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EXCELENTÍSSIMO PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO

ESTADO DO PARANÁ

PSI FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO S/A, pessoa jurídica de direito


privado, inscrita no CNPJ nº 89.959.599/0001-62, com sede na Rua Vicente
Machado, nº 2563, 12º andar, na cidade de Curitiba, Paraná, por intermédio de
sua advogada adiante assinada, inscrita na OAB/PR sob o nº 100.000, com
endereço profissional na Avenida Horácio Raccanelo Filho, 6250, Centro,
Maringá, Paraná, vem à ilustre presença de Vossa Excelência, inconformada com
a decisão proferida nos autos de Busca e Apreensão nº 0012568-
54.2020.8 .16.0001, que tramita na 48ª Vara Cível da Comarca da Região
Metropolitana de Curitiba, apresentar recurso de

AGRAVO DE INSTRUMENTO

na forma das razões cm anexo, em face de JORGE VICENTE ALVES,


brasileiro, casado, empresário, portador do Registro Geral nº 3.652.652-62/SSPR
e CPF nº 100.256.325-56, sendo residente e domiciliado à Avenida 7 de
Setembro, 890, apto 607, Curitiba, Paraná, nestes autos representado por Clóvis
Nascimento, inscrito na OAB/PR 504.326, o qual possui escritório profissional na
Avenida Guarapuava, 766, Curitiba, Paraná

Requer seja este agravo conhecido e provido em seu pedido recursal.


Nestes termos, pede deferimento.

De Maringá para Curitiba, 15 de novembro de 2021.

Stephanie Paggi
OAB/00000
EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ COLENDA
CÂMARA

AUTOS nº 0012568-54.2020.8.16.0001

AGRAVANTE: PSI FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO S/A

ADVOGADA: STEPHANIE PAGGI

AGRAVADO: JORGE VICENTE ALVES

ADVOGADO: CLÓVIS NASCIMENTO

_____________________________________
RAZÕES DE AGRAVO DE INSTRUMENTO

1. BREVE SÍNTESE DO PROCESSO E DO CABIMENTO DESTE


RECURSO:

Trata- se de Ação de Busca e Apreensão, em que o agravante comprovou a


mora do agravado em sede de liminar, a qual foi concedida e concretizada, ou
seja, o objeto foi apreendido e entregue ao agravante.

A origem deste recurso se dá por conta de um contrato de mútuo com


Alienação Fiduciária nº 256-63-2018, situação em que o réu propôs em alienação
fiduciária o veículo Chevrolet Prisma LTZ, ano 2015, cor branca, placas DCA
9000, chassi nº CV5674950387RF, como garantia do pagamento do mútuo,
responsabilizando-se ao pagamento de 48 parcelas mensais de R$ 1.987,00 cada
uma.

Acontece que o réu não cumpriu com a obrigação firmada e não quitou as
parcelas de nº 30 a 36 e, diante disso, o autor ajuizou Ação de busca e Apreensão
requerendo liminarmente a apreensão do objeto com fundamento no Decreto-Lei
911/69.
Decorrência disso, a ré contestou que quitou apenas as parcelas vencidas e
requereu a purgação da mora. Após, o Juízo de primeiro grau deferiu a purgação
da mora e determinou que fosse devolvido o bem pelo agravante.

Nesse sentido, a decisão recorrida veio nos seguintes termos:

O requerido, citado da demanda, veio aos autos e requereu a purgação da mora,


apresentando depósito relativo ao valor das parcelas de nº 30 a 36, objeto da
mora apresentada na petição inicial (seq. 11.1 e 11.4).

Verifico que o valor apresentado no depósito feito pelo réu é igual ao valor do
débito das parcelas apontadas no cálculo juntado pelo autor (seq. 1.4), o que
demonstra ter sido feito o depósito do valor integral do débito em atraso.

As custas processuais antecipadas também foram depositadas, caracterizando a


purga da mora.

Não obstante o autor justificar na peça inicial que o atraso gerou o vencimento
antecipado da dívida, gerando a exigibilidade das parcelas futuras, entendo que,
no caso, uma parte significativa do débito já havia sido paga – 29 parcelas – o que
caracteriza adimplemento substancial, bem como, o réu, imediatamente ofertou o
valor completo das parcelas em atraso, demonstrando boa-fé na busca da
manutenção do contrato.

A doutrina e jurisprudência têm admitido a aplicação da Teoria do Adimplemento


Substancial, com o intuito justamente de evitar o rompimento indiscriminado da
relação contratual, quando se encontram presentes determinados requisitos. Em
síntese, a Teoria do Adimplemento Substancial se originou visando atender aos
Princípios da Boa-fé e da Função Social do Contrato, conforme bem elucida o
enunciado 361 do CEJ -Centro de Estudos Judiciários (O adimplemento
substancial decorre dos princípios gerais contratuais, de modo a fazer
preponderar a função social do contrato e o princípio da boa-fé objetiva,
balizando a aplicação do art. 475), que realiza interpretação principiológica dos
arts. 421, 422 e 475 do Código Civil.

Entendo que o depósito das parcelas em atraso foi suficiente para purgar a mora e
permitir que o contrato seja mantido, afastando a causa de inadimplemento que
justificou a concessão da liminar de busca e apreensão.

Desta forma, acato o pedido de purgação da mora feito pelo réu, determinado ao
autor que, no prazo de 10 dias, restitua o veículo ao réu, indicando nos autos onde
poderá ser por ele retirado. No mesmo prazo, manifeste-se o autor sobre o valor
depositado e eventual diferença a ser paga relativa às parcelas cujos valores
foram depositados, intimando-se o réu, caso seja apontada diferença no valor das
parcelas, para que proceda o depósito, sob pena de nova apreensão do bem.

Todavia, a decisão não merece prosperar, de acordo com os fundamentos


abaixo apresentados.

2. DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS E DAS RAZÕES DO


PEDIDO DE REFORMA

2.1 Da aplicação do art. 3º, §2º do Decreto-Lei 911/69 e


o entendimento jurisprudencial sobre o tema

A decisão interlocutória proferida pelo magistrado de primeiro grau


demonstrou o entendimento de que o bem apreendido deveria ser devolvido ao
agravado, isso porque as parcelas vencidas foram quitadas pela parte contrária,
levando o Douto Juízo a fundar sua decisão consoante a teoria do adimplemento
substancial.

Contudo esse entendimento não pode permanecer, em razão do texto legal


trazido pela Decreto-Lei 911/69, como se pode verificar:

Art. 3º O proprietário fiduciário ou credor poderá, desde que comprovada a


mora, na forma estabelecida pelo § 2º do art. 2º, ou o inadimplemento,
requerer contra o devedor ou terceiro a busca e apreensão do bem alienado
fiduciariamente, a qual será concedida liminarmente, podendo ser
apreciada em plantão judiciário. (Redação dada pela Lei nº 13.043, de
2014)

[...]

§ 2º No prazo do § 1º, o devedor fiduciante poderá pagar a integralidade da


dívida pendente, segundo os valores apresentados pelo credor fiduciário na
inicial, hipótese na qual o bem lhe será restituído livre do ônus. (Redação
dada pela Lei 10.931, de 2004)

Diante do trecho legal analisado, percebe-se que é indiscutível que a lei


preconiza o pagamento integral da obrigação para que o bem seja restituído,
situação fática esta que não ocorreu na conjuntura dos autos, posto que o
agravado realizou o pagamento apenas das parcelas vencidas, deixando as
vincendas em aberto.

Neste teor, julgou recentemente o Tribunal Paranaense:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO COM PEDIDO DE BUSCA E APREENSÃO


DE VEÍCULO OBJETO DE ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA
DE CONTRATO DE MÚTUO FENERATÍCIO MEDIANTE EMISSÃO DE
CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO. SENTENÇA EXTINTIVA PELO
RECONHECIMENTO DE SUPERVENIENTE FALTA DE INTERESSE
PROCESSUAL. INSURGÊNCIA DO AUTOR. RÉU INADIMPLENTE QUE,
APÓS APREENSÃO DO BEM, EFETUA PAGAMENTO APENAS DE
PARCELAS VENCIDAS.INSUFICIÊNCIA À PURGAÇÃO DA MORA.
NECESSIDADE DE PAGAMENTO DA INTEGRALIDADE DA DÍVIDA.
ART. 3º, §§ 1º E 2º, DECRETO-LEI 911/69. TESE DO TEMA REPETITIVO
722 DO STJ. PRECEDENTES ESPECÍFICOS REITERADOS DA
CÂMARA. PROPRIEDADE E POSSE PLENA E EXCLUSIVA DO BEM
CONSOLIDADA NO PATRIMÔNIO DO AUTOR. SUPOSTA
“COMUNICAÇÃO DE ACORDO” PELO RÉU, NO SENTIDO DE
EFETUAR O PAGAMENTO PARCIAL, QUE NÃO FOI RATIFICADO
PELO AUTOR, MAS EXPRESSAMENTE IMPUGNADO. REABERTURA
DE PRAZO PARA COMPLEMENTAR O DEPÓSITO À PURGAÇÃO DA
MORA APÓS A ALIENAÇÃO EXTRAJUDICIAL DO BEM.
INVIABILIDADE. DECISÃO QUE NÃO CONSTITUI HIPÓTESE
AGRAVÁVEL (ART. 1.015, CPC). CAUSA MADURA PARA
JULGAMENTO. ART. 1.013, § 3º, I, CPC. DEFESA DO RÉU QUE NÃO
INFIRMA O FATO CONSTITUTIVO DO DIREITO DO AUTOR.
SENTENÇA REFORMADA PARA SE JULGAR PROCEDENTE O PLEITO
COM CONFIRMAÇÃO DA MEDIDA LIMINAR CONCEDIDA,
AUTORIZAÇÃO DE LEVANTAMENTO DOS VALORES DEPOSITADOS
PELO RÉU EM CONTAS JUDICIAIS VINCULADAS AO PROCESSO,
CASSAÇÃO DO MANDADO DE RESTITUIÇÃO EXPEDIDO PELO JUIZ
A QUO E MANUTENÇÃO DA CONDENAÇÃO DO RÉU AO
PAGAMENTO DOS ÔNUS DA SUCUMBÊNCIA, OBSERVADA A
GRATUIDADE JUDICIÁRIA DA QUAL É BENEFICIÁRIO. RECURSO
CONHECIDO E PROVIDO. (TJPR - 6ª C.Cível - 0001140-
61.2019.8.16.0138 - Primeiro de Maio - Rel.: Desembargador Ramon de
Medeiros Nogueira - J. 19.12.2020.)

E ainda, é jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça:

1. A questão debatida no presente recurso especial consiste em saber se,


após o deferimento da medida liminar em ação de busca e apreensão de
veículo objeto de contrato de alienação fiduciária, é possível determinar
que a parte autora (credor) se abstenha de alienar, transferir ou retirar o
bem da respectiva comarca sem autorização do Juízo, até o encerramento
do feito. 2. Nos termos do art. 3º, caput e §§ 1º e 2º, do Decreto-lei n.
911/1969, após a execução da liminar de busca e apreensão do bem, o
devedor terá o prazo de 5 (cinco) dias para pagar a integralidade da dívida
pendente, oportunidade em que o bem lhe será restituído sem o respectivo
ônus. No entanto, caso o devedor não efetue o pagamento no prazo legal,
haverá a consolidação da propriedade e da posse plena e exclusiva do bem
móvel objeto da alienação fiduciária no patrimônio do credor.

[...]

(REsp 1790211/MS, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE,


TERCEIRA TURMA, julgado em 02/04/2019, DJe 04/04/2019).

Conforme apresentado, não se faz razoável a adoção da r. teoria pelo Juízo,


vez que contraria a o entendimento indicado tanto pela lei, quanto pela
jurisprudência nacional. Por esses motivos, requer ao Tribunal que reforme a
decisão refutada, na medida que determine a condenação ao pagamento integral
do valor correspondente a dívida e conceda ao autor a manutenção do bem até
que o adimplemento seja comprovado nos autos.

2.2 DO EFEITO SUSPENSIVO DA DECISÃO AGRAVADA

Como é de conhecimento geral, o recurso de agravo de instrumento dispõe


apenas de efeito devolutivo. Entretanto, o legislador permitiu a possibilidade ao
Min. Relator de conceder o efeito suspensivo ao recurso, a fim de promover a
suspensão das consequências da decisão agravada.
Dessa forma, pode- se notar essa permissão no art. 995 do Código de
Processo Civil:

Art. 995. Os recursos não impedem a eficácia da decisão, salvo disposição


legal ou decisão judicial em sentido diverso. Parágrafo único. A eficácia da
decisão recorrida poderá ser suspensa por decisão do relator, se da
imediata produção de seus efeitos houver risco de dano grave, de difícil ou
impossível reparação, e ficar demonstrada a probabilidade de provimento
do recurso.

Assim como no art. 1.019, a respeito especificamente do agravo de


instrumento:

Art. 1.019. Recebido o agravo de instrumento no tribunal e distribuído


imediatamente, se não for o caso de aplicação do art. 932, incisos III e IV ,
o relator, no prazo de 5 (cinco) dias: I - Poderá atribuir efeito suspensivo
ao recurso ou deferir, em antecipação de tutela, total ou parcialmente, a
pretensão recursal, comunicando ao juiz sua decisão;

Ante o apresentado, entende-se que a entrega do bem ao agravado se tratou


de mais um equívoco na decisão, dado que o agravado já demonstrou falta de
comprometimento com a obrigação firmada quando inadimpliu as parcelas da
dívida, portanto não se faz vantajoso, assim como considera-se de grandes riscos
a devolução do bem.

Por essa razão, entende-se indispensável a concessão do efeito suspensivo,


de modo que suspenda a restituição do bem anteriormente deferida e aguarde- se
o trânsito em julgado, com o objetivo de evitar que o agravante sofra prejuízos.

3. REQUERIMENTOS

Diante de tudo que foi exposto, requer a Vossa Excelência o conhecimento


do recurso, bem como seu provimento, para que proceda à reforma da decisão
agravada, de modo que:

a) Afaste a purgação da mora, em virtude da ausência do pagamento


integral da dívida;
b) Conceda a manutenção do bem apreendido sob posse do agravante até
que a obrigação seja adimplida;

c) Conceda o efeito suspensivo ao recurso;

d) Intime-se o agravado para que, caso tenha interesse, apresente as


contrarrazões;

Termos em que,

Pede deferimento.

Maringá, 15 de novembro de 2021.

Stephanie Paggi
OAB/00000

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