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Justiça Federal da 3ª Região - 1º grau

PJe - Processo Judicial Eletrônico

31/10/2023

Número: 5002141-78.2021.4.03.6133
Classe: CUMPRIMENTO DE SENTENÇA CONTRA A FAZENDA PÚBLICA
Órgão julgador: 1ª Vara Federal de Mogi das Cruzes
Última distribuição : 06/08/2021
Valor da causa: R$ 63.454,86
Assuntos: Aposentadoria por Tempo de Contribuição (Art. 55/6)
Nível de Sigilo: 0 (Público)
Justiça gratuita? SIM
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Advogados
JOSE LOPES DA SILVA (EXEQUENTE)
ANA MARIA FAUSTINA BRAGA (ADVOGADO)
INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS
(EXECUTADO)

Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
270981713 04/10/2022 Decisão Decisão
12:55
PODER JUDICIÁRIO
Tribunal Regional Federal da 3ª Região
7ª Turma

APELAÇÃO CÍVEL (198) Nº 5002141-78.2021.4.03.6133


RELATOR: Gab. 22 - DES. FED. INÊS VIRGÍNIA
APELANTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS

APELADO: JOSE LOPES DA SILVA


Advogado do(a) APELADO: ANA MARIA FAUSTINA BRAGA - SP74050-A
OUTROS PARTICIPANTES:

D E C I S ÃO

Trata-se de apelação interposta pelo INSS em face da r. sentença que julgou o pedido inicial nos seguintes
termos:

“Posto isso, e considerando tudo o mais que dos autos consta, JULGO PARCIALMENTE
PROCEDENTES os pedidos formulados na presente ação, movida em face do Instituto Nacional
do Seguro Social (INSS), apenas para declarar por sentença, para fins de averbação, o período
especial de 01/04/1991 a 10/05/1995.

Custas na forma da lei, sendo o INSS e o autor isentos, consoante artigo 4º, incisos I e II, da Lei nº 9.289/96.
Considerando a sucumbência recíproca, condeno as partes ao pagamento de honorários advocatícios, que
fixo no percentual mínimo, distribuído igualmente entre ambas, sobre o valor das parcelas devidas até a
sentença, a ser definido após liquidação da sentença, nos termos dos artigos 85, §§ 2º, 3º e 4º, inciso II, e 86
do CPC e Súmula 111 do STJ, cuja cobrança da parte autora deverá atender ao disposto no § 3º do artigo 98
do CPC.

Dispensado o reexame necessário nos termos do artigo 496, § 3º, inciso I, do CPC, pois muito embora a
sentença seja ilíquida, evidente que a condenação ou o proveito econômico obtido na causa não ultrapassa o
limite legal previsto.”

Nas razões recursais o INSS argui, preliminarmente, que a decisão seja submetida ao reexame necessário.
No mérito, pugna pela reforma da sentença sustentando que o período de 01/04/1991 a 10/05/1995 não deve
ser reconhecido como especial, pois a parte não comprova que o vistor do PPP possua poderes de
representação da empresa, não há responsável técnico pelos registros ambientais no período de 01/04/1991 a
30/09/1993, informação esta sempre exigível para o ruído e a metodologia de aferição informada no
formulário igualmente não atende à legislação em vigor. Prequestiona a matéria para fins recursais.

Com as contrarrazões os autos foram remetidos a esta E. Corte.

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É o relatório.

D E C I D O.

Recebo a apelação interposta sob a égide do Código de Processo Civil/2015 e em razão de sua regularidade
formal, possível sua apreciação nos termos do artigo 1.011 do Codex processual.

Considerando presentes os requisitos estabelecidos na Súmula/STJ nº 568, assim como, por interpretação
sistemática e teleológica, nos artigos 1º a 12º, c.c o artigo 932, todos do Código de Processo Civil/2015,
concluo que no caso em análise é plenamente cabível decidir-se monocraticamente, mesmo porque o
julgamento monocrático atende aos princípios da celeridade processual e da observância aos precedentes
judiciais.

Em reforço, o fato de a decisão monocrática ser passível de controle por meio de agravo interno (artigo
1.021 do CPC/2015), que garante a possibilidade de julgamento pelo órgão colegiado e permite a realização
de sustentação oral pela parte interessada quando julgar o mérito, nos termos do artigo 7º, §2º-B da Lei nº
8.906/94 (redação dada pela Lei nº 14.365/2022), salvaguardando, assim, o princípio da colegialidade e da
ampla defesa.

Feita essa breve introdução, passo à análise do caso concreto.

DO REEXAME NECESSÁRIO

A hipótese dos autos não demanda reexame necessário.

A sentença recorrida foi proferida sob a égide do Novo Código de Processo Civil, o qual afasta a submissão
da sentença proferida contra a União e suas respectivas autarquias e fundações de direito público ao reexame
necessário quando a condenação imposta for inferior a 1.000 (mil) salários-mínimos (artigo 496, I c.c. § 3º,
I, do CPC/2015).

In casu, considerando que o INSS não foi condenado a implantar o benefício previdenciário pleiteado pela
parte autora, mas apenas a reconhecer como especial determinado período de trabalho, não se divisa uma
condenação de conteúdo econômico que sujeite a sentença ao reexame necessário. (Precedente desta C.
Corte: 9ª Turma, ApelRemNec - APELAÇÃO / REMESSA NECESSÁRIA - 5283333-28.2020.4.03.9999,
Rel. Desembargador Federal DALDICE MARIA SANTANA DE ALMEIDA, julgado em 26/03/2021,
Intimação via sistema DATA: 05/04/2021)

Portanto, a hipótese dos autos não demanda reexame necessário.

DO ENQUADRAMENTO DAS ATIVIDADES ESPECIAIS

O artigo 201, §1°, da CF/88, prevê um tratamento diferenciado aos segurados que exerçam atividades com
exposição a agentes químicos, físicos e biológicos prejudiciais à saúde, ou associação desses agentes. O
trabalho em condições especiais é objeto, ainda, dos artigos 57 e 58 da Lei nº 8.213/91 e dos artigos 64 a 70
do Decreto nº 3.048/99 (RPS – Regulamento da Previdência Social).

A especialidade fica caracterizada quando constatada a exposição do segurado a agentes nocivos acima dos
limites de tolerância (critério quantitativo), podendo tal avaliação ser também qualitativa. O Anexo IV do
RPS traz um rol dos agentes nocivos, bem assim o respectivo tempo de exposição (15, 20 ou 25 anos) após o
qual os segurados passam a fazer jus à aposentadoria especial.

Desde 29/04/1995, data da publicação da Lei nº 9.032/95, exige-se a efetiva exposição do segurado a
agentes nocivos. Até então, reconhecia-se a especialidade do labor de acordo com a categoria profissional,
presumindo-se que os trabalhadores de determinadas categorias se expunham a ambiente nocivo.

Nos termos da legislação de regência, a exposição do segurado a agentes nocivos há de ser permanente, não

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ocasional nem intermitente, o que, entretanto, não significa que o segurado tenha que se expor durante toda
a sua jornada à nocividade, mas sim que a exposição aos agentes seja indissociável da produção do bem ou
da prestação do serviço (Decreto nº 8.213/2013). Constando do PPP queo segurado ficava exposto a agente
nocivo, deve-se concluir que tal exposição era suficiente à configuração da especialidade, nos termos do
artigo 65do RPS, não se exigindo menção expressa, no formulário, nesse sentido, já que no modelo de PPP
concebido pelo INSS não existe campo específico para tanto. Logo, não prospera a alegação de
impossibilidade de se reconhecer a especialidade do labor pelo fato de o PPP não consignar expressamente
que a exposição era habitual, consoante jurisprudência desta C. Turma: APELAÇÃO/REMESSA
NECESSÁRIA - 1773938 - 0008160-27.2011.4.03.6105, Rel. DESEMBARGADOR FEDERAL CARLOS
DELGADO, julgado em 12/03/2018, e-DJF3 Judicial 1 DATA:20/03/2018.

As condições de trabalho podem ser provadas pelos instrumentos previstos nas normas de proteção ao
ambiente laboral (PPRA, PGR, PCMAT, PCMSO, LTCAT, PPP, SB-40, DISES BE 5235, DSS-8030,
DIRBEN-8030 e CAT), sem prejuízos de outros meios de prova, sendo de se frisar que apenas a partir da
edição do Decreto nº 2.172, de 05/03/1997, tornou-se exigível a apresentação de laudo técnico a corroborar
as informações constantes nos formulários, salvo para o agente ruído e calor, que sempre exigiu laudo
técnico.

A partir de 01/01/2004, é obrigatório o fornecimento aos segurados expostos a agentes nocivos do PPP -
Perfil Profissiográfico Previdenciário, documento que retrata o histórico laboral do segurado, evidenciando
os riscos do respectivo ambiente de trabalho. Infere-se do artigo 58 da Lei nº 8.213/91 que (i) a
comprovação da efetiva exposição do segurado aos agentes nocivos será feita por meio do PPP; (ii) o PPP
deve ser emitido pela empresa, na forma estabelecida pelo INSS, com base em laudo técnico de condições
ambientais do trabalho expedido por médico do trabalho ou engenheiro de segurança do trabalho; (iii) o
empregador deve manter atualizado o PPP abrangendo as atividades desenvolvidas pelo trabalhador e
fornecer a cópia desse documento; (iv) a empresa que não mantiver laudo técnico atualizado com referência
aos agentes nocivos existentes no ambiente de trabalho de seus trabalhadores ou que emitir documento de
comprovação de efetiva exposição em desacordo com o respectivo laudo estará sujeita à penalidade prevista
em lei.

Considerando que a empresa empregadora deve garantir a veracidade das declarações prestadas nos
formulários de informações e laudos periciais (artigo 133 da Lei nº 8.213/91 e artigo 299 do Código Penal) e
que cabe ao Poder Público fiscalizar o empregador no que tange à elaboração, manutenção e atualização do
PPP, presume-se que as informações constantes do PPP são verdadeiras, não sendo razoável nem
proporcional prejudicar o trabalhador por eventual irregularidade formal de referido formulário, seja porque
ele não é responsável pela elaboração do documento, seja porque cabe ao Poder Público fiscalizar a
elaboração do PPP pelas empresas. O Egrégio STJ fixou tese repetitiva no sentido acima expendido no
julgamento da Petição nº 10.262/RS, de 08/02/2017.

A apresentação do PPP dispensa a apresentação do laudo que o subsidia. E o fato de esse laudo não ser
contemporâneo ao labor não invalida as informações constantes do PPP a respeito do tempo de trabalho
dedicado em atividade de natureza especial, primeiro, porque não existe tal previsão decorrente da
legislação e, segundo, porque a evolução da tecnologia aponta para o avanço das condições ambientais em
relação àquelas experimentadas pelo trabalhador à época da execução dos serviços. (Precedentes desta
Corte: AC 0012334- 39.2011.4.03.6183, 8ª Turma, Desembargador Federal Luiz Stefanini, DE 19/03/2018;
AC/ReO 0027585-63.2013.4.03.6301, 10ª Turma, Relator Desembargador Federal Sérgio Nascimento e
AC/ReO 0012008- 74.2014.4.03.6183, 7ª Turma, Relator Desembargador Federal Fausto de Sanctis, DE
17/10/2017) e Súmula nº 68, da Turma de Uniformização de Jurisprudência.

O E. STF, no julgamento do ARE 664335, assentou o entendimento de que o fornecimento de EPI ao


trabalhador afasta a especialidade do labor desde que tal equipamento se mostre efetivamente capaz de
neutralizar ou eliminar a nocividade do ambiente laborativo. Assim, o simples fato de o PPP atestar a
eficácia do EPI não é suficiente para afastar a especialidade do labor, pois, conforme se infere do Anexo
XV, da Instrução Normativa 11/2006, do INSS - o campo 15.7 do PPP deve ser preenchido com “S - Sim; N

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- Não, considerando se houve ou não a atenuação, com base no informado nos itens 15.2 a 15.5, observado
o disposto na NR-06 do MET, observada a observância: [...]”, a eficácia atestada no PPP diz respeito à
aptidão do EPI para atenuar - e não neutralizar – a nocividade do agente. Logo, não se pode, com base nisso,
afastar a especialidade do labor, até porque, nos termos do artigo 264, § 5º, do RPS; “sempre que julgar
necessário, o INSS poderá solicitar documentos para confirmar ou complementar as informações contidas
no PPP, de acordo com § 7º do artigo 68 e inciso III do artigo 225, ambos do RPS” (Precedente: TRF 3ª
Região, NONA TURMA, ApReeNec - APELAÇÃO/REMESSA NECESSÁRIA - 2228745 - 0001993-
28.2015.4.03.6113, Rel. JUIZ CONVOCADO RODRIGO ZACHARIAS, julgado em 07/03/2018, e-DJF3
Judicial 1 DATA:21/03/2018)

Não nos escapa a análise, em complemento às observações aqui lançadas, que a experiência vivida
mundialmente a partir de 2020, com a pandemia por COVID-19, com a adoção de medidas preventivas,
sanitárias e pessoais, corrobora e lança luzes sobre a natureza meramente atenuadora dos EPI’s na prevenção
de doenças, inclusive as ocupacionais.

Diante das inúmeras alterações dos quadros de agentes nocivos, a jurisprudência consolidou o entendimento
no sentido de que deve se aplicar, no particular, o princípio tempus regit actum, reconhecendo-se como
especiais os tempos de trabalho se na época respectiva a legislação de regência os reputava como tal.

Já quanto à conversão do tempo de trabalho, a lei vigente por ocasião da aposentadoria é a aplicável ao
direito à conversão entre tempos de serviço especial e comum, independentemente do regime jurídico à
época da prestação do serviço (Tese Repetitiva 546, REsp 1310034/PR). O artigo 57, §5°, da Lei nº
8.213/91, admitia a conversão de tempo de atividade especial para comum, nos termos da tabela do artigo 70
do Decreto nº 3.048/99. Todavia, a conversão do tempo especial em comum só é possível até 13/11/2019,
pois a EC 103/2019 (artigos 10, §3° e 25, §2°) vedou a conversão para períodos posteriores a tal data.

Comprovada a exposição do segurado a agentes nocivos, há que se reconhecer a respectiva especialidade,


ainda que não tenham sido recolhidas as contribuições previdenciárias devidas em decorrência de tal fato
gerador, não havendo que se falar, nesse caso, em ausência de prévia fonte de custeio (artigo 195, §§ 5° e 6°,
da CF/88 e artigo 57, §§ 6° e 7°, da Lei nº 8.213/91) nem em ausência de registro do código da GFIP no
formulário, até porque o não recolhimento da respectiva contribuição não pode ser atribuído ao trabalhador,
mas sim à inércia estatal no exercício do seu poder de polícia. No Recurso Extraordinário com Agravo nº
664.335/SC, de Relatoria do Ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal, em sede de Repercussão
Geral, assentou-se que a ausência de prévia fonte de custeio não prejudica o direito dos segurados à
aposentadoria especial, em razão de não haver ofensa ao princípio da preservação do equilíbrio financeiro e
atuarial, eis que o artigo 195, § 5º, da Constituição Federal (que veda a criação, majoração ou a extensão de
benefícios previdenciários sem a correspondente fonte de custeio), contém norma dirigida ao legislador
ordinário, disposição inexigível quando se trata de benefício criado diretamente pela própria constituição,
como é o caso da aposentadoria especial.

DO AGENTE NOCIVO RUÍDO

A regulamentação sobre a nocividade do ruído sofreu algumas alterações.

Até a edição do Decreto nº 2.171/1997 (06/03/1997), considerava-se especial a atividade exercida com
exposição a ruído superior a 80 decibéis. A partir de então, passou-se a considerar como especial o trabalho
realizado em ambiente em que o nível de ruído fosse superior a 90 decibéis. Por fim, com a entrada em vigor
do Decreto nº 4.882, em 18/11/2003, o limite de tolerância a esse agente físico foi reduzido para 85 decibéis.

Considerando tal evolução normativa e o princípio tempus regit actum - segundo o qual o trabalho é
reconhecido como especial de acordo com a legislação vigente no momento da respectiva prestação -,
reconhece-se como especial o trabalho sujeito a ruído superior a 80 dB (até 05/03/1997); superior a 90 dB
(de 06/03/1997 a 18/11/2003); e superior a 85 dB, a partir de 19/11/2003.

O C. STJ, quando do julgamento do Recurso Especial nº 1.398.260/PR, sob o rito do artigo 543-C do

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CPC/73, firmou a tese de que não se pode aplicar retroativamente o Decreto nº 4.882/2003: "O limite de
tolerância para configuração da especialidade do tempo de serviço para o agente ruído deve ser de 90 dB
no período de 6.3.1997 a 18.11.2003, conforme Anexo IV do Decreto 2.172/1997 e Anexo IV do Decreto
3.048/1999, sendo impossível aplicação retroativa do Decreto 4.882/2003, que reduziu o patamar para 85
dB, sob pena de ofensa ao art. 6º da LINDB (ex-LICC)" (Tema Repetitivo 694).

O E. STF, de seu turno, no julgamento do ARE 664335, assentou a tese segundo a qual "na hipótese de
exposição do trabalhador a ruído acima dos limites legais de tolerância, a declaração do empregador, no
âmbito do Perfil Profissiográfico Previdenciário (PPP), da eficácia do Equipamento de Proteção Individual
(EPI), não descaracteriza o tempo de serviço especial para aposentadoria".

A Corte Suprema assim decidiu, pois o EPI não elimina o agente nocivo, mas apenas reduz os seus efeitos,
de sorte que o trabalhador permanece sujeito à nocividade, existindo estudos científicos que demonstram
inexistir meios de se afastar completamente a pressão sonora exercida sobre o trabalhador, mesmo nos casos
em que haja utilização de protetores auriculares.

Logo, no caso de ruído, ainda que haja registro no PPP de que o segurado fazia uso de EPI ou EPC,
reconhece-se a especialidade do labor quando os níveis de ruído forem superiores ao tolerado, não havendo
como se sonegar tal direito do segurado sob o argumento de ausência de prévia fonte de custeio (artigo 195,
§§ 5° e 6°, da CF/88 e artigo 57, §§ 6° e 7°, da Lei nº 8.213/91), até porque o não recolhimento da respectiva
contribuição não pode ser atribuída ao trabalhador, mas sim à inércia estatal no exercício do seu poder de
polícia.

METODOLOGIA DE AFERIÇÃO DO RUÍDO

Importa registrar que não merece acolhida a alegação no sentido de que não se poderia reconhecer como
especial o período trabalhado em função da técnica utilizada na aferição do ruído não ter observado a
Instrução Normativa 77/2015.

Ora, é evidente que tal norma (IN 77/2015), que estabelece uma técnica procedimental, não pode ser
aplicada retroativamente - até porque é materialmente impossível que o empregador proceda a uma medição
com base numa norma futura.

De todo modo, vale registrar que o segurado não pode ser prejudicado por eventual equívoco da empresa no
particular.

Ressalte-se que, em função do quanto estabelecido no artigo 58 da Lei nº 8.213/91, presume-se que as
informações constantes do PPP são verdadeiras, não sendo razoável nem proporcional prejudicar o
trabalhador por eventual irregularidade formal de referido formulário, eis que ele não é responsável pela
elaboração do documento e porque cabe ao Poder Público fiscalizar a elaboração do PPP e dos laudos
técnicos que o embasam.

Não só. A legislação de regência não exige que a nocividade do ambiente de trabalho seja aferida a partir de
uma determinada metodologia. O artigo 58, § 1º, da Lei nº 8.213/91, exige que a comprovação do tempo
especial seja feita por formulário, ancorado em laudo técnico elaborado por engenheiro ou médico do
trabalho, o qual, portanto, pode se basear em qualquer metodologia científica. Não tendo a lei determinado
que a aferição só poderia ser feita por meio de uma metodologia específica (Nível de Exposição
Normalizado - NEN), não se pode deixar de reconhecer o labor especial pelo fato de o empregador ter
utilizado uma técnica diversa daquela indicada na Instrução Normativa do INSS, pois isso representaria uma
extrapolação do poder regulamentar da autarquia. (Precedente: TRF2 SEGUNDA TURMA RECURSAL
Recursos 05100017820164058300).

Por tais razões, deve ser rejeitada a alegação do INSS de que o labor não poderia ser reconhecido como
especial em razão da metodologia incorreta na medição do ruído.

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NO CASO CONCRETO

O INSS visa a reforma da sentença para excluir a especialidade do período de 01/04/1991 a 10/05/1995.

Para comprovar as condições de trabalho no mencionado intervalo o autor apresentou no procedimento


administrativo e nestes autos o PPP em id 264166541 (págs. 11/12), devidamente assinado e com indicação
dos responsáveis técnicos pelos registros ambientais a partir de 01/10/1993, o qual declara que no
desempenho de suas atividades o segurado estava exposto a ruído de 81,2 dB(A), portanto, superior ao
limite de tolerância exigido pela legislação vigente, uma vez que até 05/03/1997 era de 80 dB(A).

As irregularidades formais alegadas pelo INSS - não apresentação de procuração do representante legal ou o
contrato social da empresa evidenciando os poderes de quem o subscreveu não autorizam a conclusão de
que o PPP juntado nos autos seria inidôneo. Caberia ao INSS comprovar a irregularidade da representação e
não se desincumbiu do seu ônus.

O PPP não contemporâneo não invalida suas conclusões a respeito do reconhecimento de tempo de trabalho
dedicado em atividade de natureza especial, primeiro, porque não existe tal previsão decorrente da
legislação e, segundo, porque a evolução da tecnologia aponta para o avanço das condições ambientais em
relação àquelas experimentadas pelo trabalhador à época da execução dos serviços. (Precedentes desta
Corte: AC 0012334-39.2011.4.03.6183, 8ª Turma, Desembargador Federal Luiz Stefanini, de 19/03/2018;
AC/ReO 0027585-63.2013.4.03.6301, 10ª Turma, Relator Desembargador Federal Sérgio Nascimento e
AC/ReO 0012008--74.2014.4.03.6183, 7ª Turma, Relator Desembargador Federal Fausto de Sanctis, de
17/10/2017)

Dessa forma, não procede a alegação do INSS de que o PPP estaria irregular por ausência de responsáveis
técnicos para todo o período laborado, pois foram indicados os profissionais legalmente habilitados que
efetivamente atestaram os períodos laborados pelo segurado e, conforme mencionado, o PPP não
contemporâneo não impede o reconhecimento da atividade especial.

Nesse sentido, a jurisprudência desta C. Turma:

PROCESSUAL CIVIL. PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO.


ART. 52 E SEGUINTES DA LEI Nº 8.213/91. NÃO CONHECIMENTO DA REMESSA NECESSÁRIA.
ATIVIDADE ESPECIAL. RUÍDO. RECONHECIMENTO. CONJUNTO PROBATÓRIO. TEMPO
ESPECIAL. CONVERSÃO EM COMUM. FATOR DE CONVERSÃO. APOSENTADORIA INTEGRAL
POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO CONCEDIDA. INEXISTÊNCIA DE RECURSO NOS DEMAIS
PONTOS. MANUTENÇÃO DA SENTENÇA. APELAÇÃO DO INSS DESPROVIDA.

[...]

6 - O Perfil Profissiográfico Previdenciário (PPP), instituído pela Lei nº 9.528/97, emitido com base nos
registros ambientais e com referência ao responsável técnico por sua aferição, substitui, para todos os
efeitos, o laudo pericial técnico, quanto à comprovação de tempo laborado em condições especiais.

7 - Saliente-se ser desnecessário que o laudo técnico seja contemporâneo ao período em que exercida a
atividade insalubre. Precedentes deste E. TRF 3ª Região.

[...]

10 - A indicação do profissional habilitado responsável pelos registros ambientais, como anotado no topo da
fl. 28, apresenta-se suficiente para admitir a validade do PPP para a prova da insalubridade, cabendo o
registro de que a falta de comprovação dos poderes conferidos pela empresa emitente ao seu representante
legal signatário não figura como requisito legal para a admissão do referido documento. Como cediço, o
ônus probatório de eventual mácula a título de validade caberia à autarquia. No entanto, meras alegações,
como as realizadas neste caso pelo INSS, são insuficientes para o acolhimento de suas pretensões.

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Num. 270981713 - Pág. 6
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(TRF 3ª Região, SÉTIMA TURMA, ApReeNec - APELAÇÃO/REMESSA NECESSÁRIA - 1795372 -


0010329-42.2011.4.03.6119, Rel. DESEMBARGADOR FEDERAL CARLOS DELGADO, julgado em
26/06/2017, e-DJF3 Judicial 1 DATA:05/07/2017)

Ressalto, conforme já exposto, que o fato de a parte autora não ter juntado o laudo técnico que embasa o
PPP não constitui óbice ao reconhecimento do labor especial (PET 10.262/RS, Primeira Seção, Relator
Ministro Sérgio Kukina, DE 16/02/2017).

Assim, o PPP apresentado é documento idôneo para comprovar as condições de trabalho do segurado.

No que diz respeito à metodologia de medição do ruído, conforme abordado anteriormente, não há que se
falar da necessidade de utilização de uma ou outra forma, dada a ausência de previsão legal.

Destaco, ainda, conforme elucidado anteriormente, que no caso do agente ruído, a utilização de EPI, mesmo
que eficaz, não desnatura a qualidade especial do tempo, consoante restou pacificado pelo E STF.

Sendo assim, restando comprovado que o segurado laborou exposto a pressão sonora superior ao limite de
tolerância, o período de 01/04/1991 a 10/05/1995 deve ser reconhecido como tempo especial, nos termos
decidido na sentença apelada.

HONORÁRIOS RECURSAIS

Os honorários recursais foram instituídos pelo CPC/2015, em seu artigo 85, § 11, como um desestímulo à
interposição de recursos protelatórios, e consistem na majoração dos honorários de sucumbência em razão
do trabalho adicional exigido do advogado da parte contrária, não podendo a verba honorária de
sucumbência, na sua totalidade, ultrapassar os limites estabelecidos na lei.

Assim, desprovido o apelo do INSS interposto na vigência da nova lei, os honorários fixados na sentença
devem, no caso, ser majorados em 2%, nos termos do artigo 85, § 11, do CPC/2015, ficando a sua
exigibilidade condicionada à futura deliberação sobre o Tema nº 1.059/STJ, o que será examinado
oportunamente pelo Juízo da execução.

PREQUESTIONAMENTO

Relativamente ao prequestionamento de matéria ofensiva a dispositivos de lei federal e de preceitos


constitucionais, tendo sido o recurso apreciado em todos os seus termos, nada há que ser discutido ou
acrescentado aos autos.

CONCLUSÃO

Ante o exposto, REJEITO a matéria preliminar e, no mérito, NEGO PROVIMENTO à Apelação do


INSS, condenando-o ao pagamento dos honorários recursais, nos termos expendidos na decisão.

Decorrido o prazo recursal, tornem os autos ao Juízo de origem.

Intimem-se. Publique-se.

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Num. 270981713 - Pág. 7
São Paulo, 3 de outubro de 2022.

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