Você está na página 1de 3

Evento 22 - VOTO1 25/06/2023 17:53

Poder Judiciário
TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 2ª REGIÃO
AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 5009384-69.2021.4.02.0000/RJ
RELATOR: DESEMBARGADOR FEDERAL RICARDO PERLINGEIRO
AGRAVANTE: INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA
BIODIVERSIDADE - ICMBIO
AGRAVADO: JUDITH MOREIRA

VOTO

Conforme relatado, trata-se de agravo de instrumento


interposto por INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO
DA BIODIVERSIDADE - ICMBIO em face de decisão proferida pelo
Juízo da 1ª Vara Federal de Angra dos Reis/RJ que, nos autos da ação
ordinária em cumprimento de sentença nº 0038884-40.2016.4.02.5111,
proposta por JUDITH MOREIRA, indeferiu o pedido de revogação da
gratuidade de justiça requerido pelo exequente, ora agravante, sob o
fundamento de que não se demonstrou a capacidade financeira
necessária ao afastamento do benefício.

Cinge-se a controvérsia dos autos em definir se estão


presentes os pressupostos exigidos para a manutenção do benefício da
gratuidade de justiça concedido à parte requerida nos autos originários.
Como se observa do processo principal, a parte agravada ajuizou ação
ordinária com o intuito de obter provimento judicial condenatório em
face do ente público, ora agravante. Ocorre que tanto a sentença
exarada pelo Juízo a quo como a apelação interposta nesta Corte
Regional entenderam ser indevido o objeto pretendido na inicial,
julgando improcedente o pedido e negando provimento ao recurso,
respectivamente. Houve arbitramento de verba honorária ambas as
instâncias, cuja exigibilidade restou suspensa em razão da parte ser
beneficiária da justiça gratuita.

De fato, o benefício da justiça gratuita suspende a


exigibilidade do crédito oriundo dos honorários advocatícios, nos
termos do art. 98, §3º, do CPC/2015. Entretanto, o mesmo artigo traz a
possibilidade de o credor demonstrar, no prazo de 5 (cinco) anos, que
os requisitos exigidos para a suspensão do crédito não estão mais
presentes, afastando a condição de hipossuficiência das partes.
https://eproc.trf2.jus.br/eproc/controlador.php?acao=acessar_…f3e043b989cef5de448ac8&hash=3b638bf998364a17b8db33928e746138 Página 1 de 3
Evento 22 - VOTO1 25/06/2023 17:53

Além disso, o art. 99, §3º, do CPC/2015, estabelece a


presunção de veracidade da alegação de hipossuficiência mediante a
simples afirmação de que a parte não está em condições de arcar com
as custas processuais e honorários advocatícios, sem prejuízo próprio
ou de sua família.

Trata-se de presunção relativa de necessidade que pode


ser contrariada tanto pela parte adversa, conforme art. 100 do
CPC/2015, quanto pelo juiz, de ofício, desde que fundamentadamente,
nos termos do art. 5º da Lei 1.060/50.

O diploma processual vigente não estabeleceu critérios


para verificação da situação de hipossuficiência, não sendo razoável
deixar o acesso à justiça ausente de parâmetros que possam determinar
a concessão da gratuidade de justiça.

Nesse contexto, como orientação para o tema, a 5ª Turma


do TRF2 adotou a definição de hipossuficiência estabelecida na
Resolução nº 85/2014 do Conselho Superior da Defensoria Pública da
União. O referido ato normativo dispõe que se presuma
economicamente necessitada a pessoa natural cuja renda mensal não
ultrapasse o valor total de 3 (três) salários mínimos. Precedentes:
TRF2, 5ª Turma Especializada, AG 00009747820194020000, Rel. Des.
Fed. ALUISIO GONÇALVES DE CASTRO, E-DJF2R 30.4.2019;
TRF2, 5ª Turma Especializada, AG 00016424920194020000, Rel. Des.
Fed. ALCIDES MARTINS, E-DJF2R 19.7.2019.

Frisa-se que deve servir de norte para o julgador, na


análise do pedido de assistência judiciária gratuita, as receitas e as
despesas da parte, a fim de que possa demonstrar a insuficiência
financeira que a impeça de efetuar o pagamento das custas processuais,
sem comprometer o seu sustento ou de sua família.

No caso em análise, conforme circunstância indicada pelo


agravante em suas razões recursais, fato que é corroborado pela
documentação acostada aos autos (evento 1 – ANEXO 2), a despeito de
não se verificar o valor monetário dos benefícios, é possível constatar
que a agravada é aposentada por idade, bem como recebe pensão por
morte junto ao INSS. Frisa-se que, embora regularmente intimada em
ambas as instâncias (1º grau – evento 90; 2º grau – evento 5) a parte
requerida/agravada não apresentou qualquer argumento ou documento
que permita ao menos infirmar as alegações suscitadas pelo ente
público.

https://eproc.trf2.jus.br/eproc/controlador.php?acao=acessar_…f3e043b989cef5de448ac8&hash=3b638bf998364a17b8db33928e746138 Página 2 de 3
Evento 22 - VOTO1 25/06/2023 17:53

Soma-se a isso o fato de ser a agravada inscrita no


Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica, anexado aos autos no evento 1
(ANEXO 2), como sendo empresária individual e proprietária de uma
pousada (CNPJ 18.458.292/0001-76) caracterizada como ME
(microempresa), cuja legislação, notadamente a LC 123/2006, exige
um ganho bruto no ano-calendário de até R$ 360.000,00 (trezentos e
sessenta mil reais), ex vi do art. 3º, I, da aludida norma.

A fim de corroborar com os argumentos aduzidos, o


ICMBIO trouxe aos autos cópia do diário oficial de Paraty, local do
estabelecimento comercial, que demonstra o lançamento tributário de
impostos municipais incidentes sobre a prestação de serviço realizada
pela pessoa jurídica da qual a agravada é proprietária, comprovando
que a atividade comercial está ativa e gerando lucro (evento 1 –
ANEXO 4).

Assim, considerando que a concessão da gratuidade de


justiça deve levar em consideração todo o contexto fático apresentado
na demanda, bem como o entendimento no sentido de que o julgador
pode, com base nos elementos probatórios existentes no processo,
afastar a gratuidade de justiça, mormente quando verificada a ausência
dos requisitos exigidos, é de se entender pela reforma da decisão
impugnada, a fim de revogar o benefício da gratuidade de justiça
anteriormente concedido.

Ante o exposto, voto no sentido de DAR


PROVIMENTO AO AGRAVO DE INSTRUMENTO para afastar o
benefício da gratuidade de justiça da parte agravada.

Documento eletrônico assinado por RICARDO PERLINGEIRO, Desembargador Federal,


na forma do artigo 1º, inciso III, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF
2ª Região nº 17, de 26 de março de 2018. A conferência da autenticidade do documento está
disponível no endereço eletrônico https://eproc.trf2.jus.br, mediante o preenchimento do
código verificador 20000953526v2 e do código CRC 7c8f30d3.

Informações adicionais da assinatura:


Signatário (a): RICARDO PERLINGEIRO
Data e Hora: 11/5/2022, às 12:52:21

5009384-69.2021.4.02.0000 20000953526 .V2

https://eproc.trf2.jus.br/eproc/controlador.php?acao=acessar_…f3e043b989cef5de448ac8&hash=3b638bf998364a17b8db33928e746138 Página 3 de 3

Você também pode gostar