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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 00ª VARA CÍVEL DA CIDADE

Ação de Busca e Apreensão


Proc. nº. 44556.11.8.99.0001
Autor: BANCO ZETA S/A
Réu: JOSÉ DAS QUANTAS
JOSÉ DAS QUANTAS, casado, bancá rio, residente e domiciliado na Rua X, nº. 0000 –
Curitiba (PR) – CEP nº 0000-00, possuidor do CPF (MF) nº. 111.222.333-44, com endereço
eletrô nico ficto@ficticio.com.br, razã o qual vem, com o devido respeito à presença de Vossa
Excelência, por intermédio de seu patrono que ao final subscreve -- instrumento
procuratório acostado - causídico inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil, Seçã o do
Ceará , sob o nº. 0000, com seu escritó rio profissional consignado no mandato acostado, o
qual indica à s intimaçõ es necessá rias, para, amparado nos ditames dos arts. 336 e segs. da
Legislação Adjetiva Civil c/c art. 3º, § 3º, do Dec-Lei nº. 911/69 ( LAF), apresentar sua
defesa na forma de
CONTESTAÇÃO,

em face da presente Açã o de Busca e Apreensã o aforada por BANCO ZETA S/A, pessoa
jurídica de direito privado, estabelecida na Rua Delta, nº. 000, nesta Capital, inscrita no
CNPJ (MF) sob o nº. 00.111.222/0002-33, com endereço eletrô nico ficto@ficticio.com.br,
em decorrência das justificativas de ordem fá tica e de direito abaixo delineadas.

PEDIDO DOS BENEFÍCIOS DA JUSTIÇA GRATUITA – CPC, art. 98, caput


A parte Demandada não tem condições de arcar com as despesas do processo, uma vez
que sã o insuficientes seus recursos financeiros para pagar todas as despesas processuais.
Destarte, o Requerido ora formula pleito de gratuidade da justiça, o que faz por declaraçã o
de seu patrono, sob a égide do art. 99, § 4º c/c 105, in fine, ambos do CPC, quando tal
prerrogativa se encontra inserta no instrumento procurató rio acostado.

TEMPESTIVIDADE DA DEFESA
A defesa ora apresenta é tempestiva na medida em que se verifica que repousa nos autos,
mais precisamente à fl. 11, do auto de apreensã o do veículo perseguido pela presente
querela. Do referido auto se constata que o bem, alvo de garantia fiduciá ria, fora
apreendido (execução da liminar) no dia 00/11/2222.
Dessa maneira, à luz do preceito contido no § 3º, art. 3º, do Dec.-Lei nº. 911/69, temos
que o Promovido apresentou sua defesa dentro da quinzena prevista em lei, contado da
medida liminar devidamente cumprida.
I – EXPOSIÇÃO FÁTICA
O Contestante celebrou com a Autora, na data de 22/33/0000, a Cédula de Crédito Bancário
nº. 3344. Referido pacto visou o empréstimo da quantia de R$ 00.000,00 (.x.x.x.x.x), tendo
como garantia, em alienaçã o fiduciá ria, o veículo descrito na inicial, alvo de busca e
apreensã o concretizada.
Do mencionado contrato, o Réu pagou um total de R$ 00.000,00 ( .x.x.x.x ), correspondente a
27 (vinte e sete) parcelas, de um total de 36 (trinta e seis) previstos contratualmente
para o financiamento (docs. 02/28). É dizer, pagara aproximadamente 74%(setenta e
quatro por cento) do empréstimo avençado. O pró prio memorial de débito, carreado pela
parte Autora com a peça vestibular, igualmente estampa esses valores.
O Requerido, já nã o mais podendo pagar as parcelas, sobrecarregadas de encargos ilegais e
abusivos, fora alvo de expropriaçã o do veículo concedido em garantia do empréstimo.
Verificar-se-á , no discorrer da presente peça processual, que a ausência de pagamento das
parcelas, que resultou na apreensã o do bem, se deu em razã o da absurdez dos valores
cobrados, nã o restando estabelecer culpa ao mesmo pela inadimplência das
contraprestaçõ es do empréstimo ora em estudo.
II – PRELIMINAR AO MÉRITO – CPC, art. 337, inc. XI

Como se observa dos comprovantes colacionados nesta defesa, bem assim consoante o
memorial de débito carreado pela instituiçã o financeira, o Promovido pagara cerca de 74%
(setenta e quatro por cento) do mú tuo firmado.
Nesse passo, é inconteste que o Réu quitou substancialmente a totalidade do empréstimo.
Por isso, rescindir o contrato é afrontar disposiçõ es contidas no Có digo Civil, má ximo a
teoria do inadimplemento substancial.
Conceituando a teoria supra-aludida, Cristiano Chaves e Nélson Rosenvald lecionam,
apoiados no magistério de Clóvis do Couto e Silva, que:
“Refere-se CLÓ VIS DO COUTO E SILVA à substancial performance, ou seja, um
adimplemento tã o pró ximo ao resultado final que, tendo em vista a conduta das partes, se
exclui o direito de resoluçã o, permitindo tã o somente o pedido de indenizaçã o. Aqui
percebemos, com todas as luzes, como a relaçã o obrigacional é complexa, sendo informada
nã o exclusivamente pela autonomia privada, mas pelos influxos da boa-fé como parâ metro
limitador do direito estrito. “ (FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nélson. Curso de
Direito Civil. 2ª Ed. Salvador: Juspodivm, 2012, vol. 4, p. 555)
Assim, a situaçã o em espécie impõ e o interesse da parte devedora em dar continuidade à
relaçã o contratual. Desse modo, a previsã o estatuída na Lei de Alienaçã o Fiduciá ria (LAF,
art. 3º) deve ceder à norma geral que prima, má xime, pelo aspecto social do acerto.
No vertente caso faz-se mister enaltecer a diretriz estabelecida na Legislaçã o Substantiva
Civil:
Art. 421 - A liberdade de contratar será exercida em razã o e nos limites da funçã o social do
contrato.
Art. 422 - Os contratantes sã o obrigados a guardar, assim na conclusã o do contrato, como
em sua execuçã o, os princípios de probidade e boa-fé.
Art. 475 - A parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a resoluçã o do contrato, se nã o
preferir exigir-lhe o cumprimento, cabendo, em qualquer dos casos, indenizaçã o por perdas
e danos.
Com o mesmo enfoque é o teor do Enunciado 361, aprovado na IV Jornada de Direito
Civil:
Enunciado 361 – Arts. 421, 422 e 475. O adimplemento substancial decorre dos princípios
gerais contratuais, de modo a fazer preponderar a função social do contrato e o princípio da
boa-fé objetiva, balizando a aplicação do art. 475.
Ainda com esse enfoque, urge transcrever o magistério de Flávio Tartuce:
“Em outras palavras, pela teoria do adimplemento substancial (substantial performance),
em hipó teses em que o contrato tiver sido quase todo cumprimento, nã o caberá a sua
extinçã o mas apenas outros efeitos jurídicos, visando sempre a manutençã o da avença.
(...)
De qualquer forma, estando amparada na funçã o social dos contratos ou na boa-fé objetiva,
a teoria do adimplemento substancial traz uma nova maneira de visualizar o contrato, mais
justa e efetiva, conforme vem reconhecendo a jurisprudência brasileira:” (TARTUCE, Flá vio.
Direito civil: teoria geral dos contratos em espécie. 8ª Ed. Sã o Paulo: Método, 2013, vol. 03, p.
229)

Lapidar nesse sentido o entendimento jurisprudencial:


CIVIL E PROCESSO CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. INDEFERIMENTO DE LIMINAR.
BUSCA E APREENSÃO. TEORIA DO ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL. RECURSO
CONHECIDO E NÃO PROVIDO. DECISÃO MANTIDA.
Aplica-se a teoria do adimplemento substancial para indeferir a busca e apreensã o do
veículo quando o devedor já adimpliu 29 de 36 parcelas, por nã o se mostrar justo ou
razoá vel extinguir o contrato e desapossar o agravado do bem. Ademais, há outros meios
para retomada do crédito. Recurso conhecido e impró vido. (TJAM; AI 4000475-
75.2015.8.04.0000; Primeira Câ mara Cível; Rel. Des. Sabino da Silva Marques; DJAM
04/03/2016; Pá g. 16)
CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL EM APELAÇÃO. AÇÃO DE
REINTEGRAÇÃO DE POSSE. ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL. CONVERSÃO EM
EXECUÇÃO. EMENDA. NÃO CUMPRIMENTO. INDEFERIMENTO DA INICIAL. INTIMAÇÃO
PESSOAL. DESNECESSIDADE. SENTENÇA MANTIDA.
1. Em atençã o à regra estabelecida no caput do artigo 557 do Có digo de Processo Civil,
impõ e ao Relator negar seguimento ao recurso quando este for manifestamente
inadmissível, improcedente, prejudicado ou em confronto com Sú mula ou jurisprudência
deste Tribunal, do STJ ou do STF. Assim, para a negativa de seguimento monocrá tica basta
que o relator reconheça uma das situaçõ es elencadas no dispositivo, nã o sendo
imprescindível que a pretensã o esteja em confronto com Sú mula ou jurisprudência
dominante. 2. Havendo pagamento de prestaçõ es considerá veis do contrato entabulado
entre as partes, como na hipó tese que o devedor adimpliu 85% do pacto, necessá rio
interpretar os dispositivos legais lastreados nos princípios da proporcionalidade e
razoabilidade, inclusive, compreendendo a aplicaçã o da teoria do adimplemento
substancial. 3. A ausência dos requisitos da inicial e a inércia do autor em cumprir a ordem
de emenda no prazo legal acarretam o indeferimento da petiçã o inicial, nos termos do art.
284, pará grafo ú nico, do CPC. 4. Em caso de extinçã o do processo por indeferimento da
inicial, art. 267, I, do CPC, nã o há necessidade de intimaçã o pessoal da parte para dar
prosseguimento ao feito. Tal diligência, prevista no pará grafo ú nico do dispositivo, deve ser
observada nas hipó teses previstas nos incisos II e III do referido artigo. 5. Agravo
regimental conhecido e nã o provido. (TJDF; Rec 2015.09.1.013583-6; Ac. 923.369; Segunda
Turma Cível; Relª Desª Leila Arlanch; DJDFTE 04/03/2016; Pá g. 139)
AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE BUSCA E
APREENSÃO. TEORIA DO ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL DO CONTRATO. QUITAÇÃO
DE 50 DAS 60 PARCELAS PACTUADAS EM CONTRATO DE ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA.
RECURSO DESPROVIDO.
1. Considerando a nova tendência de publicizaçã o do direito privado, é lícita a aplicaçã o da
teoria do adimplemento substancial dos contratos, ponderandose a boa-fé objetiva e a
funçã o social do contrato. 2. No presente caso, nã o ressoa como medida razoá vel e
proporcional que o contrato de financiamento promovido em 60 (sessenta) parcelas seja
rescindido pela busca e apreensã o do bem, quando 50 (cinquenta) parcelas tenham sido
devidamente quitadas, restando apenas 10 (dez) parcelas inadimplidas, de modo que
assistem ao agravante outros meios, menos gravosos, para ter sua pretensã o satisfeita. 3.
Agravo regimental conhecido e, no mérito, desprovido. (TJAC; AgRg 1000242-
79.2016.8.01.0000/50000; Ac. 2.893; Segunda Câ mara Cível; Rel. Des. Jú nior Alberto; DJAC
03/03/2016; Pá g. 26)
Com efeito, é inarredá vel que falta ao Autor o interesse de agir (CPC, art. 17). Sucede, por
isso, ausente uma das condiçõ es da açã o, que a mesma deve ser extinta sem resolver-se o
mérito (CPC, art. 337, inc. XI c/c art. 485, inc. VI), antes promovendo a oitiva da parte
adversa (CPC, art. 351).
III – MÉRITO

- COMO INTROITO -
Já ficou consolidado o entendimento, inclusive no â mbito do Superior Tribunal de Justiça,
diante do caráter dúplice da contestação em ação de busca e apreensão, que é possível
discutir-se como manteria de defesa a ilegalidade de cláusulas contratuais.
Nesse enfoque, é de todo oportuno trazer à colaçã o o seguinte aresto do STJ:
PROCESSUAL CIVIL AGRAVO REGIMENTAL. DECISÃO SINGULAR DO RELATOR. CPC,
ART. 557. NULIDADE. JULGAMENTO PELO COLEGIADO. INEXISTÊNCIA.
PREQUESTIONAMENTO. ACÓRDÃO RECORRIDO. TEMA CENTRAL. RECURSO
ESPECIAL. AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO. CONTRATO DE FINANCIAMENTO COM
GARANTIA DE ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. CONTESTAÇÃO. MATÉRIA DE DEFESA.
ILEGALIDADE DE CLÁUSULAS CONTRATUAIS. DESCARACTERIZAÇÃO DA MORA.
CARÁTER DÚPLICE. POSSIBILIDADE. JULGAMENTO EXTRA PETITA.
1. O art. 557 e seus pará grafos do CPC permitem o julgamento singular do recurso pelo
relator, para adequar a soluçã o da controvérsia à jurisprudência do STJ, cabendo agravo
regimental para o ó rgã o colegiado competente. Por outro lado, eventual nulidade de
decisã o singular ficaria superada com a reapreciaçã o do recurso pela turma. Precedente. 2.
O prequestionamento é evidente quando a controvérsia trazida no Recurso Especial foi o
tema central do acó rdã o recorrido. 3. Diante do cará ter dú plice, admite-se a arguiçã o de
ilegalidade dos encargos contratuais como matéria de defesa na açã o de busca e apreensã o,
com o objetivo de investigar a existência da mora, que é requisito essencial da possessó ria.
Precedentes. 4. "nos contratos bancá rios, é vedado ao julgador conhecer, de ofício, da
abusividade das clá usulas" (Enunciado nº 381 da Sú mula do STJ). 5. Agravo regimental a
que se nega provimento. (STJ; AgRg-REsp 934.133; Proc. 2007/0057529-0; RS; Quarta
Turma; Relª Minª Isabel Gallotti; DJE 27/11/2014)
No mesmo sentido:
DIREITO PROCESSUAL CIVIL. BUSCA E APREENSÃO. DECRETO-LEI Nº 911. ÂMBITO DA
DEFESA. DISCUSSÃO DE CLÁUSULAS CONTRATUAIS EM MATÉRIA DE DEFESA.
POSSIBILIDADE. ILEGALIDADE DA CUMULAÇÃO DE MULTA MORATÓRIA COM
COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. ENCARGOS INADIMPLÊNCIA. MORA. BUSCA E
APREENSÃO. PROCEDÊNCIA.
A resposta prevista no § 3º do artigo 3º do Decreto-Lei nº 911/69 permite ao devedor
ampla cogniçã o sobre o contrato que embasa a açã o de busca e apreensã o, devendo ser
analisadas suas alegaçõ es de fato e de direito acerca da validade das clá usulas contratuais.
Ao devedor, por meio de sua resposta, a qual substituiu a contestaçã o entã o prevista no
revogado § 2º do artigo supra citado, portanto, permitiu-se o debate acerca da
caracterizaçã o da mora atacando-se a licitude dos encargos cobrados. A açã o debusca e
apreensã o fundada no Decreto-Lei nº 911/69, ao ser apresentada resposta pelo réu com o
intuito de revisã o das clá usulas do contrato, passa a ter cará ter dú plice, tal qual seria um
pedido reconvencional declarató rio de nulidade contratual. O nã o afastamento da mora
enseja procedência da açã o de busca e apreensã o. (TJMG; APCV 1.0271.09.131733-6/001;
Rel. Des. Cabral da Silva; Julg. 01/12/2015; DJEMG 29/01/2016)
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO CONVERTIDA EM AÇÃO DE
DEPÓSITO. DISCUSSÃO DOS ENCARGOS CONTRATUAIS NA CONTESTAÇÃO. MATÉRIA
DE DEFESA. POSSIBILIDADE. RECURSO CONHECIDO EM PARTE E PARCIALMENTE
PROVIDO.
É possível a discussã o das clá usulas contratuais como matéria de defesa na açã o de busca e
apreensã o, com a finalidade de descaracterizar a mora. Todavia, para que haja a revisã o das
clá usulas, faz-se necessá ria a apresentaçã o de reconvençã o ou ajuizamento da açã o
revisional pró pria, nas quais o devedor assume posiçã o ativa na relaçã o processual.
Acó rdã o. (TJMS; APL 0200863-10.2010.8.12.0002; Dourados; Terceira Câ mara Cível; Rel.
Des. Eduardo Machado Rocha; DJMS 16/07/2015; Pá g. 66)
AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO. DISCUSSÃO DE
CLÁUSULAS NA CONTESTAÇÃO. POSSIBILIDADE. RECONVENÇÃO. DESNECESSIDADE.
MATÉRIA DE DIREITO. PROVA PERICIAL. INDEFERIMENTO.
É possível a discussã o sobre a legalidade de clá usulas contratuais como matéria de defesa
na açã o de busca e apreensã o, em sede de contestaçã o. Quando se verifica que a questã o
apresentada, referente aos encargos atinentes ao contrato de financiamento, é unicamente
de direito, dispensa-se a produçã o de prova pericial. (TJMG; AI 1.0153.14.000851-4/001;
Relª Desª Aparecida Grossi; Julg. 17/06/2015; DJEMG 26/06/2015)
DIREITO CIVIL. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO DE VEÍCULO.
REVISÃO DAS CLÁUSULAS CONTRATUAIS POSTULADA EM SEDE DE CONTESTAÇÃO.
POSSIBILIDADE. CAPITALIZAÇÃO DE JUROS. TARIFA DE CADASTRO. INOVAÇÃO
RECURSAL. OCORRÊNCIA. TARIFAS DE REGISTRO/ GRAVAME DE CONTRATO E DE
AVALIAÇÃO DE BEM. ABUSIVIDADE. DEVOLUÇÃO EM DOBRO DAS PARCELAS
INDEVIDAMENTE COBRADAS. DESCABIMENTO. PURGA DA MORA. IMPOSSIBILIDADE.
SENTENÇA PARCIALMENTE REFORMADA.
1. Admissível a pretensã o revisional formulada como matéria de defesa em açã o de busca e
apreensã o de veículo. 2. Constitui inovaçã o recursal a formulaçã o de pedido nã o deduzido
na petiçã o inicial. 3. Embora inerentes ao negó cio jurídico formado entre as partes, as
tarifas de registro/gravame do contrato e de avaliaçã o de bem sã o abusivas, pois os
serviços sã o realizados no interesse exclusivo da instituiçã o financeira, nã o constituindo
qualquer contraprestaçã o a serviço supostamente prestado ao consumidor. 4.
Ainterpretaçã o equivocada por parte da instituiçã o financeira, ao cobrar os encargos e
tarifas previstas do contrato, constitui engano justificá vel apto a afastar a restituiçã o em
dobro prevista no art. 42, pará grafo ú nico, do Có digo de Defesa do Consumidor. 5. A purga
da mora na açã o de busca e apreensã o de veículo com base em descumprimento de
contrato de financiamento com garantia de alienaçã o fiduciá ria, a partir da ediçã o da Lei nº
10.931/04, se dá com o pagamento da integralidade da dívida, entendida esta como os
valores apresentados pelo credor fiduciá rio na petiçã o inicial. 6. Apelaçã o parcialmente
conhecida e, na parte em que foi conhecida, parcialmente provido. Unâ nime. (TJDF; Rec
2014.12.1.004364-5; Ac. 876.599; Terceira Turma Cível; Relª Desª Ana Cantarino; DJDFTE
03/07/2015; Pá g. 167)
A roborar o fundamento em liça, leciona Melhim Namem Chalhub:
“Nã o havendo limitaçã o ao objeto da resposta, é de se admitir que possa contemplar toda a
matéria relativa à s obrigaçõ es decorrentes do contrato de empréstimo ou financiamento
com pacto adjeto de alienaçã o fiduciá ria.
A amplitude do campo de defesa está , ademais, explicitada no § 4º do art. 3º, que permite
ao devedor apresentar resposta ainda que tenha pago a totalidade do saldo devedor, caso
em que, se entender que pagou quantia superior ao devido, deverá comprovar o excesso de
cobrança e requerer restituiçã o. “ (CHALHUB, Melhim Namem. Negócio fiduciário. 4ª Ed.
Rio de Janeiro: Renovar, 2009, p. 202)
Com esse mesmo trilhar adverte Vilson Rodrigues Alves que:
“Nesse â mbito da lide, por isso mesmo, porquanto a ilegalidade clá usula negocial, ou de
clá usulas negociais, é ‘matéria relacionada diretamente com a mora’, é possível
judicialmente sua discussã o como matéria de defesa pelo devedor fiduciante, uma vez que
no excesso da exigência nã o há mora. “ (ALVES, Vilson Rodrigues. Alienação fiduciária – as
ações de busca e apreensão... 2ª Ed. Leme: BH Editora, 2012, pp. 351-352)
Já sob o enfoque processual, entrementes com a abordagem das defesas nas chamadas
“açõ es dú plices”, vejamos o magistério José Miguel Garcia Medina:
“A demanda apresentada pelo réu (seja em reconvençã o, seja em pedido contraposto) nã o
torna dú plice a açã o proposta pelo autor: haverá duas açõ es no mesmo procedimento,
enquanto em açã o dú plice a açã o é uma só , embora dú plice. Falta interesse processual
em reconvir em ação dúplice, em relaçã o ao objeto em curso...”
(...)
Decidiu-se que ‘a sentença declarató ria em açã o de revisã o de contrato pode ser executada
pelo réu, mesmo sem ter havido reconvençã o, tendo em vista a presença dos elementos
suficientes à execuçã o, o cará ter de ‘duplicidade’ dessas açõ es, e os princípios da economia,
da efetividade e da duraçã o razoá vel do processo...” (MEDINA, José Miguel Garcia. Novo
código de processo civil comentado: com remissões... – Sã o Paulo: RT, 2015, pp. 578-579)
(negritos e sublinhados sã o nossos)
Com efeito, segundo o só lido entendimento jurisprudencial e doutriná rio, nã o qualquer
ó bice à estipulaçã o de linhas defensivas atinentes a comprovar a ilegalidade de clá usulas
contratuais, bem assim seus efeitos financeiros.

( a ) DA IMPERTINÊNCIA DA COBRANÇA DE JUROS CAPITALIZADOS


O Réu, em poder de demonstrativo de débito fornecido pela instituiçã o financeira autora,
requisitou que um perito particular fizesse um laudo apontando eventuais ilegalidades na
contrataçã o e, maiormente, a eventual cobrança de encargos abusivos. (doc. 39)
Ademais, a cláusula de capitalização, por ser de importâ ncia crucial ao desenvolvimento
do contrato, ainda que eventualmente existisse nesse pacto, deve ser redigida de maneira a
demonstrar exatamente ao contratante do que se trata e quais os reflexos gerarã o ao plano
do direito material.
O pacto, à luz do princípio consumerista da transparência, que significa informaçã o clara,
correta e precisa sobre o contrato a ser firmado, mesmo na fase pré-contratual, teria que
necessariamente conter:
1) redação clara e de fácil compreensão (art. 46);

2) informações completas acerca das condições pactuadas e seus reflexos no plano do direito
material;

3) redação com informações corretas, claras, precisas e ostensivas, sobre as condições de


pagamento, juros, encargos, garantia (art. 54, parágrafo 3º, c/c art. 17, I, do Dec. 2.181/87);

4) em destaque, a fim de permitir sua imediata e fácil compreensão, as cláusulas que


implicarem limitação de direito (art. 54, parágrafo 4º)
Nesse mesmo compasso é o magistério de Cláudia Lima Marques:
“ A grande maioria dos contratos hoje firmados no Brasil é redigida unilateralmente pela
economicamente mais forte, seja um contrato aqui chamado de paritá rio ou um contrato de
adesã o. Segundo instituiu o CDC, em seu art. 46, in fine, este fornecedor tem um dever
especial quando da elaboraçã o desses contratos, podendo a vir ser punido se descumprir
este dever tentando tirar vantagem da vulnerabilidade do consumidor.
(...)
O importante na interpretaçã o da norma é identificar como será apreciada ‘a dificuldade de
compreensã o’ do instrumento contratual. É notó rio que a terminologia jurídica apresenta
dificuldades específicas para os nã o profissionais do ramo; de outro lado, a utilizaçã o de
termos atécnicos pode trazer ambiguidades e incertezas ao contrato. “ (MARQUES, Clá udia
Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor: o novo regime das relações contratuais.
6ª Ed. Sã o Paulo: RT, 2011. Pá g. 821-822)
Por esse norte, a situaçã o em liça traduz uma a relaçã o jurídica que, sem dú vidas, é
regulada pela legislaçã o consumerista. Por isso, uma vez seja constada a onerosidade
excessiva e a hipossuficiência do consumidor, resta autorizada a revisã o das clá usulas
contratuais, independentemente do contrato ser "pré" ou "pó s" fixado.
Nesse trilhar, o princípio da força obrigató ria contratual (pacta sunt servanda) deve ceder e
se coadunar com a sistemá tica do Có digo de Defesa do Consumidor.
Além disso, a relaçã o contratual também deve atender à função social dos contratos, agora
expressamente prevista no artigo 421 do Código Civil, "a liberdade de contratar será
exercida em razão e nos limites da função social do contrato".
De outra banda, é consabido que o Superior Tribunal de Justiça já consagrou entendimento
de que “a previsão no contrato bancário de taxa de juros anual superior ao duodécuplo da
mensal é suficiente para permitir a cobrança da taxa efetiva anual contratada.” (Súmula
541, do STJ)
No entanto, na hipó tese fere a boa-fé objetiva prevista no Có digo de Defesa do Consumido.
De regra, nessas situaçõ es, há uma relaçã o de consumo firmada entre banco e mutuá rio.
Destarte, resta comprometido o dever de informaçã o ao consumidor no â mbito contratual,
maiormente à luz dos ditames dos artigos 4º, 6º, 31, 46 e 54 do CDC.

Nesse ponto específico, ou seja, quanto à informação precisa ao mutuário consumidor


acerca da periodicidade dos juros, decidira o Superior Tribunal de Justiça no seguinte
sentido:
RECURSO ESPECIAL. CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO.
CAPITALIZAÇÃO DIÁRIA. TAXA NÃO INFORMADA. DESCABIMENTO. VIOLAÇÃO A
DISPOSITIVOS CONSTITUCIONAIS. DESCABIMENTO.
1. Controvérsia acerca da capitalizaçã o diá ria em contrato bancá rio.
2. Comparaçã o entre os efeitos da capitalizaçã o anual, mensal e diá ria de uma dívida,
havendo viabilidade matemá tica de se calcular taxas de juros equivalentes para a
capitalizaçã o em qualquer periodicidade (cf. RESP 973.827/rs).
3. Discutível a legalidade de clá usula de capitalizaçã o diá ria de juros, em que pese a norma
permissiva do art. 5º da Medida Provisó ria nº 2.170-36/2001. Precedentes do STJ.
4. Necessidade, de todo modo, de fornecimento pela instituição financeira de
informações claras ao consumidor acerca da forma de capitalização dos juros
adotada.
5. Insuficiência da informação a respeito das taxas equivalentes sem a efetiva ciência
do devedor acerca da taxa efetiva aplicada decorrente da periodicidade de
capitalização pactuada.
6. Necessidade de se garantir ao consumidor a possibilidade de controle a priori do
contrato, mediante o cotejo das taxas previstas, não bastando a possibilidade de
controle a posteriori.
7. Violação do direito do consumidor à informação adequada.
8. Aplicação do disposto no art. 6º, inciso III, combinado com os artigos 46 e 52, do
código de defesa do consumidor(cdc).
9. Reconhecimento da abusividade da cláusula contratual no caso concreto em que
houve previsão de taxas efetivas anual e mensal, mas não da taxa diária. 10. Recurso
Especial desprovido. (STJ; REsp 1.568.290; Proc. 2014/0093374-7; RS; Terceira Turma;
Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino; DJE 02/02/2016)
Certamente a perícia contá bil irá demonstrar que, na verdade, a capitalizaçã o dos juros
ocorrera de forma diá ria. Essa modalidade de prova de logo requer-se. Afinal, é uma prá tica
corriqueira, comum a toda e qualquer instituiçã o financeira, nã o obstante a gritante
ilegalidade.
Nã o fosse isso o bastante, é cediço que essa espécie de periodicidade de capitalização
(diária) importa em onerosidade excessiva ao consumidor.
Observe-se que a legislaçã o que trata da Cédula de Crédito Bancá rio admite a cobrança de
juros capitalizados mensalmente, mas desde que expressamente pactuados no
contrato:
Lei nº. 10.931/04

Art. 28 – A Cédula de Crédito Bancá rio é título executivo extrajudicial e representa dívida
em dinheiro, certa, líquida e exigível, seja pela soma nela indicada, seja pelo saldo devedor
demonstrado em planilha de cá lculo, ou nos extratos da conta corrente, elaborados
conforme previsto no § 2º.
§ 1º - Na Cédula de Crédito Bancá rio poderão ser pactuados:
I – os juros sobre a dívida, capitalizados ou não, os critérios de sua incidência e, se for
o caso, a periodicidade de sua capitalização, bem como as despesas e os demais
encargos decorrentes da obrigaçã o. “
( os destaques são nossos )
Nã o fosse isso o suficiente, é cediço que essa espécie de periodicidade de capitalização
(diária) importa em onerosidade excessiva ao consumidor.
Com esse enfoque:
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE REVISÃO.
Contratos de abertura de crédito em conta corrente do tipo cheque especial e de
empréstimo pessoal e cédula de crédito bancá rio e instrumento particular de confissã o e
renegociaçã o de dívidas. Autos que vieram acompanhados apenas da cédula de crédito
bancá rio, do instrumento particular de confissã o de dívidas e dos extratos de
movimentaçã o da conta corrente e das operaçõ es de empréstimo pessoal. Determinaçã o de
exibiçã o, pela instituiçã o financeira, de documentos que sã o comuns à s partes. Artigo 358,
inciso III, do có digo de processo civil. Descumprimento que acarreta a admissã o dos fatos
alegados como sendo verdadeiros. Artigo 359, inciso I, do có digo de processo civil.
Incidência do Có digo de Defesa do Consumidor. Revisão que é possível em face da
onerosidade excessiva. Artigos 6º, incisos IV e V, e 51, inciso IV, ambos do Código de
Defesa do Consumidor. Juros remuneratórios. Enunciado N. I do grupo de câ maras de
direito comercial. Ausência de prova do pacto em relaçã o ao cheque especial que acarreta a
aplicaçã o da taxa média de mercado divulgada pelo Banco Central, contanto que inferior à
exigida. Nova orientaçã o da câ mara, a partir da sessã o do dia 21.5.2015. Sú mula n. 530 do
Superior Tribunal de Justiça. Observâ ncia da taxa média de mercado também como critério
para a aferiçã o da abusividade nos demais contratos examinados, ainda que nã o tenha sido
informada a taxa praticada. Capitalização diária dos juros. Cláusula da cédula de
crédito bancário que é declarada nula porque importa em onerosidade excessiva ao
consumidor. Impossibilidade de ser cobrada na modalidade mensal porque não foi
convencionada, sendo vedada a interpretação extensiva ao contrato. Precedentes da
câ mara. Exigência do encargo na periodicidade anual que foi autorizada na sentença.
Conformismo da mutuá ria. Câ mara que nã o pode piorar a situaçã o da recorrente. Ausência
de prova do pacto expresso que inviabiliza a cobrança de juros capitalizados nos outros
contratos submetidos à revisã o. Manutençã o da periodicidade anual também em razã o de
ter sido autorizada na sentença. Recurso provido em parte. (TJSC; AC 2016.005054-7;
Balneá rio Camboriú ; Quinta Câ mara de Direito Comercial; Rel. Des. Jâ nio Machado; Julg.
15/02/2016; DJSC 18/02/2016; Pá g. 216)
APELAÇÃO CÍVEL. DECLARATÓRIA. PURGAÇÃO DA MORA POSSIBILIDADE. ART. 34
DO DECRETO-LEI N. 70/66/ART. 26 DA LEI N. 9.514/97. CAPITALIZAÇÃO DIÁRIA DE
JUROS. ABUSIVIDADE. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA DE BEM IMÓVEL. LEI Nº 9.514/97.
REVISÃO DE CLÁUSULAS CONTRATUAIS. FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO. ART. 6º, V E
ART. 51, IV /CDC. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO.
O artigo 34 do Decreto-Lei nº 70/66 aplicado subsidiariamente à Lei nº 9514/97,
possibilita ao devedor purgar a mora apó s a consolidaçã o do bem nas mã os do credor,
ressalvado que a purgaçã o se dê antes da realizaçã o do leilã o. Nã o havendo a alienaçã o dos
bens imó veis, faculta-se ao devedor a possibilidade de proceder purgaçã o da mora (art. 34
do Decreto-Lei n. 70/66; art. 39 da Lei nº 9.514/97). Ainda que seja cabível a
capitalização dos juros em periodicidade mensal, a previsão de capitalização diária
acarreta onerosidade excessiva e causa desequilíbrio na relação jurídica. O
procedimento de alienaçã o fiduciá ria de bem imó vel é perfeitamente legal (lei nº
9.514/97). O principio da força obrigató ria dos contratos nã o impede a revisã o daquelas
clá usulas consideradas abusivas, nos termos do art. 6º, V e art. 51, IV, cdc. (TJMT; APL
96338/2015; Cá ceres; Rel. Des. Sebastiã o Barbosa Farias; Julg. 26/01/2016; DJMT
01/02/2016; Pá g. 27)
APELAÇÃO CÍVEL. EMBARGOS À EXECUÇÃO. CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO.
CAPITALIZAÇÃO DIÁRIA. PACTUAÇÃO EXPRESSA. ABUSIVIDADE. PERIODICIDADE
MENSAL. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.
1. É inadmissível a capitalização diária dos juros, uma vez que tal exigência é
desprovida de respaldo legal, impondo-se o reconhecimento da ilegalidade da clá usula e
a estipulaçã o da capitalizaçã o em sua periodicidade mensal. 2. Recurso parcialmente
provido. Acó rdã o. (TJMS; APL 0804935-49.2014.8.12.0002; Dourados; Quinta Câ mara
Cível; Rel. Des. Vladimir Abreu da Silva; DJMS 21/10/2015; Pá g. 19)
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO BANCÁRIO. CÉDULA DE CRÉDITO
BANCÁRIO-CAPITAL DE GIRO. CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. INCIDÊNCIA DA
SÚMULA Nº 297 DO STJ. POSSIBILIDADE DE REVISÃO. JUROS REMUNERATÓRIOS.
LIMITAÇÃO EM 12% AO ANO. INSTITUIÇÃO FINANCEIRA QUE NÃO SE SUJEITA A LEI
DE USURA. SÚMULA Nº 596 DO STF. ART. 192, § 3º DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL
REVOGADO. LIMITAÇÃO SUJEITA AO ÍNDICE DIVULGADO PELA TAXA MÉDIA DE
MERCADO ANUNCIADA PELO BANCO CENTRAL DO BRASIL. ENUNCIADOS I E IV DO
GRUPO DE CÂMARAS DE DIREITO COMERCIAL DESTA CORTE.
Convém contemplar na presente decisã o a inaplicabilidade dos termos legais constantes do
Decreto nº 22.626/33 frente as instituiçõ es financeiras de acordo com a Sú mula n. 596 do
Superior Tribunal Federal, in verbis:"As disposiçõ es do Decreto nº 22.626 de 1933 nã o se
aplicam à s taxas de juros e aos outros encargos cobrados nas operaçõ es realizadas por
instituiçõ es pú blicas ou privadas, que integram o Sistema Financeiro Nacional". Embora o
índice dos juros remunerató rios nã o esteja vinculado a limitaçã o disposta no revogado
artigo 192, § 3º, da Constituiçã o Federal, a jurisprudência pá tria e até mesmo o Enunciado I
e IV do Grupo de Câ maras de Direito Comercial anota que é possível estabelecer
limitaçã o/reduçã o quando superior à quele praticado pelo mercado financeiro, elencada
pela tabela emitida pelo Banco Central do Brasil. CAPITALIZAÇÃO DIÁRIA DE JUROS.
CONTRATO FIRMADO APÓ S A EDIÇÃ O DA MEDIDA PROVISÓ RIA N. 1.963/2000.
PACTUAÇÃO EM PERIODICIDADE DIÁRIA. VEDAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE DE
SUBSTITUIÇÃO POR MENSAL. INVIABILIDADE DA CAPITALIZAÇÃO DE JUROS. "Por
certo que permitir a capitalizaçã o diá ria dos juros incidentes na dívida configuraria
onerosidade excessiva para qualquer devedor. Aliá s, essa prá tica está em profunda
discrepâ ncia com a atualidade econô mica brasileira, e deve ser rechaçada do sistema. [...]"
(TJSC, Apelaçã o Cível n. 2011.006278-1, de Indaial. Relator: Des. Volnei Celso Tomazini.
Julgada em 08/03/2012).Assim, impossibilitado o anatocismo diário, não pode ser
deferido o pleito de capitalização mensal, porque esta não foi convencionada, não se
podendo dar interpretação extensiva ao contrato para tanto. "(STJ. Agravo Regimental
no Agravo de Instrumento n. 966.398/AL, Rel. Ministro Aldir Passarinho Jú nior, j.
26.8.2008).Ô NUS SUCUMBENCIAL. FIXAÇÃ O DE FORMA PROPORCIONAL AO RESULTADO
QUE AS PARTES OBTIVERAM NA DEMANDA. Recurso do autor conhecido e parcialmente
provido. Recurso do réu conhecido e improvido. (TJSC; AC 2014.022245-8; Trombudo
Central; Quinta Câ mara de Direito Comercial; Rel. Des. Clá udio Barreto Dutra; Julg.
19/03/2015; DJSC 30/03/2015; Pá g. 234)
Nã o bastasse a clareza dos dados contidos no contrato em ensejo, o pró prio laudo
particular financeiro, acostado com esta peça defensiva, já adverte e demonstra a referida
cobrança diá ria dos juros capitalizados. (doc. 02)
Obviamente que uma vez identificada e reconhecida a ilegalidade da clá usula que prevê a
capitalizaçã o diá ria dos juros, esses nã o poderã o ser cobrados em qualquer outra
periodicidade (mensal, bimestral, semestral, anual). É que, ló gico, inexiste previsão
contratual nesse sentido; do contrá rio, haveria nítida interpretaçã o extensiva ao acerto
entabulado contratualmente.
Com efeito, a corroborar as motivaçõ es retro, convém ressaltar os ditames estabelecidos na
Legislaçã o Substantiva Civil:
CÓ DIGO CIVIL
Art. 843. A transação interpreta-se restritivamente, e por ela nã o se transmitem, apenas
se declaram ou reconhecem direitos.
Nesse passo, é altamente ilustrativo transcrever o seguinte aresto:
Agravo de instrumento Açã o de execuçã o por título judicial Incidente de execuçã o Decisã o
proclamando o valor atualizado do débito Irresignaçã o parcialmente procedente
Antecedente título executivo extrajudicial substituído por transaçã o Incabível, assim, o
cô mputo da multa morató ria prevista no primitivo título Aplicaçã o do art. 843 do CC, a
dispor que a transaçã o nã o comporta interpretaçã o extensiva Juros previstos no
instrumento da transaçã o, de 1,5% a.m., incidindo até o efetivo cumprimento da obrigaçã o
Evidente a má -fé processual na conduta da credora, por ter computado os juros de modo
mensalmente capitalizado, em total infraçã o ao ordenamento jurídico da época e sem que o
instrumento da transaçã o isso autorizasse Quadro ensejando a aplicaçã o da multa do art.
18 do CPC, de 1% sobre o valor atualizado da execuçã o. Agravo a que se dá parcial
provimento. (TJSP; AI 2187868-05.2014.8.26.0000; Ac. 8269858; Sã o Paulo; Décima Nona
Câ mara de Direito Privado; Rel. Des. Ricardo Pessoa de Mello Belli; Julg. 23/02/2015;
DJESP 13/03/2015)
Diante disso, conclui-se que declarada nula a clá usula que estipula a capitalizaçã o diá ria,
resta vedada a capitalização em qualquer outra modalidade.

( b ) - LIMITE DOS JUROS REMUNERATÓRIOS

Nã o fosse bastante isso, concluímos que a Autora cobrara do Réu, ao longo de todo trato
contratual, taxas remuneratórias bem acima da média do mercado.
Tais argumentos podem ser facilmente constatados com uma simples aná lise junto ao site
do Banco Central do Brasil. Há de existir, nesse tocante, uma reduçã o à taxa de XX % a.m.,
posto que foi a média aplicada no mercado no período da contrataçã o. Nã o sendo esse o
entendimento, aguarda-se sejam apurados tais valores em sede de prova pericial, o que de
logo requer.
Com esse enfoque:
APELAÇÃO CÍVEL. NEGÓCIOS JURÍDICOS BANCÁRIOS. EMBARGOS À EXECUÇÃO.
REVISÃO DE CONTRATO BANCÁRIO. CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. CDC.
O CDC. É aplicá vel à s instituiçõ es financeiras. Sú mula nº 297 do STJ. Pacta sunt servanda.
Revisã o contratual por mitigaçã o do princípio pacta sunt servanda. Admissibilidade. Do rito
processual. Nã o há falar em equívoco no rito processual, na medida em que, realizada a
citaçã o do embargante sob a vigência da Lei nº 11.382/2006, foi oportunizada a
apresentaçã o de defesa, sem qualquer prejuízo à parte. Da ilegitimidade ativa da instituiçã o
financeira. O fato de o crédito ter sido cedido pelo credor originá rio ao ora apelado,
considerando a inadimplência do título, o que nã o é contestado pelo apelante, nã o retira a
legitimidade do cessioná rio para propor a demanda executiva. Com a citaçã o da açã o de
execuçã o, a partir dos documentos que a instrumentalizaram, tomou ciência o devedor a
quem deveria pagar, mostrando-se, por isso, regular a execuçã o proposta, nã o se podendo
falar em ilegitimidade ativa. Aplicaçã o do art. 359, do CPC. Para efeito de revisã o de
clá usulas, em contrato bancá rio, impositiva a comprovaçã o das abusividades e ilegalidades
sustentadas, nã o sendo possível, para tanto, a presunçã o de veracidade, prevista pelo art.
359, do CPC. Sentença extra petita. Nã o há falar em sentença extra petita, na medida em
que, sustentada a presença de abusividade na contrataçã o e, postulada a revisã o da
clá usula que trata dos juros remunerató rios contratados, possível ao magistrado rejeitar o
pedido de limitaçã o dos juros remunerató rios em 6% ou 12% ao ano, mas, em sintonia com
a sedimentada jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, realizar a revisã o da
clá usula, com limitaçã o de acordo com a taxa média de mercado informada pelo BACEN.
Juros remunerató rios. A taxa de juros contratada nã o é abusiva quando adequada à média
da taxa mensal praticada pelas instituiçõ es financeiras nacionais ao tempo da contrataçã o.
Indevida a limitaçã o das taxas de juros em 12% ao ano, mormente com a revogaçã o do § 3º
do artigo 192, da CF. Constatada a abusividade da taxa de juros ajustada, impõ e-se sua
reduçã o à média da taxa mensal praticada pelas instituiçõ es financeiras nacionais ao tempo
da contrataçã o. Capitalizaçã o dos juros. A capitalizaçã o mensal dos juros é permitida pelo
artigo 5º da MP 2170-36 (reediçã o das MPS 1.782, 1.907, 1.963, 2.087) e pelo artigo 4º da
MP 2.172-32, normas vigentes no ordenamento jurídico, enquanto pendente de julgamento
da adi 2316, no STF. Exclusã o da mora. A cobrança de encargos abusivos durante a
normalidade do contrato descaracteriza a mora. Jurisprudência uniformizada no STJ.
Sentença parcialmente reformada. Ô nus sucumbenciais mantidos. Deram parcial
provimento ao recurso. Unâ nime. (TJRS; AC 0239758-41.2013.8.21.7000; Sã o Lourenço do
Sul; Décima Oitava Câ mara Cível; Rel. Des. Nelson José Gonzaga; Julg. 25/02/2016; DJERS
03/03/2016)
Outrossim, há excesso na cobrança dos juros remunerató rios, todavia quando levado em
conta um fictício indexador de correçã o monetá ria da dívida.
A instituiçã o financeira ré, levianamente, corrigira os valores se utilizando do CDI
(Certificados de Depósitos Interbancários), e isso cumulativamente com a cobrança dos
juros remunerató rios. A CDI é apurada e divulgada pela Central de Liquidação e de
Custódia de Títulos – CETIP.
Há muito tempo a incidência de encargos contratuais atrelados à CETIP já foram
considerados ilegais, senã o vejamos:
STJ, Súmula 176 - É nula a clá usula que sujeita o devedor à taxa de juros divulgada pela
ANDIB/CETIP.
Esses certificados sã o utilizados como parâ metro para medir o custo do dinheiro entre os
bancos do setor privado. Desse modo, nã o guarda a mínima relaçã o com o fator correçã o
monetá ria da moeda, de se evitar o aviltamento dessa. Na verdade, é índice de
remuneraçã o de capital.
Nesses moldes, houve um bis in idem em relaçã o à remuneraçã o do capital, o que,
obviamente, afronta gritantemente a legislaçã o em vigor.
A corroborar o exposto acima, faz-se mister trazer à colaçã o as seguintes ementas:
EMBARGOS DO DEVEDOR. CÉDULA DE CRÉDITO RURAL. INDEXADOR. CDI.
Impossibilidade. Sú mula nº 176 STJ. A taxa de Certificado de Depó sito Interbancá rio nã o se
presta à atualizaçã o monetá ria, na medida em que em sua composiçã o traz conjuntamente
taxas de remuneraçã o de capital e correçã o monetá ria, impondo-se sua substituiçã o pelo
INPC. Apelaçã o nã o provida. (TJPR; ApCiv 1354022-4; Goioerê; Décima Quinta Câ mara
Cível; Rel. Des. Hamilton Mussi Correa; Julg. 17/06/2015; DJPR 29/06/2015; Pá g. 504)
APELAÇÃO CÍVEL. NEGÓCIOS JURÍDICOS BANCÁRIOS. EMBARGOS À EXECUÇÃO.
CÉDULA RURAL PIGNORATÍCIA. PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE PASSIVA.
ALTERAÇÃO DE VENCIMENTO.
A simples prorrogaçã o do prazo de pagamento da cédula rural pignoratícia, sem a
assinatura dos avalistas no aditivo, nã o afasta a sua legitimidade. O oferecimento de nova
causa de pedir em sede de apelaçã o constitui afronta ao princípio da estabilidade objetiva
da demanda. Preliminar de inépcia da petiçã o inicial. A petiçã o inicial preencheu os
requisitos do art. 282 do CPC. Importa vencimento de cédula de crédito rural
independentemente de aviso ou interpelaçã o judicial ou extrajudicial, a inadimplência de
qualquer obrigaçã o convencional ou legal do emitente do título ou, sendo o caso, do
terceiro prestante da garantia real (art. 11 do Decreto-Lei n. 167/1967). Preliminar
rejeitada clá usula abusiva. Certificados de depó sito interbancá rio - CDI. Vedada a incidência
do CDI como indexador. Inteligência da Sú mula nº 176 do STJ. Descaracterizaçã o da mora.
O reconhecimento da abusividade contratual implica descaracterizaçã o da mora. Excesso
de execuçã o. A revisã o de clá usulas abusivas da cédula de rural pignoratícia que embasa a
execuçã o nã o acarreta iliquidez do título executado, porquanto possível a adequaçã o do
valor da execuçã o ao montante apurado nestes embargos. Ô nus da sucumbência. Se cada
litigante for em parte vencedor e vencido, serã o recíproca e proporcionalmente
distribuídos e compensados entre eles os honorá rios e as despesas. Manutençã o da
distribuiçã o dos ô nus da sucumbência definidos na sentença. Apelaçã o dos embargantes
parcialmente provida. Apelaçã o do embargado desprovida. (TJRS; AC 0417426-
62.2014.8.21.7000; Tapejara; Décima Nona Câ mara Cível; Rel. Des. Marco Antonio Angelo;
Julg. 11/06/2015; DJERS 16/06/2015)

( c ) - DA AUSÊNCIA DE MORA

De outro bordo, não há que se falar em mora do Contestante.


A mora reflete uma inexecuçã o de obrigaçã o diferenciada, maiormente quando representa
o injusto retardamento ou o descumprimento culposo da obrigaçã o. Assim, na espécie
incide a regra estabelecida no artigo 394 do Código Civil, com a complementaçã o disposta
no artigo 396 desse mesmo Diploma Legal.
CÓDIGO CIVIL
Art. Art. 394 - Considera-se em mora o devedor que nã o efetuar o pagamento e o credor
que nã o quiser recebê-lo no tempo, lugar e forma que a lei ou a convençã o estabelecer.
Art. 396 - Nã o havendo fato ou omissã o imputá vel ao devedor, nã o incorre este em mora
Do mesmo teor a posiçã o do Superior Tribunal de Justiça:
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. SFH. RECONHECIMENTO DA
COBRANÇA DE ENCARGOS ABUSIVOS NO PERÍODO DA NORMALIDADE.
DESCARACTERIZAÇÃO DA MORA.
Impossibilidade de cobrança de multa e de juros morató rios. Agravo regimental
desprovido. (STJ; AgRg-REsp 1.325.626; Proc. 2012/0109512-9; DF; Terceira Turma; Rel.
Min. Paulo de Tarso Sanseverino; DJE 18/02/2015)
AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE REVISÃO DE
CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO. DESCARACTERIZAÇÃO DA MORA. COBRANÇA DE
QUANTIAS INDEVIDAS NO PERÍODO DA NORMALIDADE CONTRATUAL.
1. A constataçã o de abuso na exigência de encargos durante o período da normalidade
contratual afasta a configuraçã o da mora. Na hipó tese dos autos, o acó rdã o declarou que
foram cobradas quantias indevidas a título de correçã o monetá ria e de despesas e
honorá rios extrajudiciais. 2. Agravo regimental nã o provido. (STJ; AgRg-AREsp 443.637;
Proc. 2013/0399449-8; RS; Terceira Turma; Rel. Min. Ricardo Villas Boas Cueva; DJE
12/02/2015)
Nesse sentido é a doutrina de Washington de Barros Monteiro:
“ A mora do primeiro apresenta, assim, um lado objetivo e um lado subjetivo. O lado
objetivo decorre da nã o realizaçã o do pagamento no tempo, lugar e forma convencionados;
o lado subjetivo descansa na culpa do devedor. Este é o elemento essencial ou conceitual da
mora solvendi. Inexistindo fato ou omissã o imputá vel ao devedor, nã o incide este em mora.
Assim se expressa o art. 396 do Có digo Civil de 2002. “ (MONTEIRO, Washington de Barros.
Curso de Direito Civil. 35ª Ed. Sã o Paulo: Saraiva, 2010, vol. 4. Pá g. 368)
Como bem advertem Cristiano Chaves de Farias e Nélson Rosenvald:
“ Reconhecido o abuso do direito na cobrança do crédito, resta completamente
descaracterizada a mora solvendi. Muito pelo contrá rio, a mora será do credor, pois a
cobrança de valores indevidos gera no devedor razoá vel perplexidade, pois nã o sabe se
postula a purga da mora ou se contesta a açã o. “ (FARIAS, Cristiano Chaves de;
ROSENVALD, Nelson. Direito das Obrigações. 4ª Ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010. Pá g.
471)
Por fim, colhe-se liçã o de Cláudia Lima Marques:
“ Superadas as dú vidas interpretativas iniciais, a doutrina majoritá ria conclui que a
nulidade dos arts. 51 e 53 é uma nulidade cominada de absoluta (art. 145, V, do CC/1916 e
art. 166, VI e VII, do CC/2002, como indica o art. 1º do CDC e reforça o art. 7º, caput, deste
Có digo.
(...)
Quanto à eventual abusividade de clá usulas de remuneraçã o e das clá usulas acessó rias de
remuneraçã o, quatro categorias ou tipos de problemas foram identificados pela
jurisprudência brasileira nestes anos de vigência do CDC: 1) as clá usulas de remuneraçã o
variá vel conforme a vontade do fornecedor, seja através da indicaçã o de vá rios índices ou
indexadores econô micos, seja através da imposiçã o de ‘regimes especiais’ nã o previamente
informados; 2) as clá usulas que permitem o somató rio ou a repetiçã o de remuneraçõ es, de
juros sobre juros, de duplo pagamento pelo mesmo ato, clá usulas que estabelecem um
verdadeiro bis in idem remunerató rio; 3) clá usulas de imposiçã o de índices unilaterais para
o reajuste ou de correçã o monetá ria desequilibradora do sinalagma inicial; clá usulas de
juros irrazoá veis. “(MARQUES, Clá udio Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor.
6ª Ed. Sã o Paulo: RT, 2011. Pá gs. 942-1139)
Em face dessas consideraçõ es, conclui-se que a mora cristaliza o retardamento por um fato,
quando imputável ao devedor. É dizer, quando o credor exige o pagamento do débito,
agregado com encargos excessivos, retira-se do devedor a possibilidade de arcar com a
obrigação assumida. Por conseguinte, nã o pode lhes ser imputados os efeitos da mora.
Entende-se, uma vez constatado a cobrança de encargos abusivos durante o “período da
normalidade” contratual, restará afastada eventual condição de mora do Embargante.
O Superior Tribunal de Justiça, ao concluir o julgamento de recurso repetitivo sobre revisã o
de contrato bancá rio (REsp nº. 1.061.530/RS), quanto ao tema de “configuraçã o da mora”
destacou que:
“ORIENTAÇÃO 2 – CONFIGURAÇÃO DA MORA
a) O reconhecimento da abusividade nos encargos exigidos no período da normalidade
contratual(juros remunerató rios e capitalizaçã o) descaracteriza a mora;
b) Nã o descaracteriza a mora o ajuizamento isolado de açã o revisional, nem mesmo quando
o reconhecimento de abusividade incidir sobre os encargos inerentes ao período de
inadimplência contratual. “
( os destaques sã o nossos )
E do preciso acó rdã o em liça ainda podemos destacar que:
“Os encargos abusivos que possuem potencial para descaracterizar a mora sã o, portanto,
aqueles relativos ao chamado ‘período da normalidade’, ou seja, aqueles encargos que
naturalmente incidem antes mesmo de configurada a mora. “
( destacamos )
Por todo o exposto, de rigor o afastamento dos encargos morató rios, ou seja, comissão de
permanência, multa contratual e juros moratórios.
( e ) – DA COMISSÃO DE PERMANÊNCIA E OUTROS ENCARGOS
Entende o Réu, inclusive fartamente alicerçado nos fundamentos antes citados, que o
mesmo não se encontra em mora.
Caso este juízo entenda pela impertinência desses argumentos, o que se diz apenas por
argumentar, devemos também destacar que é abusiva a cobrança da comissã o de
permanência cumulada com outros encargos morató rios/remunerató rios, ainda que
expressamente pactuada. É pacífico o entendimento do Colendo Superior Tribunal de
Justiça, no sentido de que em caso de previsã o contratual para a cobrança de comissã o de
permanência, cumulada com correçã o monetá ria, juros remunerató rios, juros de mora e
multa contratual, impõ e-se a exclusã o da incidência desses ú ltimos encargos. Em verdade, a
comissã o de permanência já possui a dupla finalidade de corrigir monetariamente o valor
do débito e de remunerar o banco pelo período de mora contratual.
Perceba que no pacto há estipulaçã o contratual pela cobrança de comissã o de permanência
com outros encargos morató rios. Desse modo, os mesmos devem ser afastados pela via
judicial.
Com esse entendimento:
AGRAVO REGIMENTAL EM SEDE DE APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO CIVIL E CONSUMIDOR.
EXIGÊNCIA DA COMISSÃO DE PERMANÊNCIA CUMULADA COM CORREÇÃO
MONETÁRIA E JUROS MORATÓRIOS. IMPOSSIBILIDADE. COBRANÇA DA TAXA DE
ABERTURA DE CRÉDITO TAC. AUSÊNCIA DE FUNDAMENTO LEGAL VIGENTE.
PRECEDENTES DO STJ. AGRAVO CONHECIDO E IMPROVIDO.
1. Cingese a demanda em saber se é legal a tacha de abertura de crédito, a exigência da
comissã o de permanência cumulada com a correçã o monetá ria e os juros morató rios. 2. O
Superior Tribunal de Justiça tem jurisprudência pacífica, aduzindo que a cobrança da
comissã o de permanência somente é legal quando nã o for cumulada com correçã o
monetá ria, juros remunerató rios, multa contratual e juros morató rios (Sú mulas nºs 30, 294
e 472 do STJ). Precedentes do STJ: AGRG no AREsp n. 264.054/RS, Relatora Ministra Maria
ISABEL Gallotti, QUARTA TURMA, julgado em 18/12/2014, DJe 6/2/2015 e AGRG no RESP
1291792/RS, Rel. Ministro ANTONIO Carlos Ferreira, QUARTA TURMA, julgado em
16/04/2015, DJe 23/04/2015. In casu, a cobrança é cumulada, portanto, ilegal. 3.Quanto a
cobrança da taxa de abertura de crédito, restou sedimentado na Corte Cidadã que os
contratos celebrados apó s 30.04.2008, fim da vigência da Resoluçã o 2.303/1996 do CMN,
nã o têm respaldo legal para efetuar tal exigência. Compulsando os fó lios, verificase que o
contrato fustigado foi assinado no dia 16 de maio de 2011, fl. 31, logo incabível é a sua
imputaçã o ao consumidor. 4. Agravo regimental conhecido, porém improvido. (TJCE; AG
001963081.2013.8.06.0151/50000; Quinta Câ mara Cível; Rel. Des. Carlos Alberto Mendes
Forte; DJCE 22/02/2016; Pá g. 28)
( e ) – RESTITUIÇÃO EM DOBRO DO QUE FORA COBRADO A MAIOR
A cobrança de juros capitalizados nos pactos originá rios de Cédula de Crédito Bancário,
somente é admitida se estiver previamente ajustada (Lei nº. 10.931/04, art. 28, § 1º e
inc. I).
Na hipó tese em estudo, como visto, foram cobrados juros capitalizados diá rios sem ajuste
para tanto, discrepando, portanto, do que rege mencionada Lei. Cabível, entã o, a devolução
em dobro do que foi cobrado a maior, consoante abaixo se evidencia:
Lei nº. 10.931/2004
Art. 28. A Cédula de Crédito Bancá rio é título executivo extrajudicial e representa dívida em
dinheiro, certa, líquida e exigível, seja pela soma nela indicada, seja pelo saldo devedor
demonstrado em planilha de cá lculo, ou nos extratos da conta corrente, elaborados
conforme previsto no § 2o.
[...]
§ 3o O credor que, em ação judicial, cobrar o valor do crédito exeqüendo em
desacordo com o expresso na Cédula de Crédito Bancário, fica obrigado a pagar ao
devedor o dobro do cobrado a maior, que poderá ser compensado na pró pria açã o, sem
prejuízo da responsabilidade por perdas e danos.

EM CONCLUSÃO
Em arremate, requer o Contestante que Vossa Excelência se digne de tomar as seguintes
providências:
(i) extinguir o processo, sem julgamento de mérito, em razão da preliminar arguida
de ausência de interesse processual ( CPC, art. 337, inc. XI c/c art. 485, inc. VI),
instando a parte adversa a restituir o veículo, no prazo de 10 (dez) dias, sob pena de
multa diária de R$ 100,00 (cem reais)

(ii) subsidiariamente ( CPC, art. 326), requer sejam JULGADOS IMPROCEDENTES OS


PEDIDOS FORMULADOS NA PRESENTE AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO, em face da
ausência de mora do Réu. Em face disso, requer-se seja a Autora condenada a arcar
com o ônus da sucumbência e, mais, com a cominação prevista no art. 3º, § 6º, da lei
de Alienação Fiduciária (50% do valor financiado), assim como na restituição em
dobro do que fora cobrado a maior (Lei nº. 10.931/2004, art. 28, § 3º);

(iii) ainda subsidiariamente, pleiteia sejam afastados os encargos contratuais


abusivos citados nesta defesa, com a condenação supra-aludida;
(iv) protesta provar o alegado por todos meios admissíveis em direito,
nomeadamente pelo depoimento pessoal do representante legal da Autora, prova
pericial e testemunhas a serem arroladas oportunamente.

Respeitosamente, pede deferimento.


Cidade, 00 de dezembro de 0000.
Fulano de Tal
Advogado - OAB (PR) 112233

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