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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DO JUÍZADO ESPECIAL FEDERAL

DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE JUAZEIRO - BA

PROCESSO N:

NOME DA PARTE, já qualificado nos autos do processo em epígrafe, vem, por meio
de seus advogados, infra-assinados, em razão do laudo pericial realizado, apresentar
nos termos do art. 436, IV do CPC:

IMPUGNAÇÃO AO LAUDO PERICIAL

Acerca do laudo pericial juntado, de ID 1989769686, pelos fatos e fundamentos que


passa a expor:

1. DA AVALIAÇÃO PERICIAL

O Autor é portador de Hipertensão e Hemiplegia, com os CIDs I11 e G81


respectivamente, doenças diagnosticadas desde o ano de 2010, e até então
impossibilita o Requerente de exercer o seu labor rural, necessitando de ajuda de
terceiros, para realizar as suas atividades cotidianas, principalmente de sua esposa,
que ajuda o Autor, e ainda realiza o mínimo das atividades rurais.
De imediato, a Dra. Perita não avaliou de forma adequada a doença apresentada nos
exames médicos e atestados, de modo que não compreendeu a gravidade da doença
que afeta o Requerente no seu labor diário e o coloca na lamúria de depender de
terceiros para ter o mínimo de dignidade, posto que NÃO POSSUI CAPACIDADE DE
REALIZAR NENHUMA PROFISSÃO.
Cabe destacar aqui, que diferente da avaliação realizada pelos médicos
especializados, conforme laudos em anexo, a perícia judicial encontrou algumas
conclusões incompatíveis com a realidade:
Denota-se, conforme se extrai do laudo pericial acostado aos autos, que a moléstia
do Requerente é aparente, posto que o Requerente possui monoplegia nas pernas e
nos braços, o que é decorrência de um AVC ISQUÉMICO, e a própria perita
reconhece a existência de doença, e que no MEMBRO SUPERIOR ESQUERDO TEM
FORÇA MUSCULAR REDUZIDA.
Excelência, o labor rural é árduo e requer plenitude física, de tal modo que o
trabalhador rural passa horas debaixo do sol e manuseando ferramentas que
necessitam da habilidade humana.
O Requerente vem sofrendo desde 2010 com as sequelas de um AVC, sendo auxiliado
por terceiros até os dias de hoje.
Ressalta-se ainda, que o trabalho braçal causa complicações no seu estado de saúde,
e no caso em tela, as sequelas da moléstia incapacita o Requerente de realizar
qualquer atividade laboral rural, de modo a colocar em risco a sua vida.
Equivocadamente, o laudo pericial afirmou não haver incapacidade laboral, mas
menciona corriqueiramente as sequelas do AVC.
Na própria documentação médica acostada aos autos, demonstra a incapacidade do
Requerente de trabalhar, de modo a depender da ajuda de terceiros.
Portanto, denota-se a incoerência com a realidade dos fatos, onde o Requerente tem
sua mobilidade reduzida e não pode exercer o labor rural.
Ora Excelência, a conclusão do perito se deve ao fato de uma análise superficial do
vasto material probatório juntado aos autos, onde a própria perita já destacou a
incapacidade do Requerente, bem como que a monoplegia do Autor causa a
DIMINUIÇÃO DA CAPACIDADE LABORAL.
Motivos que devem conduzir a conclusão de que há a INCAPACIDADE TOTAL E
PERMANENTE DO AUTOR, CONFORME LAUDO DE MÉDICO ESPECIALISTA JUNTADO
EM PEÇA VESTIBULAR.

2. DA NÃO VINCULAÇÃO DO JUÍZO AO LAUDO PERICIAL

O Código de Processo Civil trouxe expressamente sobre a desvinculação do


Magistrado ao teor conclusivo da perícia:
Art. 371. O juiz apreciará a prova constante dos autos, independentemente
do sujeito que a tiver promovido, e indicará na decisão as razões da
formação de seu convencimento.
[...]
Art. 479. O juiz apreciará a prova pericial de acordo com o disposto no art.
371, indicando na sentença os motivos que o levaram a considerar ou a
deixar de considerar as conclusões do laudo, levando em conta o método
utilizado pelo perito.
Trata-se de raciocínio adequado ao livre convencimento do Juiz, caso contrário
teríamos a inconcebível situação de termos processos julgados por peritos médicos.
Refere-se em conferir ao Magistrado a responsabilidade indelegável de realizar o
único juízo de valores e ponderações necessárias ao julgamento do processo,
conforme entendimento consolidado no Superior Tribunal de Justiça:
PROCESSUAL CIVIL E PREVIDENCIÁRIO. BENEFÍCIO POR INCAPACIDADE.
REVISÃO DO CONTEXTO FÁTICO-PROBATÓRIO. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA
7/STJ. NÃO VINCULAÇÃO DO JUIZ A LAUDO PERICIAL. LIVRE
CONVENCIMENTO. 1. O Tribunal a quo consignou que, ainda que o laudo
pericial tenha concluído pela aptidão laboral da parte autora, as provas dos
autos demonstram a efetiva incapacidade definitiva para o exercício da
atividade profissional (fl. 152, e-STJ). 2. Para modificar o entendimento
firmado no acórdão recorrido, seria necessário exceder as razões
colacionadas no acórdão vergastado, o que demanda incursão no contexto
fático-probatório dos autos, vedada em Recurso Especial, conforme Súmula 7
desta Corte: "A pretensão de simples reexame de prova não enseja Recurso
Especial". 3. Cabe ressaltar que, quanto à vinculação do Magistrado à
conclusão da perícia técnica, o STJ possui jurisprudência firme e consolidada
de que, com base no livre convencimento motivado, pode o juiz ir contra o
laudo pericial, se houver nos autos outras provas em sentido contrário que
deem sustentação à sua decisão. 4. Recurso Especial não conhecido. (STJ,
REsp 1651073/SC, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA,
julgado em 14/03/2017, DJe 20/04/2017).

Este posicionamento é reiterado pela jurisprudência, senão vejamos essas


provenientes do Tribunal Regional Federal da 3ª Região:

PREVIDENCIÁRIO. AUXÍLIO-DOENÇA. APOSENTADORIA POR INVALIDEZ.


INCAPACIDADE. TOTAL E PERMANENTE. REQUISITOS LEGAIS PREENCHIDOS.
FIXAÇÃO DO TERMO INICIAL DO BENEFÍCIO.
1. Os requisitos do benefício postulado são a incapacidade laboral, a
qualidade de segurado e a carência, esta fixada em 12 contribuições
mensais, nos termos do art. 25 e seguintes da Lei nº 8.213/1991. Deve ser
observado ainda, o estabelecido no art. 26, inciso II e art. 151, da Lei
8.213/1991, quanto aos casos que independem do cumprimento da carência;
bem como o disposto no parágrafo único, do art. 24, da Lei 8.213/1991. 2.
No caso dos autos, a perícia médica realizada em 13.09.2016 concluiu que a
parte autora padece de osteoatrose em joelho esquerdo (CID: M17.0),
encontrando-se, à época, incapacitada total e permanentemente para o
desempenho de atividade laborativa. Concluiu o perito que a incapacidade
teve início em janeiro de 2013 (ID 8605920). 3. Outrossim, o extrato do CNIS
acostado aos autos (ID 8605707), atesta a filiação da parte autora ao sistema
previdenciário, com último lançamento de contribuições nos períodos de
01.09.2009 a 31.07.2012, 01.09.2012 a 30.11.2013 e 01.01.2014 a
31.08.2014, de modo que, ao tempo da eclosão da enfermidade
incapacitante, a parte autora mantinha a qualidade de segurado. 4. A teor
do art. 101 da Lei nº 8.213/91, na redação dada pela Lei nº 9.032/95, é
obrigatório o comparecimento do segurado aos exames médicos periódicos,
sob pena de suspensão do benefício, assim como a submissão aos programas
de reabilitação profissional ou tratamentos prescritos e custeados pela
Previdência Social, ressalvadas as intervenções cirúrgicas e transfusões
sanguíneas, porque facultativas. É dever do INSS, portanto, conceder o
benefício de auxílio-doença à parte autora e submetê-la a processo de
reabilitação profissional, nos termos do referido artigo 62 da Lei nº 8.213/91,
mantendo o benefício enquanto a reabilitação não ocorra. O termo inicial do
benefício deve ser fixado a partir da data do requerimento administrativo
(16.07.2014), observada eventual prescrição quinquenal. 5. No tocante ao
termo final do benefício, o INSS deverá submeter a parte autora a
reavaliação médica, por meio de nova perícia a ser realizada pela autarquia,
ou, se for o caso, submetê-la a processo de reabilitação profissional. 6. A
correção monetária deverá incidir sobre as prestações em atraso desde as
respectivas competências e os juros de mora desde a citação, observada
eventual prescrição quinquenal, nos termos do Manual de Orientação de
Procedimentos para os Cálculos na Justiça Federal, aprovado pela Resolução
nº 267/2013, do Conselho da Justiça Federal (ou aquele que estiver em vigor
na fase de liquidação de sentença). Os juros de mora deverão incidir até a
data da expedição do PRECATÓRIO/RPV, conforme entendimento consolidado
pela colenda 3ª Seção desta Corte. Após a expedição, deverá ser observada a
Súmula Vinculante 17. 7. Com relação aos honorários advocatícios, tratando-
se de sentença ilíquida, o percentual da verba honorária deverá ser fixado
somente na liquidação do julgado, na forma do disposto no art. 85, § 3º, § 4º,
II, e § 11, e no art. 86, todos do CPC/2015, e incidirá sobre as parcelas
vencidas até a data da decisão que reconheceu o direito ao benefício
(Súmula 111 do STJ). 8. Apelação parcialmente provida. Fixados, de ofício,
os consectários legais. (TRF 3ª Região, 10ª Turma, ApCiv - APELAÇÃO CÍVEL -
5076690-09.2018.4.03.9999, Rel. Desembargador Federal NELSON DE FREITAS
PORFIRIO JUNIOR, julgado em 13/03/2019, Intimação via sistema DATA:
15/03/2019)

REVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR INVALIDEZ. AUXÍLIO DOENÇA.


PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS LEGAIS.
I- Preliminarmente, nos termos do art. 520, inc. VII, do CPC/73 (atual art.
1.012, §1º, V, do CPC/15), a apelação deverá ser recebida em ambos os
efeitos, exceto quando confirmar a tutela provisória, hipótese em que, nesta
parte, será recebida apenas no efeito devolutivo. II- Cumpre notar, ainda,
que a perícia médica foi devidamente realizada por Perito nomeado pelo
Juízo a quo, tendo sido apresentado o parecer técnico, motivo pelo qual não
merece prosperar o pedido de realização de nova prova pericial. O laudo
encontra-se devidamente fundamentado e com respostas claras e objetivas,
sendo despicienda a realização do novo exame. Cumpre ressaltar que o
magistrado, ao analisar o conjunto probatório, pode concluir pela dispensa
de produção de outras provas, nos termos do parágrafo único do art. 370 do
CPC.
III- Os requisitos previstos na Lei de Benefícios para a concessão da
aposentadoria por invalidez compreendem: a) o cumprimento do período de
carência, quando exigida, prevista no art. 25 da Lei n° 8.213/91; b) a
qualidade de segurado, nos termos do art. 15 da Lei de Benefícios e c) a
incapacidade definitiva para o exercício da atividade laborativa. O auxílio
doença difere apenas no que tange à incapacidade, a qual deve ser
temporária.
IV- A parte autora cumpriu a carência mínima e a qualidade de segurado,
tendo em vista que percebeu o benefício de auxílio doença nos períodos de
28/9/17 a 15/10/17 e de 13/5/18 a 28/7/18, tendo sido a presente ação
ajuizada em 6/2/18, ou seja, no prazo previsto no art. 15, da Lei nº
8.213/91.
V- A alegada incapacidade ficou plenamente demonstrada nos autos. Afirmou
o esculápio encarregado do exame que a parte autora, nascida em 16/4/74,
nutricionista, é portadora de “ARTROSE DE JOELHO DIREITO, ASSOCIADO A
LESÃO DE MENISCO INTERNO (CID – M17.0), TRANSTORNO DEPRESSIVO
RECORRENTE (CID - F 33.2), FIBROMIALGIA (CID – M74.7), HIPERTENSÃO
ARTERIAL SEVERA, HIPOTIROIDISMO, OBESIDADE MORBIDA, TENDINOPATIA
CALCÂNEA E ESPORÃO DE CALCANEO DIREITO” (ID 97701131), concluindo que
a mesma encontra-se total e permanentementeincapacitada para o trabalho.
Em resposta aosquesitos formulados, esclareceu o esculápio que a autora
apresenta incapacidade para o trabalho “POR SE TRATAREM DE MOLÉSTIAS
CRÔNICAS DE CARÁTER IRREVERSIVEL, QUE EVOLUEM COM PIORA COM O
DECORRER DOS ANOS, JÁ SENDO REALIZADOS DIVERSOS TIPOS DE
TRATAMENTOS, SEM MELHORA EFETIVA NO QUADRO APRESENTADO” (quesito
a ). Dessa forma, deve ser concedida a aposentadoria por invalidez pleiteada
na exordial.
VI- Cumpre ressaltar que o fato de a parte autora estar trabalhando para
prover a própria subsistência não afasta a conclusão do laudo pericial, o qual
atesta, de forma inequívoca, a incapacidade total e permanente da
requerente.
VII- Tendo em vista que a parte autora já se encontrava incapacitada desde a
cessação do auxílio doença, o benefício deveria ser concedido a partir
daquela data. No entanto, mantenho o termo inicial da aposentadoria por
invalidez tal como fixado na R. sentença – desde a data do laudo pericial
18/10/18 -, sob pena de afronta ao princípio da reformatio in pejus.
VIII- A correção monetária deve incidir desde a data do vencimento de cada
prestação e os juros moratórios a partir da citação, momento da constituição
do réu em mora. Com relação aos índices de atualização monetária, devem
ser observados os posicionamentos firmados na Repercussão Geral no Recurso
Extraordinário nº 870.947 (Tema 810) e no Recurso Especial Repetitivo nº
1.492.221 (Tema 905), adotando-se, dessa forma, o IPCA-E nos processos
relativos a benefício assistencial e o INPC nos feitos previdenciários.
IX- A matéria relativa à possibilidade de recebimento de benefício por
incapacidade no período em que o segurado estava trabalhando deverá ser
apreciada no momento da execução do julgado, tendo em vista que a
questão será objeto de análise pelo C. Superior Tribunal de Justiça na
Proposta de Afetação no Recurso Especial nº 1.788.700/SP.
X- Matéria preliminar rejeitada. No mérito, apelação parcialmente provida.
(TRF 3ª Região, 8ª Turma, ApCiv - APELAÇÃO CÍVEL - 6074342-
64.2019.4.03.9999, Rel. Desembargador Federal NEWTON DE LUCCA, julgado
em 11/03/2020, e -DJF3 Judicial 1 DATA: 17/03/2020)

Mediante os fundamentos apresentados, requer-se o conhecimento da incapacidade


TOTAL E PERMANENTE do Autor.

3. DO PEDIDO

Ante o exposto, Requer-se a impugnação do laudo pericial apresentado, requerendo


que seja afastada a conclusão pericial, devendo ser considerado o conjunto fático-
probatório dos autos, em especial os apresentados pelo Requerente acostado, que
demonstrem a incapacidade laborativa.
Requer ainda a designação de Audiência de Instrução para que seja tomado o
depoimento da Parte Autora.

Nestes termos, pede deferimento.

Campo Alegre de Lourdes - BA, 24 de Janeiro de 2024.

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THIEGO SILVA DE SENA

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