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Processo: 1759/19.7JABRG-J.S1
Nº Convencional: 3.ª SECÇÃO
Relator: SÉNIO ALVES
Descritores: RECURSO PER SALTUM
CÚMULO JURÍDICO
PENA DE PRISÃO
MEDIDA CONCRETA DA PENA
PREVENÇÃO GERAL
PREVENÇÃO ESPECIAL
Data do Acordão: 29-03-2023
Votação: UNANIMIDADE
Texto Integral: S
Privacidade: 1
Meio Processual: RECURSO PENAL
Decisão: PROVIDO
Sumário :
I. Elaborado novo cúmulo jurídico e, por isso, previamente “desfeito”
os anteriores, as penas parcelares que o integravam retomam autonomia
e, assim, o limite mínimo da pena única abstractamente aplicável é a
pena parcelar mais elevada, não a pena única encontrada no(s)
cúmulo(s) anterior(es).
V. Decidindo:
Em face do factualismo supra descrito, entendeu o tribunal a quo
condenar o arguido AA, em cúmulo jurídico das penas parcelares
aplicadas nos processos supra referidos na matéria de facto apurada sob
os nºs 1, 3 e 8, na pena única de 8 anos de prisão.
São as seguintes as penas parcelares aplicadas a este arguido:
a) a pena de 2 (dois) anos e 6 (seis) meses de prisão pela prática de 1
(um) crime de roubo, previsto e punido pelo artigo 210.º, n.º 1 do
Código Penal, contra o ofendido BB (Ponto A da acusação – NUIPC n.º
166/19.... – Apenso A);
b) a pena de 2 (dois) anos e 6 (seis) meses de prisão pela prática de 1
(um) crime de roubo, previsto e punido pelo artigo 210.º, n.º 1 do
Código Penal, contra a ofendida CC (Ponto A da acusação – NUIPC n.º
166/19.... – Apenso A);
c) a pena de 4 (quatro) anos e 6 (seis) meses de prisão pela prática de 1
(um) crime de roubo qualificado, previsto e punido pelo artigo 210.º,
n.ºs 1 e 2, al. b) por referência à al. f) do n.º 1 e al. f) do n.º 2, do artigo
204.º, ambos do Código Penal, contra o ofendido EE (Ponto B da
acusação – NUIPC n.º 1759/19.7JABRG – Processo principal);
d) a pena de 4 (quatro) anos e 6 (seis) meses de prisão pela prática de 1
(um) crime de roubo qualificado, previsto e punido pelo artigo 210.º,
n.ºs 1 e 2, al. b) por referência à al. f) do n.º 1 e al. f) do n.º 2, do artigo
204.º, ambos do Código Penal, contra a ofendida DD (Ponto B da
acusação – NUIPC n.º 1759/19.7JABRG – Processo principal);
e) a pena de 4 (quatro) anos e 6 (seis) meses de prisão pela prática de 1
(um) crime de roubo qualificado, previsto e punido pelo artigo 210.º,
n.ºs 1 e 2, al. b) por referência às als. d) e f) do n.º 1 e al. a) do n.º 2 do
artigo 204.º, ambos do Código Penal, contra a ofendida FF (Ponto C da
acusação – NUIPC n.º 1788/19.... – Apenso B);
f) a pena de 4 (quatro) anos e 6 (seis) meses de prisão pela prática de 1
(um) crime de roubo qualificado, previsto e punido pelo artigo 210.º,
n.ºs 1 e 2, al. b) por referência à al. e) do n.º 2, do artigo 204.º, ambos
do Código Penal, contra o ofendido GG (Ponto E da acusação – NUIPC
n.º 1959/19.... – Apenso C);
g) a pena de 2 (dois) anos e 6 (seis) meses de prisão pela prática de 1
(um) crime de furto qualificado, previsto e punido pelo artigo 204.º, n.º
1, al. f), do Código Penal, contra o ofendido HH (Ponto F da acusação
– Processo principal);
h) a pena de 2 (dois) anos e 6 (seis) meses de prisão pela prática de 1
(um) crime de tráfico de estupefacientes de menor gravidade, previsto e
punido pelo artigo 25º, al. a), do DL 15/93, de 22/1; e
i) a pena de 4 (quatro) anos e 6 (seis) meses de prisão pela prática de 1
(um) crime de tráfico de estupefacientes, previsto e punido pelo artigo
21º, nº 1, do DL 15/93, de 22/1.
Ora,
“Quando alguém tiver praticado vários crimes antes de transitar em
julgado a condenação por qualquer deles é condenado numa pena
única. Na medida da pena são considerados, em conjunto, os factos e a
personalidade do agente” – artº 77º, nº 1 do Cod. Penal – sendo certo
que a pena aplicável tem como limite máximo a soma das penas
parcelares e como limite mínimo a mais elevada das penas
concretamente aplicadas.
Assim sendo, a moldura legal onde há-de ser encontrada a pena única
resultante do cúmulo jurídico situa-se, no que respeita ao arguido AA,
entre um mínimo de 4 anos e 6 meses e um máximo de 25 anos de
prisão (a soma das penas parcelares atinge os 32 anos e 6 meses de
prisão; não obstante, por força do estatuído no artº 77º, nº 2 do Cod.
Penal, a pena aplicável ao cúmulo jurídico não pode ultrapassar os 25
anos de prisão).
Como bem se refere no Ac. deste STJ de 08-07-2020, Proc. n.º
1667/19.... - ... Secção, “I. A medida da pena conjunta deve definir-se
entre um mínimo imprescindível à estabilização das expetativas
comunitárias e um máximo consentido pela culpa do agente. II - Em
sede de cúmulo jurídico a medida concreta da pena única do concurso
de crimes dentro da moldura abstrata aplicável, constrói-se a partir
das penas aplicadas aos diversos crimes e é determinada, tal como na
concretização da medida das penas singulares, em função da culpa e
da prevenção, mas agora levando em conta um critério específico: a
consideração em conjunto dos factos e da personalidade do agente. III
- À visão atomística inerente à determinação da medida das penas
singulares, sucede uma visão de conjunto em que se consideram os
factos na sua totalidade, como se de um facto global se tratasse, de
modo a detetar a gravidade desse ilícito global, enquanto referida à
personalidade unitária do agente. IV - De grande relevo será também a
análise do efeito previsível da pena sobre o comportamento futuro do
agente- exigências de prevenção especial de socialização”.
É que, como ensina Figueiredo Dias, na escolha da medida da pena
única «tudo deve passar-se (…) como se o conjunto dos factos
fornecesse a gravidade do ilícito global perpetrado, sendo decisiva
para a sua avaliação a conexão e o tipo de conexão que entre os factos
concorrentes se verifique. Na avaliação da personalidade – unitária –
do agente relevará, sobretudo a questão de saber se o conjunto dos
factos é reconduzível a uma tendência (ou eventualmente mesmo a uma
‘carreira’) criminosa, ou tão-só a uma pluriocasionalidade que não
radica na personalidade: só no primeiro caso, já não no segundo, será
cabido atribuir à pluralidade de crimes um efeito agravante dentro da
moldura penal conjunta».
Na determinação da pena única aplicada a este arguido, assim se
decidiu no acórdão recorrido:
«(…)
Sabe-se que AA foi condenado nas penas de 15 meses de prisão e de 4
anos e 6 meses de prisão, ambas suspensas na sua execução, pelo
correspectivo período de tempo.
Conforme decorre dos factos, a pena aplicada no âmbito dos autos n.º
12/18.... foi extinta pelo decurso do prazo de suspensão sem revogação.
Ainda de acordo com os factos, no âmbito dos autos de proc. n.º
72/18.... aguarda-se o decurso do prazo de suspensão da execução da
pena.
As penas suspensas na sua execução integram o cúmulo jurídico; desde
que não se demonstre a sua extinção por decurso do prazo de suspensão
sem revogação (pois que neste caso não há cumprimento da pena de
prisão substituída - cfr. Ac. do STJ de 29 de Abril de 2010, in
www.dgsi.pt).
Efectivamente, é orientação dominante na jurisprudência dos tribunais
superiores, - à qual se adere, por se ter por correcta -, que as penas
principais devem ser cumuladas juridicamente entre si, mesmo no caso
de alguma, ou algumas delas, terem a sua execução suspensa.
Como refere Paulo Dá Mesquita (na obra, “O Concurso de Penas”,
Coimbra Editora, nota 1, pág. 96 e segs.), a suspensão da execução da
pena de prisão é um dos casos de modificação das penas na execução e
deve ser qualificada como uma pena de substituição, na medida em que
substitui a execução das penas de prisão, enquanto pena principal,
concretamente determinada, sendo certo que o caso julgado que não
pode ser atingido circunscreve-se à medida da pena parcelar
concretamente aplicada e não abrange a forma da sua execução (neste
sentido, para além do autor citado na nota 2, veja-se Figueiredo Dias, in
“Consequências jurídicas do crime”, págs. 290 e 295).
Nessa medida, integrará o cúmulo a pena aplicada no âmbito dos autos
de proc. n.º 72/18....; uma vez que aquela aplicada no âmbito dos autos
de proc. n.º 12/18.... já foi extinta pelo decurso do prazo sem
revogação.
Importa; pois, determinar a pena única a aplicar ao arguido, tomando
em consideração os factos e a personalidade do agente.
Para o efeito, e por se tratar do conhecimento superveniente do
concurso, parte-se das penas parcelares aplicadas ao arguido para se
determinar a moldura do concurso; cujo limite máximo; por se tratarem
de penas de prisão, corresponde à soma das penas parcelares aplicadas
aos vários crimes, não podendo ultrapassar 25 anos, e como limite
mínimo a mais elevada das penas concretamente aplicadas (cfr. n.º 2 do
artigo 77.º do CP).
No caso, ao arguido foram aplicadas as seguintes penas parcelares:
1. no âmbito dos autos de proc. n.º 72/18...., uma pena de quatro anos e
seis meses de prisão, suspensa na sua execução por igual período de
tempo, sob regime de prova;
2. no âmbito dos autos de processo comum singular n.º 122/19...., uma
pena de dois anos e seis meses de prisão;
3. no âmbito dos presentes autos, uma pena de dois anos e seis meses
de prisão, uma pena de dois anos e seis meses de prisão, uma pena de
quatro anos e seis meses de prisão, uma pena de quatro anos e seis
meses de prisão, uma pena de quatro anos e seis meses de prisão, uma
pena de dois anos e seis meses de prisão, uma pena de quatro anos e
seis meses de prisão.
A moldura do concurso baliza-se, por isso, entre quatro anos e seis
meses de prisão e trinta e dois anos e seis meses de prisão.
Para determinação da medida concreta da pena única atende-se às
exigências de prevenção e culpa, tendo em especial consideração, como
se disse, os factos no seu conjunto e a personalidade do agente (cfr., J.
Figueiredo Dias, op. cit., págs. 290 a 292).
Conforme ensina o citado Professor, “tudo deve passar-se, por
conseguinte, como se o conjunto dos factos fornecesse a gravidade do
ilícito global perpetrado, sendo decisiva para a sua avaliação a conexão
e o tipo de conexão que entre os factos concorrentes se verifique. Na
avaliação da personalidade – unitária – do agente relevará, sobretudo, a
questão de saber se o conjunto dos factos é recondutível a uma
tendência (ou eventualmente mesmo a uma «carreira») criminosa, ou
tão-só a uma pluriocasionalidade que não radica na personalidade: só
no primeiro caso, já não no segundo, será cabido atribuir à pluralidade
de crimes um efeito agravante dentro da moldura penal conjunta. De
grande relevo será também a análise do efeito previsível da pena sobre
o comportamento futuro do agente (exigências de prevenção especial
de socialização)”.
Neste caso, salienta-se a prática de crimes contra as pessoas como os
crimes de tráfico e de roubo, inclusive, qualificado, pelo uso de arma,
que se inserirem no âmbito da criminalidade especialmente violenta.
Foram cometidos entre Setembro de 2018 e Novembro 2019; ou seja,
num hiato temporal de cerca de um ano.
Todavia, do certificado de registo criminal de AA resulta a prática, já
em 2017, dos crimes de detenção de arma proibida e roubo. O que
também significa que o arguido se iniciou na prática de crimes
violentos tinha apenas 20 anos.
A sua conduta não pode, face ao exposto, ser considerada apenas
pluriocasional; na medida em que já revela uma certa orientação para a
prática de crimes, revelando, inclusive, desrespeito pelo juízo de
censura contido nas condenações anteriormente sofridas (com aplicação
de regime probatório, para o qual revelou total impermeabilidade e
indiferença).
Salienta-se que, no âmbito dos presentes autos, no período de cerca de
um mês, foram praticados sete crimes de roubo e roubo qualificado.
AA actuou sempre com dolo directo, apresentando-se, por isso, elevado
o grau de culpa, traduzido na consciência da censurabilidade das suas
condutas.
As exigências de prevenção geral positiva do denominado “ilícito
global” são, por isso, elevadas.
Outrossim se dirá das exigências de prevenção especial. O arguido não
tinha, à data, qualquer projecto pessoal estruturado, não trabalhava, não
estudava, vivia do apoio familiar, de que ainda beneficia, mas privava
junto a um grupo de pares com comportamentos aditivos e
delinquentes.
Porém, em sede de reclusão, fazem-se notar alguns sinais de mudança
positiva. O arguido está a frequentar um curso de formação que lhe
dará equivalência ao ensino secundário, frequenta as sessões de
aconselhamento que lhe foram disponibilizadas e parece começar a
delinear de outro modo o seu futuro. Todavia, ainda regista incidentes
disciplinares, por oposição às regras da instituição, e o juízo crítico para
os factos é abstracto. Não tem ainda sensibilidade para o desvalor de
actuação e resultado causado, embora a sua juventude represente
sempre um sinal de maior tendencial permeabilidade para a adopção
dos valores em crise, sobretudo, com o acompanhamento que lhe vem
sendo dado em meio de reclusão.
Tudo ponderado, sublinhando-se que o S.T.J. tem adoptado a
jurisprudência, na formação da pena única, de fazer acrescer à pena
mais grave o produto de uma operação que consiste em comprimir a
soma das restantes penas com factores variáveis, mas que se situam,
normalmente, entre um terço e um sexto (lendo-se nos Acórdãos do
S.T.J. de 29.04.2010 e 01.07.2012, referentes aos processos nº
9/07.3GAPTM.S1 e 831/09.6PBGMR.S1, respectivamente, acessíveis
na internet em www.dgsi.pt/jstj, que “só em casos verdadeiramente
excepcionais se deve ultrapassar um terço da soma das restantes
penas”), entende-se ser adequada e razoável a aplicação ao arguido da
pena, única, de 8 (oito) anos de prisão, que não consente qualquer
opção de substituição».
Aqui chegados:
Não constitui objecto deste recurso o elenco das penas parcelares
abrangidos pelo cúmulo jurídico.
Apenas se questiona o quantum da pena única aplicada, entendendo o
recorrente que a mesma não satisfaz as necessidades de prevenção geral
e especial, sendo desajustada e desproporcional, pecando por
benevolência.
Vejamos:
Em todas as situações analisadas nos processos nos quais o arguido foi
condenado nas penas parcelares ora englobadas no cúmulo jurídico,
este agiu com dolo directo, por isso intenso.
Seis dos nove crimes em concurso são crimes de roubo (vários deles
qualificados), os quais põem em causa a paz social de forma
particularmente acentuada, posto que, em razão da violência que lhes
subjaz, causam grande alarme social. Dois dos restantes três são crimes
de tráfico de estupefacientes (um deles, de menor gravidade), sendo de
todos conhecidas as consequências nefastas do tráfico ilícito de
produtos estupefacientes: a droga é responsável directa ou indirecta por
grande parte da criminalidade verificada no nosso País e está na origem
da destruição de muitas famílias e do sofrimento de inúmeras pessoas.
São, pois, significativas as necessidades de prevenção geral, traduzidas
na necessidade de manter a confiança da sociedade nos bens jurídico-
penais violados.
Como, aliás, inegável significado atingem, in casu, as exigências de
prevenção especial.
Com efeito – e como aliás se salienta no acórdão recorrido – o arguido,
nascido em .../.../1997 e, portanto, actualmente com 25 anos de idade –
desde os seus 20 anos de idade vem praticando crimes (2 de detenção
de arma proibida – Procs. 1827/17.... e 1025/17...., 1 de roubo
qualificado – Proc. 719/17....), por cuja autoria foi julgado e
condenado. Aliás, não deixa de ser sintomático que o arguido tenha
praticado os factos por cuja autoria foi julgado e condenado nas penas
ora abrangidas neste cúmulo jurídico (entre os quais se situam, como se
referiu, 6 crimes de roubo) em pleno período da suspensão da execução
da pena de 3 anos e 4 meses de prisão que lhe foi aplicada pela prática,
precisamente, de um crime de roubo qualificado (no referido Proc.
719/17....).
Daí que se evidencie como correcta a afirmação, constante do acórdão
recorrido, de que o arguido “revela uma certa orientação para a
prática de crimes, revelando, inclusive, desrespeito pelo juízo de
censura contido nas condenações anteriormente sofridas (com
aplicação de regime probatório, para o qual revelou total
impermeabilidade e indiferença)”.
Acresce que o arguido não tinha, à data dos factos, qualquer projecto
pessoal estruturado, não trabalhava, não estudava e vivia do apoio
familiar.
E se é certo que o mesmo, em sede de reclusão, denota alguns sinais de
mudança positiva, frequentando um curso de formação que lhe dará
equivalência ao ensino secundário, bem como as sessões de
aconselhamento que lhe foram disponibilizadas, certo é igualmente
que, como consta do acórdão recorrido, ainda regista incidentes
disciplinares e não tem “sensibilidade para o desvalor de actuação e
resultado causado”.
Em face desta apreciação conjunta dos factos e da personalidade do
arguido, ponderada a moldura legal do cúmulo em apreço (4 anos e 6
meses a 25 anos de prisão, sendo que o somatório das penas aplicadas
atinge os 32 anos e 6 meses de prisão), parece-nos claro que a pena
aplicada no acórdão recorrido (8 anos de prisão) não satisfaz, de modo
adequado, as necessidades de prevenção, geral e especial, nem – em
boa verdade – se afigura como corolário lógico do raciocínio que
precedeu a determinação dessa pena.
De outro lado, como bem refere o Digno recorrente, o arguido havia
sido já condenado, por acórdão proferido pelo Tribunal da Relação de
Guimarães e transitado em julgado em 26/5/2022, em cúmulo jurídico
das penas aplicadas neste processo (1759/19.7JABRG), na única de 9
anos e 6 meses.
Elaborado novo cúmulo jurídico e, por isso, previamente “desfeito” os
anteriores, as penas parcelares que o integravam retomam autonomia e,
assim, o limite mínimo da pena única abstractamente aplicável é a pena
parcelar mais elevada, não a pena única encontrada no(s) cúmulo(s)
anterior(es).
Porém, como se refere no Ac. STJ de 23/7/2017, Proc.
804/10.6PBVIS.C1, «o cúmulo anterior mais elevado não deixará de
ser um “ponto de referência” a ter em consideração na fixação da nova
pena, embora não possa funcionar como “ponto de partida” para essa
operação». E, no Ac. STJ de 16/5/2019, Proc. 790/10.2JAPRT.S1, com
o mesmo relator do anterior (Cons. Maia Costa), acrescenta-se: «o
cúmulo anterior mais elevado não deixará de ser um “ponto de
referência” a ter em consideração na fixação da nova pena conjunta, na
medida em que esta última deverá normalmente, pelo acréscimo de
novas penas, ser superior a esse cúmulo anterior» (subl. nosso).
Posto isto:
A pena parcelar mais elevada é, como referido, 4 anos e 6 meses de
prisão. A soma de todas as penas parcelares englobadas no concurso
atinge os 32 anos e 6 meses de prisão (não podendo a pena única
ultrapassar os 25 anos de prisão – artº 77º, nº 2 do Cod. Penal).
Ponderados, em conjunto, os factos e a personalidade do arguido ora
recorrente, avaliadas as necessidades de prevenção geral e especial nos
termos supra referidos, é nosso entendimento que a pena única deve ser
fixada em 10 anos e 6 meses de prisão, assim concedendo integral
provimento ao recurso interposto pelo Ministério Público.