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EXCELENTÍSSIMA SENHORA DOUTORA JUÍZA DE DIREITO DA 32ª VARA

CÍVEL DO FORO CENTRAL DE SÃO PAULO – SP

Processo n° 1011790-47.2017.8.26.0008
(Rescisão do contrato e devolução do dinheiro)

ANA CAROLINA DE MORAES FONTINELE, já


qualificada nos autos do processo em epígrafe, através de seu advogado que
esta subscreve, em atendimento ao despacho de fls. 290, vem perante V.
Ex.ª, apresentar

CONTRARRAZÕES
AO RECURSO DE APELAÇÃO

interposto por ANIGRO EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS LTDA E


OUTRA, contra a sentença proferida às fls. 274-277, através das
contrarrazões anexas, as quais requer, após recebidas e processadas, sejam
remetidas à apreciação do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo,
com as cautelas legais.

Nestes termos,

pede deferimento.

São Paulo, 23 de outubro de 2018.

FÁBIO CARDOZO DE SÁ
OAB/SP 353.570
CONTRARRAZÕES AO RECURSO DE APELAÇÃO

RECORRENTES: ANIGRO EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS LTDA e


ESCALDA EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS LTDA

RECORRIDA: ANA CAROLINA DE MORAES FONTINELE

Processo nº: 1011790-47.2017.8.26.0008

Origem: 32ª Vara Cível da Comarca de São Paulo – SP

Egrégio Tribunal de Justiça,

Colenda Câmara,

Nobres Desembargadores.

O recurso das Rés, ora Apelantes, não deve ser


conhecido, EIS QUE DEIXA DE ATACAR OS FUNDAMENTOS DA R. SENTENÇA,
sendo mera reprodução da contestação.

Preceitua o artigo 932, inciso III, do Código de


Processo Civil que o relator NÃO CONHECERÁ de recurso que NÃO TENHA
IMPUGNADO, DE MODO ESPECÍFICO, os fundamentos da sentença.

É o caso dos autos.

Entretanto, caso este Nobre Relator entenda de


maneira diversa, o que se admite somente a título de argumentação, o fato
é que no mérito, flagrante a não devolução de 90% (NOVENTA POR CENTO)
dos valores pagos em contrato, em decorrência de pedido de diferença de
distrato pleiteado pela Recorrida.
DA SÍNTESE DO RECURSO DE APELAÇÃO

Inconformada com a correta e irrepreensível r.


sentença de fls. 274-277, as empresas-rés interpuseram recurso de apelação,
apresentando as seguintes argumentações: a) não caracterização de
contrato de adesão; b) impossibilidade de devolução de valores pagos; c)
descabimento de cobrança de juros.

Entretanto, o inconformismo apresentado pelas


Apelantes, através de razões recursais meramente repetitivas não merece
prosperar, uma vez que o magistrado a quo bem conduziu o julgamento
mediante justa e sensata condenação para as incorporadoras, ponderando e
pontuando adequadamente a relação anteriormente havida inter partes,
motivo pelo qual a r. sentença deve prevalecer.

Senão, vejamos!

DA DEVOLUÇÃO DA DIFERENÇA DOS VALORES


PAGOS E RELATIVIZAÇÃO DO PACTA SUNT
SERVANDA

As Apelantes simplesmente afirmaram que a


cláusula contratual deve ser observada com fundamento no princípio pacta
sunt servanda e porque a Apelada aderiu às condições do negócio quando
assinou o Contrato, lembrando que as tais “condições gerais” existentes no
contrato das Apelantes são cláusulas totalmente pré-estabelecidas,
nitidamente adesivas e leoninas, sem qualquer chance para o interessado
discutir seu teor e forma.
Menosprezaram as aplicações legais sobre o caso,
como também a existência das súmulas nº 1, 2 e 3 do Egrégio Tribunal de
Justiça do Estado de São Paulo1.

DA INEXISTÊNCIA DE PREJUÍZO POR PARTE


DAS RECORRENTES E AUSÊNCIA DE POSSE
SOBRE O IMÓVEL PELA COMPRADORA

As Recorrentes não apresentaram quaisquer provas


de prejuízo para justificar tamanha retenção sobre os valores pagos pela
Apelada, não apresentando documento capaz de demonstrar supostos
“prejuízos” com a revenda do imóvel.

Também não explicaram o motivo da retenção de


parte considerável das importâncias pagas pela compradora, apenas
insistindo na aplicação do princípio da obrigatoriedade dos contratos.

Vale lembrar que o Poder Judiciário do Estado de


São Paulo REPUDIA RETENÇÕES ABUSIVAS e alheias à realidade do
mercado, mediante a necessária incidência das normas protetivas do Código
de Defesa do Consumidor.

Aliás, esse Egrégio Tribunal de Justiça somente


admite retenção de ATÉ 20% (vinte por cento) quando o comprador vem a
exercer posse sobre o imóvel, casos em que cobra-se do comprador uma taxa
de ocupação, o que sequer é o caso destes autos.

1
Súmula 1: O Compromissário comprador de imóvel, mesmo inadimplente, pode pedir a rescisão do
contrato e reaver as quantias pagas, admitida a compensação com gastos próprios de administração e
propaganda feitos pelo compromissário vendedor, assim como com o valor que se arbitrar pelo tempo de
ocupação do bem.
Súmula 2: A devolução das quantias pagas em contrato de compromisso de compra e venda de imóvel
deve ser feita de uma só vez, não se sujeitando à forma de parcelamento prevista para a aquisição.
Súmula 3: Reconhecido que o compromissário comprador tem direito à devolução das parcelas pagas por
conta do preço, as partes deverão ser repostas ao estado anterior, independentemente de reconvenção.
Analisando a questão de fundo, pois, mostra-se
indisputável o cabimento da apreciação do pedido à luz dos preceitos e
princípios que regem as demandas de natureza consumerista.

Em que pese o Contrato ter sido celebrado


livremente pelas partes, o princípio da força obrigatória dos contratos (pacta
sunt servanda) comporta, no moderno direito obrigacional, atenuação pela
incidência de normas de ordem pública e, em consequência, de natureza
cogente, com a finalidade precípua de adequá-lo à sua função social.

Nesse sentido, a revisão dos contratos não pode


mais ser procedida somente com base na teoria da imprevisão ou da
onerosidade excessiva, admitindo a autonomia da vontade, notadamente nas
relações jurídicas envolvendo partes sem o mesmo poder de barganha, ou
seja, relativização frente à legislação protetiva do contratante mais fraco.

Destarte, segundo os preceitos de caráter


constitucional e infraconstitucional reguladores dos contratos, inafastável a
busca de seu equilíbrio. A propósito, julgado do Colendo Superior Tribunal de
Justiça2.

As Apelantes mostram desconhecer o Direito Civil e


de Defesa do Consumidor modernos, agarrando-se como pode a princípio
antigo e já não mais aplicado pelos juízes e operadores do direito,
principalmente quando está em jogo as diretrizes da legislação de proteção
do CONSUMIDOR.

Obviamente, tratando-se de uma RELAÇÃO DE


CONSUMO, não há como se considerar válida uma cláusula contratual que
estabeleça a retenção de parte significativa dos valores pagos pelo
consumidor!

2
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. REVISÃO CONTRATUAL. POSSIBILIDADE. RELATIVIZAÇÃO
DO PRINCÍPIO PACTA SUNT SERVANDA. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. COBRANÇA (...). A revisão dos
contratos é possível em razão da relativização do princípio pacta sunt servanda, para afastar eventuais
ilegalidades, ainda que tenha havido quitação ou novação (...)” (AgRg no REsp 921.104/RS, Rel. Ministro
HÉLIO QUAGLIA BARBOSA, Quarta Turma, julgado em 22.05.2007, DJ 04.06.2007 p. 375).
DA APLICAÇÃO DOS JUROS DE MORA
SOMENTE APÓS O TRÂNSITO EM JULGADO DA
SENTENÇA

As incorporadoras-rés também requereram em sua


apelação que os juros de mora de 1% (um por cento) ao mês sejam aplicados
somente após o trânsito em julgado.

Entretanto, quanto ao prescrito pelo caput, do


artigo 240 do CPC3, não deixa margem para dúvidas no sentido de que a
citação válida é que constitui em mora o devedor, aliado ao quanto prescrito
pelo artigo 405 do Código Civil4, no mesmo sentido e não o trânsito em
julgado da decisão judicial.

Observe-se, por um lado, que a incidência a partir


do evento (no caso, o desembolso das parcelas) é reservada à
responsabilidade civil extracontratual, nos termos do art. 398 do Código Civil.

Por outro lado, anote-se que não há previsão legal


a autorizar sua incidência somente a partir do trânsito em julgado, sem que
se vinculem os juros moratórios à liquidez da dívida e sem que se permita
que esteja o termo inicial dos juros à mercê do comportamento processual
do devedor, eventualmente opondo recursos a fim de postergar a incidência
dos juros.

3
Art. 240. A citação válida, ainda quando ordenada por juízo incompetente, induz litispendência, torna
litigiosa a coisa e constitui em mora o devedor, ressalvado o disposto nos arts. 397 e 398 da Lei no 10.406,
de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil).

4
Código Civil, artigo 405: Contam-se os juros de mora desde a citação inicial.
Nesse contexto é o entendimento recente do
E.TJSP5.

Pelas razões já declinadas a solução é que a citação


inicial define o termo a partir do qual a contagem dos juros moratórios
começa, em razão de expressa disposição do artigo 405 do Código Civil.

A matéria, inclusive, encontra-se sumulada pelo


Supremo Tribunal Federal6.

E também: “Tratando-se de responsabilidade


contratual, a mora constitui-se a partir da citação, e os juros respectivos
devem ser regulados, até a data da entrada em vigor do novo Código, pelo

5
AGRAVO DE INSTRUMENTO – Compra e venda de imóvel – Ação de rescisão contratual – Decisão que
julgou parcialmente o mérito – Alegação da ré de cerceamento de defesa – Questão de direito –
Desnecessidade de depoimento pessoal dos autores, oitiva de testemunhas e perícia contábil - Autores
que buscam a rescisão por não mais conseguirem adimplir com as parcelas do preço – Procedência –
Rescisão que se impõe – Devolução das parcelas pagas – Percentual de retenção pela administração bem
fixado em 10% – Juros de mora sobre os valores a serem restituídos que incidem a partir da citação – Art.
405 do CC – Decisão mantida - Recurso Improvido. (TJSP, Agravo de instrumento nº 2171514-
31.2016.8.26.0000, acórdão nº 2017.0000143714. Rel. EGIDIO GIACOIA, 03ª Câmara de Direito Privado.
Data do julgamento: 09 de março de 2017.).

APELAÇÃO. COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA. IMÓVEL. COMISSÃO DE CORRETAGEM. Pretensão de


restituição do valor pago a título de comissão de corretagem pelo compromissário comprador. Validade
da transferência do encargo ao consumidor (REsp. n. 1.599.511). Inexistência de violação ao dever de
informação. Remuneração devida. CORREÇÃO MONETÁRIA. Desembolso. Mera recomposição do valor
real da moeda aviltada pela inflação, e não um “plus” ao valor do contrato. JUROS MORATÓRIOS. Citação.
Art. 405 do CC. Sentença reformada. Recurso provido em parte. (TJSP, Apelação nº 1035317-
14.2015.8.26.0100, acórdão nº 2017.0000194983, Rel. HAMID BDINE, 04ª Câmara de Direito Privado.
Data do julgamento: 23 de março de 2017.).

Ação de rescisão contratual cumulada com restituição de quantias pagas - Contrato de compromisso de
compra e venda de imóvel - Rescisão contratual pleiteada pelo comprador - Decisão que apreciou parte
do mérito dos pedidos iniciais, nos termos do Artigo 356 do Código de Processo Civil, com a postergação
da análise do pedido de devolução da quantia paga a título de comissão de corretagem e Taxa Sati -
Abusividade da cláusula nona do contrato - Imposição de desvantagem indevida ao consumidor - Nulidade
confirmada - Mantida a determinação de restituição de 90% dos valores pagos - Juros de mora que
incidem desde a citação (art. 405 do Código Civil) - Decisão mantida - Recurso não provido. (TJSP, Agravo
de instrumento nº 2238772-58.2016.8.26.0000, acórdão nº 2017.0000272205. Rel. MARCIA DALLA DEA
BARONE, 03ª Câmara de Direito Privado. Data do julgamento: 21 de abril de 2017).

6
“Incluem-se os juros moratórios na liquidação, embora omisso o pedido inicial ou a condenação”
(Súmula nº 254).
artigo 1.062 do diploma de 1916, e, depois dessa data, pelo artigo 406 do
atual Código Civil”7.

Assim, correta é a incidência de juros de mora a


contar da citação, conforme o artigo 405 do Código Civil, por ser matéria de
ordem pública.

O termo inicial dos juros deve corresponder à


citação, nos termos do art. 405 do CC, e não do trânsito em julgado da
decisão, como pretende a incorporadora, uma vez que deixou de promover a
restituição da quantia paga pelos compradores, ao menos dos valores
incontroversos, de modo que não se aplica a regra prevista no art. 396 do
CC.

Destacam-se os seguintes precedentes oriundos da


4ª Câmara de Direito Privado do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de São
Paulo8

Pertinente, ainda, transcrever a ementa do quanto


decidido sobre a incidência de juros a partir da citação, pelo Desembargador
Relator MOREIRA VIEGAS, da 5ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de
Justiça do Estado de São Paulo, nos autos do recurso de apelação nº
1106979-38.2018.8.26.0100 (acórdão nº 2016.0000929475), referente à
ação de rescisão contratual movida em face da incorporadora Esser, em
acórdão datado de 14 de dezembro de 20169.

7
STJ, 3ª Turma, REsp 594486/MG, Rel. Min. CASTRO FILHO.

8
Nesse sentido: Apelação nº 1001722-24.2014.8.26.0564, Rel. Des. PERCIVAL NOGUEIRA, julgado em:
15.6.2015, Apelação nº 1005928- 24.2014.8.26.0001, Rel. Des. ÊNIO ZULIANI, julgado em: 30.4.2015 e
Apelação nº 0000828-60.2013.8.26.0577, Rel. Des. LUIZ ANTONIO COSTA, julgado em: 10.2.2015.

9
“COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA – Rescisão contratual cumulada com restituição de quantias
pagas – Desistência dos compradores em razão da impossibilidade financeira – Circunstância que não
impede a devolução das parcelas pagas a título de aquisição do imóvel, sob pena de ofensa ao art. 53 do
CDC, admitida a retenção de 10% pela construtora para ressarcimento de perdas e danos e despesas
administrativas – Adequação – Devolução que deve ser feita de uma só vez, acrescida de juros de mora
contados a partir da citação – Sentença mantida – Recurso desprovido.”
Assim, mostra-se perfeitamente cabível que a
incidência dos juros legais de 1% (um por cento) ao mês a partir da citação
até a data da efetiva restituição dos valores pagos pelos autores.

DAS PORTARIAS DO MINISTÉRIO DA JUSTIÇA


APLICÁVEIS AO CASO EM ANÁLISE

A Portaria nº 4, de 13 de março de 1998, emitida


pela Secretaria de Direito Econômico do Ministério da Justiça, considerando o
disposto no artigo 56 do Decreto nº 2.181, de 20 de março de 1997, e com
o objetivo de orientar o Sistema Nacional de Defesa do Consumidor,
notadamente para o fim de aplicação do disposto no inciso IV do art. 22
daquele Decreto, em aditamento ao elenco do art. 51 do Código de Defesa
do Consumidor, determina como NULA DE PLENO DIREITO a cláusula de
contrato que: “estabeleça a perda total ou desproporcionada das prestações
pagas pelo consumidor, em benefício do credor, que, em razão de desistência
ou inadimplemento, pleitear a resilição ou resolução do contrato”.

O recurso de apelação interposto pelas


incorporadoras também afronta o item 3 da Portaria nº 3 da Secretaria de
Direito Econômico do Ministério da Justiça, de 15 de março de 2001, que
prevê claramente como nula de pleno direito qualquer cláusula contratual
que: “Imponha a perda de parte significativa das prestações já quitadas em
situações de venda a crédito, em caso de desistência por justa causa ou
impossibilidade de cumprimento da obrigação pelo consumidor. ”

O artigo 51, inciso IV do Código de Defesa do


Consumidor10 prevê a NULIDADE da qualquer cláusula contratual que coloque

10
Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de
produtos e serviços que:
(...)
IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em
desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade; ”
o consumidor em desvantagem exagerada ou que sejam incompatíveis com
a boa-fé ou equidade.

DO POSICIONAMENTO JURISPRUDENCIAL
DOMINANTE SOBRE A MATÉRIA

E sendo irreversível a decisão sobre a rescisão


contratual, deve-se restituir o correspondente a 90% (noventa por cento) dos
valores pagos em Contrato, sendo tal percentual condizente com os
patamares de razoabilidade e proporcionalidade, segundo entendimento
pacífico apresentado por esse Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de São
Paulo, através dos seguintes e RECENTÍSSIMOS julgados de NOVEMBRO e
OUTUBRO de 201711.

11
COMPRA E VENDA – RESCISÃO CONTRATUAL - Iniciativa do comprador –
Restituição de quantias pagas – Valores pretendidos pela ré que se mostram abusivos – Percentual de
devolução de 90%, que se mostra adequado à hipótese, já que a autora sequer ingressou na posse do
imóvel – Precedentes TJSP e STJ – Juros de mora contados a partir do trânsito em julgado – Comissão de
corretagem – Cláusula redigida com clareza, cumprindo o dever de informação – O percentual de
retenção, portanto, deverá ser aplicado sobre a quantia adimplida, excluídos os valores pagos a título de
comissão de corretagem – Dano moral – Inocorrência – Ausência de atraso e de dano à autora a justificar
a pretendida indenização – Recurso parcialmente provido. (TJSP, Apelação nº 1123121-
20.2015.8.26.0100, acórdão nº 2017.0000920500. Rel. FABIO PODESTÁ, 5ª Câmara de Direito Privado.
Data do julgamento: 29 de novembro de 2017)

VENDA E COMPRA. Ação de rescisão contratual, c.c. restituição de quantias pagas. Desistência dos
adquirentes, que podem pedir a resilição e reaver parte dos valores que desembolsaram. Vendedora tem
o direito de reter 10% do montante pago pelos compradores, a título de ressarcimento das despesas
administrativas. Inteligência das Súmulas nºs. 1, 2 e 3 deste E. Tribunal e nº 543 do C. STJ. Possibilidade
de repasse do pagamento da comissão de corretagem ao consumidor, desde que exista disposição
expressa no contrato neste sentido, o que não ocorreu no caso em exame. Percentual a ser devolvido que
deve abranger a totalidade dos valores pagos. Sentença mantida. Recurso desprovido. (TJSP, Apelação nº
1033309- 30.2016.8.26.0100, acórdão nº 2017.0000874253. Rel. PAULO ALCIDES, 6ª Câmara de Direito
Privado. Data do julgamento: 14 de novembro de 2017)

Apelação Cível – Rescisão contratual – Restituição de valores pagos – Pretensão de majoração do


percentual de restituição – Possibilidade – Determinação de retenção de 25% do total dos valores pagos
que não se afigura razoável – Fixação de percentual de retenção entre 10% e 20% em caso de culpa do
compromissário comprador – Precedentes – Imóvel que permaneceu na posse da vendedora –
Possibilidade de nova alienação do bem – Retenção de 10% sobre os valores pagos, a título de
compensação pelas despesas administrativas, que se mostra suficiente – Recurso, nesta parte, provido.
DA IMPOSIÇÃO ÀS RECORRENTES EM NOVOS
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS POR
SUCUMBÊNCIA EM SEDE RECURSAL

Considerando as diretrizes do atual Código de


Processo Civil no tocante à sucumbência recursal prescrita pelo §11º do artigo
85, mostra-se de rigor condenar as ora Apelantes no pagamento de novos
honorários, especialmente porque o atual Código de Processo Civil cria uma
situação inovadora porque diz que a interposição da apelação ensejará nova
verba honorária.

Dessa forma, tem-se os honorários advocatícios


tais como concebidos originariamente e, a partir do novo CPC, uma nova
condenação honorária que tem como causa o surgimento da instância
recursal, gerando mais trabalho para o patrono dos Apelados, conforme
prescreve o §11º do artigo 8512

(TJSP, Apelação nº 1048523-61.2016.8.26.0100, acórdão nº 2017.0000848552. Rel. JOSE JOAQUIM DOS


SANTOS, 2ª Câmara de Direito Privado. Data do julgamento: 06 de novembro de 2017)

COMPROMISSO DE VENDA E COMPRA DE BEM IMÓVEL. AÇÃO DE RESCISÃO CONTRATUAL. Desistência


do negócio formulada pelos adquirentes. Hipótese em que necessária a resolução do pactuado e o retorno
das partes contratantes ao estágio anterior à avença. Restituição de parte da verba solvida. Retenção do
equivalente a 10% do montante quitado. Percentual ajustado às particularidades do caso concreto.
Disposição contratual, na espécie, abusiva. Despesas extraordinárias, aliás, sequer demonstradas, a
autorizar a majoração do percentual de retenção. NEGADO PROVIMENTO AO RECURSO. (TJSP, Apelação
nº 1076293-29.2016.8.26.0100, acórdão nº 2017.0000795370. Rel. DONEGÁ MORANDINI, 3ª Câmara
de Direito Privado. Data do julgamento: 19 de outubro de 2017)

Compromisso de compra e venda – Comissão de corretagem – Não demonstrada informação prévia


quanto ao valor total da negociação – Devolução em valor simples – Rescisão contratual –
Inadimplemento do comprador – Restituição das partes ao estado anterior – Redução do percentual de
retenção a 10% dos valores pagos, como indenização pelas perdas e danos decorrentes do desfazimento
do negócio – Recurso provido em parte. (TJSP, Apelação nº 0017332-63.2013.8.26.0506, acórdão nº
2017.0000766504. Rel. EDUARDO SÁ PINTO SANDEVILLE, 6ª Câmara de Direito Privado. Data do
julgamento: 05 de outubro de 2017)

12
“O tribunal, ao julgar recurso, majorará os honorários fixados anteriormente levando em conta o
trabalho adicional realizado em grau recursal, observando, conforme o caso, o disposto nos §§ 2º a 6º,
sendo vedado ao tribunal, no cômputo geral da fixação de honorários devidos ao advogado do vencedor,
ultrapassar os respectivos limites estabelecidos nos §§ 2º e 3º para a fase de conhecimento”.
O parágrafo acima encontra-se em sintonia com o
artigo 85, §1º, que prescreve: “são devidos honorários advocatícios na
reconvenção, no cumprimento de sentença, provisório ou definitivo, na
execução, resistida ou não, e nos recursos interpostos, cumulativamente”.

Acerca de aplicação desta novidade no tempo, na


véspera da entrada em vigor da nova lei, o Colendo Superior Tribunal de
Justiça editou o que denominou como enunciado administrativo nº 7 13.

Esse enunciado administrativo, na prática, vem


sendo usado nos julgamentos do C.STJ14.

É extremamente salutar a modificação introduzida,


já que o processo não tem o seu término com a prolação da sentença.

A fase de conhecimento se prolonga com a


interposição de recursos, provocando o surgimento de novos procedimentos
em instâncias distintas. Assim, se os honorários possuem a função de
remunerar serviços, nada mais adequado do que aumentar a remuneração
para as hipóteses em que, em razão do recurso, o processo tem o seu curso
dilatado e não chega imediatamente ao seu fim.

DO PEDIDO

Ex positis, serve a presente para requerer se digne


essa Colenda Câmara de Direito Privado em MANTER in totum a r. sentença
condenatória, no sentido de:

13
“Somente nos recursos interpostos contra decisão publicada a partir de 18 de março de 2016, será
possível o arbitramento de honorários sucumbenciais recursais, na forma do art. 85, § 11, do novo CPC. ”

14
“Concernente aos honorários advocatícios, conforme o Enunciado Administrativo n. 7 deste Superior
Tribunal de Justiça, somente nos recursos interpostos contra decisão publicada a partir de 18 de março
de 2016, será possível o arbitramento de honorários sucumbenciais recursais, na forma do artigo 85, §
11, do novo Código de Processo Civil.” (STJ, EDcl no AgRg no AREsp 489.160/RS, Rel. Ministro Paulo de
Tarso Sanseverino, Terceira Turma, julgado em 14/06/2016, DJe 17/06/2016)
a) Afastar a alegação de impossibilidade de desfazimento do contrato
sem a aplicação de penalidade para o Apelado, uma vez que a
tentativa das Recorrentes em reter absurdos OITENTA POR CENTO
dos valores pagos em contrato, evidencia confisco de parte
expressiva das quantias pagas, além de afrontar as normas do
Código de Defesa do Consumidor, Portarias nº 3 de 15 de março de
2001 e nº 4 de 13 de março de 1998 e outros aplicáveis,
especialmente considerando que no caso sub examine o
empreendimento ainda não foi concluído, aliado ao fato de que a
recorrente nada demonstrou em termos de prejuízo com a revenda
do imóvel no mercado, aliado ao fato de que o apartamento nunca
foi ocupado pelo Apelado;

b) Manter a condenação da Apelante na restituição do equivalente a


razoáveis 80% (OITENTA POR CENTO) dos valores pagos pela
Apelada, a título de parcelas do contrato, corrigidos
monetariamente desde o desembolso de cada valor e acrescido de
juros legais a partir da citação, até o efetivo pagamento, uma vez
que a pretensão autoral em rescindir o contrato particular de
promessa de compra e venda é um direito assegurado não apenas
pelo CDC, mas também pelas súmulas 1, 2 e 3 do E. TJSP; e

c) Majorar a sucumbência carreada às Recorrentes, nos termos do


quanto prescrito pelo §11º, do artigo 85 do Código de Processo
Civil.

Assim, resta evidente a necessidade de


manutenção da r. sentença guerreada, de modo que o ônus da sucumbência
seja suportado pelas Apelantes, considerando o contexto dos autos, que
releva a instalação de lide pela existência de danos materiais.
Pelo exposto, requer-se que este Egrégio Tribunal
de Justiça NÃO CONHEÇA DO RECURSO DE APELAÇÃO DAS
REQUERIDAS, ou, caso conheça, QUE NO MÉRITO, LHE NEGUE
PROVIMENTO, tudo pelas contrarrazões aqui expostas.

São Paulo, 23 de outubro de 2018.

FÁBIO CARDOZO DE SÁ
OAB/SP 353.570

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