Você está na página 1de 31

Acórdãos STJ Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

Processo: 1759/19.7JABRG-J.S1
Nº Convencional: 3.ª SECÇÃO
Relator: SÉNIO ALVES
Descritores: RECURSO PER SALTUM
CÚMULO JURÍDICO
PENA DE PRISÃO
MEDIDA CONCRETA DA PENA
PREVENÇÃO GERAL
PREVENÇÃO ESPECIAL
Data do Acordão: 29-03-2023
Votação: UNANIMIDADE
Texto Integral: S
Privacidade: 1
Meio Processual: RECURSO PENAL
Decisão: PROVIDO
Sumário :
I. Elaborado novo cúmulo jurídico e, por isso, previamente “desfeito”
os anteriores, as penas parcelares que o integravam retomam autonomia
e, assim, o limite mínimo da pena única abstractamente aplicável é a
pena parcelar mais elevada, não a pena única encontrada no(s)
cúmulo(s) anterior(es).

II. Porém, como se refere no no Ac. STJ de 16/5/2019, Proc.


790/10.2JAPRT.S1, «o cúmulo anterior mais elevado não deixará de ser
um “ponto de referência” a ter em consideração na fixação da nova
pena conjunta, na medida em que esta última deverá normalmente, pelo
acréscimo de novas penas, ser superior a esse cúmulo anterior».
Decisão Texto Integral:             Acordam os Juízes deste Supremo Tribunal de Justiça:

I. 1. No Proc. comum colectivo que, com o nº 1759/19.7JABRG, corre


termos no Juízo central criminal ..., J..., procedeu-se ao cúmulo jurídico
das penas aplicadas em vários processos ao arguido AA, com os demais
sinais dos autos, tendo o mesmo sido condenado na pena única de 8
(oito) anos de prisão
2. Inconformada, recorreu a Exmª Procuradora da República junto
daquele tribunal, pugnando pela revogação do acórdão recorrido e pela
fixação da pena única em 10 anos e 6 meses de prisão e extraindo da
sua motivação as seguintes conclusões (transcritas):
«1º- A única questão em discussão é saber se a pena única fixada pelo
Tribunal “a quo” é justa e adequada à imagem global dos factos, à
personalidade do arguido e às exigências de prevenção geral e especial
que o caso faz sentir, nos termos do disposto nos art.º 40.º, 71.º, 77.º e
78.º do Código Penal.
2º- O Ministério Público discorda da medida da pena única aplicada,
por se lhe afigurar que o seu quantum se apresenta desajustado e
desproporcional, por benevolente, perante uma moldura do concurso
baliza-se entre 4 (quatro) anos e 6 (seis) meses de prisão e 32 (trinta e
dois) anos e 6 (seis) meses de prisão - sendo que, por imposição legal, o
limite máximo fixa-se em 25 anos.
3º- A pena única fixada descura os fins e limites das penas no quadro do
binómio culpa-ilicitude dos factos e não acautela os princípios da
prevenção geral e especial, revelando-se demasiado leve, em função da
apreciação global da gravidade dos factos praticados e da personalidade
do arguido, não dando resposta cabal aos ditames e princípios da
prevenção geral e especial.
4º- In casu, compõem o concurso de infrações praticadas pelo arguido,
2 crimes de roubo, 3 crimes de roubo qualificado e 2 crimes de furto
qualificado, factos compreendidos entre 12/10/2019 a 27/11/2019; isto
é, num espaço temporal de 1 mês e 15 dias, o arguido praticou 7 crimes
contra o património, sendo cinco deles na sua forma agravada.
5º- Nos processos em concurso, o arguido foi ainda condenado por 1
crime de tráfico de estupefaciente de menor gravidade- art. º25.º (março
de 2019 a 30.03.2019) e 1 crime de tráfico de estupefaciente do art.º
21.º da Lei 15/93 (18.03.2019 a 05.04.2019).
6º- O arguido manteve a prática criminosa, com grande intensidade,
durante o mês de março de 2019 (dois crimes) e de outubro a novembro
de 2019 (sete crimes) que só interrompeu quando foi preso. Ao nível
das consequências, assinala-se o elevado número de ofendidos e a
repetição de crimes, sendo que no cometimento de 3 dos crimes de
roubo (qualificado), ter-se servido de aparente arma de fogo.
7º- Ao nível da vivência socio-laboral do arguido sublinha-se a
ausência, à data dos cometimentos dos crimes, de uma profissão e de
uma atividade lícita remunerada e a sua personalidade evidencia forte
tendência para, nos últimos tempos em liberdade, angariar proventos
exclusivamente através da atividade delituosa. Evidenciando limitações
ao nível da sua consciência crítica no reconhecimento de vítimas e
danos.
8º- As necessidades de prevenção geral são elevadas, por ser elevada a
ilicitude dos factos, atento o modo de execução e duração da conduta, a
qualidade de drogas envolvidas (drogas duras) e o valor dos bens
subtraídos, os proventos obtidos e o dolo ser intenso; é elevado a
necessidade do reforço da validade das normas jurídicas violadas, junto
da comunidade e passar a ideias de que os comportamentos do arguido
não são tolerados e que o crime não compensa.
9º- No caso concreto, as necessidades de prevenção especial revelam-se
prementes, dada a personalidade da recorrente espelhada nos factos
dados como provados, os seus antecedentes criminais (dois crimes de
detenção arma proibida, um crime de roubo qualificado, praticados no
ano de 2017 e um de tráfico de menor gravidade em 2018) e as
condenações objecto de cúmulo jurídico, sofridas pela prática dos
crimes de roubo e de tráfico de estupefacientes [contabilizarem-se em
cincos condenações por roubo ( simples e qualificado), dois furtos
qualificados e duas condenações por tráfico], que integram o conceito
de criminalidade altamente organizada (art.º 1º, al. f) do CP).
10º- Acresce que o arguido revela uma postura indiferente e insensível
aos vários apelos que lhe foram sendo dirigidos sobre a necessidade de
ajustar a sua conduta às regras. Os factos e os crimes em série- objecto
do cúmulo jurídico- quer pela sua natureza e intensidade, quer pela
persistência da atividade delituosa revelam que a personalidade do
arguido tem uma tendência acentuada para cometer crimes,
designadamente, contra o património.
11º- Conclui-se assim que o “comportamento global”, englobando quer
os antecedentes criminais, quer os 9 crimes e igual número de penas
parcelares, evidencia uma forte propensão do arguido para a
criminalidade contra o património que, urge tentar atalhar, quer pela
tendência criminosa, quer também pela falta de juízo autocrítico
concreto, quer também pela desconsideração pelas consequências dos
factos.
12º- A medida da pena conjunta aplicada situa-se ligeiramente abaixo
do terço da moldura penal do respetivo concurso, à luz do fator de
compressão. Afigura-se-nos que, não obstante a forte intervenção do
fator de compressão e, com especial intensidade, do princípio da
proporcionalidade da pena única pela sua referência ao sistema punitivo
global, a pena única tem de ser mais elevada.
13º- Factos e personalidade revelados no acórdão recorrido, bem como
as necessidades de proteção dos bens jurídicos, confirmam que a pena
única aplicada peca por benevolência, evidenciada na comparação com
a pena única – 9 anos e 6 meses de prisão – que lhe foi aplicada nos
presentes autos (proc.n.º 1759/19.7JABRG), por ter cometido número
muito menor de crimes. Consequentemente, somos do entendimento
que a pena única imposta (8 anos de prisão) merece intervenção
correctiva, pelo que o cúmulo não poderá funcionar como atenuante.
14.º- Assim, somos do entendimento que o acórdão recorrido viola o
disposto nos art.ºs 40.º, 71.º, 77.º e 78.º do CP, impõe-se assim a
revogação do acórdão na parte em que determinou que a pena única,
devendo a mesma ser fixada em 10 anos e 6 meses, por conta das penas
parcelares aplicadas nos autos de proc.º n.º 1759/19.7JABRG,
122/19.... e 72/81....
Nestes termos, julgamos que o presente recurso merece provimento
devendo o acórdão recorrido ser revogado e, subsequentemente, ser
aplicada ao arguido a pena única de 10 anos e 6 meses».
3. Respondeu o arguido, pugnando pela manutenção do acórdão
recorrido e desta forma concluindo:
«1. O presente recurso está centrado na questão de apurar se a pena
única aplicada ao arguido é justa e adequada e satisfaz aas necessidades
de prevenção geral, e especial que ao caso cabem.
2. A decisão do Tribunal a quo é integralmente acertada e justa, não
merecendo qualquer reparo pelo STJ.
3. O Tribunal a quo fez uma cuidadosa apreciação do percurso de vida
do arguido e aplicou uma pena justa e proporcional e aritmeticamente
adequada ao caso.
4. A “pena final”, foi calculada com o doseamento acertado atendendo
às actividades delituais do arguido, bem como às necessidades de
prevenção geral e especial.
5. A pena única aplicada pelo Tribunal a quo é suficientemente pesada e
penosa, o que permitirá moldar a conduta do condenado por forma a
que este retome uma conduta de vida conforme o Direito e as regras
sociais.
6. Pelo exposto, bem andou o Tribunal a quo, condenado o arguido na
pena única de 8 (oito anos) de prisão».

II. 1. Neste Supremo Tribunal de Justiça, o Exmº Procurador-Geral


Adjunto emitiu douto parecer, pugnando pelo provimento do recurso:
«(…)
5. - Parecer (artigo 416.º do Código de Processo Penal).
Damos por integralmente reproduzida a factualidade provada em que
assenta o acórdão recorrido.
Acompanhamos e subscrevemos a posição e os argumentos
desenvolvidos pela senhora procuradora da República.
Em seu reforço, permitimo-nos, apenas, destacar o seguinte.
Na determinação da medida da pena única, a impor a quem tiver
praticado vários crimes antes de transitar em julgado a condenação por
qualquer um deles, devem ser considerados, em conjunto, os factos e a
personalidade do agente (artigo 77.º, n.º 1, parte final, do Código
Penal).
Para além deste critério especial, há que ter igualmente em conta as
exigências gerais da culpa e da prevenção estabelecidas no artigo 71.º,
n.º 1, do Código Penal bem como os fatores previstos no artigo 71.º, n.º
2, reportados agora à globalidade dos crimes.
Como escreve o conselheiro ARTUR RODRIGUES DA COSTA, in
«O cúmulo jurídico na doutrina e na jurisprudência do STJ», publicado
na revista do Centro de Estudos Judiciários, 2016 – I, página 71, a
medida concreta da pena do concurso, dentro de uma moldura abstrata
que tem como limite máximo a soma das penas concretamente
aplicadas aos crimes em concurso, não podendo ultrapassar 25 anos
tratando-se de pena de prisão, e como limite mínimo a mais elevada das
penas concretamente aplicadas (artigo 77.º, n.º 2, do Código Penal), «é
determinada, tal como na concretização da medida das penas
singulares, em função da culpa e da prevenção, mas agora levando em
conta um critério específico (…): a consideração em conjunto dos
factos e da personalidade do arguido.
À visão atomística inerente à determinação da medida das penas
singulares, sucede uma visão de conjunto, em que se consideram os
factos na sua totalidade, como se de um facto global se tratasse, de
modo a detetar a gravidade desse ilícito global, enquanto referida à
personalidade unitária do agente».
Na feliz expressão de MARIA DA CONCEIÇÃO FERREIRA DA
CUNHA, in «As reações criminais no direito português», Universidade
Católica Editora, 1.ª edição, maio de 2022, página 189, «ilustrando com
uma imagem muito simples: veem-se primeiro as árvores e, depois, a
floresta no seu conjunto de combinações variadas».
Na avaliação da personalidade, importa aferir se os factos em que
aquela se revela e projeta traduzem uma tendência desvaliosa para a
prática do crime ou de certos crimes, ou antes, se reconduzem apenas
«a uma pluriocasionalidade que não radica na personalidade» do
agente, sendo certo que «só no primeiro caso, já não no segundo, será
cabido atribuir à pluralidade de crimes um efeito agravante dentro da
moldura penal conjunta» (JORGE DE FIGUEIREDO DIAS, «Direito
Penal Português, As Consequências Jurídicas do Crime», Aequitas,
Editorial Notícias, 1993, página 291, igualmente citado no acórdão
recorrido).
Pois bem, o arguido foi condenado:
(i) no processo comum 1759/19.7JABRG, pela prática de dois crimes
de roubo simples (ofendidos BB e CC), de quatro (e não três – v. a
conclusão 4.ª do recurso) crimes de roubo qualificado (ofendidos DD,
EE, FF e GG) e de um (e não dois – v. a conclusão 4.ª do recurso)
crime de furto qualificado (ofendido HH);
(ii) no processo comum 122/19...., pela prática de um crime de tráfico
de estupefacientes privilegiado; e
(iii) no processo comum 72/18...., pela prática de um crime de tráfico
de estupefacientes simples.
Os roubos e o tráfico de estupefacientes simples integram os conceitos
de criminalidade especialmente violenta e de criminalidade altamente
organizada, respetivamente (artigo 1.º, alíneas l) e m, do Código de
Processo Penal).
A tal «floresta» a que alude MARIA DA CONCEIÇÃO FERREIRA
DA CUNHA desvela um conjunto de factos com um grau de
censurabilidade acentuado, quer pelo dolo direto e reiterado que
animou o arguido ao longo de um período de tempo superior a um ano,
quer pela contínua atuação em comparticipação, quer ainda pela
pluralidade e natureza dos bens jurídicos atingidos (propriedade alheia,
liberdade de decisão e de ação, integridade física, privacidade, saúde
pública), e uma personalidade avessa ao direito, insensível às anteriores
condenações (atente-se que os ilícitos foram praticados no decurso do
período de suspensão de execução de uma pena de prisão aplicada pela
prática de um crime de roubo qualificado – facto provado 10.b.) e
claramente propensa à prática de crimes que propiciam uma rápida
obtenção de rendimentos.
Não podemos, por outro lado, esquecer que o arguido foi
primeiramente condenado, em decisão sufragada por este Supremo
Tribunal de Justiça, numa pena única de 9 anos e 6 meses de prisão (v.
o quadro apresentado no ponto 2. deste parecer).
Ora, como observa TIAGO CAIADO MILHEIRO, in «Cúmulo
jurídico superveniente», Almedina, 2016, páginas 90 e seguintes, e com
o mesmo concordamos, muito embora inexista obstáculo legal a que da
reformulação do cúmulo em razão da integração de novas penas
parcelares resulte uma pena única inferior à anterior, tal apenas deverá
acontecer «em casos justificados e excecionais», nomeadamente
quando tiver ocorrido uma alteração positiva das «circunstâncias
fácticas relativas à personalidade do arguido», algo que, in casu, não se
verifica conforme demonstram o comportamento do mesmo no meio
prisional e a sua ambígua atitude introspetiva perante os factos
cometidos [v. os factos provados 30. e 34.].
Aqui chegados, estamos convictos de que a pena conjunta de 10 anos e
6 meses de prisão proposta pela senhora procuradora da República,
situada ainda dentro do primeiro terço da moldura abstrata do cúmulo,
que vai de 4 anos e 6 meses de prisão a 25 anos de prisão, revela-se
mais ajustada aos critérios legais dos artigos 71.º e 77.º, n.º 1, do
Código Penal.
Emite-se, por isso, parecer favorável ao provimento do recurso».

2. Cumprido o disposto no artº 417º, nº 2 do CPP, não se registou


qualquer resposta.

III. Colhidos os vistos e realizada a conferência, cumpre decidir.


São as conclusões extraídas pelo recorrente da sua motivação que
delimitam o âmbito do recurso - artº 412º, nº 1 do CPP.

E a questão – a única questão – suscitada no presente recurso prende-se


com a medida da pena única aplicada ao arguido (8 anos de prisão), que
o Ministério Público considera que deve ser corrigida e fixada em 10
anos e 6 meses de prisão.

IV. O Tribunal a quo deu como fixada a seguinte matéria de facto:


1. Nestes autos de processo comum singular n.º 1759/19.7JABRG, por
acórdão do TR..., de 11 de Outubro de 2021, transitado em julgado em
26 de Maio de 2022, o arguido, AA, foi condenado:
a. pela prática, em coautoria material, na forma consumada e em
concurso real, de 1 (um) crime de roubo, previsto e punido pelo artigo
210.º, n.º 1 do Código Penal, contra o ofendido BB (Ponto A da
acusação – NUIPC n.º 166/19.... – Apenso A), na pena de 2 (dois) anos
e 6 (seis) meses de prisão;
b. pela prática, em coautoria material, na forma consumada e em
concurso real, de 1 (um) crime de roubo, previsto e punido pelo artigo
210.º, n.º 1 do Código Penal, contra a ofendida CC (Ponto A da
acusação – NUIPC n.º 166/19.... – Apenso A), na pena de 2 (dois) anos
e 6 (seis) meses de prisão;
c. pela prática, em coautoria material, na forma consumada e em
concurso real, de 1 (um) crime de roubo qualificado, previsto e punido
pelo artigo 210.º, n.ºs 1 e 2, al. b) por referência à al. f) do n.º 1 e al. f)
do n.º 2, do artigo 204.º, ambos do Código Penal, contra a ofendida DD
(Ponto B da acusação – NUIPC n.º 1759/19.7JABRG – Processo
principal), na pena de 4 (quatro) anos e 6 (seis) meses de prisão;
d. pela prática de 1 (um) crime de roubo qualificado, previsto e punido
pelo artigo 210.º, n.ºs 1 e 2, al. b) por referência às als. d) e f) do n.º 1 e
al. a) do n.º 2 do artigo 204.º, ambos do Código Penal, contra a
ofendida FF (Ponto C da acusação – NUIPC n.º 1788/19.... – Apenso
B), na pena de 4 (quatro) anos e 6 (seis) meses de prisão;
e. pela prática de 1 (um) crime de roubo qualificado, previsto e punido
pelo artigo 210.º, n.ºs 1 e 2, al. b) por referência à al. e) do n.º 2, do
artigo 204.º, ambos do Código Penal, contra o ofendido GG (Ponto E
da acusação – NUIPC n.º 1959/19.... – Apenso C), na pena de 4
(quatro) anos e 6 (seis) meses de prisão;
f. pela prática, em coautoria material, na forma consumada e em
concurso real, de 1 (um) crime de furto qualificado, previsto e punido
pelo artigo 204.º, n.º 1, al. f), do Código Penal, contra o ofendido HH
(Ponto F da acusação – Processo principal), na pena de 2 (dois) anos e
6 (seis) meses de prisão;
g. pela prática, em coautoria material, na forma consumada e em
concurso real, de 1 (um) crime de roubo qualificado, previsto e punido
pelo artigo 210.º, n.ºs 1 e 2, al. b) por referência à al. f) do n.º 1 e al. f)
do n.º 2, do artigo 204.º, ambos do Código Penal, contra o ofendido EE
(Ponto B da acusação – NUIPC n.º 1759/19.7JABRG – Processo
principal), na pena de 4 (quatro) anos e 6 (seis) meses de prisão;
h. e, em cúmulo jurídico, nos termos do artigo 77.º, n.ºs 1, 2 e 3 do
Código Penal, condenado na pena única de 9 (anos) anos e 6 (seis)
meses de prisão.
2. Nessa sede, deu-se como provado que:
No dia 12 de Outubro de 2019, os arguidos II, AA, JJ e um quarto
indivíduo – cuja identidade não foi possível apurar – idealizaram
deslocarem-se até à zona de ... e ... com o objetivo de assaltarem
pessoas que encontrassem na via pública.
Pelas 21h51m, o arguido II iniciou a marcha no veículo automóvel de
marca Renault, modelo Megane, com a matrícula ..-VV-.., junto à sua
residência na Rua E... – ..., e circulou na zona do ... até às 22h48m. Na
cidade ..., efetuou paragem na Rua F..., pelas 22h46m, local onde
recolheu pelo menos o arguido JJ, junto a uma residência de um amigo
onde este arguido já viveu.
Após algumas paragens em ..., pelas 23h55m, os indivíduos acima
referidos, neles se incluindo os três arguidos, rumaram até à Rua
Doutor ..., ... - ....
Ali chegados por volta das 00h00m, em execução do anteriormente
planeado, enquanto o arguido II permaneceu no veículo automóvel de
forma a facilitar a fuga, os arguidos AA e JJ abeiraram-se do ofendido
BB e disseram-lhe que entregasse o dinheiro e o telemóvel, caso
contrário davam-lhe uma facada. Receando pela sua integridade física,
o ofendido BB entregou-lhes o telemóvel da marca Asus, modelo
Zenfone Max M2, avaliado em cerca de € 200,00, e disse que não tinha
dinheiro.
Ato seguido, um desses arguidos disse ao ofendido BB que indicasse o
código de desbloqueio do telemóvel, caso contrário o atiraria abaixo da
ponte.
Nessa altura, o ofendido recebeu uma chamada telefónica, que foi
também transmitida para o relógio de pulso (“smartwatch”) que trazia
consigo, ficando o mesmo luminoso.
Apercebendo-se de tal facto, o arguido AA disse ao ofendido BB para
lhe entregar esse relógio também, o que este acabou por fazer. Este
relógio era da marca Xiaomi, modelo Mi Smart Band 4, estando
avaliado em cerca de € 45,00.
Ato seguido, os mencionados arguidos colocaram-se em fuga levando
consigo esses bens, integrando-os nos respetivos patrimónios.
Daí os mencionados arguidos e o quarto indivíduo dirigiram-se à Rua
do ..., em ... – ....
Ali chegados por volta das 00h12m, ainda em execução do
anteriormente planeado, enquanto o arguido II permaneceu novamente
no veículo automóvel de forma a facilitar a fuga, os arguidos AA, JJ e o
outro indivíduo que os acompanhava abeiraram-se da ofendida CC,
nascida a .../.../1958, quando esta circulava a pé, a caminho de sua casa
situada na Rua ..., da mesma localidade, proveniente das instalações da
....
Nessa altura, um dos arguidos acima referidos agarrou e puxou com
força a bolsa que aquela levava, ficando na posse da mesma.
Ato seguido, os mencionados arguidos colocaram-se em fuga levando
consigo a dita bolsa, integrando-a nos respetivos patrimónios.
A referida bolsa continha, para além do mais: 230 € em dinheiro e
diversos documentos pessoais, sendo todos estes objetos pertencentes à
ofendida.
Daí os mencionados arguidos rumaram a ..., em concreto à Avenida ...,
onde pararam pelas 01h15m.
Mais tarde, pelas 01h46m, deslocaram-se à Rua de ..., no ..., local onde
deixaram o arguido AA e depois à Rua ..., que fica a poucos metros da
morada da mãe do arguido JJ, situada no Beco ....
Os arguidos acima mencionados sabiam que não podiam retirar os
objetos pertencentes aos ofendidos, sem a sua autorização e contra a
sua vontade, usando de ameaça e força física, mas não obstante tal
cognição, agiram do modo descrito, bem sabendo que faziam seus o
dinheiro e os objetos acima descritos que não lhes pertenciam e que os
integravam no seu património, por atos contrários à vontade dos
respetivos donos e em prejuízo destes.
Os arguidos acima mencionados agiram em comunhão de esforços e
vontades, de forma livre, voluntária e consciente, bem sabendo que as
respetivas condutas eram proibidas e punidas por lei.
Em momento não concretamente apurado da noite de 18 para 19 de
Outubro de 2019, os arguidos II, AA, KK, LL e um quinto indivíduo –
cuja identidade não foi possível apurar, mas será conhecido por “MM”
– idealizaram assaltar uma residência no concelho ....
No dia 18 de Outubro de 2019, pelas 15h59m, o arguido II iniciou a
marcha no veículo automóvel de marca Renault, modelo Megane, com
a matrícula ..-VV-.., junto à sua residência na Rua E... – ....
Efetuou alguns percursos nas cidades de ... e ..., parando na Rua
Arquiteto ..., pelas 17h28m, local onde recolheu pelo menos o arguido
LL, junto à sua residência.
Pelas 22h19m, efetuaram paragem em ..., onde recolheram o referido
“MM”.
Depois, pararam na Av. ..., nas ..., ..., pelas 23h01m, onde passaram na
zona de abastecimento do Posto da Galp sito naquela artéria.
Pelas 00h24m (já do dia 19), pararam no Posto da Repsol sito na Rua S.
..., em ... – ... e, do interior da viatura saiu o arguido KK que se dirigiu à
loja de conveniência do referido posto.
Pelas 02h21m, a viatura efetuou uma paragem na Rua ..., em ..., ou
seja, na morada do arguido KK e retomou viagem, pelas 02h24m.
Pelas 02h35m, pelo menos nesta altura já reunidos os cinco indivíduos
acima referidos, a viatura saiu da Rua ..., em ..., circulando por várias
localidades vizinhas à procura da melhor oportunidade para
concretizarem os seus intentos, tendo apenas efetuado uma paragem,
pelas 03h53m, na Rua ..., ... – ....
Ali chegados, em execução do anteriormente planeado, enquanto o
arguido II permaneceu no veículo automóvel de forma a facilitar a fuga,
o arguido KK ficou nas imediações da residência de vigia e os arguidos
AA, LL e o dito “MM” dirigiram-se à residência do ofendido EE e
esposa DD, situada no n.º 670, da referida artéria da localidade de ....
Os mencionados arguidos conseguiram abrir uma das portas da
residência, através dela entraram na mesma sem autorização, vindo a
surpreender o casal ofendido enquanto este dormia no seu quarto,
estando um deles com uma máscara no rosto (típica da série televisiva
“Casa de papel”) e exibindo uma faca.
Nessa altura, os mencionados arguidos, com exibição daquele objeto e
sob ameaça de que fariam mal ao filho menor, que se encontrava no
quarto dele, exigiram a entrega do ouro e dinheiro que estes tinham e,
bem assim, a localização do cofre.
Com receio de que os mencionados arguidos atentassem contra a sua
vida e/ou do seu filho, tanto mais que um dos arguidos chegou a atingir
o ofendido EE com um golpe no pescoço quando este tentou sair da
cama, os ofendidos entregaram-lhes: peças em ouro, avaliadas em cerca
de 1.457 €, concretamente (cfr. listagem de fls. 140):um par de brincos
em ouro amarelo, em forma de golfinho, um fio de malha fina, em
ouro, pequeno; um pendente em forma de lágrima, de um mineral/pedra
transparente, com rebordo em ouro, um pendente em ouro, em forma de
golfinho, um pendente em ouro, em forma de anjo, um pendente em
ouro amarelo, em forma de “S”, uma medalha, em ouro amarelo,
pequena, com a inscrição “LEMBRANÇA DE PAIS”, uma aliança de
casamento, em ouro amarelo, com as inscrições “EE .../.../2005”,
gravadas no interior, uma aliança de casamento, em ouro amarelo, com
as inscrições “DD .../.../2005”, gravadas no interior, um anel em ouro
branco com brilhantes encrustados, um anel em ouro amarelo composto
por três filamentos entrançados, na parte de cima, uma pulseira e três
contas (uma em forma de coração e duas redondas com brilhantes
encrustados), de cor de prata, da marca “Pandora”, um par de brinco de
prata (coração de Viana), um brinco em prata, um par de alianças finas
de solteiro em ouro amarelo, um computador portátil, da marca HP,
modelo dv6179ea, avaliado em cerca de 500 €, 20 € em numerário.
Pelas 04h03m, na posse destes bens, os mencionados arguidos
colocaram-se em fuga, integrando os mesmos nos respetivos
patrimónios.
Assim que perceberam que os arguidos tinham fugido, a ofendida DD
deslocou-se ao quarto do seu filho, onde o encontrou aninhado junto à
cabeceira da cama bastante assustado e contendo o choro.
Os mencionados arguidos efetuaram paragem, sem desligar o motor,
em ..., a cerca de 200 metros do Bairro ..., ou seja, nas imediações da
residência do arguido KK.
Depois, pararam apenas pelas 04h49m, em ..., na área de serviço de ...
(A...), sendo o condutor o arguido II e tendo o arguido AA aproveitado
para urinar.
Depois de outras deslocações, pelas 12h01m, a viatura parou na Rua ...,
local onde reside o arguido AA.
Os mencionados arguidos sabiam que não podiam retirar os bens
pertencentes aos ofendidos, sem a sua autorização e contra a sua
vontade, entrando na residência dos mesmos, usando da força física,
intimidação e exibição de uma faca, mas não obstante tal cognição,
fizeram-no, bem sabendo que faziam seus os ditos objetos que não lhes
pertenciam e que os integravam nos seus patrimónios por atos
contrários à vontade dos respetivos donos e em prejuízo deste.
Os arguidos acima mencionados agiram em comunhão de esforços e
vontades, de forma livre, voluntária e consciente, bem sabendo que as
respetivas condutas eram proibidas e punidas por lei.
No dia 24 de Outubro de 2019, os arguidos II, AA, KK e JJ idealizaram
assaltar uma residência no concelho ....
Pelas 11h14m, o arguido II iniciou a marcha no veículo automóvel de
marca Renault, modelo Megane, com a matrícula ..-VV-.., junto à sua
residência na Rua E... – ....
Efetuou alguns percursos nas cidades de ... e ..., parando na Rua ... – ...,
pelas 11h35m, local onde recolheu pelo menos o arguido AA, junto à
residência deste.
Pelas 11h45m, retomaram viagem e rumaram à Rua ... (Bairro ...), em
..., onde pararam às 12h52m e recolheram o arguido KK.
Pelas 13h00m, reiniciaram viagem e efetuaram algumas paragens na
zona de ..., designadamente na Rua ... (13h29m), onde pegaram num
objeto em tudo idêntico a uma arma de fogo pertencente ao arguido NN
(também conhecido por “OO”).
Pelo menos nesta altura já reunidos os quatro arguidos acima referidos,
dirigiram-se à Rua ..., em ... – ..., pelas 14h42m.
Em execução do anteriormente planeado, os quatro arguidos acima
referidos dirigiram-se apeados à residência da ofendida FF, situada ali
próxima na Rua ..., da mesma localidade, onde esta mora juntamente
com o seu marido e, nessa mesma habitação, mas num andar superior,
com comunicação interior, mora a sua enteada.
Os mencionados arguidos aproveitando o facto de a porta de entrada
estar entreaberta entraram na dita residência, vindo a surpreender a
ofendida FF – nascida em .../.../1944 – no interior da mesma.
Um dos arguidos colocou-lhe uma mão no ombro esquerdo, mostrou-
lhe um objeto em tudo idêntico a uma arma de fogo e disse: “não te
preocupes, que ninguém te vai fazer mal, se te portares bem. Só quero
que me dês o dinheiro e o ouro”.
A ofendida FF disse que não tinha mais nenhum ouro para além do que
usava naquele momento.
Aí, um dos mencionados arguidos retirou-lhe: o fio em ouro que aquela
tinha ao pescoço, com cerca de 40 gramas de peso, avaliado em cerca
de € 1.500,00, a aliança de casamento, com as gravações “GG” e “10
de Maio de 87”, avaliada em cerca de € 500,00.
Nessa altura, um dos outros arguidos disse ao que estava próximo da
ofendida para lhe “arrancar” os brincos das orelhas e, não obstante a
ofendida lhe tenha dito que esses brincos não eram de ouro, esse
arguido retirou-lhe o brinco do lado esquerdo, de valor não
concretamente apurado.
Em seguida, um dos arguidos insistiu com a ofendida para que lhe
entregasse mais dinheiro e ouro, caso contrário, “iria correr mal”.
Enquanto três dos arguidos remexiam os móveis e gavetas dos outros
compartimentos do rés-do-chão à procura de mais bens, o arguido que
ficou junto da ofendida FF colocou-lhe uma almofada na face para esta
não conseguir gritar.
Para além dos já acima referidos, os arguidos vieram a encontrar e
pegaram para si os seguintes bens: a quantia de € 1.000,00 em
numerário, três anéis, em ouro amarelo, dois deles com pedras, num
valor total de cerca de € 1.500,00; um fio em ouro amarelo, com uma
bala em ouro, avaliado em cerca de € 2.000,00, um cordão grande, com
libra, avaliado em cerca de € 2.000,00, uma pulseira grossa, antiga com
uma bala, avaliada em cerca de € 1.500,00, três alianças com gravações
“PP”, “FF” e “GG”, avaliadas em cerca de € 1.500,00, quatro relógios
de homem de pulso, avaliados em cerca de € 3.800,00, um relógio de
bolso, avaliado em cerca de € 950,00, um relógio de senhora de pulso,
avaliado em cerca de € 950,00.
Entretanto, alguns dos arguidos subiram ao primeiro andar, altura em
que lhe perguntaram onde estava o dinheiro da sua filha, tendo esta
respondido que não sabia, tendo um dos arguidos ficado ainda mais
nervoso e disse-lhe “vais-me fazer procurar, se eu encontrar alguma
coisa, vai correr mal”.
Com receio de que os mencionados arguidos atentassem contra a sua
vida ou integridade física, a ofendida FF não ofereceu nenhuma
resistência.
Da habitação da sua enteada, a ofendida QQ, os mencionados arguidos
pegaram e levaram consigo pelo menos os seguintes bens: cerca de €
20.000,00 em numerário, objetos em ouro antigo no valor aproximado
de € 15.000,00 (cinco fios em ouro amarelo, um cordão grande, sete
pulseiras de criança, seis pulseiras com bolas, uma pulseira grossa, dez
pulseiras em prata, oito anéis, duas alianças, doze pares de brincos e um
par de argolas de “Viana”), três caixas com relógios “One e Elleta” no
valor de cerca de € 900,00, quatro relógios de homem no valor total de
cerca de € 2.800,00, artigos informáticos no valor aproximado de €
7.800,00 (três computadores portáteis, um Asus Gamming, um Asus
Boock, um Asus, dois tablet’s, duas máquinas fotográficas Canon e dois
telemóveis).
Pelas 14h56m, na posse destes bens, os mencionados arguidos
colocaram-se em fuga, integrando os mesmos nos respetivos
patrimónios.
Rumaram novamente à Rua ..., em ... (morada do arguido KK), onde
permaneceram durante cerca de 19 minutos.
Depois, dirigiram-se à Rua ..., ... – ..., nas proximidades do Centro
Comercial ..., onde permaneceram durante mais de uma hora.
Os arguidos II, AA, KK e JJ sabiam que não podiam retirar os objetos
pertencentes à ofendida e sua enteada, entrando na residência das
mesmas, sem a sua autorização e contra a sua vontade, usando da força
física, intimidação e exibição de um objeto em tudo idêntico a uma
arma de fogo, mas não obstante tal cognição, fizeram-no, bem sabendo
que faziam seus os ditos bens que não lhes pertenciam e que os
integravam nos seus patrimónios por atos contrários à vontade dos
respetivos donos e em prejuízo deste.
Os mencionados arguidos ao depararem-se com a vítima, na altura com
75 anos de idade, sabiam que a mesma era particularmente indefesa, já
que não iria praticamente oferecer resistência física à sua investida,
como efetivamente veio a acontecer.
Os arguidos II, AA, KK e JJ agiram em comunhão de esforços e
vontades, de forma livre, voluntária e consciente, bem sabendo que as
respetivas condutas eram proibidas e punidas por lei.
Na noite de 20 para 21 de Novembro de 2019, os arguidos II, AA, KK,
JJ, RR e NN idealizaram assaltar uma residência no concelho ....
A meio da tarde desse dia 20, o arguido II combinou encontrar-se com
o arguido AA.
Mais tarde, pelas 20h43m, o arguido II contactou o arguido KK e disse-
lhe que demorava cerca de dez minutos a chegar, tendo este respondido
que estava em casa.
O arguido II conduziu o veículo automóvel de marca Renault, modelo
Megane, com a matrícula ..-VV-.. e, pelas 21h20m, encontrava-se
estacionado no final da Rua ..., em ... – ... (Bairro ...), onde reside o
arguido KK.
Cerca das 21h35m, os arguidos II, AA, KK e JJ surgiram apeados da
zona do penúltimo bloco de apartamentos, entraram na referida viatura
e rumaram ao Centro Comercial “...”, onde estiveram a jantar na zona
da restauração.
No final do jantar, pelas 23h30m, rumaram os quatro arguidos à Rua ...,
na localidade de ..., entraram na residência do arguido RR, onde
estiveram até cerca das 01h10m.
Nesta altura, em execução do anteriormente planeado, os seis arguidos
acima referidos entraram na viatura ..-VV-.., percorreram várias artérias
na zona centro de ..., parando em alguns desses locais e, inclusive,
abandonando a viatura durante largos minutos, à procura da melhor
oportunidade para concretizarem os seus intentos, tendo por fim
estacionado na Rua ..., ... – ..., a cerca de 10 a 20 metros do alvo
selecionado.
Cerca das 02h00m, enquanto o arguido II permaneceu no veículo
automóvel de forma a facilitar a fuga, os arguidos KK, AA, JJ, RR e
NN dirigiram-se à residência do ofendido GG e esposa SS, situada no
n.º 157, da referida artéria da localidade de ....
Os mencionados arguidos forçaram a abertura da janela situada ao nível
do rés-do-chão, que tinha a portada aberta e, pelo menos quatro deles,
entraram na dita residência.
Depois de percorrerem várias dependências da habitação, entre elas o
sótão, surpreenderam o casal no interior do seu quarto enquanto
dormiam, estando alguns dos arguidos encapuçados e exibindo um
objeto em tudo idêntico a uma arma de fogo, pedindo ouro e dinheiro.
Os mencionados arguidos inicialmente encostaram o ofendido GG à
parede, agarraram-no pelo pescoço e, depois, atiraram-no ao chão, onde
este permaneceu aninhado, ao mesmo tempo que diziam “deita e cala!”.
Seguidamente, os mencionados arguidos remexeram várias gavetas de
móveis situados no quarto do casal em busca de valores, ao mesmo
tempo que perguntavam por ouro, chegando a tentar colocar uma meia
na boca do ofendido GG para este não fazer barulho.
A determinado momento, o ofendido GG tentou reagir, abrindo uma
gaveta da cómoda, facto que terá assustado os mencionados arguidos,
os quais, de imediato, se colocaram em fuga, saindo pela porta de
entrada, que não estava trancada.
Ainda assim, os mencionados arguidos pegaram e conseguiram levaram
consigo cerca de € 260,00 em numerário e uma carteira contendo
diversa documentação pertencentes aos ofendidos.
Os arguidos entraram na viatura conduzida pelo arguido II e dali
rumaram novamente à residência do arguido RR.
Cerca das 03h15m, os arguidos II, AA, JJ e KK saíram dessa habitação,
deslocaram-se à Urbanização ..., onde deixaram o arguido KK.
Seguiram para a autoestrada A..., tomando o sentido de ... e, minutos
depois, pararam na área de serviço de ... (TT), tendo os arguidos II e JJ
se deslocado ao interior da loja de conveniência.
Em consequência direta e necessária das referidas agressões, o
ofendido GG apresentou, no pescoço, escoriações ténues, de forma
irregular, em área de 1 por 1,5 cm de maiores eixos no terço médio da
face anterior do pescoço; no membro inferior esquerdo, escoriação de
fundo avermelhado e forma irregular, com 3 por 3 cm de maiores eixos
na face anterior do joelho, as quais demandaram para a sua
cura/consolidação 7 dias, sem afetação da capacidade para o trabalho
geral ou profissional.
Os mencionados seis arguidos sabiam que não podiam retirar os objetos
pertencentes aos ofendidos, entrando na residência dos mesmos, sem a
sua autorização e contra a sua vontade, usando da força física,
intimidação e exibição de um objeto em tudo idêntico a uma arma de
fogo, mas não obstante tal cognição, fizeram-no, bem sabendo que
faziam seus os ditos bens que não lhes pertenciam e que os integravam
nos seus patrimónios por atos contrários à vontade dos respetivos donos
e em prejuízo deste.
Os arguidos acima mencionados agiram em comunhão de esforços e
vontades, de forma livre, voluntária e consciente, bem sabendo que as
respetivas condutas eram proibidas e punidas por lei.
No dia 27 de Novembro de 2019, os arguidos II, AA, JJ, KK e UU
idealizaram assaltar uma residência no concelho ....
Na manhã desse dia, o arguido II combinou com os arguidos AA, JJ e
UU deslocarem-se até ..., ao encontro do arguido KK, com aquele
intuito.
Tal como combinado, ao início da tarde, conduzindo o arguido II o
veículo automóvel de marca Renault, modelo Megane, com a matrícula
..-VV-.., os mencionados arguidos recolheram o arguido KK no Bairro
..., ..., dirigindo-se de seguida para uma zona residencial em ..., ..., local
este onde já haviam estado em vigilância dois dias antes (dia 25).
Nesta altura, em execução do anteriormente planeado, os cinco
arguidos acima percorreram várias artérias naquela localidade, à
procura da melhor oportunidade para concretizarem os seus intentos.
Cerca das 16h30m, enquanto o arguido II permaneceu no veículo
automóvel de forma a facilitar a fuga, os outros arguidos AA, JJ, KK e
UU dirigiram-se à residência do ofendido HH, situada na Rua ..., ..., ....
Ali chegados, os mencionados arguidos treparam o muro, com cerca de
1 metro de altura e que delimita toda a residência, subiram as escadas
que dão acesso ao primeiro piso da habitação e, através de uma das
portas, que não se encontrava fechada, entraram na dita residência.
Do seu interior, os mencionados arguidos pegaram e levaram consigo,
integrando nos respetivos patrimónios: uma guitarra de cor castanha,
sem qualquer marca / referência, avaliada em cerca de 300 €, uma outra
guitarra, elétrica, de cor preta e branca, sem marca / referência, avaliada
em cerca de 500 €; um clarinete de cor preta, cuja marca desconhece,
avaliado em cerca de 800 €, um cofre, em formato quadrangular, com
cerca de 50 centímetros de altura, de cor verde, sem qualquer inscrição,
sem segredo ativo e com chave, que estava vazio avaliado em cerca de
150 €, uma caixa contendo a quantia de 50 €, uma pulseira da marca
“Pandora”, avaliada em cerca de € 60,00, uma outra pulseira, da mesma
marca, constituída por várias peças / pendentes da mesma marca,
avaliada em cerca de 1.000 €, outras pulseiras, de valor não
concretamente apurado.
Durante a ocorrência destes factos, o arguido II, que se encontrava na
via pública, ligou com o arguido AA, que se encontrava no interior da
residência com os demais arguidos, e disse-lhe, entre o mais, para que
procurassem o cofre no guarda-fatos.
Os mencionados cinco arguidos sabiam que não podiam retirar os
objetos pertencentes ao ofendido, entrando na residência do mesmo
depois de terem escalado o muro que veda a propriedade, sem a sua
autorização e contra a sua vontade, mas não obstante tal cognição,
fizeram-no, bem sabendo que faziam seus os ditos bens que não lhes
pertenciam e que os integravam nos seus patrimónios por atos
contrários à vontade do respetivo dono e em prejuízo deste.
Os arguidos acima mencionados agiram em comunhão de esforços e
vontades, de forma livre, voluntária e consciente, bem sabendo que as
respetivas condutas eram proibidas e punidas por lei.
3. Nos autos de processo comum singular n.º 122/19...., do Juízo (7)
Central Criminal ..., por acórdão do TRP de 16 de Dezembro de 2020,
transitado em julgado em 12 de Abril de 2021, o arguido, AA, foi
condenado pela prática, entre 30 de Março de 2019 e 6 de Agosto de
2019, de um crime de tráfico de estupefacientes de menor gravidade,
previsto e punível pelo artigo 25.º, al. a), do DL 15/93, de 22 de
Janeiro), na pena de dois anos e seis meses de prisão.
4. Nessa sede, deu-se por provado que:
Desde data não concretamente apurada, mas certamente desde Março
de 2019, que o arguido AA se dedica à venda de produtos
estupefacientes, designadamente “haxixe” e heroína, posicionando-se,
para as vendas, junto ao Bloco 7, no Largo ..., no denominado no
Bairro ..., sito nesta cidade.
Efectivamente, no dia 30 de Março de 2019, pelas 13h e 18m, no
referido Bloco ..., o arguido AA transportava consigo: 1 (um) maço de
tabaco, € 2,01 em moedas do BCE, que era o produto de vendas de
estupefaciente anteriormente realizadas, 1 (um) saco transparente,
contendo no seu interior: 8,006 gramas (peso liquido) de heroína, já
repartidas em 74 embalagens individuais, com uma THC de 7,2 %,;
1,083 gramas (peso líquido) de canabis (Resina), com uma (THC) de
29,5 %; e 1,977 gramas (peso líquido) de canabis (Resina), com uma
(THC) de 6,3 %.
Este arguido, ao sentir a presença policial, lançou para o chão o referido
saco plástico contendo no seu interior os referidos produtos, o maço de
tabaco e as moedas, que foram imediatamente recuperados pelas
autoridades policiais.
Após 30 de Março de 2019, o arguido AA decidiu voltar à sua
actividade criminosa agora em comunhão de esforços com o arguido
VV.
Estabeleceram como ponto de venda de produtos estupefacientes o
jardim situado na Alameda ..., junto de um recinto desportivo (ringe) e
do Bloco 5, no Bairro ..., no ....
Conforme acordo prévio, cabia ao arguido AA encaminhar os
consumidores em direcção ao co-arguido VV e controlar a presença das
autoridades policiais. Assim, no dia 6 de Agosto de 2019, pelas 16h e
03m e depois de os arguidos terem colocado a heroína e a cocaína para
venda no chão, junto de umas árvores existentes no referido jardim, o
arguido AA foi abordado por um indivíduo consumidor, que
encaminhou para o co-arguido VV.
Nessa altura, o arguido VV entregou ao consumidor uma porção dos
produtos, que fora buscar ao referido “esconderijo”, e em troca recebeu
uma quantia de dinheiro não apurada que constituía o pagamento.
Pelas 16h e 09m, repetiu-se a mesma operação, com um outro
indivíduo.
Pelas 16h e 11m, repetiu-se a operação agora com mais um indivíduo.
Pelas 16h e 12m, os arguidos foram interceptados pelas autoridades
policiais que se encontravam no local numa missão de vigilância.
Submetido a uma revista foi o arguido VV encontrado na posse de €
30,40, em notas e moedas do BCE, que era o produto de vendas de
estupefaciente anteriormente realizadas.
No referido local, no dito “esconderijo” foram apreendidos os seguintes
produtos estupefacientes: 0,859 gramas (peso líquido) de heroína, com
uma (THC) de 10,4 e 2,593 gramas (peso líquido) de cocaína (éster
metílico), com uma (THC) de 32,5%, produtos estupefacientes esses a
cuja venda os arguidos se dedicavam.
O produto estupefaciente e dinheiro apreendidos aos arguidos eram o
resultado ou destinavam-se à venda, no âmbito da actividade de tráfico
desenvolvida por estes.
Os arguidos tinham consciência de que não podiam adquirir, deter,
ceder, proporcionar a outrem ou vender as mencionadas substâncias,
cujas natureza e características conheciam, e mesmo assim muniram-se
das mesmas e detinham consigo, com o propósito de entregar, mediante
contrapartida, a outras pessoas, pretendendo assim obter vantagens
económicas.
Os arguidos agiram de forma voluntária, livre e conscientemente, em
comunhão de esforços e intenções, sabendo que as suas condutas eram
proibidas e punidas por lei.
5. Nos autos de processo comum singular n.º 12/18...., do Juízo (2)
Local Criminal ..., por sentença de 26 de Fevereiro de 2020, transitada
em julgado em 22 de Junho de 2020, o arguido, AA, foi condenado pela
prática, em 31 de Janeiro de 2018, de um crime de tráfico de
estupefacientes de menor gravidade, previsto e punível pelo artigo 25.º,
al. a), do DL 15/93, de 22 de Janeiro, na pena de 15 meses de prisão,
suspensa na sua execução por igual período de tempo.
6. Nessa sede, deu-se por provado que:
No dia 31 de Janeiro de 2018, pelas 19h10m, no Largo ..., sito no
Bairro ..., nesta cidade, junto ao Bloco 10, o arguido AA tinha na sua
posse produto estupefaciente (cocaína cloridrato e heroína).
Em tais circunstâncias de tempo e de lugar foi contactado por um
indivíduo, a quem entregou uma porção dos referidos produtos,
recebendo em troca uma nota de dez euros.
Nessa altura, o arguido foi interceptado, tendo-lhe sido apreendido:
- 5,636 gramas (peso líquido) de cocaína (éster metílico), com uma
(THC) de 23,5%, que depois de devidamente doseada converter-se-ia
em 6 (seis) doses diárias e
- 3,161 gramas (peso líquido) de heroína, com uma (THC) de 14,5%,
que depois de devidamente doseada converter-se-ia em 4 (quatro) doses
diárias - cfr. exame pericial de fls. 61;
Submetido a uma revista, foi o arguido ainda encontrado na posse de €
337,75 em notas e moedas do BCE, que eram o produto das vendas
anteriormente realizadas.
Os produtos apreendidos eram pelo arguido destinados à venda a
terceiros, mediante preço concretamente não apurado.
O dinheiro que lhe foi apreendido era a contrapartida económica das
vendas dos produtos estupefacientes que já tinha realizado.
O arguido tinha consciência de que não podia adquirir, deter, ceder,
proporcionar a outrem ou vender as mencionadas substâncias, cuja
natureza e características conhecia,
E, mesmo assim, muniu-se das mesmas, com o propósito de entregar,
mediante contrapartida, a outras pessoas, pretendendo assim obter
vantagens económicas.
O arguido agiu livre e conscientemente, sabendo que a sua conduta era
proibida e punida por lei.
7. Por despacho de 6 de Dezembro de 2022, a pena referida em 5. foi
declarada extinta.
8. Nos autos de processo comum singular n.º 72/18...., do Juízo (3)
Central Criminal ..., por acórdão de 5 de Dezembro de 2019, transitado
em julgado em 6 de Janeiro de 2020, o arguido, AA, foi condenado pela
prática, entre Setembro de 2018 e 5 de Abril de 2019, de um crime de
tráfico de estupefacientes previsto e punível pelo artigo 21.º do DL
15/93, de 22 de Janeiro, na pena de quatro anos e seis meses de prisão,
suspensa na sua execução por igual período de tempo, sob regime de
prova.
9. Nessa sede, deu-se como provado que:
Os arguidos BB, WW, XX, YY, ZZ, AAA, BBB, CCC, AA e DDD
vêm-se dedicando à venda de estupefacientes, sendo que os arguidos
BB, WW, XX, YY, ZZ, AAA o vêm fazendo desde pelo menos
Setembro de 2018.
Os arguidos BB, WW, XX, YY, ZZ, AAA, BBB, CCC, AA e DDD vêm
procedendo à venda de estupefacientes, designadamente, junto ao
Bairro ..., local onde habitualmente permanecem vários indivíduos
ligados ao consumo daquela substância.

Não obstante as diversas detenções, o arguido BB continuou a dedicar-
se à venda de estupefaciente, apesar de se encontrar sujeito à medida de
coacção de obrigação de permanência na habitação, fazendo-o com a
colaboração dos arguidos CCC, DDD e AA.
Para melhor desenvolverem esta actividade, os arguidos BB, CCC,
DDD e AA acordaram utilizar a residência do CCC, sita na Rua ..., ...,
para ali prepararem e dosearem o estupefaciente que depois era
transportado pelo arguido DDD para o local de vendas, mais
concretamente para a Rua ..., ..., sob a vigilância do CCC.
Cabia aos arguidos DDD e AA proceder à venda directa do
estupefaciente, entregando depois o dinheiro proveniente das vendas ao
CCC o qual por sua vez se deslocava à residência do BB para lhe
entregar aquele montante.
Cabia também ao arguido CCC encaminhar para junto do arguido DDD
os diversos indivíduos que procuravam adquirir estupefaciente bem
como vigiar o local de uma eventual acção policial.
Assim e em execução do plano por todos traçado:

No dia 5 de Abril de 2019, pelas 13h30, conforme acordado com o
arguido BB, os arguidos DDD, AA e CCC deslocaram-se para junto do
Largo ..., no Bairro ..., com o propósito de ali iniciarem as vendas de
estupefaciente.
Para melhor desenvolverem esta actividade, os arguidos tinham funções
pré-definidas.
Assim, cabia ao arguido AA a venda directa do estupefaciente aos
diversos consumidores que a ele se dirigiam, e que eram encaminhados
pelo arguido DDD, que também tinha a tarefa de vigiar o local de uma
eventual acção policial.
Por sua vez ao arguido CCC cabia vigiar o local de uma eventual acção
policial bem como recolher o dinheiro obtido nas vendas do
estupefaciente e posteriormente o entregar ao arguido BB, deslocando-
se para o efeito à residência deste.
Assim,
Entre as 13h35 e as 13h47, o arguido AA vendeu quantidade não
apurada de estupefaciente a 9 indivíduos cujas identidades não se
lograram apurar.
Após estas vendas, o AA entregou ao arguido CCC a quantia monetária
proveniente das vendas efectuadas o qual a guardou dentro de uma
bolsa preta que escondeu num buraco existente no muro junto ao solo,
no bloco 9, e ao arguido DDD entregou um canto de saco plástico
contendo estupefaciente para que este prosseguisse as vendas, enquanto
se dirigiu para a residência do arguido BB de onde saiu pelas 13h59 na
posse de uma lata de cor vermelha, própria para acondicionar batatas
fritas, com os dizeres “Pringles Original”, contendo mais estupefaciente
para venderem que colocou no solo junto a um dos portões ali
existentes.
Entre as 13h52 e as 13h55, arguido DDD vendeu quantidade não
apurada de estupefaciente a 4 indivíduos cujas identidades não se
lograram apurar.
Pelas 14h03, o arguido DDD encaminhou 5 indivíduos cujas
identidades não se lograram apurar para junto do arguido AA que lhes
entregou quantidade não apurada de estupefaciente que previamente
retirou da referida lata.
De seguida, o AA dirigiu-se para junto do CCC a quem entregou a
quantia monetária obtida nas vendas efectuadas, o qual a guardou na
bolsa preta que voltou a colocar no referido buraco existente no muro.
Pelas 14h10, junto ao portão que dá acesso às arrecadações da C.M. ...,
no Largo ..., ... do Bairro ..., onde se encontravam os arguidos DDD,
CCC e AA, foi encontrado dentro de uma lata de cor vermelha, própria
para acondicionar batatas fritas, com os dizeres “Pringles Original”,
108 embalagens de heroína, com o peso líquido de 9,666 gramas e
vários pedaços de cocaína, com o peso líquido de 27,550 gramas, que o
arguido AA ali havia colocado momentos antes.
Nas mesmas circunstâncias de tempo e lugar, foi encontrada na posse
do arguido AA a quantia monetária de €27,00.
Também naquelas circunstâncias de tempo e lugar, foi encontrado no
buraco existente no muro uma bolsa de cor preta, contendo no seu
interior a quantia monetária de €186,80 (cento e noventa e seis euros e
oitenta cêntimos) em notas e moedas do banco Central Europeu que o
arguido CCC ali tinha dissimulado.
Ao arguido DDD foi encontrado pelas 14h20, na sua posse, um pedaço
de canabis (resina), com o peso líquido de 0,495 gramas.
O estupefaciente pertencia aos arguidos BB, DDD, AA e CCC que o
destinavam à venda a terceiros.
O dinheiro apreendido pertencia aos arguidos BB, DDD, AA e CCC e
era proveniente das vendas de estupefaciente efectuadas, em
conjugação de esforços e repartição de tarefas.

Os arguidos BB, WW, XX, YY, ZZ, AAA, BBB, CCC, AA e DDD
agiram sabendo quais eram as características, natureza e efeitos dos
produtos estupefacientes que detinham, preparavam, guardavam,
destinavam à venda e vendiam, tendo actuado sempre com intenção de
obter contrapartida económica, e sabendo ainda que a posse, detenção,
guarda e venda de tais produtos é proibida e punida por lei.

Entre 18 de Março de 2019 e 5 de Abril de 2019 o arguido BB agiu de
comum acordo e em conjugação de esforço com os arguidos, CCC, AA
e DDD.
Apesar de saberem que essas actividades eram proibidas, os arguidos
não se coibiram de deter e vender as referidas quantidades de
estupefaciente, obtendo os lucros dessa actividade.

Agiram os arguidos sempre de forma livre, deliberada e consciente,
cientes da censurabilidade e punibilidade das suas condutas.
Mais se provou que:
10. O arguido AA foi condenado:
a. Por sentença proferida em 31/10/2017, transitada em julgado em
11/12/2017, nos autos de Processo Especial Sumário n.º 1827/17...., do
Juízo Local de Pequena Criminalidade ... – Juiz ..., do Tribunal Judicial
da Comarca ..., pela prática, em 20/10/2017, de 1 (um) crime de
detenção de arma proibida, previsto e punido pelo artigo 86.º, n.º 1, al.
d) da Lei n.º 5/2006, de 23 de fevereiro, na pena de 100 (cem) dias de
multa, à taxa diária de 6 € (seis euros), o que perfaz o total de 600 €
(seiscentos euros).
i. A sobredita pena de multa foi substituída por 100 (cem) horas de
prestação de trabalho a favor da comunidade.
ii. Por despacho datado de 31/01/2019, transitado em julgado, foi
declarada extinta a pena pelo cumprimento.
b. Por acórdão proferido em 10/10/2018, transitado em julgado em
09/11/2018, nos autos de Processo Comum Coletivo n.º 719/17...., do
Juízo Central Criminal ... – Juiz ..., do Tribunal Judicial da Comarca ...,
pela prática, em 14/10/2017, de 1 (um) crime de roubo qualificado,
previsto e punido pelos artigos 14.º, n.º 1, 26, 204.º, n.º 2, al. f) e 210.º,
n.ºs 1 e 2, al. b), todos do Código Penal, na pena de 3 (três) anos e 4
(quatro) meses de prisão, suspensa na sua execução por igual período.
c. Por sentença proferida em 30/01/2020, transitada em julgado em
02/03/2020, nos autos de Processo Comum Singular n.º 1025/17...., do
Juízo Local de Pequena Criminalidade ... – Juiz ..., do Tribunal Judicial
da Comarca ..., pela prática, em 06/09/2017, de 1 (um) crime de
detenção de arma proibida, previsto e punido pelo artigo 86.º, da Lei n.º
5/2006, de 23 de fevereiro, na pena de 200 (duzentos) dias de multa, à
taxa diária de 5 € (cinco euros), o que perfaz o total de 1000 € (mil
euros).
i. A sobredita pena de multa foi convertida em132 (cento e trinta e dois)
dias de prisão subsidiária.
ii. Por despacho datado de 25/11/2020 foi declarada extinta a pena pelo
cumprimento.
11. O arguido, AA, nasceu e cresceu no agregado familiar natural,
composto pelos pais e quatro irmãos, mais velhos.
12. A subsistência do agregado dependia do trabalho do pai como
operário da construção civil, sendo que a mãe se dedicava às lides
domésticas.
13. A gestão do processo socioeducativo do arguido foi levada a cabo
pela mãe, que revelou aquela reduzida assertividade, ambivalência nas
práticas educativas e dificuldade em colmatar os indicadores de
instabilidade pessoal/comportamental que o arguido foi apresentando.
14. AA frequentou o ensino regular que abandonou no ano lectivo de
2012/2013.
15. O arguido começou por desvalorizar a frequência escolar, adotando
um comportamento absentista e estilo de funcionamento pautado por
atitudes de desrespeito, de oposição e desafio relativamente às figuras
de autoridade.
16. Nessa altura, privilegiou o convívio com jovens conotados com
comportamentos delituosos e adictos.
17. Com 15 anos iniciou-se no consumo de haxixe.
18. Foi alvo de intervenção da CPCJ/Porto ... e, depois da aplicação de
outras medidas em meio natural de vida, beneficiou de medida tutelar
educativa de internamento em Centro Educativo ..., que cumpriu entre
2013 e 2016 no Centro Educativo ..., em ....
19. Após o encerramento deste, foi transferido para o Centro Educativo
..., no ..., período em que concluiu o 9º ano de escolaridade.
20. Com 19 anos, AA regressou ao meio sociofamiliar, tendo sido
orientado para um curso profissional, na área de mecânica, em ..., o
qual teria a duração de três anos e lhe atribuiria equivalência ao 12º ano
de escolaridade.
21. Abandonou a sua frequência.
22. Com o grupo de pares que assumiu o consumo diversificado de
estupefacientes, e que arguido passou a adotar comportamentos
antissociais, registando-se, então, os primeiros confrontos com a justiça
penal.
23. À data dos factos, AA estava integrado no agregado familiar de
origem, constituído pelos progenitores (pai com 74 anos e mãe com 64
anos de idade), e três dos irmãos, dois laboralmente ativos.
24. O agregado reside em habitação camarária, de tipologia T3, que
possui adequadas condições de habitabilidade, mas está inserido em
meio com características urbanas, ao qual se associam fenómenos de
exclusão social e criminal relevantes, como o consumo e tráfico de
estupefacientes.
25. À data, o arguido encontrava-se sem qualquer tipo de ocupação
estruturada, tendo anteriormente desenvolvido trabalhos de curta
duração, nomeadamente, como operador de armazém pelo período de
dois meses, e, durante um mês, numa empresa de serviços de limpeza.
26. Ocupava o seu tempo livre no convívio com o grupo de pares
conotados com comportamentos análogos aos seus, mantendo o
consumo diversificado de drogas.
27. As suas despesas eram suportadas pela família, que vivia da
reforma do progenitor, num valor aproximado a 500,00 € mensais, e da
ajuda monetária dos irmãos, sempre que necessário.
28. No contexto residencial, AA é conhecido e associado a um estilo de
vida ocioso, ao convívio com pares conotados com a marginalidade e
delinquência, bem como, com a problemática da toxicodependência.
29. AA deu entrada em situação de prisão preventiva no
Estabelecimento Prisional ... a 13 de Dezembro de 2019.
30. Em contexto prisional o seu comportamento foi alvo de vários
registos de procedimento disciplinar, com diversas punições,
designadamente, de permanência obrigatória no alojamento até 10 dias
e de internamento obrigatório na cela por dois dias.
31. Tem beneficiado de acompanhamento psicológico.
32. Frequenta um curso de formação em padaria e pastelaria, para
equivalência ao 12.º ano de escolaridade.
33. Beneficia de visitas regulares da família.
34. Em abstrato, relevou juízo crítico sobre os factos, ainda que sem
referência ao impacto e aos danos potencialmente causados nas vítimas.

  V. Decidindo:
Em face do factualismo supra descrito, entendeu o tribunal a quo
condenar o arguido AA, em cúmulo jurídico das penas parcelares
aplicadas nos processos supra referidos na matéria de facto apurada sob
os nºs 1, 3 e 8, na pena única de 8 anos de prisão.
São as seguintes as penas parcelares aplicadas a este arguido:
a) a pena de 2 (dois) anos e 6 (seis) meses de prisão pela prática de 1
(um) crime de roubo, previsto e punido pelo artigo 210.º, n.º 1 do
Código Penal, contra o ofendido BB (Ponto A da acusação – NUIPC n.º
166/19.... – Apenso A);
b) a pena de 2 (dois) anos e 6 (seis) meses de prisão pela prática de 1
(um) crime de roubo, previsto e punido pelo artigo 210.º, n.º 1 do
Código Penal, contra a ofendida CC (Ponto A da acusação – NUIPC n.º
166/19.... – Apenso A);
c) a pena de 4 (quatro) anos e 6 (seis) meses de prisão pela prática de 1
(um) crime de roubo qualificado, previsto e punido pelo artigo 210.º,
n.ºs 1 e 2, al. b) por referência à al. f) do n.º 1 e al. f) do n.º 2, do artigo
204.º, ambos do Código Penal, contra o ofendido EE (Ponto B da
acusação – NUIPC n.º 1759/19.7JABRG – Processo principal);
d) a pena de 4 (quatro) anos e 6 (seis) meses de prisão pela prática de 1
(um) crime de roubo qualificado, previsto e punido pelo artigo 210.º,
n.ºs 1 e 2, al. b) por referência à al. f) do n.º 1 e al. f) do n.º 2, do artigo
204.º, ambos do Código Penal, contra a ofendida DD (Ponto B da
acusação – NUIPC n.º 1759/19.7JABRG – Processo principal);
e) a pena de 4 (quatro) anos e 6 (seis) meses de prisão pela prática de 1
(um) crime de roubo qualificado, previsto e punido pelo artigo 210.º,
n.ºs 1 e 2, al. b) por referência às als. d) e f) do n.º 1 e al. a) do n.º 2 do
artigo 204.º, ambos do Código Penal, contra a ofendida FF (Ponto C da
acusação – NUIPC n.º 1788/19.... – Apenso B);
f) a pena de 4 (quatro) anos e 6 (seis) meses de prisão pela prática de 1
(um) crime de roubo qualificado, previsto e punido pelo artigo 210.º,
n.ºs 1 e 2, al. b) por referência à al. e) do n.º 2, do artigo 204.º, ambos
do Código Penal, contra o ofendido GG (Ponto E da acusação – NUIPC
n.º 1959/19.... – Apenso C);
g) a pena de 2 (dois) anos e 6 (seis) meses de prisão pela prática de 1
(um) crime de furto qualificado, previsto e punido pelo artigo 204.º, n.º
1, al. f), do Código Penal, contra o ofendido HH (Ponto F da acusação
– Processo principal);
h) a pena de 2 (dois) anos e 6 (seis) meses de prisão pela prática de 1
(um) crime de tráfico de estupefacientes de menor gravidade, previsto e
punido pelo artigo 25º, al. a), do DL 15/93, de 22/1; e
i) a pena de 4 (quatro) anos e 6 (seis) meses de prisão pela prática de 1
(um) crime de tráfico de estupefacientes, previsto e punido pelo artigo
21º, nº 1, do DL 15/93, de 22/1.

     Ora,
“Quando alguém tiver praticado vários crimes antes de transitar em
julgado a condenação por qualquer deles é condenado numa pena
única. Na medida da pena são considerados, em conjunto, os factos e a
personalidade do agente” – artº 77º, nº 1 do Cod. Penal – sendo certo
que a pena aplicável tem como limite máximo a soma das penas
parcelares e como limite mínimo a mais elevada das penas
concretamente aplicadas.
Assim sendo, a moldura legal onde há-de ser encontrada a pena única
resultante do cúmulo jurídico situa-se, no que respeita ao arguido AA,
entre um mínimo de 4 anos e 6 meses e um máximo de 25 anos de
prisão (a soma das penas parcelares atinge os 32 anos e 6 meses de
prisão; não obstante, por força do estatuído no artº 77º, nº 2 do Cod.
Penal, a pena aplicável ao cúmulo jurídico não pode ultrapassar os 25
anos de prisão).
Como bem se refere no Ac. deste STJ de 08-07-2020, Proc. n.º
1667/19.... - ... Secção, “I. A medida da pena conjunta deve definir-se
entre um mínimo imprescindível à estabilização das expetativas
comunitárias e um máximo consentido pela culpa do agente. II - Em
sede de cúmulo jurídico a medida concreta da pena única do concurso
de crimes dentro da moldura abstrata aplicável, constrói-se a partir
das penas aplicadas aos diversos crimes e é determinada, tal como na
concretização da medida das penas singulares, em função da culpa e
da prevenção, mas agora levando em conta um critério específico: a
consideração em conjunto dos factos e da personalidade do agente. III
- À visão atomística inerente à determinação da medida das penas
singulares, sucede uma visão de conjunto em que se consideram os
factos na sua totalidade, como se de um facto global se tratasse, de
modo a detetar a gravidade desse ilícito global, enquanto referida à
personalidade unitária do agente. IV - De grande relevo será também a
análise do efeito previsível da pena sobre o comportamento futuro do
agente- exigências de prevenção especial de socialização”.
É que, como ensina Figueiredo Dias, na escolha da medida da pena
única «tudo deve passar-se (…) como se o conjunto dos factos
fornecesse a gravidade do ilícito global perpetrado, sendo decisiva
para a sua avaliação a conexão e o tipo de conexão que entre os factos
concorrentes se verifique. Na avaliação da personalidade – unitária –
do agente relevará, sobretudo a questão de saber se o conjunto dos
factos é reconduzível a uma tendência (ou eventualmente mesmo a uma
‘carreira’) criminosa, ou tão-só a uma pluriocasionalidade que não
radica na personalidade: só no primeiro caso, já não no segundo, será
cabido atribuir à pluralidade de crimes um efeito agravante dentro da
moldura penal conjunta».
Na determinação da pena única aplicada a este arguido, assim se
decidiu no acórdão recorrido:
«(…)
Sabe-se que AA foi condenado nas penas de 15 meses de prisão e de 4
anos e 6 meses de prisão, ambas suspensas na sua execução, pelo
correspectivo período de tempo.
Conforme decorre dos factos, a pena aplicada no âmbito dos autos n.º
12/18.... foi extinta pelo decurso do prazo de suspensão sem revogação.
Ainda de acordo com os factos, no âmbito dos autos de proc. n.º
72/18.... aguarda-se o decurso do prazo de suspensão da execução da
pena.
As penas suspensas na sua execução integram o cúmulo jurídico; desde
que não se demonstre a sua extinção por decurso do prazo de suspensão
sem revogação (pois que neste caso não há cumprimento da pena de
prisão substituída - cfr. Ac. do STJ de 29 de Abril de 2010, in
www.dgsi.pt).
Efectivamente, é orientação dominante na jurisprudência dos tribunais
superiores, - à qual se adere, por se ter por correcta -, que as penas
principais devem ser cumuladas juridicamente entre si, mesmo no caso
de alguma, ou algumas delas, terem a sua execução suspensa.
Como refere Paulo Dá Mesquita (na obra, “O Concurso de Penas”,
Coimbra Editora, nota 1, pág. 96 e segs.), a suspensão da execução da
pena de prisão é um dos casos de modificação das penas na execução e
deve ser qualificada como uma pena de substituição, na medida em que
substitui a execução das penas de prisão, enquanto pena principal,
concretamente determinada, sendo certo que o caso julgado que não
pode ser atingido circunscreve-se à medida da pena parcelar
concretamente aplicada e não abrange a forma da sua execução (neste
sentido, para além do autor citado na nota 2, veja-se Figueiredo Dias, in
“Consequências jurídicas do crime”, págs. 290 e 295).
Nessa medida, integrará o cúmulo a pena aplicada no âmbito dos autos
de proc. n.º 72/18....; uma vez que aquela aplicada no âmbito dos autos
de proc. n.º 12/18.... já foi extinta pelo decurso do prazo sem
revogação.
Importa; pois, determinar a pena única a aplicar ao arguido, tomando
em consideração os factos e a personalidade do agente.
Para o efeito, e por se tratar do conhecimento superveniente do
concurso, parte-se das penas parcelares aplicadas ao arguido para se
determinar a moldura do concurso; cujo limite máximo; por se tratarem
de penas de prisão, corresponde à soma das penas parcelares aplicadas
aos vários crimes, não podendo ultrapassar 25 anos, e como limite
mínimo a mais elevada das penas concretamente aplicadas (cfr. n.º 2 do
artigo 77.º do CP).
No caso, ao arguido foram aplicadas as seguintes penas parcelares:
1. no âmbito dos autos de proc. n.º 72/18...., uma pena de quatro anos e
seis meses de prisão, suspensa na sua execução por igual período de
tempo, sob regime de prova;
2. no âmbito dos autos de processo comum singular n.º 122/19...., uma
pena de dois anos e seis meses de prisão;
3. no âmbito dos presentes autos, uma pena de dois anos e seis meses
de prisão, uma pena de dois anos e seis meses de prisão, uma pena de
quatro anos e seis meses de prisão, uma pena de quatro anos e seis
meses de prisão, uma pena de quatro anos e seis meses de prisão, uma
pena de dois anos e seis meses de prisão, uma pena de quatro anos e
seis meses de prisão.
A moldura do concurso baliza-se, por isso, entre quatro anos e seis
meses de prisão e trinta e dois anos e seis meses de prisão.
Para determinação da medida concreta da pena única atende-se às
exigências de prevenção e culpa, tendo em especial consideração, como
se disse, os factos no seu conjunto e a personalidade do agente (cfr., J.
Figueiredo Dias, op. cit., págs. 290 a 292).
Conforme ensina o citado Professor, “tudo deve passar-se, por
conseguinte, como se o conjunto dos factos fornecesse a gravidade do
ilícito global perpetrado, sendo decisiva para a sua avaliação a conexão
e o tipo de conexão que entre os factos concorrentes se verifique. Na
avaliação da personalidade – unitária – do agente relevará, sobretudo, a
questão de saber se o conjunto dos factos é recondutível a uma
tendência (ou eventualmente mesmo a uma «carreira») criminosa, ou
tão-só a uma pluriocasionalidade que não radica na personalidade: só
no primeiro caso, já não no segundo, será cabido atribuir à pluralidade
de crimes um efeito agravante dentro da moldura penal conjunta. De
grande relevo será também a análise do efeito previsível da pena sobre
o comportamento futuro do agente (exigências de prevenção especial
de socialização)”.
Neste caso, salienta-se a prática de crimes contra as pessoas como os
crimes de tráfico e de roubo, inclusive, qualificado, pelo uso de arma,
que se inserirem no âmbito da criminalidade especialmente violenta.
Foram cometidos entre Setembro de 2018 e Novembro 2019; ou seja,
num hiato temporal de cerca de um ano.
Todavia, do certificado de registo criminal de AA resulta a prática, já
em 2017, dos crimes de detenção de arma proibida e roubo. O que
também significa que o arguido se iniciou na prática de crimes
violentos tinha apenas 20 anos.
A sua conduta não pode, face ao exposto, ser considerada apenas
pluriocasional; na medida em que já revela uma certa orientação para a
prática de crimes, revelando, inclusive, desrespeito pelo juízo de
censura contido nas condenações anteriormente sofridas (com aplicação
de regime probatório, para o qual revelou total impermeabilidade e
indiferença).
Salienta-se que, no âmbito dos presentes autos, no período de cerca de
um mês, foram praticados sete crimes de roubo e roubo qualificado.
AA actuou sempre com dolo directo, apresentando-se, por isso, elevado
o grau de culpa, traduzido na consciência da censurabilidade das suas
condutas.
As exigências de prevenção geral positiva do denominado “ilícito
global” são, por isso, elevadas.
Outrossim se dirá das exigências de prevenção especial. O arguido não
tinha, à data, qualquer projecto pessoal estruturado, não trabalhava, não
estudava, vivia do apoio familiar, de que ainda beneficia, mas privava
junto a um grupo de pares com comportamentos aditivos e
delinquentes.
Porém, em sede de reclusão, fazem-se notar alguns sinais de mudança
positiva. O arguido está a frequentar um curso de formação que lhe
dará equivalência ao ensino secundário, frequenta as sessões de
aconselhamento que lhe foram disponibilizadas e parece começar a
delinear de outro modo o seu futuro. Todavia, ainda regista incidentes
disciplinares, por oposição às regras da instituição, e o juízo crítico para
os factos é abstracto. Não tem ainda sensibilidade para o desvalor de
actuação e resultado causado, embora a sua juventude represente
sempre um sinal de maior tendencial permeabilidade para a adopção
dos valores em crise, sobretudo, com o acompanhamento que lhe vem
sendo dado em meio de reclusão.
Tudo ponderado, sublinhando-se que o S.T.J. tem adoptado a
jurisprudência, na formação da pena única, de fazer acrescer à pena
mais grave o produto de uma operação que consiste em comprimir a
soma das restantes penas com factores variáveis, mas que se situam,
normalmente, entre um terço e um sexto (lendo-se nos Acórdãos do
S.T.J. de 29.04.2010 e 01.07.2012, referentes aos processos nº
9/07.3GAPTM.S1 e 831/09.6PBGMR.S1, respectivamente, acessíveis
na internet em www.dgsi.pt/jstj, que “só em casos verdadeiramente
excepcionais se deve ultrapassar um terço da soma das restantes
penas”), entende-se ser adequada e razoável a aplicação ao arguido da
pena, única, de 8 (oito) anos de prisão, que não consente qualquer
opção de substituição».

   Aqui chegados:
Não constitui objecto deste recurso o elenco das penas parcelares
abrangidos pelo cúmulo jurídico.
Apenas se questiona o quantum da pena única aplicada, entendendo o
recorrente que a mesma não satisfaz as necessidades de prevenção geral
e especial, sendo desajustada e desproporcional, pecando por
benevolência.
     Vejamos:
Em todas as situações analisadas nos processos nos quais o arguido foi
condenado nas penas parcelares ora englobadas no cúmulo jurídico,
este agiu com dolo directo, por isso intenso.
Seis dos nove crimes em concurso são crimes de roubo (vários deles
qualificados), os quais põem em causa a paz social de forma
particularmente acentuada, posto que, em razão da violência que lhes
subjaz, causam grande alarme social. Dois dos restantes três são crimes
de tráfico de estupefacientes (um deles, de menor gravidade), sendo de
todos conhecidas as consequências nefastas do tráfico ilícito de
produtos estupefacientes: a droga é responsável directa ou indirecta por
grande parte da criminalidade verificada no nosso País e está na origem
da destruição de muitas famílias e do sofrimento de inúmeras pessoas.
São, pois, significativas as necessidades de prevenção geral, traduzidas
na necessidade de manter a confiança da sociedade nos bens jurídico-
penais violados.
Como, aliás, inegável significado atingem, in casu, as exigências de
prevenção especial.
Com efeito – e como aliás se salienta no acórdão recorrido – o arguido,
nascido em .../.../1997 e, portanto, actualmente com 25 anos de idade –
desde os seus 20 anos de idade vem praticando crimes (2 de detenção
de arma proibida – Procs. 1827/17.... e 1025/17...., 1 de roubo
qualificado – Proc. 719/17....), por cuja autoria foi julgado e
condenado. Aliás, não deixa de ser sintomático que o arguido tenha
praticado os factos por cuja autoria foi julgado e condenado nas penas
ora abrangidas neste cúmulo jurídico (entre os quais se situam, como se
referiu, 6 crimes de roubo) em pleno período da suspensão da execução
da pena de 3 anos e 4 meses de prisão que lhe foi aplicada pela prática,
precisamente, de um crime de roubo qualificado (no referido Proc.
719/17....).
Daí que se evidencie como correcta a afirmação, constante do acórdão
recorrido, de que o arguido “revela uma certa orientação para a
prática de crimes, revelando, inclusive, desrespeito pelo juízo de
censura contido nas condenações anteriormente sofridas (com
aplicação de regime probatório, para o qual revelou total
impermeabilidade e indiferença)”.
Acresce que o arguido não tinha, à data dos factos, qualquer projecto
pessoal estruturado, não trabalhava, não estudava e vivia do apoio
familiar.
E se é certo que o mesmo, em sede de reclusão, denota alguns sinais de
mudança positiva, frequentando um curso de formação que lhe dará
equivalência ao ensino secundário, bem como as sessões de
aconselhamento que lhe foram disponibilizadas, certo é igualmente
que, como consta do acórdão recorrido, ainda regista incidentes
disciplinares e não tem “sensibilidade para o desvalor de actuação e
resultado causado”.
Em face desta apreciação conjunta dos factos e da personalidade do
arguido, ponderada a moldura legal do cúmulo em apreço (4 anos e 6
meses a 25 anos de prisão, sendo que o somatório das penas aplicadas
atinge os 32 anos e 6 meses de prisão), parece-nos claro que a pena
aplicada no acórdão recorrido (8 anos de prisão) não satisfaz, de modo
adequado, as necessidades de prevenção, geral e especial, nem – em
boa verdade – se afigura como corolário lógico do raciocínio que
precedeu a determinação dessa pena.
De outro lado, como bem refere o Digno recorrente, o arguido havia
sido já condenado, por acórdão proferido pelo Tribunal da Relação de
Guimarães e transitado em julgado em 26/5/2022, em cúmulo jurídico
das penas aplicadas neste processo (1759/19.7JABRG), na única de 9
anos e 6 meses.
Elaborado novo cúmulo jurídico e, por isso, previamente “desfeito” os
anteriores, as penas parcelares que o integravam retomam autonomia e,
assim, o limite mínimo da pena única abstractamente aplicável é a pena
parcelar mais elevada, não a pena única encontrada no(s) cúmulo(s)
anterior(es).
Porém, como se refere no Ac. STJ de 23/7/2017, Proc.
804/10.6PBVIS.C1, «o cúmulo anterior mais elevado não deixará de
ser um “ponto de referência” a ter em consideração na fixação da nova
pena, embora não possa funcionar como “ponto de partida” para essa
operação». E, no Ac. STJ de 16/5/2019, Proc. 790/10.2JAPRT.S1, com
o mesmo relator do anterior (Cons. Maia Costa), acrescenta-se: «o
cúmulo anterior mais elevado não deixará de ser um “ponto de
referência” a ter em consideração na fixação da nova pena conjunta, na
medida em que esta última deverá normalmente, pelo acréscimo de
novas penas, ser superior a esse cúmulo anterior» (subl. nosso).
    Posto isto:
A pena parcelar mais elevada é, como referido, 4 anos e 6 meses de
prisão. A soma de todas as penas parcelares englobadas no concurso
atinge os 32 anos e 6 meses de prisão (não podendo a pena única
ultrapassar os 25 anos de prisão – artº 77º, nº 2 do Cod. Penal).
Ponderados, em conjunto, os factos e a personalidade do arguido ora
recorrente, avaliadas as necessidades de prevenção geral e especial nos
termos supra referidos, é nosso entendimento que a pena única deve ser
fixada em 10 anos e 6 meses de prisão, assim concedendo integral
provimento ao recurso interposto pelo Ministério Público.

VI. São termos em que, sem necessidade de mais considerações,


acordam os Juízes deste Supremo Tribunal de Justiça em conceder
provimento ao recurso interposto pelo Ministério Público, condenando
o arguido AA, em cúmulo jurídico das penas aplicadas nos Procs.
1759/19.7JABRG, 122/19.... e 72/18...., na pena única de 10 (dez) anos
e 6 (seis) meses de prisão.
Sem custas.

Lisboa, 29 de Março de 2023 (processado e revisto pelo relator)

Sénio Alves (Juiz Conselheiro relator)


Ana Brito (Juíza Conselheira adjunta)

M. Carmo Silva Dias (Juíza Conselheira adjunta)

Você também pode gostar