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EXMO(A). SR(A).

DR(A). JUIZ(A) DA 2ª a VARA DO TRABALHO


RIO DE JANEIRO
PROCESSO N° 0000112-20.2022.5.01.0000
MARIA SANTOS , já qualificado nos autos de RECLAMAÇÃO TRABALHISTA que
promove em face de TOP BRASIL LTDA, não se conformando em parte com a
sentença de fl., vem, tempestivamente, à presença de Vossa Excelência, por sua
procuradora constituída, apresentar RECURSO ORDINÁRIO , pelas razões anexas à
presente.
Após o cumprimento das formalidades legais, requer a remessa dos autos à
superior instância.
Nesses termos,
Pede Deferimento.
Rio de Janeiro
pp. DRA. Nome
00.000 OAB/RJ
EGRÉGIA TURMA!
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 4a REGIÃO
MMOS. JULGADORES:
RECURSO ORDINÁRIO
Recorrente: MARIA SANTOS
Recorrida: TOP BRASIL LTA
PROCESSO N° 000112-20.5.01.0000
Não se conformando com a respeitável sentença de fls., quer, da mesma recorrer
para esse Egrégio Colegiado, pelos seguimentos fundamentos fáticos e jurídicos:

I - DOS FATOS

A recorrente alegou na inicial que foi demitida sem justa causa em abril de 2019,
logo após a empresa tomar conhecimento de que ela estava com suspeita de
câncer. No mês seguinte, com a realização de exame histopatológico, a
trabalhadora narrou que houve a confirmação do tumor maligno no fígado.
Requereu a reintegração aos quadros da empresa, com o restabelecimento do
plano de saúde. Bem com indenização por danos morais e materiais.
Resta evidenciado que, no ato da dispensa da autora, ela já estava com câncer de
fígado, o que configura ato discriminatório, merecendo reforma a sentença, neste
particular, para considerar-se que a dispensa, além de abusiva, foi discriminatória.

II - DA DECISÃO RECORRIDA
Diz a decisão recorrida

No primeiro grau, os pedidos da empregada foram julgados improcedentes.


Segundo o entendimento do juízo, o exame médico que diagnosticou a doença
alegada foi realizado após a dispensa, razão pela qual, quando da resilição do
contrato de trabalho, a empregada estava plenamente apta a ser demitida
Em sua defesa, a empresa alegou que, ao proceder à demissão da funcionária, não
tinha conhecimento da existência do câncer. Aduziu que o exame que confirmou a
doença foi realizado um mês e meio após a dispensa sem justa causa. Por fim,
reiterou que não houve irregularidade na demissão, uma vez que a empregada
estava apta para o exercício profissional conforme consta no exame demissional.
Assim, reconheço que não houve ato discriminatório na despedida havida, razão
pela qual tenho por legal a resilição contratual efetuada. Em razão disso, não há
falar em nulidade da despedida ou pagamento dos salários e demais verbas, de
forma dobrada, desde a despedida.
Merece reforma a sentença.
III - DAS RAZÕES RECURSAIS
a) Da dispensa arbitráriah
Veja-se, Excelências, ouve documental clara e evidente de que a funcionária já se
encontrava doente quando foi demitida, e que este fato foi comunicado ao
empregador. Ademais, asseverou que a neoplasia maligna (câncer) é uma doença
grave que exige tratamento prolongado e muitas vezes é associada a estigmas que
tendem a justificar uma ação excludente ou discriminatória.
Resta evidenciado que, no ato da dispensa da autora, ela já estava com câncer de
fígado, o que configura ato discriminatório, merecendo reforma a sentença, neste
particular, para considerar-se que a dispensa, além de abusiva, foi discriminatória.
A recorrente sempre foi exemplar funcionária, não tendo nada em seu desabono,
inexistindo qualquer justificativa para que a reclamada o tenha dispensado
durante o tratamento do câncer.
Não bastasse, o recorrente postulou na demanda a reintegração ao trabalho, o que
sequer foi cogitado pela empresa recorrida.
Inaceitável a conduta da recorrida que o dispensou de forma arbitrária num
momento muito difícil de sua vida.
Embora a demissão sem justa causa seja direito potestativo do empregador este
não pode ser utilizado para "descartar" o obreiro ao bel prazer patronal.
De acordo com o art. 1° da Lei n. 9.029/95, " Fica proibida a adoção de qualquer
prática discriminatória e limitativa para efeito de acesso a relação de emprego, ou
sua manutenção, por motivo de sexo, origem, raça, cor, estado civil, situação
familiar ou idade, ressalvadas, neste caso, as hipóteses de proteção ao menor
previstas no inciso XXXIII do art. 7° da Constituição Federal ".
A Constituição Federal consagra como direito do trabalhador a proteção contra a
despedida arbitrária:
Art. 7° São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua
condição social:
I - relação de emprego protegida contra despedida arbitrária ou sem justa causa, nos termos de lei
complementar, que preverá indenização compensatória, dentre outros direitos;

Em consonância com o dispositivo constitucional e com o princípio da dignidade


da pessoa humana, o TST editou a Súmula n. 443, in verbis:
"DISPENSA DISCRIMINATÓRIA. PRESUNÇÃO. EMPREGADO PORTADOR DE DOENÇA GRAVE. ESTIGMA OU
PRECONCEITO. DIREITO À REINTEGRAÇÃO - Res. 185/2012, DEJT divulgado em 25, 26 e 27.09.2012.
Presume-se discriminatória a despedida de empregado portador do vírus HIV ou de outra doença grave
que suscite estigma ou preconceito. Inválido o ato, o empregado tem direito à reintegração no emprego
."

Assim, considerando que a dispensa da autora ocorreu durante o tratamento do


câncer de fígado, resta evidente a dispensa discriminatória.
No que tange ao ônus da prova, nas hipóteses elencadas na Súmula 443 do TST,
este é do empregador.
A neoplasia maligna é doença grave comumente associada a estigmas. Cabe
salientar que a jurisprudência dominante do TST adota o entendimento sustentado
pelo recorrente, vide os julgados:
" RECURSO DE REVISTA DO AGRAVO DE INTRUMENTO PROVIDO. DISPENSA DISCRIMINATÓRIA DO
EMPREGO APÓS TRATAMENTO DE CÂNCER. PRESUNÇÃO HOMINIS. REINTEGRAÇÃO NO EMPREGO.
SÚMULA N° 443 DO TST . A controvérsia cinge-se em saber se a dispensa sem justa causa, enquanto a
obreira se encontrava em tratamento de doença grave neoplasia, configura, por si só, dispensa
discriminatória. Nos termos da

Súmula n° 443 do TST, a jurisprudência prevalecente nesta Corte superior,


estabeleceu uma presunção juris tantum acerca da discriminação de dispensa do
emprego em razão de doença grave, in verbis: „ DISPENSA DISCRIMINATÓRIA.
PRESUNÇÃO. EMPREGADO PORTADOR DE DOENÇA GRAVE. ESTIGMA OU
PRECONCEITO. DIREITO À REINTEGRAÇÃO . Presume-se discriminatória a
despedida de empregado portador do vírus HIV ou de outra doença grave que
suscite estigma ou preconceito. Inválido o ato, o empregado tem direito à
reintegração no emprego". O que se extrai do teor do verbete sumular é que,
nesses casos nele previstos, deve ser invertido o ônus da prova, que, naturalmente
seria do empregado, em detrimento do empregador. Caberia, portanto, ao
empregador provar, de forma robusta, que dispensou a reclamante, portadora de
doença grave, por algum motivo plausível, razoável e socialmente justificável, de
modo que afastasse o caráter discriminatório da rescisão contratual, o que não
ocorreu no caso dos autos. Recurso de revista conhecido e provido." (RR-1965-
17.2010.5.04.0231, Relator Ministro: José Roberto Freire Pimenta, Data de
Julgamento: 25/10/2016, 2a Turma, Data de Publicação: DEJT 28/10/2016);
" AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA. ACÓRDÃO REGIONAL
PUBLICADO NA VIGÊNCIA DA LEI 13.015/2014. REINTEGRAÇÃO. INDENIZAÇÃO
POR DANO MORAL. DISPENSA DE EMPREGADO LOGO APÓS O DIAGNÓSTICO DE
NEOPLASIA MALIGNA. I. O Tribunal Regional registrou que „a acionada deixou de
impugnar o teor dos documentos trazidos com a inicial, notadamente os atestados
médicos constantes do Id c154289 - p. 1, no qual noticia que o trabalhador é
portador de „neoplasia da próstata, com diagnóstico confirmado em 17/09/2013",
e também não se opôs à alegação de malignidade clínica mencionada pelo autor, o
que torna incontroversa a afirmação inicial de que o recorrente recebeu o
diagnóstico médico de câncer de próstata apenas quatorze dias antes da dispensa
imotivada. Aplica-se, na pior das hipóteses, o previsto no art. 302 do Estatuto
Processual Civil". II. A Súmula 443 do TST não restringe as hipóteses de dispensa
discriminatória aos casos ali mencionados, portanto o Tribunal Regional está
autorizado a analisar as circunstâncias da dispensa para verificar ou não a
ocorrência de discriminação. III. A Corte Regional registrou também que "mesmo
sabendo que estava com uma cirurgia da próstata agendada foi demitido e teve o
cartão da
Plano de saúde cancelado, podendo ter sérias consequências para a saúde da
mesmo. Como se vê, não há dúvida de que a empresa tomou conhecimento da
doença grave de que é padecedor o autor antes de efetivada a homologação formal
da rescisão contratual, podendo, inclusive, reconsiderar o ato de desligamento, por
aplicação do art. 489 da CLT.". IV. O quadro fático definido pelo Tribunal Regional
não autoriza o afastamento da conclusão de que a dispensa fora discriminatória. V.
Não tendo sido demonstrada nenhuma das hipóteses previstas no art. 896 da CLT,
é inviável o processamento do recurso de revista. Agravo de instrumento de que se
conhece e a que se nega provimento." (AIRR- 25020-45.2014.5.24.0022, Relatora
Desembargadora Convocada: Cilene Ferreira Amaro Santos, Data de Julgamento:
31/08/2016, 4a Turma, Data de Publicação: DEJT 02/09/2016);
"I - AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA. PROCESSO
ELETRÔNICO - EMPREGADA PORTADORA DE DOENÇA GRAVE. NEOPLASIA
MALIGNA. PRESUNÇÃO DE DISPENSA DISCRIMINATÓRIA . Constatada possível
violação do artigo 818 da CLT, merece provimento o Agravo de Instrumento para
determinar o processamento do Recurso de Revista . II - RECURSO DE REVISTA.
PROCESSO ELETRÔNICO - EMPREGADA PORTADORA DE DOENÇA GRAVE.
NEOPLASIA MALIGNA. PRESUNÇÃO DE DISPENSA DISCRIMINATÓRIA .
Enquadrando-se a doença que acomete a Autora na circunstância narrada na
Súmula 443 do TST (neoplasia maligna - câncer) e sendo incontroversa a ciência da
empresa no que diz respeito a esta condição, cabia a Reclamada provar que a
dispensa da trabalhadora teve motivação diversa daquela alegada (dispensa
discriminatória). Recurso de revista conhecido e provido." (RR- 444600-
58.2009.5.09.0872 , Relator Ministro: Márcio Eurico Vitral Amaro, Data de
Julgamento: 15/04/2015, 8a Turma, Data de Publicação: DEJT 17/04/2015);
" RECURSO DE REVISTA. DISPENSA DISCRIMINATÓRIA. PRESUNÇÃO. DOENÇA
GRAVE. ESTIGMA OU PRECONCEITO. NEOPLASIA MALIGNA. DIREITO À
REINTEGRAÇÃO 1. O Tribunal Superior do Trabalho, à luz dos princípios da
dignidade da pessoa humana (CF, art. 1°, III), do valor social do trabalho (CF, art.
1°, IV), da não discriminação (CF, art. 3°, IV e Convenção n° 111 da OIT), bem como
dos princípios que dimanam da Recomendação n° 200 da OIT, editou a Súmula n°
443, que presume discriminatória a dispensa de empregado portador doença
grave e estigmatizante. 2. Segundo a atual e iterativa jurisprudência do Tribunal
Superior do Trabalho, na hipótese de empregado acometido por neoplasia maligna
(câncer), incide a diretriz perfilhada na Súmula n° 443 do TST, por tratar-se de
doença grave e estigmatizante. 3. Recurso de revista interposto pela Reclamada de
que não se conhece. 4. Recurso de revista adesivo interposto pela Reclamante de
que não se conhece, com fulcro no art. 500, III, do CPC." (RR-3800-
16.2009.5.17.0004, Redator Ministro: João Oreste Dalazen, Data de Julgamento:
21/05/2014, 4a Turma, Data de Publicação: DEJT 12/09/2014).
No caso em tela, também não foram considerados valores como a função social da
empresa, a valorização do trabalho e a dignidade da pessoa humana, num contexto
em que a empregada dedicou de sua vida profissional à recorrida e, num momento
delicado, em que fora acometida de doença grave, foi dispensada imotivadamente
sem qualquer interesse da empregadora em realizar a reintegração.
Dessa forma, requer seja conhecido e provido o recurso para reconhecer a
dispensa discriminatória. Considerando que a recorrida não teve interesse na
reintegração, requer a condenação ao pagamento em dobro da remuneração
relativa ao período compreendido entre a data da dispensa até a decisão, tudo nos
termos do artigo 4° da Lei n° 9.029/95.
b) Do dano moral
A reclamante se viu privado do seu posto trabalho no momento mais delicado de
sua vida.
A perda do emprego causou enorme frustração a reclamante: perdeu seu posto de
trabalho a que estava habituado; perdeu seu salário que lhe garantia estabilidade
financeira; teve o plano de saúde cancelado e precisou adiar o inicio do tratamento.
O poder potestativo do empregador de rescindir unilateralmente o contrato de
trabalho encontra limites na hipótese de ato discriminatório, em observância aos
princípios constitucionais, como o da dignidade da pessoa humana e dos valores
sociais do trabalho (artigo 1°, III e IV). Também sendo a reclamante portador de
câncer, a demissão apresenta-se discriminatória, hábil a atrair a incidência das
disposições contidas na Lei n. 9.029/95.
A indenização por dano moral está prevista na Constituição Federal, art.5°, incisos
V e X. Da mesma forma, o art. 186 do CCB, in verbis : "Aquele que, por ação ou
omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a
outrem" .
No caso dos autos, a recorrida ao dispensar a recorrente, de forma discriminatória,
cometeu ato ilícito. O dano moral decorrente desse advento é in re ipsa,
dispensando a prova de sua ocorrência.
Do exposto, requer seja conhecido e provido o recurso para deferir o pagamento
de indenização por danos morais, em valor não inferior a R$ 15.000,00,
considerando a extensão do dano imaterial suportado pelo empregado, em razão
de ter sido dispensada no momento em que enfrentava graves problemas de saúde.
DO PEDIDO
Ante o exposto, requer seja conhecido e provido, na íntegra, o presente recurso
ordinário interposto, reformando-se a sentença de 1° Grau, conforme as exaustivas
razões recursais expostas pela recorrente, condenando-se a recorrida aos ônus de
sucumbência.
Nesses termos,
Pede Deferimento.
Rio de Janeiro.
pp. DRA. xxxxxxx
00.000 OAB/RJ

Aluna: Rejane Matos dos Santos – Matricula:


201902261763

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