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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 1.460.077 - SC (2014/0147514-0)

RELATOR : MINISTRO JORGE MUSSI


RECORRENTE : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA
RECORRIDO : MARILÚCIA NEGRI
ADVOGADO : PAOLO ALESSANDRO FARRIS E OUTRO(S)
EMENTA

RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO PENAL. PROGRESSÃO


DE REGIME. SUPERVENIÊNCIA DE NOVA CONDENAÇÃO.
ALTERAÇÃO DA DATA-BASE PARA BENEFÍCIOS. DATA DO
TRÂNSITO EM JULGADO.
1. Nos termos da jurisprudência pacífica desta Corte Superior,
sobrevindo nova condenação ao apenado no curso do resgate da
pena, interrompe-se o cômputo do prazo legal necessário à
concessão de novos benefícios da execução.
2. Operada a unificação das penas, o prazo para concessão de
novas benesses passa a ser calculado com base na pena total
remanescente e considera como termo a quo a data do trânsito
em julgado da última sentença condenatória.
3. Recurso especial provido para anular o aresto hostilizado e a
decisão de primeiro instância e determinar que novo exame do
pedido de progressão de regime considere, como marco inicial da
contagem do prazo legal necessário ao benefício, a data do
trânsito em julgado da sentença condenatória superveniente.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da


Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas
taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e lhe dar provimento, nos
termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Marco Aurélio Bellizze, Moura
Ribeiro, Regina Helena Costa e Laurita Vaz votaram com o Sr. Ministro Relator.

Brasília (DF), 19 de agosto de 2014(Data do Julgamento)

MINISTRO JORGE MUSSI


Relator

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RECURSO ESPECIAL Nº 1.460.077 - SC (2014/0147514-0)
RECORRENTE : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA
RECORRIDO : MARILÚCIA NEGRI
ADVOGADO : PAOLO ALESSANDRO FARRIS E OUTRO(S)

RELATÓRIO

O EXCELENTÍSSIMO SENHOR MINISTRO JORGE MUSSI (Relator):


Trata-se de recurso especial interposto com amparo nas alíneas a e c do permissivo
constitucional em face de aresto do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina
que desproveu o agravo em execução do Ministério Público, nos termos da seguinte
ermenta:
EXECUÇÃO PENAL. VÁRIAS CONDENAÇÕES. SOMA DAS
PENAS. FIXAÇÃO DO REGIME FECHADO. DATA-BASE PARA
CONTAGEM DO REQUISITO OBJETIVO PARA EVENTUAIS
BENEFÍCIOS. REEDUCANDA QUE JÁ SE ENCONTRAVA
SEGREGADA EM REGIME FECHADO. DATA DA PRISÃO E NÃO
DA DO TRÂNSITO EM JULGADO DE NOVA SENTENÇA
CONDENATÓRIA. PRECEDENTES DESTA CORTE.
PROGRESSÃO DE REGIME MANTIDA. RECURSO NÃO
PROVIDO.
Somadas as penas e mantido o regime anterior, ou seja, no
fechado, da mesma forma deverá ser conservado todo o prazo
adquirido para a progressão, não podendo a data-base ser
estabelecida no dia em que houve a soma das penas, mas, sim,
quando a agravante foi presa e iniciou ainda que provisoriamente, o
cumprimento da sentença condenatória imposta (Recurso de
Agravo n. 2010.045705-9, de Tijucas, rela. Desa. Salete Silva
Sommariva).

Registra o recorrente, além de divergência jurisprudencial, violação aos


arts. 111, parágrafo único, e 118 da Lei n. 7.210/1984, sustentando que, ao revés do
consignado pela Corte recorrida, a superveniência de nova condenação definitiva no
curso da execução penal enseja a alteração da data-base para eventuais benefícios,
ainda que da somatória das penas não resulte novo regime prisional.

Colaciona precedentes desta Corte Superior em abono de sua tese, ao


tempo em que requer o provimento do especial para que se estabeleça como marco
inicial para o cômputo do prazo para futuros benefícios a data do trânsito em julgado da
nova condenação.

Contrarrazões apresentadas (fls. 412 a 419). Admitido o inconformismo

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(fls. 422 e 423), ascenderam os autos ao STJ.

A douta Subprocuradoria-Geral da República manifestou-se no sentido do


provimento do apelo (fls. 440 e 441).

É o relatório.

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VOTO

O EXCELENTÍSSIMO SENHOR MINISTRO JORGE MUSSI (Relator):


Satisfeitos os requisitos de admissibilidade, passo à análise do recurso especial.

Extrai-se dos autos que, inconformado com o decisum de primeiro grau


que promoveu a recorrida ao regime semiaberto, o Parquet Estadual interpôs agravo
em execução perante o Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina, advertindo ser
inadequada a forma de cálculo utilizada pelo magistrado da Vara das Execuções
Criminais, que teria considerado atendido o prazo legal exigido à promoção prisional
adotando como marco inicial da contagem de pena cumprida a data da última prisão da
apenada, malgrado a superveniência de nova condenação no curso da execução penal.

O reclamo, todavia, restou desprovido, nos seguintes termos, in verbis :


No caso concreto, a Autoridade Judiciária de Primeiro Grau
levou em consideração para contagem do requisito objetivo
a data da última prisão, conforme entendimento já sufragado
nesta Corte, senão vejamos [...].
Sendo assim, levando-se em consideração que na hipótese
dos autos a apenada já se encontra cumprindo a pena em
regime fechado desde o dia 7 de maio de 2008, não se
aplica o entendimento de que o termo incial é a data do
trânsito em julgado da última decisão condenatória, qual
seja, 21 de março de 2012. (fls. 384 e 385)

Examinando a questão, entretanto, este Tribunal Superior consolidou o


entendimento de que sobrevindo nova condenação ao apenado no curso do resgate da
pena, interrompe-se o cômputo do prazo necessário à concessão dos benefícios da
execução, passando a ser calculado a partir do somatório das penas restantes e tendo
como termo a quo a data do trânsito em julgado da sentença condenatória.

Confira-se, nesse norte, os precedentes a seguir, de ambas as Turmas


componentes da Terceira Seção deste Tribunal:
EXECUÇÃO PENAL. HABEAS CORPUS. IMPETRAÇÃO
SUBSTITUTIVA DE RECURSO ESPECIAL. IMPROPRIEDADE DA
VIA ELEITA. CONTRARIEDADE AOS ARTS. 111, PARÁGRAFO
ÚNICO, 112 E 118, II, DA LEP. VIOLAÇÃO AO ART. 75, § 2º, DO
CP. ALTERAÇÃO DA DATA-BASE. CRIME ANTERIOR OU
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POSTERIOR AO INÍCIO DA EXECUÇÃO. TERMO A QUO. DATA
DO TRÂNSITO EM JULGADO DA CONDENAÇÃO
SUPERVENIENTE. WRIT NÃO CONHECIDO.
1. É imperiosa a necessidade de racionalização do emprego do
habeas corpus, em prestígio ao âmbito de cognição da garantia
constitucional, e, em louvor à lógica do sistema recursal. In casu, foi
impetrada indevidamente a ordem como substitutiva de recurso
especial.
2. Sobrevindo nova condenação ao apenado no curso da
execução da pena, a contagem do prazo para concessão de
benefícios deve ser feita a partir de novo cálculo, com base no
somatório das penas.
3. O termo a quo para contagem do período aquisitivo é o
trânsito em julgado da superveniente sentença condenatória .
4. Writ não conhecido. (HC 254.255/MG, Rel. Min. MARIA
THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, DJe 14/5/2014)

HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO PENAL. SUPERVENIÊNCIA DE


NOVA CONDENAÇÃO DEFINITIVA POR CRIME COMETIDO
DURANTE O CUMPRIMENTO DE PENA. UNIFICAÇÃO DAS
PENAS. ALTERAÇÃO DA DATA-BASE. INEXISTÊNCIA DE
CONSTRANGIMENTO ILEGAL. ORDEM DE HABEAS CORPUS
DENEGADA.
1. Nos termos da jurisprudência desta Corte Superior, o marco
interruptivo, em virtude da prática de novo delito, corresponde
à data do trânsito em julgado da última condenação.
Precedentes .
2. A unificação das execuções penais, quando não altera o
requisito objetivo, propicia ao condenado permanecer no
regime de cumprimento de pena em que se encontra,
modificando, porém, o prazo para a concessão de novos
benefícios, que passa a ser calculado a partir do somatório das
reprimendas que restam a ser cumpridas. Precedentes .
3. Ordem de habeas corpus denegada. (HC 240.569/MT, Rel. Min.
LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, DJe 23/8/2013)

HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO ESPECIAL.


DESCABIMENTO. EXECUÇÃO PENAL. PROGRESSÃO DE
REGIME. UNIFICAÇÃO DE PENAS. ALTERAÇÃO DA DATA BASE
PARA A CONCESSÃO DE FUTUROS BENEFÍCIOS. TRÂNSITO
EM JULGADO DA CONDENAÇÃO. AUSÊNCIA DE
CONSTRANGIMENTO ILEGAL. ORDEM NÃO CONHECIDA.
- O Superior Tribunal de Justiça, seguindo o entendimento da
Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal, passou a inadmitir
habeas corpus substitutivo de recurso próprio, ressalvando, porém,
a possibilidade de concessão da ordem de ofício nos casos de
flagrante constrangimento ilegal.
- A jurisprudência desta Corte já pacificou o entendimento de
que, na superveniência de condenação criminal, é possível a
alteração da data-base para concessão de progressão de
regime, fazendo-se novo cálculo com base no somatório das
penas, sendo o termo inicial contado a partir do trânsito em
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julgado da sentença penal condenatória. Precedentes .
Habeas corpus não conhecido. (HC 263.852/MG, Rel. Min.
MARILZA MAYNARD (DESEMBARGADORA CONVOCADA -
TJ/SE), QUINTA TURMA, DJe 27/5/2013)

Diante do exposto, dá-se provimento ao recurso especial para anular o


acórdão a quo e a decisão de primeiro grau e determinar que novo exame do pedido de
progressão de regime adote, como marco inicial para o cômputo do prazo legal, a data
do trânsito em julgado da sentença condenatória superveniente.

É o voto.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUINTA TURMA

Número Registro: 2014/0147514-0 PROCESSO ELETRÔNICO REsp 1.460.077 / SC


MATÉRIA CRIMINAL

Números Origem: 038090529470 200872010003490 20130238702 20130238702000100 38090529470

PAUTA: 19/08/2014 JULGADO: 19/08/2014

Relator
Exmo. Sr. Ministro JORGE MUSSI
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro MOURA RIBEIRO
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. MARIO LUIZ BONSAGLIA
Secretário
Bel. MARCELO PEREIRA CRUVINEL

AUTUAÇÃO
RECORRENTE : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA
RECORRIDO : MARILÚCIA NEGRI
ADVOGADO : PAOLO ALESSANDRO FARRIS E OUTRO(S)
CORRÉU : JULIO CÉZAR VARGAS
CORRÉU : MARCELO DA CUNHA
CORRÉU : DORACI ANDRIOLLI
CORRÉU : JACSON ROBERTO DUARTE
CORRÉU : MARCELO PEREIRA ARNOS
CORRÉU : ORIOVALDO TEUTONIO DA SILVA
CORRÉU : FABIANO SALVADOR
CORRÉU : HÉLIO MATIAS DA CONCEIÇÃO
CORRÉU : GEOVANI PINOTTI

ASSUNTO: DIREITO PROCESSUAL PENAL - Execução Penal - Pena Privativa de Liberdade - Progressão
de Regime

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUINTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
"A Turma, por unanimidade, conheceu do recurso e lhe deu provimento, nos termos do
voto do Sr. Ministro Relator."
Os Srs. Ministros Marco Aurélio Bellizze, Moura Ribeiro, Regina Helena Costa e Laurita
Vaz votaram com o Sr. Ministro Relator.

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