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ESTADO DE SANTA CATARINA

PODER JUDICIÁRIO
Vara da Fazenda Pública e dos Registros Públicos da
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PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL Nº 5013738-


25.2022.8.24.0011/SC
AUTOR: ALISSON JOSE JACINTO
RÉU: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS

SENTENÇA

I - RELATÓRIO

ALISSON JOSE JACINTO ajuizou a presente ação


previdenciária em desfavor de INSTITUTO NACIONAL DO
SEGURO SOCIAL - INSS, qualificados, em que objetiva, a
concessão do benefício de auxílio-acidente, uma vez que teve
sua capacidade laboral reduzida em decorrência das
sequelas provenientes do acidente de trabalho sofrido.

Valorou a causa e juntou os documentos no


Evento 1.

Ao evento 4 foi determinado a emenda da inicial,


restando esta cumprida nos eventos 9 e 10.

A decisão no Evento 12 recebeu a


inicial, determinou a citação do réu e a realização de perícia.

Citado, o réu apresentou contestação no Evento


16, em que suscitou a preliminar de prescrição. No mérito,
indicou que o autor não cumpre os requisitos necessários
para a concessão do benefício pleiteado, tendo em vista que a
perícia realizada administrativamente não constatou
sequelas incapacitantes.

Honorários periciais adiantados ao evento 19.

Houve réplica (Evento 20).

Laudo pericial juntado no Evento 31, sobre o qual


somente o autor se manifestou (evento 37).
Alvará expedido ao evento 38.

Os autos vieram conclusos.

É o relatório. Decido.

II - FUDAMENTAÇÃO

II.1 - Prescrição

O réu requereu o reconhecimento da prescrição


quinquenal, nos termos do art. 103 da Lei de Benefícios.

No entanto, “Sabe-se que ‘o direito aos benefícios


previdenciários (aposentadorias, auxílio-doença, auxílio-
acidente e outros) não é afetado pelo decurso do tempo; o
direito rege-se pela lei vigente na data do respectivo fato
gerador (tempus regit actum)’ (STJ, Primeira Seção, REsp n.
1.303.988/PE, Min. Teori Albino Zavascki, j. 14/3/2012)”. (TJSC,
Apelação / Remessa Necessária n. 0300069-27.2017.8.24.0031,
do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, rel. Denise de Souza
Luiz Francoski, Quinta Câmara de Direito Público, j. 13-04-
2021).

Estabelece o art. 103, parágrafo único, da Lei


8.213/91:

"Prescreve em cinco anos, a contar da data em que


deveriam ter sido pagas, toda e qualquer ação para
haver prestações vencidas ou quaisquer restituições ou
diferenças devidas pela Previdência Social, salvo o
direito dos menores, incapazes e ausentes, na forma do
Código Civil. (Incluído pela Lei nº 9.528, de 1997)".

No caso em tela, considerando-se que a presente


ação foi ajuizada em 09/11/2022 e que a parte autora pleiteia
a concessão do benefício de auxílio-acidente desde a
cessação do auxílio-doença n 537.850.373-2, ocorrida em
06/04/2010 (evento 16, OUT 2), encontram-se prescritas as
parcelas anteriores a 09/11/2017.

Dessa forma, vencidas as prefaciais e constatada


a regular tramitação do feito, passo a análise do mérito.

II.2 - Mérito

Resta analisar se a parte autora preenche as


condições para a concessão do benefício de auxílio-acidente.

O benefício de auxílio-acidente está inscrito no


art. 86, caput, da Lei 8.213/91.

É
É cediço que o auxílio-acidente é devido nos casos
de incapacidade parcial e permanente. Parcial, porquanto
não impossibilita a parte requerente para o exercício de toda
e qualquer atividade profissional. Permanente, porque as
sequelas são irreversíveis. Por conseguinte, há: (a) redução
da capacidade para o trabalho que habitualmente exercia e
exigência de maior esforço para o desempenho dessa mesma
atividade ou (b) impossibilidade de desempenho da
atividade que exercia, à época do acidente, permitindo,
porém, o desempenho de outra, após processo de
reabilitação profissional, nos casos indicados pela perícia
médica do INSS.

Ao fundamentar o laudo pericial, o perito


concluiu (evento 31 - grifei):

Assim exposto, Autor apresentou no exame físico


do membro inferior D, em segmento de perna,
alterações que da avaliação Técnica Médica
Pericial configura a Incapacidade Parcial e
Permanente para todas as atividades alegadas. A
presença da hérnia muscular determina que o Autor
tenha que fazer maior esforço para desempenhar
mesmas atividades, não havendo mesma produção
laboral quando comparado aos seus pares.

Ao responder os quesitos formulados pelas partes


e pelo juízo, o mesmo indicou (evento 31 - sublinhei):

Quesitos do juízo:

b) Apresenta a parte autora, no momento do exame, doença


ou moléstia que implique incapacidade para o exercício das
suas atividades laborativas habituais? Em caso positivo,
qual o Código CID?

R. Redução da capacidade laboral. CID 10 T93.2

c) A moléstia apresentada tem relação de causa e efeito com


o exercício profissional da parte autora, sendo possível
afirmar que teve origem em acidente do trabalho ou que é
decorrente de doença profissional ou de doença do
trabalho?

R. Acidente de trabalho tipo de trajeto.

[...]

f) A incapacidade é total (para qualquer tipo de atividade


laborativa) ou parcial (apenas para a atividade laborativa
que vinha sendo exercida pela parte autora)? R. Parcial e
Permanente.

[...]
g) A qual época remonta a incapacidade laborativa?
(observe o perito que a pergunta se refere ao início da
incapacidade, e não ao início da doença).

R. DII Temporária em 24/09/2009 (data do acidente). DII


Permanente na DCB fixada pelo INSS.

[...]

k) Na possibilidade de constatação de incapacidade parcial e


permanente, há a presença de sequelas consolidadas que
reduzem a capacidade laborativa para o exercício da
atividade habitual pela parte autora?

R. Sim, devidamente descritos no corpo do laudo


Pericial.

Instados a se manifestarem acerca do laudo


pericial (evento 32), a parte autora concordou com o parecer
exarado pelo perito. O réu, por sua vez, quedou inerte
(evento 35).

Da análise do laudo pericial, constata-se que a


sequela decorrente do acidente de trabalho sofrido limita a
parte autora para a atividade que habitualmente exercia
quando da concessão do benefício de auxílio – doença
acidentário.

O perito indicou que o autor esta com sua


capacidade laboral parcial e definitivamente comprometida
para realizar sua atividade profissional.

Ademais, em virtude do mesmo acidente de


trabalho, a parte autora, atualmente, atua em outra função,
sendo esta consultor técnico.

Assim, não restam dúvidas de que a lesão sofrida


pela parte autora implica na redução parcial e permanente
de sua capacidade laborativa, de modo que os requisitos
exigidos para a concessão do benefício auxílio-acidente
verificam-se presentes no caso, consoante dispõe a Lei n.
8.213/91.

Ressalto que o pagamento do auxílio-acidente


deve corresponder ao percentual de 50% (cinquenta por
cento) do salário de benefício, cessando com a aposentadoria
ou óbito do segurado, consoante estabelece o § 1º do art. 86
da Lei n. 8.213/91.
Quanto à data de início do benefício, como o
benefício de auxílio-doença n° 537.850.373-2 foi cessado em
06/04/2010 (Evento 16, OUT 2), cabe a concessão da benesse a
partir de 07/04/2010, respeitada a prescrição quinquenal,
tendo como inicio do pagamento a data de 09/11/2017, nos
termos do art. 86, §2º, da Lei nº 8.213/91, consoante decidido
no Tema 862 do Superior Tribunal de Justiça.

Acerca dos consectários legais, anoto que índice


de correção monetária a ser utilizado é o INPC, na forma do
artigo 41-A da Lei nº 8.213/91, diante da declaração da
inconstitucionalidade parcial do art. 1º-F da Lei nº 9.494/97,
com a redação dada pela Lei nº 11.960/2009, quanto à
utilização da TR para esta finalidade (tema 810) (RE 870947,
Relator(a): Min. LUIZ FUX, Tribunal Pleno, julgado em
20/09/2017), até o dia 08/12/2021.

Quanto aos juros moratórios, aplicam-se os


percentuais previstos para remuneração das cadernetas de
poupança, nos termos do artigo 1º-F da Lei n. 9.494/97, até o
dia 08/12/2021.

A partir de 09/12/2021, para fins de correção


monetária e juros de mora, deverá incidir a Taxa SELIC, nos
termos do art. 3º da Emenda Constitucional nº 113/2021.

Custas judiciais

A LCE n. 156/1997, em seu art. 33, § 1º, com


redação dada pela LC n. 524/2010, previa a obrigatoriedade
do pagamento de custas e emolumentos, pela metade,
quando o interessado fosse autarquia federal.

Posteriormente, o art. 3º da LC n. 729/2018 alterou


referido dispositivo, isentando as autarquias federais do
pagamento das custas judiciais.

No entanto, este preceito foi declarado


inconstitucional, "'[...] pois subverteu por meio de emenda
parlamentar o projeto de lei encaminhado pelo Poder
Judiciário em assunto de sua exclusiva iniciativa'" (TJSC,
Apelação Cível n. 0301380-97.2014.8.24.0018, de Chapecó, rel.
Des. Hélio do Valle Pereira, Quinta Câmara de Direito
Público, j. 12-12-2019) (TJSC, Apelação Cível n. 0007580-
36.2014.8.24.0038, de Joinville, rel. Des. Vera Lúcia Ferreira
Copetti, Quarta Câmara de Direito Público, j. 05-03-2020).

Por isso, prevaleceria, a princípio, a regra inserta


no art. 33, § 1º, da LCE n. 156/1997, com redação dada pela
LC n. 524/2010.
Porém, em 01/04/2019 entrou em vigor a Lei
Estadual n. 17.654/18, que prevê, em seu art. 7º, inciso I, a
isenção do pagamento de custas pelas autarquias federais.
Veja-se:

"Art. 7º São isentos do recolhimento da Taxa de


Serviços Judiciais:

I – a União, os Estados, os Municípios, o Distrito


Federal e as respectivas autarquias e fundações; e

II – o Ministério Público e a Defensoria Pública".

Nessa toada, o art. 5º da referida Lei determina


que a taxa de serviços judiciais deve ser recolhida quando
protocolada a petição inicial (inciso I).

A propósito, "'[...] o fato gerador é a prestação dos


serviços forenses e o momento do recolhimento é o protocolo
da inicial, do recurso ou da impugnação ou ainda na
distribuição das cartas. Assim, nos processos de
conhecimento, é a propositura da inicial que marca a origem
da obrigação tributária. Por isso, a isenção do art. 7º da LE n.
17.654/2018 aplica-se aos processos cuja inicial foi
protocolada a partir de 1º-4-2019, valendo, para os demais, a
regra anterior da LCE n. 156/1997'" (precedente citado na
Apelação Cível n. 0304102-25.2015.8.24.0033, de Itajaí, rel.
Des. Hélio do Valle Pereira, Quinta Câmara de Direito
Público, j. 13-02-2020) .

Nesse sentido: TJSC, Apelação Cível n. 0301380-


97.2014.8.24.0018, de Chapecó, rel. Des. Hélio do Valle
Pereira, Quinta Câmara de Direito Público, j. 12-12-2019;
TJSC, Embargos de Declaração n. 0300363-02.2016.8.24.0068,
de Seara, rel. Des. Hélio do Valle Pereira, Quinta Câmara de
Direito Público, j. 26-09-2019; TJSC, Embargos de Declaração
n. 0300726-03.2018.8.24.0073, de Timbó, rel. Des. Hélio do
Valle Pereira, Quinta Câmara de Direito Público, j. 08-08-2019.

Desse modo, verifica-se que a presente ação foi


protocolada em 09/11/2022, portanto, posterior à data da
entrada em vigor da LE n. 17.654/2018, razão pela qual o réu
é isento de custas.

Tema 1.044

A decisão exarada pelo Tema 1.044 fixou o


seguinte entendimento: "Nas ações de acidente do trabalho,
os honorários periciais, adiantados pelo INSS, constituirão
despesa a cargo do Estado, nos casos em que sucumbente a
parte autora, beneficiária da isenção de ônus sucumbenciais,
prevista no parágrafo único do art. 129 da Lei n. 8.213/91".

Considerando o resultado da presente demanda,


não havendo sucumbência da parte autora, não há
restituição dos honorários periciais.

III. DISPOSITIVO

Ante o exposto, reconheço a prescrição da


pretensão atinente a eventuais parcelas
previdenciárias anteriores a 09/11/2017, com supedâneo no
art. 487, inciso II, do Digesto Processual e JULGO
PROCEDENTE a pretensão inicial formulada por ALISSON
JOSE JACINTO em face do INSTITUTO NACIONAL DO
SEGURO SOCIAL - INSS, pelo que determino a concessão do
benefício de auxílio-acidente, em caráter não
vitalício, devido até a véspera do início de qualquer
aposentadoria ou até a data do óbito do segurado (art. 86,
§1º, da Lei n. 8.213/91), no valor mensal correspondente a
50% do salário de benefício, nos termos dos artigos 28 e 29,
II, da Lei nº 8.213/91.

Ressalto que o autor deve se submeter a


realização de exame médico a cargo da Previdência Social
quando lhe for solicitado, sob pena de suspensão do
benefício (art. 101 da Lei 8.213/91).

Ressalto que o pagamento das parcelas atrasadas


deverá ser realizado de uma só vez, desde o dia
imediatamente posterior à cessação do auxílio-doença n°
537.850.373-2, ocorrida em 06/04/2010, observada a
prescrição quinquenal.

Os valores devidos serão corrigidos


monetariamente pelo INPC a partir do vencimento de cada
prestação e acrescidos de juros de mora, desde a citação em
relação as parcelas que lhe são anteriores, e a partir do
vencimento daquelas que venceram após o ato citatório,
calculados na forma da fundamentação.

Extingo o processo com resolução do mérito (art.


487, I, do CPC).

Considerando o resultado desta demanda e que a


isenção de custas e honorários sucumbenciais do parágrafo
único do art. 129 da Lei de Benefícios é restrita ao segurado
(Súmula 110/STJ), condeno o réu ao pagamento
dos honorários advocatícios, fixados em 10% sobre as
parcelas vencidas até a data da publicação da presente
sentença (Súmula 111/STJ), devidamente atualizadas.

Deixo de condenar o demandado em custas


judiciais, nos termos do art. 7º, I, da Lei Estadual nº
17.654/2018.

Publique-se. Registre-se. Intimem-se.

Imutável, proceda-se conforme Orientação n.


73/2019 (Execução invertida).

Documento eletrônico assinado por FREDERICO ANDRADE SIEGEL, na forma


do artigo 1º, inciso III, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006. A conferência
da autenticidade do documento está disponível no endereço eletrônico
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Informações adicionais da assinatura:


Signatário (a): FREDERICO ANDRADE SIEGEL
Data e Hora: 29/9/2023, às 18:37:47

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