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Coordenação: Prof.

Vinícius Reis

O material completo contém todos os temas de relevo


abordados pela jurisprudência do STF e do STJ, abrangendo
SOMENTE JULGADOS FAVORÁVEIS À DEFESA. Segue abaixo
capítulo referente ao PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA.

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PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA - STF
insignificância dependeria de um juízo de tipicidade
Segunda Turma conglobante. Considerou, então, que seria inegável a
Ementa: RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS presença, no caso, dos requisitos para aplicação do
CORPUS. PENAL. RECEPTAÇÃO. PRINCÍPIO DA referido postulado: mínima ofensividade da conduta;
INSIGNIFICÂNCIA. REPROVABILIDADE DA ausência de periculosidade social da ação; reduzida
CONDUTA. NÃO INCIDÊNCIA. ORDEM DENEGADA. reprovabilidade do comportamento; e
1. Segundo a jurisprudência do Supremo Tribunal inexpressividade da lesão jurídica. Afirmou, ademais,
Federal, para se caracterizar hipótese de aplicação que, considerada a teoria da reiteração não
do denominado “princípio da insignificância” e, cumulativa de condutas de gêneros distintos, a
assim, afastar a recriminação penal, é indispensável contumácia de infrações penais que não têm o
que a conduta do agente seja marcada por patrimônio como bem jurídico tutelado pela norma
ofensividade mínima ao bem jurídico tutelado, penal (a exemplo da lesão corporal) não poderia ser
reduzido grau de reprovabilidade, inexpressividade valorada como fator impeditivo à aplicação do
da lesão e nenhuma periculosidade social. 2. Nesse princípio da insignificância, porque ausente a séria
sentido, a aferição da insignificância como requisito lesão à propriedade alheia.
negativo da tipicidade envolve um juízo de tipicidade HC 114723/MG, rel. Min. Teori Zavascki, 26.8.2014.
conglobante, muito mais abrangente que a simples
expressão do resultado da conduta. Importa
investigar o desvalor da ação criminosa em seu Primeira Turma
sentido amplo, de modo a impedir que, a pretexto da Descaminho: princípio da insignificância e
insignificância apenas do resultado material, acabe atipicidade da conduta
desvirtuado o objetivo a que visou o legislador A 1ª Turma, por maioria, declarou extinto “habeas corpus”
quando formulou a tipificação legal. Assim, há de se pela inadequação da via processual, mas concedeu a
considerar que “a insignificância só pode surgir à luz ordem de ofício para trancar ação penal ante a
da finalidade geral que dá sentido à ordem atipicidade da conduta imputada ao paciente (CP, art.
normativa” (Zaffaroni), levando em conta também 334, “caput”). A Ministra Rosa Weber (relatora),
que o próprio legislador já considerou hipóteses de observou que, em se tratando de crime de
irrelevância penal, por ele erigidas, não para excluir a descaminho, a jurisprudência da Turma seria firme
tipicidade, mas para mitigar a pena ou a persecução no sentido de reconhecer a atipicidade da conduta
penal. 3. O caso envolve a prática do crime de se, além de o valor elidido ser inferior àquele
receptação mediante entrega de substância estabelecido pelo art. 20 da Lei 10.522/2002,
entorpecente, comportamento dotado de intenso atualizado por portaria do Ministério da Fazenda, não
grau de reprovabilidade, dados os bens jurídicos houvesse reiteração criminosa ou, ainda, introdução
envolvidos, o que impede a aplicação do princípio da de mercadoria proibida em território nacional. O
insignificância. 4. Recurso improvido. Ministro Roberto Barroso, embora acompanhasse a
(RHC 126980, Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKI, relatora, ressaltou a existência de julgados da Turma
Segunda Turma, julgado em 03/11/2015, PROCESSO afastando, no tocante ao patrimônio privado, a aplicação
ELETRÔNICO DJe-234 DIVULG 19-11-2015 PUBLIC do princípio da bagatela quando a “res” alcançasse o
20-11-2015) valor de R$500,00. Assim, não seria coerente decidir-se
em sentido contrário quando se buscasse proteger a
Segunda Turma coisa pública em valores de até R$20.000,00. Ademais,
Princípio da insignificância e reincidência genérica aduziu que, ao se adotar o entendimento de que o
A 2ª Turma concedeu “habeas corpus” para restabelecer princípio da insignificância acarretaria a atipicidade da
sentença de primeiro grau, na parte em que reconhecera conduta, o cometimento anterior de delitos similares não
a aplicação do princípio da insignificância e absolvera o se mostraria apto para afastar o aludido princípio, uma
ora paciente da imputação de furto (CP, art. 155). Na vez que a atipicidade da conduta não poderia gerar
espécie, ele fora condenado pela subtração de um reincidência. Vencido o Ministro Marco Aurélio, que
engradado com 23 garrafas de cerveja e seis de conhecia do “writ”, porém negava a ordem por vislumbrar
refrigerante — todos vazios, avaliados em R$ 16,00 —, que o objeto jurídico protegido pelo art. 334 do CP seria
haja vista que o tribunal de justiça local afastara a a Administração Pública e não apenas o erário.
incidência do princípio da bagatela em virtude de anterior Considerava, ainda, que as esferas cível e penal seriam
condenação, com trânsito em julgado, pela prática de independentes e que adotar portaria do Ministério da
lesão corporal (CP, art. 129). A Turma, de início, Fazenda como parâmetro para se aferir eventual
reafirmou a jurisprudência do STF na matéria para cometimento do delito seria permitir que o Ministro da
consignar que a averiguação do princípio da Fazenda legislasse sobre direito penal.
2
HC 121717/PR, rel. Min. Rosa Weber, 3.6.2014. de segurança. Dessa forma, o magistrado considerara
que o desvalor — insegurança — não estaria
demonstrado, e essa prova seria essencial para
Segunda Turma constatação do fato típico. Contra essa decisão, fora
Princípio da insignificância: alteração de valores por interposto recurso em sentido estrito para o TRF que,
portaria e execução fiscal provido, determinara o recebimento da denúncia. O STJ
A 2ª Turma, em julgamento conjunto, deferiu “habeas mantivera esse entendimento — v. Informativo 734. A
corpus” para restabelecer as sentenças de primeiro Turma assentou a ausência, na espécie, de
grau que, com fundamento no CPP (“Art. 397. Após o comprovação da materialidade delitiva da infração penal.
cumprimento do disposto no art. 396-A, e parágrafos, Ressaltou que não teria sido constatada a lesão aos bens
deste Código, o juiz deverá absolver sumariamente o jurídicos penalmente tutelados. Considerou, entretanto,
acusado quando verificar: ... III - que o fato narrado que o Poder Público poderia ter outro tipo de atuação,
evidentemente não constitui crime”), reconheceram como, por exemplo, a via administrativa. Vencidos os
a incidência do princípio da insignificância e Ministros Teori Zavascki e Gilmar Mendes, que negavam
absolveram sumariamente os pacientes. Na espécie, provimento ao recurso. O primeiro consignava que a falta
os pacientes foram denunciados como incursos nas de elementos que comprovassem que a rádio
penas do art. 334, § 1º, d, c/c o § 2º, ambos do CP comunitária interferia, ou não, na segurança não seria
(contrabando ou descaminho). A Turma observou motivo para rejeitar a denúncia por insignificância.
que o art. 20 da Lei 10.522/2002 determinava o Destacava que essa prova poderia e deveria ser
arquivamento das execuções fiscais, sem realizada no curso da ação penal. O Ministro Gilmar
cancelamento da distribuição, quando os débitos Mendes aduzia que a instalação de estação clandestina
inscritos como dívidas ativas da União fossem iguais de radiofrequência, sem autorização do órgão
ou inferiores a R$ 10.000,00. Destacou que, no curso competente, seria suficiente para comprometer a
dos processos, advieram as Portarias 75/2012 e regularidade do sistema de telecomunicações.
130/2012, do Ministério da Fazenda, que atualizaram Sublinhava que o legislador buscara tutelar a segurança
os valores para R$ 20.000,00. Asseverou que, por se dos meios de comunicação, especialmente para evitar
tratar de normas mais benéficas aos réus, deveriam interferência em diversos sistemas como, por exemplo, o
ser imediatamente aplicadas, nos termos do art. 5º, aéreo. Assim, seria prescindível a comprovação de
XL, da CF. Aduziu que, nesses julgados, além de o prejuízo efetivo para a consumação do delito.
valor correspondente ao não recolhimento dos RHC 119123/MG, rel. Min. Cármen Lúcia, 11.3.2014.
tributos ser inferior àquele estabelecido pelo
Ministério da Fazenda, a aplicação do princípio da
bagatela seria possível porque não haveria reiteração Segunda Turma
criminosa ou introdução, no País, de produto que Princípio da insignificância e reincidência
pudesse causar dano à saúde. Os Ministros Teori A 2ª Turma deu provimento a recurso ordinário em
Zavascki e Cármen Lúcia concederam a ordem com habeas corpus para trancar ação penal, ante
ponderações. O Ministro Teori Zavascki salientou o fato aplicação do princípio da insignificância. No caso, o
de portaria haver autorizado e dobrado o valor da paciente subtraíra dois frascos de desodorante
dispensa de execução. A Ministra Cármen Lúcia avaliados em R$ 30,00. Após a absolvição pelo juízo de
observou que “habeas corpus” não seria instrumento origem, o Tribunal de Justiça deu provimento à apelação
hábil a apurar valores. do Ministério Público para condenar o réu à pena de 1
HC 120620/RS e HC 121322/PR, rel. Min. Ricardo ano e 4 meses de reclusão, em regime inicial fechado,
Lewandowski, 18.2.2014. pela prática do delito previsto no art. 155, caput, do CP.
A Turma destacou que o prejuízo teria sido insignificante
e que a conduta não causara ofensa relevante à ordem
Segunda Turma social, a incidir, por conseguinte, o postulado da
Princípio da insignificância e rádio comunitária de bagatela. Consignou-se que, a despeito de estar patente
baixa potência a existência da tipicidade formal, não incidiria, na
Em conclusão de julgamento, a 2ª Turma, por espécie, a material, que se traduziria na lesividade
maioria, proveu recurso ordinário em habeas corpus efetiva. Sublinhou- se, ainda, a existência de registro de
para conceder a ordem e restabelecer a rejeição da duas condenações transitadas em julgado em desfavor
denúncia proferida pelo juízo de origem. No caso, o do paciente por crime de roubo. Afirmou-se que,
magistrado de 1º grau aplicara o princípio da embora o entendimento da Turma afastasse a
insignificância ao crime descrito no art. 183 da Lei aplicação do princípio da insignificância aos
9.472/1997 (desenvolver clandestinamente atividade acusados reincidentes ou de habitualidade delitiva
de telecomunicação), por não haver prova pericial comprovada, cabível, na espécie, a sua incidência,
que constatasse, in loco, que a rádio comunitária tendo em conta as circunstâncias próprias do caso:
operara com potência efetiva radiada acima do limite valor ínfimo, bens restituídos, ausência de violência
3
e cumprimento de cinco meses de reclusão está subordinado o seu exercício”). Com base nesse
(contados da data do fato até a prolação da entendimento, a 2ª Turma concedeu habeas corpus para
sentença). Assim, reconheceu-se a atipicidade da restabelecer decisão de 1º grau, que rejeitara a peça
conduta perpetrada pelo recorrente. Os Ministros acusatória por falta de “... pressuposto processual ou
Cármen Lúcia e Ricardo Lewandowski assinalavam condição para o exercício da ação penal” (CPP, art. 395,
acompanhar o relator em razão da peculiar situação de o II). Verificou-se a presença de requisitos para a aplicação
réu ter ficado preso durante o período referido. RHC do princípio da insignificância, a reconhecer a atipicidade
113773/MG, rel. Min. Gilmar Mendes, 27.8.2013. material do comportamento dos pacientes. Reputou-se
minimamente ofensiva e de reduzida reprovabilidade a
conduta. Destacou-se que a tipificação em debate teria
Segunda Turma por finalidade garantir que as profissões fossem
“Flanelinha” e registro de profissão exercidas por profissionais habilitados e, no caso
O guardador ou lavador autônomo de veículos daqueles conhecidos por “flanelinhas”, a falta de registro
automotores não registrado na Superintendência no órgão competente não atingiria, de forma significativa,
Regional do Trabalho e Emprego - SRTE, nos termos o bem jurídico penalmente protegido. Nessa senda,
fixados pela Lei 6.242/75, não pode ser denunciado considerou-se que, se ilícito houvera, aproximar-se-ia do
pela suposta prática de exercício ilegal da profissão de caráter administrativo. HC 115046/MG, rel. Min.
(Lei das Contravenções Penais: “Art. 47. Exercer Ricardo Lewandowski, 19.3.2013.
profissão ou atividade econômica ou anunciar que a
exerce, sem preencher as condições a que por lei

PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA - STJ


Sexta Turma e da intervenção mínima do Estado em matéria penal
HABEAS CORPUS. IMPETRAÇÃO SUBSTITUTIVA DE - tem o sentido de excluir ou de afastar a própria
RECURSO ESPECIAL. IMPROPRIEDADE DA VIA tipicidade penal, examinada na perspectiva de seu
ELEITA. FURTOS QUALIFICADOS. CONTINUIDADE caráter material.
DELITIVA. NULIDADE. INOCORRÊNCIA. NÃO (...) Tal postulado - que considera necessária, na
DEMONSTRAÇÃO DO PREJUÍZO. PAS DE NULLITÉ aferição do relevo material da tipicidade penal, a
SANS GRIEF. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. NÃO presença de certos vetores, tais como (a) a mínima
INCIDÊNCIA. VALOR DO BEM. ATIPICIDADE ofensividade da conduta do agente, (b) a nenhuma
MATERIAL. NÃO OCORRÊNCIA. ART. 155, § 2.º, DO periculosidade social da ação, (c) o reduzidíssimo
CÓDIGO PENAL. FURTO PRIVILEGIADO. grau de reprovabilidade do comportamento e (d) a
POSSIBILIDADE. PACIENTE PRIMÁRIO. RES inexpressividade da lesão jurídica provocada -
FURTIVA. VALOR INFERIOR A UM SALÁRIO MÍNIMO. apoiou-se, em seu processo de formulação teórica,
QUALIFICADORA OBJETIVA. REQUISITOS no reconhecimento de que o caráter subsidiário do
PREENCHIDOS. SÚMULA 511/STJ. NÃO sistema penal reclama e impõe, em função dos
CONHECIMENTO. ORDEM DE OFÍCIO. próprios objetivos por ele visados, a intervenção
1. Tratando-se de habeas corpus substitutivo de mínima do Poder Público." (HC nº 84.412-0/SP, STF,
recurso especial, inviável o seu conhecimento. Min. Celso de Mello, DJU 19.11.2004) 4. Não é
2. Não há falar em nulidade pela proximidade da data insignificante a conduta de furtar uma máquina de
da audiência se foi certificado que o paciente, há serrar e acessórios, no valor de R$ 230,00, mediante
vários meses, não residia no endereço anteriormente escalada.
declinado. Assim, mesmo se procurado com mais 5. Para a concessão do benefício do privilégio no
antecedência não teria sido localizado, o que crime de furto, exige-se que o agente seja primário e
evidencia a ausência de qualquer prejuízo. Incide o de pequeno valor a res furtiva, ou seja, a importância
art. 563 do Código de Processo Penal (pas de nullité do bem não deve ultrapassar um salário mínimo. Nos
sans grief). termos da Súmula 511 desta Corte, é cabível o
3. Consoante entendimento jurisprudencial, o
"princípio da insignificância - que deve ser analisado
em conexão com os postulados da fragmentaridade
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benefício mesmo no caso de crime qualificado, desde também em razão do grau de afetação da ordem
que a qualificadora seja de ordem objetiva. social.
6. Hipótese em que o paciente é primário e o valor do In casu, o agravado foi denunciado pela tentativa de
bem é inferior ao salário mínimo vigente na data do furto de 02 frascos de colírio e 01 antitranspirante,
delito. A qualificadora aplicada é de ordem objetiva avaliados em R$ 23,77 (vinte e três reais e setenta e
(concurso de agentes). E as circunstâncias judiciais sete centavos).
foram consideradas favoráveis, com a fixação da Apesar de possuir condenação com trânsito em
pena-base no mínimo legal. Em razão da julgado não ficou demonstrada a presença de lesão
qualificadora, razoável a redução da reprimenda no significativa ao bem jurídico tutelado que justifique a
patamar de 1/3 (um terço). intervenção do Direito Penal, sendo imperioso o
7. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida, reconhecimento da atipicidade material da conduta,
de ofício, a fim de aplicar o benefício previsto no § 2.° com a consequente absolvição do agravado, como
do art. 155 do Código Penal, e, por conseguinte, bem reconheceu o acórdão estadual.
reduzir a pena do paciente para 1 (um) ano, 6 (seis) Agravo regimental desprovido.
meses e 20 (vinte) dias de reclusão, mais 7 (sete) (AgRg no REsp 1467140/MG, Rel. Ministro ERICSON
dias-multa, mantidos os demais termos da sentença MARANHO (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO
e do acórdão. TJ/SP), SEXTA TURMA, julgado em 19/11/2015, DJe
(HC 324.809/SP, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE 03/12/2015)
ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em
01/12/2015, DJe 11/12/2015)
Sexta Turma
HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO
Sexta Turma ORDINÁRIO. DESCABIMENTO. FURTO TENTADO.
PENAL E PROCESSO PENAL. AGRAVO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. APLICAÇÃO. RES
REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. TENTATIVA FURTIVA AVALIADA EM R$ 28,16 (VINTE E OITO
DO CRIME DE FURTO. PRINCÍPIO DA REAIS E DEZESSEIS CENTAVOS). RESTITUIÇÃO AO
INSIGNIFICÂNCIA. INCIDÊNCIA, NA ESPÉCIE. RES PATRIMÔNIO DA VÍTIMA. ATIPICIDADE MATERIAL
FURTIVA AVALIADA EM R$ 23,77 (VINTE E TRÊS DA CONDUTA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL
REAIS E SETENTA E SETE CENTAVOS). EVIDENCIADO. HABEAS CORPUS NÃO
IRRELEVÂNCIA DA CONDUTA NA ESFERA PENAL, CONHECIDO. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO.
NÃO OBSTANTE TRATAR-SE DE RÉU COM - O Superior Tribunal de Justiça, seguindo
CONDENAÇÃO TRANSITADA EM JULGADO. entendimento firmado pelo Supremo Tribunal Federal
AGRAVO DESPROVIDO. - STF, passou a não admitir o conhecimento de
O Supremo Tribunal Federal já consagrou o habeas corpus substitutivo de recurso previsto para
entendimento de que, para a aplicação do princípio a espécie. No entanto, deve-se analisar o pedido
da insignificância, devem estar presentes, de forma formulado na inicial, tendo em vista a possibilidade
cumulada, os seguintes requisitos: a) mínima de se conceder a ordem de ofício, em razão da
ofensividade da conduta do agente; b) nenhuma existência de eventual coação ilegal.
periculosidade social da ação; c) reduzido grau de - O Supremo Tribunal Federal, no que foi seguido por
reprovabilidade do comportamento do agente; e d) esta Corte Superior, pacificou o entendimento de que
inexpressividade da lesão jurídica provocada (STF, para a aplicação do princípio da insignificância, que
HC n. 112.378/SP, Segunda Turma, Relator Ministro deverá ser analisado conjuntamente com os princípio
Joaquim Barbosa, DJe 18/9/2012). da fragmetaridade e da intervenção mínima, será
Em precedentes de ambas as Turmas que compõem observada a presença dos seguintes vetores: a)
a Terceira Seção, tem-se admitido a aplicação do mínima ofensividade da conduta do agente; b)
princípio da insignificância quando, no exame do nenhuma periculosidade social da ação; c) reduzido
caso concreto, resta evidenciada a ínfima lesividade grau de reprovabilidade do comportamento do
da conduta ao bem jurídico tutelado. Isso se dá em agente; e d) inexpressividade da lesão jurídica
observância aos princípios da fragmentariedade e da provocada (STF, HC n. 107.689/RS, Ministro Luiz Fux,
intervenção mínima, segundo os quais o Direito Primeira Turma, DJe 7/3/2012).
Penal deve intervir somente nos casos em que a - Na hipótese, o paciente, primário e com bons
conduta ocasionar lesão jurídica de certa gravidade. antecedentes, foi denunciado por tentar furtar um
Nesse sentido, deve ser reconhecida a atipicidade creme de barbear da marca Nívea e um creme dental
material de perturbações jurídicas mínimas ou leves, da marca Sensodine, avaliados em R$ 28,16 (Vinte e
consideradas não só no aspecto econômico, mas oito reais e dezesseis centavos), não ficando
demonstrada a presença de lesão significativa ao
bem jurídico tutelado que justifique a intervenção do
Direito Penal, sendo, portanto, imperioso o

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reconhecimento da atipicidade material da conduta, surgem para evitar situações dessa natureza, atuando
com o restabelecimento da decisão de primeiro grau como instrumentos de interpretação restrita do tipo penal.
que absolveu sumariamente o paciente das Posto isso, conveniente trazer à colação excerto de
imputações contidas na denúncia. julgado do STF (HC 98.152-MG, DJ 5/6/2009), no qual
Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida de foram apresentados os requisitos necessários para a
ofício para restabelecer a decisão de primeiro grau. aferição do relevo material da tipicidade penal: “O
(HC 323.551/SP, Rel. Ministro ERICSON MARANHO postulado da insignificância – que considera necessária,
(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/SP), na aferição do relevo material da tipicidade penal, a
SEXTA TURMA, julgado em 18/06/2015, DJe presença de certos vetores, tais como (a) a mínima
30/06/2015) ofensividade da conduta do agente, (b) a nenhuma
periculosidade social da ação, (c) o reduzidíssimo grau
de reprovabilidade do comportamento e (d) a
Sexta Turma inexpressividade da lesão jurídica provocada – apoiou-
DIREITO PENAL. HIPÓTESE DE APLICAÇÃO DO se, em seu processo de formulação teórica, no
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. reconhecimento de que o caráter subsidiário do sistema
Aplica-se o princípio da insignificância à conduta penal reclama e impõe, em função dos próprios objetivos
formalmente tipificada como furto tentado por ele visados, a intervenção mínima do Poder Público
consistente na tentativa de subtração de chocolates, em matéria penal”. Na hipótese em análise, verifica-se a
avaliados em R$ 28,00, pertencentes a um presença dos referidos vetores, de modo a atrair a
supermercado e integralmente recuperados, ainda incidência do princípio da insignificância. AgRg no RHC
que o réu tenha, em seus antecedentes criminais, 44.461-RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado
registro de uma condenação transitada em julgado em 27/5/2014.
pela prática de crime da mesma natureza. A
intervenção do Direito Penal há de ficar reservada
para os casos realmente necessários. Para o Sexta Turma
reconhecimento da insignificância da ação, não se pode PENAL E PROCESSO PENAL. AGRAVO
levar em conta apenas a expressão econômica da lesão. REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. CRIME
Todas as peculiaridades do caso concreto devem ser AMBIENTAL. ATIPICIDADE. PRINCÍPIO DA
consideradas, como, por exemplo, o grau de INSIGNIFICÂNCIA MATÉRIA EMINENTEMENTE
reprovabilidade do comportamento do agente, o valor do FÁTICA. SÚMULA 7/STJ.
objeto, a restituição do bem, a repercussão econômica 1. Predomina nesta Corte entendimento no sentido
para a vítima, a premeditação, a ausência de violência e da possibilidade de aplicação do princípio da
o tempo do agente na prisão pela conduta. Nem a insignificância aos crimes ambientais, devendo ser
reincidência nem a reiteração criminosa, tampouco a analisadas as circunstâncias específicas do caso
habitualidade delitiva, são suficientes, por si sós e concreto para se verificar a atipicidade da conduta
isoladamente, para afastar a aplicação do denominado em exame.
princípio da insignificância. Nesse contexto, não obstante 2. O acolhimento da pretensão recursal, a fim de se
a certidão de antecedentes criminais indicar uma reformar o aresto que, com base no aludido princípio,
condenação transitada em julgado em crime de mesma concluiu que a conduta em análise seria atípica,
natureza, na situação em análise, a conduta do réu não demandaria a alteração das premissas fático-
traduz lesividade efetiva e concreta ao bem jurídico probatórias estabelecidas na instância ordinária, o
tutelado. Ademais, há de se ressaltar que o mencionado que é vedado em sede de recurso especial, nos
princípio não fomenta a atividade criminosa. São outros termos do enunciado da Súmula 7/STJ.
e mais complexos fatores que, na verdade, têm instigado 3. Agravo regimental improvido.
a prática delitiva na sociedade moderna. HC 299.185-SP, (AgRg no REsp 1446768/ES, Rel. Ministra MARIA
Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 9/9/2014. THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA,
julgado em 17/03/2015, DJe 24/03/2015)

Quinta Turma
DIREITO PENAL. APLICABILIDADE DO PRINCÍPIO Sexta Turma
DA INSIGNIFICÂNCIA. DIREITO PENAL. ATIPICIDADE MATERIAL DA
Aplica-se o princípio da insignificância à conduta CONDUTA NO CRIME DE FURTO.
formalmente tipificada como furto consistente na Aplica-se o princípio da insignificância à conduta
subtração, por réu primário e sem antecedentes, de formalmente tipificada como furto consistente na
um par de óculos avaliado em R$ 200,00. A lei penal subtração, por réu primário, de bijuterias avaliadas
não deve ser invocada para atuar em hipóteses em R$ 40 pertencentes a estabelecimento comercial
desprovidas de significação social, razão pela qual os e restituídas posteriormente à vítima. De início, há
princípios da insignificância e da intervenção mínima possibilidade de, a despeito da subsunção formal de

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um tipo penal a uma conduta humana, concluir-se


pela atipicidade material da conduta, por diversos
motivos, entre os quais a ausência de ofensividade Quinta Turma
penal do comportamento verificado. Vale lembrar DIREITO PENAL. APLICABILIDADE DO PRINCÍPIO
que, em atenção aos princípios da fragmentariedade DA INSIGNIFICÂNCIA AO FURTO DE BEM CUJO
e da subsidiariedade, o Direito Penal apenas deve ser VALOR SEJA DE POUCO MAIS DE 23% DO SALÁRIO
utilizado contra ofensas intoleráveis a determinados MÍNIMO DA ÉPOCA.
bens jurídicos e nos casos em que os demais ramos Sendo favoráveis as condições pessoais do agente,
do Direito não se mostrem suficientes para protegê- é aplicável o princípio da insignificância em relação à
los. Dessa forma, entende-se que o Direito penal não conduta que, subsumida formalmente ao tipo
deve ocupar-se de bagatelas. Nesse contexto, para que
correspondente ao furto simples (art. 155, caput, do
o magistrado possa decidir sobre a aplicação do princípio
da insignificância, faz-se necessária a ponderação do CP), consista na subtração de bem móvel de valor
conjunto de circunstâncias que rodeiam a ação do agente equivalente a pouco mais de 23% do salário mínimo
para verificar se a conduta formalmente descrita no tipo vigente no tempo do fato. Nessa situação, ainda que
penal afeta substancialmente o bem jurídico tutelado. ocorra a perfeita adequação formal da conduta à lei
Nessa análise, no crime de furto, avalia-se notadamente: incriminadora e esteja comprovado o dolo do agente,
a) o valor do bem ou dos bens furtados; b) a situação inexiste a tipicidade material, que consiste na relevância
econômica da vítima; c) as circunstâncias em que o crime
penal da conduta e do resultado produzido. Assim, em
foi perpetrado, é dizer, se foi de dia ou durante o repouso
noturno, se teve o concurso de terceira pessoa, casos como este, a aplicação da sanção penal configura
sobretudo adolescente, se rompeu obstáculo de indevida desproporcionalidade, pois o resultado jurídico
considerável valor para a subtração da coisa, se abusou – a lesão produzida ao bem jurídico tutelado – há de ser
da confiança da vítima etc.; e d) a personalidade e as considerado como absolutamente irrelevante. AgRg no
condições pessoais do agente, notadamente se HC 254.651-PE, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em
demonstra fazer da subtração de coisas alheias um meio 12/3/2013.
ou estilo de vida, com sucessivas ocorrências
(reincidente ou não). Assim, caso seja verificada a
inexpressividade do comportamento do agente, fica
afastada a intervenção do Direito Penal. Precedentes
citados do STJ: AgRg no REsp 1.400.317-MG, Sexta
Turma, DJe 13/12/2013; HC 208.770-RJ, Sexta Turma,
DJe 12/12/2013. Precedentes citados do STF: HC
115.246-MG, Segunda Turma, DJe 26/6/2013; HC
109.134-RS, Segunda Turma, DJe 1º/3/2012. HC
208.569-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado
em 22/4/2014.

Sexta Turma
DIREITO PENAL. APLICABILIDADE DO PRINCÍPIO
DA INSIGNIFICÂNCIA NA HIPÓTESE DE ACUSADO
REINCIDENTE OU PORTADOR DE MAUS
ANTECEDENTES.
Ainda que se trate de acusado reincidente ou
portador de maus antecedentes, deve ser aplicado o
princípio da insignificância no caso em que a
conduta apurada esteja restrita à subtração de 11
latas de leite em pó avaliadas em R$ 76,89
pertencentes a determinado estabelecimento
comercial. Nessa situação, o fato, apesar de se adequar
formalmente ao tipo penal de furto, é atípico sob o
aspecto material, inexistindo, assim, relevância jurídica
apta a justificar a intervenção do direito penal. HC
250.122-MG, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em
2/4/2013.

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