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EXCELENTÍSSIMO (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) DE DA VARA CRIMINAL E TRIBUNAL DO

JÚRI DA CIRCUNSCRIÇÃO JUDICIÁRIA DE RECANTO DAS EMAS-DF


Processo nº____________
FULANO DE TAL já devidamente qualificado nos autos do processo criminal em epígrafe, a
que responde perante este respeitá vel juízo, por seu procurador devidamente infra-
assinado, apresentar RAZÕES ao recurso de apelaçã o interposto, fazendo-o nos seguintes
termos:
RAZÕES DA APELAÇÃO
Pugnando para que, apó s o efetivo exercício de admissibilidade por parte deste Juízo deste
recurso, bem como das razõ es que lhe acompanham, possa haver o regular processamento
e julgamento do presente apelo.
Nestes termos, pede deferimento.
Brasília – DF, 23 de outubro de 2019.
ROBERTO C. AGUIAR FARIAS
Advogado
OAB/DF 50395
EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS
Autos n.º: ___________________________________________
Apelante: ___________________________________________
Apelado:____________________________________________
Origem: VARA CRIMINAL E TRIBUNAL DO JÚ RI DA CIRCUNSCRIÇÃ O JUDICIÁ RIA DE
RECANTO DAS EMAS-DF
Colenda turma,
Doutos Julgadores.
1. BREVE RESUMO DOS FATOS
Cuida-se de recurso de apelaçã o interposto pela Defesa (fl.), nã o resignada com a sentença
por meio da qual restou Fulano de Tal condenado nos termos do art. 157, caput, do CP, a 7
(sete) anos, no regime inicial fechado
1. RAZÕES PARA REFORMA DA SENTENÇA
Consequências- Roubo- Não Restituição dos Bens à Vítima
O professor Paulo Queiroz, valendo-se das liçõ es de Paganella Boschi, explica que “ a
consequência do crime a que se refere o artigo 59 sã o evidentemente aquelas que se
projetam para além do fato típico, porque, se assim nã o fosse, poderiam acarretar a quebra
do ne bis in idem, especialmente naqueles casos em que aparecem compondo a figura penal
Nessa mesma ordem de ideias, o Superior Tribunal de Justiça, corte à qual o constituinte
atribuiu o mister de uniformizar a interpretaçã o acerca da legislaçã o infraconstitucional,
tem afastado valoraçõ es negativas das consequências de crimes de roubo amparadas
unicamente na nã o restituiçã o dos objetos subtraídos à vítima.
O decréscimo patrimonial experimentado pelo ofendido quando da subtraçã o da res e de
sua nã o restituiçã o é circunstâ ncia ínsita ao delito patrimonial do roubo. Referida
circunstâ ncia já foi objeto de valoraçã o pelo legislador no momento da fixaçã o dos
intervalos da pena, o que impede seja novamente utilizados para se estabelecer a pena-
base.
Pacífico o entendimento do Superior Tribunal de Justiça sobre o tema:
HABEAS CORPUS. CRIMES DE ROUBO CIRCUNSTANCIADO, RECEPTAÇÃ O E ASSOCIAÇÃ O
CRIMINOSA. DOSIMETRIA DA PENA. (I) REPRIMENDA BÁ SICA ACIMA DO MÍNIMO LEGAL.
FUNDAMENTAÇÃ O INIDÔ NEA PARA OS DELITOS DE RECEPTAÇÃ O E ASSOCIAÇÃ O.
CIRCUNSTÂ NCIAS DO CRIME VALORADAS DE FORMA CONCRETA NO TOCANTE AO CRIME
DE ROUBO. (II) RECONHECIMENTO DA CONTINUIDADE ENTRE OS CRIMES DE
RECEPTAÇÃ O. SUPRESSÃ O DE INSTÂ NCIA.
(III) CONTINUIDADE DELITIVA ENTRE OS CRIMES DE ROUBO. ACRÉ SCIMO COM BASE NO
NÚ MERO DE INFRAÇÕ ES.
5. Por derradeiro, insuficiente a motivar o aumento da reprimenda básica a
afirmação de que as consequências do delito foram "graves, porque não houve
ressarcimento dos inúmeros danos nos veículos e do dinheiro subtraído" (e-STJ fl.
26), porquanto os elementos apresentados não transcendem o resultado típico, são
inerentes aos crimes descritos na peça acusatória e já foram sopesados pelo
legislador no momento da fixação das penas em abstrato do delito.
Precedentes.
(HC 284.615/RS, Rel. Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO, SEXTA TURMA,
julgado em 20/06/2017, DJe 26/06/2017)
AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. ROUBO MAJORADO. DOSIMETRIA DA PENA.
RECURSO DA ACUSAÇÃ O. PLEITO DE VALORAÇÃ O DAS CONSEQUÊ NCIAS DO CRIME EM
RAZÃ O DA AUSÊ NCIA DE RESTITUIÇÃ O DOS BENS À VÍTIMA PARA ELEVAR A PENA-BASE.
IMPOSSIBILIDADE. PRECEDENTES. AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO.
1. Com efeito, o fato de a res furtiva não haver sido totalmente restituída à vítima,
por si só, não configura fundamentação idônea a autorizar a elevação da reprimenda
acima do mínimo legalmente previsto para o crime patrimonial. Precedentes.
2. A decisã o agravada foi proferida de acordo com o entendimento firmado pela
Jurisprudência deste Sodalício devendo, portanto, ser mantida pelos seus pró prios
fundamentos.
3. Agravo regimental improvido.
(AgRg no HC 384.628/PE, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em
23/05/2017, DJe 13/06/2017)
PENAL E PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.
AGRAVO INTERNO QUE NÃ O COMBATEU O FUNDAMENTO DA DECISÃ O AGRAVADA.
APLICABILIDADE DA SÚ MULA 182/STJ. AGRAVO REGIMENTAL NÃ O CONHECIDO. ROUBO
DUPLAMENTE CIRCUNSTANCIADO. PENA-BASE FIXADA ACIMA DO MÍNIMO LEGAL.
VETORIAL DAS CONSEQUÊ NCIAS DO CRIME. NÃ O RESTITUIÇÃ O DA COISA À VÍTIMA.
FUNDAMENTO INIDÔ NEO. REDUÇÃ O DA PENA AO MÍNIMO LEGAL. TERCEIRA FASE DA
DOSAGEM PENAL. FIXAÇÃ O DO PERCENTUAL EM 3/8 EM RAZÃ O DO NÚ MERO DE
MAJORANTES. IMPOSSIBILIDADE.
SÚ MULA 443/STJ. PENA FINAL REDUZIDA. REGIME INICIAL REAJUSTADO.
HABEAS CORPUS CONCEDIDO DE OFÍCIO.
1. Compete ao recorrente, nas razõ es do agravo regimental, infirmar especificamente todos
os fundamentos expostos na decisã o agravada.
Incidência do enunciado 182 da Sú mula do Superior Tribunal de Justiça.
2. "O fato de a vítima não ter tido restituída inteiramente a res furtiva não autoriza a
exasperação da pena-base pelas consequências do delito, visto que a subtração de
coisa alheia móvel constitui elementar do próprio tipo penal violado, de natureza
patrimonial".
(HC 219.582/SP, Rel. Min. SEBASTIÃ O REIS JÚ NIOR, SEXTA TURMA, DJe 01/02/2013) 3. "O
aumento na terceira fase de aplicaçã o da pena no crime de roubo circunstanciado exige
fundamentaçã o concreta, nã o sendo suficiente para a sua exasperaçã o a mera indicaçã o do
nú mero de majorantes." Enunciado4433 da Sú mula deste STJ.
4. Agravo regimental nã o conhecido. Habeas Corpus concedido de ofício.
(AgRg no AREsp 982.190/SP, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA
TURMA, julgado em 06/12/2016, DJe 15/12/2016)
In casu, a autoridade judiciá ria nã o trouxe nenhuma particularidade do caso concreto,
limitando-se a afirmar que “ a vítima nã o teve os seus pertences recuperados” (fl.138), o
que, como já repisado, nã o refoge à s consequências naturais do ilícito em testilha, razã o
pela sentença merece ser reformada nesse ponto.
DA DOSEMETRIA DA PENA-1ª E 2ª FASES
O julgador deve, ao individualizar a pena, examinar com acuidade os elementos que dizem
respeito ao fato, para aplicar, de forma justa e fundamentada, a reprimenda que seja
necessá ria e suficiente para a reprovaçã o do crime.
A pena-base deve pautar-se pelos critérios elencados no art. 59 do Có digo Penal, de sorte
que nã o se afigura legítima sua majoraçã o sem a devida fundamentaçã o, sob pena de
violaçã o ao preceito contido no art. 93, inciso IX, da Constituiçã o Federal.
O Superior Tribunal de Justiça, na missã o de uniformizar a interpretaçã o da legislaçã o
federal, fixou parâ metros a serem observados pelos demais ó rgã os judiciá rios quando da
dosemetria da pena. Sã o palavras do Ministro Rogério Schietti, HC 424.092/RJ:
As Turmas que compõ em a Terceira Seçã o entende que cabe ao magistrado, dentro do seu
livre convencimento e de acordo com as peculiaridades do caso concreto, decidir o
quantum da exasperaçã o da pena-base, em observâ ncia aos princípios da razoabilidade e
da proporcionalidade.
A ponderaçã o das circunstancias judiciais do art. 59 do Có digo Penal nã o é uma operaçã o
aritmética, com pesos determinados a cada uma delas, extraídos de simples cá lculo
matemá tico. O aumento a ser praticado pelo magistrado, por ocasião da análise do
art. 59 do Código Penal, não fica adstrito ao número de circunstâncias judiciais
desfavoráveis, mas a intensidade com o que cada uma delas é valorada.
A jurisprudência desta Corte Superior de Justiça é firme em assimilar ser
proporcional a fração de 1/6 (um sexto) de aumento, calculando a partir da pena
mínima abstratamente prevista, para cada vetorial negativa considerada na fixação
da pena base.
Desta feita, embora nã o seja uma atividade aritmética, inexistindo um valor fixo e absoluto
para a circunstâ ncia judicial, mostra-se recomendá vel, com vistas a se garantir a segurança
jurídica e a estabilizaçã o da jurisprudência, a adoçã o de 1/6 para circunstâ ncia do art. 59
CP, parâ metro como proporcional pelo STJ.
No caso em apreço, o r. magistrado sentenciante reconheceu a existência de 2
circunstâ ncias judiciais negativas, a saber, antecedentes e consequências. Nesse contexto, a
pena mínima deveria ter sido exasperada em 2/6, conduzindo, assim à fixaçã o da pena-
base em 5 anos 4 meses.
O r. magistrado, todavia, estabeleceu a pena-base no patamar de 6 anos e 3 meses de
reclusã o, afastando-se do quantitativo ideal de 1/6 para cada circunstâ ncia judicial
negativa, sem que tenha apresentado motivação suficiente para tanto, razão pela qual
se pleiteia a redução da pena-base do acusado em questão.
Prosseguindo, o juiz a quo também se apartou da proporcionalidade ao proceder, quando
do cá lculo da pena-intermediá ria, em razã o das agravantes das reincidências, aumentando
a pena em 1 ano e 6 meses . Sem que haja fundamentaçã o idô nea a autorizar a aplicaçã o de
fator agravante/atenuantes diverso, o correto seria a fixaçã o do ideal de 1/6 (um sexto):
Diante desse quadro que prima pela hierarquia do sistema de dosemetria penal, vemos
entã o que cada circunstâ ncia atenuante ou agravante terá um valor ideal imaginá rio de 1/6
(um sexto), porém, assim, como ocorre com as circunstâ ncias judiciais em que o critério
ideal é de 1/8 (um oitavo), tais patamares de valoraçã o poderã o ser aplicados em
quantitativo menor ou maior, desde que observados o grau de reprovabilidade em concreto
da infraçã o penal em julgamento (direito penal do fato e do autor) e o pró prio sistema de
hierarquia das fases (escalonamento do sistema trifá sico de dosemetria da pena).Portanto,
temos o patamar de 1/6 (um sexto), como sendo o ideal para a segunda fase do processo de
aplicaçã o da pena. [...]
(SCHMITT,Ricardo Augusto. Sentença Penal Condenató ria. 10. ed Salvador:jusPODIVM,
2016. P.240-241)
Ante o exposto, no processo de dosemetria da pena, nã o se observou as fraçõ es ideias de
1/6 da pena mínima e de 1/6 da pena base, respectivamente, para cada circunstâ ncia
judicial negativa (primeira fase) e para cada circunstâ ncia agravante/atenuante (segunda
fase), de modo que a sentença deve ser reformada também neste aspecto.
1. PEDIDOS
Ante o exposto, a Defesa requer a reforma da sentença para que seja afastada a valoraçã o
negativa das consequências; subsidiariamente, aplicar fraçã o de 1/6 na primeira e na
segunda fase da pena;
Nestes termos, pede deferimento.
Brasília – DF, 23 de outubro de 2019.
ROBERTO C. AGUIAR FARIAS
Advogado
OAB/DF 50395

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