Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Processo: 1406/16.9T8ACB-A.C1.S1
Nº Convencional: 2ª SECÇÃO
Relator: ROSA RIBEIRO COELHO
Descritores: LIVRANÇA
OBRIGAÇÃO CAMBIÁRIA
PRESCRIÇÃO
INTERRUPÇÃO DA PRESCRIÇÃO
REQUERIMENTO EXECUTIVO
PROPOSITURA DA ACÇÃO
PROPOSITURA DA AÇÃO
AGENTE DE EXECUÇÃO
TÍTULO EXECUTIVO
REQUISITOS
PACTO DE PREENCHIMENTO
AVALISTA
LIVRANÇA EM BRANCO
Data do Acordão: 11-07-2019
Votação: UNANIMIDADE
Texto Integral: S
Privacidade: 1
Meio Processual: REVISTA
Decisão: CONCEDIDA PARCILAMENTE A REVISTA E BAIXA DOS AUTOS À RELAÇÃO
Área Temática:
DIREITO CIVIL – RELAÇÕES JURÍDICAS / TEMPO E REPERCUSSÃO NAS
RELAÇÕES JURÍDICAS / PRESCRIÇÃO / INTERRUPÇÃO DA PRESCRIÇÃO.
DIREITO PROCESSUAL CIVIL - PROCESSO DE EXECUÇÃO / EXECUÇÃO PARA
PAGAMENTO DE QUANTIA CERTA / PROCESSO ORDINÁRIO / FASE
INTRODUTÓRIA.
Doutrina:
- Ferrer Correia, Lições de Direito Comercial, Letra de Câmbio, Volume III, 1966, p. 124;
- Lebre de Freitas, A Ação Executiva à Luz do Código de Processo Civil de 2013, 6.ª edição, p.
98.
Legislação Nacional:
CÓDIGO CIVIL (CC): - ARTIGO 323.º, N.º 1.
CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL (CPC): - ARTIGO 724.º, N.º 6.
LEI UNIFORME SOBRE LETRAS E LIVRANÇAS (LULL): - ARTIGOS 17.º E 71.º.
Jurisprudência Nacional:
ACÓRDÃOS DO SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA:
Da prescrição:
É matéria que os recorrentes versam nas conclusões 8ª a 25º, estando
em causa saber se se verifica a prescrição da dívida dos executados,
acionada pela exequente, embargada e ora recorrida.
Começam os recorrentes por defender que o requerimento executivo
só pode ter-se como apresentado em 1.6.2016 por ser essa a data em
que foram pagos os honorários devidos ao agente de execução, como
impõe o nº 6 do art. 724º; e, prosseguem sustentando que, constando da
livrança dada à execução a data de 2.6.2013 como sendo a do seu
vencimento, isso levará à conclusão de que o prazo de cinco dias
referido no nº 2 do art. 323º do CC se mostra findo depois de três anos
decorridos sobre esta última data, o que excluiria a possibilidade de ter
ocorrido em tempo a interrupção da prescrição.
Esta tese foi acolhida na decisão da 1ª instância, mas o acórdão
recorrido seguiu em sentido oposto.
Qual destas duas posições é de acompanhar?
Como resulta do disposto nos arts. 70º e 77º da LULL, as ações contra
o subscritor de uma livrança prescrevem em três anos a contar do seu
vencimento.
E no seu art. 71º, onde se determina que a interrupção da prescrição só
produz efeito em relação à pessoa a quem é dirigida, pressupõe-se a
possibilidade de tal interrupção atuar, abstendo-se a LULL de definir o
seu regime.
Cabe aos Estados subscritores da Convenção Estabelecendo uma Lei
Uniforme em Matéria de Letras e Livranças, assinada em Genebra em
7.6.1930, regulamentar no seu direito interno esta matéria; é o que
resulta do primeiro parágrafo do art. 17º do Anexo II à LULL, onde se
lê: “A cada uma das Altas Partes Contratantes compete determinar na
sua legislação nacional as causas de interrupção e de suspensão da
prescrição das acções relativas a letras que os seus tribunais são
chamados a decidir.”
E, desta feita, somos remetidos para o disposto nos arts. 323º e segs. do
CC, a propósito de cuja aplicação às letras e livranças se escreveu no
sumário do acórdão deste STJ de 10.04.1980[4]:
“I – Como direito interno português (artigo 1 do Decreto - Lei n.
26556, de 30 de Abril de 1936) a Lei Uniforme relativa a letras e
livranças enquadra-se no nosso direito comercial, de que o direito civil
é subsidiário.
II – Daí que a interrupção da prescrição nestes títulos cambiários
(arts. 71 e 77 da Lei Uniforme) à falta de outras disposições haja de
regular-se pelas disposições respetivas do Código Civil.”
Também no acórdão do STJ de 17.4.1986 se escreveu: “É que esta
matéria, não prevista na Lei Uniforme, é regulada pelas leis dos países
signatários da Convenção de Genebra, de 7 de Junho de 1930 (Decreto
nº 26556, de 30 de Abril de 1936), enquadrando-se, por isso, no nosso
direito comercial, de que o direito civil é subsidiário (artigo 3º do
Código Comercial).”[5].
A aplicação do regime da prescrição constante do CC a estes títulos de
crédito é unanimemente aceite por este STJ, como o demonstram, a
título de exemplo, os seus recentes acórdãos de 19.06.2018[6] e de
3.07.2018[7].
Pode, assim, afirmar-se a sem razão da tese exposta pelos recorrentes
na sua conclusão 25ª.