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Egrégio Superior Tribunal de Justiça,

Doutos Ministros.

ANA BEATRIZ DA SILVA GOMES, inscrita na OAB/MG 188.826, com endereço


profissional na Av. Augusto de Lima, 1800, sala 407, Barro Preto, Belo Horizonte/MG, com
fundamento no art. 5º, inciso LXVIII, da Constituição Federal, e arts. 647 e seguintes do
Código de Processo Penal, vêm a Vossa Excelência impetrar ordem de

"HABEAS CORPUS"
COM PEDIDO LIMINAR

GLAUBER ARAUJO NUNES, filho de Iraci Maria de Araújo Nunes, nascido em


24/05/1978, em Nova Lima/MG, portador do RG 8633109 e CPF n. 038.788.836-50, em
face de constrangimento ilegal imposto pela 4ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de
Minas Gerais, nos autos n. 0011503-77.2015.8.13.0188, que não respeitou a fração mínima de
redução da pena do art. 26 do CP.

I. FATOS
Na comarca de Nova Lima/MG, o Paciente foi condenado à pena de 03 anos de
reclusão pela suposta prática do crime previsto no art. 16, IV, da Lei nº 10.826/2003.
Segundo consta do acórdão e da sentença, no caso, o Paciente foi denunciado e
pelo crime previsto no artigo supracitado, sendo reconhecido 1 antecedente criminal na
primeira fase, a agravante da reincidência, a atenuante da confissão espontânea e a causa de
diminuição de pena da semiputabilidade.
A decisão transitou em julgado na segunda instância em 28/05/2021.
II. DO CABIMENTO DE HABEAS CORPUS PARA DESCONSTITUIÇÃO DE
FLAGRANTE ILEGALIDADE – AUSÊNCIA DE COTEJAMENTO
PROBATÓRIO.
O presente Habeas Corpus tem como finalidade a revisão da condenação imposta
ao Paciente que, em resumo, deixou de respeitar a fração mínima de redução da pena da
minorante do art. 26 do CP.
O pedido pode ser analisado tão somente a partir da mencionada sentença. Não
há dilação probatória e análise de mérito. Tão somente matéria de direito, com teses já
pacificadas por esta Corte.
1) Sobre o cabimento de Habeas Corpus substitutivo de recurso próprio, este E.
STJ já decidiu antes sobre a fungibilidade em casos excepcionais. Isso porque, diante de
matéria exclusiva de direito e com flagrante ilegalidade a substituição dos meios de impugnação
é possível.
A este respeito:
AGRAVO REGIMENTAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO
DE RECURSO ORDINÁRIO. NÃO CABIMENTO. TRÁFICO
DE DROGAS. SEGREGAÇÃO CAUTELAR DEVIDAMENTE
FUNDAMENTADA NA GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA.
QUANTIDADE E VARIEDADE DE DROGAS.
INEXISTÊNCIA DE NOVOS ARGUMENTOS APTOS A
DESCONSTITUIR A DECISÃO IMPUGNADA. AGRAVO
REGIMENTAL DESPROVIDO.
I - A Terceira Seção desta Corte, seguindo entendimento firmado pela
Primeira Turma do col. Pretório Excelso, firmou orientação no
sentido de não admitir a impetração de habeas corpus em substituição
ao recurso adequado, situação que implica o não-conhecimento da
impetração, ressalvados casos excepcionais em que, configurada
flagrante ilegalidade apta a gerar constrangimento ilegal, seja possível
a concessão da ordem de ofício.
II - A segregação cautelar deve ser considerada exceção, já que tal
medida constritiva só se justifica caso demonstrada sua real
indispensabilidade para assegurar a ordem pública, a instrução
criminal ou a aplicação da lei penal, ex vi do artigo 312 do Código de
Processo Penal.
III - Na hipótese, o decreto prisional encontra-se devidamente
fundamentado em dados concretos extraídos dos autos, que
evidenciam que a liberdade do Agravante acarretaria risco à ordem
pública, notadamente se considerada a gravidade concreta da conduta
atribuída ao Agravante, haja vista a apreensão de droga, em
quantidade e variedade, que denotam o envolvimento, ao menos em
tese, do Agravante com a mercancia ilícita de substâncias
entorpecentes;
nesse sentido, consta que foram encontradas, no contexto da
traficância desenvolvida, (422 porções de cocaína, 461 porções de
crack, 334 porções de maconha), além da apreensão de apetrechos
comuns à traficância, tais como balança de precisão e rádios
comunicadores, circunstâncias que evidenciam um maior desvalor da
conduta, a justificar a medida extrema em seu desfavor.
IV - A presença de circunstâncias pessoais favoráveis, tais como
primariedade, ocupação lícita e residência fixa, não tem o condão de
garantir a revogação da prisão se há nos autos elementos hábeis a
justificar a imposição da segregação cautelar, como na hipótese.
Pela mesma razão, não há que se falar em possibilidade de aplicação
de medidas cautelares diversas da prisão.
V - É assente nesta Corte Superior que o agravo regimental deve
trazer novos argumentos capazes de alterar o entendimento
anteriormente firmado, sob pena de ser mantida a r. decisão
vergastada pelos próprios fundamentos.
Precedentes.
Agravo regimental desprovido.
(AgRg no HC n. 770.279/SP, relator Ministro Jesuíno Rissato
(Desembargador Convocado do Tjdft), Quinta Turma, julgado em
18/10/2022, DJe de 28/10/2022.)

No mesmo sentido, o Supremo Tribunal Federal entende não obstante o trânsito em


julgado de sentença penal condenatória, as particularidades do caso autorizam a utilização do
Habeas Corpus como substitutivo de recurso próprio. Esse entendimento valoriza o Habeas
Corpus como um instrumento de defesa da liberdade de locomoção, quando os fatos se
mostrarem líquidos e certos.

EMENTA Habeas corpus. Penal. Posse ilegal de munição de uso


restrito. Artigo 16 da Lei nº 10.826/03. Condenação transitada em
julgado. Impetração utilizada como sucedâneo de revisão criminal.
Possibilidade em hipóteses excepcionais, quando líquidos e
incontroversos os fatos postos à apreciação da Corte. Precedente da
Segunda Turma. Cognoscibilidade do habeas corpus. Pretendido
reconhecimento do princípio da insignificância. Possibilidade, à luz
do caso concreto. Paciente que guardava em sua residência uma única
munição de fuzil (calibre 762). Ação que não tem o condão de gerar
perigo para a sociedade, de modo a contundir o bem jurídico tutelado
pela norma penal incriminadora. Precedentes. Atipicidade material da
conduta reconhecida. Ordem concedida. 1. A decisão que se pretende
desconstituir transitou em julgado, sendo o writ, portanto, manejado
como sucedâneo de revisão criminal (v.g. RHC nº 110.513/RJ,
Segunda Turma, Relator o Ministro Joaquim Barbosa, DJe de
18/6/12). 2. Todavia, a Segunda Turma (RHC nº 146.327/RS,
Relator o Ministro Gilmar Mendes, julgado em 27/2/18) assentou,
expressamente, a cognoscibilidade de habeas corpus manejado em
face de decisão já transitada em julgado em hipóteses excepcionais,
desde que líquidos e incontroversos os fatos postos à apreciação do
Supremo Tribunal Federal. 3. O conhecimento da impetração bem se
amolda ao julgado paradigma. 4. O paciente foi condenado pelo delito
de posse de munição de uso restrito (art. 16 da Lei nº 10.826/03),
sendo apenado em 3 (três) anos e 6 (seis) meses de reclusão em regime
fechado e ao pagamento de 11 dias-multa. 5. Na linha de precedentes,
o porte ilegal de arma ou munições é crime de perigo abstrato, cuja
consumação independente de demonstração de sua potencialidade
lesiva. 6. A hipótese retratada autoriza a mitigação do referido
entendimento, uma vez que a conduta do paciente de manter em sua
posse uma única munição de fuzil (calibre 762), recebida, segundo a
sentença, de amigos que trabalharam no Exército, não tem o condão
de gerar perigo para a sociedade, de modo a contundir o bem jurídico
tutelado pela norma penal incriminadora. 7. É certo que a sentença
condenatória reconheceu a reincidência do paciente. Porém, bem
apontou a Procuradoria-Geral da República que a questão “está
pendente de análise em sede de revisão criminal, porque, ao que
parece, a condenação que gerou a reincidência refere-se ao
homônimo ‘José Luiz da Silva Gonçalves’.” 8. Não há, portanto,
óbice à aplicação do princípio da insignificância na espécie, sendo de
rigor seu reconhecimento. 9. Ordem concedida para, em razão do
princípio da insignificância, reconhecer a atipicidade material da
conduta imputada ao paciente.
(HC 154390, Relator(a): DIAS TOFFOLI, Segunda Turma, julgado
em 17/04/2018, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-087 DIVULG
04-05-2018 PUBLIC 07-05-2018)

Conforme será observado, o caso vertente trata de ilegalidade no que se refere a tão
somente um aspecto da condenação e a partir de entendimento já consolidado pela doutrina e
pela jurisprudência.

III. DOSIMETRIA DA PENA. REDUÇÃO DA PENA EM QUANTIDADE


INFERIOR A FRAÇÃO MÍNIMA

III. 1. Da fixação da pena base. Redução da pena abaixo da determinação legal.


Desrespeito ao lapso legal de redução previsto no CP.
Na Comarca de Nova Lima/MG, o paciente foi denunciado, processado e condenado
à pena privativa de liberdade de 03 anos de reclusão pela suposta prática do crime previsto no
art. 16, IV, da Lei nº 10.826/2003.
Segundo a denúncia, o Paciente foi preso em flagrante enquanto portava um revólver
marca Taurus, calibre .32, sem numeração, sem autorização e em desacordo com a
determinação legal e regulamentar.
A denúncia acatou os termos da peça acusatória e o condenou nos mesmos termos. A
dosimetria da pena foi feita da seguinte forma:
1. Na primeira fase, foi reconhecida a circunstância judicial desfavorável dos
maus antecedentes, situação em que ocasionou o aumento da pena para 03
anos e 03 meses de reclusão.
2. Na segunda fase, foi reconhecida a agravante da reincidência, bem como a
atenuante da confissão espontânea. Dessa forma, ambas foram compensadas
entre si e a pena se manteve em 03 anos e 03 meses de reclusão.
3. Na terceira fase, foi reconhecido que o então sentenciado fazia jus a minorante
prevista no art. 26 do CP, consistente no desenvolvimento mental incompleto,
em razão do uso de drogas, a partir do laudo juntado aos autos. A Sentença
reduziu apenas 03 meses da reprimenda, estabelecendo-a em 03 anos de
reclusão.
Esta decisão foi integralmente mantida pela 4ª Câmara Criminal do TJMG.
Ocorre, Excelências, que o art. 26 do CP, bem como o art. 46 da Lei nº 11.343/2006,
estabelecem fração mínima e máxima de redução. No caso, “de um a dois terços”. Isso significa
que, ainda que fosse reduzida na fração mínima, a pena final teria que ser 02 anos e 02
meses. Afinal, 03 anos e 03 meses de reclusão, menos 1/3 de redução, considerando a menor
fração possível, é 02 anos e 02 meses.
É fato notório e claro que a pena não pode ser mantida tal como está pelo flagrante
desrespeito a um critério objetivo previsto em lei. Assim, requer, em caráter liminar, que o
acórdão seja restabelecido dentro dos parâmetros legais.

IV. DA LIMINAR
O periculum in mora verifica-se pelo receio que a demora da decisão judicial cause um
dano grave ou de difícil reparação ao bem tutelado. O fummus boni iuris verifica-se pela
comprovação clara de que o direito pleiteado existe.
A configuração do periculum in mora em conjunto com o fummus boni iuris, ambos
comprovados, permitem a correção deste aspecto da pena em caráter liminar.

PEDIDOS
Diante do exposto, requer o recebimento, processamento do presente Habeas
Corpus, com deferimento da medida liminar. Ao final, que ela mantida e concedida a ordem
em favor do Paciente.
Pede deferimento.

Belo Horizonte, 19 de abril de 2023.

Ana Beatriz da Silva Gomes


OAB: 188.826

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