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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA $

{informacao_generica} VARA FEDERAL DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE


 
${cliente_nomecompleto}, já devidamente qualificado nos autos do presente processo, vem
respeitosamente perante Vossa Excelência, por meio de seus procuradores, dizer e requerer o que
segue:
 
Em face da cessação do benefício de auxílio-doença (vide comunicado de decisão – evento $
{informacao_generica}), o Requerente ajuizou a presente ação, postulando a reversão da decisão
administrativa na esfera judicial. Ao longo da instrução processual foi realizada a perícia judicial,
laudo de evento 16 do feito.
A avaliação médica elaborada pelo Dr. ${informacao_generica} alegou que o Autor não possui
patologias que provoquem a incapacidade para o labor.
O Perito evidenciou que a Demandante apresenta Cegueira em um olho (CID10: H54.4) e
Cicatrizes coriorretinianas (CID10: H31.0), e que tais patologias não são incapacitantes para o
trabalho.
Contudo, em que pese o parecer do Perito ter verificado a inexistência da incapacidade para o labor
em face das patologias acima citadas, observa-se que o Demandante exerce a função de $
{informacao_generica}, realizando atividades que exigem a plena acuidade visual, sob pena de
execução insatisfatória dos objetivos laborais.
Nesse sentido, embora o Autor não esteja incapacitada ao labor por não possuir a cegueira legal,
questiona-se se em virtude da função que exerce as patologias são passíveis de incapacitá-la ao
labor. Ademais, questiona-se de igual forma se as patologias apresentadas pelo Demandante não
seriam passíveis de interferir na igualdade de condições laborativas perante outras empregadas da
mesma atividade.
Diante disto, no âmbito do procedimento de realização das perícias, DEVE o profissional da
medicina observar os ditames do Código de Ética da categoria e especialmente em relação ao caso
em tela, a Resolução nº 2.183/2018 do Conselho Federal de Medicina, que dispõe sobre as normas
específicas de atendimento aos trabalhadores.
A aludida norma prevê que:
 
Art. 2ºPara o estabelecimento do nexo causal entre os transtornos de saúde e as atividades do
trabalhador, além da anamnese, do exame clínico (físico e mental), de relatórios e dos exames
complementares, é dever do médico considerar:
I - a história clínica e ocupacional atual e pregressa, decisiva em qualquer diagnóstico e/ou
investigação de nexo causal;
II - o estudo do local de trabalho;
III - o estudo da organização do trabalho;
IV - os dados epidemiológicos;
V - a literatura científica;
VI - a ocorrência de quadro clínico ou subclínico em trabalhadores expostos a riscos semelhantes;
VII - a identificação de riscos físicos, químicos, biológicos, mecânicos, estressantes e outros;
VIII - o depoimento e a experiência dos trabalhadores;
IX - os conhecimentos e as práticas de outras disciplinas e de seus profissionais, sejam ou não da
área da saúde.
Parágrafo único. Ao médico assistente é vedado determinar nexo causal entre doença e trabalho sem
observar o contido neste artigo e seus incisos.
 
 
Art. 13. São atribuições e deveres do médico perito judicial e assistentes técnicos:
I - examinar clinicamente o trabalhador e solicitar os exames complementares, se necessários;
II - o médico perito judicial e assistentes técnicos, ao vistoriarem o local de trabalho, devem fazer-
se acompanhar, se possível, pelo próprio trabalhador que está sendo objeto da perícia, para melhor
conhecimento do seu ambiente de trabalho e função;
III - estabelecer o nexo causal, considerando o exposto no artigo 2º e incisos (redação aprovada pela
Resolução CFM nº 1.940/2010) e tal como determina a Lei nº 12.842/2013, ato privativo do
médico.
Logo, para uma correta elucidação da (in)capacidade laborativa do Autor, deve ser analisado o local
de trabalho da mesma, tendo em vista que as diferentes patologias apresentadas por determinado
paciente podem ser incapacitantes para determinado labor, ainda que não diminuam a capacidade
para outra atividade. Nessa perspectiva, não é crível que um perito possa, sem sombra de
dúvidas, avaliar a relação de causalidade com o labor sem saber exatamente de que forma a
atividade laboral era cumprida.
Outrossim, a jurisprudência do TRF-4 entende que a visão monocular é fator incapacitante para o
trabalho, veja-se:
 
EMENTA: PREVIDENCIÁRIO. BENEFÍCIO ASSISTENCIAL. PORTADOR DE
DEFICIÊNCIA. VISÃO MONOCULAR. ART. 20, §2º, DA LEI 8.742/93. PEDREIRO E
AGRICULTOR. IDADE AVANÇADA. RESTRIÇÕES DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL.
INCAPACIDADE. 1. O direito ao benefício assistencial pressupõe que o beneficiário seja pessoa
portadora de deficiência (impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou
sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e
efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas), ou idosa, em situação de
risco social (ausência de meios para, dignamente, prover a própria manutenção ou de tê-la provida
por sua família). 2. A visão monocular, decorrente da evisceração de órgão, pode ser fato suficiente
ao reconhecimento da impossibilidade da reinserção social, quando as circunstâncias que envolvem
a vida da pessoa revelam que não mais será possível desempenhar, em igualdade de condições
relativas a outras pessoas, alguma atividade profissional a que poderia estar efetivamente habilitada.
3. O fato de o requerente apresentar visão monocular, ter trabalhado ao longo de toda a vida como
pedreiro e na atividade agrícola (com o manuseio de cal, máquinas, instrumentos cortantes e
algumas tarefas exercidas acima do solo) e contando já mais de 60 anos, faz depreender que não
está capacitado para prosseguir trabalhando, à míngua de amparo, à conta do inerente risco
físico que decorre da minoração da capacidade visual. (TRF4, EINF 0024849-
72.2014.404.9999, TERCEIRA SEÇÃO, Relator OSNI CARDOSO FILHO, D.E. 21/01/2016)
 
EMENTA: PREVIDENCIÁRIO. AUXÍLIO-ACIDENTE. VISÃO MONOCULAR.
CONSECTÁRIOS. IMPLANTAÇÃO DO BENEFÍCIO. 1. Comprovada a diminuição da
capacidade laboral decorrente da existência de lesões consolidadas ocasionadas por acidente de
qualquer natureza, é devido o auxílio-acidente. 2. Hipótese em que a perda da visão de um dos
olhos importa redução da capacidade laborativa. Precedentes. 3. Correção monetária desde o
vencimento de cada prestação, pelo INPC até junho de 2009 e pela TR a partir de julho de 2009. 4.
Juros desde a citação, incidentes à taxa de um por cento ao mês até junho de 2009 e, após, pelos
mesmo índices aplicados à caderneta de poupança. 5. Honorários de advogado fixados em dez por
cento do valor das parcelas vencidas até a data do acórdão. Súmula 76 deste Regional. 6. O INSS é
isento do pagamento de custas no Foro Federal (inc. I do art. 4º da L 9.289/1996). 7. Ordem para
implantação do benefício. Precedentes.   (TRF4, AC 5043551-79.2013.404.7100, QUINTA
TURMA, Relator p/ Acórdão MARCELO DE NARDI, juntado aos autos em 02/12/2015)
 
EMENTA: PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR INVALIDEZ. CONCESSÃO
ADMINISTRATIVA SUPERVENIENTE. INTERESSE DE AGIR. SUBSISTÊNCIA.
INCAPACIDADE LABORAL. TERMO INICIAL. CORREÇÃO MONETÁRIA E JUROS DE
MORA. 1. Subsiste o interesse de agir da parte, que obteve a concessão administrativa de auxílio-
doença e consequente conversão à aposentadoria por invalidez, com termo inicial posterior ao que
fora veiculado no pedido deduzido em juízo. 2. Tratando-se de auxílio-doença ou aposentadoria por
invalidez, o julgador firma sua convicção, via de regra, por meio da prova pericial.  3. Considerando
as conclusões do perito judicial, no sentido de que a parte autora, portadora de cegueira no olho
direito e visão subnormal do olho esquerdo (CID H541), está total e definitivamente
incapacitada para o exercício de suas atividades laborais, é devido o benefício de
aposentadoria por invalidez. 4. Havendo o conjunto probatório apontado a existência da
incapacidade laboral quando do requerimento administrativo, o benefício é devido desde então. 5. O
Supremo Tribunal Federal reconheceu repercussão geral à questão da constitucionalidade do uso da
Taxa Referencial (TR) e dos juros da caderneta de poupança para o cálculo da correção monetária e
dos ônus de mora nas dívidas da Fazenda Pública, e vem determinando, por meio de sucessivas
reclamações, e até que sobrevenha decisão específica, a manutenção da aplicação da Lei nº
11.960/2009 para este fim, ressalvando apenas os débitos já inscritos em precatório, cuja
atualização deverá observar o decidido nas ADIs 4.357 e 4.425 e respectiva modulação de efeitos.
Com o propósito de manter coerência com as recentes decisões, deverão ser adotados, no presente
momento, os critérios de atualização e de juros estabelecidos no art. 1º-F da Lei nº 9.494/1997, na
redação dada pela Lei nº 11.960/2009, sem prejuízo de que se observe, quando da liquidação, o que
vier a ser decidido, com efeitos expansivos, pelo Supremo Tribunal Federal. (TRF4, APELREEX
0009774-56.2015.404.9999, SEXTA TURMA, Relator OSNI CARDOSO FILHO, D.E.
23/09/2015)
 
EMENTA: PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR INVALIDEZ. REQUISITOS.
QUALIDADE DE SEGURADO. PERÍODO DE CARÊNCIA. INCAPACIDADE. LAUDO
PERICIAL. TUTELA ESPECÍFICA. IMPLANTAÇÃO DO BENEFÍCIO. CONSECTÁRIOS
LEGAIS. 1. São três os requisitos para a concessão dos benefícios por incapacidade: a) a qualidade
de segurado; b) o cumprimento do período de carência de 12 contribuições mensais; c) a
incapacidade para o trabalho, de caráter permanente (aposentadoria por invalidez) ou temporária
(auxílio-doença). 2. A concessão dos benefícios de auxílio-doença e aposentadoria por invalidez
pressupõe a averiguação da incapacidade para o exercício de atividade que garanta a subsistência do
segurado, e terá vigência enquanto permanecer ele nessa condição. 3. A incapacidade é verificada
mediante exame médico-pericial a cargo da Previdência Social ou realizado por perito nomeado
pelo juízo; o julgador, via de regra, firma sua convicção com base no laudo do expert, embora não
esteja jungido à sua literalidade, sendo-lhe facultada ampla e livre avaliação da prova. 4. No caso
dos autos, o laudo pericial indicou que a parte autora possui cegueira no olho direito, razão pela
qual é devida a concessão do benefício. 5. Termo inicial do benefício na data do requerimento
administrativo, uma vez evidenciado nos autos que a incapacidade já estava presente àquela data. 6.
Declarada, pelo Supremo Tribunal Federal, a inconstitucionalidade do art. 1º-F da Lei nº 9.494/97,
com a redação dada pela Lei nº 11.960/2009, os consectários legais comportam a incidência de
juros de 1% desde a citação e correção monetária pelo INPC e demais índices oficiais consagrados
pela jurisprudência. 7. Havendo o feito tramitado perante a Justiça Estadual do Rio Grande do Sul, 
o INSS está isento do pagamento de custas, consoante o disposto no art. 11 da Lei Estadual n.
8.121/85, na redação dada pela Lei n. 13.471, de 23 de junho de 2010. 8. O cumprimento imediato
da tutela específica (ou seja, a de concessão do benefício), diversamente do que ocorre no tocante à
antecipação de tutela prevista no art. 273 do CPC, independe de requerimento expresso por parte do
segurado ou beneficiário e o seu deferimento sustenta-se na eficácia mandamental dos provimentos
fundados no art. 461 do CPC. 9. A determinação de implantação imediata do benefício, com
fundamento nos artigos 461 e 475-I, caput, do CPC, não configura violação dos artigos 128 e 475-
O, I, do CPC e 37 da Constituição Federal.   (TRF4, APELREEX 0020339-84.2012.404.9999,
QUINTA TURMA, Relator LUIZ CARLOS DE CASTRO LUGON, D.E. 04/10/2013) (grifos
nossos).
Logo, como se depreende do entendimento do TRF-4 e dos Peritos que atuaram nos casos
supracitados, a visão monocular é suscetível de causar a incapacidade laboral.
Assim, pelo narrado, REQUER seja vistoriado o local de trabalho do Autor pelo Douto Perito, a
fim de que seja analisada a questão do ambiente de trabalho com as patologias apresentadas pelo
Demandante. Ademais, requer a Parte Autora que a Perita venha a informar se existe ou não
incapacidade laborativa da Autora tendo em conta o seu ambiente laboral e a esclarecer se existe a
paridade de condições na disputa por vagas de emprego no mercado de trabalho em relação a outras
trabalhadoras que atuem na mesma área.
Nesses Termos;
Pede Deferimento.
, 29 de março de 2023.

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