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"HABEAS CORPUS"
I. BREVE HISTÓRICO
O processo a que se refere consistiu na exasperação para o patamar de 06 anos
e 10 meses de reclusão a ser cumprida em regime inicial fechado, pelo delito previsto no art.
33, caput, da Lei nº 11.343/2006
Este quantum foi fixado pelo acórdão ao acolher pleito ministerial. Desta decisão,
não houve sequer interposição de recursos aos tribunais superiores pela defesa do Paciente.
Agora, ante a impossibilidade de se interpor qualquer recurso e, havendo
flagrante violação ao direito do Paciente, a interposição de Habeas Corpus é a medida
adequada ao caso.
É o relato.
III.I. Da incidência dos maus antecedentes – findo período depurador – grande lapso
temporal – crime diverso – possibilidade de reconhecer o ‘tráfico privilegiado’ e/ou
reduzir a pena base
O caso em tela, versa sobre a suposta prática de tráfico de drogas, em que o
Paciente trazia consigo 02 pinos de cocaína, pesando 0,60g, 22 pedras de crack, pesando 6,80g
e 29 buchas de maconha, pesando 42,70g, além de R$ 80,00 em espécie, flagrado no dia
28/02/2019.
Ao ser levado a julgamento, tanto a sentença quanto o acórdão consideram o
então Paciente portador de maus antecedentes, haja vista essa circunstância abranger
condenações definitivas, já transitadas, mesmo havendo passado o período depurador.
Segundo certidão de antecedentes, trata-se dos autos nº 0009776-
08.2006.8.13.0024, pelo delito de roubo majorado, perpetrado no dia 03/02/2006, o qual
fixou a pena de 06 anos, 02 meses e 20 dias. Este processo tramitou até o trânsito, quando
foi enviado para a execução, sete meses depois, em 15/09/2006. A pena foi integralmente
cumprida em 21/10/2011.
Segue registro da certidão de antecedentes.
Ocorre, Excelências, que ainda que tenha os requisitos para considerar o
Paciente possuidor de maus antecedentes, esta Corte no AgRg no AREsp 924.174/DF, de
relatoria do Ministro Nefi Cordeiro, ressalvou aspectos essenciais e particulares do caso
concreto.1
Quando se trata do reconhecimento da modalidade de tráfico privilegiado, a
política criminal tem como ponto nodal beneficiar o ‘traficante de primeira viagem’, aquele
indivíduo que não possui dedicação ao crime e não faz dele seu meio de vida. Isso significa
que infratores reiterados da lei devem ter uma aplicação mais severa da pena em detrimento
de outro indivíduo que nunca exerceu essa prática.
No caso em tela, o Paciente chegou a ser condenado anteriormente. Todavia, o
novo fato tem duas particularidades: a primeira delas é o lapso temporal considerável entre
o fim do período depurador e o novo delito. Passaram-se 08 anos no total sem que tenha
sido feito nenhum registro em seu desfavor. Ademais, embora grave, não foi condenado pelo
crime de tráfico, o que indica a sua não reiterada prática de narcotráfico.
1
Em conclusão, o vetor dos antecedentes é o que se refere única e exclusivamente ao histórico
criminal do agente. "O conceito de maus antecedentes, por ser mais amplo do que o da reincidência,
abrange as condenações definitivas, por fato anterior ao delito, transitadas em julgado no curso da
ação penal e as atingidas pelo período depurador, ressalvada casuística constatação de grande período
de tempo ou pequena gravidade do fato prévio" (STJ, AgRg no AREsp 924.174/DF, Rel. Ministro
NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 06/12/2016, DJe 16/12/2016).
Ademais, é que se considerar bastante severa e desproporcional o
reconhecimento de uma única circunstância, a qual, como dito, venceu o período depurador
há um longo tempo, ter sido tão sopesada em desfavor do Paciente com tamanha severidade
em duas ocasiões. Em uma oportunidade, para negar o tráfico privilegiado daquele que nunca
foi autuado por tráfico e em outra oportunidade que é simplesmente aumentar a pena base.
O parágrafo 4º, do art. 33, da lei de drogas tem uma finalidade político criminal.
A finalidade é bastante clara. Busca separar o traficante contumaz e potencialmente lesivo a
saúde pública, possuidor de condições intelectuais e materiais de abastecer e reabastecer o
mercado e, como consequência, recrutar soldados, daquele que não passa de um mero
instrumento do narcotráfico, facilmente substituível e sem identidade.
As circunstâncias essenciais descritas pelo §4º devem ser lidas sob a ótica
político-criminal de combate ao tráfico. Dessa forma, o reincidente, com as características
constitutivas previstas em lei, o membro da organização e associação criminosa, que atua de
forma ordenada e conjunta com os demais, aquele que comprovadamente faz do tráfico seu
meio de vida e os portadores de maus antecedentes, devem estar no mesmo nível.
Não condiz com política criminal incriminar com o tipo hediondo aquele sujeito
que não possui nenhuma das características do §4º e tudo que tem em seu desfavor é uma
condenação, por delito diverso do tráfico, o qual terminou de cumprir a pena há 08 anos.
Assim, ante as particularidades do caso concreto, faz-se patente que os maus
antecedentes verificados na certidão sejam desconsiderados nas duas hipóteses em que foram
aplicados ou, em uma delas, caso seja o entendimento de Vossas Excelências.
III.II. Da possibilidade de reduzir a pena base pela quantidade e qualidade de drogas
– ausência de excesso – reprovabilidade já definida na pena abstratamente cominada
Conforme acórdão, o Paciente trazia consigo 02 pinos de cocaína, pesando
0,60g, 22 pedras de crack, pesando 6,80g e 29 buchas de maconha, pesando 42,70g. A partir
dessa apreensão, o julgador decidiu por bem exasperar a pena base nos moldes do art. 42 da
Lei nº 11.343/2006. Ao fazer essa majoração em conjunto com os maus antecedentes, fixou
a pena base em 06 anos e 10 meses, o equivalente a 3/8 de 05 anos.
V. DO PEDIDO
Diante de todo exposto, pede-se que seja conhecido este habeas corpus e dado
provimento para reformar a decisão coatora, concedendo-se a ordem a fim de que seja
reconhecido o excesso da dosimetria da pena e restabelecido nos patamares legítimos.
Pede deferimento.