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EXMO SR DESEMBARGADOR-PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

DE BELO HORIZONTE/MG

Processo de nºxxxxxxx

FULANO DE TAL, já qualificado nos autos do habeas corpus epígrafado, vem


respeitosamente à presença de Vossa Excelência, tempestivamente, por
intermédio de seu advogado que esta subscreve, inconformado com o acordão,
interpor, com fundamento no Artigo 102, inciso III, alínea a da Constituição
Federal o presente

RECURSO EXTRAORDINÁRIO

Requer seja recebido e processado o recurso, com o encaminhamento das


inclusas razões ao Colendo Superior Tribunal de Federal.

Nestes termos,

pede e espera deferimento.

LOCAL, 09/12/2022.

ADVOGADO

OAB n° …. – UF.
RAZÕES DE RECURSO EXTRAORDINARIO

RECORRENTE: FULANO DE TAL

RECORRIDO: JUSTIÇA PÚBLICA

ORIGEM: TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS

EGRÉGIO SUPERIOR TRIBUNAL FEDERAL

COLENDA TURMA

ILUSTRES MINISTROS

Deve ser reformado o venerando acórdão recorrido que denegou a concessão


da ordem de “habeas corpus” ao recorrente, pelas razões a seguir expostas:

I – DOS FATOS

O réu fora preso em flagrante por ter aplicado vários golpes consistentes no
furto eletrônico, mais precisamente o delito chamado de “golpe do PIX”. Em
audiência de custódia realizada após dois meses do fato, foi requerido o
relaxamento da prisão em flagrante, na forma do artigo 310, Código de
Processo Penal, tendo em vista o descumprimento do prazo legal e por conta
da ausência de preenchimento dos requisitos do artigo 312, do Código de
Processo Penal.

Todavia, após parecer do Ministério Público pela conversão da prisão em


flagrante em prisão preventiva.
Após, o Juiz da 1ª Vara Criminal da Capital enviou os autos para o Ministério
Público analisar a possibilidade de ofertar a denúncia ministerial, o que fora
feito.

O Magistrado, antes de decidir sobre o processamento ou não do fato, deu


vista a defesa.

A citação para tal defesa ocorrera em 08/09/22.

Em sequência ao feito, o Juiz iniciou pela oitiva do acusado, depois ouviu as


testemunhas de acusação e de defesa, ouvindo-se, ao final, as vítimas dos
fatos.

A Defesa pugnou, como diligência, pela juntada dos computadores das vítimas,
de forma a identificar melhor toda a trama criminosa e com o fito de satisfazer o
contraditório e a ampla defesa, o que foi negado pelo Juiz, pois disse que em
nada mudaria o panorama processual, sem pormenorizar de forma mais
embasada a sua negativa.

Encerrada a instrução, o Ministério Público ofertou suas alegações finais


escritas em forma de memoriais e pediu a condenação do acusado da mesma
forma que havia feito na peça inaugural (denúncia).

A defesa do acusado foi intimada no dia 14/10/2022, sexta-feira.

Todavia, por ocasião da sentença, o Magistrado condenou o acusado nos


exatos termos da denúncia ministerial, entendendo o seguinte: 1) O princípio
da consunção não tem aplicação quando os bens jurídicos são diversos,
devendo ser o acusado condenado pelos crimes do artigo 154-A e 171,
parágrafo 2º-A, CP; 2) A continuidade delitiva deve ser afastada, uma vez que
os crimes foram cometidos contra vítimas diferentes, devendo incidir a soma
das penas do artigo 69, CP; 3) Não há que se falar em nulidade quanto ao
indeferimento da diligência, eis que se aplica o princípio do livre convencimento
do Juiz; 4) Quanto ao conteúdo das conversas interceptadas e seu uso, o
Magistrado entendeu que elas eram relevantes e comprovavam o envolvimento
dele com os crimes narrados na exordial e, com base na proteção do bem
comum e dos futuros usuários de computadores que poderiam vir a ser vítimas,
faz-se imperioso que elas sejam consideradas por ocasião da sentença
condenatória.

A Defesa foi intimada 14/11/2022 (terça-feira).

Foi interposto recurso de apelação para o Tribunal de Justiça, requerendo-se o


reconhecimento das nulidades anteriormente citadas e o reconhecimento das
teses defensivas aludidas. Todavia, o acórdão proferido pela instância recursal
foi no seguinte teor: 4 Os Desembargadores reconhecem que: 1) o
indeferimento de diligências por parte do Magistrado sem qualquer
fundamentação é possível, eis que a Defesa é notória no sentido de pugnar por
questões meramente protelatórias e com o intuito único de atrasar o julgamento
do processo, não se aplicando aqui os princípios constitucionais da ampla
defesa, contraditório e devido processo legal; 2) a interceptação telemática feita
sem autorização judicial constitui prova lícita e não fere, outrossim, o disposto
no art. 5º, XII, CF; 3) mantiveram a condenação do acusados nos exatos
termos da sentença.

Após, os autos vieram com vista para que você, advogado, pudesse manejar a
peça processual cabível para insurgir-se contra o acórdão do Tribunal de
Justiça transcrito anteriormente.

A intimação dessa decisão ocorrera em 29/11/22 (terça-feira).

II – DO DIREITO

DO PREQUESTIONAMENTO

A possibilidade de cabimento recursal é clara quando a decisão do Tribunal de


Justiça contrariar dispositivo constitucional, como é o caso dos princípios
constitucionais previstos no art. 5º da Constituição Federal. É importante
constar que tal matéria deve ter sido enfrentada por ocasião da apelação,
chamando-se tal fenômeno de prequestionamento. De forma a tornar clara a
questão acerca do prequestionamento, cita-se o escólio do Supremo Tribunal
Federal que é bem didático no ponto, nestes termos:

Ementa: PROCESSUAL PENAL. EMBARGOS DE


DECLARAÇÃO RECEBIDOS COMO AGRAVO REGIMENTAL.
RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. AUSÊNCIA
DE PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA 282/STF.
INCIDÊNCIA DA SÚMULA 279/STF. AGRAVO IMPROVIDO. I
– Como tem consignado o Tribunal, por meio da Súmula 282, é
inadmissível o recurso extraordinário se a questão
constitucional suscitada não tiver sido apreciada no acórdão
recorrido. O fato de o agravante ter suscitado o tema nos
embargos opostos contra o acórdão que julgou a apelação, por
si só, não conduz ao prequestionamento das matérias
constitucionais, se o Colegiado a quo não se manifestou
expressamente sobre ela. II – Para se chegar à
conclusão contrária à adotada pelo acórdão recorrido,
seria necessário o reexame dos fatos e provas da causa,
o que atrai, inevitavelmente, a incidência da Súmula 279
desta Corte. III – Agravo regimental improvido. (ARE
716379, STF). Ementa: Agravo regimental em recurso
extraordinário com agravo 2. Penal e Processo Penal. 3.
Crime de lesões corporais graves. Condenação. 4.
Alegação de violação ao princípio da individualização da
pena. 5. Matéria não debatida no acórdão recorrido 6.
Ausência de prequestionamento. 7. Controvérsia sequer
suscitada nas razões de apelação. 8. Inovação recursal.
9. Agravo regimental a que se nega provimento. (ARE
1122962 AgR, STF).

Pelas citações acima, percebe-se que o Recurso Extraordinário não possui


efeito suspensivo, ou seja, a sentença condenatória poderá ser executada
antes mesmo do seu julgamento, além disso, houve reconhecimento expresso
pelo legislador processual penal acerca do citado recurso.

DA REPERCUSSÃO GERAL DO RECURSO

Além disso, é curial que a questão a ser discutida no Supremo Tribunal


Federal, destinatário do Recurso Extraordinário, possua repercussão geral, ou
seja, que a matéria seja de interesse público e impõe a atuação final da
Suprema Corte, na forma do já citado art. 102, parágrafo 3º, CF, in verbis:

No recurso extraordinário o recorrente deverá demonstrar a


repercussão geral das questões constitucionais discutidas no
caso, nos termos da lei, a fim de que o Tribunal examine a
admissão do recurso, somente podendo recusá-lo pela
manifestação de dois terços de seus membros.

Trata-se de um requisito importante do Recurso Extraordinário, sob pena de


não ser feito o seu reconhecimento por parte do Supremo Tribunal Federal. Na
linha aqui demonstrada, a doutrina conceitua claramente a hipótese de
repercussão geral, no escólio do Professor Christiano Gonzaga, a seguir
citado:

Em relação ao outro requisito, consubstanciado na


repercussão geral, o recorrente deve demonstrar qual a
extensão da importância do julgamento daquela matéria
constitucional pelo Supremo Tribunal Federal. Em outras
palavras, se aquele julgamento terá relevância para
outros casos similares em nível nacional. Caso contrário,
o Supremo Tribunal Federal não irá julgar o recurso.
(LENZA, 2022, p. 699).

Assim, o simples fato de violar-se a Constituição Federal não será suficiente


para o cabimento do Recurso Extraordinário, devendo a matéria possuir
repercussão geral para fins de processamento na Corte Suprema. Por fim, em
razão do Pacote Anticrime, o legislador infraconstitucional inseriu artigos
específicos acerca de tal via recursal, nestes termos:

Art. 637. O recurso extraordinário não tem efeito suspensivo, e


uma vez arrazoados pelo recorrido os autos do traslado, os
originais baixarão à primeira instância, para a execução da
sentença. Art. 638. O recurso extraordinário e o recurso
especial serão processados e julgados no Supremo Tribunal
Federal e no Superior Tribunal de Justiça na forma
estabelecida por leis especiais, pela lei processual civil e pelos
respectivos regimentos internos.

DO INDEFERIMENTO DE DILIGÊNCIAS E SUPRESSÃO DA CLAUSULA DE


RESERVA DE JURISIÇÃO

Ponto fundamental do presente recurso é apontar na Constituição Federal quais


artigos foram violados e que merecem análise por parte do Supremo Tribunal Federal.
Comumente, a violação fazse presente no extenso leque de direitos e garantias
individuais previstos no artigo 5º, em situações que violam os princípios do devido
processo legal, contraditório e ampla defesa. Além disso, traz-se à luz, outrossim, a
necessidade de autorização judicial para fins de interceptação telefônica/telemática.
Tais situações podem ser amplamente visualizadas na forma transcrita a seguir:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de


qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade,
nos termos seguintes:

XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das


comunicações telegráficas, de dados e das comunicações
telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas
hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de
investigação criminal ou instrução processual penal;

LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem


o devido processo legal;

LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e


aos acusados em geral são assegurados o contraditório e
ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;

Qualquer violação constitucional merece reparo por meio do Recurso Extraordinário,


com base na fundamentação citada anteriormente, devendo a matéria ser levada à
Suprema Corte para fins de socorro jurídico, ainda mais que se indeferiu diligência
probatória requerida pela Defesa de forma arbitrária e sem qualquer fundamentação
plausível em elementos do caso concreto. De forma a demonstrar que as violações
constitucionais são protegidas pelo Supremo Tribunal Federal, cita-se acórdão
daquele Sodalício quanto à necessidade da aplicação da cláusula de reserva de
jurisdição, in verbis:

Ementa: RECLAMAÇÃO. AÇÃO CAUTELAR. JULGAMENTO


CONJUNTO. MATÉRIA PROCESSUAL PENAL. BUSCA E
APREENSÃO REALIZADA NAS DEPENDÊNCIAS DO
SENADO FEDERAL. MEDIDA AUTORIZADA PELO JUÍZO DE
PRIMEIRO GRAU. AUSÊNCIA DE AUTOMÁTICA E
NECESSÁRIA USURPAÇÃO DA COMPETÊNCIA DO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. SUPERVISÃO DE
APURAÇÃO TENDENTE A ELUCIDAR CONDUTAS
POTENCIALMENTE ATRIBUÍDAS A CONGRESSISTAS NO
EXERCÍCIO DA FUNÇÃO PARLAMENTAR. VULNERAÇÃO À
COMPETÊNCIA DESTA CORTE. HIGIDEZ DAS PROVAS
REPETÍVEIS OU QUE DISPENSAM PRÉVIA AUTORIZAÇÃO
JUDICIAL. PEDIDO PARCIALMENTE PROCEDENTE. 1. A
competência penal originária do Supremo Tribunal Federal,
inclusive no que toca à etapa investigatória, encontra-se
taxativamente elencada nas regras de direito estrito
estabelecidas no art. 102 da CRFB, razão pela qual não
permite alargamento pela via interpretativa. 2. Inexistente
previsão constitucional em direção diversa, não há como se
acolher a pretensão no sentido de que seria necessariamente
do Supremo 9 Tribunal Federal a competência para apreciar
pedido de busca e apreensão a ser cumprida nas
dependências de Casas Legislativas. Isso porque, conforme se
extrai do art. 102, CRFB, não se elegeu o local da realização
de diligências, ou seja, o critério espacial, como fator de
determinação de competência desta Corte. 3. As imunidades
parlamentares visam a salvaguardar a independência do
exercício dos respectivos mandatos congressuais, de modo
que não são passíveis de extensão em favor de outros agentes
públicos ou funções alheias às estritas atividades
parlamentares. Por essa razão, não há impedimento normativo
de que integrantes de Polícia Legislativa sejam diretamente
investigados em primeiro grau, na medida em que referidas
funções públicas não se inserem no rol taxativo a legitimar a
competência penal originária desta Suprema Corte. 4.
Eventuais interferências entre os Poderes constituídos ou
condicionamentos da atividade jurisdicional, como a exigência
de participação de outros órgãos na realização de
determinadas diligências, devem decorrer de previsão
constitucional, descabendo adotar mecanismo de freio e
contrapeso não disciplinado, expressa ou implicitamente, pela
própria Constituição da República. 5. A jurisprudência desta
Suprema Corte firmouse no sentido de que a competência
penal constitucionalmente estabelecida alcança também a fase
investigatória. Assim, se inexistir indicativo de competência do
Supremo Tribunal Federal para processar e julgar eventual
ação penal, não há razão para que a Suprema Corte aprecie
medida de cunho preparatório e acessório. 6. Em sede de
reclamação, a alegação de usurpação da competência do STF
em razão da investigação, em primeiro grau, de agentes
detentores de foro nesta Suprema Corte, deve ser
demonstrada sem exigir o reexame de matéria fático-
probatória. Para a configuração dessas circunstâncias, são
insuficientes a possibilidade abstrata de envolvimento de
parlamentares, bem como simples menções a nomes de
congressistas. 7. Caso concreto em que, segundo decisões
judiciais anteriormente proferidas pelo Juízo reclamado, a
confirmação das hipóteses investigatórias poderia levar a
identificação de parlamentares que, em tese, teriam
comandado os atos objeto de apuração, cenário, a um só
tempo, a denotar a usurpação da competência desta Suprema
Corte e afastar a alegação de incidência da Teoria do Juízo
Aparente. 8. A irregularidade atinente à competência para
supervisão das investigações não infirma a validade de
quaisquer elementos probatórios não sujeitos à cláusula de
reserva de jurisdição e que, bem por isso, dispensam, para sua
produção ou colheita, prévia autorização judicial. 9. As
interceptações telefônicas, por sua vez, sujeitas a perecimento
por excelência, bem como a quebra de sigilo telefônico deferida
com base nesses diálogos captados, são declaradas ilícitas em
relação aos detentores de prerrogativa de foro nesta Corte,
providência que não se estende aos demais investigados. 10.
O Tribunal Pleno, por maioria, acolheu o pedido cautelar
formulado pela Procuradoria-Geral da República para o fim de
não desconstituir a busca e apreensão realizada,
resguardando-se o exame exauriente da validade de eventuais
provas decorrentes da medida para momento oportuno, após
avaliação do material arrecadado pelos órgãos de persecução.
11. Pedido julgado parcialmente procedente. (Rcl 25537,

Tratam-se, como se vislumbra, de questões tranquilas no Supremo Tribunal Federal e


que merecem destaque na análise da questão, não sendo necessário analisar pontos
fáticos do caso concreto.

III – DO PEDIDO

Ante todo exposto, requer o provimento do recurso para que haja reforma do
da decisão de acordão acórdão proferido pela instância recursal.

Nestes termos,

pede e espera deferimento.

LOCAL, 09/12/2022.

ADVOGADO

OAB n° …. – UF

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