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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA 2ª

VARA CÍVEL DA COMARCA DE ARAIOSES/MA.

“É dever de todos prevenir a ameaça ou violação aos direitos do idoso” (Art.4º, §


1º, da Lei 10.741/2003 – ESTATUTO DO IDOSO).

PROCESSO Nº: 0800903-67.2022.8.10.0069

JOÃO BATISTA NASCIMENTO ROCHA, já qualificada(o) nos autos do


processo em epígrafe, proposto em desfavor de BANCO PAN S/A,
vem, mui respeitosamente, à presença do Meritíssimo(a), inconformado com a r.
sentença, interpor sua APELAÇÃO, nos termos das disposições correlatas do CPC,
pelos fundamentos expostos, esperando, após exercido o juízo de admissibilidade, sejam
os autos remetidos ao Egrégio Tribunal de Justiça.

Termos em que,

Espera deferimento.

Araioses – MA, 15 de março de 2024.

KLAYTON OLIVEIRA DA MATA

OAB – MA 24841-A
RAZÕES DO RECURSO

ORIGEM: 2ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE ARAIOSES - MA

RECORRENTE: JOÃO BATISTA NASCIMENTO ROCHA

RECORRIDO: BANCO PAN S/A

PROCESSO Nº: 0800903-67.2022.8.10.0069

EGRÉGIA TURMA, EMÉRITOS JULGADORES.

Em que pese a cultura jurídica do MM. Juiz prolator da sentença de primeiro


grau, a demandante, ora recorrente, não pode se conformar com os termos da decisão
recorrida, vez que, não foi acertada como comumente ocorre, porquanto não houve a
fixação do DANO MORAL, data vênia, considerando as peculiaridades do caso em
tela, deixando de atingir suas finalidades: PUNITIVA, COMPENSATÓRIA e
PEDAGÓGICA, ainda mais em se tratando de VERBA ALIMENTAR DE
PESSOA IDOSA; GRAVIDADE DO ILICITO PERPETRADO; CONDIÇÃO
SOCIAL DA VÍTIMA; PATRIMÔNIO ECONÔMICO DO DEMANDADO E
REITERAÇÃO DE ILÍCITOS DESSA NATUREZA, DE MODO QUE A
CONTUMÁCIA NÃO TORNEM ENDÊMICAS AS FRAUDES DESSA
NATUREZA EM NOSSO PAÍS, GERANDO UMA VERDADEIRA INVERSÃO
DA ORDEM, FATO ESTE QUE VEM SENDO COMBATIDO PELO STJ COM
FIRMEZA, assim sendo, esta merece ser reformada TOTALMENTE, pelos motivos de
fato e de direito que o recorrente passa a aduzir:

DA JUSTIÇA GRATUITA

Nos termos dos incisos XXXIV e LXXIV, do Artigo 5º, da Constituição Federal,
combinado com Artigo 4º, da Lei 1.060/50, com redação introduzida pela Lei 7.510/86,
o AUTOR DECLARA QUE TEMPORARIAMENTE NÃO TEM CONDIÇÕES DE
ARCAR COM EVENTUAL ÔNUS PROCESSUAL sem prejuízo do próprio sustento e
de sua família.

Assim, faz jus aos benefícios da gratuidade de justiça, pois, o acesso à justiça é um
objetivo cada vez maior da sociedade em um estado democrático de Direito.

Razão pela qual, nos termos do art. 99 do CPC, requer de pronto a concessão dos
benefícios da justiça gratuita, cujo com tal finalidade, conforme consta nos autos,
apresenta à declaração de pobreza da Autora e extrato consignações de benefício
previdenciário no qual consta o valor da renda mínima que a mesma recebe.
I-DOS PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE RECURSAL

O presente apelo deve ser conhecido, uma vez que é adequado, interposto
pela parte legítima, processualmente interessada e regularmente representada. O
Recurso é tempestivo, uma vez que fora interposto no prazo legal, previsto pelo
CPC.

No que pertine ao preparo este não deve será levado a rigor, uma vez que o(a)
demandante, ora recorrente é pobre nos termos da Lei 1.060/50, conforme consta na
própria exordial, precisamente trata-se de um(a) aposentada(o), pelo que requer os
benefícios da Justiça Gratuita.

Neste contexto, impõe-se o conhecimento do presente recurso inominado, por


restarem comprovados todos os pressupostos de admissibilidade recursal.

II- DA SINTESE DA LIDE

Colendo Tribunal, o(a) autor(a)/recorrente alegou fraude em seu


benefício previdenciário de um desconto ilícito, decorrente de empréstimo, e em sua
contestação o banco sustentou que a contratação foi legítima e regular e que os
descontos foram devidos, PORÉM NÃO APRESENTOU O COMPROVANTE DE
REPASSE DOS VALORES AO AUTOR REFERENTE AO CONTRATO
326677232-0; 324996737-7; 315509555-1, CONSIDERADO VÁLIDO E
LEGÍTIMO DAS SUPOSTAS CONTRATAÇÕES. NO ENTANTO O PRESENTE
RECURSO VEM DEMONSTRAR E REQUERER A REFORMA DA DECISÃO
INICIAL, DEVIDO A PARTE RECORRIDA NÃO APRESENTOU OS RECIBOS
QUE COMPROVEM A EXISTÊNCIA DE RELAÇÃO JURÍDICA ENTRE AS
PARTES. OUTROSSIM, O JUIZ DE 1ª INSTÂNCIA JULGOU IMPROCEDENTE
A AÇÃO, PELO QUE EXTINGUIU O PROCESSO COM RESOLUÇÃO DO
MÉRITO. Dessa forma, fica demonstrada a total ilegalidade da parte recorrida no
negócio jurídico realizado entre as partes, pois a recorrente jamais realizou o
empréstimo em questão e nunca recebeu o valor que mensalmente fora descontado em
seu benefício, à luz das disposições correlatas do CDC e do NCC.

Com efeito, o juízo a quo julgou IMPROCEDENTE o feito, extinguindo


o processo com resolução do mérito, com fundamento no art. 487, I, do CPC.

III- DAS RAZÕES DO RECURSO INOMINADO

DA INEXISTÊNCIA DA COMPROVAÇÃO DO REPASSE DE VALOR


SUPOSTAMENTE PACTUADO/PACTA SUNT SERVANDA

Não obstante, o Recorrido não juntou aos autos o repasse dos valores
supostamente contratados que justifiquem os descontos ilegais realizados pelo recorrido
no benefício previdenciário da recorrente referente ao contrato nº 326677232-0;
324996737-7; 315509555-1.

Em se tratando de empréstimo consignado, a Súmula nº 18 do TJPI


disciplina:

“A ausência de comprovação pela instituição financeira da


transferência do valor do contrato para a conta bancária do
consumidor/mutuário, garantidos o contraditório e a ampla defesa,
ensejará a declaração de nulidade da avença, com os consectários
legais."

O Tribunal de Justiça do Estado do Piauí já vem decidindo em casos


como o atual, adotando a aplicação da SÚMULA 18 TJPI:

RECURSO INOMINADO. AÇÃO DE RESSARCIMENTO C/C


REPETIÇÃO DE INDÉBITO C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS
MORAIS E MATERIAIS. APLICABILIDADE DO CDC.
EMPRÉSTIMO BANCÁRIO. RESPONSABILIDADE CIVIL
OBJETIVA. CONTRATO JUNTADO AOS AUTOS. AUSÊNCIA
DE COMPROVANTE DE RECEBIMENTO DOS VALORES
CONTRATADOS PELA PARTE AUTORA. APLICAÇÃO DA
SÚMULA Nº 18 DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO
PIAUÍ. DANO MORAL CONFIGURADO. QUANTUM
INDENIZATÓRIO PROPORCIONAL E RAZOÁVEL.
SENTENÇA MANTIDA. RECURSO CONHECIDO E
IMPROVIDO. (Relatora Dra. MARIA ZILNAR COUTINHO LEAL,
Terceira Turma Recursal dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais do
PI., julgado em 12/08/2021). Grifos nossos;

No caso em análise, a parte recorrida não comprovou a disponibilização em


favor da parte autora, dos valores objetos do suposto contrato. A ausência de
comprovação da existência da disponibilização em favor da parte demandante, do valor
objeto do contrato, caracterizada se encontra a fraude na contratação, a qual, ainda que
praticada por terceiro, não pode ser considerada ato isolado e exclusivo do infrator
(CDC, artigo 14, § 3º, inciso II), para o fim de exculpar a responsabilidade da empresa.

Sendo assim, mesmo que o banco recorrido tenha juntado aos autos suposto
contrato, deverá comprovar a transferência do valor do mesmo para a conta
bancária do contratante, sob pena de nulidade da suposta contratação.

No seu sentido mais comum, o princípio pacta sunt servanda refere-se aos
contratos privados, enfatizando que as cláusulas e pactos e ali contidos são um direito
entre as partes, e o não-cumprimento das respectivas obrigações implica a quebra do
que foi pactuado. Esse princípio geral no procedimento adequado da práxis comercial
— e que implica o princípio da boa-fé — é um requisito para a eficácia de todo o
sistema, de modo que uma eventual desordem seja às vezes punida pelo direito de
alguns sistemas jurídicos mesmo sem quaisquer danos diretos causados por qualquer
das partes.

No caso em questão, a recorrente foi obrigada a pagar várias parcelas de


empréstimo sem que tenha sequer solicitado e tão pouco se beneficiado de tais
valores, o que comprova que mesmo que o suposto contrato tenha existido
legalmente não teria sido cumprido e muito menos respeitado pela parte recorrida
pois em momento algum comprova o repasse de tais valores a Recorrente.

Ora, Excelência, mesmo tendo a parte autora, realizado a avença


descortinada na presente demanda, tese suscitada por mera argumentação, caberia
à Instituição Financeira TRANSFERIR O REAL VALOR CONTRATADO, sem
aumentar, nem suprimi-lo.

Admitir que ocorreu a efetivação de depósito sem a demonstração de qualquer


documento idôneo, é tornar ainda mais vulnerável o consumidor e um atentado contra
todas as disposições do Código de Defesa do Consumidor.

Este tem sido o posicionamento estabelecido pelos Tribunais Pátrios, conforme


se abstrai dos seguintes julgados de casos semelhantes abaixo em destaque:

APELAÇÃO CÍVEL Nº 0803248-82.2020.8.10.0034 APELANTE:


AURINETE DOS SANTOS SOUSA Advogado: Dr. EZAU ADBEEL
SILVA GOMES OAB/MA nº 22.239-A) APELADO: BANCO
BRADESCO FINANCIAMENTOS S.A. Advogado: Dr. WILSON
BELCHIOR (OAB/MA 11.099-A) Relator: Des. JORGE RACHID
MUBÁRACK MALUF ABRIL/2021. No mérito, deve ser aplicado o
entendimento firmado no julgamento do Incidente de Resolução de
Demandas Repetitivas (IRDR) nº 53983/2016, no qual ficaram fixadas as
teses sobre as consignações: 1ª TESE "Independentemente da inversão
do ônus da prova,- que deve ser decretada apenas nas hipóteses
autorizadas pelo art. 6º, VIII do CDC, segundo avaliação do magistrado
no caso concreto-, cabe à instituição financeira/ré, enquanto fato
impeditivo e modificativo do direito do consumidor/autor (CPC, art. 373,
II), o ônus de provar que houve a contratação do empréstimo consignado,
mediante a juntada do contrato ou de outro documento capaz de revelar a
manifestação de vontade do consumidor no sentido de firmar o negócio
jurídico, permanecendo com o consumidor/autor, quando alegar que não
recebeu o valor do empréstimo, o dever de colaborar com a Justiça (CPC,
art. 6º) e fazer a juntada do seu extrato bancário, embora este não deva
ser considerado, pelo juiz, como documento essencial para a propositura
da ação. Nas hipóteses em que o consumidor/autor impugnar a
autenticidade da assinatura constante do contrato juntado ao processo,
cabe à instituição financeira/ré o ônus de provar essa autenticidade
(CPC, art. 429, II), por meio de perícia grafotécnica ou mediante os
meios de prova legais ou moralmente legítimos(CPC, art. 369)". 2ª TESE
: "A pessoa analfabeta é plenamente capaz para os atos da vida civil (CC,
art. 2º) e pode exarar sua manifestação de vontade por quaisquer meios
admitidos em direito, não sendo necessária a utilização de procuração
pública ou escritura pública para contratação de empréstimo consignado,
de sorte que eventual vício existente na contratação do empréstimo deve
ser discutido á luz das hipóteses legais que autorizam a anulação por
defeito do negócio jurídico (CC, arts. 138, 145, 151, 156, 157 e 158)". 3ª
TESE: "Nos casos de empréstimos consignados, quando restar
configurada a inexistência ou a invalidade do contrato celebrado
entre a instituição financeira e a parte autora, bem como
demonstrada a má-fé da instituição bancária, será cabível a
repetição de indébito em dobro, resguardadas as hipóteses de engano
justificáveis"; 4ª TESE: "Não estando vedado pelo ordenamento jurídico,
é lícito a contratação de quaisquer modalidades de mútuo financeiro, de
modo que, havendo vício na contratação, sua anulação deve ser discutida
à luz das hipóteses legais que versam sobre os defeitos do negócio
jurídico (CC, arts. 138, 145, 151, 156, 157 e 158) e dos deveres legais de
probidade, boa-fé (CC, art. 422) e de informação adequada e clara sobre
os diferentes produtos, especificando corretamente as características do
contrato (art. 4º, IV e art. 6º, III do CDC), observando-se, todavia, a
possibilidade de convalidação do negócio anulável, segundo o princípio
da conservação dos negócios jurídicos (CC, art. 170)".
Assim, consoante o art. 985, inciso I do Código de Processo Civil, após o
julgamento do IRDR, a tese jurídica será aplicada a todos os processos
individuais ou coletivos que versem sobre idêntica questão de direito e
que tramitem na área de jurisdição do respectivo tribunal, inclusive
àqueles que tramitem nos juizados especiais do respectivo Estado ou
região. Isso significa que o IRDR veicula um precedente obrigatório e
não meramente persuasivo, o que se amolda ao art. 926 do CPC, segundo
o qual os juízes e tribunais devem velar pela estabilidade da
jurisprudência, mantendo-a íntegra, estável e coerente. No presente
caso, a pretensão autoral merece prosperar, pois o Banco
juntou um Contrato supostamente assinado pela parte
autora, mas não demonstrou que o valor que teria sido
contratado fora recebido por ela. Destaco que é aplicável
ao caso o Código de Defesa do Consumidor, eis que, como
prestadores de serviços especialmente contemplados no
artigo 3º, §2º2 , estão os bancos submetidos às suas
disposições. A responsabilidade objetiva pelo serviço prestado pelos
bancos se insere no artigo 14 do CDC3 , ensejando à instituição
financeira o dever de reparação dos danos causados aos consumidores,
decorrentes de defeitos relativos à prestação do serviço. O Banco não
comprovou o fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito da
parte autora, nos termos do art. 373, inciso II do CPC. Dessa forma,
deve-se declarar a invalidade/nulidade do contrato impugnado, uma vez
que restou caracterizada falha na prestação do serviço, nos termos do art.
14 do CDC.
...
Sabendo disso, no que tange ao quantum a título de indenização pelos
danos morais, entendo que o valor de R$ 3.000,00 (três mil reais) se
mostra dentro dos parâmetros adotados pelo Tribunal de Justiça e
proporcional ao abalo sofrido. No tocante aos consectários legais da
sentença, a correção monetária, deve se dar pelo INPC, sendo que para os
danos morais incidirá a partir da sua fixação, no entanto, em relação ao
indébito, desde o ajuizamento da ação, nos termos do art. 1º, § 2º, da Lei
nº 6.899/814. Já os juros de mora, em ambas as condenações, devem ser
fixados em 1% (um por cento) ao mês, a partir do evento danoso,
conforme a Súmula nº 54 do STJ5 . Ante o exposto, dou provimento ao
apelo, para declarar nulo o contrato nº 811009727, condenar o Banco ao
pagamento de indenização por danos morais no valor de R$ 3.000,00
(três mil reais), bem como condenar o banco réu a restituir, em dobro, a
quantia de R$ 1.736,80 (um mil setecentos e trinta e seis reais e oito
centavos), descontados indevidamente da parte autora. Condeno o réu ao
pagamento das custas processuais, bem como dos honorários
advocatícios, que fixo em 10% (dez por cento) sobre o valor da
condenação, considerando o zelo do profissional, o local da prestação do
serviço e a natureza da causa (art.85, §2º CPC/20156).

DIREITO DO CONSUMIDOR E PROCESSO CIVIL. APELAÇÃO


CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS.
INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. EMPRÉSTIMO FRAUDULENTO.
PRESCRIÇÃO. REJEITADA. DESCONTOS INDEVIDOS
COMPROVADOS. DEVOLUÇÃO EM DOBRO. DANO MORAL
CONFIGURADO. SENTENÇA MANTIDA. APELO IMPROVIDO.
I - Busca o recorrente a reforma da sentença que julgou procedente a
demanda, para declarar a nulidade do contrato impugnado e condenar o
apelante a repetir em dobro o indébito descontado de forma indevida,
além do pagamento de indenização por danos morais no valor de R$
3.520,00 e honorários advocatícios em 20% sobre o valor da condenação.
Para tanto, defende, prescrição, regularidade da contratação e existência
de ausência de perfil de fraude, cerceamento de defesa, ausência de prova
do dano moral ou redução do quantum indenizatório e condenação em
honorários de sucumbência. II - Primeiro passo ao exame da prescrição
levantada pelo apelante, que de logo deve ser afastada. Sustenta o
apelante a ocorrência da prescrição do direito, aduzindo que o contrato
foi firmado em 24/08/2012 e o autor ingressou em juízo em 25/08/2015,
três anos e um dia depois, apontando como fundamento o artigo 206, §3º,
V do Código Civil. Todavia, a situação tratada é de relação de consumo,
devendo ser aplicado o Código de Defesa do Consumidor, artigo 27, eis
que o prazo prescricional deve ser o de cinco anos, contando-se a partir
da data do último desconto, pois trata-se de matéria de trato sucessivo e
na hipótese o desconto findou-se em 2015e a parte autora ingressou com
a demanda em 25/08/2015, estando, portanto, dentro do prazo para
requerer o seu direito. Com tais considerações, rejeito a prescrição
levantada pelo apelante. III - Quanto ao argumento de regularidade da
contratação e existência de ausência de perfil de fraude, não vislumbro na
defesa do apelante nenhuma prova que demonstre a dita regularidade, eis
que os documentos acostado às folhas 41-49, apontando cuidar do
contrato assinado pela parte apelada, não pode ser considerado como
válido, eis que apenas o polegar assentado sem as duas testemunhas a
rogo, não pode ser considerado como documento válido. Além, do que
apenas cópia de print de computador não é considerado prova
conforme entendimento do Superior Tribunal de Justiça.
Assim, não vislumbro nos autos prova contundente da
regularidade contratual. IV - No que toca ao cerceamento de defesa,
também deve ser afastado, pois compete ao julgador determinar as
providências indispensáveis à resolução do litígio e aferir a necessidade
de formação de outros elementos para apreciação da demanda, nos
termos dos artigos 370 e 371 do CPC. V - Desse modo, o Banco
demandado não conseguiu desconstituir o direito pleiteado pela parte
autora, pois não trouxe aos autos documentos que confirmasse a
existência válida do contrato de mútuo nº 10995658 firmado entre as
partes litigantes, não cumprindo assim com o ônus da prova, nos termos
do artigo 373, inciso II, do Código de Processo Civil, de per si, revela
hipótese em que a mera conduta ilícita já é suficiente para demonstrar os
transtornos e aborrecimentos sofridos pela apelante. VI - No caso em
apreço, após analisar o conjunto probatório constante dos autos,
atentando para as circunstâncias específicas do evento, para a situação
patrimonial das partes (condição econômico-financeira), para a gravidade
da repercussão da ofensa, percebo que o juízo monocrático tratou a
matéria com a devida cautela, arbitrando a indenização no valor de R$
3.520,00, razão pela qual entendo que a sentença recorrida deve ser
mantida, ao passo que se mostra justo e dentro dos parâmetros utilizados
por esta Câmara em casos idênticos. VI - A Repetição de Indébito, com
previsão no artigo 42 do CDC, deve também ser mantido, eis que os
descontos efetuados nos proventos de aposentadoria da apelada foram
comprovados indevidos, devendo ser devolvidos em dobro como
consignado na sentença. Apelação improvida. TJMA (ApCiv
0154622020, Rel. Desembargador(a) JOSÉ DE RIBAMAR
CASTRO, QUINTA CÂMARA CÍVEL, julgado em 19/10/2020 , DJe
23/10/2020).

Este Egrégio Tribunal de Justiça já pacificou que a comprovação de recebimento


do crédito para a quem contrata é essencial para a validação do negócio jurídico válido
em matéria de empréstimo consignado, senão vejamos:

APELAÇÃO CÍVEL. PROCESSO CIVIL. EMPRÉSTIMO MEDIANTE


FRAUDE EM PROVENTOS DE APOSENTADORIA. PROVA
DOCUMENTAL FAVORÁVEL À REGULARIDADE DA
CONTRATAÇÃO. ÔNUS DA PROVA ACERCA DA LEGALIDADE
DA CONTRATAÇÃO E DO RECEBIMENTO DO EMPRÉSTIMO.
AUSÊNCIA DE VÍCIO. DANO MORAL NÃO CONFIGURADO.
REPETIÇÃO DE INDÉBITO INDEVIDA. 1. A lei civil não exige
solenidade para a validade de negócio jurídico firmado por analfabeto,
não podendo tal argumento, isoladamente, fundamentar a inexistência do
empréstimo impugnado. 2. Deve-se concluir pela legalidade dos
descontos realizados na aposentadoria, quando presentes nos
autos cópia do contrato que foi entabulado entre as partes
devidamente firmado, de seus documentos pessoais e o
comprovante de que o valor foi creditado em conta bancária de
titularidade da parte. 3. Demonstrada a legitimidade do contrato e
dos descontos, não há que se falar em responsabilidade civil objetiva, por
inexistir qualquer evento danoso provocado à Apelante. 4. Apelação
conhecida e improvida. 5. Unanimidade. Decisão UNANIMEMENTE A
QUINTA CÂMARA CÍVEL ISOLADA CONHECEU E NEGOU
PROVIMENTO AO PRESENTE RECURSO, NOS TERMOS DO
VOTO DO DESEMBARGADOR RELATOR. (Tribunal de Justiça do
Maranhão TJ-MA - Apelação Cível: AC 0000504- 38.2015.8.10.0127
MA 0496712017. Data de julgamento: 18/11/2019. Data de publicação:
25/11/2019)

Destarte, o Apelado não conseguiu demonstrar o pagamento dos


valores ao Recorrente, portanto, descumprindo os requisitos legais
indispensáveis, externados através da devida realização de sua própria
obrigação e recepção de ônus, honrando a natureza bilateral do contrato.

DO DANO MORAL

A MM. Juíza de 1º Grau, não concedeu o pedido de indenização por danos


morais pois argumenta que não houve ato ilícito, e sim exercício regular de direito.
Todavia, o banco não juntou nenhum documento que comprove suas alegações.

A parte autora é idosa, aposentada com 1 salário mínimo, e jamais solicitou o


empréstimo ora questionado. Tal situação é agravada ainda mais, na medida em que a
autora depende de seu benefício previdenciário para sobreviver.

Os atos realizados pela recorrida além de acarretarem prejuízo de ordem


material, acarretam abalo moral para a Autora, pois o valor em que a Re locupletou-se e
vem se locupletando indevidamente pode não representar grande cifra para a mesma,
pois acostumada a trabalhar com cifras milionárias, a referida importância apenas
representa um lucro fácil e indevido.

Soma-se a isso, o fato de o desconto ter se estendido por longo período em


benefício de caráter alimentar. Desse modo, o dano moral no presente caso mostra-se
“in re ipsa”, tendo em vista que ocasionados por débitos contraídos mediante
fraude.

Dessa forma, a indenização pecuniária em razão de dano moral e à imagem,


apresenta-se como um lenitivo que atenua, em parte, as consequências do prejuízo
sofrido, superando o déficit acarretado pelo dano.

DO DANO MATERIAL E REPETIÇÃO INDÉBITA


O banco não juntou nenhum documento que comprove sua alegação. Outro
ponto que deve ser observado é a informação repassada pelo banco de que repassou um
valor bem menor do que o supostamente contratado.

A Segunda Seção do Colendo Superior Tribunal de Justiça publicou recente


súmula (479) com os seguintes dizeres: “As instituições financeiras respondem
objetivamente pelos danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos
praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias”.

Os bancos foram inseridos no círculo da responsabilidade objetiva e diversas


razões conspiram para aceitabilidade do entendimento. Primeiro, o disposto no art. 14
da lei 8.078/90 (CDC) que dispensa a prova da culpa para proteger o consumidor vítima
das operações bancárias e, depois, pela própria gestão administrativa das agências, pois
mirando atender bem para conquistar ou manter a clientela, finaliza providências
planejadas com esse desiderato sem executá-las com o cuidado exigido para a segurança
dos envolvidos, direta ou indiretamente.

Desse modo, não tendo o banco réu se cercado dos cuidados necessários, agindo
com negligência, imperícia e imprudência, causando também danos materiais a autora,
deve o banco ser condenado ao pagamento em dobro pelas quantias descontadas
de seu benefício de forma indevida, não havendo que se falar em compensação, por se
tratar de contrato fraudulento.

Nesse sentido:

3ª TESE (POR UNANIMIDADE, APRESENTADA PELO


DESEMBARGADOR RELATOR): "Nos casos de empréstimos
consignados, quando restar configurada a inexistência ou invalidade
do contrato celebrado entre a instituição financeira e a parte autora,
bem como demonstrada a má-fé da instituição bancária, será cabível
a repetição de indébito em dobro, resguardadas as hipóteses de
enganos justificáveis". (redação após o julgamento de Embargos de
Declarações).

IV – DOS PEDIDOS

Por tudo considerado, será, além de um ato de justiça, um relevante serviço


à cidadania e à defesa do consumidor, já que qualquer um que pratique qualquer ato do
qual resulte prejuízo a outrem, deve suportar as conseqüências de sua conduta. É regra
elementar do equilíbrio social. A justa reparação é obrigação que a lei impõe a quem
causa algum dano a outrem.

Por todo o exposto, REQUER a recorrente:


1) seja CONHECIDO E PROVIDO o presente recurso, a fim
de que seja reformada a sentença a quo, totalmente, que julgará
totalmente procedente os pedidos do(a) recorrente, visto que a ora
recorrida não apresentou o comprovante de repasse dos
valores referentes ao contrato nº 326677232-0; 324996737-7;
315509555-1, de modo que este COLENDO
TRIBUNAL ARBITRE O DANO MORAL, PELOS SEUS
PRÓPRIOS CRITÉRIOS ANALÍTICIOS E JURÍDICOS,
CONSIDERANDO A JURISPRUDÊNCIA PACÍFICA DO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO MARANHÃO, E AINDA
CONDENE O RECORRIDO A DEVOLVER EM DOBRO À
RECORRENTE OS VALORES DESCONTADOS DE SEU
BENEFÍCIO, VEZ QUE OCORRERAM DESCONTOS
ILICITOS NA VERBA ALIMENTAR DO RECORRENTE.

2) sendo julgado procedente o recurso de apelação ora interposto pelo(a)


recorrente, seja fixada a condenação nos ônus da sucumbência, no percentual de 20%,
nos termos legais.

3) Requer, ainda lhe seja deferida a assistência judiciária, nos termos do art. 4º,
da Lei 1.060/50, por não ter condições, no momento, de arcar com as custas do
preparo e eventual sucumbência;

Nestes Termos,

Pede deferimento.

Araioses – MA, 15 de março de 2024.

KLAYTON OLIVEIRA DA MATA

OAB – MA 24841-A

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