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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PARANÁ

COMARCA DE DOIS VIZINHOS


Vara Cível e Anexos
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SENTENÇA

Vistos até o mov. 106.0.


1. RELATÓRIO:
Trata-se de “Ação declaratória de auxílio-doença acidentário”
ajuizada por Suzane Duranti em desfavor do Instituto Nacional Do Seguro
Social – INSS. Aduziu a parte autora na peça inaugural, em síntese, que sofreu
acidente de trabalho no dia 05 de abril de 2018, nos termos da CAT encartada nos
autos, sendo portadora de CID - M19.1 Artrose pós-traumática de outras
articulações, CID - M13.1 Monoartrites não classificadas em outra parte, CID -
R22.2 Tumefação, massa ou tumoração localizadas do tronco, CID - S93.2 Ruptura
de ligamentos ao nível do tornozelo e do pé, CID - G64 Outros transtornos do
sistema nervoso periférico, CID - M79.8 Outros transtornos especificados dos
tecidos moles. Verberou que já foi anteriormente concedido o benefício de auxílio
doença acidentário, o qual foi cessado em 17 de janeiro de 2020, de modo que o
pedido de prorrogação do benefício foi indeferido pela ré. Pugnou pela procedência
da ação. Protestou pela produção de provas. Atribuíu valor à causa. Juntou
documentos (seq. 1.2/1.15).
Recebida a inicial (mov. 16.1) foi determinada a realização de perícia
médica preliminar. E dentre outras determinações, foram deferidos os benefícios da
gratuidade da justiça à parte autora, não foi designada audiência de
conciliação/mediação e foi ordenada a citação da parte ré.
Informada a data de realização da perícia (ev. 33.1) esta foi realizada
e o laudo pericial encartado no item 57.1.
Citada (seqs. 61.1 e 62.0) a parte ré ofertou contestação (mov. 63.1),
oportunidade em que aventou prejudicial de mérito de prescrição quinquenal. No
mérito, rechaçou os pleitos iniciais e verberou sobre os requisitos para concessão
do benefício pleiteado. Apresentou proposta de acordo. Juntou documentos (itens
27.1/27.3).
Impugnação à contestação (mov. 69.1), oportunidade em que a parte
autora concordou parcialmente com o acordo e pugnou pela concessão de tutela
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provisória de urgência para implantação do benefício, a qual foi deferida, e ainda, o


acordo não foi homologado (ev. 89.1).
Vieram os autos conclusos para sentença.
É o essencial a ser relatado.

2. FUNDAMENTAÇÃO:
2.1 Do Julgamento Antecipado da Lide:
Observando-se que a matéria ventilada na espécie é exclusivamente
de direito, demandando apenas exame das provas documentais já acostadas aos
autos, possível se afigura o julgamento do processo no estado em que se encontra,
nos termos do artigo 355, inciso I, do Código de Processo Civil.
Nesse sentido, cumpre registrar que o julgamento da lide no estado
em que se encontra não é mera faculdade do juiz, mas seu dever, em homenagem
ao princípio da celeridade processual e da razoável duração do processo,
recentemente erigida a garantia constitucional, nos termos do art. 5º, LXXVIII da
Constituição Federal.
Ainda, ´´ presentes as condições que ensejam o julgamento
antecipado da causa, é dever do juiz, e não mera faculdade, assim proceder (REsp
nº 2832-RJ, rel. Min. Sálvio de Figueiredo, j. 14.8.90, DJU 17.9.90, p. 9.513 in
Código de Processo Civil e legislação processual civil em vigor, de Theotonio
Negrão e José Roberto F. Gouvêa, 39ª edição, 2007, São Paulo, pág. 466)``.
Assim, passo à apreciação das alegações deduzidas pelas partes.

2.2 Da Prejudicial de Mérito de Prescrição:


O prazo de prescrição é quinquenal, na forma do parágrafo único do
art. 103 da Lei n.º 8.213/91. Contudo, por se tratar de uma relação de trato
sucessivo, aplica-se o disposto na súmula 85 do STJ, segundo a qual, não tendo
sido negado o próprio direito reclamado, a prescrição não atinge o fundo de direito,
apenas as prestações vencidas antes do quinquênio anterior à propositura da ação.
A interrupção da prescrição ocorre com a citação, mas retroage à data do
ajuizamento (art. 219, § 1º, do CPC).
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Exclui-se, todavia, o período de tramitação do processo


administrativo e conta-se o tempo decorrido anteriormente ao requerimento
administrativo. Nesse sentido, colhem-se os seguintes precedentes do STJ e desta
Corte: STJ, AgRg no REsp n. 802469-DF, Rel. Min. Félix Fischer, DJ 30-10-2006;
STJ, REsp n. 336282/RS, Sexta Turma, Rel. Ministro Vicente Leal, DJ 05-05-
2003;STJ, REsp n. 294032/PR, Quinta Turma, Rel. Ministro Felix Fischer, DJ 26-
03-2001, e TRF 4ª Região, AC n. 2004.70.01.000015-6/PR, Quinta Turma, Rel.
Des. Federal Otávio Roberto Pamplona, DJU de 16-11-2005.
No caso dos autos no entanto, não se vislumbra a incidência da
prescrição quinquenal, razão pela qual rejeito a prejudicial aventada.

2.3 Do Mérito:
Os autos estão em ordem. Não há nulidade a ser considerada, eis que
se encontram presentes os pressupostos processuais e as condições da ação.
De igual modo, saliento que as teses levantadas pelas partes serão
analisadas em um contexto único, respeitando o que se observa do artigo 489, §1º,
inciso IV do Código de Processo Civil e considerando o posicionamento do
Superior Tribunal de Justiça, o qual diz que o julgador não está obrigado a
responder a todas as questões suscitadas pelas partes, quando já tenha encontrado
motivo suficiente para proferir a decisão, ou seja, é dever do julgador enfrentar as
questões que venham discordar e enfraquecer a conclusão dada ao feito, não
havendo necessidade de se pronunciar sobre os argumentos incapazes de infirmar a
decisão.
Ademais, não há questões processuais pendentes e estão presentes os
pressupostos de constituição e desenvolvimento válido e regular do processo, bem
como as condições da ação.
Por conseguinte, passo à análise do mérito.
Cinge-se a controvérsia encerrada neste feito em perquirir se a parte
autora faz jus ao invocado direito em perceber auxílio doença/aposentadoria por
invalidez. Ou ainda, benefício diverso do postulado pelo segurado, na hipótese de
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estarem presentes os requisitos para concessão, em aplicação do princípio da


fungibilidade.
Da detida análise dos autos desde já destaco que o pleito formalizado
na peça isagógica deve prosperar, uma vez que a autora preenche os requisitos para
concessão do benefício de auxílio acidente. Explico.
A norma que disciplina o benefício de auxílio-acidente está prevista
no artigo, verbis:
Art. 86. O auxílio-acidente será concedido, como indenização, ao
segurado quando, após consolidação das lesões decorrentes de acidente
de qualquer natureza, resultarem seqüelas que impliquem redução da
capacidade para o trabalho que habitualmente exercia. § 1º O auxílio-
acidente mensal corresponderá a cinqüenta por cento do salário-de-
benefício e será devido, observado o disposto no § 5º, até a véspera do
início de qualquer aposentadoria ou até a data do óbito do segurado. § 2º
O auxílio-acidente será devido a partir do dia seguinte ao da cessação do
auxílio-doença, independentemente de qualquer remuneração ou
rendimento auferido pelo acidentado, vedada sua acumulação com
qualquer aposentadoria. § 3º O recebimento de salário ou concessão de
outro benefício, exceto de aposentadoria, observado o disposto no § 5º,
não prejudicará a continuidade do recebimento do auxílio-acidente. § 4º
A perda da audição, em qualquer grau, somente proporcionará a
concessão do auxílio-acidente, quando, além do reconhecimento de
causalidade entre o trabalho e a doença, resultar, comprovadamente, na
redução ou perda da capacidade para o trabalho que habitualmente
exercia.

Cuida-se de benefício concedido como forma de indenização aos


segurados indicados no artigo 18, § 1º, da Lei nº 8.213/91 que, após a consolidação
de lesões decorrentes de acidente de qualquer natureza, sofram sequelas que
impliquem redução da capacidade para o trabalho que habitualmente exerciam.
A lei não faz referência ao grau de lesão, uma vez que essa
circunstância não consta entre os requisitos para a concessão do benefício.
Portanto, é devido ainda que a lesão e a incapacidade laborativa sejam mínimas,
bastando verificar se existe a lesão e se, após a sua consolidação, houve sequela que
acarretou a redução da capacidade laboral. Nesse sentido, verbis:
PREVIDENCIÁRIO. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DA
CONTROVÉRSIA. AUXÍLIO-ACIDENTE. LESÃO MÍNIMA.
DIREITO AO BENEFÍCIO. 1. Conforme o disposto no art. 86, caput, da
Lei 8.213/91, exige-se, para concessão do auxílio-acidente, a existência
de lesão, decorrente de acidente do trabalho, que implique redução da
capacidade para o labor habitualmente exercido. 2. O nível do dano e, em
consequência, o grau do maior esforço, não interferem na concessão do
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benefício, o qual será devido ainda que mínima a lesão. 3. Recurso


especial provido. (STJ, REsp. 1109591/SC, Rel. Min. Celso Limongi
(Des. Conv.), 3ª Seção, DJe 08.09.2010)

São quatro portanto os requisitos para a concessão do benefício,


conforme se extrai do art. 86 da Lei nº 8.213/91: (a) a qualidade de segurado; (b) a
superveniência de acidente de qualquer natureza; (c) a redução parcial da
capacidade para o trabalho habitual e (d) o nexo causal entre o acidente e a redução
da capacidade. Por força do artigo 26, I, da Lei nº 8.213/91, não se exige período de
carência.
Ressalte-se o caráter de fungibilidade entre as ações
previdenciárias, amplamente reconhecido pela jurisprudência, inclusive do STJ,
segundo a qual “não constitui julgamento extra ou ultra petita a decisão que,
verificando não estarem atendidos os pressupostos para concessão do benefício
requerido na inicial, concede benefício diverso cujos requisitos tenham sido
cumpridos pelo segurado" (AgRG no AG 1232820/RS, Rel. Min. Laurita Vaz, 5ª
Turma, j. 26/10/20, DJe 22/11/2010).
Da detida análise do caso concreto verifica-se que a parte autora
preenche os 4 requisitos supramencionados.
Especificamente no caso sub judice, deferida a produção de prova
técnica, por perito médico, ao examinar o demandante, assim concluiu o expert:
g) Sendo positiva a resposta ao quesito anterior, a incapacidade do(a)
periciado(a) é de natureza permanente ou temporária? Parcial ou total?
PARCIAL E PERMANENTE (...) l) Caso se conclua pela incapacidade
parcial e permanente, é possível afirmar se o(a) periciado(a) está apto
para o exercício de outra atividade profissional ou para a reabilitação?
Qual atividade A O AUTOR APRESENTA LIMITAÇÃO PARCIAL
PARA REALIZAR QUALQUER ATIVIDADE LABORAL (...) d)
Doença/moléstia ou lesão decorrem do trabalho exercido? Justifique
indicando o agente de risco ou agente nocivo causador. SIM,
ACIDENTE DE TRABALHO (...)

O laudo pericial, bem se sabe, constitui importante instrumento de


convicção do juízo.
Nada obstante, inexiste adstrição quanto à conclusão técnica (CPC,
art. 479), sendo certo que se há de aliar a avaliação do especialista ao restante do
contexto probatório.
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É importante destacar que o pressuposto para a concessão de auxílio-


acidente é justamente a redução parcial da capacidade laborativa, e daí que, não
havendo qualquer motivo para afastar a conclusão pericial, faz jus o postulante à
benesse pretendida.
Como já antes asseverado, o benefício previdenciário tem natureza
jurídica indenizatória, decorrente da minoração da capacidade de trabalho do
segurado, razão pela qual, constatada tal perda, com a consequente reabilitação e
reinserção no mercado de trabalho, não mais na atividade anteriormente
desempenhada pelo particular ou, se nela, com maior dificuldade causada pelo
acidente, segue devido o benefício.
Em casos tais, assim tem orientado a jurisprudência:
“REEEXAME NECESSÁRIO. AÇÃO DE ACIDENTE DO
TRABALHO. LAUDO PERICIAL QUE DEMONSTRA A REDUÇÃO
DA INCAPACIDADE LABORAL DO AUTOR. REQUISITOS PARA
A CONCESSÃO DE AUXÍLIO-ACIDENTE PRESENTES.” (TJPR –
AC 1348585-9 – Rel. Clayton de Albuquerque Maranhão – Publicação:
31/08/2015).
“APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO PREVIDENCIÁRIA DE AUXÍLIO
ACIDENTE - PRESENÇA DOS REQUISITOS AUTORIZADORES À
CONCESSÃO DE BENEFÍCIO AUXÍLIO ACIDENTE. REDUÇÃO
DA FORÇA DE TRABALHO. ART. 104, II DO DECRETO 3.048/99.
PRECEDENTES DO STJ DE QUE A LESÃO MÍNIMA JÁ
POSSIBILITA A CONCESSÃO DO AUXÍLIO-ACIDENTE.” (TJPR –
AC 1373336-5 – Rel. Dilmari Helena Kessler – Publicação: 14/08/2015).

Registre-se, outrossim, que o atendimento à carência e também à


qualidade de segurado do demandante são incontroversos na espécie, notadamente
em razão da documentação apresentada no mov. 27.1 e ss.
No que concerne ao montante que deve ser pago, segue-se o que
apresenta o art. 86, §1°da Lei nº 8.213/91:
"§1° O auxílio-acidente mensal e vitalício corresponderá a 50%
(cinqüenta por cento) do salário-de-benefício do segurado".
Ainda, em referência ao termo inicial para concessão do auxílio-
acidente, deve-se observar a diretiva do § 2º do art. 86 da Lei nº. 8.213/1991, de
sorte que é devido desde 18/01/2020.
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Assim, comprovada a incapacidade e atendidos integralmente os


requisitos do art. 86 da Lei n°. 8.231/91, é devido ao demandante o auxílio-acidente
desde a cessação do auxílio-doença, qual seja, 18/01/2020.
Por todas essas razões, a procedência do pedido de concessão de
auxílio-acidente é medida escorreita no caso em tela.

3. DISPOSITIVO:
Ante o exposto, JULGO PROCEDENTE o pedido inicial,
extinguindo o feito com resolução do mérito, nos termos do art. 487, I, do Código
de Processo Civil, e condeno o Instituto Nacional de Seguro Social – INSS a pagar
À autora Suzane Duranti o benefício previdenciário de auxílio-acidente e
respectivo abono anual, tudo na forma dos art. 86 e seguintes da Lei nº. 8.213/1991,
desde 18 de janeiro de 2020.
Sobre os valores vencidos deverão incidir correção monetária, desde
quando devido cada pagamento, calculada conforme o índice oficial de
remuneração básica da caderneta de poupança (TR), até 25 de março de 2015, data
após a qual o débito deverá ser corrigido pelo Índice Nacional de Preços (INPC),
bem como juros de mora, desde a citação, conforme os juros aplicados à caderneta
de poupança (art. 1º-F da Lei nº. 9.494/97, com redação dada pela Lei nº.
11.906/09), até 08/12/2021, após o que deverá ser corrigido pela SELIC.
Diante da sucumbência, condeno a parte ré ao pagamento das custas e
das despesas processuais, bem como dos honorários advocatícios do procurador da
parte adversa que, considerando o grau de zelo do profissional, o lugar da prestação
do serviço, a natureza e a importância da causa, o trabalho realizado pelo advogado
e o tempo exigido para o seu serviço, arbitro em 10% (dez por cento) sobre o valor
atualizado da causa, conforme preceitua o art. 85, § 2º, do CPC.

Publique-se. Registre-se. Intimem-se.


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Caso seja apresentado recurso, abra-se vista ao apelado para


apresentação de contrarrazões no prazo de 15 (quinze) dias (art. 1.010, §1º), acaso
ainda não efetuado.
Havendo recurso adesivo, intime-se o apelante para apresentar
contrarrazões também dentro do prazo de 15 dias (art. 1.010, §2º).
Apresentadas as razões à que se refere o item anterior ou decorrido o
prazo, remetam-se os autos ao Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Paraná
(art. 1.010, §3º).
Não havendo recurso, certifique-se o trânsito em julgado e intimem-se
as partes e, nada sendo requerido, oportunamente, arquivem-se com as baixas de
estilo.
Intimações e diligências necessárias.
Dois Vizinhos/PR, datado e assinado digitalmente.
MICHELI FRANZONI
Juíza de Direito

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