Você está na página 1de 10

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE

DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Habeas Corpus nº 2257376-91.2021.8.26.0000

URGENTE – RÉU PRESO

ULISSES DE OLIVEIRA, já qualificado no processo em


epígrafe, vem à presença de Vossa Excelência, com fulcro no artigo 105,II, “a” da
Constituição Federal e nos artigos 30 e seguintes da Lei 8.038/90 interpor:

RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL

Em face do acordão proferido pelo 15ª Câmara de Direito


Criminal do Tribunal de Justiça de SP, fls.39/42 que denegou ordem de habeas
corpus.

Requer de imediato, em regime de retratação a reconsideração


da decisão recorrida, e, caso assim não entenda, seja admitido e encaminhados os
autos ao Egrégio Superior Tribunal de Justiça, para revisão da matéria debatida.

Nesses Termos

Pede Deferimento.

São Paulo, 8 de dezembro de 2021.

Aparecida Rufino

OAB.SP 212.707
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR MINISTRO PRESIDENTE DO
COLENDO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Habeas Corpus nº 2257376-91.2021.8.26.0000

Recorrente: ULISSES DE OLIVEIRA

Recorrida: JUSTIÇA PÚBLICA

Egrégio Superior Tribunal de Justiça,

Colenda Turma,

Trata-se de Ação Penal , pela suposta prática dos tipos penais


do Art.155§4º, II do CP, o paciente foi preso em 27 de outubro de 2021,
encontrando-se, atualmente, preso em diante da ilegalidade da prisão em regime
semi-aberto. O paciente impetrou Habeas Corpus que foi negado pelo seguinte
motivo:

“(....) Em suma, a matéria supra reclama o exame de mérito, o qual


descabe na via eleita. Do exposto, pelo meu voto, não conheço da
ordem.”

Razão pela qual necessária a concessão do pedido disposto no


presente recurso.
Do Mérito

Dentre as razões expostas, o Recorrente expõe há não


concordância da decisão do Tribunal “a quo”, quando do não conhecimento de
habeas corpus por inadequação da via eleita.  

Não é preciso muitas delongas para se saber que é regra


fundamental, extraída da Carta Magna, o dever de todo e qualquer magistrado
motivar suas decisões judiciais, à luz do que reza o art. 93, inc. IX da Constituição
Federal. Todo e qualquer cidadão, atrelando-se aos princípios da inocência e da
não-culpabilidade. Assim, por mais esses motivos, é imperiosa decisão
devidamente fundamentada acerca dos motivos da permanência do Réu no cárcere,
uma vez convertido a pena mais gravosa.

Do Cabimento Do Habeas Corpus

Consoante dispõe a Constituição Federal em seu art. 5.º,


inciso LXVIII:

"Conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar


ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por
ilegalidade ou abuso de poder"

Nesse mesmo sentido dispõe o Art. 647 do CPP. Ou seja, o


habeas corpus sempre será cabível quando houver lesão ou ameaça à liberdade de
locomoção, como ocorre no presente caso.

Desde 27 de outubro de 2021, o Recorrente encontra-se


recolhido à prisão em regime semi-aberto, primeiro no Anexo Penitenciário do
Município de Iperó/SP, conforme ofício de n.º 3.117/2021-SMP; sendo
posteriormente transferido em 02 de novembro de 2011 para a Penitenciária II de
Guareí - SP.

Ocorre que ao peticionário foi imposta a pena restritiva de


direitos, tendo sido regredida em pena privativa de liberdade, a ser cumprida
inicialmente em regime semi-aberto, face a ausência do mesmo para o
cumprimento da pena restritiva de direitos.

O que se exalta nesse presente recurso, é a negativa do


Tribunal “a quo” em não julgar o mérito do “whit” interposto, com alegação da
inadequação da via eleita; quando na verdade, independente se a via era ou não
adequada, sempre tratou-se da supressão do direito de locomoção do Recorrente,
uma vez tendo sido regredida a pena, sem ao menos ser considerado os
pressupostos legais e sociais do presente caso.

Foi comprovado no “remédio processual”, que o Recorrente


não cumpriu o determinado pela Justiça, (pena restritiva de direitos), por total
ignorância e mudança de endereço, uma vez tendo apenas sido intimado por edital.

Durante os anos vindouros, após a sentença, o Recorrente


constituiu família, emprego, moradia, e um nome respeitável na comunidade,
sendo fartamente comprovado através de documentos expostos no recurso “ a
quo”.

Observa-se que embora o cumprimento da pena, consta em


regime inicial semi-aberto; o Recorrente se encontra recolhido na Penitenciária II
de Guareí, que possui apenas o regime fechado; ou seja, o peticionário não está
cumprindo o semi-aberto, está sendo obrigado a cumprir o regime fechado, sem ter
sido apenado nesse regime.

Segundo, preconiza o artigo 118, §2.º da LEP, que para a


aplicação da forma regressiva de regime carcerário, deverá ser ouvido previamente
o reeducando.

A jurisprudência assevera:
“A circunstância do condenado não ter comparecido perante o Juízo das
Execuções Penais a fim de tomar conhecimento das condições de
cumprimento de pena restritiva de direito não autoriza a imediata
conversão dessa pena em privativa de liberdade, mostrando-se
imprescindível a prévia oitiva daquele em audiência de justificação, sob
pena de violação do devido processo legal.” (TJAP, HC179107, DJ:
03.09.2007)”

Portanto, o habeas corpus impetrado, nunca se distanciou de


seu objetivo, qual seja, a privação da liberdade de locomoção do Recorrente,
devido a imputação ilegal do regime mais gravoso da pena, sem ao menos, ter sido
considerada as circunstâncias do Recorrente; mesmo tratando-se de crime de mera
infração penal, foi imposta a restrição de liberdade, e ainda, em regime fechado,
mesmo não tendo sido apenado com tal regime.

Cabe destacar que toda e qualquer ferramenta que seja


necessária para viabilizar a liberdade de locomoção ampara o habeas corpus,
conforme já destacado pelo STJ:

"Não há falar-se em não conhecimento de habeas corpus por inadequação da via


eleita quando a matéria que lhe deu ensejo visa tutelar, mesmo que indiretamente, a
liberdade do paciente." (STJ: HC nº 109943/2013 - Relator: Des. Luiz Ferreira da
Silva-27/11/13)

Ocorre que, ainda em 2018, o STF decidiu o seguinte:


“(...)por maioria de votos, o Tribunal Pleno assentou que é admissível, no
âmbito desta Suprema Corte, impetração originária substitutiva de recurso
ordinário constitucional" (HC 152.752/PR, rel. min. Edson Fachin, Tribunal
Pleno, DJe 27.06.18).”

No julgamento, destaque-se o argumento do ministro Dias


Toffoli, no sentido de que o óbice processual é incoerente, já que é de praxe
analisar o writ para eventual concessão de ofício e, mais cedo ou mais tarde, o
Tribunal receberia um ROC, no caso de não conhecimento do HC.

É firme o entendimento deste Egrégio Superior Tribunal de


Justiça, em consonância com inúmeros julgados com a mesma orientação, de sorte
que a rigidez do contexto, advindo do enunciado da Súmula 691 do STF, deve ser
abrandada, especialmente quando a situação vergastada transcender à mera
ilegalidade.

                                 A jurisprudência do STJ se encontra cimentada nessa mesma


esteira de entendimento. Confira-se:

“EXECUÇÃO PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE


RECURSO PRÓPRIO. INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA.
PROGRESSÃO AO REGIME SEMIABERTO INDEFERIDA PELA
CORTE DE ORIGEM COM BASE, TÃO SOMENTE, NA GRAVIDADE
ABSTRATA DO DELITO E LONGA PENA A CUMPRIR.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL CONFIGURADO. CONCESSÃO DA
ORDEM DE OFÍCIO.

1. O Supremo Tribunal Federal, por sua Primeira Turma, e a Terceira Seção


deste Superior Tribunal de Justiça, diante da utilização crescente e sucessiva do
habeas corpus, passaram a restringir a sua admissibilidade quando o ato ilegal
for passível de impugnação pela via recursal própria, sem olvidar a
possibilidade de concessão da ordem, de ofício, nos casos de flagrante
ilegalidade. Esse entendimento objetivou preservar a utilidade e a eficácia do
mandamus, que é o instrumento constitucional mais importante de proteção à
liberdade individual do cidadão ameaçada por ato ilegal ou abuso de poder,
garantindo a celeridade que o seu julgamento requer. 2. Na espécie, a
progressão ao regime semiaberto foi indeferida pelo Tribunal de origem com
fundamento, tão somente, na gravidade abstrata do delito pelo qual foi
condenado o ora paciente, e na longa pena por cumprir. 3. Sobre a matéria, esta
Corte Superior de Justiça pacificou entendimento no sentido de que fatores
relacionados ao crime praticado são determinantes da pena aplicada, mas não
justificam diferenciado tratamento para a progressão de regime, de modo que a
avaliação do cumprimento do requisito subjetivo somente poderá fundar-se em
fatos ocorridos no curso da própria execução penal. 4. Habeas corpus não
conhecido. Contudo, ordem concedida de ofício para cassar o acórdão
proferido pelo Tribunal a quo, e, em consequência, confirmar a liminar
anteriormente deferida, que determinou ao Juízo das Execuções Criminais a
reapreciação do pedido de progressão de regime prisional, baseando-se em
dados concretos relativos à execução da pena do ora paciente [ ... ]

Além disso, ministro Ricardo Lewandowski registrou que


a expansão do uso do habeas corpus, inclusive como substitutivo de recursos e de
ação revisional, torna o Judiciário mais eficiente, não mais moroso, o que foi
exemplificado com a ação coletiva concedida a mães encarceradas, caso em que
sequer existia ato coator do STJ.

Sob essa perspectiva, a contemporânea impetração de


habeas corpus destinado à tutela direta da liberdade de locomoção do Recorrente,
deveria ter sido admitido e julgado o seu mérito.

Em consonância com a orientação jurisprudencial da Primeira


Turma do Supremo Tribunal Federal - STF, aquela Corte não admite habeas corpus
substitutivo de recurso próprio, sem prejuízo da concessão da ordem, de ofício, se
existir flagrante ilegalidade na liberdade de locomoção do paciente."(HC
557.865/SP, rel. min. Joel Ilan Paciornik, 5ª turma, votação unânime, DJe
13.05.20).

A doutrina, nessa mesma linha, reforça o cabimento irrestrito


do habeas corpus, quando existente flagrante nulidade:

"A magnitude do habeas corpus é definida pela Constituição, que não prevê
qualquer restrição além da situação de alguém que esteja a "sofrer ou se
achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de
locomoção. Não há qualquer exigência que se trata de decisão em processo
ainda não transitado em julgado. Aliás, não é necessário sequer que haja
processo, podendo o habeas corpus ser impetrado contra atos do inquérito
policial ou mesmo de particular. Se alguém foi condenado e estiver preso,
cumprindo pena decorrente de sentença absolutamente nula, mas transitada
em julgado, não terá direito a habeas corpus? A resposta é evidentemente
positiva. Aliás, o Supremo Tribunal Federal faz a construção restritiva para,
depois de não conhecer do habeas corpus, porque o correto é a revisão
criminal, conceder habeas corpus de ofício!" (BADARÓ, Gustavo Henrique.
Manual dos Recursos Penais. 2ªed. Revista dos Tribunais, 2017. Versão
ebook, p 23.4.2.)

Por fim, cabe ainda destacar que não há que se falar em


ausência de supressão de instância, uma vez que, nos termos do Art. 654, §2º do
CPP:

"Os juízes e os tribunais têm competência para expedir de ofício ordem de


habeas corpus, quando no curso de processo verificarem que alguém sofre
ou está na iminência de sofrer coação ilegal".
Portanto é de se concluir que o presente recurso é medida
para se reformar a respeitável decisão denegatório, diante da inequívoca lesão ao
direito de liberdade do Recorrente, ante ao habeas corpus denegado e o julgamento
do seu mérito.

Do Pedido

Diante do exposto, requer o recebimento do presente recurso,


no seu efeito devolutivo e suspensivo, para tornar sem efeito o acórdão recorrido,
concedendo a ordem para fazer cessar a coação ilegal que o recorrente está
submetido, com a expedição imediata de alvará de soltura, e o cumprimento de sua
pena original, como restritiva de direitos.

Nesses Termos

Pede Deferimento.

São Paulo, 9 de dezembro de 2021.

Aparecida Rufino

OAB.SP 212.707

, .

Você também pode gostar