documentos ora juntados aos autos.

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Nestes termos, pede deferimento.

São Paulo, 23 de junho de 2022.

CRISTIANE DE LIMA MONTEIRO GONÇALVES


OAB/SP: 384.117

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